Tumgik
#«⌠ pov 001 - prisão da eterna caçada ⌡»
svmmcrrxin · 5 months
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TW: Evento Traumático;
Dez anos haviam se passado desde sua chegada aos portões do Acampamento Meio-Sangue. Dez duros anos, dos quais metade haviam sido envoltos em lamentos e saudades, de treinamento e de aprendizado, guiado pela sabedoria de Quíron... E o Sr. D estava lá também. Agora, com seus quinze anos, sentia-se pronto para explorar o mundo mortal, sentia-se forte suficiente para enfrentar os desafios que poderiam aparecer, no entanto, quando adentrou o escritório de Dionísio, requisitando permissão para visitar sua mãe, cujo rosto já começava a se tornar nebuloso em sua memória àquele ponto, o sorriso confiante logo deu lugar a punhos cerrados e revolta ao que se deparou com uma negativa.
"Carter Rain Elsheart, Você não está pronto."
Por dias a voz ecoou em sua mente e por dias a chama ardeu intensamente em seu peito devido ao ego ferido. Não estava pronto? Ele era um dos melhores de seu ano! Não... Eles estavam errados. Sua partida do Chalé de Hermes, onde estivera alocado até então, sem reinvindicação de divindades, foi durante a noite, quando a iluminação fraca poderia ser utilizada ao seu favor. A mochila em seus braços continha apenas o básico daquilo que um garoto de quinze anos precisaria para o percurso de Long Island até Los Angeles, ou seja, doces, salgadinhos, algum dinheiro, ambrósia e trocas de roupa. Assim, esperava não ter que ficar muito tempo dentro de cidades grandes ou em ruas movimentadas, para evitar problemas.
A viagem foi tranquila apenas pelas primeiras três horas, logo se vendo sendo perseguido por Harpias, que o seguiram por cinco dias inteiros, e por cinco dias não pôde sequer fechar os olhos para descansar mais que trinta minutos. No sexto dia de viagem, já estava exausto, suas roupas maltrapilhas devido aos embates forçados com as criaturas aladas, sua mochila havia sido perdida em algum lugar no Estado de Indiana, provavelmente em alguma loja de conveniências ao que tentava reabastecer seu estoque de alimentos. Só o que restava era sua carteira - que não tinha lá grandes coisas -, um mapa e seu colar, que escondia sua arma.
Vagou por Illinois por um tempo, sempre utilizando vias alternativas para se locomover, e, por bondade do destino, encontrou Phill McDoodles, um caminhoneiro em seus quarenta e poucos anos que aceitou dar carona ao semideus até a fronteira entre o Missouri e o Kansas, onde teria que fazer a descarga dos containers que carregava. Sob o odor intenso do homem, seu cheiro foi disfarçado e não teve grandes problemas, vez ou outra tendo que se abaixar no banco de passageiro ao que via as Harpias ou outras criaturas procurando por petiscos. Foram alguns dias dormindo no banco inclinado do veículo ou em motéis péssimos de beira de estrada, mas sobrevivia.
Chegando à fronteira, voltou-se para Phill, que agora já não tinha mais o status de desconhecido aos seus olhos, depois de tudo que ouvira sobre sua história e sobre sua família. "Bom, é aqui que nos despedimos, Sr. McDoodles. Espero que a Sadie pare de se envolver em problemas na escola e que ela e a Jenny fiquem bem, assim como você e sua esposa!" Disse em despedida. O homem, bem mais alto que ele, ajeitou o boné que tinha em sua cabeça, assim como as calças e logo veio lhe dar um abraço, que teria sido muito confortável não fosse o mau-cheio que ele parecia carregar com orgulho. "Se cuida, baixinho." O mais velho disse, bagunçando seu cabelo e partiu em direção a onde quer que fosse descarregar o caminhão.
Já havia feito metade do percurso até seu destino, pelos seus cálculos, então, a confiança novamente começava a lhe subir à cabeça, com a ideia de que chegaria até sua mãe e depois retornaria ao Acampamento Meio-Sangue para contar sua história e provar que o julgamento de Quíron e de Dionísio estava errado. Sua confiança, entretanto, foi um erro, pois o anseio pela glória e a pressa em concluir seu objetivo, fosse por realmente desejar encontrar sua mãe ou por querer se provar, cegavam seu próprio julgamento.
Foi quando conheceu a Sra. Andike, uma senhora que não conseguia desvendar se estava em seus quarenta ou sessenta anos. Tendo conhecido Phill, havia baixado a guarda para pessoas mais velhas lhe oferecendo coisas, então, quando essa mulher com um sorriso amável veio até ele com a oferta de um jantar decente em sua casa, não viu motivos para recusar. Seu maior erro. O jantar foi servido à mesa, em uma casa modesta mas muito bem arrumada, contendo seus pratos favoritos: hambúrgueres, batatas fritas, pizza, frango frito e macarronada.
Infelizmente, a felicidade de um semideus dura pouco... Assim que começou a se esbaldar na comida, sentiu uma pontada às costas e sua visão começou a se embaralhar e desfocar. "Ninguém nunca te disse para não confiar em estranhos, Sr. Elsheart?" A voz carinhosa da mulher precedeu um riso que, fosse por sua consciência se esvaindo ou pela realidade se mostrando, começou a se tornar algo monstruoso, até que... Nada.
Quando Rain despertou, estava em um lugar diferente. Ouvia o som de água correndo e de gotas caindo do teto, mas não conseguia enxergar a um palmo sequer de seu rosto na escuridão. Tentou se mover, mas logo percebeu que correntes prendiam seus braços, vindas do teto do local. Escutou o barulho de algo se movendo na escuridão. "Alguém aí? Pode me ajudar? Eu não sei onde estou..." A voz ainda estava um pouco sonolenta, mas ecoou pelo local, como aconteceria numa caverna, e imaginou que essa fosse a situação em que se encontrava. Estava preso numa caverna.
"Ó, querido semideus..." A voz amável da Sra. Andike parecia ecoar de todas as partes, inundando o lugar com seu timbre. Rosnados vindos hora de um lado, hora de outro, começavam a se tornar mais próximos. "Tão jovem... Tão inocente... Devia agradecer por ter sido encontrado por mim..." O riso contido da mulher agora se tornava algo mais aterrorizante que as Harpias que havia enfrentado durante sua viagem até ali. "Quem você é?" Pausou por um momento, contemplativo. "O que você é...?" Consertou sua pergunta.
O som de saltos ecoou pelo chão cavernoso, mas aos poucos conseguia discernir sua localização, estava logo à sua frente. Sentiu o toque frio ao seu rosto ao que esse foi puxado para mais acima com o que podia imaginar serem garras pressionadas às suas bochechas. Foi então que os olhos vermelhos brilharam em meio à escuridão. "Não, não, não... Aqui não damos respostas de graça... Pense bem no nome que lhe entreguei..." A voz começava a se transformar em algo mais rouco e seus instintos gritavam perigo. Andike? Andike... Ek-... As letras se embaralharam em sua mente e finalmente pôde entender claramente.
"Equidna!" Exclamou, como alguém que finalmente montara um quebra-cabeças. "Muito bem." A mãe de todos os monstros soltou seu rosto, voltando a caminhar, rodeando-o. Agora que sabia quem era aquela que o havia prendido, mas ainda precisava bolar um plano para escapar. "O que quer de mim?" Inquiriu. Se ela o quisesse morto, já estaria junto das tantas outras almas de semideuses com Hades, não entendia suas motivações. O silêncio que seguiu parecia ainda mais assustador que o som dos rosnados que antes invadiam o local. "Você conseguiu escapar de minhas filhas, até matou algumas delas, não é mesmo...? O coração de uma mãe se parte quando algo assim acontece..."
Carter não entendia o que ela queria dizer, sua mente não conseguia processar o que ela queria que ele fizesse por ela naquele momento. "Me desculpe...?" Sabia que não podia ser algo tão simples quanto um pedido de desculpas, no entanto, se o menos conseguisse fazer com que ela baixasse sua guarda e o soltasse, talvez conseguisse encontrar uma forma de escapar. "Desculpas não vão resolver sua situação, meio-sangue." A voz dessa vez fez estremecer a caverna, mas isso não abalou o semideus. "-É, e eu não estou verdadeiramente arrependido. Elas tiveram o que mereceram." Se o primeiro caminho não havia funcionado, talvez a provocação desse melhores frutos. Silêncio novamente.
Contrário às expectativas, o que veio a seguir foi um riso no timbre suave e feminino que ela utilizara quando se conheceram, fazendo com que Rain entrasse em defensiva de imediato, incerto do que viria a seguir. "Nisso concordamos. Elas tiveram o que mereceram... Afinal, não haviam sido devidamente treinadas para caçar semideuses..." Novamente os olhos vermelhos brilharam na escuridão, aproximando-se de seu rosto. Agora podia enxergar um sorriso repleto de dentes pontiagudos logo abaixo. "E é aí que você entra em cena."
Dez anos se passaram de seu primeiro encontro com Equidna. A cada dois dias ela o alimentava bem e no terceiro a caçada começava. As primeiras vezes foram mais brutais, não conseguia se localizar na escuridão e acabava sendo pego muito rapidamente pelo recém-nascido que ela soltava para caçá-lo, mas depois do primeiro ano, começou a mapear o interior da caverna-labirinto com sua mente, encontrando locais para se esconder enquanto buscava pela saída. Era apenas um fantoche nas garras da mãe de todos os monstros, um alvo para que seus filhos pudessem aprender a caçar outros semideuses.
Tinha seu corpo rasgado, espetado, mordido, sentia sua pele queimar, o veneno lhe percorrer as veias, sua mente se desligar... Mas quando acreditava ser o fim, acordava novamente preso às correntes, sendo tratado com ambrósia para que se recuperasse para que o ciclo voltasse a acontecer. Lutar não era uma opção, já que a escuridão lhe impedia de prever os movimentos das criaturas que o caçavam e lhe faltavam armas para um combate honesto, além disso, se estava prestes a vencer mesmo sob essas circunstâncias, ouvia o assovio, e mais criaturas começavam a surgir para atacá-lo.
Em seu nono ano de tormenta, enquanto corria do que imaginava ser uma Dracaenae, devido ao som de sibilos e o barulho de rastejar de duas caudas, o Elsheart sentiu algo que não sentira desde quando fora preso... Uma brisa. Havia encontrado sua saída. No entanto, por mais que fizesse seu caminho até a brisa incontáveis vezes, nunca conseguia alcançá-la antes de ser capturado novamente. 984 vezes havia perdido no jogo perverso que Equidna havia criado e nem sequer uma vitória.
Em seu décimo ano, em Julho - não que ele soubesse disso na época, afinal, na escuridão da caverna era difícil identificar a passagem de dias -, notou algo estranho. Três dias haviam se passado e não haviam sinais de Equidna... Ou qualquer outra criatura, diga-se de passagem. Aquela era sua chance. Com suas bota, agarrou uma pedra do chão, que havia preparado para a ocasião da última vez que fora solto, e com um movimento rápido de seus calcanhares, jogou-a até onde sua mão deveria estar, pegando-a, mas sentindo o fio cortante da rocha quebradiça açoitar seus dedos. Grunhiu, mas não podia gritar, isso podia alertá-los de sua tentativa.
Tendo ajustado a ferramenta em mãos, num movimento hábil quebrou as correntes, livrando-se de seu confinamento, e imediatamente partiu em disparada, seguindo seus instintos até a brisa e a seguindo. Agora ouvia atrás de si o som de algo o seguindo, mas não se permitiu parar para identificar o que era, apenas seguiu, a toda velocidade. Viu a luz da entrada e quando percebeu já estava do lado de fora. Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos, pois a visão dos céus lhe trazia tranquilidade, e, naquele momento, precisava daquilo. Do céu antes límpido a primeira gota caiu, então a segunda e a terceira, a chuva limpando suas feridas e a sujeira em seu corpo.
Olhou para trás, para a caverna, vendo olhos a observá-lo, mas esses não ousaram deixar a caverna com o rugido dos trovões ao fundo, próximos, ao que raios partiam das nuvens e iluminavam o lugar. Um riso escapou. "Parece que vocês não são tão corajosos sem suas mamãezinha, huh..." A criatura ameaçou sair de seu esconderijo, mas um raio caiu bem à entrada, fazendo as pedras caírem e a entrada ceder e se fechar. Por algum motivo, acreditava que aquilo era obra de seu pai, que o observava lá de cima e o protegia. "Obrigado..." Agradeceu aos ventos, mesmo se não soubesse quem era seu parente divino. Agora pelo menos tinha uma pista.
Seu caminho até o Acampamento Meio-Sangue foi livre de dificuldades, tendo roubado uma moto de um bar de beira de estrada que mais tarde descobriria ser propriedade de Ares, mas que o ajudou a retornar são e salvo à colina. Lá, descobriu que havia sido dado como morto, e finalmente foi reivindicado como sendo filho de Zeus, o que imagina ter sido o motivo para Ares tê-lo deixado em paz desde então.
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