Chocar-se.
não me afogo na tristeza
pois ela é dura como concreto
é mais fácil chocar-se contra ela
como um carro contra um muro.
mole seria o amor
que nos afoga em êxtase
e melancolia.
uma pena que no mundo
exista muito mais muros do que mares.
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Cisão.
Gosto de pensar que vou conseguir; gosto de pensar que passará; gosto de ser contraditório e fixar em minha mente a ideia seletiva de um fim para a minha dor.
Tenho medo de mim. Temo que o que me move seja apenas o reconhecimento de que todos conseguem, e eu não quero parecer arrogantemente diferente.
É tão difícil desgrudar. É tudo tão difícil.
Queria uma cola, que houvesse uma Super Bonder pra gente. Odeio ser obrigado a juntar os cacos, varrer, tacar no lixo e sempre me cortar. Fase de merda.
Respirar é cansativo: cisão.
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Rendição.
janeiro tem sido
frustrante.
carregar esse fato-fardo
diante de ti
tem me causado infartos.
o aguaceiro a praia as pessoas
os sons as visões a respiração
tudo perdeu a vida
e numa ida sem volta
me sinto um defunto.
meu coração se torna
a cada lágrima liberta
mais um cemitério
e numa evolutiva cadeia incerta
perco meu critério.
quero (re)viver
mas não sei como
se não há sinal de
ressuscitamento.
eu aposto que não possuo salvação
apenas o Tempo
o costume
o estabelecimento
a sedimentação
de uma dor que me tomou
sendo não mais ela minha
mas eu dela.
enfaticamente existo
e desisto.
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Você me causa alcoolismo.
momento terrível
preciso urgente derrubar uma garrafa de vinho pela guela
embora o prazol não permita.
mergulho absurdo na incerteza de qual dor é pior:
a do peito
ou a do esôfago.
continuar
ou ir embora.
dor
ou sobriedade.
minha lista de tratamentos
não cessa de crescer.
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Decepcionante.
decepcionei
ao desviar meu andar para o rebolado.
decepcionei
ao não cobrir minha pele como desejado.
decepcionei
ao não amar como quiseram que eu amasse.
decepcionei
ao afinar a voz que era para ser retumbante.
decepcionei
ao me juntar ao meu semelhante.
decepcionei
ao me desinteressar pelo o que deveria.
decepcionei, sobretudo
quando resolvi não acatar;
quando percebi que ser passiva na cama
não exigia o mesmo posto sobre minhas decisões.
aparentemente
o único que escapou de minhas decepções foi
buscando o estado mais espontâneo e verdadeiro de si mesmo
eu.
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Assassinatos permitidos.
eu não aguento o cheiro de unguento que eu passo na minha cara para esquecer de ti. eu não suporto esse cheiro de morto que eu sinto constante dentro de mim.
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Metagasto do Tempo.
como pode o Tempo ser remédio se o Tempo não passa de intermédio entre a vida e a morte? o Tempo é falso é duas-caras é o gêmeo do mal. é o dono sem sócio da empresa do ócio da miséria anual. o Tempo é a controvérsia base de tudo isso que chamamos de vida pois ele te engana por anos para buscares o mérito na mais erosiva avenida. ele desmantela a tela de proteção do nosso maniqueísmo. não é Deus nem Diabo relação dependente de seu mecanismo. e a maior ilusão da vida é que quanto mais tempo de vida gastamos para podermos viver menos tempo de vida temos. e eles querem que gastemos até nosso último segundo para o mundo concordar em irmos ao Éden. o deus maior é próprio Tempo que alimenta o nosso ópio e sopra o nosso vento, que delimita a nossa permanência na Terra que também tem Tempo. o Tempo do alimento o Tempo do animal o Tempo marcado e perfeito da terra que na mais definida temporalidade não erra e nunca errará. tão forte é o Tempo que cabe a ele até o momento de retornarmos a terra e nos mesclarmos em seus próprios predregulhos. assim, tolo é o nosso orgulho simbolizado no ódio em resposta ao sinais de paciência que o Tempo e a Terra nos dão crentes de uma falsa onipotência e afogados na mais destruidora ilusão. o que nos sobra é trabalharmos na obra do reconhecimento do poder que o Tempo emana antes que criemos o contra-tempo com nossos fúteis passa-tempos mergulhados na lama.
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O segundo de um suspiro.
te ver triste é minha maior tristeza
e cê sabe que eu sou fruta machucada
batida, mole
rejeitada na feira, no dia a dia.
todos eles passam correndo, apressados
buscando seus frutos maduros e duros
suculentos
e eu, com a minha lenta recuperação
olho pra você.
ah, se eu pudesse trocar de lugar contigo
nem que fosse no espelho
para tirar de ti essa tristeza
cuja causa sou eu
eu faria sem pensar três vezes
e eu não digo duas pois conto também aquela:
o suspiro cansado de tentar de novo
e de novo
e de novo
e novamente.
talvez a causa do nosso cansaço
não seja o nosso cotidiano chato
mas nós mesmos.
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Épocas de medo.
eu fiz de tudo pra você gostar
da gente.
eu não consigo ser mudo.
eu não me desfaço o suficiente?
me jogo no teu jogo o máximo que eu consigo
mas parece que o ácido que ele produz
só tem olhos pro teu umbigo.
e eu queria tanto que desse certo.
você sabe que eu sempre me humilhei
rastejei por um qualquer
me via lesma
e eles só me jogavam sal
pra eu ter a mesma
troca de amor mensal.
e eu não quero servir de âncora
mas o pré-você era tão cansativo
que não pensar no pós
é o que tem me deixado vivo.
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Cansaço.
Durmo pouco e por isso
sou feio.
Minha sorte é não haver
sono de beleza pr’alma.
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Samba de gemido.
Cuíca na cueca
e cocô na cuca
resulta em coito.
E você sabe que
foda não é amor como
bolacha não é biscoito.
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Sopro.
o amor move montanhas
que deveriam permanecer onde estão.
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Devaneios em meio a Gilberto Ben:
Somos filhos de Gandhi
filhos dos grandes,
filhos dos gigantes,
órfãos com pais.
Os resquícios daqueles
com vícios de guerrear pela paz.
A poeira
sem eira
e muito menos beira.
A beirada do que está por vir:
a chance de cair no infinito
ou o mito de possuir alguma chance.
O filtro do café
onde me infiltro com fé
de não estar errado.
Talvez amanhã acordemos todos
com a corda no pescoço
em cima do colar de alho.
O que nos move é que
no fundo
até um defunto fala algo.
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Alerta.
Nunca pensei que escrever menos sobre o amor seria um bom sinal. Depois de refletir por muito tempo, concluindo que todos os descarregos eram consequências de um coração mal-amado, eu penso que escrever um pouco ou nada sobre você seria o ideal.
Quando eu começar a produzir muito sobre nós, desconfie.
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Paisagem.
eu paro na calçada
e enfrento a vista
a minha imprevista alçada de você
a arquitetura do seu prédio em frente ao prédio de arquitetura
pois tudo é reflexo
e o tédio constante
fez com que todos os estudantes
vissem o nosso sexo
o qual pela primeira vez não é só carne
agora, o que arde de verdade
é a miscigenação do alarde dela
com a espiada que o amor dá na janela.
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Trouxa.
ao mesmo tempo que eu saio de viagem
diária e sazonalmente
para lugares diversos, com histórias diversas
me parece que um pacote fixo sempre me acompanha
hermético
cravado em minha mala
cada vez mais pesado de carregar
após tantas ele tomou a forma de amor.
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Reflexões de um domingo de páscoa.
mentirosos
dizem que o cotidiano sempre vai melhorar
e ano após ano sentimos o gosto da falácia ao nos enganar
com sua eficácia de transformar o profano no verdadeiro tirano
na ovelha negra da família perfeita
feita de tudo que é sagrado
feita de tudo que é segredo
feita do ato dominicano cuja pintura de bom grado
esconde o mais histórico e inato medo
ardilosos
amolam as facas em nossos corpos
bebem nossa vitalidade em abençoados copos
e celebram suas perpetuações
cães guardas cujas hóstias servem de rações
pão cuspido no prato comido
predestinação que trouxe-me o mais afeminado possível
bento como a água do jeito que sou
alimento que até o viado amassou.
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