Esqueça os fundamentos, rezas e ofós. Você precisa mesmo aprender a entender, sentir e viver a religiosidade. Você acabou de se iniciar no Candomblé e quer se tornar um grande Egbomi, Babá ou Iyalorixá? "Vou me atrever a dar um conselho." Não se preocupe com nada disso. Não queira ser grande. Não tenha pressa de aprender os Ofós, Orikis, Gbaduras, Rezas, Fundamentos, Qualidades, Caminhos, Quedas de Búzios e nada dessas coisas. Se preocupe com isso não. Usa esse primeiros 07 anos (no mínimo) para viver a sua religião. Respire o Candomblé Crie intimidade com a religiosidade, os costumes, o terreiro, a família de santo... Crie uma relação com suas roupas brancas, aceite-as no seu dia-a-dia. Use suas contas em locais públicos, se empodere do que é seu. Os tempos são difíceis, a Intolerância Grita em nossas caras, e pra você que acaba de chegar, os fundamentos e toda a complexidade do rito não devem ser prioridades não. Saiba reconhecer e respeitar o seu lugar, que por mais que grande parte dos sacerdotes menospreze as novas vidas de axé, são extremamente importantes para a continuidade. Tenha consciência disso, saiba que a religião só existirá se você continuar. Aproveite esse tempo bom para mergulhar na história do continente africano, conheça a história do negro no Brasil. Conheça e se Indigne com a história da escravidão no País. Leia sobre racismo. Assista filmes, documentários, compre livros, vá à palestras, junte-se a movimentos sociais, crie grupos de estudos ... Conheça a história da sua religião, da sua nação, do seu Orixá do seu País. Aprenda a responder contra a violência, munido de verdades e pautado em direitos sociais. É importante para resistir. É importante entender e conhecer o mínimo da história daqueles que lutaram para que você usasse suas roupas brancas e fios de contas! Não se preocupe com roupas bonitas! Não se incomode com o fato de precisar andar de cabeça baixa, mas se incomode se alguém te maltratar por isso. Não tem problema algum ser Abian, Iyawo, Elegun. São fases importantes da religiosidade, aproveite esse tempo. 🔴 Continua nos comentários 👇 (em Salvador, Bahia, Brazil) https://www.instagram.com/p/CfGyMeng-Y5/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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Onilé é um Orixá que representa a base de toda a vida, a Terra-Mãe, tanto na vida como na morte, se caracteriza por ser o princípio e representação coletiva dos elegun e Egungun. é o primeiro a receber as oferendas e a ser evocado nos ritos dos sacrifícios. Quase Todo terreiro possui o acento de Onilé, um deles pode ser observado no centro do Barracão de (candomblé), denominado como o fundamento da casa ou simplesmente Axé da casa, onde todos sabiamente reverenciam este local. Também chamado pelo "Povo de santo" de Oluaye, Aiyê, Ilê e Sakpatá. Em algumas tradições, Onilé é uma divindade feminina, representa a Mãe Terra (onde acolhe os ancestrais), Egungun. Conta-se que quando Olorum reuniu os orixás para dividir o poder sobre a criação entre eles, uma de suas filhas, Onilé, escondeu-se sob a terra. E acabou ganhando por este motivo poder e autoridade sobre ela. A primeira parte de todos os sacrifícios de (Ejé) sangue é sempre derramada sobre a terra, independente de para qual entidade ou divindade seja o sacrifício, este gesto é uma forma de lembrar e reconhecer o poder de Onilé. Tudo vem da terra e a ela retorna. MOJUBÁ! E KÁÀRÓ-> (em Ilê Axé Odé Ofá Ominderé) https://www.instagram.com/p/B9f0TaBnbB0/?igshid=ltho1coj0fwg
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O UNDERGROUND CONTINUA VIVO E NDNSS PROVA ISSO
Nada de Novo Sob o Sol. Esse é o título de uma pequena obra de arte, lançada esse ano pelo Trevo. A frase já é intrigante por si só e nos faz pensar se realmente há algo de novo ou se só estamos repetindo as mesmas atitudes e escolhas. Deixo aqui o pensamento: o que foi, é o que há de ser? O que se fez será refeito?
Acredito que o título do álbum foi premeditadamente pensado. Ou não. De qualquer maneira ele nos faz pensar se tudo é uma repetição daquilo que já fazemos e vivemos. Pensadores dizem que o ser humano tem a capacidade de ser muitas coisas ao mesmo tempo. O bem e o mal estão dentro do mesmo ser humano. O que se manifestará é só uma questão de ocasião.
Trevo deixa essa dualidade muito bem descrita na Intro do álbum, em versos como:
Eu sou a guerra que busca o amor
Nascido entre os dois, eu sou dualidade
Hoje eu sou seu afago, amanhã sua dor
Filho de LogunEde, como o próprio declara no álbum, a intro também traz um dos versos mais encantadores para fãs de rap filhos do asé:
O beijo de mamãe me entrega a papai
O eclipse molda o menino
Oxum soberana, o sol, a riqueza
Oxóssi o sereno, é a lua nos rios
Mas o CD não se resume a referências à Òrisás. A obra também apresenta temas importantes e que andam completamente atreladas a essas religiões. Na segunda faixa Iago, nome verdadeiro do rapper, apresenta uma questão muito discutida recentemente, principalmente no rap nacional: O enbranquecimento da cena.
A faixa intitulada Escurecimento, traz um refrão pesado, mas que gruda na sua cabeça e você quando você menos percebe, tá cantando pelos cantos:
Denegrindo a cena e não é blackout
Gritando pros burgueses White out
Escurecimento nos laranja, fato
Tornando tudo negro e nem é enzimático
No candomblé, a iniciação de um yaô é o rito de passagem de uma vida para outra. A partir do momento que os atos de asé são feitos, o iniciado terá uma nova vida, de onde renascerá, não um homem comum, mas o instrumento do seu Òrisá, que por sua boca e seu corpo falará e se manifestará, aumentando assim seu conhecimento e conquistas.
Trevo se mostra iniciado para começar algo maior. O artista se apresenta como alguém que veio para trazer justiça e, sem dúvidas, mudar a cena do rap nacional.
Machado cobra o injusto, dá coragem pra Dandara
Um elegun com sua adaga velejando pelas águas
Já pensando em dar o troco pelo preço que lhe pagam
A terceira faixa não deixa de transitar por esse mesmo universo religioso. Gira é uma das love songs mais sinceras que já ouvi. A track retrata o real relacionamento amoroso, destacando principalmente o poder que o outro tem sobre nós. E o melhor de tudo, iniciada ao som forte de atabaques, que só quem é sabe o que sente ao ouvir o tremor desses tambores. Assim como o amor.
E gira, vem com sua gira
Me engole como uma leoa faminta
Sempre que o instinto selvagem aflora
A orquestra se adapta com a gritaria
Em seguida, a tracklist emenda com mais uma possível love song. A faixa pode ser considerada também como um autorretrato, uma das mais sinceras do álbum - ainda naquela ideia de dualidade do ser humano. E por que pode ser também é uma love song? Amor próprio e autoconhecimento.
Espelho, arco
Osíris, Isis
Deuses, deusas
Água e fogo
Paz e guerra
Sol e chuva
Rio e mata
Amor e jogo
Bala e fogo
Eu sou o jogo
O quinto som do álbum eu prefiro nem falar muito sobre ele. Prefiro abordar o título. Após ouvir Girassol / Giramundo fica o pensamento do quanto o girassol lembra a humanidade. Será que alguém se lembra que o girassol só se vira para o lado que o sol está? A vida de todo ser humano é feita de altos e baixos. Luz e escuridão. Sol e chuva. Realmente vale a pena olhar só para o sol e encarar apenas uma realidade?
As vozes dizem, bebe o vidro
Veja o que eles vivem
Aperte o cinto e sinta o medo que jamais sentiram por nunca arriscarem a vida
Na track seguinte, Aruanda, Trevo volta a explorar a temática religiosa. As religiões que acreditam em progressão espiritual, como a umbanda e o candomblé, creem também que vivemos apenas enquanto toda nossa sabedoria é dividida e usada a favor de outros. Aruanda é uma espécie de colônia habitada por espíritos que aceitaram a missão de continuar a ajudar os homens, mesmo depois de partirem do plano físico.
Vou me embora, sim, senhor
Aruandê, Aruanda
Aruanda pode ser considerado o paraíso, como os cristãos acreditam, mas o mais importante é a decisão de chegar em um lugar bom e mesmo assim não deixar de ajudar quem precisa de orientação. Como Trevo está fazendo com esse disco.
Pela liberdade que a tropa avance
Trevo não morre, é por isso que canta
Mate-me a fome, eu tô longe dos homens
Canto pro mundo, eu tô perto do santo
Na sexta track Trevo apresenta um atrativo pra essa era Trap Boys, um beat com uma leve puxada pro trap. Mas não se engane, a faixa vai além do beat.
Acesso fica bem mais facin'
Bando se encaixa no frame
O sonho é tão perto do pretin'
Eles não enxergam de pertin'
Após os três minutos dessa mesma faixa, o beat deixa de lado a levada trap e se torna algo completamente orgânico, onde é possível ouvir ao fundo tambores, sintetizadores, guitarras e uma puta produção de cair o queixo.
Rivais, rivais não vão me ver
Não vão me escutar ao som da bela noite
Meu pai, meu pai vai proteger
Vai me guiar na selva pela noite
Em 888, Trevo volta com a levada de trap, agora com direito a skrr e palavras gringas. Mas isso não significa que a faixa é só sexo, drogas e garotas (nada contra o trap).
Tamo no corre da tinta
Sempre no corre da tinta
Com a participação do Senpai, o som não deixa de ter letra e uma produção foda. Ao fundo se pode ouvir solos de guitarras muito bem encaixados com a levada do beat e do flow dos participantes.
Verso a saga, caneta dourada
Escrita sagrada na mão dos da gang
Meus pivete junto as pele coffe
Se distanciando das pele cocaine
O último som, mas não menos importante, Trevo encerra os quase 40 minutos de música com o mesmo pensamento do início: a nossa dualidade.
Como provamos quem somos?
Nós inventamos os sonhos? Ou somos?
Planos, para que serve se mudamos todo dia?
Enfeitamos com poesia
E aceitamos ser inferior como dizem que somos
Porra nenhuma, nós somos os donos
O disco termina ao som de atabaques enquanto Trevo entoa “Bate tambor. Salve, Seu Pena Branca”. Exalando mais uma vez a referência às religiões de matrizes africanas.
O álbum reúne muitas das coisas que eu gosto, entre elas: rimas afiadas, referências às religiões afrodescendentes e um som orgânico muito bem produzido.
Só uma certeza me restou após ouvi-lo centenas de vezes. Há sim algo de novo sob o sol. E esse novo veio com o sotaque baiano de um jovem que se denomina Trevo. O puro ouro do Orun.
Por: Damaris Rodrigues
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