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kyrellvortigern · 7 months ago
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Com @ethcl, nas ruas de Zelaria.
Apesar de sua habilidade quase natural em arranjar brigas, Kyrell não se considerava uma pessoa de natureza encrenqueira. Ele não procurava confusão, elas pareciam encontra-lo naturalmente e ele simplesmente não possuía o discernimento necessário para evitá-las quando surgiam. Na verdade, até tinha esse discernimento, mas raramente se dava ao trabalho de usá-lo. No entanto, a situação mudava quando estava acompanhado, especialmente por pessoas com hábitos diferentes dos seus. Por isso, quando a amiga se intrometeu na briga prestes a acontecer anteriormente acabou se deixando levar pela amiga para fora do bar, lutando para não ser consumido pela vergonha por tê-la envolvido na confusão anterior.
"Eu ainda acho que você devia ter me deixado quebrar a cara daquele infeliz," resmungou Kyrell, caminhando ao lado dela, mas evitando olhá-la diretamente. "Ele foi completamente desrespeitoso com você. Até um urubu faminto teria mais educação que ele." A indignação ainda fervilhava dentro dele, e ele considerava seriamente a ideia de voltar e terminar o que havia começado. Bastou sair por um instante para buscar bebidas, e o homem já havia se aproximado. Em uma situação comum, Kyrell teria deixado passar, dando alguns minutos a mais para a conversa, mas ao olhar para a amiga por apenas dois segundos, soube que a abordagem havia sido tudo, menos agradável. "Me desculpa," murmurou, a voz um pouco mais baixa. "Eu não devia ter te deixado naquela situação." Virando o rosto ligeiramente, ele finalmente a encarou. "Você está bem?"
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sigridz · 6 months ago
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Salão principal.
Os cotovelos estavam apoiados na mesa, as mãos na cabeça e os pés batendo no chão de forma frenética e impaciente. Estava com dor de cabeça, que parecia descer para o pescoço e se espalhar para os ombros. Tentava se convencer de que era apenas resultado do mal estar e dos acontecimentos com Rá nos últimos dias e não porque tinha visto, ainda mais cedo daquele dia, Cillian e a outra changeling sorrindo um para o outro, bem felizes. Há quanto tempo não o via sorrir daquela forma? Anos! E a outra? A irritante da ponte. Tentava se lembrar do nome dela. Evita? Elena? Ethel? Não conseguia se recordar com perfeição e sequer sabia que queria mesmo ter esse conhecimento. Não queria saber o nome dela, se era amiga dele ou algo a mais. Era outra cosia que tentava enraizar em sua cabeça, que não era da sua conta, embora o corpo parecesse prestes a entrar em combustão e a mente explodir em uma curiosidade não autorizada. Decidiu que deveria se afundar na leitura e esquecer a cena, fazendo o mais racional. Se desse ouvidos ao coração, correria para Cillian e não desejava fazer. Não é da minha conta, não é da minha conta. Sigrid se levantou da mesa de repente, o movimento súbito fazendo cair uma taça de água. Com um suspiro, a khajol se abaixou para tomar a taça intacta e se levantou rápido, a visão escura por um momento antes de ver próxima a última changeling que gostara de encontrar no momento. A fúria a invadiu, fazendo com que desse ouvido aos instintos mais mais cruéis e aos impulsos mais primitivos. Portanto andou até ela, o coração parecendo soar no ouvido enquanto os passos eram firmes e rápidos. "Ethel, não é?" Conseguiu falar, decidindo não chamá-la de changeling. Achava que tinha acertado o nome. "A saturnalia dita gentileza..." Começou, a mão fazendo um gesto para a decoração e evidenciando a sua pulseira encontrada, um presente de Cillian. "Então estou disposta a isso." Para a sua sorte. "Vamos ser civilizadas pelo menos aqui dentro de Hexwood, não é?" A provocação pareceu amargar na boca, porque não iria soltá-la.
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sigridz · 2 months ago
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A curiosidade de Ethel fez Sigrid quase sorrir. "Mais ou menos." A família era complicada, mas ficava feliz em tentar explicar para a outra; ou um pouco disso. "Veja bem, meus pais com certeza aprovariam Cillian. Eles o amariam, eu tenho certeza. Minha mãe fugiu de casa para se casar com meu pai, um homem sem títulos ou influência. Isso quase jogou o nome dos Aruell na lama, mas a irmã dela, minha tia, conseguiu salvar tudo com um bom casamento. Elas são muito diferentes! Eu nasci em uma fazenda distante, Ethel e não conhecia muito do mundo até o início da adolescência, quando vim para a capital morar com a minha tia." Percebeu ter falado demais, explicando o desnecessário até. "Essa é a parte complicada, a parte da cidade, minha tia, meu avô. Eles foram a causa pela qual precisei me afastar antes." Poderiam não ter uma representação no conselho ou uma imensa influência, mas a família tinha direito o bastante para sustentar ameaças e ditar a forma como Sigrid deveria viver. Por um tempo ela tinha se agarrado nisso, até começar a se cansar de todas a amarras. "Então parte da minha família o aceitaria. Outra não, mas não é algo com que eu me importe." A tia as vezes falava que Sigrid era parecida demais com a mãe, mas o que antes quase a ofendia, agora soava como um elogio. "Não seria contra fazer como a minha mãe: me refugiar ao longe com o homem que amo, sem se preocupar se ele se encaixa em padrões ou não. Estou disposta a enfrentar isso." Era a mais pura verdade e esperava que Ethel enxergasse a honestidade em suas palavras, que acreditasse que daria a vida por Cillian se fosse preciso.
Se preparar para o pior parecia terrível, mas Sigrid concordava. Ela só não queria se sentir pessimista e espalhar negatividade, não quando tudo ao seu redor parecia desmoronar. O tecido fino nas mãos parecia um lembrete de tempos mais fáceis, onde a indecisão quanto a cor era o maior dos problemas. Despertar para os conflitos do mundo e perder a ignorância era um fardo difícil de carregar — deixar a futilidade significava abandonar a alienação. E as vezes proporcionava uma grande dor de cabeça. "Tudo está estranho. Ao invés de união, as pessoas parecem mais opostas do que nunca. Até o ar parece mais pesado." Aquela lista de suspeitos era ridícula, ainda que Sigrid conseguisse enxergar motivos em cada um deles. Só não acreditava muito bem. "Nunca me atentei muito a política ou cuidados, apesar da posição que eu almejava. Era loucura e acima de tudo, vaidade." Agora sentia que pisava em ovos que a qualquer momento poderiam quebrar, deixando-a tensa a todo momento. "Ethel, quando isso passar, vamos encomendar um vestido. Dois, na verdade. Um para mim e para você." A oferta era quase uma bandeira branca, uma cuidadosa oferta de paz. Teria que conviver com ela, então talvez um presente pudesse amenizar as primeiras impressões.
Sigrid uma vez tinha levado pérolas para a modista, que tão grata que ofereceu vestidos. Tinha sido um dos presentes do avô e cada vez mais que se afastava dos ideais da família, parecia errado manter as riquezas deles. Então tinha vestidos sobrando na conta de mulher, não tendo mais retornado para reclamar os presentes. A pergunta da Ethel a tirou do pensamento, um sorriso brotando nos lábios. Então ela não sabia ainda que estava passando os dias com Cillian e se ele ainda não havia contado, Sigrid considerou que não era o próprio dever falar. "Estar na presença dela as vezes é difícil, mas não estou precisando aguentar muito." Esquivou-se da pergunta, sem olhar diretamente para a changeling. "Ela tem passado tempo no palácio, oferecendo suporte. Não sei o que ela tem feito, mas está lá. Talvez está puxando saco de Tiye agora, achando que essa vai ser a nova imperatriz." Deu de ombros ao falar baixo, apenas um pouquinho curiosa sobre os rumos da tia.
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Acostumada a interpretar muito nas entrelinhas, Ethel captou a mensagem que Sigrid tentava passar sem que precisasse explicitar os pensamentos mais controversos. Tópicos como aquele já eram, de maneira geral, desencorajados em seu meio – demonstrações de insubordinação podiam ser perigosas, ainda mais considerando que changelings, com poder de fogo ou não, frequentemente estavam do lado mais fraco da corda, o que primeiro arrebentava. Francamente, não esperava encontrar qualquer tipo de comentário que aludisse à insatisfação política da parte de Sigrid; estava positivamente surpresa com a constatação. “Então sua família não aprovaria seu relacionamento com Cillian, eu presumo?” Era uma pena que tivessem que passar por tantas provações para simplesmente ser e estar. Por todas as críticas que pudesse traçar contra os recentes lapsos de julgamento e gestão por parte do imperador, tentar facilitar o acesso mais equiparado para changelings em relação a khajols era algo louvável; nenhuma geração de governantes que vieram antes dele tivera essa preocupação. 
Decidiu somente acenar com a cabeça em confirmação em relação a Erianhood, não possuindo muitas palavras para expressar o estranhamento que vinha sentindo. O Sonhar era seu lugar favorito e ter acesso negado a ele a tornava incompleta. Seu impulso de se isolar do mundo e ficar na companhia de Aygoas ficava cada vez mais difícil de ignorar, ainda que muito sofresse longe dos amigos – o plano era fugaz, de toda forma, visto que o dragão tinha acesso dificultado ao acampamento a que Ethel estava confinada e preferia vê-lo livre e confortável em seu ambiente, mesmo que ela não estivesse. “Acho que o melhor que podemos fazer por ora é se preparar para o pior e esperar que ele não venha. Devemos ter cuidado em quem confiamos e medir as palavras, especialmente em público.” Não que fossem planejar um coup d'état ou algo absurdo naquele sentido, mas sempre preferia pecar por excesso de cautela; o clima político do império já estava instável o bastante.
“Meu foco agora é provar a inocência de Tadhg e Dahlia e tirá-los daquela prisão o mais breve possível.” Changelings não eram exatamente estranhos ao sofrimento, mas ninguém merecia cumprir pena, por mais temporária que fosse, por algo que não havia cometido. Dada a importância da vítima, além de tudo, duvidava que estivessem os tratando com qualquer nível de cortesia. “Gostaria muito de sonhar com um dia em que nosso maior desafio é mesmo escolher um tecido bonito para um vestido novo.” Aquela nunca havia sido a realidade de Ethel e, de muitas formas, duvidava que sequer poderia viver de forma tão diferente e desconectada dos problemas do mundo. Por toda a sua vida, resistir e sobreviver era tudo que conhecia, a ponto de temer não ser capaz de fazer ou ser outra coisa. “Agora que compartilha de outra perspectiva, não está difícil morar novamente com sua tia?
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sigridz · 7 months ago
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Ponte dos Grimwals — Zelaria
Sigrid mantinha os olhos atentos ao chão, a aflição crescendo no peito ao sentir o pulso estranhamente mais leve. A pulseira que carregava consigo há anos tinha desaparecido, como se os deuses estivessem tentando pregar uma peça com mais uma coisa importante desaparecida. A khajol sentia a cabeça doer ao pensar, fechando os olhos ao refletir sobre a falta da pira e o mais importante: como tudo ao redor parecia ruir. A perda da pulseira parecia apenas mais um triste e caótico episódio da sucessão de tragédias que vinha sido a vida de Sigrid. Considerava que a mudança dos changelings para Hexwood era a primeira dos grandes desastres. Absolutamente tudo em sua vida tinha mudado desde então e isso parecia insustentável para alguém que tanto gostava do controle. Sigrid abriu os olhos novamente, as orbes verdes esquadrinhando o ambiente com um pouco mais de atenção. Talvez não devesse ter andando tanto sem rumo por Zelaria, sem saber onde queria ir. As pernas pareciam seguir a confusão mental, porém Sigrid parou ao perceber outra pessoa na ponte. Não temia que a achassem uma estranha, portanto a princípio ignorou a mulher até enxergá-la melhor e considerá-la familiar, sem se recordar exatamente onde a conhecia. "Você é... changeling?" Soltou sem pensar muito após alguns segundos a encarando.
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sigridz · 4 months ago
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Algumas experiências nos últimos dias não tinham sido agradáveis e Sigrid sentia a necessidade de compartilhar com alguém. Sabendo que a saúde de Freyja não andava muito bem também, optou por procurar e contar para Eirik como vinha se sentindo e todas as coisas estranhas que conseguia observar ao redor, com seus colegas virando animais e alçando voo ou caindo no lago. Ele era inteligente o bastante para ter respostas ou soluções, um rapaz que considerava como irmão e para quem não se importava de contar tudo. Até mesmo os próprios pais consideravam Eirik como um filho. Portanto iniciou sua jornada de procura, começando pelo acervo, então o aviário e todos os outros lugares onde achava que ele poderia estar. Era sempre fácil se encontrar quando combinavam, mas de forma espontânea parecia um desafio! Não o encontrou em nenhuma das salas de Hexwood e antes de iniciar sua busca do lado de fora, decidiu observar apenas mais um lugar: o quarto dele. Parecia ser uma boa opção quando se esgueirou pelo corredor masculino atrás da porta dele. Estava acostumada com o caminho, sabendo perfeitamente qual tomar, embalada pela certeza de que seria um lugar possível de encontrá-lo. Sigrid abriu uma das portas, entrando em outro corredor que dava acesso a porta do mais novo.
Talvez fosse a ação dos deuses que tivessem feito a mulher parar de repente, sem abrir a porta de supetão como habituada a fazer. Ainda era o quarto de outra pessoa, por mais confortável que se sentisse. Sigrid parou bem próxima a porta, ouvindo sons peculiares através da madeira. Não era sua intenção espionar, mas a desconfiança a levou para o caminho do espreitar, parando e virando a cabeça em confusão. Não. Ela conhecia aqueles sons. Ou achava que sim. Não tinha certeza. Um resfolegar feminino pareceu encher o ambiente e Sigrid deu um passo para trás, confusa. Não era do feitio de Eirik levar mulheres ao quarto, ela sabia. Estariam usando escondido os aposentos dele? "Eirik?" Chamou, desconfinada, esperando que sua voz fosse o suficiente para interromper o que quer que estivesse acontecendo. Estava determinada a castigar quem quer que tivesse tido a ousadia de adentrar o quarto do irmão para atos obscenos. Ela deu uma batida na porta, apenas para alertar de sua presença e aguardou mais um pouco, as mãos se fechando em punhos, as unhas arranhando a pele. Quando achou ser tempo o suficiente, colocou a mão na maçaneta e abriu a porta de súbito, estampando no rosto a expressão mais irritada que conseguia para os invasores atrevidos.
A expressão se desfez em um milésimo de segundo ao observar a figura de Eirik no chão, ajustando os cabelos e Ethel arrumando o vestido, sentada na cama. Ethel? Piscou algumas vezes, certa que os olhos estavam pregando peças. Ou que estava sonhando. Com certeza era um pesadelo, claro. Não tinha como os sons lascivos terem sido produzidos por Eirik e Ethel, então olhou como uma tola para os lados, procurando por mais pessoas e escolhendo ignorar o que estava bem diante dos olhos. Até que estava óbvio demais para ser deixado de lado e Sigrid balançou a cabeça em negativa, chocada demais para proferir qualquer sentença. "O que..." Começou, incapaz de continuar. Não parecia fazer sentido algum. Eirik era um amigo mais do que querido, quase um irmão, enquanto Ethel definitivamente não era alguém de quem gostava. "Vocês...?" O indicador pairava de um para o outro, assim como os olhos claros, sem conseguir acreditar na combinação. Era terrível que pegasse Eirik em tais circunstâncias, pior ainda com ela! "Não." A pequena palavra era mais para si mesma do que para eles e então, como se não conseguisse mais conter, Sigrid deixou escapar um gritinho fino, alto e frustrado e direcionou o corpo em outra direção, correndo para longe do quarto e longe deles. Ugh, terrível. Ela queria apagar todos os últimos minutos da cabeça!
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Aviso de conteúdo: linguagem sexual (leve, levíssima, mas quem avisa, amigo é).
A oportunidade de enxergar a vida por lentes de romantismo foi arrancada de Ethel ainda na infância. Caso não tivesse enfrentado ostracismo e preconceito desde cedo, ou se encontrado vivendo em um orfanato antes de sequer aprender a ler, talvez se sentisse menos ridícula sempre que entretia uma possibilidade distante. Ainda tinha sonhos e objetivos que almejava conquistar no futuro, mas sempre com a zelosa cautela de mantê-los dentro do escopo da realidade. Sabia que jamais teria uma vida longa e tranquila, em que pudesse se preocupar somente com questões levianas como o que servir para o jantar ou de que maneira aparar as roseiras no jardim, mas podia se contentar com a estabilidade de um cargo militar, uma casa que fosse de fato sua, uma família composta por ao menos dois. Mantinha-se otimista na medida do possível; não como poderia ser caso tivesse sido criada com amor e presença, mas a melhor alternativa entre opções que lhe foram dadas.
Mesmo que muito evitasse fantasiar sobre cenários que não estavam ao alcance de suas mãos, por um momento, na bolha de ternura que se criava no ambiente entre os dois, permitiu-se imaginar Eirik fora daquele contexto; velejando a favor do vento, uma expressão serena em seu rosto, o diário que carregava uma parte de Ethel com as folhas repletas de registros das mais diversas aventuras. Não era seguro divagar além dali, mas ao menos o homem levaria consigo a lembrança; e se não pudesse estar ao lado dele, com as escamas de Aygoas brilhando entre as ondas, contra o sol de verão ao invés de somente um esboço nas páginas, se contentaria com saber que ao menos se conheceriam – the next best thing. “Podemos esperar a neve terminar de derreter, gostaria de te levar em um dos lagos que ele mais gosta. O tempo frio não favorece muito um mergulho.”
Saber sobre o encantamento intrincado ao anel não a surpreendia, mas fazia com que o presente se tornasse ainda mais precioso aos seus olhos. Meneou a cabeça em negativa levemente, a possibilidade de fazer qualquer coisa com a joia que não fosse guardá-lo com apreço tendo sequer cruzado sua mente. O valor da peça ia além das moedas nela investidas; conseguia imaginar Eirik trabalhando na magia com esmero e precisão, dedicando tempo em algo que pudesse encantá-la. Não conseguia pensar em nada mais especial do que aquilo. A revelação só servia para impulsionar ainda mais o desejo de tê-lo mais perto; não se permitiria sonhar para muito além das quatro paredes que agora os cercavam, mas podia aproveitar o momento que dividiam ali. 
Enquanto o beijava, a mente tipicamente brilhante de Ethel ficava reduzida a pouco mais do que comandos minimalistas, senão primais em natureza. Queria explorar o encaixe dos lábios dele contra os seus, eternizar na memória a sensação dos dedos contra sua pele, gravar o momento como marca em brasa. Quem era Ethel para resistir aos efeitos desse homem, que a tocava como se ela fosse algo a se reverenciar, feito pouco se importasse com o fato de que uma mulher como ela jamais se encaixaria no patamar de primor que ele fora criado a esperar? Se lhe faltassem palavras para expressar, não tinha ressalva alguma em reafirmar com ações seu contentamento, com suas mãos e seus lábios e tudo mais que tivesse a dispor.
Quando Eirik se afastou, na percepção dela de maneira muito repentina, por pouco reprimiu um resmungo em protesto. Até que compreendesse o que ele dizia, valorizou muito a própria habilidade de permanecer em silêncio. Encolheu-se um pouco na cama conforme processava as palavras alheias, o espaço que agora existia entre os dois, imposto pelo distanciamento de Eirik, fazendo a mulher questionar se havia interpretado os sinais de maneira completamente errônea. “Eu te desrespeitei?” Repetiu, talvez de maneira um pouco tola, principalmente ao considerar a qualidade um tanto esbaforida de seu tom. Sabia que, naturalmente, existiam distinções práticas entre o que era considerado normal no quesito afeto físico entre changelings e khajols, mas não pensava que cruzar aquela linha de intimidade pudesse acabar por ofendê-lo. Teria sido o beijo que dividiram antes do Yule somente um produto de circunstâncias, afinal? 
O fato dele estar rindo não ajudava em nada em sua compreensão da situação, até que as palavras seguintes do rapaz fizeram a peça faltante, essencial, do quebra-cabeças se encaixar. Entendeu, então, que as ações alheias vinham de um lugar de cautela, e não necessariamente significavam o ausência do desejo, da reciprocidade. “Eirik.” Espelhou o vocativo, o nome soprado com a reverência de quem ainda era capaz de ver a vida pela ótica romântica. Tomou ar em um suspiro, antes de proferir palavras que tinham sabor de antecipação em sua língua. “Não acredito que você seja capaz de me desrespeitar. Estar com você é o que eu desejo.” Arriscou alcançar por ele novamente, os dedos de Ethel dessa vez atraídos pela tímida extensão de pele que se fazia visível pelas lapelas do roupão, entre o pescoço e o ombro masculinos. Por Erianhood, como queria que ele lhe concedesse o privilégio de volta, que pudesse tocá-lo como permitiria que ele fizesse consigo, caso assim desejasse. 
“Você tem permissão para fazer o que quiser.” E naquele momento, Ethel torceu muito para que ele quisesse. Com a mão livre, buscou pela dele e a pousou sobre sua própria coxa, sobre o tecido do vestido. Nunca havia pensado em si mesma como um ser muito afetado por necessidades carnais, mas naquele momento, desejava Eirik com uma intensidade quase religiosa. É claro que se atraía pela mente robusta que maquinava por trás dos olhos gentis, pelo cuidado que ele parecia empregar em absolutamente tudo que fazia, mas ia além disso. Queria tê-lo contra seus lábios, com o rosto enfiado no decote de seu vestido, debaixo de sua saia; ainda não tinha batido o martelo quanto à ordem dos acontecimentos. Afastou o cabelo dos ombros de modo a se refrescar, já que o clima frio do inverno agora parecia inconsequente em sua percepção; sentia-se como se estivesse queimando. “Por favor, me beije novamente e não pare.”
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sigridz · 5 months ago
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As palavras encheram Sigrid de raiva, porque sabia que os pais que a criaram eram pessoas decentes. A mãe não carregava um pingo de preconceito, tendo fugido para o interior com um homem sem nome ou influência, tudo em nome do amor. Os pais eram um símbolo de felicidade, satisfeitos em apenas passar os dias aproveitando da tranquilidade e maquinações de longe dos problemas da corte ou proporcionados pela ambição. Era uma vida muito diferente, da qual Sigrid não gostava muito. Apesar da vontade de defender os pais, não desejava explicar-se demais para Ethel, falar sobre sua família ou de como tinha sido criada e moldada pelo núcleo familiar materno. No entanto, estava cansada. O sentimento era frequente nos últimos dias, parecendo se intensificar em situações de estresse — algo que nãi estava mais disposta a passar com Ethel. Por isso deixou que ela falasse, resistindo constantemente a vontade de interromper e defender o seu ponto de vista.
E não queria conhecer Ethel. Não sentia vontade alguma de conhecê-la além daquilo, apesar de... havia algo na ferocidade dela ao defender o amigo que Sigrid respeitava, apesar de tudo. Estava irritada e com ciúmes, mas ao mesmo tempo havia um sentimento relutante de felicidade em saber que havia alguém disposta a tanto para defendê-lo. Havia um gosto amargo por querer saber mais e entender a conexão deles, mas não daria esse gosto para ela. Percebia que os anos não tinham levado somente a juventude, mas muitos acontecimentos da vida dele. Haviam novas amizades, pelo visto. "Não vou te prometer nada." Proferiu, um pouco chateada. "Se eu disse que não é minha intenção magoá-lo, deve acreditar em mim. Eu cumpro o que falo. Não vou magoá-lo, não quero nunca fazer isso. Não acha que a minha relação com ele já é triste o suficiente? Não preciso adicionar nada mais a isso." Era triste, Sigrid sabia. Gostava de alguém com quem nunca poderia ficar. Nunca poderia ter. Trágico o bastante, embora se recusasse a dar para trás na relação com Cillian agora que ele estava por perto novamente. "Também não quero ficar discutindo com você, porque é cansativo. Apenas tenha a certeza de que eu não vou magoar o seu amigo, porque é meu amigo também. Não tenho nenhuma intenção cruel com ele." Respondeu por fim, antes de olhar para os lados e verificar que o salão já estava com menos pessoas. "Tenha uma boa noite." A sentença fora pouco educada antes de por fim se retirar do salão.
FINALIZADO.
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Uma parte considerável de Ethel encontraria grande satisfação em empinar o nariz e retrucar que ela sabia de muito quando se tratava de Cillian, mas não havia como discutir com a lógica de que, apesar disso de conhecê-lo há mais de uma década e ter feito parte de diversos marcos importantes, fora pega totalmente de surpresa ao descobrir a identidade de Sigrid e o papel importante que ela assumia na história do amigo. “Muito nobre da sua parte livrá-lo da falta de decência básica da sua adorável família. Se você é assim, só consigo imaginar como são as pessoas que te criaram.” Não se surpreendia em pensar que o preconceito era algo enraizado e que permeava a vivência alheia de maneira multidimensional. Não que Ethel entendesse o que era ter uma figura estável e constante para direcionamento, independente do que fosse – passou a maior parte da vida sozinha, aprendendo meramente por tentativa e erro; analisando friamente, era um pequeno milagre que não tivesse se saído como um completo desastre ou sequer sobrevivido. “O fato de nascermos com o fardo de servir o exército é conhecido por todos nós, te asseguro que não precisamos do lembrete. Se sente a absoluta necessidade de expressar sua opinião acerca do assunto, ao menos seja respeitosa em admitir que sua proteção vem justamente da nossa marca para um destino trágico.” Decidiu que seria a última vez que bateria naquela mesma tecla e então estaria pronta para seguir em frente; estava determinada a superar o próprio rancor em nome de se dar minimamente bem com a mulher que mantinha as afeições de seu melhor amigo. Precisava repetir isso em sua cabeça como um mantra, algo que ela já sentia como se estivesse fazendo durante toda a interação com Sigrid.
“Poderia te dizer exatamente a mesma coisa, que não me conhece e não pode me impedir de fazer coisa alguma.” Apesar de somente ter encontrado com a khajol em mais outra ocasião anteriormente, não era a primeira vez que Ethel sentia que tendiam a andar em círculos com as palavras, o orgulho de ambas impedindo que fizessem qualquer progresso.A fala de Sigrid lhe dava a entender que a mulher não tinha dimensão total do significado de seu presente, o que abria espaço para duas interpretações: por algum motivo a khajol buscava ocultar o simbolismo, ou então Cillian nunca havia explicado a ela. De todo modo, não seria Ethel a fazê-lo; a mera existência da conversa atual já passava por cima da privacidade do amigo o bastante.
“Mas, no fim das contas, se sua palavra vale de algo, parece que nós duas temos o mesmo objetivo em mente. Meu recado está dado e acredito que o seu também.” Ainda que detestasse admitir, havia possibilidade de Sigrid ter sido tão vítima de maquinarias do destino quanto Cillian tinha feito parecer em seu relato. Ethel não estava totalmente preparada para validar essa alternativa; não confiava na khajol e não queria dar o braço a torcer por completo. “Não tenho tempo ou energia para ficar rastreando seus passos por aí, e vou te estender a cortesia de pensar que você é igualmente ocupada. Estou propondo uma trégua.” Ethel fez um esforço consciente para manter sua expressão relativamente neutra, contendo o impulso de franzir o nariz em antagonismo. "Não vou interferir no seu caminho, contanto que prometa fazer o melhor para não magoá-lo. E antes que discuta que não precisa me assegurar de nada, lembre-se que não tenho interesse em ficar andando em círculos com você."
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sigridz · 2 months ago
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Sigrid gostava de pensar na boa vontade do imperador. Ou quase isso. Ela achava que ter a ousadia de aprovar e oficializar um casamento do tipo necessitava de muita coragem, uma qualidade certamente admirável. Pensou em encher-se de positividade e contar sobre como achava que era o início de uma nova era, proferir elogios ao homem e contar sobre como achava que Caelan no futuro carregaria o legado. No entanto, diante de tudo o que estava acontecendo, optou pelo silêncio. Sabia também que a vida da maioria dos changelings não era agraciada com tanto otimismo. "Certamente há pessoas assim. A minha tia mesmo parecia que estava prestes a ter um ataque. Ela é péssima, muito conservadora e cheia de palavras ruins, só que não é tão preocupante. Minha família não faz parte do círculo mais rico ou mais influente. É preciso manter os olhos nos que são importantes e que podem expressar e causar problemas." Como os membros do conselho, mas estando em lugar público, não queria proferir palavras de acusações. "Mas se o imperador aprovou e está satisfeito com isso, não há muito que os outros possam fazer." E apesar de todas as incosistências de humor de Seamus, há muitos meses já ele sustentava a mesma opinião, algo que parecia positivo para Sigrid.
A revelação de familiaridade com Tadhg pegou de surpresa, mas quando pensava, parecia fazer sentido. Muitos changelings eram próximos, compartilhando da vida militar. Ela acreditava na inocência de Caelan, talvez um pouco em Dahlia, mas o terceiro? Não duvidaria, sequer por um momento, da capacidade e motivação dele. Ainda asism, não queria a morte dele. Ele não parecia um grande assassino também. Novamente optou por não falar nada a respeito afim de preservar aquele momento amistoso. "A sua deusa parece boa, mas não se sinta culpada por estar desconectada. Todos estamos. Se precisamos de objetos para fortalecer a fé e essas coisas somem..." Deu de ombros, como se o corpo pudesse explicar a sentença não finalizada. "Eu não digo exatamente uma agitação, Ehel." Sigrid se atrevou a enrolar o braço no dela, apenas para delicadamente a arrastar um pouco para longe dos demais e de todos os ouvidos que pudessem ouvir aquilo. "Existem muitos tipos de nobres. A maioria são velhos chatos, mas existem aqueles que estão disposto a ficar do lado do progresso. Penso em encontrar e usar algum deles. Se eles se colocassem ao lado dos acusados, pedindo por clemência, talvez não haja acusação alguma." Era o máximo que podia pensar, principalmente quando duvidava da inocência de alguns. Tinha sido um crime brutal e cruel, mas sempre que pensava neles, meso desconfiado de Tadhg, não conseguia enxergar a crueldade capaz de matar uma mãe na frente dos filhos. "Não tenho muitas ideias além disso. Estou um pouco limitada no momento também, porque o luto está inibindo as pessoas." Detestava aquele período triste e sem cor. "Essa cabeça, que definitivamente não vai sustentar uma coroa, só pensa em como voltar alguns nobres para essa causa. Você tem alguma outra ideia?" Talvez ela fosse melhor em mirabolar planos.
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Ainda era muito cedo para dizer, e de forma alguma havia aberto mão completamente de sua cautela em relação a Sigrid, mas Ethel pensava que, dado tempo ao tempo, as duas poderiam ser boas amigas no futuro – bastava a oportunidade de se provarem dignas da confiança uma da outra, independente das primeiras impressões adversas que tiveram. Era um pequeno conforto em meio ao turbilhão de outras crises, grandes e pequenas, em que se encontravam todos os dias. “O problema é que ninguém parece entender quais são as intenções do Imperador nesse quesito, sequer se ele sabe o que está fazendo. Oficializar um casamento entre uma khajol e um changeling é um passo muito significativo, mas para mim é bastante óbvio que ele acabou por cutucar um vespeiro. Imagino que há uma quantidade expressiva de pessoas que está confortável demais com o atual status quo para enxergar essa mudança com bons olhos.” Suas opiniões sobre Seamus Essaex eram neutras em sua maioria – ainda que considerasse louvável a atitude em direção ao progresso, independente da existência de uma motivação calculista, não era capaz de apoiar plenamente alguém que ainda contribuía para a subjugação de seu povo. Ethel sequer havia servido na fronteira por muito tempo, mas não precisava de residência em serviço permanente para reconhecer que Aldanrae tratava com muito desdém aqueles que mantinham suas terras protegidas.
“Duvido que o príncipe tenha sequer pisado em uma cela, enquanto não me deixaram ver Dahlia e me disseram que Tadhg está confinado em uma solitária.” Sabia que o amigo podia ser um exemplo expressivo de insubordinação quando queria, mas aquele tratamento era completamente desumano. “Minha deusa sempre foi um símbolo de bondade, foi nisso que acreditei minha vida inteira. Tenho me esforçado para me manter forte e não questionar seus planos, mas me sinto desconectada com o divino diante de tantas tragédias, especialmente depois do desaparecimento do Cálice.” Desde que o visitou pela primeira vez, Ethel desenvolvera o hábito de passar tempo até demais no Sonhar; fé deixada de lado, se sentia um pouco envergonhada em admitir que por vezes procurara refúgio e escape na dimensão feérica – naquele sentido, era como muitos colegas haviam dito sobre ela ao longo dos anos: era fraca demais para Wulfhere. “Você acha que causar agitação pode ser a melhor saída?” Ethel tinha os lábios levemente crispados em expressão de contemplação, revirando a ideia em sua mente na tentativa de articular algum pormenor. “Sinto que o império já está desestabilizado o suficiente, talvez fazer barulho tome proporções além do que podemos prever. Já tenho minhas sólidas desconfianças de que isso tem a cara de conspiração. Ao mesmo tempo, não é como se Oisín pudesse jogar todos nós nos calabouços.” Estava longe de ser uma verdade absoluta, mas passara os últimos dias se informando sobre o investigador, procurando por qualquer viés que lhe desse uma brecha para contestar as prisões; o homem parecia, pelo que havia entendido, razoavelmente justo – o que, por sua vez, levava Ethel a pensar que aquilo, as prisões apressadas e inarticuladas, também estava acima da cabeça dele. “Me conta o que está pensando dentro dessa sua cabecinha de sustentar coroa.” Disse, mas tinha um sorriso brincalhão nos lábios e malícia alguma em seu tom.
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sigridz · 2 months ago
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Parecia ser especial traçar um acordo de paz silencioso com Ethel. Não desejava mais brigar, já envolvida demais nos próprios dramas e doenças; não precisava de algo mais tirando suas forças e discussões sempre pediam alguma disposição. Decidiu então focar em sentenças afáveis, um meio termo ao que era e ao que desejava ser. "Sempre foi meu desejo firmar compromissos importantes com ele." Um que jamais tinha sido declarado quando mais nova, mas que existia. E era bom poder falar em voz alta e conseguir expressar tudo o que guardava em seu coração. Perguntou-se o quanto ela sabia, mas não queria questionar e investigar demais, porque se Cillian confiava nela, queria fazer a mesma coisa. "Estou feliz que posso fazer isso agora. E que tenho a coragem para isso também." Não achava que teria grandes problemas com a família — exceto com a tia, talvez. Conhecia os pais bem o suficiente para saber que receberiam Cillian de braços abertos, assim como tinham recebido todos aqueles que eram importantes para si. A preocupação dela tomou toda atenção de Sigrid, que definitivamente deixou de fingir estar interessada em compras e virou todo o corpo para a changeling, compartilhando de uma lasca da preocupação também. O avanço da investigação tinha levado a suspeitos confusos; por mais que detestasse Tadhg e Dahlia, não achava que eles seriam capazes... mas também sabia do renome do investigador. Acima de tudo, não achava que Caelan era um assassino.
"Parece mais um obstáculo da luta de classes, Ethel." Tentou tranquilizar, ainda que o coração estivesse agitado com temores e incertezas. "Jogaram até um príncipe, mas parece ser apenas mais fácil acusar changelings, pessoas que não tem ninguém importante ao lado para defender." Lógico que um príncipe não ficaria preso, tampouco seria executado, mas os outros? O assunto lamentável a fazia tremer. Apesar da pouca afinidade com os outros, não queria que eles morressem. "Acredito, que diante de tudo o que o imperador tem feito para promover a união, ele não vai deixar que dois changelings sejam acusados assim ou que algo pior aconteça." Nem sempre depositava sua fé em Seamus, mas queria acreditar que o homem, dito como gênio e louco, não permitira que seus planos fossem arruinados de forma simples. A morte da imperatriz não parecia ter abalado seu juízo já perturbado. "O meu deus?" Sigrid quase riu, pensando em Rá que não mais a acompanhava. "Rá não é misericordioso, mas temos uma infinidade de deuses. Muitos são justos. Acredito que a deusa de Caelan também não vai permitir que ele fique encrencando por muito tempo... quanto aos changelings, podemos fazer alguma coisa. Você acha que ter alguém poderoso a olhar por eles pode ajudar?" Uma ideia, pouco formada e desajustada começava a crescer na mente de Sigrid. "Muitos nobres durante o casamento parecem a vontade com o arranjo. Nem todos são ruins. Acha que é possível convencê-los a se colocar contra o que foi feito?"
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Por mais que dissesse a si mesma, no auge de sua teimosia, que acertar-se com Sigrid tratava-se meramente de uma questão de conveniência, ouvir a outra concordar com qualquer tópico trazido por Ethel proporcionava à changeling certo alívio. Mesmo acostumada a certo grau de rejeição, ainda não apreciava ficar em maus termos com ninguém – era um balanço delicado e um tanto hipócrita com seu orgulho. “Eu acredito. Neles, e também penso que sou capaz de estender o sentimento a você.” Foi o que ofereceu em resposta, o consentimento compreendendo as falas da outra como um todo. Tendo crescido em ambientes distintos em que via somente uma hostilidade sendo substituída por outra, era fácil se perder em uma noção desproporcional de superproteção; obviamente, àquele ponto todos eram adultos e capazes de tomar as próprias decisões, razoavelmente responsáveis e equipados com as habilidades para se defender das melhores maneiras, mas emoções nem sempre respeitavam a lógica – se fosse o caso, jamais sentiria a necessidade de advogar a favor de seus irmãos, um militar de alta patente e outro que era praticamente um assassino de aluguel. “Fiquei sabendo que estão traçando compromissos importantes.” Tinha um sorriso singelo no rosto ao falar, para que ficasse suficientemente claro para Sigrid que seu comentário era bem intencionado em natureza. Sabia sobre a pulseira, é claro, que para a família de Cillian carregava um significado especial de promessas e intenções; parte de si desejava mencionar sobre o pedido de casamento, mas não queria que a algo que o amigo lhe contou em confidência fosse exposto precipitadamente – podia revisitar o assunto no futuro uma vez que tivesse certeza que Sigrid tomaria em tom de uma brincadeira inocente e isso não causaria um conflito. 
No fundo, somente estava buscando uma distração para tirar sua cabeça um pouco de todo o caos que vinha tomando conta do império ultimamente. “Estou preocupada.” Admitiu, dessa vez em tom um tanto derrotado, sem muita certeza de porque estava dividindo aquela verdade com a khajol, dentre todas as pessoas; não se sentia no direito de pontuar, mas Sigrid também parecia desgastada, as sombras sobre seus olhos indicando que algo vinha tirando sua paz, talvez de forma semelhante. Percebia, também, que o seon dela não estava em lugar algum a vista, o que pensava não ser um bom sinal – não que Ethel fosse uma especialista no assunto. “Temo estarmos diante de uma ameaça que dragões talvez não deem conta.” E ali não se referia somente a poder de fogo, até porque era contra seus princípios enxergar as criaturas somente como armas, como muitos pensavam. “O império celebrou uma união inédita, e meramente dias depois, dois changelings foram levados do acampamento em nome de uma investigação que parece repleta de falhas.” O fato de ambos os suspeitos serem pessoas importantíssimas na vida de Ethel não contribuía em nada para a dissolução do nó que parecia ter se alojado permanentemente em sua garganta. “O seu deus tem o hábito de ser misericordioso?”
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sigridz · 5 months ago
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Ouvir sobre a esposa falecida de Cillian derreteu um pouco de sua fúria, a sensação sendo substituída por um sentimento desconfortável e pela intensidade do ciúmes. As vezes, quando sentia-se particularmente insegura, pensava sobre como nunca tornaria a ver Cillian novamente caso Makaela ainda estivesse viva. Ou como seria insuportável vê-lo com ela. Os pensamentos duravam pouco, porque odiava se torturar pensar em possibilidades que não aconteceriam, em coisas impossíveis de existir. Apenas abria uma ferida que há muito gostava de considerar fechada e cicatrizava... as vezes percebia que ainda sangrava e que não estava tão bem quanto achava que estava. "Conveniente abandoná-lo? Você não sabe de nada mesmo." Apesar de terem alturas semelhantes, Sigrid se sentia pequena naquele momento. Tão minúscula quanto o coração no peito, que parecia diminuir a cada batida. Queria desaparecer. "Se ele não te deu detalhes do que aconteceu, não serei eu a fazer. Mas saiba que eu fiz para proteger Cillian, porque uma família nobre não estava feliz com uma khajol de futuro promissor perdendo tempo com um changeling." Não achava que aquele período tinha sido uma perda de tempo — pelo contrário, foram dias preciosos que guardava com carinho na memória, porém a tia Valeriel tinha sido bem enfática ao descrever e deixar claro que sabia de sua conexão com Cillian. A ameaça fora sutil, mas eficiente o bastante para Sigrid se afastar. Era mais jovem, ingênua e ainda com muita vontade de impressionar a tia. "E eu não disse nenhuma mentira anteriormente, vocês..." Parou de falar quando um grupo de colegas passou por perto e a jovem se viu obrigada a forçar um sorriso e um aceno antes de se voltar para Ethel. "Vocês nascem marcados para um destino trágico. Se você não fosse tão irritante, eu não precisaria ser malvada." Era apenas mais conveniente jogar a culpa em cima da outra, livrando-se do peso de ter que assumir os erros. "Ainda continua me irritando, tagarelando sobre coisas que não sabe." Novamente sentiu vontade de usar uma cadeira como arma, mas um respirar fundo fora capaz de colocar os pensamentos minimamente em ordem.
A menção da pulseira, apenas olhou para o braço, onde ainda não estava. "O significado é que é um presente especial que eu guardo até hoje. Vou encontrar facilmente." Não havia muita confiança na voz, mas estava determinada. "Eu não tenho ressentimento por ele ter escolhido outra pessoa." Não era exatamente uma verdade, mas detestava a forma de reduzir ao afastamento apenas ao ciúmes. "Ele precisava escolher alguém, não é? E eu... ele era meu amigo. Já era arriscado o suficiente que fosse meu amigo. Ainda é." Fechou os olhos, tentando esconder a mágoa que parecia brotar no peito e ameaçar escorrer pelos olhos. Preferia se jogar de uma janela do que chorar na frente de Ethel; já tinha problemas o suficiente para se preocupar, embora tivesse sido Sigrid a procurar problemas com a changeling. Pelo menos no momento estava segura de que eles não tinham nada e ela era apenas uma amiga. O alívio invadia o coração, mas não era o suficiente para clarear a profusão irritante que irradiava pelo corpo. "Não estou brincando com afeto algum. Eu nunca faria isso com Cillian." Garantiu ao abrir os olhos, porque sabia que existia algum afeto, pela maneira como tinha se importado com ele, pela forma como até Trevo parecia procurar e buscar pelo changeling. "Não cabe a você acreditar ou não no que eu digo. Também não cabe a você defendê-lo ou dizer a mim o que devo ou não fazer, porque você pode ser amiga dele e ter estado ao lado durante todos esses momentos, mas não é nada para mim e não pode me impedir." Sibilou, o sangue esquentando um pouco mais nas veias ao olhá-la. Se fosse possível, queria nunca mais vislumbrar nenhum traço de Ethel. "Cillian é especial para mim de uma forma que você não é capaz de entender, de uma maneira que não merece entender." Declarou, percebendo pela primeira vez do que seria capaz para manter a amizade dele, mesmo após tantos anos. Sentia-se mais forte, longe de influencias familiares e muito mais determinada.
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A esse ponto, ainda que já esperasse o absoluto mínimo de Sigrid, a mulher ainda dava conta de surpreender com suas palavras embebidas no mais profundo desdém. Ethel precisou respirar fundo em alguns ciclos completos para manter a calma, repetindo em sua mente como um mantra que era primordial que procurasse se dar bem com a khajol, mesmo que não conseguisse imaginar um mundo onde pudesse nutrir qualquer sentimento positivo pela mulher à sua frente. Temeu não ter feito um bom trabalho em mascarar por completo a própria ira, que além de espelhar a de Sigrid, transbordava por seus trejeitos – desde a maneira com que seus dentes rangiam contra a pressão da mandíbula apertada até os punhos que mantinha cerrados ao lado do corpo. “Eu sou a pessoa que esteve do lado de Cillian mesmo quando era conveniente abandoná-lo. Celebrei sua união com uma mulher maravilhosa que o amava e o protegia incondicionalmente, partilhei da felicidade dos dois, estava lá para enterrar essa mesma mulher junto a ele e lamentar sua perda.” Tentou manter o tom livre de todo o veneno cuja ira impulsionava Ethel a destilar, mas era falha e nem sempre conseguia sustentar equilíbrio e um temperamento limpo. É claro que não fizera nenhuma daquelas coisas por Cillian para que pudesse utilizá-las como créditos ou qualquer tipo de vanglória; o mesmo carinho que os aproximou através de Makaela perdurava já há anos, com um apego que fazia Ethel considerar o changeling como mais do que um mero amigo – era um irmão, alguém cujo bem estar era essencial para o dela própria. Porém, não recebia de bom tom a acusação velada de Sigrid, como se conhecer o homem por mais tempo conferisse a ela o direito de tratá-lo como bem convinha. 
“Eu estava presente há alguns dias, também, quando tive o desprazer de assistir como a expressão dele caiu por completo assim que mencionei o nome da khajol preconceituosa e desagradável que me ofendeu de todas as maneiras imagináveis em Grimwals. Insultos estes, por sinal, que se estendem à espécie dele, caso esse pormenor tenha passado despercebido pela sua mente brilhante.” O repertório de afrontas no vocabulário de Ethel não era do mais vasto – algo de que ela se orgulhava habitualmente –, mas sua indignação era tamanha que sequer precisou se preocupar com a limitação. “Ao contrário do que você deve pensar, a cabeça não serve somente para usar coroa, também é importante colocá-la para pensar.” Levando em conta que seus próprios pontos fracos eram ataques à sua inteligência, também era este o primeiro alvo que pensou acertar na outra; certamente Sigrid não podia se importar exclusivamente com aparências e, portanto, considerar igualmente agravante um insulto ao intelecto. “Não vou me calar, já que você insiste em ser tão obtusa. Sequer tem ideia do que significa sua pulseira? Sabe o que um presente desses simboliza para um Methusael? Prefiro pensar que não, ou então ser descuidada o suficiente para perdê-la seria ainda mais um motivo para eu desejar te ver longe dele.” 
Era uma pequena bênção que o salão estivesse borbulhando com conversas das mais diversas fontes, mas ainda assim seria um milagre se o conteúdo da discussão não acabasse vazado, ao menos parcialmente, ao final da interação; nenhuma das duas pareciam no juízo perfeito para garantir total discrição. “Seu ressentimento por ele ter escolhido outra pessoa no passado não é motivo para brincar com o afeto que ele nutre por você.” Talvez esse fosse o golpe mais baixo que pudesse desferir, e quase se arrependeu das próprias palavras de imediato; toda ira do mundo à parte, não era uma pessoa cruel e não tinha intenção alguma de ser. “Isso era pra ser uma oferta de trégua, mas é claro que você precisa estragar até o mais pacífico dos momentos com sua atitude sofrível.” 
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sigridz · 7 months ago
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As palavras e ações da desconhecida invocaram a ira de Sigrid, tingindo o rosto de vermelho e fazendo com que crispasse os lábios. Contudo, não queria se curvar a raiva. Quando se tratava de changelings, achava que sabia muito bem lidar com eles, embora a ousadia fosse capaz de provocar arrepios incômodos. Portanto sorriu, pouco disposta a deixá-la perceber o quão afetada estava. "Ouch, você parece tão amargurada." Não parecia de fato, mas Sigrid gostava de usar de sua posição para infligir irritação ou qualquer coisa que fosse quando um deles parecia pisar em seu calo. Não que fosse próxima de muitos, sua experiência negativa resumindo-se principalmente à Zoya e alguns poucos desafetos que encontrava uma vez ou outra pelos corredores de Hexwood. "Ouça bem o que diz: o povo que tanto julga como inferior luta as batalhas para manter pessoas como você no topo." Repetiu cada palavra lentamente, como se a saboreasse na ponta de sua língua. "Vocês lutam pelo império, pelos khajols. Nascem, lutam e morrem como moscas por esse único objetivo. Se não fosse isso..." Queria completar que não teriam serventia alguma, mas a mente sempre se pegava pensando no que aconteceria caso os chagelings e seus dragões não fossem parte essencial do exército. De certa forma, Sigrid sabia depender deles, ao mesmo tempo que considerava inferior a forma como nasciam para servir.
O revirar dos olhos deixou claro a maneira como se sentia em relação ao discurso, ocultando a maneira como realmente se sentia e a inquietação que começava a tomar conta dos membros. Não gostava de debater com changelings, principalmente quando pareciam tocados por uma insolência primitiva e as grandes bestas deles poderiam estar a espreita em qualquer lugar. Remexeu-se então, desconfortável, levando a atenção de novo para ela enquanto acariciava o cabelo. Era um ato casual, mas também um sinalizador da insatisfação sentida. "Já acabou?" Forçou um bocejo ao falar. "Quase dormi. Ugh, como você fala. É uma professora?" Não parecia ter idade para ser, porém não queria se dedicar tanto a pensar também. A abordagem com ela, visando desestabilizar, não era exatamente a mesma que costumava usar com Zoya, embora o objetivo fosse o mesmo: desmoralizar. "Eu existo e cumpro meu objetivo. Hospedar os deuses e guiar o império é o dever dos khajols. A imperatriz é uma khajol, a concubina é uma khajol, todos os filhos de ambas são khajol. Essa é a nossa utilidade, estabilizar e contribuir para o império." No fundo, sabia que sua espécie atualiza nas sombras, de forma discreta e feminina demais, sempre atrás de um homem e focando muitas vezes na reprodução. Sabia também, ao menos um pouco, que as changelings tinham mais liberdade. Tentou cortar o pensamento pela raiz, sem querer ser embalada pelo amargor da inveja.
"Isso é uma ameaça? Ou melhor, uma tentativa? Estou vagando por um vilarejo que faz parte do um império que me protege. O imperador não me manda para a morte como faz com os changelings, o imperador protege os khajols." Era o que gostava de pensar, mesmo que as últimas atitudes do homem fosse suspeitas. Mesmo que ele tivesse muitas atitudes suspeitas. Quase deixou com um sorriso se espalhasse pela face, sem acreditar no atrevimento em sugerir uma ameaça. Sua família poderia não ser a maior, mais influente ou rica de Aldanrae, mas possuíam certo prestígio, de maneira que apesar de usar o sobrenome do pai, sabia que o sangue a protegeria de quaisquer coisa que um changeling pudesse fazer. "Ameace a minha vida e veja a sua se tornar um inferno." Confiante quanto a isso, permitiu-se sorrir, sabendo que o status poderia protegê-la da outra, ao menos. Não conseguia pensar quanto ao dragão, mas da mulher poderia.
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Estava a um mero instante de se sentir mal por sua própria falta de tato, mas a resposta atravessada da outra de pronto interrompeu qualquer centelha de arrependimento em Ethel. Ali, uma coisa se fez perfeitamente clara: a animosidade era, além de recíproca, fundamentada em algo que ambas enxergavam, ainda que não soubesse identificar exatamente o que era. Mas mesmo em meio ao motivo atualmente difuso, nenhuma premissa de gentileza era capaz de sobrescrever totalmente uma primeira impressão negativa. “Nesse caso, ficou claro que a sorte optou por seguir um caminho contrário ao seu. Imagino que deve ser frustrante precisar contar sempre com a benfeitoria do destino ao invés da própria capacidade.” Ethel crispou os lábios em ligeira irritação, tentando repetir mentalmente seu mantra de dar às pessoas o benefício da dúvida – não que Sigrid estivesse lhe oferecendo espaço para tal, com uma postura tão passiva-agressiva que chegava a tornar a tensão palpável. Seu limite estava próximo. “Não me admira muito que sequer saiba o valor do material, essa é mesmo a tendência quando não há esforço algum em adquirir o que se tem.”O tom refletia uma destreza em mascarar sentimentos há anos, mas nem mesmo o imenso esforço repetitivo foi capaz de manter afastado por completo o desdém de suas palavras. 
Respirou fundo para tentar recuperar o controle sobre si mesma, na tentativa de traçar o mínimo dos motivos lógicos para justificar tamanha antipatia com uma pessoa que acabara de conhecer. Mas, até mesmo entre as santas paciências, existia um limite; o de Ethel estava em ter sua utilidade questionada – um eterno calcanhar de Aquiles para a changeling, que batalhara a vida toda para se provar como digna, importante, necessária. “Engraçado que você não é capaz de sequer fazer um feitiço de localização e acha de bom tom questionar minha serventia. Se esconde por trás de pedras brilhantes e riquezas que não teve parte alguma em conquistar enquanto o povo que tanto julga como inferior luta as batalhas para manter pessoas como você no topo.” A fachada de calmaria que tentava exaustivamente manter desmoronava pouco a pouco, sua evidente irritação se esgueirando pelas frestas para mostrar seu fronte de rispidez.
“Agora, eu até entendo que o status quo te preserva para permanecer bonita, pristina e calada enquanto outras pessoas sofrem com a negligência e incompetência de sua classe, mas se esse é o caso, recomendo que ajeite sua postura e fique de boca calada; desmantelada e desferindo insultos a torto e a direito como está agora, não cumpre com sua única utilidade para a manutenção desse império.” A nobreza contava com sua infinita fonte de requinte e sofisticação, mas a rigidez militar se fazia presente em Ethel de maneira inegável; ombros a prumo e olhar afiado, a cabeça erguida na presença de alguém cuja patente não ultrapassava a sua. “Da próxima vez que pensar em criticar a proficiência de alguém em um campo de batalha ou em qualquer outro domínio que exija o mínimo de esforço e capacidade mental, lembre-se que está vagando por um vilarejo procurando por um objeto de extremo valor sentimental acompanhada apenas de uma magia inútil e uma changeling no seu caminho.” 
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sigridz · 6 months ago
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Poucas vezes Sigrid experimentou a sensação de querer morrer, mas naquele momento ela quis. Morrer e matar. O que aquela mulher estava falando? Cillian sempre fora seu segredo bem guardado. Não apenas por causa de todas as diferenças entre ambos, mas porque a família tinha deixado bem claro o que faria caso a amizade continuasse. Os pais de Sigrid eram pessoas amorosas, morando distante, mas a tia e os avôs eram a nata da nobreza e embora não fossem tão influentes, mantinham seu orgulho com o dinheiro e esperavam que todos se curvassem a vontade. Até mesmo Sigrid. Por todo o momento tivera ciência do quão arriscado era a amizade com ele, mas a ignorância da juventude e atrevimento da inexperiência a levaram para o caminho que depois abandonou.
Sentiu o sangue gelar, tão frio quanto a neve do lado de fora, as mãos parando no magno da mesa em busca de algum apoio. Não conseguia aceitar o fato de que uma desconhecida, uma changeling de quem tinha desgostado desde o princípio sabia de seu segredo mais precioso. E só poderia haver uma explicação: Cillian tinha contado. Sentiu-se traída, o sentimento atravessando o peito de uma maneira que quase a deixou sem ar. Doía pensar quão próximos poderiam ser para que ele houvesse compartilhado algo assim, mas tentou evitar que o sentimento a sufocasse, porque precisava falar. As coisas se embolavam na cabeça, mas conseguiu organizar os pensamentos de maneira coerente o bastante para formar sentenças. "Torturar emocionalmente?" Deixou escapar, quase um arquejo ecoando pelos lábios também. Ela não estava totalmente errado — tinha implicado o suficiente com Zoya já, mas não achava que estava torturando Cillian. Ora, Sigrid tinha sofrido também. As pontadas do machucado provocado pelo distanciamento e casamento por vezes ainda sangravam, levando-a se encolher na cama até dormir, lamentando o próprio azar e amaldiçoando os sentimentos. "Você não sabe de nada." A voz estava baixa, temendo que aqueles que passavam ao lado ouvissem a causa do pequeno confronto. Portanto se aproximou de Ethel, fervilhando em raiva.
"Quem é você?!" Proferiu, as palavras rasgando por entre os dentes. "Não sei porque está tão preocupada, mas já que está tão disposta a pronunciar ameaças, deixe-me fazer o mesmo: você não me conhece, tampouco tem algum direito sobre o que eu faço ou as minhas relações." A curiosidade quase explodia dentro da boca, quase levando-a perguntar quem era ou qual a natureza da relação com Cillian, mas considerava que já estava em desvantagem o suficiente simplesmente por ela saber do fato. "Você não tem nada a ver com isso. É apenas uma intrometida que de nada sabe, então cale a boca a não ser que queira acordar vomitando sapos amanhã." Sua magia estava fraca, era verdade, mas em nome do orgulho poderia se exaurir o suficiente para ensinar uma lição à Ethel. Estava brava, mortificada e acima de tudo, com ciúmes. "Eu e Cillian fomos amigos há muito tempo. Muito antes de você." Se lembraria se ele tivesse citado a changeling, tinha certeza. Era bem atenta as mulheres que ele citava. "Então não sei qual a sua intenção, mas o recado continua de pé: cale a merda da boca." Não era palavras que costumava usar, mas estava tão irritada que deixava de lado todas as boas entonações. Absolutamente transtornada, sentia que não conseguia controlar seus sentimentos, muito menos as próprias palavras.
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Foi necessário um esforço consciente para impedir Ethel de estalar a língua, suspirar ou entonar qualquer outra demonstração de impaciência que pudesse trair sua real impressão. Tipicamente não entretia muitas noções de arrogância, mas algo sobre Sigrid fazia com que a changeling desejasse se fazer mais alta, não demonstrar fraqueza ou titubear. As palavras ofensivas despejadas pela outra em Grimwals ainda vez ou outra martelavam a cabeça de Ethel e lhe causavam intensa irritação. Dado que já havia sido insultada incontáveis vezes pelos mais diversos interlocutores, não sabia identificar com exatidão o que tornava o desrespeito especialmente ultrajante vindo da outra; talvez fosse a maneira com que a khajol parecia observá-la de tão alto por cima do próprio nariz que era um milagre que os olhos não se cruzassem nos eixos. Porém, pelo princípio da boa convivência, a mulher mordeu a própria língua e engoliu as palavras que retrucariam algo como “se a carapuça serve” caso deixassem sua boca. 
A expressão seguinte de Sigrid invocou em Ethel uma satisfação distorcida, por um instante sentindo-se positivamente vitoriosa por ter provocado uma reação tão crua na outra – ela certamente perderia muito dinheiro em qualquer cassino se aquela fosse sua melhor cara de blefe. Para o próprio desagrado, já não possuía muitas dúvidas quanto ao significado da mulher atualmente diante de si para Cillian, conforme revelado por ele mesmo. Uma parte considerável de Ethel ficava furiosa em saber que essa khajol, além de possuir a afeição do melhor amigo sem merecer um pingo desta sequer, ainda tinha a audácia de confundir e magoá-lo no processo; apenas a ciência de que antagonizar Sigrid causaria mais atrito na vida do Methusael do que qualquer bem movia a changeling ao mínimo tipo de esforço perfazendo à mulher. “É claro que estou falando de Cillian, ou você por acaso faz um hábito de torturar emocionalmente changelings com quem tem história pessoal? Se bem que parece mesmo algo que você faria.” Incapaz de conter a adição ácida ao comentário, respirou fundo para que pudesse recuperar um pouco de seu equilíbrio; estava ali para apaziguar, não alimentar ainda mais uma pira já com chamas flamejantes.
“Escute, não sei o que está planejando fazer com essa dança das cadeiras, mas Cillian é um bom homem que já passou por trauma suficiente na vida. Você faria bem em decidir logo o que quer com essa reaproximação, se existe algum sentimento digno de colocar acima de sua ambição.” Talvez o amigo não aprovasse dessa intervenção direta que, com toda sinceridade, provavelmente se aproximava de uma violação de confidência da parte de Ethel, mas não podia em sã consciência deixar de se posicionar em algo tão importante. “Erianhood sabe que estou longe de entender o que ele possa ver de minimamente gracioso ou genuíno em você, mas o coração segue os próprios rumos e nem sempre nos cabe questionar.” Ela própria já havia sido vítima de más escolhas afetivas mais de uma vez, algo como uma maldição permeando todas as relações românticas que tivera na vida até então. “Estou dizendo para não magoá-lo. Eu cuido dos meus, Sigrid, e ao contrário daquele dia em Grimwals, essa sim pode ser uma ameaça caso decida não tratar com graça a afeição que meu melhor amigo tem por você.”
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sigridz · 3 months ago
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Sigrid aceitava em concordar em discordar, ainda que o termo parecesse confuso. Um pouco adoentada pelo abandono de Rá e abalada pela morte da soberana, não se encontrava em boa disposição para debates acalorados. Sentia que ela e Ethel se encontravam em posições mais parecidas do que gostaria e bem, querendo ou não a vida delas estava entrelaçada de uma forma bem íntima, portanto não valia a pena qualquer briga que fosse, então apenas assentiu sem olhá-la diretamente, deixando de lado o tecido em mãos. Colorido demais para a época em que se encontravam, apesar de suave ao toque. "Acho que consigo imaginar." E Sigrid estremeceu ao fazê-lo, porque imaginava as piores coisas! Não porque porque costumava ter os changelings em baixa estima, mas porque conhecia os horrores que a guerra provocava. Os campos e acampamentos não eram exatamente conhecidos pela organização e higiênie, então fazia doer o coração ao pensar em pessoas improtantes para si naquelas condições.
A pergunta da outra a tirou dos pensamentos terríveis sobre as condições sanitárias de um acampamento militar, fazendo com que erguesse as sobrancelhas ao olhá-la, surpresa. Não conseguia entender porque Ethel estava buscando sua opinião, mas a questão quase a fez rir. "Minha opinião não mudou." Tinha ficado chocado? Claro! Surpresa? Bastante! Mas não achava que Ethel era algum tipo de meretriz barata, tampouco culpava Eirik. A própria Sigrid muitas vezes era vítima da intensidade dos sentimentos e violência dos desejos. "Diferente de você, não vou atacar a pessoa querida de um amigo." Alfinetou, mas não estava completamente séria. Era mais como uma leve provocação, quase um brincar. "Eu me preocupo com Eirik também, mas ele é grandinho, não acha? Além de tudo, ele é muito inteligente. Acredito que tenha plena capacidade de fazer as escolhas e lidar com elas." Queria falar que se ela partisse o coração dele, encontraria seu fim em um copo de purgante, porém não revelaria tão fácil os seus segredos. Sigrdi era sutil demais para tal e além de tudo, acreditava de verdade em Eirik — nas escolhas dele, no coração dele. Também não poderia machucar uma pessoa tão querida para Cillian. "Não posso julgá-los quando me encontro em situação semelhante. Você também deveria acreditar em Cillian e na capacidade dele. E talvez acreditar em mim também quando digo que não quero magoá-lo." Sabia que tinha feito algumas vezes, mas não era uma boa recordação. Ao olhar de novo para Ethel, sentia a sinceridade na ponta da língua, pingando em cada palavra. "Eu amo Eirik como um irmão. Freyja também. E Cillian. Os deuses sabem o quanto eu o amo. Deveria acreditar nisso também."
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Há algum tempo – praticamente desde que a conheceu, na verdade, sob circunstâncias muito aquém do ideal –, a changeling vinha considerando como se desenharia sua conciliação com Sigrid. Sabia que podia ser obstinada e difícil uma vez que cimentava sua opinião sobre algo, mas também pensava que a linha do perdão era um caminho com muito menos percalços naquela situação em especial; quisesse ela ou não, a khajol seria parte de sua vida dali em diante, de uma forma ou de outra. Além disso, não interessava a Ethel manter uma desavença que somente desgastaria suas outras relações, além de si mesma, já que era impossível ignorar a relevância da outra mulher para seu melhor amigo – e agora também, por extensão e ironia do destino, para o homem a quem pertencia seu coração. “Podemos concordar em discordar, então, se for o caso.” A promessa anterior não era somente da boca para fora – pretendia honrar o compromisso de, fosse feito um esforço conjunto da parte de ambas, a changeling a receberia como uma das suas. 
“Digamos que o clima no acampamento está exatamente como poderia se esperar. Se já era um desafio acomodar dezenas de montadores e dragões em uma nova ilha… bom, acho que consegue imaginar o cenário.” Não que changelings fossem especialmente caprichos em sua maioria, afinal também se organizavam em barracas nas fronteiras e em outros postos oficiais; ainda assim, não significava que estavam satisfeitos, especialmente frente às subsequentes ondas de incerteza que vinham assolando o império nos últimos meses. “Você…” Iniciou, sem ter certeza se de fato queria dar voz àquela insegurança. “Por mais baixa que já pudesse ser, sua opinião sobre mim mudou depois daquele dia?” Queria dizer que não se importava com o que Sigrid ou qualquer outra pessoa pensava de si, mas tão logo deu voz às palavras que prometiam certa harmonia para as duas a partir dali, percebeu que gostaria, sim, de saber se ela a julgava. “Não sei exatamente o que Eirik te disse, mas quero que saiba que não estou tentando magoá-lo. Isso – ele – é importante para mim. Agora talvez entenda minha situação quando quis me certificar que não brincaria com os sentimentos de meu melhor amigo.”
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sigridz · 7 months ago
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A ideia do castelo em chamas causava um pouco de irritação em Sigrid. Não se lamentava totalmente por tudo o que tinha sido perdido, mas pelo fato de que um descuido tinha causado tantos problemas para ambos os lados. Sentia falta de sua vida antes da bagunça, que caminhava perfeitamente em uma linha dourada e agora parecia tudo borrado. Tudo fazia com que Sigrid se sentisse com muitos anos a menos, incerta e confusa. E a sensação era de ter perdido seu próprio progresso. "Eu... acho que é raro, não tenho certeza." Não possuía muita ideia quanto a raridade ou valor do material; o que tinha para a khajol era puramente sentimental, um presente que estava tão acostumada a utilizada que já tinha se tronado parte e si mesma. Era estranho que não se sentia completa sem aquilo, chateada de forma profunda ao imaginar a falta de cuidado que tinha direcionado a perda da pulseira. "É especial para mim independente desse tipo de valor." Soltou, a frustração crescendo ao perceber que aquela changeling era inútil, porque não tinha oferecido nenhuma informação, tampouco era de alguma ajuda. Ao fechar os olhos rapidamente, deixou sair um suspiro, apenas para abrir as pálpebras de novo e se descobrir ainda mais irritada. "A sorte costuma acompanhar os khajols." Diferente dos changelings, queria dizer, mas desconfiava que a sentença estava implícia no pronunciar por entre os dentes. Considerava que os changelings eram providos de azar e as vezes até achava que eles espalhavam por aí, assim como os carrapatos que tinham trazido da ilha suja no qual habitavam antes.
"Se eu soubesse onde perdi a bendita pulseira, eu iria até lá." A resposta saiu enlaçada com a raiva que começava a dominá-la, porque nunca tinha sido muito paciente. Se a princípio tinha esperanças da outra ser solícita, todas estas já tinham sido perdidas e agora estava apenas diante de outra féerica que em nada podia ajudar ou fazer. Ao ter o seon observado, o coração de Sigrid apertou e diminuiu e ela se sentiu ligeiramente ofendida por uma changeling ter a audácia de se direcionar à ele, um ser sagrado. "Não, não posso fazer um feitiço." Respondeu a contragosto, resistindo a urgência de cruzar os braços ao admitir uma falha. Tinha tentado sim um encantamento de localização, mas a magia simplesmente não funcionou, deixando Sigrid com vários questionamentos. Não funcionava para coisas que envolviam dragões? Era resultado do enfraquecimento pela ausência da pira? Estava fraca ou era apenas a sua magia? Nem mesmo o seon parecia animado e ele era bastante receptivo no que se dizia respeito aos changelings. "E se você não pode ajudar, não deveria dar sugestões inúteis." Era comum que não gostasse da espécie dela de primeira, mas havia alguma coisa na outra, uma sensação de quase se lembrar, mas não o fazer. Parecia que a conhecia, mas não era capaz de identificar de onde, o que adiciona uma camada extra de insatisfação ao humor já prejudicado. "Espero que não seja inútil assim em um campo de batalha." Dessa vez o olhar que arrastou até Ethel era carregado de julgamento, porque não achava que ela parecia uma guerreira e se não era uma, não servia ao império. Tampouco aos khajols. Sigrid continuou a observar o chão, procurando qualquer indício da pulseira desaparecida antes de novamente retornar a atenção para Ethel. "Você poderia se mexer? A sua sombra está atrapalhando." Uma forma discreta, porém não muito educada, de solicitar que ela saísse de seu caminho.
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A sugestão de que a familiaridade entre as duas vinha de relances em Hexwood parecia perfeitamente possível, afinal se havia algo comum na Academia era, obviamente, khajols. Uma parte de Ethel ainda não se via totalmente satisfeita com essa conclusão, mas não via muito sentido instigar uma resposta mais direta naquele momento; teria tempo de investigar depois, se fosse o caso. “Meu nome é Ethel e sou changeling, como bem observou. Costumava estudar em Wulfhere antes do castelo ser engolido em chamas. Por ironia do destino, agora, assim como você, também frequento Hexwood.” Ofereceu Ethel, de certa forma em reflexo à maneira com que a própria khajol havia estruturado a apresentação. “Cristais de vidro de dragão? Uau, é um material raríssimo, que pouquíssimos lapidadores sequer ousam manipular. Dá pra imaginar porque um item como esse seria importante para você.” O deslumbre prevaleceu no tom de Ethel, momentaneamente focada no detalhe da composição ao invés de oferecer alguma possível informação sobre o paradeiro do objeto. “Lamento por não poder ajudar, Sigrid, mas infelizmente não vi pulseira alguma por aqui. Desejo boa sorte, definitivamente vai precisar se tiver qualquer pretensão de recuperá-la,” falou Ethel, com uma neutralidade quase forçada. Seu primeiro impulso era quase sempre estender uma mão em ajuda sem olhar a quem, por isso oferecer o que soava praticamente como uma recusa de auxílio veio como uma surpresa até para si mesma. A mulher desviou o olhar da figura da khajol, o rosto voltado para longe da atenção alheia na tentativa de buscar o mínimo de privacidade para analisar a própria reação. 
Por que estava se comportando daquela maneira? Não poderia ser por ter tido a identidade como changeling questionada, afinal já estava mais do que acostumada com isso; além do mais, a reação da outra sequer havia sido a mais adversa que já tivera direcionada a si, nem de longe. A única outra razão que ocorreu a Ethel naquele momento era muito mais amarga e insuportável, especialmente para alguém que pensava em si própria como amena e receptiva com diferenças; experimentava, totalmente a contragosto, o sentimento da inveja. Estava diante de uma khajol, que além de desfrutar de todas as infinitas regalias de uma vida no berço de ouro da nobreza, andava por aí ornada com um objeto cuja herança era Eldrathoriana por natureza. A ousadia de subjugar changelings por gerações e tomar posse de um material que deveria ser changeling por domínio, por território, era revoltante. Mas o pensamento, a sequer consideração dessa linha de raciocínio, era ainda mais. Naquela fração de momento, Ethel sentiu repulsa de sua própria reação. 
“Estes bosques são vastos, seria mais fácil se tivesse alguma ideia de quando ou onde notou falta da pulseira.” Acrescentou como um pensamento tardio, os olhos escuros – repletos de culpa com seu dilema interno – percorrendo a expansão do bosque praticamente intocado para além da ponte em que se encontravam. Como uma changeling, o apreço de Ethel pela natureza vinha como algo genuíno, parte tão intrínseca de seu ser quanto sua alma ou sua fé; era para essa última que precisava apelar naquele momento, se sentindo tão antagonista por um motivo que pouco servia de fundamento para qualquer animosidade – nunca havia se dado ao luxo de não gostar de alguém por uma primeira impressão ruim, intuição ou simples antipatia. “Não pode fazer um feitiço ou pedir ajuda para tentar localizar?” Olhou brevemente para o seon de Sigrid, incerta se o artefato tinha algum poder de influência direto. 
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sigridz · 6 months ago
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Havia um ímpeto de superioridade que quase a levou a revirar os olhos para Ethel, mas não o fez. Se o primeiro impulso dela tinha sido querer fugir e se refugiar no quarto, lamentando a própria sorte, as coisas mudaram assim que a viu. E decidiu investigar o que estava por trás de todos aqueles sorrisos entre ela e Cillian. Não é da minha conta, não é da minha conta. O mantra não era capaz de acalmar seus ânimos curiosos, tampouco de aplacar o ciúmes que parecia apertar o estômago e lhe fazia apertar a taça dourada em mãos também antes de por fim colocá-la na mesa com um pouco mais de força do que o necessário, indicando seu estado de espírito. "Você está sugerindo que eu não tenho decência?" Uma das mãos foi ao peito, como se a ofensa causasse alguma dor. Bem, quase isso. Há muitos dias não se sentia bem e os confrontos pareciam enfatizar o mal estar, mas não se deixaria abalar. Mantinha a postura confiante nos ombros e o queixo erguido, exibindo confiança. Os anos sendo ensinada por uma tia, a khajol sem filhos e de grandes expectativas e rigidez refletia em sua aura. Moldada em senso de poder e sonhos imensos, Sigrid gostava de abusar de sua posição favorecida quando necessário. Tinha sido uma criança ousada, uma adolescente implicante e se transformado em uma adulta petulante e curiosa na mesma medida.
"Eu não me importo se você gosta ou não da minha atitude e..." Começou, mas as palavras se interromperam de repente. Lembrou-se da Saturnalia. Yule. O clima de amizade, paz, gentileza e todas essas coisas. Não se sentia muito gentil ou animada, mas recordou-se de seu objetivo ali. Desejava estabelecer algum tipo de conexão, qualquer uma, que pudesse dar respostas que satisfizessem a curiosidade. Os dedos ainda dispostos na mesa começaram a arranhar levemente a madeira fina, demonstrando insatisfação quanto ao confronto. No entanto, pareceu não ser necessário se esforçar demais para descobrir mais sobre Cillian e Ethel. Em troca, te darei o benefício da dúvida mais uma vez. Por ele. Sigrid parou com os dedos na mesa, os olhos retornando para a changeling quando pareceu perder o ar. Ele? Quem? Só poderia ser uma pessoa, mas recusava-se a pensar que poderia ser ele. A relação entre os dois era um segredo, o qual Sigrid nunca tinha compartilhado com ninguém. E até onde sabia, apenas a família de Cillian sabia. Uma risada estrangulada escapou da khajol quando desviou o olhar da outra, sentindo todo o sangue fugir do rosto. Pareceu se reunir nos punhos, que se fecharam em punhos. Não era dada a esse tipo de violência, mas sentiu vontade de socar alguma coisa. A mesa do refeitório poderia ser sua vítima. "Ele?" Repetiu, sentindo a boca amarga. Quando voltou a olhar para Ethel novamente, sentiu os olhos transmitirem o mesmo fel das palavras. "Espero que não esteja falando da pessoa de quem eu acho que está falando." Engoliu em seco, respirando fundo antes de falar novamente. Não queria denunciar a si mesma, mas precisava ter certeza. Era a resposta que queria, afinal. "Está falando de Cillian?" Indagou, a voz um pouco mais baixa, permeada com o teor de segredo que aquela antiga amizade carregava.
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Desde que se entendia por gente, Ethel tinha o hábito de passar a maior parte de seu tempo pensando, esquematizando, planejando, a um nível que a fazia muitas vezes desejar ser capaz de somente parar por um instante. Nunca havia tido uma vida particularmente tranquila, mas os acontecimentos – grandes e pequenos – das últimas semanas vinham se acumulando no fundo de sua consciência, sempre para serem analisados posteriormente com calma e precisão. De muitas formas, Ethel estava cansada, exausta, de se preocupar com assuntos de todas as ordens de magnitude: profissionais, pessoais, emocionais.
Como se por uma ironia do destino, o pivô de um desses tópicos se apresentou de frente à changeling enquanto passava pelo salão principal. Desde o último encontro das duas, sequer um pensamento sobre Sigrid que cruzava a mente da changeling possuía cunho positivo; como se não bastasse a primeira impressão horrenda, o universo decidira transformar a piada em um deboche ainda maior colocando a khajol como objeto de afeição de Cillian. Se já detestava a outra mulher antes, saber como ela brincava com o coração de um de seus melhores e mais antigos amigos alimentava a animosidade de Ethel por ela exponencialmente; sempre havia sido protetora com os seus, não obstante a capacidade deles próprios de se cuidarem. “Eu sou sempre civilizada com quem se prova digno da cortesia, independente da época do ano.” O tom soou firme, mas não cruel.
Com suas próprias ressalvas de lado, era obrigada a concordar com o sentimento; se essa mulher havia captado e mantido a atenção de Cillian por tanto tempo, algo de valor deveria existir por debaixo do nariz empinado e atitude insolente – ainda que Ethel tivesse dificuldade de enxergar o que o amigo pudesse ter visto de redimível em uma khajol preconceituosa. “Gostaria de deixar claro que não gosto de sua atitude e não fingirei costume com falas intolerantes. Para toda a delicadeza que alega ter, espero que encontre em si a decência de ser minimamente agradável quando em companhia civilizada.” Não mantinha a ilusão de que Sigrid lhe pedia desculpas ou solicitava qualquer tipo de opinião, mas ainda que costumeiramente mantivesse a maioria de suas convicções apenas na privacidade de sua mente, aquela era uma linha que precisava traçar na areia. “Em troca, te darei o benefício da dúvida mais uma vez. Por ele.”
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sigridz · 7 months ago
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Houve um leve incômodo no estômago pelas sentenças dela. Certo, Sigrid considerava que rótulos eram mesmo importantes, soltando a primeira coisa que tinha passado pela mente ao vê-la. Ela parecia familiar, embora não conseguisse se recordar de onde. Diante da confirmação de que era uma changeling, pensou que era de Hexwood, onde eles andavam pelos corredores e pátios aos montes. Eram muitos e Sigrid conhecia apenas a face de alguns, sem ter muito interesse em amizades ou conexões com os outros. "Talvez me conheça de Hexwood." Declarou também, lançando um olhar para o seu seon. Como de costume pelos últimos dias, Trevo brilhava com menos intensidade, flutuando baixo, as vezes próximo demais ao chão. Sigrid achava estranho o comportamento, mas permitia se proteger ao não pensar demais e atribuir a culpa apenas a pira roubada. "Eu sou khajol, como deve ter percebido e frequento a academia." Disse, sem dar atenção atenção aos seus próprios títulos. Não possuía exatamente um e naquele momento não estava se importando tanto: a atenção estava na pulseira perdida e na ânsia por encontrar o objeto. Era precioso, embalado de recordações especiais e preferia morrer do que perdê-la de fato. Seu encantamento de procura não havia tido resultado, uma prova do constante enfraquecimento da magia. "Você por acaso viu uma pulseira? É pequena e delicada com pequenos... cristais de vidro de dragão." Não tinha certeza se deveria citar isso, mas seria mais fácil para a outra reconhecer caso visse.
Sigrid olhou ao redor, pelo chão, procurando sem sucesso. Pensou se deveria fazer outro encantamento, mas o primeiro havia drenado as forças o suficiente. Respirou fundo, frustrada com a ideia de precisar partir e deixar a sua pulseira para trás. "Meu nome é Sigrid." Disse, apenas para o caso dela achar sem querer e precisar entregar à alguém. "Apenas estou procurando por uma pulseira muito importante." O tom de voz quebrou, triste e frágil como vidro. "Agradeceria se tivesse qualquer informação a respeito." Era quase uma súplica, porque já tinha se cansado de pedir aos deuses.
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Andar pelas ruas do pequeno vilarejo trazia uma sensação de falsa nostalgia, como se Ethel relembrasse das simples paisagens de memórias distantes ou então de um sonho profundo e antigo. Caso se esforçasse, quase podia visualizar a imagem da mãe às margens da vasta floresta – o que era para lá de esquisito, considerando que, até onde se lembrava, a família nunca havia morado em Zelaria nem passado tempo considerável por ali. Não que confiasse muito em suas memórias nesse departamento, já que o pouco que se lembrava dos pais era difuso e filtrado por lentes de uma infância turbulenta; a esse ponto, beirando os trinta anos de idade, já tinha passado muito mais tempo sozinha do que supervisionada. Talvez fosse uma noção deprimente, mas não entretia o hábito de sentir pena de si mesma. 
Mesmo absorta em pensamentos como estava, Ethel percebeu a presença de mais alguém na ponte prontamente, seu treinamento militar tendo imbuído nela reflexos apurados – os que não desenvolviam esse tipo de característica em Wülfhere não durava muito tempo. A presença detectada, entretanto, não poupou Ethel da surpresa diante da pergunta proferida pela outra. “Geralmente respondo pelo meu nome, mas se o rótulo é importante, posso atender por ele também.” As palavras, isoladamente ou ditas por outra pessoa, talvez pudessem carregar certo quê de passivo-agressividade; o tom de Ethel, porém, não era nada senão moderado, ameno. “Mesmo que a cautela não te denunciasse, é difícil passar despercebida com seu companheiro luminoso.” Indicou com a cabeça na direção do seon, marca registrada dos khajols tanto quanto os dragões eram para os montadores. “Eu… te conheço de algum lugar?” 
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sigridz · 3 months ago
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O tecido que ambas observavam parecia indicar um gosto em comum. Sigrid havia se aproximado de maneira proposital de Ethel, porque achava que após tudo, deveria trocar algumas palavras com ela. Não era apenas o gosto por um tecido bonito que compartilhavam, mas também muitas pessoas. Até mesmo ideais, considerava Sigrid. Ela parecia oferecer alguma espécie de trégua e a khajol se sentia satisfeita, proque estava sem disposição. Lançada a lama por Rá e abalada pela morte da imperatriz, ainda tentava reunir coragem para respirar fundo sem o medo de quebrar em pedaços. "O fato de eu falar com você já não é o passo?" Tentou conter alguma irritação no tom, mantendo-o baixo e neutro como indicava o luto que cobria o império. "Temos em comum, queira ou não. Desejamos o bem das mesmas pessoas, vamos servir o império de uma forma ou outra." Bem, Sigrid agora não sabia como faria. A ligação com as divindades garantia aos khajols uma posição privilegiada, mas o que fazer quando havia um rompimento do tipo? "A minha boca é selada, Ethel. Você sabe que tenho meus segredos também." Decidiu falar, sem olhá-la nos olhos ou levar demais o tom de voz. Não queria tocar no assunto, tampouco lembrar da cena ou como tinha gritado e corrido. O acontecimento, que agora parecia tão simples, parecia pertencer a outra existência. "E realmente temos problemas maiores. Como está... no acampamento?" Nunca tinha se interessado muito pelas rotinas militares, mas agora tinha um motivo para tal.
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WITH: @sigridz
STARTER: "you know that we are the same."
Seu primeiro instinto era de pronto endurecer a expressão e negar qualquer semelhança com a mulher, principalmente porque o arsenal de motivos para ressentir Sigrid parecia ser interminável, mas resistiu ao impulso como pôde. Tirando vê-la de relance brevemente no casamento, não haviam se encontrado desde o incidente com Eirik; uma vez assegurado por ele que a amiga, que dissera ser como uma irmã, não diria nada a ninguém sobre o que testemunhara, Ethel considerou aquela ponta solta como queimada e resolvida. Talvez fosse mais provável que um buraco abrisse na terra e a engolisse antes que a changeling superasse o próprio orgulho e abordasse o assunto primeiro; a opção restante, para sua perpétua frustração, era simplesmente dar corda ao ponto introduzido por Sigrid. O pior de tudo é que, históricos desfavoráveis e preconceitos de lado, na verdade elas eram mesmo objetivamente semelhantes. “Eu posso tentar, de fato, fazer um esforço, é do nosso melhor interesse tratar uma a outra com civilidade. Mas precisa me encontrar no meio, não irei em sua direção sozinha.” Para toda a empatia que fazia parte fundamental de si, Ethel também era rancorosa e demorava a desapegar de primeiras impressões. “Temos assuntos mais importantes para lidar do que gastar energia alimentando essa picuinha ainda mais.”
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