Professor Apaixonado
Há 11 anos atrás, quando eu tinha 14 anos, comecei a frequentar um curso técnico, e lá estava eu, perdida, sem conhecer ninguém, até que avisto um menino que eu costumava a brigar sempre que me dei por gente. Vou chamá-lo de W para vocês o identificarem.
Então vi o W, e como ele estava na mesma situação, nos conectamos no mesmo instante, eu a antissocial na época e ele um menino que era desinibido para fazer amizades.
Quando entramos no curso, ele já começou uma amizade com a A e o T (não vou colocar seus nomes, pois não sei se eles algum dia irão ver essas postagens e eu não quero expô-los mais ainda usando seus nomes), e logo todos nos tornamos um grupo super unido que fazia tudo junto.
Durante uma das aulas, conhecemos um professor chamado E, que por sinal era vizinho do T. Ele era um cara de 30 anos creio eu, mas que se enturmou conosco como se tivesse a nossa mesma idade, veja bem eu e W tínhamos 14 anos, T e A 18, mas todos pensávamos da mesma maneira.
Eu sempre carregava comigo uma pasta em que eu imprimia as letras de musicas favoritas, e sempre que dava, entregava para um amigo adicionar mais alguma ou me escrever algo e nisso entreguei para E. Em uma de suas aulas ele devolveu minha pasta e me disse que havia deixado algo para eu olhar e ele que gostaria de uma resposta.
Como a curiosidade sempre mata o gato, fucei toda a pasta até encontrar duas musicas anexadas, Imagine, Beatles e Monte Castelo, Legião Urbana, impregnadas com o cheiro de seu perfume. Não entendendo o que ele quis dizer com querer uma resposta, tirei as 2 musicas da pasta e descobri que no meio delas, existia outra folha, mas não era uma música e sim uma carta.
Li a carta. Nela ele me contava que já tínhamos nos encontrado antes, no cinema, no dia em que estreou Harry Potter. (Nesse dia um grupo de 10 amigos e eu decidimos assistir a estreia, enquanto os meninos ficavam na fila, as meninas iam comprar as coisas que iam comer, e depois assumíamos a fila para eles fazerem o mesmo. Só que só eram dois meninos, então quando voltamos à fila, que já estava enorme, assumimos o lugar dos meninos). Eu e as meninas cortamos a frente dele na fila do cinema.
Ele me disse nessa carta, que desde que ele me viu nessa fila, meu sorriso iluminou-o e que desde então ele vinha sentindo coisas, que se era somente ideia da cabeça dele, tudo bem, mas senão ele gostaria que eu fizesse qualquer coisa, como apertar a mão dele, sorrir, ou até beijá-lo.
Advinha o que eu fiz?
Eu o abracei.
Não me leve a mal, e por mais que seja difícil admitir, apesar de eu me achar sempre mais madura do que minha idade, eu não era. Poxa, eu só tinha 14 anos, (com 14 anos a 11 anos atras, eu ainda brincava de boneca praticamente) eu não entendi o conteúdo da carta. Achei que ele queria ser meu amigo, não só professor, não vi as entrelinhas.
Mostrei para a minha melhor amiga K, e ela entendeu na hora e me alertou do que se tratava, mas não acreditei, achei que ela estava com inveja, pois tinha um “amigo mais velho”, e me afastei dela. Ahh se eu soubesse a cagada...
Um dia saindo da aula de laboratório de E, ele me segurou na classe com o pretexto que tinha que me mostrar algo em um exercício que tínhamos feito. Ele veio cobrar o beijo da carta, porque ele queria pelo menos um de verdade, eu congelei, a ficha caiu e eu disse que não, dei um beijo em seu rosto como eu sempre fazia para me despedir de meus amigos, e sai o mais rápido que consegui de lá e fui para meus amigos.
Não podia contar para K, pois tinha brigado com ela defendendo o E, e o orgulho me impedia de dizer que ela estava certa e de ouvir um grande eu te avisei. Não podia contar para ninguém, não confiava em ninguém. Isso acontece quando você cresce sozinha no mundo.
Resolvi lidar do meu jeito, tentei não ficar sozinha com ele no mesmo lugar, e segui em frente.
Lembra do T que mencionei lá em cima?
Me aproximei ainda mais dele, conversávamos por horas, pelo MSN, pelo orkut e principalmente por e-mail.
Abri meu coração pra ele e ele fez o mesmo por mim, mas não contei sobre o que rolava nos bastidores, não era a hora ainda.
Um de meus defeitos na época era querer agradar a todos e não dizer o que pensava, além de ser carente de atenção, algo que eu não tinha. Tudo que eu queria naquela época era ser abraçada, me sentir segura, e E percebeu, então todos os dias ele me dava um abraço de oi e de tchau.
Din Din Din, alerta vermelho!
Mas na minha cabeça de 14 anos não existia essa maldade, era normal pra mim, mesmo que ele só fizesse a mim.
Minha mãe sentiu o cheiro do perfume dele em minhas roupas e perguntou para a minha irmã, que estudava no mesmo colégio, porém em outro curso, se ele o professar E abraçava as outras alunas dele, minha irmã respondeu que não. No dia seguinte ela entrou em contato com a diretora e contou o que estava acontecendo.
Ele foi chamado na diretoria, levou uma advertência verbal. Depois escondido ele me disse que não poderia mais me abraçar em público.
Fiquei de certa maneira, arrasada, pois precisava desse abraço (já disse que era carente de atenção).
Ia sentir falta do abraço do meu amigo...
Nesse meio tempo, as coisas com o T foram ficando mais intensas, e em uma das aulas no anfiteatro em que assistíamos um filme ( A Fantástica Fábrica de Chocolates) eu o beijei, e a partir dai não nos desgrudávamos. Meu lindo namorado Nerd.
As férias vieram, e eu passava muito tempo na casa do T (já mencionei que ele era vizinho do E?), então as vezes nós íamos na casa dele também. Na época andava com um bichinho de pelúcia chamado Mel, um caracol rosa. Em uma dessas visitas ele “sequestrou” a Mel, porque estava com saudade, e mais uma vez não entendi o real significado da brincadeira e novamente entrei no jogo sem saber direito o que estava jogando.
Não me leve a mal de novo, eu amava o T, não era mais tão carente quanto eu pensava, pelo menos era o que eu pensava, então falava que a Mel sentia falta dos abraços, e fui mal interpretada.
A coisa realmente ficou séria, quando um dia ele me chamou no meio da aula no corredor, no pretexto de conversar sobre uma prova e uma nota que eu havia tirado, e eu fui. Foi quando ele me disse que iria sair de casa, vender o carro e comprar um terreno para construir uma casa pra gente, OI?
Fiquei sem reação, congelei de novo, e automaticamente voltei ao meu lugar, e mais uma vez não contei a ninguém.
Nos dias e semanas que se passaram eu como uma boa amiga, comecei a aconselhar E, que se resolvesse com a esposa (eu sei, esqueci de mencionar que ele era casado, pois bem, ele era), que ele a ouvisse, que muitas das ações dela eram marcadas pelo ciumes que sentia dele, e que se sentia ciume é porque o amava. Todas as nossas conversas giravam em torno disso.
Eu e T tínhamos uma mania de que quando um falava eu te amo, o outro pedia uma prova, e eu tinha decidido que quando ele me pedisse a prova eu contaria a ele o que estava acontecendo.
Foi o que eu fiz.
Puxei ele de canto e contei resumidamente o que estava acontecendo, e para a minha surpresa: Pasmem! ELE JÁ SABIA! Como assim?
Ele me contou que E espalhou para todos que uma aluna era apaixonada por ele, mas que todos acreditavam que era uma outra menina da minha sala.
Fiquei totalmente sem palavras, o que ele havia falado de mim?
Depois de saber disso, declarei gerra a E. Mandei e-mails xingando ele, mensagens no msn, entre outras coisas.
A raiva tomou conta de mim.
E nunca mais comentamos sobre esse assunto.
Eu e T, continuamos namorando, por mais 3 meses depois disso. Eu terminei nosso namoro por e-mail, (não, eu não me orgulho disso) e sempre disse que terminei porque ele me sufocava, pois sempre que marcava uma hora comigo ele aparecia 3 horas depois. Mas foi recentemente que tive a consciência do porquê terminei, e foi porque ele não me defendeu. Ele sabia o que estava acontecendo e não estava lá quando eu precisei, eu senti que ele não me apoiou, não me deu suporte quando eu precisava.
Só me levou mais de 10 anos para entender tudo isso.
Para entender o quão chateada fiquei, o quão marcada estava.
Se alguém ainda lembra dessa história?
Não sei, talvez só os envolvidos.
Eu sei que eu lembro.
Se você leu, não julgue ninguém nessa história, todos são culpados e inocentes na sua medida.
Até Breve.
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