Tumgik
#«⌠ pov ⌡»
svmmcrrxin · 4 months
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TW: Violência; Menção de tortura?
Estava inquieto. Os céus se escureciam, as primeiras gotas começando a cair sobre o mar de campistas com suas camisetas laranja estampadas no símbolo do Acampamento Meio-Sangue, ainda assim, não se sentia confortável, algo incomum para o filho de Zeus. Fechou seus olhos, elevando o queixo para cima e deixou que algumas gotas molhassem seu rosto, inspirando fundo com a tempestade, sentindo o cheiro da grama molhada a se espalhar pela colina, e expirou com o som de um trovão ao longe. Abriu seus olhos. Com as írises novamente a enxergar tudo que havia ao seu redor, a cacofonia dos gritos e das instruções espalhadas voltou a inundar sua mente, seu coração novamente calmo. Vestiu o capacete que tinha em mãos, sentindo o toque gélido contra o rosto molhado, e partiu em direção ao barulho de armas se encontrando e feras rugindo.
Via o semideus correndo até a entrada do acampamento, mas não conseguia reconhecê-lo, mesmo que sua memória raramente lhe falhasse. Não parecia ser um dos seus. Mais distante, a Quimera espalhava suas chamas pelo que se tornara um campo de batalha, tostando a vegetação que recobria a colina, assim como mandando alguns semideuses aos ares com a força exercida sobre seus escudos e armaduras. Seguindo com o olhar também não muito longe, outra criatura espalhava seus espinhos, perfurando alguns escudos enquanto ricocheteava de outros, a Mantícora parecia um problema bem maior a longo prazo. A raiva lhe subiu à cabeça com o brilho dos raios ao céu, lembrando-se da dor inicial que sentira ao ser perfurado por aquelas setas pontiagudas algumas centenas de vezes e a que seguia, excruciante, por efeito do veneno.
Já havia se decidido. Se não poderia ter sua vingança com Equidna tão cedo, restava que descontasse parte de seu ódio acumulado em seus filhos, não é mesmo? De certa forma isso fazia com que entendesse Hera, pelo menos um pouquinho, naquele aspecto; ela não podia culpar e punir Zeus, então culpava e punia seus filhos, como fora com Heracles no passado e como continuaria a ser. Se até os deuses, que se julgavam perfeitos, podiam ter seus momentos de crueldade, por que ele não podia também, certo? Os devaneios não levaram a lugar nenhum, mas a marcha que seguia, veloz como nunca, o aproximava de seu alvo rapidamente.
Assim que entrou no alcance dos espinhos, seus dígitos foram ao pingente em forma de raio em seu pescoço, guardando-o em sua palma ao que puxou o colar, quebrando seu lacre. Num brilho breve, a espada se formou em sua mão, o bronze brilhando como se o fio nunca tivesse sido utilizado, digna de uma arma produzida pelos deuses. No momento, ela era apenas uma espada, mas logo deixaria de ser. Elevou Condutora aos céus, seus olhos brilhando no azul claro quase neon que tomava forma ao uso de seus poderes, e concentrou toda sua energia nas nuvens acima de si. Raios potentes começaram a descer, um atrás do outro, diretamente sobre a lâmina, que se energizava e tomava forma no brilho de correntes elétricas surgindo e desaparecendo em seu fio.
"Achei que não ia mais me acordar, filho de Zeus." A voz feminina, imponente, cordial, deixou a lâmina diretamente em sua mente. A espada Condutora, um artefato mágico forjado nas chamas das fornalhas olimpianas e dada consciência pelo próprio Senhor dos Céus; em seu auge de energia - retirada da própria eletricidade -, uma espada com consciência própria. "Eu não ia te incomodar com inimigos fracos." Respondeu, tomando postura ofensiva ao que avançava em direção à Mantícora. Com um salto, desceu a lâmina contra a criatura, que, por um milímetro, conseguiu escapar de sua espada... Mas não da estática que a envolvia. Ouviu o rugido de dor do choque que percorreu o corpo monstruoso por completo, mas não se permitiu banhar em gosto com a cena, novamente se concentrando, fazendo descer relâmpagos do céus, em direção à criatura. Infelizmente os reflexos dela eram mais rápidos e ela conseguia desviar da eletricidade, mas já contava com isso.
Os semideuses próximos se afastaram, em busca de reforços, já que era perigoso para eles ficarem na área de efeito dos relâmpagos. Era um contra um. Com seus movimentos limitados, viu facilidade em prever os movimentos da Mantícora, acompanhando-a com a passada rápida, quase numa dança, ao que desferia golpes energizados contra sua pele, nunca a atingindo, apenas passando perto o suficiente para vê-la se debater de dor com os choques que para um semideus normal seriam a certeza de uma péssima morte. Enquanto se divertia com a criatura, seu ego subiu à cabeça e decidiu finalizá-la com o potente golpe de cima para baixo; infelizmente, esse dava alas a inúmeras aberturas - aberturas as quais forma imediatamente exploradas pelo monstro. "Onde está olhando? Pule!" A espada gritou em sua mente, tarde demais. Sua atenção estava em seus dentes e suas patas, nunca pensou que sentiria a dor da cauda espinhosa a atingi-lo em sua lateral, arremessando-o rolando pelo solo gramado.
Se não fosse pela armadura, teria perdido sua vida ali mesmo, no entanto, agora, apenas sentia a dor de alguns espinhos que haviam encontrado falhas na proteção, fincando-se contra sua lateral e suas costas. Tossiu para, então, recuperar o fôlego, levantando-se. "Você podia ter me avisado antes..." Reclamou. Por mais que estivesse em controle, não tinha olhos suficientes para ver tudo o que acontecia; eis o único problema de ir à caça sozinho, ou, no caso, com uma espada. "Abaixe-se!" Dessa vez conseguiu seguir o comando a tempo de apenas perder o capacete quando rolou pelo chão, ao invés de sua cabeça; a Quimera agora o observava juntamente com a Mantícora. Talvez tivessem sentido o cheiro dos Três Grandes exalando de seu corpo. "Valeu..." Agradeceu pelo aviso.
Não tinha como vencer contra duas criaturas, mas não podia desistir. Mais um rolamento foi realizado ao que os espinhos vieram em sua direção, desviando-se com maestria das setas duras que batiam com o som de pancadas contra o chão atrás de si; do chão, agarrou um escudo perdido ao que viu o brilho ao seu lado, sentindo o fogo chamuscar uma parte de sua camiseta ao que se protegeu. Um joelho foi ao chão. O veneno começava a se espalhar pelas feridas e teve que levar a mão ao local com a dor que sentia; se fosse cair, cairia lutando. Levantou-se novamente, gritando contra o rugido dos monstros e partindo em sua direção. Conseguiu realizar um corte profundo contra a mandíbula da Mantícora, arrancando um dente, mas logo em seguida já sentiu o ar deixar seus pulmões novamente com o impacto em seu peitoral. A pata da Quimera o arremessou aos ares.
Por um momento, Rain olhou para os céus, caindo quase em câmera lenta, imaginando que aquele poderia ser seu fim... Poderia, mas não o seria. Voltou a si antes de cair no chão, mas o impacto doeu da mesma forma, pelo menos conseguindo evitar que quebrasse algo no caminho; um sorriso surgiu em seu rosto ao que seu olhar se elevou e ele se pôs de pé pela terceira vez, sangue descendo por sua testa cortada. Não estava sozinho. Ouvia atrás de si o barulho dos outros semideuses marchando em direção às criaturas, se elas podiam se unir que se unissem. Não tinha medo. Junto dos outros, ignorou sua dor, partindo em pura fúria em direção às criaturas, ouvindo os trovões se acentuarem ao que o céu desceu relâmpagos pelo campo de batalha. Não se permitiria perder aquela luta, nem que tivesse que morrer para isso...
O gramado embaixo de si parecia perigosamente confortável ao que sua consciência começava a piscar, a visão ficando cada vez mais escura, mas não se permitia ceder ao sentimento. Sentia o gosto férreo em sua garganta e tinha certeza de que quebrara alguns ossos, mas não somente isso, sentia que o veneno se espalhava, já conseguindo enxergar a mão trêmula pela dor. "Ei, você ainda tá acordada?" Perguntou em voz alta, apertando os nós contra o cabo da espada que mantinha em mãos, nunca a abandonando. "Você é imprudente, filho de Zeus. Que suas ações sejam melhores medidas da próxima vez..." A espada respondeu, tirando-lhe uma risada que logo iria se arrepender de ter permitido sair pela dor que seguiu. "Menos dois... Não sei quantos faltam, mas não vou parar até ter eliminado todos..." Silêncio. Entendeu aquilo como concordância, mas as anteriores haviam sido as últimas palavras da espada sapiente antes de adormecer.
Afrouxou seus dígitos, sentindo que a arma deixava de ser uma espada e se tornava um colar - as últimas fagulhas de eletricidade consertando o lacre e envolvendo seu pescoço antes do brilho desaparecer. Levantou-se. Toda sua musculatura reclamava ao movimento, mas não podia se dar por vencido e apenas aceitar seu destino. Com determinação, percorreu o caminho até a enfermaria, vendo os restos das batalhas que ocorreram tanto dentro quanto fora do acampamento. Se perguntava o que havia ocorrido na parte de dentro para estar tudo tão acabado e haver tantos feridos, mas não estava em condições de perguntar nada. Seguiu seu caminho calado, chegando a uma das macas e se deitando. Suspirou. "O que será que vamos ter para comer... Espero que tenham brownies com gotinhas de choco-..." Apagou.
@silencehq
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astcrixs · 4 months
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TW: PTSD;
A chuva não mascarava os gritos, fossem de comando ou de pânico, que produziam a cacofonia do ambiente antes tão festivo do Acampamento. Parecia que já haviam-se passado horas do momento em que seu olhar recaiu sobre a expressão sombria de Dionísio, algo longe de ser comum para o deus do vinho, a observar o céu escuro se formando em nuvens carregadas sobre onde estavam. Tudo passou tão rápido e, ao mesmo tempo, em câmera lenta, como se num filme mal adaptado aos telões do cinema de hoje em dia. Em questão de minutos, o que antes era comemoração e diversão se tornou um pesadelo.
Via semideuses tropeçando em suas próprias caneleiras ao que tentavam se equipar para enfrentar as criaturas que perseguiam o semideus desconhecido que chegara à Colina. Alguns vestiam seus peitorais ao contrário e tentavam arrumar enquanto colidiam uns com os outros na confusão, outros só não se espetavam com suas espadas pois o destino ainda devia ter algo guardado para eles, enquanto isso, Asterios se mantinha estático, paralisado. Uma sensação ruim fazia embrulhar seu estômago ao que via, ao longe, as bestas que causavam problemas aos portões.
Não entendia o porquê daquela sensação de impotência enquanto observava a Quimera, como se cada fibra de seu corpo se recusasse a seguir em frente. Seu olhar desceu instintivamente à lateral de seu corpo, como se esperasse encontrar algo ali, e suas mãos subiram até o local, só então permitindo que ele notasse o quão trêmulas estavam. Engoliu em seco. Já havia enfrentado tantas criaturas desde sua chegada ao Meio-Sangue, por que aquela, em específico, sempre fazia com que congelasse? Não tinha tempo para pensar nisso agora.
A armadura parecia pesar sobre seu corpo, mais do que o usual, mas não podia ficar ali parado sem fazer nada. Devia isso a ela... Devia isso a ela? A quem devia algo? Mais pensamentos inúteis. Balançou sua cabeça, forçando-se a se mover, agarrando com todas as suas forças o pomo da espada curta à sua cintura, como um apoio que não existia, e, cerrando seu punho oposto, o escudo começou a se formar, originado do anel em seu dedo médio.
Bang!
No que pareciam flashes, ao que o escudo se formava em seu antebraço, fragmentos de memória surgiram em sua mente. Dor surgiu em reflexo em sua lateral, porém, não havia nada ali. O campo de batalha alternava entre a entrada do Acampamento Meio-Sangue e um lugar que não reconhecia; seus companheiros pareciam alternar entre a realidade e o que só podia considerar seu imaginário. Foi só então que notou que não conseguia respirar.
Lutou contra a sensação de engasgamento, puxando a parte de cima do peitoral metálico, na tentativa de se livrar de algo que pudesse está-lo sufocando, mas nada ajudava. Jogou seu capacete no chão, buscando se livrar do calor que parecia invadi-lo. A cacofonia dos gritos de guerra e de medo foi substituída por um vazio, como se entrasse numa garrafa.
"Corra, Estrelinha."
A voz ecoou em sua mente, fazendo com que suas pernas bambeassem ainda mais. Não se recordava de qualquer pessoa que tivesse esse timbre, mas, ao mesmo tempo, havia familiaridade e reconhecimento em sua mente. Estava confuso, incerto do que poderia fazer, e estava prestes a ceder às palavras que ecoavam em sua mente, porém, com um trovão que rugiu ao céu, outra voz tomou forma em seu subconsciente.
"COVARDE."
Imediatamente sua mente se clareou, como se as nuvens tivessem ido embora, metaforicamente. Ele era um veterano do Acampamento e, além disso, ainda era instrutor dentro desse, não podia deixar na mão as pessoas que confiavam nele. Para contribuir com essa nova coragem que o invadia, a figura de Eunwol surgiu diante de si, com aquele olhar de preocupação, fazendo com que tudo o que sentira até agora parecesse uma longa piada sem graça. Como podia deixar que aquilo o dominasse daquela forma? Veio a calmaria após a tempestade. Inspirou fundo, sentindo seus músculos relaxarem, e expirou todo o estresse acumulado. Deveria realizar sua função.
Estava pronto para superar seus medos e entrar em batalha quando outro problema chamou sua atenção, um problema ao qual não poderia virar suas costas. Dentre os semideuses que ainda vestiam seus equipamentos, alguns pareceram se tornar aflitos, atacando uns aos outros e, imediatamente, Asterios utilizou sua Restauração preventivamente em si próprio para não ser afetado por qualquer que fosse aquele efeito.
O combate com os monstros ficaria nas mãos dos que já estavam engajados com as criaturas, pois, agora, sua concentração jazia em utilizar com maestria seu poder e suas habilidades para evitar que seus próprios companheiros se matassem em meio ao caos que regia o novo ambiente criado.
E esse, definitivamente, entrou para o top 5 piores natais no Acampamento Meio-Sangue...
@silencehq
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ruegarding · 5 months
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that scene in tlo where thalia tells percy he can't start feeling sorry for luke bc luke made his choices. and thalia reveals that the reason they couldn't make it to camp in time for all of them to make it to camp was bc luke kept picking fights. and annabeth never saw this as wrong bc luke was her hero. so thalia had to pick up the pieces. and percy thinking both that luke was put in a cruel position and that luke was putting others in a cruel position. and percy is the only character who understood both sides of luke bc annabeth sees only the best of him and thalia sees only the worst. and that's why percy is the prophecy kid and the one who gives luke the knife. bc annabeth had spent the entire series essentially giving luke the knife when he didn't deserve it. and thalia was never going to give luke the knife. but percy is the only one who can see exactly when luke deserves the knife.
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notherpuppet · 3 months
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Role reversal AU
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morebird · 4 months
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Astarion, the Decadent
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gayemeralds · 4 months
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me leaving my 9-5 job which barely covers my bills just to see silver the hedgehog throw my car at sonic and miss
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silvcrtxngve · 3 months
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tag dump!
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Bugs when you pick up a rock
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gothicwill · 24 days
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hattersarts · 9 months
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drew some book!husbands. they feel like they've taken more traits from each other than the show.
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sttoru · 4 months
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“c’mon, megumi. tell me what’s botherin’ ya.” satoru pouts at megumi, his arm thrown around the boy’s shoulders. you watch the scene unfold with a tense smile.
megumi was exhausted from school, training and so much more. the teenager’s patience was wearing thin. especially with satoru almost pressuring him into telling you both what’s weighing on his mind. when all he wants is to be left alone at the moment.
the tone satoru’s using to talk to megumi only pisses the high schooler off more and more. it’s fatherly. like he’s still the little child satoru took in and cared for. it pissed megumi off, along with everything else;
“you’re not my dad, so stop fucking acting like you are!”
you freeze. satoru freezes. megumi freezes. time freezes. the silence was deafening. no one was moving. your eyes flicker over to satoru’s and your heart shatters in a million pieces.
satoru’s hurt. so hurt. it’s visible and he’s not hiding it — not hiding it like he usually would behind a wide grin. his blindfold and glasses aren’t there to hide the way his face falls either.
“i know.” satoru whispers. his voice lost its cheery tone, his eyes have lost their spark. the sorcerer slowly distances himself from megumi. a bitter chuckle leaves his lips. a futile attempt to hide his shaky voice, “i know.”
all you could do is stand there in shock. megumi doesn’t know what to do after his little outburst either. and satoru. . . well, satoru is the first one out of the room. you hear his breath hitch as he walks past you. you see his eyes twitch. the strongest, in tears.
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svmmcrrxin · 4 months
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TW: Evento Traumático;
Dez anos haviam se passado desde sua chegada aos portões do Acampamento Meio-Sangue. Dez duros anos, dos quais metade haviam sido envoltos em lamentos e saudades, de treinamento e de aprendizado, guiado pela sabedoria de Quíron... E o Sr. D estava lá também. Agora, com seus quinze anos, sentia-se pronto para explorar o mundo mortal, sentia-se forte suficiente para enfrentar os desafios que poderiam aparecer, no entanto, quando adentrou o escritório de Dionísio, requisitando permissão para visitar sua mãe, cujo rosto já começava a se tornar nebuloso em sua memória àquele ponto, o sorriso confiante logo deu lugar a punhos cerrados e revolta ao que se deparou com uma negativa.
"Carter Rain Elsheart, Você não está pronto."
Por dias a voz ecoou em sua mente e por dias a chama ardeu intensamente em seu peito devido ao ego ferido. Não estava pronto? Ele era um dos melhores de seu ano! Não... Eles estavam errados. Sua partida do Chalé de Hermes, onde estivera alocado até então, sem reinvindicação de divindades, foi durante a noite, quando a iluminação fraca poderia ser utilizada ao seu favor. A mochila em seus braços continha apenas o básico daquilo que um garoto de quinze anos precisaria para o percurso de Long Island até Los Angeles, ou seja, doces, salgadinhos, algum dinheiro, ambrósia e trocas de roupa. Assim, esperava não ter que ficar muito tempo dentro de cidades grandes ou em ruas movimentadas, para evitar problemas.
A viagem foi tranquila apenas pelas primeiras três horas, logo se vendo sendo perseguido por Harpias, que o seguiram por cinco dias inteiros, e por cinco dias não pôde sequer fechar os olhos para descansar mais que trinta minutos. No sexto dia de viagem, já estava exausto, suas roupas maltrapilhas devido aos embates forçados com as criaturas aladas, sua mochila havia sido perdida em algum lugar no Estado de Indiana, provavelmente em alguma loja de conveniências ao que tentava reabastecer seu estoque de alimentos. Só o que restava era sua carteira - que não tinha lá grandes coisas -, um mapa e seu colar, que escondia sua arma.
Vagou por Illinois por um tempo, sempre utilizando vias alternativas para se locomover, e, por bondade do destino, encontrou Phill McDoodles, um caminhoneiro em seus quarenta e poucos anos que aceitou dar carona ao semideus até a fronteira entre o Missouri e o Kansas, onde teria que fazer a descarga dos containers que carregava. Sob o odor intenso do homem, seu cheiro foi disfarçado e não teve grandes problemas, vez ou outra tendo que se abaixar no banco de passageiro ao que via as Harpias ou outras criaturas procurando por petiscos. Foram alguns dias dormindo no banco inclinado do veículo ou em motéis péssimos de beira de estrada, mas sobrevivia.
Chegando à fronteira, voltou-se para Phill, que agora já não tinha mais o status de desconhecido aos seus olhos, depois de tudo que ouvira sobre sua história e sobre sua família. "Bom, é aqui que nos despedimos, Sr. McDoodles. Espero que a Sadie pare de se envolver em problemas na escola e que ela e a Jenny fiquem bem, assim como você e sua esposa!" Disse em despedida. O homem, bem mais alto que ele, ajeitou o boné que tinha em sua cabeça, assim como as calças e logo veio lhe dar um abraço, que teria sido muito confortável não fosse o mau-cheio que ele parecia carregar com orgulho. "Se cuida, baixinho." O mais velho disse, bagunçando seu cabelo e partiu em direção a onde quer que fosse descarregar o caminhão.
Já havia feito metade do percurso até seu destino, pelos seus cálculos, então, a confiança novamente começava a lhe subir à cabeça, com a ideia de que chegaria até sua mãe e depois retornaria ao Acampamento Meio-Sangue para contar sua história e provar que o julgamento de Quíron e de Dionísio estava errado. Sua confiança, entretanto, foi um erro, pois o anseio pela glória e a pressa em concluir seu objetivo, fosse por realmente desejar encontrar sua mãe ou por querer se provar, cegavam seu próprio julgamento.
Foi quando conheceu a Sra. Andike, uma senhora que não conseguia desvendar se estava em seus quarenta ou sessenta anos. Tendo conhecido Phill, havia baixado a guarda para pessoas mais velhas lhe oferecendo coisas, então, quando essa mulher com um sorriso amável veio até ele com a oferta de um jantar decente em sua casa, não viu motivos para recusar. Seu maior erro. O jantar foi servido à mesa, em uma casa modesta mas muito bem arrumada, contendo seus pratos favoritos: hambúrgueres, batatas fritas, pizza, frango frito e macarronada.
Infelizmente, a felicidade de um semideus dura pouco... Assim que começou a se esbaldar na comida, sentiu uma pontada às costas e sua visão começou a se embaralhar e desfocar. "Ninguém nunca te disse para não confiar em estranhos, Sr. Elsheart?" A voz carinhosa da mulher precedeu um riso que, fosse por sua consciência se esvaindo ou pela realidade se mostrando, começou a se tornar algo monstruoso, até que... Nada.
Quando Rain despertou, estava em um lugar diferente. Ouvia o som de água correndo e de gotas caindo do teto, mas não conseguia enxergar a um palmo sequer de seu rosto na escuridão. Tentou se mover, mas logo percebeu que correntes prendiam seus braços, vindas do teto do local. Escutou o barulho de algo se movendo na escuridão. "Alguém aí? Pode me ajudar? Eu não sei onde estou..." A voz ainda estava um pouco sonolenta, mas ecoou pelo local, como aconteceria numa caverna, e imaginou que essa fosse a situação em que se encontrava. Estava preso numa caverna.
"Ó, querido semideus..." A voz amável da Sra. Andike parecia ecoar de todas as partes, inundando o lugar com seu timbre. Rosnados vindos hora de um lado, hora de outro, começavam a se tornar mais próximos. "Tão jovem... Tão inocente... Devia agradecer por ter sido encontrado por mim..." O riso contido da mulher agora se tornava algo mais aterrorizante que as Harpias que havia enfrentado durante sua viagem até ali. "Quem você é?" Pausou por um momento, contemplativo. "O que você é...?" Consertou sua pergunta.
O som de saltos ecoou pelo chão cavernoso, mas aos poucos conseguia discernir sua localização, estava logo à sua frente. Sentiu o toque frio ao seu rosto ao que esse foi puxado para mais acima com o que podia imaginar serem garras pressionadas às suas bochechas. Foi então que os olhos vermelhos brilharam em meio à escuridão. "Não, não, não... Aqui não damos respostas de graça... Pense bem no nome que lhe entreguei..." A voz começava a se transformar em algo mais rouco e seus instintos gritavam perigo. Andike? Andike... Ek-... As letras se embaralharam em sua mente e finalmente pôde entender claramente.
"Equidna!" Exclamou, como alguém que finalmente montara um quebra-cabeças. "Muito bem." A mãe de todos os monstros soltou seu rosto, voltando a caminhar, rodeando-o. Agora que sabia quem era aquela que o havia prendido, mas ainda precisava bolar um plano para escapar. "O que quer de mim?" Inquiriu. Se ela o quisesse morto, já estaria junto das tantas outras almas de semideuses com Hades, não entendia suas motivações. O silêncio que seguiu parecia ainda mais assustador que o som dos rosnados que antes invadiam o local. "Você conseguiu escapar de minhas filhas, até matou algumas delas, não é mesmo...? O coração de uma mãe se parte quando algo assim acontece..."
Carter não entendia o que ela queria dizer, sua mente não conseguia processar o que ela queria que ele fizesse por ela naquele momento. "Me desculpe...?" Sabia que não podia ser algo tão simples quanto um pedido de desculpas, no entanto, se o menos conseguisse fazer com que ela baixasse sua guarda e o soltasse, talvez conseguisse encontrar uma forma de escapar. "Desculpas não vão resolver sua situação, meio-sangue." A voz dessa vez fez estremecer a caverna, mas isso não abalou o semideus. "-É, e eu não estou verdadeiramente arrependido. Elas tiveram o que mereceram." Se o primeiro caminho não havia funcionado, talvez a provocação desse melhores frutos. Silêncio novamente.
Contrário às expectativas, o que veio a seguir foi um riso no timbre suave e feminino que ela utilizara quando se conheceram, fazendo com que Rain entrasse em defensiva de imediato, incerto do que viria a seguir. "Nisso concordamos. Elas tiveram o que mereceram... Afinal, não haviam sido devidamente treinadas para caçar semideuses..." Novamente os olhos vermelhos brilharam na escuridão, aproximando-se de seu rosto. Agora podia enxergar um sorriso repleto de dentes pontiagudos logo abaixo. "E é aí que você entra em cena."
Dez anos se passaram de seu primeiro encontro com Equidna. A cada dois dias ela o alimentava bem e no terceiro a caçada começava. As primeiras vezes foram mais brutais, não conseguia se localizar na escuridão e acabava sendo pego muito rapidamente pelo recém-nascido que ela soltava para caçá-lo, mas depois do primeiro ano, começou a mapear o interior da caverna-labirinto com sua mente, encontrando locais para se esconder enquanto buscava pela saída. Era apenas um fantoche nas garras da mãe de todos os monstros, um alvo para que seus filhos pudessem aprender a caçar outros semideuses.
Tinha seu corpo rasgado, espetado, mordido, sentia sua pele queimar, o veneno lhe percorrer as veias, sua mente se desligar... Mas quando acreditava ser o fim, acordava novamente preso às correntes, sendo tratado com ambrósia para que se recuperasse para que o ciclo voltasse a acontecer. Lutar não era uma opção, já que a escuridão lhe impedia de prever os movimentos das criaturas que o caçavam e lhe faltavam armas para um combate honesto, além disso, se estava prestes a vencer mesmo sob essas circunstâncias, ouvia o assovio, e mais criaturas começavam a surgir para atacá-lo.
Em seu nono ano de tormenta, enquanto corria do que imaginava ser uma Dracaenae, devido ao som de sibilos e o barulho de rastejar de duas caudas, o Elsheart sentiu algo que não sentira desde quando fora preso... Uma brisa. Havia encontrado sua saída. No entanto, por mais que fizesse seu caminho até a brisa incontáveis vezes, nunca conseguia alcançá-la antes de ser capturado novamente. 984 vezes havia perdido no jogo perverso que Equidna havia criado e nem sequer uma vitória.
Em seu décimo ano, em Julho - não que ele soubesse disso na época, afinal, na escuridão da caverna era difícil identificar a passagem de dias -, notou algo estranho. Três dias haviam se passado e não haviam sinais de Equidna... Ou qualquer outra criatura, diga-se de passagem. Aquela era sua chance. Com suas bota, agarrou uma pedra do chão, que havia preparado para a ocasião da última vez que fora solto, e com um movimento rápido de seus calcanhares, jogou-a até onde sua mão deveria estar, pegando-a, mas sentindo o fio cortante da rocha quebradiça açoitar seus dedos. Grunhiu, mas não podia gritar, isso podia alertá-los de sua tentativa.
Tendo ajustado a ferramenta em mãos, num movimento hábil quebrou as correntes, livrando-se de seu confinamento, e imediatamente partiu em disparada, seguindo seus instintos até a brisa e a seguindo. Agora ouvia atrás de si o som de algo o seguindo, mas não se permitiu parar para identificar o que era, apenas seguiu, a toda velocidade. Viu a luz da entrada e quando percebeu já estava do lado de fora. Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos, pois a visão dos céus lhe trazia tranquilidade, e, naquele momento, precisava daquilo. Do céu antes límpido a primeira gota caiu, então a segunda e a terceira, a chuva limpando suas feridas e a sujeira em seu corpo.
Olhou para trás, para a caverna, vendo olhos a observá-lo, mas esses não ousaram deixar a caverna com o rugido dos trovões ao fundo, próximos, ao que raios partiam das nuvens e iluminavam o lugar. Um riso escapou. "Parece que vocês não são tão corajosos sem suas mamãezinha, huh..." A criatura ameaçou sair de seu esconderijo, mas um raio caiu bem à entrada, fazendo as pedras caírem e a entrada ceder e se fechar. Por algum motivo, acreditava que aquilo era obra de seu pai, que o observava lá de cima e o protegia. "Obrigado..." Agradeceu aos ventos, mesmo se não soubesse quem era seu parente divino. Agora pelo menos tinha uma pista.
Seu caminho até o Acampamento Meio-Sangue foi livre de dificuldades, tendo roubado uma moto de um bar de beira de estrada que mais tarde descobriria ser propriedade de Ares, mas que o ajudou a retornar são e salvo à colina. Lá, descobriu que havia sido dado como morto, e finalmente foi reivindicado como sendo filho de Zeus, o que imagina ter sido o motivo para Ares tê-lo deixado em paz desde então.
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astcrixs · 5 months
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O olhar vidrado do filho de Esculápio denotava a ansiedade crescente em seu interior. Sua vida inteira havia corrido de tudo, como um covarde, não entendia o porquê de ter sido escolhido para uma missão tão importante quanto aquela. Jazia sentado em uma rocha no acampamento improvisado que haviam montado às pressas em meio à floresta. Ao seu redor, podia ouvir o som das armaduras a tilintar em atrito entre as peças ao que os soldados se moviam, carregando armas e caixas de suprimentos de um lado a outro sob a liderança da comandante. Ainda assim, os ruídos pareciam desaparecer perante a respiração pesada do rapaz, que sentia sua mente pairar sobre os perigos e os riscos daquela missão. Como estratego designado, não podia cometer erros.
Sua mente ia a milhão, meticulosamente calculando os movimentos que teriam que seguir, enquanto se mantinha apoiado em seus joelhos com os cotovelos, debruçado sobre pedaço de tronco que utilizava como mesa para escrever com a pena no papiro amassado. O estado de hiperfoco foi cortado apenas pela sensação de dor e desequilíbrio que quase o levou ao chão ao que a bota de metal atingiu sua panturrilha, fazendo com que tivesse que se apoiar para não cair. Estava pronto para reclamar quando elevou seu olhar e encontrou o sorriso maldoso da comandante.
As íris azuladas pareciam analisá-lo com frieza, mas isso seria se já não conhecesse bem a figura à sua frente. "Vai ficar aí sentado até quando, Estrelinha?" A voz suave certamente contrastava com a personalidade dela, mas combinava com o grego antigo que ela entoava. O olhar de Asterios desceu à mão que lhe era oferecida, como sinal de que estavam para partir dali; recolheu suas coisas, guardando-as na bolsa de couro simples que carregava, e aceitou o convite, levantando-se com a ajuda dela.
"Prefere que eu não tenha os planos prontos quando forem necessários?" Questionou, pegando seu capacete de bronze e tirando a poeira que havia se acumulado, pelo terreno em que decidiram acampar, antes de colocá-lo em sua cabeça. Assim que o fez, notou a expressão irritada dela em sua direção, e logo se lembrou do combinado anterior. "Se forem necessários..." Corrigiu-se. Má sorte e karma eram conceitos bastante importantes no meio em que viviam, então, policiar-se sobre o que se podia ou não falar em uma missão era essencial.
"Pelo mapa, esse é o atalho..." O olhar dele se voltou à entrada da caverna, não muito longe dali, enorme, como uma boca de alguma criatura a devorar quem quer que entrasse. "Espero que esteja certo sobre isso..." Asterios sabia que a semideusa à sua frente odiava lugares fechados, e entendia o porquê disso também, afinal, ela era filha dos céus, estar longe de seu domínio devia ser aterrorizante para aqueles que com ele estavam acostumados. Sua destra foi ao ombro dela ao que o sorriso surgiu em seu rosto, como se dissesse que estava tudo bem, e pôde notar que o sentimento havia sido captado, mas logo a personalidade dela entrou no caminho do entendimento novamente.
Com um tapa, ela se livrou da mão em seu ombro. "Mantenha essas patinhas longe de mim, soldado." Aos que não os compreendiam, podia parecer uma briga, mas Asterios sabia muito bem que aquele era o modo dela demonstrar sua versão de agradecimento. Suspirou levemente ao vê-la se afastar, fazendo sua função de comandar o grupo de soldados que ali estavam junto deles, um ou outro semideus à vista, o resto composto de mortais normais. Ele também devia se preparar.
As tochas eram a única coisa que iluminava o ambiente. O som de gotas d'água escorrendo pelas estalactites e caindo em gotas ritmicamente denotavam a presença de uma fonte natural correndo por entre as parede do local, formando lagos cristalinos no interior da caverna. Mesmo com a baixa luminosidade, Asterios habilmente analisava o mapa que haviam recebido de Hermes para a ocasião, sinalizando o melhor caminho a ser seguido.
"Comandante..." O olhar dele se mantinha nos traçados que mais pareciam um labirinto aos olhos inexperientes, tentando não perder o foco de onde deveriam estar para que não se perdessem no interior da gruta. "Eu estava aqui pensando... Acho que não cheguei a perguntar qual o objetivo dessa missão...?" O rapaz questionou pela primeira vez desde que saíram de Atenas, suas írises esmeralda se encontraram com as azuis da mulher.
A surpresa era nítida nas feições dela, o que ocasionou a confusão em suas próprias. "Me desculpe, eu não..." Ela balançou a cabeça em negativa e gesticulou com a mão como se dissesse que estava tudo bem. "Só fiquei surpresa de ainda não saber." Ela comentou, e instantaneamente a realização veio à mente do filho de Esculápio, ao que olhou ao redor para os outros semideuses por ali, todos pareciam saber no que estavam se metendo. "Estamos em uma missão de resgate. Meu meio-irmão, inclusive, pelo que entendi do Oráculo..."
A preocupação se fez clara no rosto de Asterios, afinal, Esculápio nunca havia se pronunciado sobre ele ter irmãos, então, não sabia se os tinha e, julgando pela personalidade do Deus, provavelmente era o único e o seria por algum tempo. Não sabia qual era a sensação de tê-los. As írises azuladas apenas precisaram encontrar suas expressões uma vez para que o riso escapasse da garganta da filha de Zeus, genuíno. "Não é como se fossemos próximos! Eu nem sabia que meu pai tinha outros filhos até dois meses atrás..." Ela tinha razão, era assim quando o assunto eram os Deuses. Os semideuses eram sempre os últimos a saber de tudo.
"Mesmo assim, imagino que esteja preocu-..." A companhia parou a marcha quase que em um mesmo momento. O frio na barriga veio como um aviso do que viria a acontecer, antecedendo o som do rumor grave. De repente, as expressões dos outros semideuses e dos soldados deixou o animado para demonstrar um misto de pânico e terror ao que sacaram suas armas. Foi apenas o tempo de Asterios fechar o punho com o anel, vendo ao que ele se formava em seu antebraço, e puxar sua lâmina e... Bam! O baque seco contra a lateral de sua armadura só não soou mais alto que o som de seu capacete se chocando contra a parede de pedra ao que foi arremessado contra ela, voando aos ares ao que ele caiu ao chão. Se fosse uma pessoa normal, com certeza teria morrido ali mesmo.
Da posição que estava, sentado com as costas contra a parede, podia sentir o ar se contrariando a adentrar seus pulmões, como se apertassem um nó à sua garganta. A visão turva pelo atordoamento lutava contra o sangue que descia em seu rosto para tentar enxergar o que acontecia. Sentia a pontada em sua testa, mas essa dor era superada em muito pelas inúmeras costelas quebradas que havia adquirido nesse interim. Ouvia, ao longe, como se estivesse mergulhando, as vozes ao seu redor. Conseguia distinguir o timbre da comandante dentre eles, liderando o grupo.
Viu a criatura, parte leão, parte serpente, parte bode, avançar contra a companhia, fazendo voar soldados aos ares, com um ou outro semideus mantendo a postura perante a besta. Tinha que ir até eles. Seu olhar baixou à região em que havia sido ferido, sentindo a dor se intensificar ao que identificou a ferida, como se sua armadura fosse feita de papel, as garras haviam feito um corte médio em sua pele, e sabia que se não a tivesse vestido, certamente teria sido seu fim. Cambaleou para se levantar, inspirando fundo. Suas pernas estavam trêmulas, não sabia se era pela desorientação ou pelo medo, era difícil se mantar de pé, por isso, se apoiava contra a parede.
Estendeu a mão em direção à filha de Zeus, concentrando-se, as partículas esverdeadas envolveram sua figura bem a tempo de prevenir que as chamas exaladas pela criatura a eliminassem, mas tão logo quanto surgiram, desapareceram com a tontura que surgiu. Não sabia o que fazer naquela situação, precisavam recuar e reagrupar, mas a visão que tinha era de seus companheiros, um a um, caindo, e Asterios, em sua atual situação, não conseguia impedir o mal que sobre eles caía.
Seu olhar foi à comandante, esperançoso e desesperado, procurando por um comando que pudesse ajudá-lo, ou alguma direção, mas esse apenas encontrou um sorriso gentil. "Corra, Estrelinha." Correr? O que ela queria dizer com aquilo? Não podia abandonar todos ali para morrer. "Não, eu não-..." Ela balançou a cabeça em negativa. "Isso é uma ordem de sua superior." Tudo pareceu passar em câmera lenta no momento seguinte, ao que as chamas novamente voltaram a escapar pelas narinas da Quimera, envolvendo a filha de Zeus e alguns outros soldados ali presentes.
A voz lhe escapava e mesmo que quisesse gritar ou agir, não conseguia. Suas pernas o levavam para longe dali, seguindo as ordens de sua comandante... Não... De sua amiga. Assim que alcançou a entrada da caverna, viu que a tempestade rugia do lado de fora, e o que o esperava era algo pior do que o monstro que havia enfrentado há pouco. Caiu de joelhos perante a aura esmagadora e poderosa da figura à que caminhava até ele em meio aos relâmpagos que iluminavam os céus acompanhados dos trovões que faziam a terra estremecer.
"COVARDE!" A voz ecoou aos quatro ventos. A esse ponto, se apoiava na espada curta que carregava, joelhos ao chão, incapaz de se levantar mais que isso. "Não, eu-..." Tentou se explicar, mas os raios caíram uma vez mais, cada vez mais perto de onde estavam. "Você abandonou sua missão, seus companheiros e seu destino... Por sua culpa, agora velo por dois filhos." Esbravejou a figura que agora podia identificar, com certeza, como o Deus-Rei, Zeus.
"Eu tentei..." Agora já podia enxergar os pés da figura à sua frente, mas seu olhar não ousava se elevar além daquilo, como se lá no fundo também se culpasse pelo que havia acontecido. Havia sido sua culpa... Ele quem havia encontrado o atalho no mapa mesmo quando havia sido dito que o caminho deveria ser longo. "Desculpas e mais desculpas... Você não é digno do poder com o qual seu pai te abençoou de nascença. Até que suas conquistas excedam seu pecado, eu, Zeus, te amaldiçoo... Que cada gota de sofrimento que você livre com seu dom te puna pela sua covardia."
O último raio partiu o céu sobre a figura de Asterios, mas a dor causada por esse não podia ser maior que aquela que ele já sentia por suas ações. Nunca se perdoaria pelo que havia feito, eternamente fadado a sentir o peso de seu pecado sempre que por seu bom coração desejasse ajudar aqueles ao seu redor. Perdeu a consciência...
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dragonbonez · 5 months
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He adopted him after that.
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ambrosiagourmet · 4 months
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I think one of the biggest tragedies of Laios & Falin and their relationship is how much his actions impact her life. But like. Specifically how much they WOULDN’T impact her life as much if they weren’t both stuck in such a shitty abusive situation.
This part of the Falin-tries-makeup daydream hour comic is what got me thinking about it again because truly it just... it seems like such a like an offhand comment that I'm sure Laios didn't mean to be cruel or anything. That's just like. A little kid not thinking about what they are saying. ESPECIALLY when the kid in question is Laios.
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But man they depended on each other SO much as kids. Too much. It really feels like they didn't have any other source of positive reinforcement, or anyone else to share themselves with. So of course an offhand comment like that has a huge impact on Falin.
Or this little bit from one of the flashbacks:
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This tears me apart. Do you think it tears him apart to think about? I think it does. I think Laios holds every small failure to care for Falin against himself.
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And then there's the Bigger stuff. The way that him coping with his own trauma ended up impacting her.
Like his interest in monsters. Like him going to find a ghost, and accidentally revealing Falin's magic to the whole village in the process.
Like him needing to leave. And leaving her behind.
He shaped her life so much, and he carries so much guilt for it. And again, there should have been other people there to help. The same things that made Laios need to leave home are the things that made his leaving so hard on Falin. She ate alone after that. She shouldn't have had to eat alone just because Laios wasn't there.
She was 9 when he left for school, and he was 11.
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Nine. And Laios feels like he failed her because he didn't stand by her through this better. As an eleven year old.
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Both of these kids deserved so much better from the world.
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heartbeatmen · 1 month
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Daddy 3
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