harry e s/n terminaram, mas ainda se amam e sentem falta um do outro
PALAVRAS BÊBADAS, PENSAMENTOS SÓBRIOS
Quando o toque de seu celular soou alto pelo quarto escuro, iluminado apenas pela luz fraca da lua e de algumas casas adjacentes, você precisou se esforçar um pouco mais do que o normal para acreditar que o nome de Harry realmente era aquele que brilhava no visor do aparelho às duas e quarenta e sete da manhã.
Quando você dirigiu até lá e se atreveu a entrar naquele bar tão familiar, mas que sustentava memórias tão radiantes, agora dolorosas, seu olhar não precisou de mais do que dois segundos para encontrar aquele que era o motivo de suas insônias há mais ou menos dois meses.
Praticamente deitado sobre o balcão de madeira escura, Harry parecia suplicar ao velho Sr. Murphy por uma outra dose de whisky. O irlandês de cabelos grisalhos polia algumas taças distraidamente, como se a presença do cantor britânico fosse, na verdade, uma ilusão de óptica, visível apenas para seus olhos.
A saída urgente e não planejada em meio à madrugada do inverno londrino não lhe permitiu pensar em um visual digno de holofotes. O pijama de manga longa, elaborado em uma malha escura de algodão, era a única peça que protegia seu corpo por baixo do fino sobretudo cor de pêssego, o look se tornando completo com a junção estranha de um par de chinelos felpudos que estavam próximos à sua cama.
Seus sapatos não eram barulhentos sobre o piso vinílico, mas o cheiro de seu perfume era facilmente captado por aquele que um dia fora acostumado a senti-lo durante grande parte do tempo. Harry não queria parecer ansioso demais ou ter seu coração partido por impressões que poderiam ser facilmente utópicas, mas seu corpo sequer hesitou ao olhar em direção à entrada, olhos esbugalhados ao encontrá-la ali, finalmente parecendo palpável o suficiente para não ser considerada irreal.
“S/N,” ele murmurou atônito, piscando algumas vezes como se esperasse que você sumisse a qualquer momento, “o que você está fazendo aqui?”
“Eu deveria ser a única a fazer essa pergunta, Styles.”
Você se aproximou lentamente, oferecendo ao homem robusto por trás do balcão um sorriso de desculpas, envergonhada pelo comportamento completamente irresponsável de seu ex-namorado. O bar já deveria estar fechado há muito tempo, geralmente com seus trabalhos encerrados logo às dez da noite. Sendo tocado por um casal de idosos estrangeiros, você tinha certeza de que não fazia parte da rotina estrita dos holandeses ouvir lamentações embriagadas de um cantor famoso.
“Me desculpe por isso, Sr. Murphy.” Você lamentou, desviando os olhos para expressar toda reprovação possível ao britânico que continuava sentado à banqueta, ainda lhe encarando boquiaberto. “Eu vim o mais rápido que pude.”
O mais velho sorriu, gesticulando despreocupado. “Não se preocupe com isso, mocinha. Nós lamentamos tirá-la da cama tão tarde quando sabemos que vocês não estão mais juntos, mas você parece ser o único assunto para esse jovem de coração partido, e Muriel concordou que não seria uma boa ideia ele dirigir por essa cidade tão perigosa nessas condições.”
Você acenou prontamente, colocando um dos braços envolta dos ombros largos de Harry, o incentivando a se erguer. Ele atendeu ao seu pedido silencioso com um pouco de dificuldade, vacilando algumas vezes antes de enterrar o rosto em seu pescoço, aspirando profundamente a fragrância doce que exalava de sua pele quente.
“Senti falta do seu cheiro.”
Corando profundamente sob o olhar atento do irlandês, você agradeceu aos céus ao ter toda a atenção desviada para as portas de aço que levavam à cozinha, Muriel deixando o cômodo com olhos cansados e um pano de prato sobre os ombros, abrindo um sorriso instantâneo ao vê-la ali.
“Oh, querida, há quanto tempo não nos vemos!” Ela exclamou animada, contornando o balcão rapidamente antes de te convidar para um abraço caloroso, dando tapinhas fracos no peito de Harry, ainda apoiado em seu corpo. “Esse jovem não parece conseguir esqucê-la, filha. Espero não estar sendo intrometida, mas acho que vocês precisam de uma conversa adequada.”
Você sorriu pequeno, concordando antes de encarar o moreno que estava praticamente adormecido ao seu lado, agarrando sua cintura como se a vida dependesse disso. “Eu não poderia deixá-lo sozinho nessas condições, Sra. Murphy. Agradeço por ter compartilhado meu número com vocês, os paparazzi teriam tido um dia de festa se o encontrassem em um estado como esse.”
“Toda essa preocupação é amor, querida.” A senhora de cabelos vermelhos afirmou, erguendo a mão direita para segurar uma de suas bochechas carinhosamente. “Vocês são almas gêmeas, percebi isso desde que esse garoto chegou aqui com um sorriso que mal cabia no rosto, divagando sobre a mulher mais bonita e inteligente que já havia visto na vida. Essas são palavras dele, é claro.” Piscou. “Tempos difíceis são passageiros, mas virão para assombrá-los de vez em quando. Vocês só precisam deixar o amor falar mais alto e tudo ficará bem.”
Como vocês haviam chegado àquele ponto, afinal?
Harry havia embarcado para os Estados Unidos há quatro meses para o início das gravações de Don’t Worry, Darling. Há dois anos juntos, vocês já estavam acostumados com a distância e com os rumores, então por que de repente os argumentos ficaram mais constantes e a promessa de não irem para a cama como se não houvesse um elefante na sala de estar ficara para trás?
O cantor estava nervoso com o novo trabalho, empenhado demais em corresponder às expectativas do público para se importar com a namorada de longa data que o esperava do outro lado do mundo junto de seus problemas triviais. Ele não pensou que seria grande coisa ignorar algumas ligações aqui e ali, até porque, você sempre se lembraria de tentar entrar em contato mais tarde. Talvez ele não devesse tomar como garantido aquilo que poderia ser facilmente mudado com a intercessão de suas pequenas ações, só percebendo a gravidade de suas escolhas quando passou a ser o único a ser encaminhado à caixa postal.
Suas mãos estiveram entrelaçadas durante o curto trajeto de quinze minutos que ligavam o bar da família irlandesa ao seu pequeno apartamento no centro de Londres. Harry estava com a cabeça encostada na janela, observando o movimento das luzes que ainda adornavam a capital inglesa, garantindo que sua mão não estivesse afastada mais do que o tempo necessário para a troca de marcha.
Silêncio contínuo, seus olhos não voltaram a se encontrar até que você estivesse o conduzindo até o elevador do prédio. Ele já parecia melhor, um pouco mais sóbrio, mas não se afastou nem por um segundo, o queixo apoiado em sua cabeça enquanto vocês subiam até o quinto andar.
“Eu nunca pensei que diria isso, mas senti falta dessa musiquinha irritante.” Harry murmurou, referindo-se ao toque desagradável do elevador, algo no qual ele sempre fora acostumado a reclamar.
Você acenou em concordância, mas preferiu não responder àquela afirmação tão espontânea enquanto ele parecia completamente aéreo.
Nos últimos dois meses, poucos sabiam o quão difíceis haviam sido os dias sem Harry. É claro que seu tempo corrido, preenchido principalmente por estudos incessantes e um trabalho de meio período em uma pequena cafeteria próxima à faculdade, servia como grande ajuda para distraí-la da grande turbulência que afetava sua vida pessoal. Entretanto, apesar de passar grande parte do dia em meio a inúmeras anotações e distintos aromas de café, não havia ninguém ao lado quando o relógio chegava às 10:00 PM e sua cabeça estava deitada no travesseiro frio, você sendo sua única companhia.
“As toalhas estão no mesmo lugar.” Você informou ao chegar ao banheiro, entregando a ele as embalagens de shampoo e condicionador que costumavam ser os seus favoritos, ainda intactos no armário embaixo da pia. “Pode me chamar caso precise de alguma coisa, estarei no quarto.”
Balançando a cabeça, Harry murmurou um pequeno “obrigado” antes de forçar um sorriso e encostar a porta minimamente, permitindo que você finalmente soltasse o suspiro que parecia estar aprisionado à décadas.
A situação era estranha, para dizer o mínimo.
Você passou aproximadamente sete minutos sentada à borda da cama, olhando para um ponto fixo enquanto aquele odor familiar de hortelã se fundia ao de seu sabonete preferido, o vapor quente zarpando ao redor da porta entreaberta.
“S/N!” Harry chamou alto, mas parecendo tímido ao mesmo tempo. Por mais que todo aquele cenário sugerisse o contrário, ele não queria incomodá-la mais do que o necessário. Ele havia ponderado a possibilidade de fazer aquilo sozinho uma dezena de vezes, mas sabia que suas estimativas bêbadas eram 99% inconfiáveis. “Acho que não consigo sair do box.”
O cantor se apoiou à parede úmida e fechou os olhos fortemente, esperando que aquela ação ajudasse a aliviar a tonteira que ainda dominava seu corpo. Ele havia tomado a primeira dose de whisky às oito da noite, parando apenas quando Sr. Murphy se negou a servi-lo uma outra vez, já às uma da manhã. Harry havia escutado o casal de idosos cochicharem sobre a possibilidade de contatar sua ex-namorada, mas não colocou fé nos murmúrios até que ela estivesse em sua frente. Dentre inúmeros eventos que poderiam ocorrer naquele final de semana, Harry sequer cogitou que encontrá-la poderia ser um deles.
“Estou entrando, ok?” Você anunciou, tateando qualquer coisa tangível que estivesse na frente, mantendo os olhos longe de Harry e suas... partes baixas.
“Eu já estou de toalha, S/N.” Ele disse com um sorriso de canto, segurando uma risada. “Você pode olhar.”
Escorado sobre o lavatório esculpido em mármore, Harry parecia despreocupado enquanto inclinava o queixo para observá-la. Ele tentou manter a expressão impassível durante todo o tempo, mas ninguém saberia o quão altas foram as batidas de seu coração quando você alcançou a pequena toalha felpuda que ficava próxima à prateleira, chacoalhando os cachos castanhos no tecido macio antes de afastar as madeixas molhadas de sua testa.
“Oi.” Ele murmurou pateticamente, corando sob o seu olhar atento.
“Você é lindo até mesmo quando está bêbado, isso deveria ser proibido.”
Harry riu baixinho, permitindo que os dedos longos fossem de encontro às suas bochechas, iniciando um carinho terno ali.
“Senti sua falta.”
Você sorriu quase que tristemente, balançando a cabeça em negação.
“Você está bêbado, Harry.”
O cantor suspirou alto, encostando a testa na sua antes de acenar positivamente à sua afirmação. “Você está certa.” Ele disse franco, fechando os olhos enquanto aproveitava a sensação gostosa daquela aproximação, a saudade doendo em seus ossos após tantas semanas. “Você está certa, mas se você me der a chance, posso repetir tudo isso pela manhã.”
Você estava prestes a desabar em lágrimas novamente. Harry tinha todo o seu amor e devoção, mas seu coração estava tão machucado quanto estivera há dois meses, a dor ainda parecendo permanente.
“Você me machucou.” Você proferiu em meio a um engasgo, finalmente permitindo que a tristeza escorresse pelo canto dos olhos. “Você prometeu que não faria isso, mas fez da mesma forma.”
A imagem de Harry chorando em sua frente poderia facilmente ganhar o prêmio de “coisas que mais partiram o seu coração em pelo menos vinte anos”. Ele se emocionava facilmente ao cantar suas próprias músicas, ao ver filmes dramáticos ou qualquer coisa do tipo, mas aquele tipo de tristeza parecia diferente... parecia doer na alma.
Harry sabia que doeria. Ele sabia que teria o coração partido em dois (novamente) ao ter aqueles malditos erros verbalizados por você. Ele esteve praticando por horas em frente ao espelho, se sentindo como um adolescente enquanto ensaiava diferentes maneiras de se desculpar por ser um namorado tão idiota, uma pessoa tão idiota. Ele deveria ter respondido às suas mensagens e ao correio de voz, dizer o quão orgulhoso estava por você ter conseguido aquela promoção no trabalho e como estava feliz por Joy, sua melhor amiga, ter conseguido se livrar daquele casamento tóxico no qual esteve presa por anos.
Harry foi como um fantasma durante todo aquele tempo, evaporando sem aviso prévio enquanto você era encoberta pela névoa da tristeza e da saudade.
“Me desculpe.” Ele pediu entre um soluço, apoiando a cabeça em seu ombro. “Eu sou um completo idiota, S/N. Eu-eu estava tão nervoso sobre o que falariam sobre mim, preocupado se me achariam suficiente para estar em um filme com tantos atores experientes, que acabei me esquecendo de ser suficiente para você.”
Enrolando os braços envolta da cintura do homem que amava, você finalmente sentiu que uma parte daquele peso havia sido arrancado de seus ombros. Harry estava arrependido, quebrado, e o conselho de Muriel estava impregnado em sua cabeça como um mantra, mais perspicaz a cada segundo.
Tempos difíceis são passageiros.
“Também senti sua falta, Harry.”
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Luas de Saturno
Ignorância tentar me convencer que não preciso de você, e eu sei que vai contra toda e qualquer lei de autossuficiência, mas quem liga para as leis? por qual motivo eu tentaria me convencer que não depender de você seria fato para mim, se o meu interior sabe que isso não é verdade?
Eu me apeguei tanto a sua presença que tudo o que eu faço eu me lembro de ti, eu sei que, cada passo sozinho se torna mais lento ao comparar-se à momentos que eu dividi com você?
Aquela sorveteria já não é a mesma, e eu não consigo encontrar sentido naquele lugar quando estou sozinho, pois, era nosso momento de conversar e desabafar, com os mesmos sorvetes de sempre, de sabor chocolate com baunilha e cereais de chocolate por cima. O meu canudinho de biscoito você sempre tomava pra ti, e eu brigava de mentirinha, pois dentro de mim eu sentia algo bom, eu te daria o mundo, e um canudinho de bolacha qualquer se torna um nada em meio a isso.
Não consigo mais sentar na calçada de casa sem me lembrar de ti, pois, sempre nos fins de noite era o nosso local, de conversar e se entreter, de falar mal dos outros ou reclamar de acontecidos no dia. Era nosso momento de colocar qualquer pensamento ou ideia ruim para fora, jogávamos no lixo.
Eu sempre gostei de tirar sarro de você, pois tu ficavas vermelho, e teus olhos de cor castanho claro brilhavam tanto que chegavam a ficar verdes, eu sei, era apenas uma ilusão de óptica, mas quem liga? eram bonitos de qualquer jeito.
Minha mãe pergunta por você e pela nossa amizade tão linda que era, e me dói esconder a verdade dela, me dói ainda mais tentar esconder a verdade de mim. Me dói esconder que tudo acabou, por minha causa talvez, já que eu sempre estrago tudo, digo a mim mesmo, mesmo quando talvez a verdade não seja essa, mas sinto-me melhor dizendo esta versão para mim.
Eu criei futuros para a gente, futuros incertos, e as vezes até fantasiosos demais, mas não importa, a fantasia sempre deixou tudo mais bonito. Como quando eu imaginava a gente orbitando as luas de Saturno, escorregando nos anéis e observando nossas próprias vidas lá de cima, na visão de Deus, era o que eu dizia em meus pensamentos. Observando o quanto talvez a gente fosse bonito juntos, de sentimentos ligados e completamente compatíveis. Talvez eu tenha fantasiado demais, e eu sei que tu iria rir disso, mas também sei que acharia belo, e iria desejar que se tornasse realidade. No fim, nem a sorveteria, nem a calçada de casa, nosso lugar se tornou as luas de Saturno, tão improvável quanto nosso futuro, mas tão belo quanto minhas fantasias. Adeus.
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