Seminário de Epistemologia (PPGLM/UFRJ) / Questões de Teoria do Conhecimento (PPGFIL/UERJ)
Curso História Feminista da Filosofia
Professoras: Carmel Ramos, Ulysses Pinheiro, Carolina Araújo, Izilda Johanson e Cassiana Stephan
Horário: Quinta-feira das 14h às 17h
Local: IFCS/UFRJ (Sala 307A)
OBJETIVO: Formular em regras claras e coerentes uma metodologia de pesquisa em História da Filosofia que seja capaz de justificar a relevância de obras tradicionalmente desconsideradas devido à sua autoria feminina.
PROGRAMA: Há atualmente um vigoroso debate sobre métodos de análise que eliminem da pesquisa em História da Filosofia vieses implícitos de avaliação da contribuição de mulheres (e outras minorias). Este curso pretende discutir essa metodologia não como um objeto teorético, mas a partir de sua aplicação. Ele propõe aos integrantes que estudem as propostas metodológicas em debate para analisar a sua aplicabilidade em pesquisas atualmente em curso na área. A cada encontro um texto previamente compartilhado sobre mulheres na História da Filosofia, em sua maioria de autoria dos professores do curso, será coletivamente analisado à luz das diferentes propostas metodológicas em debate com a finalidade de auferir seu ônus e bônus. Ao final do curso, pretende-se fazer um balanço dos resultados.
PALAVRAS-CHAVE: Epistemologia, Metodologia, História da Filosofia, Feminismo
AVALIAÇÃO: Estudantes deverão apresentar um trabalho escrito de aplicação da metodologia avaliada a um caso de estudo na sua área de interesse. Todos os professores farão uma avaliação qualitativa do trabalho, propondo linhas de desenvolvimento de pesquisa.
BIBLIOGRAFIA:
ALANEN, Lilli; WITT, Charlotte, eds., 2004. Feminist Reflections on the History of Philosophy, Dordrecht/Boston: Kluwer Academic Publishers.
ANTONY, Louise; WITT, Charlotte, eds., 1993. A Mind of One's Own: Feminist Essays on Reason and Objectivity, Boulder, CO: Westview Press.
BEAUVOIR, Simone, Feminst Writings, Margaret A. Simons e Marybeth Timmermann (Org.), University of Illinois Press, Urbana-Champaing, Chicago and Springfield, 2015.
BEAUVOIR, Simone, Le deuxième sexe, I et II, Paris, Gallimard, 1976.
BEAUVOIR, Simone, Moral da ambiguidade, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1970.
BEAUVOIR, Simone, O Segundo Sexo, Vol. 1 e 2, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2020.
BEAUVOIR, Simone, Pour une morale de l'ambiguïté, Paris, Gallimard, 1947.
CARNEIRO, Sueli. Dispositivo de Racialidade - A construção do outro como não ser como fundamento do ser, Rio de Janeiro, Zahar, 2023.
CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro. 2011.
CARVALHO José Jorge de. "Notório saber para os mestres e mestras dos povos e comunidades tradicionais. uma revolução no mundo acadêmico brasileiro". Revista UFMG, Belo Horizonte, v. 28, n. 1, p. 54-77, jan./abr. 2021.
CARVALHO, José Jorge de e VIANA, Letícia - "O encontro de saberes na universidades. Síntese dos dez primeiro anos". Revista Mundaú, 2020, n. 9, p. 23-49.
CARVALHO, José Jorge de. Encontro de Saberes e Descolonização: Para uma refundação étnica, racial e epistêmica das universidades brasileiras. Em: Joaze Bernardino-Costa, Nelson Maldonado-Torres e Ramón Grossfoguel (orgs), Decolonialidade e Pensamento Afrodiaspórico, 79-106. Belo Horizonte: Autêntica, 2018.
CÉSAIRE, Aimé - Discurso sobre a Negritude, São Paulo, Nandiara, 2010.
CÉSAIRE, Aimé - Discurso sobre o colonialismo, São Paulo, Veneta, 2020.
DAVIS, Angela. A liberdade é uma luta constante. São Paulo: Boitempo, 2018.
DAVIS, Angela. Mulher, Raça e Classe, São Paulo: Boitempo, 2017.
DORIN, E. L’évidence de l’égalité des sexes. Une philosophie oubliée du XVIIe siècle. Paris : L’Harmattan, 2000.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas, São Paulo, Ubu Editora, 2020.
FEDERICI, Silvia, O ponto zero da revolução. Trabalho doméstico, reprodução e luta feminista, São Paulo, Editora Elefante, 2019.
FRATESCHI, Y. "Filosofia e humanidades: as blindagens de uma historiografia sexista". In : Revista Discurso, v. 52, n. 1 (2022), pp. 28-44.
FREELAND, Cynthia 2000, “Feminism and Ideology in Ancient Philosophy,” Apeiron, 32(4): 365-406.
GELAMO R., GARCIA A. e RODRIGUES A., Descolonizar a filosofia brasileira. desafios éticos e políticos para as filosofias do Sul Global. Transformação, 45, 2022, pp. 415-438.
GONZALEZ, Lélia, A categoria político-cultural da ameficanidade. IN: Pensamento Feminista - conceitos fundamentais. Rio de Janeiro, Bazar do Tempo, 2019.
GUEROULT, M. "The History of Philosophy as a Philosophical Problem". The Monist, 53 (4), pp. 563-587, 1969.
GUEROULT, M. "La méthode en histoire de la philosophie". Philosophiques, 1, (1), pp. 7-19, 1974 Recuperado de: :
HAGENGRUBER, R. "Cutting Through the Veil of Ignorance: Rewriting the History of Philosophy". IThe Monist, 98, pp. 34-4, 2015.
HARAWAY, Donna, Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial Cadernos Pagu (5) 1995: pp. 07-41.
HARDING, Sandra, "A instabilidade das categorias analíticas na teoria feminista" Estudos Feministas, 27 nº 1/1993.
HOLANDA, Heloísa B. (org), Pensamento Feminista Hoje - Perspectivas Decoloniais, Rio de Janeiro, Bazar do Tempo, 2020.
HUTTON, Sarah. “‘Blue-Eyed Philosophers Born on Wednesdays’: An Essay on Women and History of Philosophy.” The Monist, vol. 98, no. 1, 2015, pp. 7–20.
HUTTON, Sarah. Women, Philosophy and the Historia of Philosophy. British Journal of the History of Philosophy, 27 (4):684-701 (2019).
KISUKIDI, Nadia Yala , "Décoloniser la philosophie ou de la philosophie comme objet anthropologique" Presence Africaine, 192, 2015, pp. 83-98.
KISUKIDI, Nadia Yala, "Le missionnaire desespere ou de la différence africaine en philosophie", Rue Descartes, 84, 2014.
KISUKIDI, Nadia Yala, Le "miracle grec". Tumultes 2019/1 nº 52, Editions Kimé pp. 103-126, disponível em https://www.cairn.info/revue-tumultes-2019-1-page-103.htm
LE DOEFF, Michèle, L'Étude et le rouet - Des femmes, de la philosophie, etc. Paris, Édition du Seuil, 1989.
LE DOEFF, Michèle, Le sex du savoir, Paris, Flammmarion, 1998.
LE DOEFF, Michèle, L'Imaginaneire philosophique, Paris, Payot, 1980.
MERCER, Christia (2019). The Contextualist Revolution in Early Modern Philosophy. Journal of the History of Philosophy 57 (3):529-548.
NOGUERA, Renato."O tabu da filosofia" Revista Filosofia. São Paulo 2014.
Okin, Susan Moller, 1979. Women in Western Political Thought, Princeton: Princeton University Press.
PUGLIESE, N. "O que é a história feminista da filosofia?". Estado da Arte. Recuperado de: https://estadodaarte.estadao.com.br/anpof-pugliese-historia-feminista/
ROONEY, Phyllis, 1991. “Gendered Reason: Sex, Metaphor and Conceptions of Reason,” Hypatia, 6(2): 77–103.
SILVA, Denise Ferreira, Homus Modernus, Rio de Janeiro, Cobogó, 2022.
TUANA, Nancy, 1992. Woman and the History of Philosophy, New York: Paragon Press.
VERGÉS, F. Um feminismo da violência, São Paulo, Ubu, 2021.
VERGÉS, F. Um feminismo decolonial, São Paulo, Ubu, 2020.
WAITHE, Mary Ellen (ed.),. A History of Women Philosophers (Volumes 1–3), Dordrecht: Kluwer Academic Publishing, 1987–1991
WARNOCK, Mary (ed.). Women Philosophers, London: J.M. Dent, 1996
WITT, Charlotte; LISA Shapiro, "Feminist History of Philosophy", The Stanford Encyclopedia of Philosophy Edward N. Zalta & Uri Nodelman (eds.) <https://plato.stanford.edu/archives/sum2023/entries/feminism-femhist/>.
WITT, Charlotte, 2006. “Feminist Interpretations of the Philosophical Canon,” Signs: Journal of Women in Culture and Society, 31(2): 537-552
WEIGEL, S. "O olhar estrábico. Teses sobre a história da prática de escrita feminina". Tradução de Fabiano Lemos (UERJ/ CNPq). (Não publicada). Original: “Der schielende Blick. Thesen zur Geschichte weiblicher Schreibpraxis”. In: BONTRUP. H. & METZLER, J Ch. (ed.s), Aus dem Verborgenen zur Avantgarde. Ausgewählte Beiträge zur feministischen Literaturwissenschaft der 80er Jahre. Hamburg: Argument Verlag 2000, pp. 35-94.
0 notes
Mutange, Bebedouro, Pinheiro, Bom Parto e Farol. Esses são os bairros “fantasmas” no entorno da lagoa do Mundaú, em Maceió, que foram evacuados pelo risco de desabamento recorrente da exploração mineral de sal-gema pela empresa petroquímica Braskem.
Desde 2019, quase 60 mil pessoas tiveram que deixar suas casas pelo medo dos tremores de terra que criaram rachaduras nos imóveis da região. Segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a exploração de 35 minas de sal-gema pela Braskem foi a responsável por deixar milhares de pessoas desabrigadas e transformar bairros antes movimentados e populosos em lugares praticamente desertos.
Desde última quarta-feira (29), os moradores da parte dos bairros que não foram evacuados estão em alerta. Uma decisão judicial levou a retirada de 23 famílias que ainda resistiam ao despejo no bairro do Pinheiro. Segunda a Defesa Civil, a área da mina número 18 ameaça desabar a qualquer momento, com potencial de criar uma cratera maior que o estádio do Maracanã.
Mas em algumas ruas desses bairros o trânsito ainda é liberado. Seguranças particulares, contratados pela Braskem, vigiam os mais de 15 mil imóveis, hoje totalmente abandonados. Os locais passaram a ser propriedades da empresa após paga a indenização, que ainda é contestada por parte dos moradores.
Bairro “desapareceu”
Nessas ruas, casas, lojas e até prédios inteiros tiveram as portas e janelas substituídas por tijolo e cimento, criando muros que impedem a entrada de quem possa buscar algo de valor que os moradores tivessem deixado para trás. Em muitos casos, os imóveis foram cercados com placas de alumínio que cobrem as fachadas.
O mato cresce fora e dentro das casas, que apresentam sinais de desgaste e depredação. Os muros são marcados por uma série de números pintados em vermelho, que indicam os registros de desocupação. Em algumas fachadas, há também pichações; um protesto contra a Braskem e o poder público, ou mesmo desabafos, lamentos pela dor de quem teve que seguir a vida longe do lugar que amava.
A Rua Professor José da Silveira Camerino, que corta o bairro do Pinheiro e está na região da área da mina 18, é um retrato de desocupação e ao mesmo tempo de resistência. De um lado da rua, sem aviso de interdição, parte do comércio local ainda resiste, como um posto de gasolina e uma praça com ambulantes. Do outro do lado, o cenário é o inverso: tudo fechado. Nesta quinta-feira (30), até o Hospital do Sanatório, que fica também nessa rua, transferiu pacientes para outras unidades de saúde às pressas, diante da possibilidade de desabamento da mina 18.
Mateus Costa mantém aberta a loja de autopeças, mas a oficina, do outro lado da rua, foi interditada. Foto: Gésio Passos/Agência Brasil
O comerciante Mateus Costa tem uma loja de autopeças de um lado da Rua Professor José da Silveira Camerino e uma oficina mecânica do outro, uma na frente da outra. A oficina amanheceu, nesta sexta-feira (1), isolada, com aviso de interdição pela Defesa Civil. Seu sentimento é de desalento.
“Você imagina estar situado num bairro e o bairro todo desaparecer? Não existe mais o bairro, não tem mais nada. O comércio caiu 80%. A partir do momento que o seu faturamento cai, você já não consegue manter o mesmo padrão que você tinha. Isso mexe com você de todo jeito. Psicologicamente, eu estou arrasado. Falam que homem não chora, mas tem que chorar um pouquinho”, desabafa.
Mateus foi despejado de sua casa logo em 2019, mas conseguiu adquirir um imóvel com a indenização da Braskem no mesmo bairro, o que segundo ele hoje é tarefa bem difícil. O mercado imobiliário da cidade ficou inflacionado com o deslocamento forçado de tanta gente.
Manuela Rodrigues, de 79 anos, nascida e criada no Pinheiro, mora perto das lojas de Mateus. Enquanto os fundos do imóvel servem como casa, a frente abriga uma pequena mercearia, hoje bastante esvaziada. Não há clientes para movimentar o comércio.
“É triste para quem nasceu, viveu e ainda está vivendo aqui. O que está se tornando é uma tristeza.
Eles estão dizendo que aqui, essa parte nossa, não tem área de risco. Fica uma interrogação, será que não vai acontecer nada aqui? Porque tem do outro lado da rua e no meu lado não tem? Aí eu fico pensando nisso”, questiona.
Manuela diz que a única alegria que ainda restou no lugar é a vista no bairro do Pinheiro. “Nosso pôr do sol ainda é muito lindo, você vê a lagoa [do Mundaú] e o pôr do sol”.
Cleber Bezerra também morou no bairro a vida toda e teve que sair quando os tremores começaram. Conseguiu comprar uma casa em uma região mais distante do Centro da cidade, o bairro do Tabuleiro dos Martins, depois de mais de um ano vivendo do aluguel pago pela Braskem. Aposentado, com 62 anos, visita os amigos com frequência no Pinheiro. Ele relata ter dificuldades para socializar no novo bairro.
“Para mim não foi bom não. Antes era 10 minutos até o centro [de Maceió]. Agora, onde eu moro é a 40 minutos. Tinha amizades, conhecimento, aqui era tudo perto. A gente foi obrigado a sair, né? Você nasce no bairro, cresce no bairro, faz as amizades. Quando você vai para outro bairro, começa tudo de novo, começa do zero, não é mais a mesma coisa”, lamenta.
Entradas de casas e lojas desocupadas foram concretadas para evitar invasões e saques. Foto: Gésio Passos/Agência Brasil
“Cena de guerra”
Em frente ao Hospital do Sanatório, Mário dos Santos tem sua barraca de acarajé há 30 anos. Vendia até 200 unidades do quitute por dia antes do “pesadelo” da Braskem. Hoje, comemora quando consegue vender 50.
“Não tem mais movimento, fechou o hospital. Fica difícil a vida da gente. Já me pediram para sair daqui, a prefeitura avisou que aqui agora é da Braskem. É uma revolta, agora penso até sair daqui, já que vai fechar tudo e não vai ter ninguém. Parece uma cena de guerra aqui. A galera toda está com medo, medo de afundar e morrer todo mundo. No risco, a gente tem que ficar porque é o ganha-pão do dia a dia”.
A história se repete com o feirante Givanildo Costa. Ele teve que deixar sua casa no bairro do Bebedouro, vizinho ao Pinheiro. Ele diz que a situação abalou seu irmão, que tinha uma mecânica no Pinheiro. Com fechamento da loja, veio a tristeza e a depressão, o que piorou a situação da diabetes, que o levou à perda da visão.
“O meu irmão ficou em depressão porque ele tinha uma oficina que aqui no Bebedouro, ele tinha uma renda uns seis mil por mês, e [depois da mudança] chegou a ganhar nem um salário mínimo por mês, tudo por causa da Braskem. Está com depressão, diabetes, derrame, cego, só vê o vulto”.
Os dados da Defesa Civil apontam o afundamento da mina 18 em quase 2 metros de afundamento só nesta semana.
A Braskem confirma que pode ocorrer um grande desabamento da área, mas a mina também pode se acomodar. A Defesa Civil da prefeitura de Maceió pede que a população não circule pelas áreas de risco. A petroquímica diz que já foi pago R$ 3,7 bilhões em indenizações e auxílios financeiros para moradores e comerciantes desses bairros. Mas a única certeza, até o momento, é que parte da região continuará fantasma no meio da capital alagoana.
Com informações da Agência Brasil
0 notes