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O atraso científico que deixou o Brasil para trás
Problemas enfrentados por profissionais da saúde e tecnologia causam reflexos até hoje
O Brasil não está distante de reviver o atraso científico causado pelo regime militar. Entre 1964 e 1985 inúmeros pesquisadores e professores universitários foram submetidos a inquéritos policiais militares, demitidos, aposentados, exilados, torturados e mesmo mortos. Muitos tiveram suas carreiras interrompidas, enquanto outros buscaram instituições de ensino e pesquisa no exterior para continuar suas atividades acadêmicas. Segundo o professor de Física da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Alberto Santoro, de 77 anos, o país pode enfrentar novamente perseguições nas áreas de saúde e tecnologia, por exemplo. Ele encara a vitória de Jair Bolsonaro nas urnas como uma "ditadura eleita" que vai criar uma grande convulsão no país e se tornar uma ameaça para a ciência. Durante os últimos anos do governo militar, houveram muitos cortes de verba, cortes de cultura e cortes nas grandes universidades, e é possível ver esse atraso se repetir.
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Tropas do exército ocupam campus da UnB
Houveram pesquisas que poderiam ter sido feitas e não foram, pois o responsável por elas havia sido expurgado ou aposentado, como foi o caso do orientador de mestrado de Santoro, o físico José Leite Lopes: ele foi preso e posteriormente teve sua aposentadoria imposta, o que resultou na desmontagem de um acelerador de partículas que ia ser instalado no Campus do Fundão, no Rio de Janeiro, e seria comandado por ele. O regime militar fechava portas e oportunidades de trabalho a professores e cientistas brasileiros. Leite Lopes, por exemplo, teve seus direitos políticos cassados, sendo impedido de ficar no Brasil.
Com colegas presos, assassinados e desaparecidos, Santoro sentiu medo e resolveu continuar o mestrado na França, ampliando sua formação no exterior. A situação no Brasil ficou crítica e tornou-se impossível retornar, pois a área científica estava totalmente sem investimento por parte do governo.
"Ver um professor cassado e não podendo dar aula é desesperador. Nós chegamos a conversar com Leite Lopes e combinar de nos reunirmos no exterior, para dar continuidade às orientações científicas. Nós e o professor tínhamos um propósito: voltar para o Brasil assim que possível para trabalhar aqui. Eu tinha um compromisso com o povo brasileiro, e nós só fomos para o exterior porque estava inviável continuar no Brasil.", conta Santoro.
Durante o regime, a produção científica praticamente parou, o que fez com que o Brasil ficasse muito atrás em relação a outros países. O ex-pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) afirma que a situação ficou muito difícil, pois milhares de pessoas foram embora, e quem lucrava com isso eram os americanos e europeus. Casos de estudantes que não tinham aulas devido à inexistência de orientadores tornaram-se frequentes, e o país perdeu alunos com alto potencial que decidiram ir para os EUA e países europeus.
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Professor Alberto Santoro na UERJ
"O Brasil investia na formação dos alunos durante anos, mas quando aquela pessoa estava pronta para começar a produzir e gerar desenvolvimento para o país, ela simplesmente ia embora para servir à quem não investiu nada na sua formação. Os brasileiros ficaram servindo a outros países, e enquanto eles cresciam e se desenvolviam, o Brasil afundava cada vez mais. É basicamente você investir muito numa pessoa para, na "hora H", mandar a pessoa pra outro lugar. É preciso que o país tenha um projeto de país que não seja vender o país para os outros.", afirma Santoro.
De uma forma geral, pesquisadores e historiadores afirmam que a área científica foi completamente arrasada durante a ditadura militar, e as coisas tornaram-se mais graves após o decreto do Ato Institucional nº 5, o tão conhecido AI-5. Enquanto professores eram exilados, militares tentavam acabar com universidades que iam contra o pensamento do governo. Foi o caso da Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, que sofreu fortes represálias e tentativas de destruição. Por outro lado, estimulavam a Universidade de Campinas (Unicamp), pois era um centro avançado que ia ao encontro do que lhes convinha. O governo militar buscava eliminar a oposição e silenciar qualquer tipo de resistência que não concordasse com a atual política.
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O objetivo dos militares era tentar mostrar que o país vivia momentos de progresso, ainda que estivesse vivendo um caos interno. Na década de 1970 ocorreu a maior epidemia de meningite da história do país, mas as autoridades omitiram o crescimento da doença para passar ao povo uma falsa imagem de "país perfeito", onde não há doenças ou crises. O regime censurou qualquer menção à doença nos meios de comunicação, pois estava despreparado para enfrentar o crescente número de casos e não era capaz de importar a quantidade de doses de vacinas necessárias; o investimento na saúde era baixíssimo.
Após alguns anos, o governo percebeu a importância do investimento tecnológico na área de saúde e firmou um acordo com o Instituto Mérieux, para a transferência da tecnologia de produção de imunizantes. Passaram a priorizar o investimento na área das vacinas, mas deixaram de lado as iniciativas científicas. Recursos anteriormente destinados para pesquisas foram desviados para outros fins, e pesquisadores tiveram que encontrar fontes alternativas. Muitos tiveram suas carreiras interrompidas, enquanto outros buscaram instituições de ensino e pesquisa no exterior para continuar suas atividades acadêmicas.
Segundo a pesquisadora e socióloga da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nara Azevedo, a repressão ao meio intelectual foi intensa, principalmente depois do AI-5. No ano de 1964, o Ministério da Saúde nomeou um pesquisador simpático aos militares para ocupar o cargo de diretor, o político Francisco da Rocha Lagoa. Com isso, vários pesquisadores tiveram os direitos políticos cassados e foram aposentados. Esse foi um período de dificuldades para a pesquisa, pois os recursos eram escassos e os pesquisadores contavam com financiamento de agências até mesmo estrangeiras. Nara afirma que o diretor Rocha Lagoa cortou a fonte de recurso que ia diretamente para os pesquisadores, exigindo que elas entrassem no orçamento da instituição para serem distribuídas por ele mesmo. Ou seja, antes mesmo de serem cassados, os pesquisadores já não conseguiam manter os laboratórios funcionando normalmente, resultando na perda de alunos e colaboradores.
“O governo passou a priorizar apenas a produção de vacinas e medicamentos, e houve um desmonte nas iniciativas científicas realizadas em todo o país. Por exemplo, nos anos 1960 havia 140 pesquisadores no instituto. Nos anos 1970, eram apenas 70”, revela a socióloga.
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Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro
A pesquisadora Wanda Hamilton, que também integra a equipe da Fiocruz, afirma que, com o tempo, esse desmonte nas iniciativas também prejudicou os pesquisadores, a infraestrutura e a equipe de pesquisa. Ela conta que toda essa situação gerou um atraso para o Brasil, pois enquanto a área científica ficou estagnada por aqui, outros países se desenvolviam através de pesquisadores e profissionais brasileiros, que foram impossibilitados de colaborar para o próprio país.
"Não sobra nada. Com o tempo, houve aumento dos índices de doença de Chagas, malária e a evolução da epidemia de meningite. Ficou tudo um caos. Só depois de alguns anos, quando o governo resolveu investir nas vacinas, que a situação da Fiocruz e da saúde pública começou a melhorar. Mas, ainda assim, a questão da pesquisa ficou muito prejudicada no Brasil. Se não tivéssemos passado por tudo aquilo, hoje estaríamos em um outro patamar", conta a pesquisadora da Fundação.
Áreas como saúde, física e tecnologia passaram por grandes crises durante a ditadura militar. Pesquisadores que poderiam ter contribuído na época estavam presos ou exilados, e desta forma não puderam avançar com suas pesquisas e estudos, o que fez com que o Brasil perdesse a oportunidade de crescer no âmbito da ciência.
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somerarquiterura · 3 years
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Renders de uma copa
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julietecoitinho · 7 years
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E vamos lá #fono #5periodo (em Centro Universitário São Lucas)
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sherrira-blog · 7 years
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Esse é um pulmão visto em paciente em posição radiológica frontal e incidência radiológica Antero-posterior! 😂 #imaginologia #biomedicina #5periodo
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tatahgaspari · 7 years
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Oque dizer de nós quateto para dura da faculdade, né, porque a julia ta na barriga da mamae michele, 😘😇🙏😁😁😁😁😁 #futurasContadoras #5periodo #contabilidade #parceiras #babyaCaminho #Julia
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somerarquiterura · 3 years
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Planta e cortes de uma copa
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5° período EP UFPI (Grade curricular)
Disciplinas que serão aplicadas aos alunos neste módulo do curso:
5.1- Laboratório de Eletricidade I 5.2- Engenharia, Ética e Sociedade 5.3- Modelagem e Otimização de Sistemas de Produção 5.4- Sistemas de Informação I 5.5- Contabilidade e Custos 5.6- Probabilidade e Estatística II 5.7- Optativa
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gleicykelylinhares · 9 years
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Vemcomtudo2015#5periodo#farmácia#amigos#Gabi#Tulio#amoo#
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karla2210 · 9 years
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É isso mesmo, acabou? #fériasvolta #hjcomeçadenovo #vemFacul #5periodo #Tochegando #preparaaaa #EdFisicaBacharel #letsgo
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