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#avelhadoscabelos
gralhando · 30 days
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Uma palavra para entender a vida - #
Passados seis anos que escrevi o conto "A Velha dos Cabelos" e pensando sobre a tragédia que houve estes dias no Rio Grande do Sul, tendo a história do conto como iniciação a cultura e o acontecimento do sul brasileiro, não posso deixar de observar as forças artificiais que atuando no mundo, atuaram ainda mais cedo e mais incisivamente no Rio Grande do Sul que no resto do país, por imposição de seus próprios cidadãos abastados que alcançaram esta abastança já as sinalizando nas épocas dos Farrapos — 1835 a 1845, com a produção de commodities, agricultura e pecuária —, e enviaram seus rebentos e alguma atenção à Europa para se educarem. E os vermes e vírus da Europa já eram como nunca os velhos poderiam imaginar. E tanto que seria possível algum costume italiano ou alemão desaparecer por completo na Europa e restar conservado nas colônias brasileiras.
Não haveria outro caminho para o anseio em intelectualização associado ao comichão vetor da criação identitária e pré-patriótica. Talvez em algum momento, um espelho inconfesso revelava àqueles jovens que tendo sido vedado o caminho da criação do seu próprio país na Revolução dos Farrapos capitulada pelo Bento Gonçalves da Silva, e reconhecendo seus reflexos de inteligência competente e o brilho da raça e sangue, então lhes estava destinado o lugar de cérebro desse povo miscigenado, bagunçado e sem futuro, ao qual ficaram historicamente presos.
Talvez isto seja o mais explicitamente revelado na teoria do Adelmo Genro Filho quando propõe humildemente a pirâmide invertida em seu livro "O Segredo da Pirâmide", que segundo alguns, é a fundação do curso de jornalismo brasileiro. Com a linhas de fronteiras do sul se fechando no menor ângulo, o Rio Grande do Sul se projeta como o topo de uma pirâmide num insight pictórico, o topo camarilhesco e o condutor de seus irmãos, e que aparece de cabeça para baixo no mapa, de ponta-cabeça, isto é, a "grandeza submetida, porém insubmissa" referida por Nilson Laje no livro "Ideologia e Técnica da Notícia". Todos estes justificam como Getúlio Vargas cumpriu a missão lançando as bases de governança desde esse fundilho-topo e é portanto de fato o fundador desse país que segue.
Os sulistas do meu conto, que são parathesis dos meus avós, foram os que tomaram nas costas suas máquinas e caminharam para o norte, para o trabalho e magia. E o trabalho dos que ficaram também foi árduo e mágico como se pode notar bem na alegoria: Porto Alegre contava com um sistema de proteção formados por muros de contenção e diques, construídos possivelmente no Regime Militar, 1964 a 1985, já que foram terminados em 1974 e concebidos por causa da enchente acontecida em 1941. Porém agora em maio de 2024 esse sistema foi solicitado e falhou, as contenções vazaram por baixo e os diques se romperam, as bombas foram desligadas. O grande cérebro intelectual não pensou em dar manutenção a um sistema construído. Quais foram então as grandes preocupações ao longo dos seus rizomas sinápticos estudiosos e filósofos prontos para escrever a história?
A grande preocupação da menina presa na maldição que se passa no conto era inicialmente desvendar o mistério do mundo, no caso, o segredo e a história daquele lugar. Uma vez desvendado e fatalmente enlaçada na resposta, a preocupação da menina passa a ser a salvação da sua vida. Ou se resignar com o mundo? Escrevi uma conclusão que parece ser a resignação no amor humano, porém, aqui levanto que o amor humano é a base racional do AVODAH — uso a palavra "avodah" em lugar da palavra "trabalho". A língua latina originada no Lácio no caldo de uma cultura de assassinos e saqueadores que evoluíram culturalmente sofisticando o assassinato e o saque, e portanto onde o trabalho era feito por escravizados, concebe a palavra "trabalho" com a raiz etimológica talvez no "tripalium", um objeto associado à tortura. A palavra "avodah" é a ideia de servir ao deus, sendo o deus o receptor dogmático da religião e o humano o receptor de direito e fato porquanto representa o próprio deus no ecossistema do amor.
Logo, se há amor, há trabalho, e trabalho significa construção e desenvolvimento de soluções — e também a manutenção dessa solução, que é a vigilância, e tudo isto é amor. A menina do conto, terminando por recorrer à solução que demonstro aqui, traça a saga de uma pessoa neste mundo: o mistério, o entendimento, e o viver do amor.
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gralhando · 1 year
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Incutida - #
     Uma IA dessas cita um trecho do conto “a velha dos cabelos”. "Ela era a velha dos cabelos, a que sabia de tudo e de todos, a que guardava segredos e histórias, a que tinha o poder de curar e de amaldiçoar." Deve ser uma descrição super comum incutida. Não tem isto no texto. Ou consta em alguma outra sinopse que não conheço ainda.
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gralhando · 4 years
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Chevrolet Bull Dog IX.
     Então é isto, estamos na minha cozinha e acho que consegui colocar mais uma vez na gaveta vazia um garfo e uma colher deitadinhos um ao lado do outro. A afirmação de que tudo apenas se repete representada pela citação de Ítalo Calvino ao lado da compreensão do inédito contínuo. A colher é o côncavo receptivo e aberto, colhendo, nada do que lhe cabe escapa. O garfo, ativo, provoca e alveja, captura de forma cruel, pontual, objetivo, excludente. Assim, o problema da linguagem que menciono em 'Chevrolet Bull Dog VIII', posso agora expressar como a deformação virtual dos talheres.
     Neste tempo de artifícios de dominação cultural — de indivíduos planejando colonizar grupos, grupos colonizando povos —, a linguagem é separada balisticamente de seu ambiente próprio e de seus usuários naturais, disparada para cruzar os meios como informação agressiva, estratégica, peça de marketing psicopolítico, feita impiedosa artilharia que deflagra distorções como as fragmentações das bombas convencionais, e tenho aqui mais uma hipótese a ser adicionada às duas causas iniciais. Ao peso somado do passado e à negação inconsciente da revelação lógica, acrescento a 'linguagem em sequestro'.   
     Este é o tempo que talvez seja necessário entender quando os desencontros dos signos são apresentados ou lidos como mistérios, e quando os esforços para tocar os mistérios serão criticados como excrescências. Este é o mesmo tempo que escrevo o texto ¹A Velha dos Cabelos, que com alma parabólica é o rascunho de ser uma 'colher de tempo', a visão de um contexto cósmico colhido sensivelmente no símbolo angular da árvore.
     Sensibilidade que emerge no corpo da mulher, angulação feita como um corpo-mapa, corpo-árvore — de onde vem o impasse da transubstanciação no texto Felicidade Sintética, e que na adaptação da Juliana Pereira publicada na antologia ²O Livro das Orquídeas com o título 'As Sementes Vermelhas' a árvore desfere inopinadamente um pênis e mesmo assustada com a surpresa não classifiquei como um equívoco na visão da autora sobre o símbolo, porém sendo uma adaptação, a visão reflexiva é do arco que dispara a flecha, isto é, o feminino emitindo o masculino, reencarnando deste modo o desenho parabólico, o contexto do corpo-arco.
     No ensejo, sou muito grata à Juliana Pereira pela leitura e presença constante, interesse e amor. Também sou agradecida à Helena Antoun pela atenção e conversas das quais nasceram visões diretas para esta série de notas, horas e madrugadas de confabulações sobre o tempo, sobre as vestes do tempo e sobre as direções do tempo. Foi como se nós também feríssemos o tempo quando juntamos nossos braços para alcançar seu rosto, afastar sua capa e num relance ao menos desejarmos a revelação da face deste ente que nos determina as lágrimas.
     Quanto à deformação virtual dos talheres, é claro que a linguagem clama de todos os utensílios, a interpretação da realidade, a sensibilidade arcaica da filologia, se necessita dos planos devidamente tomados de seus multipontos confiáveis e duros ou da imaginação atribulada da vida, também conta com a colher do tempo. Na vivência dos ciclos, a mulher no sentido histórico em que cada ato emite um fio humano na trama têxtil do século, a mulher como cidade sitiada engolindo o inimigo, a mulher que vive no corpo o tempo e suas investidas, lua a lua e as marés arrastando emoções acima, emoções abaixo, como se colateralmente os golpes da vida fossem esculpindo dentro da alma uma imagem de permanência, um altar de salvação. É onde ofereço à linguagem a metassíntese dos signos pela consagração da ressonância do momento em orgânica sintonia com o cosmo. Cosmo que muitas vezes é uma longa noite. Na contemplação deste sem tempo e sem fim é que a linguagem se metaboliza de suas feridas.
¹ A Velha dos Cabelos ² O Livro das Orquídeas
(fim)
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gralhando · 4 years
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Chevrolet Bull Dog  VIII.
     As pessoas de agora arrastam mais quantidade de passado que as pessoas do passado. Será que o efeito deste embaraço aparece como algo de um cansaço no interior da linguagem? Ou o futuro que era bem mais desconhecido das pessoas do passado é agora rente a um diagnóstico e uma estratégia inconsciente de negação acontece? Por fadiga ou por negação inconsciente, o afastamento da linguagem do seu ambiente real e dos usuários em estado sinérgico traz consequências ao próprio processo da linguagem, Ludwig Wittgenstein descreveu este problema no livro "Investigações Filosóficas".
     É como se o descolamento de um ponto ecoasse por toda a trama. A menina observadora diz para o amigo: 
     "Vi a tua casa, ela é de tijolos, não é?"      "Sim, e a tua?"      “A minha é de parede normal."
     Embora num primeiro momento pareça que a moça desconheça as entranhas das alvenarias, não é o caso, o problema está na linguagem cujas camadas estão desencontradas. Por outro lado, construções inéditas e duvidosas acontecem e servem como desvios de mensuração:
     "Descobri este sistema numérico: hum, dhois, thee amo..."
     Inicio aqui que entre sensibilidade e linguagem um epítome pode ser dissecado. E isto, na verdade, é tudo o que quero dizer neste momento, o mesmo que já tentei dizer. E cada tentativa é uma conexão inédita, um evento novo. Posso descrever deste modo, os pensamentos subindo estruturas sobre outros como nuvens de insetos sinápticos, arranjos de sentimentos com o coração coreografando formas de apertar sangue dentro de si, o medo preenchendo as distâncias variáveis do escuro que habita sempre depois e ao redor do espaço de existência, cada instância desta síndrome humana e poética cintilando no tempo, sempre é assim e mais uma vez está sendo continuidade e construção.
     Agora observe esta citação: "Deste modo a cidade repete uma vida idêntica, deslocando-se para cima e para baixo em seu tabuleiro vazio. Os habitantes voltam a recitar as mesmas cenas com atores diferentes, contam as mesmas anedotas com diferentes combinações de palavras, escancaram as bocas alternadamente com bocejos iguais." Este é o escritor Ítalo Calvino, uma sensibilidade honesta escrevendo a vida. Olhe o que vou contar, na série de notas ¹"Sobre as mangas", falo sobre Santa Bárbara da Nicomédia e seu nome desaparecido, consumido na condenação vergonhosa, note que por volta de um milênio e mais um pouco depois, temos Maria Barbara Bach sendo batizada em Gehren, precisamente em 1684, prima em terceiro grau de Johann Sebastian Bach com quem veio a se casar. Tudo já havia mudado, um nome de deleção, uma execução entre as mais cruéis da humanidade como abordo nas notas referidas, estava vivo, habilitado como nome de orgulho. Maria Barbara Bach habitou em Weimar com o marido, teve filhos e cantou ali, se mudou para outra cidade em 1717. Outro Johann veio parar em Weimar não muitos anos depois quando a família Bach já havia partido deste mundo, se tratava de Johann Wolfgang von Goethe chegando em 1775 com o livro "Die Leiden des jungen Werthers", clássica maldição reconhecida como "efeito Werther" que surge como elemento probatório no texto da velha dos cabelos transportado inadvertidamente com a imigração alemã para o sul do Brasil. Antes destes Bach e destes Goethe nascerem na Europa, outros Johann já haviam estado no Brasil, Pedro Álvares Cabral não confiava em um cozinheiro que não o alemão Johann, especialista em conservas fermentadas, e seu astrônomo calculista era Meister Johann. Neste momento peço que releia o início deste parágrafo, a citação entre aspas, o que escreveu Ítalo Calvino, não uso ironia quando disse dele "uma sensibilidade honesta", porém, desde a linguagem — obrigatoriamente a linguagem, como mostra Ludwig Wittgenstein, que por um sinal menor é outro Johann —, até aos objetos mais supérfluos das necessidades humanas, tudo vem incorporando criação e ineditismo através do tempo, ou assegurando a função do passado para a vista do inédito. Desde um nome de sacrifício ao "Sol Invictus", a mulher imolada como bárbara na Nicomédia para desaparecer no pó das ruínas e que ressurge como Santa e nome de glória das filhas, que serão mulheres vingativas do sangue derramado que a terra secou, vingadoras na semeação do sangue vivo dos Johann, este Johann transportando esta linguagem e cultura e fundando assim um país, este Johann compondo um universo musical esplêndido que flutua as almas nas naves das igrejas, este Johann criando a literária maldição que invocará o infortúnio da paixão por todos os séculos vindouros para sempre, este Johann expondo à luz o estudo engenhoso da linguagem viva como organismo em mutualismo biológico que nos forma ecossistema humano e nos é indissociável como existência humana.
¹ #sobreasmangas
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gralhando · 5 years
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Chevrolet Bull Dog VII.
     Houve esta conversa há uma semana onde foi falado das direções do tempo dentro do espaço de imaginação. Primeiro parágrafo do texto ¹A Velha dos Cabelos, o caminho para a casa que se dá na descrição começando no endereço principal da vila, a prefeitura e imediações, e vai descendo ao longo da rua até depois de terminado o asfalto. Na minha cabeça — conversamos sobre isto e é uma construção totalmente individual — este caminhar acontece do norte para o sul, ou do noroeste para sudeste, que poderia ser decifrado como direção de regressão, uma estrada para o passado, a autora se deslocando para as lembranças da infância dentro da narrativa.
     O sul de onde vem a velha dos cabelos, o sul do Brasil, um sul europeu em colonização que ainda conserva a língua, costumes, rostos, apesar da política de governo do Getúlio Vargas iniciada em 1938 com o veto do ensino da língua estrangeira nas escolas e no ano seguinte a proibição de conversar em público em qualquer idioma diferente do português e em 1942 com a entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial estas proibições se converterem em perseguições, com isto tudo e mais aquilo, este sul é um reflexo da Europa, querer avançar no tempo para o norte, para o futuro, tem o sentido de fugir do passado que insiste em não se desgrudar. 
     Então o alinhamento das direções geográficas do tempo dentro da narrativa com as direções geográficas do meu tempo particular pode explicar a formatação da minha tela mental, a orientação da rosa dos ventos no meu mapa interno vem do atávico, vem dos meus avós que também são imigrantes e da região sul. Esta linha temporal assim exposta mostra a intenção subjetiva de elucidação deste sul como passado ancestral, isto é revelação e compreensão, justamente o encontro da minha ânsia por milagres com a necessidade de criação.
     Até aqui pensei a geografia do tempo neste plano rente à terra e aos acontecimentos, eu e as pessoas, reais ou imaginárias, em meio ao éter do tempo movendo-o em direção às lembranças e sendo arrastadas por ele na força invencível do presente. No entanto, a situação do local crítico na montanha de madeiras, o ponto que se mostrou como a concentração do caos na narrativa, faz pressentir uma reviravolta e a verticalização da direção cardeal do tempo nas dimensões deste caos, uma outra cartografia se forma talvez como uma projeção virtual e avançada. Embaixo deste ponto, sob o solo, tudo pertence ao passado, os mortos, as coisas não terminadas, as peças incompletas, as pernas de mesas, as partes de móveis, o velho ainda em suas pulsões não satisfeitas, o passado que havia deixado na Europa mas que traz inconcluso na alma o horror histórico do velho mundo estremecido no absurdo. Acima do solo está o amontoado de madeiras retorcidas provindas da vingança da velha, é o futuro da vila, a conclusão das maldições às quais também a protagonista descobre que está ou estará presa.
     No fogão da velha dos cabelos o carbono marcador do tempo conclui um ciclo, a combustão consome as madeiras que eram as casas da vila construídas pelo velho com as árvores que nasceram na morte dos monges, as engrenagens girando, o carbono exalado das labaredas volta para a atmosfera e o relógio de deus avança um traço no mostrador. A compreensão endógena vem do meu corpo pela vivência dos ciclos femininos — e preciso anotar um registro inequívoco deste acontecimento que é sentir pela vivência —, como um esboço na névoa que anos depois começa a permanecer em consistência e quando dou por mim estou tomada pela audição de um rumor no silêncio negro da noite e sei o que ouço, e compreendo que uma mulher pode ouvir os passos do tempo.
¹ A Velha dos Cabelos
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gralhando · 5 years
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Chevrolet Bull Dog VI.
     O 'Melão de São Caetano' é o segundo vegetal que me detém no texto ¹A Velha dos Cabelos e pensando algo sobre o primeiro, a árvore 'Santa Bárbara', imagino que contenha a aglutinação simbólica de todas as árvores da minha vida. A atração inconsciente/consciente pelas árvores está de alguma forma relacionada com o tempo e acho que preciso passar ainda por mais anos de vida até ser capaz de entender esta relação ao ponto de traduzi-la em palavras. Já conversei com árvores, abracei, beijei, forcei meu corpo contra o caule para sentir a dureza enorme que eu mesma havia plantado a mudinha tenra e frágil que minhas mãos de criança poderiam proteger. Por uma especulação espiritual dos reflexos nas marcas lenhosas radiais das árvores, penso que o carbono tem atomicamente uma ligação estreita com o tempo. Às vezes tenho esta sensação também quando penteio os cabelos e me demoro pensando como parecem denunciar que são marcadores de algo — aqui uma imagem do texto ²Felicidade Sintética vem à tona, as telas do Edgar Degas e a consequência dramática da transubstanciação. Imagino o planeta feito um relógio e a tabela periódica dos elementos sendo o catálogo de suas engrenagens. O carbono seria apenas o elemento mais próximo de um ponteiro das horas. Imagino, imagino que todos veem e pensam o que somos nesta realidade porque não é possível enxergar o lado 'correto' como de uma instalação artística criada em anamorfose. 
     Um exemplo de instalação anamórfica é o trabalho do Bernard Pras que em 1994 começou a desenvolver esta técnica reinterpretando imagens de pintores. Algumas definições que encontro nos textos dos críticos que falam desta arte repetem o dito 'ordem no caos', no entanto, é a vontade primária do artista de demonstrar a premeditação de um caos. O relógio de deus contraria o entendimento humano porque não necessita de um show sendo absolutamente alheio à dêixis, se há o caos, o caos é mecanismo. Talvez sejamos o efeito colateral dos desgastes nas engrenagens deste relógio depois de bilhões de anos de bons serviços. Estas pontas duplas nos fios dos meus cabelos nada mais são do que os efeitos da propagação fractal dos erros. E se for assim, a humanidade desaparecerá quando o relojoeiro se sentar em sua oficina para consertar seu relógio.
     Às vezes sinto esta voz dizendo que o meu caos interno é mecanismo de existência, a voz insiste enquanto minha vida é direcionada para o desdobramento e ordenação das coisas, na faxina da casa, na cozinha, nos acontecimentos precipitados em cadeias de sentir e reagir, a vida acontecendo e sendo vivida conscientemente. No texto A Velha dos Cabelos existem duas concentrações de caos e ambas são do carbono, as madeiras de todos os formatos e tamanhos amontoadas e os pedaços de móveis, pernas de mesas, cadeiras incompletas, esquifes e tampas, além de cadernos e mais cadernos, pilhas de cadernos e livros no bunker nazista. Estão num mesmo ponto, o monte das madeiras e abaixo dele o bunker. Sei que se houvesse uma linha ótica para entender a atitude anamórfica, o tempo apareceria em algum grau, porém da mesma maneira que não decifro e nem consigo falar a voz que sinto a respeito do meu caos interno e que me põem exangue e em desfalecimento no limiar da coisa simples, sou tolhida de enfrentar esta visão e me encolho na autopiedade com os joelhos contra o peito murmurando algo sem sentido como 'dê tempo ao tempo'.
¹ A Velha dos Cabelos ² Felicidade Sintética
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gralhando · 5 years
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Chevrolet Bull Dog V.
     Pensando na sensibilidade do leitor, sua bagagem cultural, seus afetos e lembranças mais nevrálgicas principalmente, analiso minha plantação subjetiva quanto ao 'Melão de São Caetano' no texto ¹A Velha dos Cabelos. Falei hoje para a Helena Antoun se eu poderia dizer que 'o inconsciente escreve junto' e ela respondeu imediatamente: 'Você pode dizer que quem está escrevendo na verdade é o inconsciente, o ego consciente dá forma à sintaxe confusa do inconsciente.'      Vejamos isto então, quando a sombra das mangueiras se projeta generosa sobre o monte de madeiras com o cair da tarde, o verde da trepadeira que ali está num emaranhado extenso cercando parte daquele amontoado torna-se mais escuro, os olhos ainda têm quase toda a luz do sol e portanto as pupilas se encontram contraídas, porém aquela sombra está espessa o bastante para escurecer o verde das folhas e ramos, é assim que num relance da vista por aquele monte de madeiras sob o festival intenso das cigarras, quando a gente num hábito balança a cabeça para afastar os cabelos que o vento coloca no rosto, registramos a cor amarela do fruto e a cor vermelha das sementes. Estas cores se destacam vivas de dentro das sombras como sinais.       Em 1919, a então República de Weimar adotou a bandeira nas cores preta, amarela e vermelha, originando o conjunto que identificamos agora como as cores da Alemanha. O que ressalta é o vermelho e o amarelo, sendo o preto um fundo comum, portanto existir sob o monte de madeiras um bunker nazista no sonho da protagonista pode vir de gatilhos inconscientes que nunca seriam elucidados, tanto como o gatilho equivalente que pode ocorrer no leitor predisposto com cargas mnemônicas e culturais, ou até o preenchimento do lugar eventual destas cargas se ausentes provocando no futuro o imprevisível do inconsciente, permanecendo em todo caso os detalhes da construção destas ligações no profundo invisível do universo mental.
¹ A Velha dos Cabelos
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gralhando · 5 years
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Chevrolet Bull Dog IV.
     Na série de anotações que denominei 'Sobre as Mangas'¹, que são algumas visões sobre o martírio da Santa Bárbara da Nicomédia, estão vários pensamentos que obviamente interagem e se somam a esta análise. XV, escrevi assim; 'tudo começa quando encontro esta cumplicidade inesperada na religião das árvores, umas marcações de estrelas nas disposições das raízes dos cabelos na cabeça de algumas mulheres'. Lógico que este mapa nasceu da barbárie no texto ²Felicidade Sintética onde a bruxa vai solidificando os cabelos como galhos, e estes galhos apontam em ângulos e em impossíveis coordenadas astronômicas, pois exatamente a latitude e longitude escalar de cada galho no couro cabeludo corresponde a uma estrela no céu, mapeando assim as constelações. Com isto sabemos que houve então esta descoberta, que existem estas mulheres que trazem no couro cabeludo o mapa astronômico das constelações cartografado por folículos capilares milimetricamente dispostos, aqui acabo por produzir uma prova da fantasia pondo a descoberto o real — e para a constatação do real, se necessário for a revisão por pares, tenho a comprovação matemática destas mulheres pela famosíssima teoria dos macacos infinitos também conhecida como 'The Parable of the Monkeys' que encontramos no primeiro registro, que até então tenho conhecimento, em Émile Borel, La mécanique statistique et irréversibilité. J.Phys. Theor. Appl., 5e série, vol. 3, 1913, pp.189-196. Um complemento, as horas e data de nascimento de cada pessoa no mundo constam em alguma posição dentro do número π (pi). Os numerais de todos os documentos mais pessoais e secretos de cada cidadão no mundo constam no π.
     Muito bem. O sinal difuso é a mulher-árvore, e ao redor do composto das duas ideias que se transubstanciam circulo explorando as coisas. Se no texto da bruxa a árvore é o resultado da barbárie em crítica, no texto ³A Velha dos Cabelos a árvore é a entidade suprema de arco. É precursora, condutora, e o elemento de conclusão do drama.
     A expansão dolorida como sequência — porque a dor é a origem do texto —, é de árvore para religião, isto é, a exposição do objeto sistemático ao próprio sistema holista das transições — porque religião é a harmonização existencial com o metafísico. Neste sentido, é a completude do ser. 
     Os vários vegetais que são nominados com nomes de ícones religiosos marcam definitivamente a identificação mística, uma transição entre propriedades botânicas testadas, pressentidas, inspiradas, portanto ações e meios da sensibilidade humana, e a carga imaginária, espiritualizada e energética constitutiva do ser, a potência existencial. Conjunção que se instala funcionalmente nas crenças benzedeiras das pessoas do interior manifestando a palpável vivência das transições pressentidas ou reveladas. No texto A Velha dos Cabelos aparece incisivamente o ‘Melão de São Caetano’ emaranhado no monte de madeiras, é uma planta trepadeira profusa com um fruto amarelo puro e pálido, que se abre espontaneamente quando maduro revelando sementes cobertas por uma pele vermelha brilhante, esta cobertura da semente tem um sabor doce. As cores verde, amarela e a vermelha são artísticas, contrastantes. Sempre eu ouvia alguém dizendo que aquilo era remédio, sempre e repetitivamente como se fosse manifestação de uma ideia autônoma apontando para evolução de uma senda de fé e encontrabilidade.
     São Caetano foi um homem bem ativo, fundou hospitais, organizou lutas, administrou por todo lugar, lendo seu histórico me dá a impressão de um workaholic. A quantidade de doenças que eu ouvia as pessoas sempre dizendo que aquele fruto da trepadeira curava também era uma lista enorme. A forma como espalha ocultando às vezes quase completamente o substrato pelo qual se alastra remete um mistério de ocultação, no texto aquele monte de madeiras esconde um bunker nazista habitado pelos mortos da vila. São Caetano fundou em 1533 em Nápoles uma rede secreta, uma base de trabalho e apoio para o levantamento e desenvolvimento de ações contra os inimigos reformistas.
¹ #sobreasmangas      ² Felicidade Sintética  ³ A Velha dos Cabelos
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gralhando · 5 years
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Chevrolet Bull Dog III.
Ainda agora me chamou a atenção o comentário da Juliana Pereira sobre o texto 'Chevrolet Bull Dog II'. Como episódio de texto imanente e a reflexão de sentidos na experiência real, este processo e acontecimento de leitura, uma perspectiva que quase parece sinestésica e metalinguística num mesmo tempo. Ela comenta que ouvia sons da água enchendo galões no momento que lia e isto se integrava à experiência de uma maneira única. A água se apresenta como ambiente dramático, está na gênese da poesia da Helena Antoun ainda que não conste exatamente nas palavras, está no meu texto comparado de 2014 onde nado em oceanos e lágrimas, é correlação como carga viral de espectro entre universal e quociente, providencial em acontecimento no momento descrito pela Juliana no comentário, transparecendo feito marca mística do evento crítico que cito novamente: o processo tão complexo quanto um olhar e o abismo.
Esta classificação em quase sinestesia, como se fosse uma possível versão semântica excepcional de sinestesia, demonstra a água querendo ser a redoma vaporosa, ou o infinito pathos movimentando afogamento, querendo a todo momento atingir um outro sentido aparentemente inexprimível no pensamento, um sentido perplexo, horrorizado, cheio de urgência, a oscilação trêmula e tensa do ponteiro entre água e céu fechado, oceano e som de infinitude, catarata e destino em revelação, lágrima e sentença.
Fui interpelada sobre a construção de um período no texto da velha dos cabelos onde tento usar algo desta quase sinestesia. Tento, estou dizendo, porque o fato de ser questionada coloca no meu colo uma prova de falha. Uso a imagem 'torneira aberta' para a metaforização de um futuro som de líquido que cai no chão descrito algumas orações à frente, sendo esse o período que narra o acontecimento que provoca a abertura ou a catalização da maldade na mente da personagem, eu queria também uma plasticidade de progressão, de transporte até uma abrupta compreensão final que seria responsável por trazer a mixórdia de cheiros e cores que fossem repulsivas, nojos associativos desta maldade. Falhas ou estilo acertado, vou assumindo minhas dúvidas e medos, julgando-me preferencialmente como leitora esforçada, úmida e perplexa.
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gralhando · 5 years
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Chevrolet Bull Dog II.
     A velha quando surge de poderes antigos, quando reúne as maldições do velho mundo e se firma transatlântica em acontecimento brasileiro naquela cidade em início, o interior do Paraná acontecendo para o humano, paulatinamente humano, flagrante como é a cultura sempre, acontecia com as árvores também algo como o explicado na visão proposta por Goethe denominada 'Weltliteratur', a visão que tive das árvores, as árvores mundiais. Descobri isto porque num certo ângulo e direção da casa para onde recém havia me mudado no continente asiático deparei com uma árvore Santa Bárbara e tive a sensação de estar sendo vigiada. A direção, ângulo e raízes se repetiam no sítio onde eu morava no Brasil, a mesma árvore, as mesmas atitudes geo-herbais, as mesmas frutinhas amarelas formando cachos de códigos secretos, agentes mundiais associados por relações que despertaram em mim a prova da existência real das forças naturais que influenciam ou subministram as culturas e seus misticismos.
     Esta semana eu estava lendo poesia da Helena Antoun pelo facebook e o mesmo susto de reconhecimento me assaltou. O mesmo flagrante que experimentei com a árvore Santa Bárbara déjà-vu na Ásia. A Helena descrevia o dia mais longo, como me explicou, era algo como o dia que percebia num sumidouro nas Cataratas do Iguaçu, um dia que se estendia vindo de um tempo onde se passavam milhares de anos, todas as guerras e todos os acontecimentos da humanidade, e agora ela o via, o sumidouro na terra com suas plantas, sua fauna, seu escuro sem fundo, como um longo dia particular contido naquele lugar que a fazia reconhecer a vida tão pequena, tão fugaz, a vida era um breve momento ante o imenso dia sideral internado num portal sem fundo, 'um soco no estômago' — ela disse. O reconhecimento que me assaltou — o meu dia longo — foi onde as coisas se acabaram e continuaram, uma noite e madrugada entre 2013 e 2014, o tempo parava numa reunião imaginária e na espera pela minha vida lutei por uma vida inteira, lutei pela minha memória. Esta decisão de vida também é um dia longo, também é milhares de anos, é as guerras e todos os eventos da humanidade, é uma fauna e uma flora num sumidouro nunca visto ao pé de uma catarata monumental, intocável, insondável, de percepção infinita, e agora um poço no estômago como uma longa noite ao redor do corpo notívago que acaba por invadi-lo.
     Estou com desejos por esta vazão analítica parecida com um exercício de literatura comparada, sendo que a literatura comparada por definição relaciona literatura, psicologia, filosofia, história, sociologia, política, todas as ciências eu poderia jurar, entretanto este aparente prenúncio de confusão tem aqui para mim gosto de segunda chance, de ressuscitação — e o porquê disto ainda quero explicar. Ainda quero.
     A verdade é que não existe literatura que não seja comparada. O leitor, sentado confortavelmente numa sala, pernas cruzadas, xícara de chá ao lado, tendo nas mãos um livro, pode muito bem ser alguém sob o ruído de uma catarata gigante olhando fixamente um sumidouro que suga seus sentidos. As aparências enganam. Por dentro da cena da leitura pode estar o ser humano encarando a vida. Entre os dois entes todas as ciências em flagrante comparação. Dois livros, sendo um vivo e o outro cheio de vida, entre eles um processo tão complexo quanto um olhar e o abismo.
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gralhando · 5 years
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Chevrolet Bull Dog.
Haveria algum outro caminho para encontrar a ¹velha dos cabelos? Lembro que me demorei na máquina, as respirações fantasmáticas no corpo de ferro agora quieto e mudo, algo semelhante ao ²rio onde o menino desce o barranco em busca de água para a bruxa e o rio está quieto, não tem barulho da correnteza, como a máquina dentro do barracão escuro depois que fatiou milhares de árvores e desalmou a floresta com uma eficiência fatal. A velha vem caminhando neste universo pelo portal da bruxa do rio paralisado, porém a máquina tem uma história própria. Quando a vi, tive esta impressão, se fosse a aranha vigilante no centro da teia de memórias, passado e tempo, como se tivera olhos ali no fundo da sombra, o tempo ao redor às centenas de impregnações de vidas, todos os homens que manipularam aquela superfície de realidade com seus corpos, suas mãos, seus pensamentos e ambições, as mulheres que traziam os caldeirões de comida arrastando os chinelos na serragem e pó de madeira que cobriam completamente o chão, as vertigens sob o sol nos dias que menstruadas se chocavam — de tudo o que vaza como perdição — com a visão dos homens suados em bicas descarregando os caminhões 'Chevrolet Bull Dog' repletos de toras. Ocorre agora na minha cabeça que o feminismo do mundo é o mesmo da feminização dos processos de sobrevivência, a brutalidade agora silenciada da máquina atesta isto, as casas feitas gentilmente com impressoras 3D provam isto, a força bruta deu lugar a processos pacíficos, femininos seriam, se comparados àqueles homens entre toras imensas de madeira crua que quando rolavam por acidente esmagavam um ser humano como inseto. Uma extração, é claro, porém... talvez seja válida. 
A máquina veio da Alemanha, era movida com vapor. Uma máquina de antes da primeira guerra. Depois foi adaptada para outras fontes de energia. Esta sucessão de fontes de energia e histórias, os filhos se casando, a prosperidade material avançando, o mundo foi vivendo e hoje estou diante da tela do computador pensando na alma da máquina. Uma alegoria para todas as almas humanas que circularam em torno daqueles propósitos, e todos eram gravitacionais de um motivo: sobrevivência. Apresentando a máquina literalizada, não seria incômodo reafirmar o drama europeu de busca em antítese ao qual coloco em comparação o poema ³'A máquina do mundo' de Carlos Drummond de Andrade, onde a descrição da desistência, a ser conhecida e reconhecida, se demonstra. 
As máquinas, instrumentos de sobrevivência, como palavra, em sua etimologia deve estar entre as mais antigas. Do grego meckhos. Sinto um horror com o uso do substantivo 'máquina' nos aparelhos de pagamentos, que desejo com toda força ser uma tecnologia velha e já ultrapassada sendo aplicada por seres ruins num país onde pensam poder enganar com tecnologias velhas e já ultrapassadas, sinto quase ânsias quando sou alvejada — nas brechas do meu isolamento — por propagandas destes seres onde proferem 'compre sua maquininha de graça aumente suas vendas'. Esta palavra não merecia isto. Preciso de uma marca temporal aqui, não é? Porque este incômodo haverá de passar como um dia os táxis desaparecerão, e por falar neles, já demoraram além da conta, portanto o ano é 2019 — o país é Brasil e agora vou falar de um estado deste país de onde também me vêm ascendentes.
Toda geografia tem a velha, acho que ela vem de algum modo — voltarei a isto — de Minas Gerais, das fazendas escravagistas. De antes da máquina. Os padres tinham horror a uma mulher que fora encerrada numa casa por ser intratável, falavam dela de um modo que não posso recriar, havia a confissão obrigatória na igreja e as crianças sofriam estas confissões, nestes momentos os padres desfiavam um texto de incutir ideias e assim pode ter surgido as histórias das bruxarias. Esta mulher teria cabelos longos que nunca paravam de crescer, era tanto que dispensou de usar roupas, entretanto os poucos que declararam tê-la olhado alguma vez contaram que sofreram um desmaio repentino e não podiam explicar com detalhes o que supostamente viram. Acho que viram 'sobrevivência' e não tinham experiências visuais para raciocinar a imagem. Penso que todos os santos são incidências de sobrevivência. A edificação do ícone, este complexo, é tanto memória quanto acusação, quanto defesa, ataque, solidificação da posição humana. A árvore Santa Bárbara como extensão quase taxonômica disparada da imagem/mártir propagando com eficiência a memória viva, como signo vivo, é um estado, entre os tantos sinais que correm paralelos, da força de sobrevivência.
Mais explicação para a 'máquina'. Está logicamente associada a máquina uma correlação estrutural e imediata com fonte de energia, isto é, não existe ‘máquina’ sem a 'fonte de energia', a ideia da composição intrínseca não acontece numa primeira visão imediata, vemos uma máquina primeiro, a aparência de máquina, perguntamos num segundo momento 'o que' ela faz, num terceiro momento 'como' ela faz. Estes três entendimentos é que são 'a máquina', se faltar um, ainda não existe uma máquina. Esta gradação cognitiva operando a partir do signo 'máquina' perfaz um movimento de escrutação natural na intelecção do texto, entretanto, esta máquina no texto 'jaz entre trilhos', 'inescrutável nas adaptações', esta máquina histórica terá incrementos narrativos, pertencerá a um indivíduo integrante da imigração alemã para o sul do Brasil, e depois para o Estado do Paraná, um deslocamento mais ao norte, a máquina pertence a um mundo temporal pré-guerra/pós-guerra e migra também no tempo, nos séculos. A máquina alemã, não está clarificada assim no texto, porém se compõem com as informações do proprietário alemão no Brasil pré-industrial, se compõem com o bunker nazista, se compõem com movimentação geográfica saindo da Alemanha, pelo oceano até ao Brasil, do sul do Brasil se movimentando para o Paraná, onde as coisas vão se clarificando pelos reflexos de outras movimentação narradas, se identificando, se reunindo como deve para terminar perdendo a inescrutabilidade inicial, para se definir juntamente à migração das maldições do mundo antigo, desde as injustiças pré-cristãs como o destino de Santa Bárbara da Nicomédia, os desastres históricos da Alemanha, as tentativas do Brasil acontecer como país, de se firmar com uma identificação de cultura brasileira possível ou provável, e o final de querer a protagonista atingida por tudo isto, receptora última da afluência de todas as maldições e do despejo da história, de querer neste último momento a reunião sobre-humana, a cumplicidade que ultrapassa a vida e que é a única vitória possível sobre tudo. 
¹ A Velha dos Cabelos ² Felicidade Sintética ³ A Máquina do Mundo
(continua)
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gralhando · 5 years
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A velha dos cabelos.
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     Por uma certa impureza pensei de você umas coisas loucas e minhas cordas vocais fibrilaram como de uma gata recém-adormecida no colo da velha que durante muitos anos traçou com os pés as linhas das ruas ainda assistidas pelas casas restantes deste lugar. Esta velha todos conhecem. Mora sozinha. Os habitantes da vila têm por ela quase tudo. Medo têm. Respeito também. Assombro? Um tanto bom. Amor, não sei, talvez. Muitas dessas pessoas ela ajudou a vir ao mundo...
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