Tumgik
#💀 . 𝗧𝗛𝗥𝗘𝗔𝗗𝗦 ヽ pov ◞
shadowmvn · 2 years
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𝐓𝐇𝐄 𝐀𝐑𝐑𝐎𝐆𝐀𝐍𝐓 𝐏𝐀𝐋𝐌 𝐎𝐅 𝐀 𝐒𝐌𝐀𝐋𝐋 𝐇𝐔𝐌𝐀𝐍.
TW: descrição de sangue, morte e pensamentos suicidas.
ONDE: Um galpão abandonado nas profundezas do Castigo.
QUANDO: Um ano atrás.
If you consent to die for hatred and power, who will forgive us?
Albert Camus, from “The Renegade, or A Confused Mind”, Exile and the Kingdom: Stories (trans. Carol Cosman)
Toda a sua vida foi dedicada a chegar neste momento, a partida da mãe marcava a virada de chave para Sinister Kek Facilier e o surgimento da obsessão de sua existência. 
Os passos ecoavam pela escuridão infinita que o cercava como se estivesse caminhando sob a água, a única coisa que se fazia visível era um caminho de tochas que o guiavam para lugar nenhum. Os sentimentos em seu peito estavam em frenesi. Ele caminhava sem rumo apesar de saber o que estava procurando, o Demônio do Futuro. Um dos amigos do outro lado com maior poder e mistificação. Desde a primeira vez que Sinister invadiu a biblioteca particular de seu pai ainda como uma criança em busca de conhecimento, a figura do Demônio do Futuro se fazia presente em todo texto especial. Uma criatura instável e imprevisível que estabelecia preços inalcançáveis em seus contratos, variando de acordo com a sua afinidade para com aquele que solicitou o trato. Era um tiro no escuro e o mais velho dos irmãos Facilier sabia disso. Ele sairia daquele ritual de uma das duas formas possíveis: poderoso ou morto. Esse era um risco que estava disposto a correr. A moeda do destino havia sido jogada a partir do momento em que ele entrou no círculo do ritual, ou muito antes disso. Antes mesmo que ele tivesse a noção do que o aguardava. 
O caminhar que parecia eterno finalmente culminou ao fim. Uma montanha de ossos erguia um trono distante sob o que mais parecia um esqueleto de uma criatura mítica colossal, banhada pela lua de sangue que pairava imponente cobrindo grande parte do céu obscuro. Era ali que vivia o Demônio do Futuro? Os relatos nos livros eram incertos, mas todos começavam daquela mesma forma. Uma criatura coberta por olhos e asas - quase se assemelhando a um ser celestial narrados pelos non-maj - surgia repentinamente, como se sempre estivesse ali, se materializando em frente aos olhos humanos lentos demais para acompanhar o movimento real. 
O frio repentino junto da sensação esmagadora de morte e medo que tomaram o ambiente foram avassaladoras. Sinister estava paralizado, todas as células de seu corpo gritavam para que ele corresse, mas ele não o fez. Violência. Sangue. Sacrifício. Penitência. Morte. Você vai morrer. Você vai morrer. Você vai morrer. As palavras pareciam grafadas em sua mente geradas pela influência da criatura sobrenatural a sua frente, estava amedrontado que não conseguia se mexer. O grito esganiçado que seus pensamentos formavam foram repentinamente acalmados, dando lugar para uma voz sobrenatural que não correspondia a nenhuma língua conhecida e mesmo assim Sinister conseguia compreender o sentido. Elas estavam sendo traduzidas pela criatura em sua cabeça no momento em que eram recebidas, formando uma mistura inumana, bestial. O paradoxo entre medo e a calma que a voz passava era quase imoral, sujo. 
"O que uma criatura inferior está fazendo no meu domínio?" Silêncio. Nenhuma palavra conseguia sair por entre os lábios masculinos e duramente cerrados pelo medo. Seus músculos gritavam de dor como se estivessem sendo rasgados na tentativa desesperada de se mover. Nada. Vazio. Nenhum movimento realizado. Tempo era algo que ele não dispunha então, no momento em que a imagem da mãe que surgiu em sua mente, foi como se a determinação infantil que possuía no peito subjulgasse o medo que o sufocava. "Eu vim fazer um contrato. Em troca de poder eu te dou qualquer coisa." E mais uma vez, silêncio. "Criatura tola, você acha que é especial? Em todos esses séculos, sabe quantos vieram me encontrar com o mesmo pedido e saíram vivos?" Não fazia ideia, sua coragem o mantinha firme de uma forma que ele não compreendida. Sentia vontade de correr, se esconder atrás da pilha de ossos e esperar que alguém o encontrasse. Sinister jamais faria isso, o desejo de possuir mais poder para encontrar aquela que procurava e conseguir livrar seus semelhantes do sofrimento o mantinha firme ali. "Vamos fazer um acordo, Demônio do Futuro. Em troca eu te dou o que quiser." Repetiu, quase como se não tivesse ouvido as reclamações alheias. Quase como se não possuísse medo. Logo ele, o homem que não conseguia nem se mexer. E ele sabia, a criatura conseguia o ler com facilidade.
Os incontáveis olhos o analisavam com tamanha intensidade que se continuasse por mais tempo seria queimado. Ele sabia que seria queimado. "Me mostre o seu futuro." A voz em sua mente disse enquanto o amigo do outro lado abria um buraco no que Sinister considerava ser o seu abdômen, revelando um olho mais assustador e brilhante que todos os outros que se espalhavam na extensão de seu corpo. Ele precisava andar, precisava caminhar e colocar a cabeça ali. O plano de sua vida dependia disso e Sinister sabia, porém, apesar de tudo, ainda estava paralizado. Um segundo, dois segundos, três. Ou será minutos? Horas? Não conseguia medir o tempo que levou para conseguir mover as pernas que pareciam grudadas no chão, rachando o seu caminho para fora. O seu caminho até aquele buraco infinito onde colocou a cabeça em um surto de coragem. Se fosse ali que ele morria, tudo bem. Sinister conhecia todos os termos possíveis que foram registrados, estava pronto para aceitar a morte como se abraça um velho amigo, forte. Com uma lufada de ar para dentro do pulmão, toda a sua vida passou em frente aos seus olhos, começo meio e fim. Tudo rápido demais para que o cérebro lento e humano demais conseguisse computar, mas as emoções pareciam o acertar como um tiro diretamente no coração. Estava chorando. Patético.
Assim que decidiu abrir a boca, a imagem de Kiera apareceu em sua mente, nublando seus pensamentos. Como ele poderia fazer isso com ela? Sua força de vontade estava vacilando, seu âmago desesperado tentava sabotar a determinação do rapaz. Kiera, Zeena, Nico, Effie. A imagem das quatro surgiram em sua mente, uma após a outra. Não poderia abandona-las, não. As irmãs eram o seu maior amor e, apesar de não assumir, as amigas possuíam grande parte do seu coração. Cerrou a mão em punhos, como poderia as deixar? Clary. Finalmente Charity surgiu em sua mente, o pensamento que estava tentando evitar desde que decidiu fazer o ritual; a pessoa que estava praticamente ignorando durante os dias de preparação para aquilo. Os momentos que passaram juntos tomaram sua mente, começando a clarea-la. Não abandonaria as pessoas mais especiais para ele, definitivamente não faria isso. Não. 
As lágrimas que escorriam dos olhos do Facilier caíam incontroláveis, molhando toda a extensão de suas bochechas, se misturando com a barba desgrenhada e caindo para umedecer a camisa preta. A tristeza avassaladora que sentia não poupava esforços para amassar o coração masculino dentro do peito, sem piedade. Patético, pensou mais uma vez em meio a incredulidade ao vislumbrar a própria situação. A risada metálica e ensurdecedora que ecoou em seu cérebro o fez voltar a realidade, estava no meio de um acordo. Certo. Ele precisava daquilo, não importa o preço. "Uma morte horrível aguarda no seu futuro, garoto." A respiração ficou presa no peito do Facilier. "Eu aceito esse seu contrato sob duas condições. Você não vai lembrar de nada que aconteceu aqui e eu vou pegar 50% da sua expectativa de vida." Sinister não precisou fazer as contas, sabia que caminhava lado a lado com a morte e aquilo apenas tiraria seus últimos anos. Estava decidido a morrer e isso faria. Era dessa forma que começava a realização de seus sonhos? Suas ambições que sempre pareceram tão grandes se encontravam tão perto, ao alcance da palma de sua mão.
Uma parte teimosa de seu cérebro ainda lutava contra a decisão, a criança dentro de si lutava por aquilo. Toda a raiva e rancor acumuladas não poderiam sumir de forma tão simples, apenas com um pensamento de esperança. O pequeno garotinho dentro de si trouxe de volta o pensamento sobre a mãe. Lutando contra todas as lembranças felizes com as irmãs, amigas e a namorada. A noite sombria em que a chuva forte estalava contra o vidro das janelas voltou a sua mente. O dia em que sua mãe foi embora, ou pelo menos era o que tentaram o fazer acreditar. A figura materna saindo pela porta ainda estava gravada em sua alma, uma ferida aberta que nunca iria sarar. Não enquanto ele não fizesse algo, enquanto ele não lutasse. O sangue que escorria cegava os olhos negros, afastando de forma bruta as lembranças felizes que outrora o tentavam para longe de seu caminho. Desde que a porta foi fechada e a mãe desapareceu na escuridão da noite chuvosa, Sinister havia decidido morrer. E assim faria.
"Fechado." Esticou a mão para que pudesse apertar a da criatura, selando o acordo. A partir da palma da mão algumas correntes finas apareceram, se enrolando ao redor o pulso masculino e adentrando a carne; forçando o seu caminho para dentro e deixando para trás uma queimadura negra com a aparência de uma tatuagem. Aquela havia sido a última coisa que disse antes que o ambiente ao seu redor girasse, o cuspindo para fora, expulsando-o como se não fosse um lugar natural para ele. Sinister não deveria estar ali e todo o ambiente o rejeitava, lançando-o com violência de volta para o interior escuro do galpão abandonado em que se encontrava outrora. Iluminado apenas pelas luzes das velas que compunham o ritual e temulavam graças ao poder místico que agora abandonava o local. A risada maligna que ecoava em seu cérebro rapidamente - ou em uma eternidade - foi desaparecendo bruscamente, assim como outrora começou. "Eu vou olhar o seu futuro de perto, Sinister Kek Facilier." O que caralho tava acontecendo? Sinister estava de joelhos no chão, não entendia porquê estava em um galpão abandonado em meio a uma tempestade, mas estava. E decidiu se colocar de pé. Péssima ideia. A dor repentina e avassaladora que o tomou foi o suficiente para o jogar novamente no chão, com as palmas contra o piso de madeira velho. Algo não estava certo com o seu corpo e ele sabia. Já havia tido aquela sensação antes, eram as clássicas consequências de seus rituais. Ele tinha feito alguma merda e das grandes, conseguia dizer. Precisava de ajuda imediatamente. O líquido intruso que tomou sua boca o pegou de surpresa, sendo expulsado para fora como se seu corpo estivesse em desespero, definhando. O gosto metálico era inebriante. A palma rumou até a boca em um ato automático, tentando impedir que o que quer que estivesse saindo por ali. Uma tentativa vã. O vermelho vívido que pintou o chão marcava o começo do fim. Sinister sabia que estava fodido; a falta de seu rim esquerdo e parte de seu fígado marcavam o preço necessário para ritual. Ele morreria, tinha certeza de que morreria ali. O corpo que lutava para se manter firme tombou no chão, vacilando e perdendo as forças. Nem um Facilier conseguiria escapar da morte. 
O rosto contra a madeira do piso já não se fazia possível distinguir entre o frio do corpo e o gelado do chão. Estava morrendo, as pálpebras pesadas o impediam de manter os olhos abertos por muito tempo. Antes que eles finalmente se fechassem foi possível vislumbrar uma figura na porta. Sinister sorriria se pudesse, não existe final melhor do que após ver um anjo.
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