I will return to old Brazil
Estou a três semanas em Nova York em uma viagem de laser e independência, tenho saudades de casa. Falta apenas dois dias e em breve estou de volta ao Brasil para reencontrar minha família e amigos. Estava aproveitando para organizar parte das coisas, como algumas roupas e documentos quando senti a falta do meu passaporte.
“Onde foi parar, meu Deus?! Meu cartão de credito estava na capa. Eu já revirei esse apartamento de ponta cabeça e não encontro em parte alguma. Não é possível que eu perdi! Essas merdas só acontecem comigo. Eu só tenho dois dias de estadia nesse airbnb, como vou resolver o problema da perda de passaporte em dois dias sem meu cartão de credito!? Eu não tenho nenhum centavo a mais."
[esbravejando, entrando em surto]
"Ok, calma, sou esperta! Preciso arranjar grana pra pelo menos mais um ou dois dias, tenho o bastante para as refeições diárias. Bom, eu não queria vivenciar algo único e inspirador? Esta ai a chance de ter uma história trágica pra contar e rir disso depois."
[pensei em voz alta]
"Eu posso me virar como artista de rua, começando amanhã mesmo. Pego meu ukulele e umas folhas de papel em branco e faço ilustrações de pedestres, espero colher frutos disso. O ultimo lugar que me lembro de ter visto o passaporte em minhas mãos, foi ontem quando eu estava no MoMA. Agora preciso voltar lá e torcer para que eu encontre no "achados e perdidos" do lugar."
[No dia seguinte]
Hoje acordei cedo e já estou a caminho do Central Park, espero encontrar um espaço no Bethesda Terrace pra tocar, tem um eco e visual tão bonito. A primeira vez que fui vi um jovens tocando violoncelo de forma tão bela, me fez transbordar de emoção.
Toquei algumas musicas, notei que tive um retorno bem positivo olhando para a capa do Ukulele, estava curiosa para contar quanto de dinheiro eu tinha feito com aquelas 5 musicas tocadas. É bem incrível a satisfação de tocar ali, as pessoas parecem querer ouvir-me tocar. Pensei em encerrar com Naive - The Kooks e assim eu fiz.
- I'm not saying it was your fault
Although you could have done more
Oh, you're so naïve, yet so.. {music}
Logo formou uma roda de pessoas cantando junto, fiquei arrepiada, não imaginava que The kooks ainda tinha um publico. Uma garotinha deixou 16 Dólares na capa do instrumento, isso me fez flutuar.
Faltando menos de 1 minuto pra musica acabar, vi um rapaz maravilhosamente atraente fisicamente, a pelo menos 5 metros de distancia, "eu conheço você?" Pensei enquanto errei uma nota da canção.
Ao encerrar a ultima canção agradeci e forcei o olhar para que meus olhos alcançassem o rapaz novamente, mas ele já não estava ali. No instante que agradeci, a mesma garotinha começou a puxar um couro dizendo "mais uma, mais uma". Eu já não tinha repertório e não conseguia pensar em nada. O céu estava com uma textura atraente e o clima tinha uma paleta de cor que me remeteu a canção Postcards From Italy - Beirut e sem pensar muito se fazia ou não sentido para o momento, eu comecei a tocar e cantar.
Enquanto eu tocava, fechei meus olhos para sentir o ápice instrumental da canção que se aproximava. E quando eu abri meus olhos o mesmo garoto que avistei de longe minutos atrás estava parado na minha frente acompanhando meu show. Quem era? Timothée Chalamet.
Meu corpo todo ficou gelado com o susto, porem eu não queria deixar nada evidente. Se eu demonstrasse minha ansiedade, aquele espaço viraria uma tarde de autógrafos e eu não quero tomar seu tempo. Será que ele me deu dinheiro? A capa do instrumento tinha recebido mais notas de papel, mas por estar de olhos fechados eu não pude ver.
Ele deu um sorriso e assentiu com a cabeça, se virou pra ir embora. Me mantive em silencio. Segundo depois me apressei agradecendo a todos a minha volta e guardando meu instrumento e pegando minha bolsa. Sai correndo atrás dele.
- Hey! Timo!
Ele virou no mesmo segundo, confuso, tentando encontrar quem o chamou. Ele deve ter reparado em mim apertando o passo para me aproximar dele o mais breve possível.
- Oi! Nossa é um prazer, eu nem acredito que é você mesmo. Te deixei ir embora para não apresentar alarde ao redor mas precisava falar com você e te agradecer por me ouvir tocar e muitas outras coisas. Desculpe, eu to falando demais, tudo bem?
Falei tão rápido que quase não respirei. Ele riu.
- Oi, Beirut hã? Combina bastante com o clima de hoje. Foi legal! Eu estou bem e você? Alias, seu nome?
- Você curte Beirut? Caramba. Meu nome é (xxxx) mas não tem importância agora.
- Tem sim, com certeza. É de Nova York?
- Não, venho do brasil. Estou de viagem..
As palavras iam sumindo da minha cabeça com o passar dos minutos, eu estava um tanto hipnotizada.
- Legal! Quero muito conhecer o Brasil qualquer dia. Você quer uma foto?
- Cara, eu quero uma foto sim. Nunca pensei que esse momento seria aqui e agora.
Tiramos a foto, ele agradeceu por eu ter ido até ele e por eu ter tocado com tanta emoção. Ele disse por fim que estava "muito harmonioso". E com muita dor no coração eu o deixei ir.
"Caramba, eu conheci Timothée chalamet dois dias antes de voltar pro Brasil! Eu devo confessar que o destino arrasou, só falta trazer meu passaporte de volta."
[Pensei em voz alta]
Chegando no MoMA recebi a terrível noticia de que meu passaporte não estava lá, era minha única esperança descendo pelo ralo. Eu queria chorar de desespero mas também estava plenamente feliz por ter conhecido o Timothée e ter tirado uma foto que guardarei pro resto da minha vida.
Queria ter sido mais calma e sã das ideias, eu acho que levei a impressão de ser louca. Espero que ele não tenha notado meu desespero, ansiedade e completo fascínio. Bom, voltando ao que preciso ter foco.. “Será que consigo algum trabalho de freelancer em algum studio de designe? Bom, pode ser uma cafeteria.”
O dia passou tão rápido, o relógio já esta quase marcando 16h da tarde. Acho que vou tomar um café e comer alguma coisa, aproveito e já peço um emprego, se isso não for passar vergonha demais.
Pensei em andar por West Village e encontra algum café maneiro por ali. Dito e feito, achei um café visivelmente atraente e tinha um cheiro delicioso saindo pela porta, porem estava vazio. Acho que é a oportunidade perfeita pra uma apresentação, vou comer algo antes.
Pedi um café Latte e um Lobster, um dos meus doces favoritos. Aquela massa folhada crocante, recheada com creme de baunilha, caramelo e flor de sal me fazem revirar os olhos. Comi com tanto desejo que comecei a lembrar de como meu dia foi surpreendente.
Pensei fazer uma ilustração do Timothée, um desenho de como o conheci, o ambiente estava delicioso para desenhar em plena paz e assim o fiz.
Notei que alguém entrou pela porta da cafeteria, ouvi o som da porta abrir. Era ele, ele estava novamente no mesmo ambiente que eu. A coincidência era tanta que eu mal podia acreditar, mantive minha calma. Ele se sentou do outro lado da sala, fingi que não vi.
Na radio local começou a tocar First date - Blink, obviamente comecei a cantar e tentar finalizar meu desenho o mais rápido possível, quem sabe ele pudesse ver antes de ir.
“Lets go! Don't wait! this night's almost over
Honest, let's make this night last forever’ {Music}
De repente alguém chegou na minha mesa e colocou um copo de Vanilla Malt e um lanche com um cheiro ótimo. Quando olhei pra cima ele completou a harmonia.
- Forever and ever, let's make this last forever. Oi de novo!
“Ta brincando que isso esta realmente acontecendo? E se não estiver? Bom, vou agir como se estivesse sonhando, posso me sair melhor nessa comunicação”
- Não acredito.. Isso é loucura, o que faz aqui na minha mesa?!
- Prefere que eu saia?
- Está louco, claro que não, senta ai!
- Então, o que está fazendo? Espera, isso... sou eu?! Caralho! [ Ele apontou para o desenho]
- hãnn sim, olha.. essa coincidência eu nunca vou viver de novo. Agora na minha cabeça eu passo por um dilema cruel.
- Qual seria? Licença [Ele pegou o desenho maravilhado e tirou uma foto]
- Devo finaliza-lo e dar pra você, ou devo pedir um autografo e emoldurar?
- Hmm olha.. meu autografo não é nada, ia estragar o desenho, mas é tão irado, eu amaria que fosse meu, mas tirei uma foto, vale a moldura!
- Combinado, Sr. Chalamet.
Contei do meu drama com o passaporte e o quão eu estava aflita. A cara dele de "puta merda, eu lamento, você terá dor de cabeça" não ajudou. Mas ele me ofereceu ajuda real com essa burocracia.
“Significa que vou vê-lo além do dia de hoje?!”
- Ok, você esta tensa. Vamos quebrar o gelo descontraindo com uma técnica teatral. Eu digo uma palavra, você pensa rápido e diz a primeira que aparecer na sua cabeça.
-Okay...Eu posso começar? [O que ta acontecendo aqui? Ri de nervoso]
-Sim, claro!
- Prata
- Ouro
- Desejo
- Fogo
- Amigo
- você
- Call me by your name
- and a call you by mine. Oh shit! [Riu levando a mão na boca]
- Isso é bem legal hahaha permita-me perguntar. O que vai fazer agora? Estou realmente surpresa em te ver "vivendo normalmente"
- É as vezes eu consigo essa proeza. Mas enfim, não tenho planos.
- Quer ir no cinema de rua ver que classico está passando hoje?
- Meu Deus, sim! Eu topo, obrigada pela sugestão.
Saimos da cafeteria e eu não pedi um emprego, não me arrependo, meu dia ta sendo do caralho. Fomos até o cinema da East village e Cantando na chuva estava em cartaz, isso era perfeito! Irei assistir um dos meus filmes favoritos com o Timothée, já é a 4º vez que me belisco e noto que não é sonho.
Esse dia não pode acabar. Pegamos os ingressos e entramos sem que ele fosse parado ou reconhecido, eu estava aliviada. E sentada ao lado dele em uma sala de cinema, só conseguia pensar em como eu queria poder pegar na mão dele, beija-lo de modo tão clássico quanto o filme que estamos vendo. Ele fez um story, estou louca pra abrir meu celular e ver, ver sabendo que eu estou ao lado dele e mais ninguém além de mim e ele sabe, que foda!
Ao acabar o filme saímos, mais uma coincidência ou não, estava chovendo. Eu tinha meu instrumento e minhas folhas de desenho na bolsa, mas queria literalmente cantar na chuva, só que sem um guarda chuva.
Larguei tudo na escada e o chamei pra esse banho breve de chuva.
ÉPICO.
Dancei e cantei na chuva com Timothée Chalamet e ele parece absurdamente feliz com isso.
Finalizamos com
“Come on with the rain I have a smile on my face
I walk down the lane With a happy refrain
Just Singin', singin' in the rain”
- Você ta afim de um Bagel, algo assim?
- Eu topo! Tompkins?
- Com certeza, e tem melhor? Eu respondo, de jeito nenhum.
- Isso é tão fofo, vamos!
E assim seguimos, com fome, rindo e molhados. Acho que ele aprecia momentos como esse, é possível ver em seus olhos extremo prazer e alivio, isso é lindo.
A fome era tanta que comemos 3 bagels com bacon, ovos e queijo. Estavamos molhados então pedimos pra viagem e comemos lá fora. Durante as mordidas finais voltamos a falar do meu passaporte.
- Onde foi a ultima vez que você viu ele mesmo e quando se deu conta que tinha sumido?
- A ultima vez foi no MoMA, antes de ontem. Mas ja voltei lá e eles não encontraram.. Me dei conta ontem de noite quando estava começando a deixar parte das malas prontas pra "voltar pro Brasil amanhã".
- Ja olhou nos bolsos das roupas que usou quando foi ao MoMa?
- Olhei 10 vezes aquela jaqueta e não achei.
- Porque acha que está na jaqueta? Eu sempre ando com os bolsos da calça cheios.
- Meu Deus isso é tão óbvio! Eu levei a roupa pra lavanderia do prédio, se estiver eu lhe devo a minha vida.
- Para com isso. Posso ir com você e filmar você encontrando seu passaporte? [Ele riu]
- Isso se eu encontrar, vai sei um mix de alivio, gratidão e raiva. [ri junto]
- Vamos.
Sim, meu passaporte e cartão de crédito sempre estiveram "comigo", estavam no bolso interno da calça como ele havia dito. Eu estava quase explodindo de alivio!
Estava pronta pra corromper a boa impressão causada durante o dia, mas eu estava tão emocionada e feliz que pulei no colo dele agarrando seu pescoço e beijando suas bochechas.
Ele ficou em silencio ao me encarar confuso enquanto segurava minhas coxas ao redor de sua cintura. Eu senti sua respiração no meu pescoço, não queria sair dali, mas precisava.
- Me desculpa, sério, eu só estou feliz. Muito obrigada.
- Não se preocupe, esta tudo bem. Fico feliz que tenha encontrado. Ainda quer aquele autografo?
- É claro! [ Ele assinou meu desenho e tirou outra foto dele, porem dessa vez, comigo segurando a arte.]
- Canta uma ultima musica antes que eu vá.
- Meu Deus que difícil, eu não sei.. hãn.. canta comigo?
- Se eu souber..
Então comecei a cantar Ain't No Mountain High Enough do Marvin Gaye, ele pareceu surpreso.
“Just call my name
I'll be there in a hurry
You don't have to worry'Cause, baby, there
Ain't no mountain high enough
Ain't no valley low enough
Ain't no river wide enough
To keep me from getting to you, baby”
Nós rimos e finalizamos. Eu estava quase chorando. Que vergonha, não sou criança.
- Então é isso, serei eternamente grato pelo dia de hoje. Obrigado e boa sorte garota, foi um prazer.
Ele se virou e abriu a porta, acenou com a mão. E eu recitei..
“Now, when twilight dims the sky above
Recalling thrills of our love
There's one thing I'm certain of
I will return to old Brazil”
Ele sorriu e voltou até mim, beijando minha testa.
- Até um dia, em qualquer lugar do mundo.
- Até, Timolito.
Ele saiu e eu chorei.
{Essa é uma fanfic. Tudo que escrevo é sobre meus sentimentos e desejos. TEXTO POR: L.M )
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One Shot Niall Horan
(Feat. Yasmim | @1dnossavida)
Especial NHoran ♡
Na quadra do colégio paro para admirar o folheto que fez meus olhos brilharem, a enorme, iluminada e colorida roda gigante estampada no mesmo parecia ganhar vida e eu só me imaginava me divertindo nela junto de Niall. Me levanto da arquibancada retirando toda poeira da calça de uniforme e saio correndo em direção a biblioteca onde eu sabia que encontraria Niall estudando desesperadamente para a prova de ciências. Entro no local totalmente silencioso e o encontro com os olhos fixados em um livro.
— Niall... — o chamo baixinho — Preciso te mostrar uma coisa.
— Não pode ser mais tarde, sorvetinho? Tenho muito o que estudar. — Niall me deu esse apelido quando nos conhecemos por eu ser fascinada em sorvetes, ele entrou na sorveteria do bairro e lá estava eu lambuzada de sorvete tentando decidir o próximo sabor que escolheria.
— Precisa ser agora, Niall, depois te ajudo a estudar! — me sento ao seu lado sorrindo, tentando o convencer, ele sabia que nada me tiraria de sua cola até que eu tivesse sua atenção.
— Tudo bem, o que tanto você quer me mostrar. — abandonando o livro no canto da mesa, sua atenção se focou em mim.
— Olha isso! — tiro o folheto da mochila o entregando. — Não é demais?! Precisamos ir!
— Você sabe que eu não curto muito esse lance de altura... — Niall me entregou de volta o folheto. Eu sabia que ele tinha medo de altura, mas eu também sabia como o convencer.
— Por favor Nini, você sabe o quanto eu amo parques de diversões, por mim Niall, pela nossa amizade, vamos no parque? — um drama nunca fez mal a ninguém.
— Tudo bem, posso pensar no seu caso, sorvetinho.
— Peça a tia Maura para nos levar. — sorri e beijo sua bochecha e um tom avermelhado tomou conta de sua face.
.
Nós chegamos no parque e a expressão no rosto de Niall me fez ter uma crise de riso, nunca me senti tão feliz ao lado de alguém como me sinto ao seu lado. Meu melhor amigo. Desde que me mudei para Mullingar, Niall é minha melhor companhia. Nos demos bem logo de cara quando ele pediu dois sorvetes e me deu um, assim ele acabou com minha indecisão por ter escolhido ele mesmo o sabor do meu.
— Viu, não foi tão ruim assim! — comento rindo de seu medo enquanto minha mão era esmagada pela sua desde que o ofereci conforto.
— Já estamos no chão? Já posso abrir meus olhos?
— Já estamos, Niall! Você perdeu todo passeio. — comento assim que descemos do brinquedo, ele na minha frente andando o mais rápido que pôde. Sua mãe estava nos esperando ao lado da bilheteria, longe o bastante para nos dar privacidade e perto o suficiente para manter os olhos em nós.
— Você sabe que só fiz isso por você. — um beijo foi depositado em minha bochecha. — Agora temos que ir para casa, já está tarde.
Voltamos para casa sorrindo e brincando, estar com Niall é uma das melhores partes dos meus dias, ele alegra a minha vida, ainda mais se tiver gargalhando escandalosamente.
Ao esquina da rua da minha casa pude perceber um caminhão na frente da garagem e meus pais dizendo algo às pessoas que saiam dele.
— O que está acontecendo? — pergunto assim que chegamos perto deles.
— Filha... O estado de saúde da sua avó piorou essa tarde e nós estamos voltando para a Inglaterra, precisamos ficar o mais perto possível dela nesse momento. — senti meu coração doer com as palavras de meu pai. Minha avó tem estado no hospital há alguns dias, tínhamos bastante esperança de que ela ficaria bem — Se despeça de Niall, sairemos pela manhã e você precisa arrumar as suas coisas.
— Não... Nós podemos ir e voltar quando a vovó estiver melhor. — talvez meus pais não pensaram nessa possibilidade no calor do momento.
— Eu pedi para me dispensarem do trabalho e não sabemos quanto tempo ficaremos fora, não tem sentido continuar pagando o aluguel dessa casa se não vamos estar nela. — explicou meu pai — Sentimos muito por ter que deixar seu amigo, mas foi o trabalho que nos trouxe aqui e eu não tenho mais ele...
— Isso não pode ser verdade, Niall! — passo meus braços em volta de sua cintura o apertando contra o meu corpo, enquanto o choro me consumia.
— Eu... Eu posso ir te visitar, sorvetinho. — era nítido a tristeza em sua voz.
— Eu não posso te deixar, eu não vou conseguir viver longe de você, Niall... Isso não pode estar acontecendo. — sussurro contra o seu peito — Primeiro minha avó adoece e agora eu tenho que te deixar...
— Nós vamos nos reencontrar novamente, sorvetinho, eu tenho certeza, eu vou te esperar, você promete me esperar? Até termos idade para ficar juntos, assim ninguém nunca vai nos separar. — Niall sussurra no meu ouvido me apertando em seu abraço — Aguente firme por mim? Eu estarei aguentando por você.
— Eu prometo, eu te amo tanto. — digo me acenando em sua direção enquanto dou alguns passos para trás.
— Eu te amo! Logo vamos nos ver novamente. — me viro deixando as lágrimas caírem sem controle pelo meu rosto, meu choro só ficou mais alto quando entrei no meu quarto e vi uma foto minha com Niall na mesma sorveteria que nos conhecemos. Será difícil ver os dias passarem sem Niall ao meu lado, mas eu prometi aguentar, pelo menos até eu fazer vinte e um anos.
Anos mais tarde
O vento fazia com que meu corpo tremesse por inteiro, aperto o casaco e caminho o mais rápido possível até o apartamento que dividia com minha amiga Kate. Eu poderia ter me prevenido de trazer um casaco mais grosso, mas não passou pela minha cabeça que o tempo ficaria mais frio.
Depois de um longo dia de trabalho tudo que preciso é de um banho quente, minha cama e um bom descanso.
— Kate, cheguei! — digo sem receber uma resposta em troca. — Kate? Você está em casa?
— (Seu nome), você chegou! — só quando eu entro de fato na sala que ela nota minha presença, mas não demorou voltar a me ignorar.
— Você já foi mais agradável comigo... — deixo minha bolsa perto da porta e começo a tirar meu casaco — Já me olhou por mais de meio segundo depois que cheguei e perguntou sobre o meu dia. — penduro meu casaco cabideiro e me virando para encará-la. — O que tem nesse notebook que você está tão interessada.
— Escuta essa música. — ela apertou um botão do teclado e logo uma melodia ecoava por meus ouvidos.
[...]
I want to tell you everything
The words I never got to say the first time around
And I remember everything
From when we were the children playing in this fairground
Wish I was there with you now
(E eu quero te dizer tudo
As palavras que eu nunca disse da primeira vez
E eu me lembro de tudo
Desde quando éramos crianças brincando nesse parque de diversões
Queria estar com você lá agora)
[...]
And I know that it’s wrong
That I can’t move on
But there’s something about you
(E eu sei que isso é um exagero
Que eu não consigo seguir em frente
Mas ninguém é como você)
[...]
Everything comes back to you
(Tudo me lembra você)
A voz que entrava por meus ouvidos fez meu coração bater mais forte, a letra soava como algo que eu já havia vivido, as lembranças de doze anos atrás voltavam a se passar em minha mente trazendo a de volta tudo aquilo que vinha mascarando desde a nossa despedida, a promessa que havíamos feito quanto tínhamos apenas onze anos parecia mais viva do que sempre foi. Niall. O único nome que ecoava em meus pensamentos.
— Kate... Quem canta essa música? — saio do transe que estava e foco minha atenção em Kate, a voz era um misto de algo novo e algo familiar.
— Ele é novo na música, (seu apelido), pesquisei sobre e ele está estourando em alguns países. — me sento ao lado dela a tempo de vê-la abrir outra aba no navegador de pesquisa — Aqui está a biografia dele. Niall Horan, ele é Mullingar, Irlanda. — ao ouvir seu nome meu coração pareceu errar uma batida e algo em mim se aqueceu no mesmo momento, ali estava tudo sobre Niall e a foto mesmo que pequena não me deixava ter dúvidas. Seu cabelo está tingido, mas eu reconheceria aquele rosto em qualquer lugar não importa quantos anos tenham passado.
— Niall... Eu não acredito...
— Podemos ter dois ingressos para o show dele nesse final de semana, você quer ir comigo? — ela abriu outra aba onde eu pude ver um site de venda.
.
Os dias se passaram como um borrão, ansiedade tomando conta de mim não me deixando descansar pensando no que fazer para nada dar errado, esses dias me fizeram ter uma certeza, nada me impediria de ficar diante de Niall.
O show acabou e no meio de tanta gente Niall não pode me ver, minha voz chamando por ele era apenas mais uma na multidão, minha tática deveria mudar ou não nunca iria atingir os meus objetivos.
— Vem, Kate! — agarro a mão da minha melhor amiga a apressando para que deixemos a multidão para trás, eu iria até um dos seguranças e exigiria um momento com Niall.
— Aonde você vai? — Kate me perguntou enquanto eu marchava até a área privada atrás do palco, tivemos que passar pelas grades antes disso.
— Niall está ali atrás. — quando eu estava prestes a passar pela porta um homem alto, forte e bem trajado se colocou à minha frente de braços cruzados.
— A saída é pelo outro lado! — disse com a voz extremamente grossa sem nenhuma simpatia.
— Preciso falar com Niall, ele é o meu amigo de infância. Diga que a sorvetinho está aqui para vê-lo. — minhas mãos estão molhadas pelo suor da ansiedade, meu coração batendo em esperança.
— Facilite o meu trabalho e pare de brincar. Sabe quantas amigas de infância o Niall tem? Não caberia em um livro de trezentas páginas, todas as garotas inventam a mesma desculpa achando que nós brincamos de segurança. — ele bufou — Seja um pouco racional e se retire antes que eu precise fazer isso por você.
Grosso. A única palavra que define o armário que é o homem à minha frente.
— Você não entende, moramos próximos em mullingar, eu precisei me mudar e nos distanciamos. Eu preciso muito falar com ele, por favor.
— Acredite cara, eu também não acreditei. Ainda acho que ela bateu a cabeça no caminho do trabalho para casa. — encaro a Kate e ela deu de ombros.
— Se retirem, nem uma "amiga" é permitida. — ele fez aspas com os dedos.
— Deixa isso para lá, (seu apelido), você nunca conseguiria passar por ele. — Kate começa me puxar para longe da porta que me levaria até Niall. Meus olhos foram enchendo de lágrimas à medida que eu me afastava, não tinha o que dizer, estava tão longe e tão perto dele — Deixa para lá o caramba! — minha amiga parou já do lado de fora do local do show e segurou meus braços — Precisamos de uma abordagem pesada, como pôde ser tão ingênua em achar que simplesmente chamariam o Niall para você?
— Esperança? — limpo as lágrimas que desceram pelo meu rosto.
— Você tem que ter determinação, garota! — ela me sacudiu de leve — O estacionamento está fechado, nos disseram isso quando chegamos. É claro que o carro que trouxe Niall e o caminhão com os instrumentos estão lá e é onde a gente vai estar esperando por ele também.
Eu sorri com a ideia brilhante e me deixei ser levada por ela em direção ao estacionamento, não contávamos que os muros seriam tão altos quando encostamos perto deles, rodeamos o quarteirão e nada poderia nos ajudar a escalar.
— Tem seguranças na porta, aqui é a sua entrada. — olho para cima e nego com a cabeça imediatamente.
— Como?!
— Eu vou me abaixar e você vai subir em mim, tentarei me levantar o máximo que eu puder para que você consiga chegar ao topo.
— E para descer depois?
— Não pense no depois, somente no agora! — ela me advertiu.
— Eu vou cair de cabeça e morrer, você está louca!
— Você vai ver seu amor hoje e não vamos para casa sem que isso aconteça. Vamos fazer por partes, primeiro você sobe e estuda o território pelo lado de dentro, talvez tenha uma moita que você possa cair em cima ou até mesmo uma lata de lixo que pode ser usada como degrau. — Kate falou com tanta certeza e segurança que me deixou segura para tentar.
— Tudo bem, se abaixe. — ela se encostou no muro e apoiou as mãos nos joelhos abaixando metade de seu corpo — Me desculpe desde já se eu te machucar.
— Agora (seu nome)!
Subir sobre as costas de Kate foi um pouco complicado, eu escorregava e temia machucá-la, depois de tirar meus sapatos ficou um pouco mais fácil. Fiquei de pé em suas costas morrendo de medo de prejudicar sua coluna, ela gemeu baixo e segurei a borda do muro o mais rápido possível puxando meu corpo para cima.
— Consegui! — grito meio sussurrando para que se alguém estiver do outro lado eu não corra o risco de ser flagrada. Me sento voltada para o lado de fora ainda, Kate parecia bem.
— Isso aí! — ela sorriu me mostrando os polegares — Vire-se para dentro e estude um lugar bom para descer.
Fiz o que ela disse, estava completamente vazio os lugares perto do muro, nada que eu pudesse usar ao meu favor.
— Nada aqui! — olho para Kate por cima do meu ombro.
— Desça já daí ou chamaremos a polícia! — um homem saiu de uma porta no canto que eu sequer tinha notado e estava vindo em minha direção.
— Kate!
O homem se aproximou até estar bem debaixo de mim e na pressa de virar meu corpo para o lado de fora acabo me desequilibrando, meu coração bateu em meus ouvidos quando minha pernas levantaram e meu corpo entrou em queda livre, tudo que eu pude fazer foi fechar os olhos com força.
Os segundos se pareceram minutos, quando eu abri meus olhos a face irritada do segurança estava bem na minha frente me fazendo perceber que ele conseguiu me segurar.
— Você está encrencada! — foi tudo que ele me disse antes de começar a me levar.
— Não! Por favor! — Me debati em seu colo — Eu só quero ver meu amigo! Não seja tão ruim! — ele não estava me soltando por mais que eu tentasse.
— O que está acontecendo? — a voz de uma terceira pessoa me fez parar de falar e me mexer.
— Vimos essa garota em cima do muro pelas câmeras de segurança, desculpe esse incidente, prometemos que ainda está seguro, Niall.
— Niall! — minha cabeça virou em sua direção em tempo recorde — Sou eu! (Seu nome)!
— (Seu nome)? — Niall deu passos largos até estar diante de mim me olhando como se nunca tivesse me visto antes — Coloque-a no chão! — ele abanou com a mão e eu fui delicadamente colocada de pé, mal conseguindo me manter sobre minha pernas.
— Eu senti tanto a sua falta! — lágrimas já estavam correndo pelo meu rosto quando jogo meus braços em volta do seu pescoço mantendo nossos corpo presos, eu nunca o deixaria se livrar do abraço.
— Você cresceu, sorvetinho... — me afasto alguns centímetros para olhar seu rosto, um sorriso grande e bonito enfeita sua face. Sem pensar, colo nossos lábios em um selinho demorado e Niall não me afasta mantém nossas bocas coladas.
— Desculpe. — digo assim que me dou conta que ele pode ter alguém, eu não achei nada sobre isso na internet, mas nem tudo está lá.
Fecho meus olhos quando a mão dele encontra a lateral do meu rosto me puxando para colar nossos lábios novamente, agora um beijo de verdade, onde posso sentir seu gosto de menta e a sensação de ter meu corpo flutuando em nuvens.
— Eu te amo! — ele diz separando nossas bocas e unindo nossas testas — Eu digo isso um pouco diferente de quando eu dizia anos atrás, éramos muito novos para saber, esses anos longe só me mostraram que o meu amor por você vai muito além de um amor de amigos.
Sorrindo maior do que eu sabia que podia, selo nossas bocas novamente fazendo uma promessa silenciosa de nunca mais deixar nada levar Niall para longe de mim. Eu também não pretendo deixá-lo.
☆◆☆◆☆
— Vamos, Ni! — corro enquanto puxo a mão de Niall para chegarmos logo ao nosso destino. Em meio à tantas pessoas a roda gigante ao fundo se destaca pela sua grandeza.
— Eu ainda não curto passeios naquela coisa... — resmungou um passo atrás de mim.
— Mas você sempre vai para me agradar, isso não é o máximo?! — o encaro por cima do ombro, um sorriso em meu rosto.
— O que você me pede sorrindo que eu não faço chorando? — ele sorriu de lado e eu volto a olhar para frente ainda sorrindo — Aqui estamos!
Quando estava prestes a entregar os bilhetes, Niall parou me fazendo ficar confusa, me viro para olhá-lo e ele está olhando para mim.
— Preciso te dizer algo e prefiro que eu não esteja com as pernas trêmulas e sem ar quando fizer isso. — Niall respirou fundo me deixando curiosa, eu apenas assenti — Quando somos crianças não levamos sentimentos a sério, você sabe, nós subestimamos eles porque não sabemos o que significam muito bem. — meus olhos estão arregalados e meu coração acelerado, eu apenas assinto incapaz de falar qualquer coisa — Você sempre foi a melhor pessoa que entrou na minha vida, eu queria te manter próxima e tinha total consciência disso desde o começo. Quando os anos passam você cresce e começa se dar conta do que realmente tudo dentro de você significa, quando você está sozinho no seu quarto longe de qualquer agitação e seu pensamento voa sempre para a mesma pessoa, você se pergunta o que ela está fazendo e se está pensando em você independente de onde esteja. Eu amo você e não quero ter que pensar no que você está fazendo longe de mim durante anos, quero me deitar com você em meus braços enquanto te faço um carinho toda noite antes de dormir. Nós sabemos que um amor adolescente que nós nem nos dávamos conta pode sobreviver à anos separados, tenho toda a certeza que ele pode sobreviver e crescer nos anos que passarmos juntos. — as mão frias de Niall embalaram minha mão entre elas enquanto a imensidão azul de seus olhos se mantinham fixos aos meus — Aceite namorar comigo? Vai ser por pouco tempo porque não hesitarei em colocar uma aliança de noivado em seu dedo. Eu nunca vou te deixar ir novamente, ninguém vai levar você de mim a menos que você queria ir.
— Não! Nunca! — as palavras saíram automáticas de minha boca — Eu também não o deixarei ir, já passamos muito tempo separados. — um sorriso nasce em meu rosto e lágrimas de felicidade deixam minha visão embaçada — Eu aceito qualquer coisa com você, Ni.
— Eu te amo, sorvetinho!
— Eu te amo!
Meu sorriso poderia rasgar meu rosto a qualquer momento, nada mais importa a não ser Niall e tudo que podemos viver juntos agora que ninguém pode nos separar. Enlaço meus braços em volta de seu pescoço o puxando para mim e inicio um beijo lento, temos todo o tempo do mundo para explorar um ao outro sem medo.
Depois dos braços de Niall, parques de diversão é o meu lugar favorito no mundo, ter Niall se declarando para mim e dando início a nossa história de amor em um, dá um significado ainda maior para a coisa.
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Aqui estou eu depois de duzentos anos sem postar. Peço um zilhão de desculpas a todas, escrever nunca foi tão difícil para mim como está sendo, as ideias surgem automáticas em minha mente, mas a execução da ideias não saem.
Quero agradecer imensamente à Yasmim do @1dnossavida por ter parado tudo que estava fazendo para me ajudar com esse imagine, se ela não tivesse começado eu não teria conseguido. Muito obrigada, Yas, você sabe que pode contar comigo sempre. ♡
Até qualquer hora. ♡
All The Love.
- Tay
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BLACK IS BEAUTIFUL
Hoje cedo na rua do Ouvidor, quantos brancos horríveis eu vi.
Eu quero, preciso de Amor, dos negros do Congo ou daqui.
Quando lhe pediram para cantar a mesma música que era seu carro chefe, abaixou a cabeça, seus cabelos brancos imensos, caíram cobrindo totalmente sua cara. Começou a dedilhar no piano sua música, sem querer tinha transformado em sua, uma música que muita gente antes tinha cantado.
Era o ano de 1980, Rio de Janeiro, a princípio considerou como seu ano maldito, era um domingo, voltava da praia com seu namorado, fazia um bom tipo, magro, alto 1,90 metro, cabelos imensos, queimados do sol, tinham estado falando, falando, se sentia esgotado de tanto falar. A relação tinha ido para o caralho. Depois de tudo que tinha feito, pensava, tinha largado tudo por esse amor, renunciado a uma carreira no teatro, começavam a lhe chamar para outros trabalhos, mas claro, pensou que amava.
Este avisava, que ia de férias, quando voltasse, não queria mais nada dele em seu apartamento, sentia muito, mas o que pensava que era amor, tinha se acabado, queria novas experiencias.
Ficou puto da vida, nem casa, teria dentro de um mês. Chegou, tomou um banho, tinha comprado dois ingressos para assistir o último dia do show de um cantor que amava, seu amigo de longa data, tinham começado na mesma época sua trajetória pelo Rio de Janeiro. Nenhum dos dois era dali.
Ele tinha desistido de cantar, pois, tinha a voz de baixo, adorava os musicais, passava nos testes de dança, pois era bom nisso, mas quando abria a boca, diziam que não tinham nenhum papel para este tipo de voz. Uma grande atriz ainda lhe disse, com todo seu tamanho, irias tapar o ator principal. Foi ele que disse que não, mas não desista, eres bom.
O jeito foi montar ele mesmo um espetáculo completamente maluco, primeiro tinha que passar na censura. Com muito jeito, conseguiu enganar para os dias da estreia o censor, compartia palco com um amigo. Ele tinha escrito o roteiro. A cena mais importante, era o amigo contando a historia de como se tinha descoberto gay, vestindo a roupa da mãe, escondido. Enquanto isso ele fazia a mesma cena de costa. No final do monologo, ele se virava lentamente, transformado no outro, soltava toda sua voz, num grito profundo, começava a cantar uma música composta pelos dois, o público não esperava isso, uma pessoa travestida, cantando com aquela voz de baixo, fazendo falsetes em jazz.
Fizeram uma temporada inteira, com a crítica falando dos dois. Alguns falavam mais dele, o que ocasionou um choque entre os dois, de amigos, passaram a ser dois inimigos em cena. Mas as pessoas diziam que o espetáculo tinha ficado melhor. Nunca mais se falaram quando acabou a temporada.
Logo o chamaram para mais trabalhos, mas nunca nada interessante, como tinha um trabalho fixo, foi levando. A paixão bateu em sua porta, num dia de chuva, quando saia da academia de dança. Tinha feito uma aula de Jazz. A professora teve que sair, como sempre lhe disse que seguisse com a aula. Ele era bom. Na época quando estudava, os momentos livres era para isso, aprender todos os tipos de dança, aulas de canto.
Seu corpo era de fazer inveja, segundo diziam no banheiro depois da aula quando tomava banho, de costa para os outros, lhe dava vergonha ficar nu na frente dos outros. Nunca conseguiu se livrar disso.
Chovia a mares nunca dantes navegados, como ele gostava de dizer, das chuvas de verão no Rio de Janeiro. Nada que se esperasse um pouco, logo acabaria. Saia um aluno, que já tinha falado com ele antes, tinha visto seu trabalho, as vezes ele substituía a professora que estava cheia de problemas no momento, era uma maneira de ganhar algo de dinheiro.
Lhe ofereceu uma carona.
Vais para aonde?
A resposta lhe deu uma surpresa, para aonde queiras, desde que acabe na cama contigo.
Acabaram realmente na cama, embora nessa época tivesse, entre aspas, relacionamento com um homem casado, se encontravam quando podiam. Mas isso para ele era ótimo, levava sua vida.
Se deram bem em tudo, despertou nele um sentimento, que tinha pensado não ser capaz, por esse sentimento, começou a trabalhar período integral para poder conviver no apartamento do outro. Foi uma má decisão, agora o colocava para fora.
Quando ia se vestir para sair, o outro fumava um baseado, entraram seus amigos, sem sequer lhe dizer boa tarde, cada um foi deixando um baseado numa taça de barro que tinha em cima da cômoda, não teve conversa, passou a mão em meia dúzia.
Vestiu uma camiseta justa branca, uma calça boca de sino, desenho dele mesmo, enrolou na cintura um tela indiana, misturada com lantejoulas, por cima uma camisa imensa branca, uns sapatos brancos que ele também tinha desenhado, com mais cinco centímetros de sola de cortiça, assim ficava mais alto ainda.
Foi duro conseguir um taxi, quando chegou no teatro, já tinha fumado 3 baseados, fumou mais dois de raiva antes de entrar. O show já estava começando, seu amigo já estava em cena, ele estava tão tonto que não sabia aonde se sentar, o amigo do palco lhe disse para sentar na primeira fila pois tinha um lugar vazio.
Adorava a voz do amigo, era um tom mais baixo que a dele. Conhecia todo seu repertorio, mas quando ele disse, vou cantar uma música que sei que meu amigo adora, começou a cantar Black is Beautiful. Sem se dar conta, estava eletrizado começou a cantar junto. O amigo parou, de cantar, gente, esse sujeito tem uma puta voz, mas nunca lhe deixam cantar direito, faz milhões de casting, mas como é alto, quase não chama a atenção, a plateia riu a bessa. Suba, cante tu dessa tua maneira a música. A princípio ficou com vergonha, mas tinha aprendido a falar com os músicos seu tom, lhes disse que da segunda parte para o final, subiria dois tons.
Tirou a camisa, deixando que todo seu bronzeado, no seu corpo extremamente branco aparecesse. Abaixou a cabeça, deixando que seus cabelos caíssem sobre sua cara, começou a cantar.
Hoje cedo na rua do Ouvidor, quantos brancos horríveis eu vi, eu quero e preciso de amor, dos negros do congo ou daqui. Abriu seu vozeirão, que até ele mesmo se surpreendeu, depois entendeu que estava incorporado por um Exu. Foi subindo cada vez mais, quando foi chegando ao final, fez um sinal aos músicos, esse pararam de tocar, cantou o resto a capela, o público aplaudiu em pé.
Seu amigo, rindo falou, nasceu uma estrela, lastima que no céu dessa santa pátria, nenhum cantor com esse tipo de voz, faz milagres. Lhe disse, depois vá até o camarim.
Desceu do palco, esperando que o amigo cantasse uma outra música que finalizava o show.
A doidera ainda rodava sua cabeça, riu para si mesmo, só mesmo eu, para transformar um momento de merda, numa coisa assim. Sempre tinha sido assim, quando uma porta se fechava ele pulava uma janela, ou se atirava do balcão, buscando outra chance.
Esperou que os fans falassem com o amigo, encostado numa parede fumando um cigarro, ao seu lado se encostou um negro da sua altura, lhe disse que tinha amado sua parte no show, mas falava em inglês. Se se preocupar muito começou a conversar com ele em Inglês, sua segunda língua. Estava ali conversando, seu amigo saiu já pronto do camarim, dizendo, uau, nem preciso apresentar os dois.
Jacobo Magstein, um produtor de New York, veio assistir pela segunda vez meu show, ficou deslumbrado contigo.
Tu parecias incorporado, meu amigo, que espetáculo, te digo sempre és uma bomba pronta para explodir.
Sem saber como, no outro dia despertou na cama do Jacobo. Não se lembrava de absolutamente nada. Este disse, não se preocupe, não fizemos nada do que possas te arrepender.
Riu, me arrependo de muitas coisas, não podia tirar os olhos do corpo dele, enrolado numa toalha, vem vá tomar um banho, porque dançaste ontem como um louco. Ninguém podia contigo.
Ia pegar sua roupa, mas sentiu o cheiro que vinha dela, cigarro, bebida, tudo que se pode sentir depois de uma discoteca.
Acho melhor deixar para tomar um banho em casa.
Nada disso, pedi café para os dois, tirou do armário umas bermudas, uma camiseta, ficaram bem nele. Tomou um banho demorado, ainda em cinco minutos se lembrou porque tinha saído de casa na noite anterior.
Se sentaram tomaram café, contou ao Jacobo, quando ele lhe perguntou por que seu amigo tinha feito um comentário a respeito de sua voz. Falou de todos os casting que tinha feito, depois te mostro um vídeo de um espetáculo que acabei montando para poder ser alguém nesse pais. Mas o incrível, era que não podia deixar de olhar aquele homem, porque se interessava por ele.
Jacobo foi honesto quando lhe perguntou por quê? Fiquei alucinado quando te vi subir no palco, como se estivesse na sala de tua casa, soltar a voz daquela maneira, cheguei a ficar excitado, queria subir fazer sexo contigo ali mesmo.
Agora quem estava de boca aberta era ele. Replicou dizendo, pelo que vi, o teatro estava cheio de gente bonita.
Nada como tu, tens energia, magia, essa tua voz. Te imagino cantando jazz.
Quando colocou a sua mão sobre a dele para lhe agradecer, sentiu uma vibração diferente.
Acabaram finalmente na cama, fazendo o que não tinham feito. Na hora do orgasmo, soltou um urro. Estava colocando para fora tudo que sentia, mas agora tinha um prazer que tinha confundido, pela pessoa que o tinha deixado.
Jacobo tremia, caralho, nunca pensei que ia acontecer isso no Brasil.
Ele riu, Jacobo, não sou brasileiro, nasci em Paris a séculos atrás, meu pai é francês, minha mãe alemã, vieram para cá esperando ficarem ricos, vivem no sul, numa casa de madeira, que cai aos pedaços, numa terra imensa. Eu escapei.
Passaram todo o domingo juntos, no quarto tinha um piano, cantou várias músicas que gostava, inclusive uma da Billie Holiday que amava. Claro tinha transposto a mesma para sua voz.
Não queres vir comigo para New York?
Como ir contigo, não tenho dinheiro para isso, mas para fazer o que?
Posso te lançar no teatro por lá, sou produtor. Estou de férias para esquecer um amor mal resolvido.
Então estas como eu, amor mal resolvido.
Mas nunca senti o que senti hoje de manhã contigo na cama.
Tens certeza de que queres me levar?
Sim, tenho, corro o risco.
Na segunda feira pediu demissão de seu emprego, tirou passaporte, na terça, foi com ele ao consulado americano, conseguiu um visto de trabalho, uma coisa difícil de conseguir.
Seu amigo vibrava, sabia que ia acontecer isso, quando ele te viu, seus olhos se escancararam, depois na discoteca, quando encontraste teus amigos da escola de dança, improvisaste uma coreografia com eles, ele não fechava a boca. Me disse que tudo teu era espontâneo.
Bom de qualquer maneira tinha que me pirar daqui, pois me colocaram para fora do apartamento.
Eu sei me contaste ontem. O melhor não sabes, enquanto estavas dançando, vieste até o Jacobo, lhe deste um puta beijo na boca, nesse momento entravam teu ex com seus amigos ricos. Parou ficou de olhos abertos, virou as costas foi embora. Fica na minha casa, até ires embora.
Não, fico no hotel com ele, adoramos fazer sexo, ficar abraçados. Agora entendo o que sentia pelo outro, um simples reflexo de mim mesmo, querendo ser amado.
Já tinha retirado toda sua roupa da casa do Ex como dizia seu amigo. Inclusive sua máquina de costura.
Jacobo perguntou para que queria uma máquina?
Eu aprendi a costurar, com minha mãe, a roupa que usava ontem, quase todas minhas roupas, faço eu, é muito difícil encontrar roupa para o meu tamanho.
Jacobo já tinha comprado o bilhete de avião para ele, trocou o pouco dinheiro que tinha por dólares, ainda pensou, deve dar para comprar um palito, para tirar o resto de um hot Dog dos dentes.
Iam em classe turística, mas estava feliz, Jacobo dormiu no avião ele ficou olhando para o rosto do outro. Era um homem extremamente bonito.
O apartamento era bom, nem grande nem pequeno, mas podia se acomodar com ele. Abriu um armário, estava cheio de trajes de homem sério.
Jacobo ficou puto da vida, passou a mão no telefone, disse para alguém que se não viesse recolher sua roupa, jogava tudo pela janela. Meia hora depois bateu na porta um rapaz, um mulato, mais baixo do que ele, sem dizer uma palavra, me olhou de cima a baixo, bom proveito, recolheu suas coisas foi embora.
Esse filho da puta tem muita cara, o peguei na minha cama com outro, ainda se faz de vítima, diz que nunca o soube satisfazer na cama. Soube depois que me colocou o chifre com muita gente.
Ele foi honesto, pois eu me sinto fantástico contigo na cama, basta ver esses dias todos.
Eu sei, também me sinto assim, mais agora que me sinto livre. Amanhã vou te levar a um lugar, para cantares, mas te digo é só o começo, pois tem muito que brilhar.
Não lhe disse aonde era, só disse coloque uma das tuas roupas de fechar o comercio. Ele colocou uma camiseta de lantejoulas negra, uma calça negra, que era uma cópia dos marinheiros americanos, boca de sino, uma sandália alta, com a sandália ficava mais alto que o Jacobo.
Este ria, já não chamarei mais atenção, mas todo mundo vai saber que sou teu amante.
Tomaram um taxi, pararam num lugar com porta dupla, só dizia Club. Quando entraram viu que todo mundo falava com Jacobo, a grande maioria eram negros. Se sentiu como uma galinha branca num terreiro de galinhas negras, vão me matar.
Ao contrário, todos o olhavam com curiosidade. No momento cantava um grupo de garotas jovens todas negras. Lhes faltava algo.
Jacobo disse, em seguida vão de apresentar.
De fato, o apresentador, fez colocarem um piano em cena, soltou que nome difícil, Louis Daguerre. Ele se levantou, Jacobo disse, canta Black. Ele entendeu.
Se sentou no piano, inclinou a cabeça, começou a cantar, quando estavam as meninas cantando, se escutava a voz de pessoas falando. Tudo era silencio, primeiro cantava em português, quando chegou na parte alta, passou a cantar em inglês. Terminou com a cabeça jogada para traz, com seus cabelos fazendo uma cascata. Todo mundo aplaudia muito. Lhe entregaram um papel, era do Jacobo, canta Billie.
Porra na terra dela, cantar até era uma ofensa. Pegou no microfone, falou, me pediram para cantar uma música, de uma cantora que admiro muito. Mas claro não tenho a voz dela, fiz uma versão para minha voz, The Man I Love. Mudava o ritmo um pouco, baixou o tom de voz, como se estivesse rouco. Se imaginou se arrastando bêbado pelas ruas, atrás do homem perfeito.
Quando terminou, os aplausos era imensos, com todo mundo em pé.
O apresentador, disse one big star Louis Daguerre. Mas pediam para continuar, outra em português, não se fez de rogado, cantou a música do seu espetáculo, mas o fez a capela, em pé no meio do foco, em cima dele. Sabia que Jacobo tinha amado o vídeo. Depois cantou a mesma em Inglês. Soltou-se como fazia no espetáculo, dançando, cantando, desceu a plateia, mexeu com alguns homens que estava ali, como fazia.
Quando chegou perto do Jacobo, viu que estava enciumado, como o foco estava neles, disse my man.
Nunca mais faça isso, morri de ciúmes, todo mundo te devorava.
Mas quem me leva para cama es tu.
Se amaram essa noite como loucos, ele porque estava se sentindo fantástico, o outro porque tinha ciúmes, viu que todos o tinha devorado.
Passou se apresentar no Club, todos os finais de semana, aumentaram inclusive o que lhe pagavam, pois vinham de outros clubes para vê-lo cantar. Ele gostava disso, do contato direto com o público, nunca mais cantou a música que deixava o Jacobo com ciúmes.
Agora tinha dinheiro para alugar uma sala na Broadway para fazer aulas de dança ele só.
Estava ali um dia, quando apareceu na porta um homem que ficou olhando ele dançar com uma música tremendamente sensual.
Se apresentou com André Croix, disse que era produtor da Broadway, que estava selecionando gente para fazer um casting. Ele disse que lhe daria o cartão ao seu agente para marcar alguma coisa. Disse aonde cantava nos finais de semana.
Falou com Jacobo, este não gostou, agora percebia que era um pouco controlador, lhe disse isso, não gostava que o controlassem. Já perdi demais na minha vida por quererem controlar minha vida. Lhe disse que eras meu agente. Tu que sabes, ou posso chamar, ir sozinho.
A contra gosto Jacobo chamou, o André disse que iria nessa noite assistir o show que fazia no Club, agora cantava mais músicas, uma parte em português outra em inglês. Se atrevia inclusive com uma da Carmen Miranda.
Depois André Croix disse que gostava da sua versatilidade, em colocar a voz.
Foram anos trabalhando duro, não ia contar dos casting no Brasil, quando sempre o colocavam para fora.
Deixou que os dois negociassem, era para um segundo papel numa obra. Já sabia que ele cantava, dançava, agora teria apenas de fazer um teste para falar o texto.
Quando leu o mesmo, esperando a vez de se apresentar. Leu, que o personagem era de Puerto Rico, tinha conversado com vários deles no camarim, sabia como falavam, carregando em algumas frases. Assim fez o texto, tinha decorado o mesmo, ficou com o papel. Mas poderia manter o espetáculo que fazia no Club. Inclusive André Croix, conseguiu um cartão de residente permanente, a princípio teria que voltar ao Brasil, mas Jacobo conseguiu que ele fizesse show um final de semana em Toronto.
Quando voltou, já estava como residente. Percebia que Jacobo cada vez o vigiava mais, pois pensava que estava interessado no André. Nem tinha lhe passado pela cabeça isso, era um tipo que não lhe interessava o mais mínimo.
Quando começaram os ensaios, ele gravava de primeira as modificações que o diretor fazia, o texto era uma coisa inovadora na época, um musical, com fundo gay. Se saia bem na coreografias, bem como cantando, ou falando com sotaque de Puerto Rico. Muitos pensavam realmente que ele era de lá. Lhe chamavam de branquinho de Puerto Rico, falavam com ele em castelhano das ilhas. Ele respondia igual.
Convidou os companheiros para assistirem o show, depois do espetáculo.
Depois de meses em cartaz, já estava chegando a conclusão que gostava mais do show do Club, mas claro queria o dinheiro para sua independência. Notava que as coisas com o Jacobo iam cada vez pior. Tentou por duas vezes conversar com ele a respeito. Aceitava que tinha ciúmes, que como não ia ter ciúmes com um pedaço de homem como ele.
Lhe explicou mil vezes que não se via assim, como ele dizia. Se saio do teatro contigo, vou ao show contigo, como vou ter amantes.
Jacobo foi fazer um contato fora, voltou dias depois, sem querer soltou depois de terem se amado com saudades, do corpo um do outro, que o tinha mandado seguir, para saber aonde andava. Foi a gota d’água. Ficou furioso, te agradeço ter chegado aonde cheguei, mas isso está passando dos limites. Não estou gostando nada do rumo que está tomando tudo isso, se descubro mais uma coisa desta, vou embora.
Mas não precisou muito, o espetáculo ia começar uma tournée, ele ia cair fora, pois não queria sair de New York, apesar de odiar o inverno, estava aguentando bem. O diretor do espetáculo, o chamou, lhe ofereceram para fazer o papel principal, durante os dois últimos meses que ficaria na cidade. Aceitou, as pessoas se surpreenderam, de repente deixou de ter o sotaque de Puerto Rico, para ter o sotaque de um sulista. Como estava mais branco do que nunca, pois aonde ir para se queimar ao sol. A crítica elogiou seu trabalho dizendo que esse papel lhe caia como uma luva. Que realmente ele bordava fazer o personagem. Numa entrevista, lhe perguntaram como o fazia.
Observo as pessoas falando, apesar de já saber falar inglês, procuro estar sempre falando melhor, falou do seu show no Club, o convidou para ir, ver outra faceta dele. Sabia que ele adorava Dinah Washington, ensaiou para cantar Cry me a River, como estava tão branco, passou a só usar roupas negras, nesse dia pediu ao pianista da orquestra que ensaiasse com ele. Tinha feito uma roupa que era um escândalo, mais parecia uma saia. Quando viu que o entrevistador entrava na sala, avisou o pianista que era a primeira música. Já tinha ensaiado com a iluminação. Era o piano, ele, nada mais. Acendeu a luz, estava de costa, quando se virou, a cara do outro era ótima, quando soltou a voz, cantando quase num sussurro, sentiu que estava provocando o mesmo, era o mais famosos dos entrevistadores da televisão.
Não se atreveu a olhar o Jacobo, pois sabia que estaria furioso, não gostava que mudasse o show. Os aplausos foram imensos. Agradeceu ao pianista, longe de querer competir com a deusa de alguns, aprendi a gostar dela também, mais uma para ver se aprendi direito a lição da diva. Cantou Ain’t Misbehavin, mas ele tocando o piano, desta vez mudou a voz rouca, de quem canta na orelha do amado.
O público veio abaixo. Quando desceu do palco todos vinham falar com ele, André disse, se segues dessa maneira, perderei para alguma grande casa de show. Nunca disse ao André que não tinha nenhum contrato assinado com o Jacobo.
Quando o entrevistador veio falar com ele, tens que voltar ao programa, para fazer isso, amei, lhe deu o cartão, se podes podíamos gravar na sexta-feira aqui, para apresentar no programa de domingo, no horário nobre. Lhe deu dois beijos no rosto de despedida.
O escândalo do Jacobo, foi imenso. Queria pegar o cartão para rasgar. Estas falando da minha carreira que está se levantando, nem pensar. Sei que tudo devo a ti, mas não se esqueça que ganhas dinheiro a minhas custas, além de que não tenho na realidade nenhum contrato contigo.
Por um acaso pensaste em convidar o mesmo para o show? Não, quem fez o contato com o André Croix, fui eu não tu, a única coisa que fizeste, amo de paixão esse trabalho é no Club, ouvi dizer que querias que cancelassem o meu show, tiveste a coragem de dizer ao dono, que não quer os homens olhando para mim.
Acho uma besteira, porque eu não olho para eles, mas eu te avisei que aquele último escândalo teu era o último. Eu nunca esqueço nada. Amanhã vou embora, nos seguiremos vendo, mas vou viver sozinho.
Não posso ter você o dia inteiro atrás de mim. Estas deixando atrás teus outros representados, acorda de uma vez.
No dia seguinte, procurou encontrou um studio, não precisava de mais nesse momento. Seguiu fazendo o espetáculo de teatro, bem como o Show do Club, tinha se esquecido de chamar o apresentador, foi esse que o procurou outra vez no Club. Lhe pediu que falasse com o proprietário do local, ele não queria problemas. O outro concordou imediatamente.
Estava sempre com o Jacobo, as vezes dormia em sua casa, outras ele na dele. Mas não tinha a chave. Não gostou quando soube que seria gravado com convidados do apresentador. Muita gente do mundo da música, do teatro. Ficou anunciando diariamente nos programas anteriores. Um especial que faria com um artista brasileiro que era como o filho mais novo da cidade, que tinha vencido por ele mesmo.
No princípio da entrevista ele disse, não venci sozinho, fui descoberto no Brasil, por Jacobo, depois aqui ainda tive outro padrinho o André Croix. Foi encaixando música com entrevista. Ele perguntou como tinha conhecido o Jacobo no Brasil. Fui ao show de um grande amigo, disse seu nome, um grande cantor, começamos juntos. Estava chateado por um problema amoroso, me tinham colocado no olho da rua. Vi vários baseados, não tive conversa, roubei, fumei todos. Quando cheguei ao show, um pouco atrasado meu amigo me fez sentar na primeira fila, ele começou a cantar uma música que adoro. Já fez parte do show, se quiseres posso fazer para ti. No camarim, tinha várias roupas dele. Se vestiu como nesse dia, pediu a pequena banda do Club tocar, Subiu ao palco, todo de branco, quando retirou a camisa disse, a diferença era que estava moreno de praia. Se soltou no palco, parecia que estava incorporado.
Houve um intervalo, viu que Jacobo estava no camarim. Trocou outra vez de roupa, agora todo de negro.
Ele disse com uma cara triste, estas conquistando o mundo com isso tudo, eu ficarei para trás. Nada disso, sabes que te quero. Realmente o queria muito, afinal tudo devia a ele.
O show para a televisão durou mais uma hora, quando saiu, não viu ninguém lhe esperando, perguntou ao porteiro pelo Jacobo. Foi embora daqui acompanhado por um rapaz.
Filho da puta, foi a casa dele, abriu a porta nu. Já me abandonaste, estou procurando alguém para me dar prazer. Viu um rapaz que não devia ter nem 18 anos. Mas Jacobo é um menor de idade.
É um puto, estou pagando para que me dê prazer.
Foi embora, no dia seguinte acordou com a polícia batendo na sua porta. Os atendeu, sim estive na casa dele ontem, mas estava com um rapaz.
Pois o mesmo além de o roubar o matou.
Ele caiu no chão com todo seu tamanho. Puta merda, ficou totalmente desconsolado, como pode uma pessoa fazer isso, foi tudo que pensou. Avisou o André, pois tinha que ir a delegacia, para ver se reconhecia quem estava na casa. Quando disse quem era, pois o tinha visto bem, soube que tinha 16 anos. Puta merda. O rapaz alegou que o André depois que ele tinha ido embora, não quis mais fazer sexo, tampouco pagar, que só estava fazendo uma cena de ciúmes.
Que idiota, ficou furioso, prometeu que nunca mais ia querer alguém o controlando.
Quando André quis que ele fechasse um contrato com ele, como agente, se negou, a partir de agora, ele só faria o que queria. O enterro foi muito triste, poucas pessoas, pensou, deixas de brilhar as pessoas desaparecem.
Em vez de ir de tournée com o teatro, lhe apareceu outra oportunidade, com o André, agora tinha fácil o trabalho, estava conhecido pela entrevista. Era um musical, muito interessante, mas assinou contrato por seis meses, com o compromisso de avisar no quinto mês se continuava ou não. Fez o mesmo durante um ano, ao mesmo tempo que o show no Club. Mas ao final estava cansadíssimo. O musical ia para San Francisco, aceitou só porque precisava de sol, todo dinheiro que ganhava, mal tinha tempo para gastar, tudo estava no banco investido, para quem não tinha um puto quando chegou, agora até tinha demais.
Adorou San Francisco, por recomendação de um que atuava no Club, foi a uma casa noturna assistir ao show. Se apresentou ao dono, esse disse que tinha visto a entrevista com o show, que gostava muito.
Estou farto desse show que tenho, o contrato acaba agora, se queres de deixo montar alguma coisa, repartimos lucros, bem como eres livres para o trabalho. Já conhecia os americanos, exigiu um contrato com tudo isso, levou a um advogado, para saber se tinha letras pequenas.
Ele disse que se qualquer coisa ele não gostasse, viesse falar com ele. Era um cara super bonito, vi teu show, com meu namorado da época, quando fui a New York, diziam que era o que havia de melhor, fui a contra gosto, mas gostei demais.
O convidou um dia que tivesse livre para jantar. Mas acabou não acontecendo nada, ficaram amigos, Ruby Carrasco, era descendente de mexicanos, mas não entendiam os dois, porque, se sentiam atraídos, mas não funcionavam na cama. Ficavam nervosos os dois, daí ficarem amigos.
Fez um casting, com os que já estavam trabalhando, só ficou com um jovem que estava iniciando, os outros tinham vícios demais, só sabiam fazer uma coisa.
Quando começou a entrevistar primeiro as pessoas, foi encontrando gente que buscava uma saída para seu talento, foi separando essas pessoas. No novo grupo, quem mais se destacava era um japonês, diferente dos outros pois tinha a mesma altura dele. Experimentou fazer uma dupla com ele. Funcionou. Montou um espetáculo, primeiro arrumou um pequeno apartamento, foi a NYC, buscar suas coisas. se despediu dos poucos amigos que tinha, seguiu em frente.
Nesse local ficou mais de 10 anos, até que foi convidado para montar um show em Las Vegas, lá encontrou o que buscava, como sempre procurou uma casa pequena, fora do centro da cidade, as pessoas se impressionavam, pois se movia de ônibus, ou quando muito de taxi. Só levou com ele Ken Takano, muitos pensavam que tinham algum romance, mas nada mais longe da verdade.
Se davam bem no palco. Montou dessa vez partes exclusiva para ele, apesar do show fazer sucesso, sentia falta de uma coisa, como tinha no Club. Procurou um lugar, mas estava difícil, um dia vagabundeando durante seu dia de folga, viu um anúncio de venda de um bar. Entrou para ver, era uma cópia do Club, talvez um pouco melhor, examinou o local com o dono, precisava de uma reforma geral. Ficou interessado, o que fez foi chamar o Ruby Carrasco, para vir até lá, revisar tudo, contratos, contabilidade do local, não queria se encontrar com nada escuro demais.
Depois de um exaustivo trabalho, fecharam negócio, fez uma puta reforma, lhe recomendaram uma pessoa para cuidar da obra. Amor à primeira vista, começaram a discutir o que ele queria, acabaram na cama. Além de fazer obras, era polícia, viveu com ele, mais de 10 anos, se adoravam. Agora tinha seu próprio Club, foi deixando os shows grandes, seu clube era indicado pelos hotéis, quando procuravam um lugar especial. Era como ele sonhava, mesmo depois de tanto tempo juntos, todo momento livre estavam juntos. Artho era mistura de muitas raças, era um tipo completamente diferente, alto como ele, moreno, cabelos super negros, os dois juntos faziam um casal diferente. Não se escondiam de ninguém, ao contrário, foi viver na casa dele, fora do centro, aonde tinha piscina, lá podia tomar banho de sol que tanto amava, longe de olhares curiosos. Podia fazer sexo na piscina, sem problema nenhum. Quando ele passou a inspetor, dois anos depois levou um tiro, correu como um louco para o hospital, mas só pode se despedir. Artho só lhe disse, siga em frente, foste o amor de minha vida, isso nada nem ninguém vai poder tirar. Herdou a casa dele, ficou vivendo lá, os primeiros meses foram uma tragédia, pois cada troço da casa tinham escolhidos juntos. Mas superou, cantando toda as noites, agora entendia as grandes do Jazz. Descobriu numa loja de jazz, disco de Sam Cooke, ficou encantado com sua voz. Ele não tinha o mesmo tom, mas transferiu para sua voz, algumas coisas que ele cantava. Durante a semana quando não tinha nenhum cantor ou artista convidado, se sentava ao piano, podia ficar horas desfiando canções. Mas gostava mesmo do final de semanas quando a casa estava cheia. Continuava fazendo suas próprias roupas, ideando os shows.
Pediu a Ruby, que viesse como sempre verificar suas contas, queria que olhasse se ia tudo bem, tinha dinheiro, mas não aproveitava muito. Levava uma vida simples, seu luxo era fazer seus shows como queria. Mas sabia que algum momento, seria ultrapassado, pois, as novidades em termos de música não paravam. Queria conversar com alguém que confiasse.
Quando viu Ruby ficou preocupado. Nunca o tinha visto tão em baixa, quando perguntou o que passava, não esperava a resposta que recebeu.
Nunca me entendo sexualmente com as pessoas, elas se cansam de mim rapidamente, veja conosco, nem chegamos direito a cama.
Ora Ruby, nem sabias beijar direito. Venha vou te ensinar, dessa brincadeira de ensinar, encontrou uma parte dele mesmo no outro. Tu eres como eu, quando cheguei a cidade, mas porque deixaste o tempo passar.
Sempre fui apaixonado por ti, mas tinha medo de ser rejeitado novamente, sempre fui desajeitado quando se tratava de sexo. Nunca soube me comportar, se devia ser um machão na cama ou ser frágil. Contigo descobri que tenho que ser eu mesmo.
Se mudou para Las Vegas, estavam juntos até hoje. Hoje segundo Louis, faziam quarenta anos que tinha saído do Brasil.
Quem sabe seja hora de fazer uma visita ao teu pais. Visitar tua família?
Nem sei ir aonde vivem. Olha a figura que sou hoje em dia, mais pareço um americano, mal sei falar português, além das músicas que canto, que hoje já devem estar todas no passado.
Ruby estava tão saído, que adorava ver o corpo dos dois, apertados um ao outro no espelho, seja se ele estivesse na frente ou atrás. Deixou o clube com o Ken, que já estava farto de fazer musicais nos cassinos. Queria paz.
Foram os dois, via Los Angeles. Quando chegaram ao Rio de Janeiro, quem os esperava era seu amigo, com que tinha sempre mantido contato. Estava mais gordo, para Ruby foi como encontrar uma pessoa conhecia, de tanto que escutava falar dele.
Rapidamente descobriu que já não era brasileiro, todos só falavam com ele em inglês, quando tentava falar em português tinha que ficar buscando na memória palavras, já não sou daqui.
Ficaram num hotel, bom em Copacabana, seu amigo arrumou uma pessoa para passear com eles pela cidade. Um dia o levou a Rua do Ouvidor que tinha escutado quando ele cantava, ficou decepcionado, teve que lhe explicar que era uma música nada mais, ou será que ele queria encontrar algum negro. Ruby ficou furioso, tinha a ele, isso bastava.
Mas na verdade ficou rememorando a Rua do Ouvidor de sua época, não era tão suja, nem estava abandonada como agora. O centro da cidade, aonde tinha trabalhado em vários lugares, agora parecia nada mais que uma imensa lixeira. Chegou a uma conclusão triste, realmente ele já não era dali. Quarenta anos pesavam na balança.
Quando voltaram, gostavam da vida que tinha agora, quarenta anos tinham passado, chegou a conclusão que tinha vivido bem. Ken tomava conta do Clube, eles tinham todo o tempo para eles. Viajavam mais agora. Aproveitavam a vida.
Ele tinha chegado à conclusão de que não tinham dado certo a primeira vez, porque não se souberam explorar como deviam. Pois não se cansavam de fazer sexo, estarem juntos, compartir coisas, enfim viver a vida.
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