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#bruxria
A bruxa
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Havia uma vila ao norte, próspera e cheia de vida, com mercadores, tecelões, padeiros, fazendeiros, famílias e crianças . E em uma casa de pedras e madeira mais perto da floresta do que da vila vive uma bruxa. Ninguém sabia ao certo se ela era realmente uma bruxa, mas é o que se deduz de uma mulher sozinha, com hábitos estranhos e que parecia nunca ficar doente, sempre rodeada pelos animais da floresta e nunca atacada por nenhum deles.
Mesmo assim, as crianças da vila jogavam pedras, lama e a atormentavam sem parar. Uma das mais novas tentava fazer as mais velhas pararem, por medo ou por respeito, mas o que conseguia era fazer as crianças mais velhas se voltarem contra ela. Então ela tentou contar os adultos, que só disseram para que ela fosse brincar com as outras crianças e parar de atrapalhar.
Infelizmente, a lama não era só terra e água pura. As crianças ficaram doentes, todas elas. Até a menor, que tentava impedir as outras de serem malvadas com a bruxa.
Os pais logo chegaram à conclusão de que era uma maldição da bruxa, e não o fato de as crianças brincarem a maior parte do dia nos excrementos da vila toda a causa da doença. Enraivecidos, prenderam a bruxa em sua cabana e atearam fogo no telhado de palha trançada.
Os gritos da bruxa enquanto ela queimava se alastraram pela vila, e ninguém conseguiu dormir naquela noite, os gritos recomeçando assim que se deitassem, até que a bruxa tivesse um funeral apropriado. Mas nunca se sabia o que bruxas eram capazes, então os moradores da vila colocaram as pedras que formavam a casa da bruxa sobre seu túmulo, para que ela nunca escapasse.
As crianças aos poucos melhoraram, e logo foi associado à quebra da maldição da bruxa. Sem ter quem perturbar, as crianças se voltaram para a mais nova, dizendo coisas como "a bruxa vai puxar seu pé a noite" para assustá-la e a empurrando até que caísse.
Em uma dessas vezes, a criança caiu sobre um monte de pedras, que nenhuma das crianças sabia o que era, apenas que os adultos não queriam que elas brincassem lá. Ela se machucou, e o seu sangue derramou sobre as pedras. Muito pouco para ser considerado mais que um ralado, mas o suficiente para a bruxa.
As pedras se ergueram, e junto com elas a bruxa, sem qualquer marca de queimado em seu corpo. As crianças mais velhas fugiram para a vila aos prantos, enquanto a mais nova ficou para trás, assustada e fascinada ao mesmo tempo. Mas a bruxa não a atacou, seguindo para a vila, um fantasma vingativo atrás de seus agressores, seguida pelos predadores que viviam na floresta. 
Um dia houve uma vila ao norte, próspera e cheia de vida. Hoje não há mais nada além de casas vazias e ossos, tomada aos poucos pela natureza. E em uma casa de pedras e madeira mais perto da floresta do que da vila vive uma bruxa, ensinada desde pequena pelo fantasma de sua antecessora.
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