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"Eu vou te levar para uma noite romântica, quem sabe assim você melhora esse humor," resmungou Kyrell, revirando os olhos com uma risada logo em seguida. Ele e Zayden eram opostos em muitos aspectos, mas Kyrell apreciava a companhia do amigo o suficiente para tentar, de vez em quando, arrancá-lo da biblioteca. Ignorou a pergunta seguinte de Zayden, afinal, revelar a surpresa agora estragaria tudo. Continuou andando, desprezando os olhares desconfiados dos trabalhadores ao redor—não era a primeira vez que ia até ali, então já estava acostumado. Chegando ao barco, Kyrell depositou a mochila que carregava com cuidado dentro dele, antes de se virar para Zayden com uma expressão de falsa seriedade. "Por castigo, você vai ter que fingir surpresa quando eu te contar," disse, estreitando os olhos de brincadeira. "Vamos andar de barco!" anunciou como se estivesse revelando o segredo do século. Apontando para o interior da embarcação, ele completou: "Vai, pode entrar e pegar um remo. Sem reclamações, de preferência. Eu odiaria ter que fazer uma cena e te jogar lá dentro à força." Apesar do tom brincalhão, a forma com a qual ele olhava o amigo deixava claro que, se fosse necessário, ele estava disposto a obrigá-lo.

@kyrellvortigern
porto da alcova
"É um lugar bonito e tudo mais, mas por que me trouxe aqui?" Zayden questionou o amigo depois de um tempo nas docas, quando começaram a receber olhares dos trabalhadores ali, como se estudassem os dois tentando descobrir se eram ou não alunos querendo causar problemas. Kyrell havia o tirado da biblioteca para dar uma volta, e Zayden sabia que precisava tirar a cabeça dos estudos árduos. Zayden não era mais um dos alunos, mas queria se especializar em poções, com o principal objetivo de curar suas crises de saúde, então caía de cabeça nas pesquisas. Ele olhou ao redor, observando o local, tentando memorizar os detalhes daquela paisagem enquanto podia. "Não me diga que vai me levar para um passeio de barco." Ele falou para o amigo, rindo em seguida como se aquilo fosse um absurdo. Eles sequer podiam entrar em um dos barcos? Mas logo seu sorriso se desfez aos poucos, já que Kyrell costumava às vezes ser uma má influência na sua vida. Não demoraria para o changeling que já bem conhecia convencer Zayden de que pegar um barco e dar uma volta, ou até pular de uma das pedras para um mergulho, era uma boa ideia.
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Com @fromodins, perto do atracadouro de navios.
Kyrell e Brennan frequentemente combinavam de se encontrar em locais estratégicos para discutirem como estavam e trocarem informações sobre as crianças sob sua tutela, verificando se precisavam de algo. Eles variavam entre lugares movimentados e áreas mais isoladas, sendo os primeiros ideais para conversarem sem levantar suspeitas em meio à multidão. Naquela noite, porém, o plano era se reunirem em um lugar mais tranquilo. No entanto, ao chegarem, ficou claro que algo havia mudado: uma pequena frota de navios mercantes havia atracado recentemente, trazendo consigo um fluxo intenso de trabalhadores e deixando o local muito mais movimentado do que o previsto. Felizmente não foi um grande problema, já que haviam conseguido um bom local onde já conversavam a pelos menos trinta minutos.
Em determinado momento, Kyrell sentiu uma inquietação vinda de seu vínculo com Nidhogg, e logo em seguida, Brennan comentou que estavam sendo observados. Sem demonstrar alarme, Kyrell se virou lentamente, apenas o suficiente para lançar um olhar discreto na direção indicada por seu antigo tutor. Viu então alguém, que ele não reconheceu de imediato, observando-os disfarçadamente por detrás de uma parede. Com um breve aceno de cabeça, ambos se despediram e rapidamente se misturaram à multidão, o que não foi difícil. Kyrell, sem usar o traje completo de voo, vestia apenas uma calça simples e uma camisa com alguns botões abertos, o que o ajudava a se misturar facilmente entre os trabalhadores do local.
Ele deu algumas voltas pelo local, certificando-se de que Brennan já havia se afastado, antes de se dirigir ao ponto onde avistara a pessoa que os espionava. Para sua sorte, ela ainda estava lá, aparentemente tentando descobrir para onde eles tinham ido. Aproximou-se lentamente, reconhecendo, com mais clareza a cada passo, a espiã: a mesma garota com quem ele cruzara anteriormente no campo aberto de Hexwood. Usando toda a furtividade que aprendera ao longo dos anos, moveu-se silenciosamente pelas costas dela, até estar perto o suficiente para se inclinar e sussurrar em seu ouvido: "Espero que tenha apreciado o que viu." Ele deu um passo para trás, cruzando os braços enquanto a observava com atenção. Embora estivesse irritado por ter sido vigiado, mantinha sua expressão calma, usando sua melhor máscara de tranquilidade. "Agora, você vai me contar a que devo a honra de ser observado hoje?"

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Foi quase impossível conter o sorriso que surgiu nos lábios de Kyrell ao ouvir a resposta de Elora. Claro que ele não falava sério tampouco levava a sério o que ela havia dito, mas gostava de poder provoca-la daquela forma e receber uma resposta ainda pior em troca. "Nada que uma surra de cinco dragão não estrague meu rosto o suficiente para termos os mesmo nível de beleza, Lora." Piscou na direção dela e deixou que uma risada baixa escapasse por seus lábios. Seus olhos se reviraram de forma teatral enquanto ela falava. Havia momentos em que Elora se parecia tanto com ele que Kyrell ficava confuso, sem saber se ela estava sendo genuína ou apenas encontrando uma nova maneira de fazer piada."Até parece que o Nidhogg não iria me salvar em um caso desses," respondeu ele de forma sarcástica. Sabia que o dragão não o deixaria morrer, mas também sabia que por pura teimosia, ele esperaria até o último instante para salvá-lo.
Aos pouco a expressão risonha foi substituíta por uma de compreenção enquanto a ouvia falar sobre o dragão. De onde eles estavam, podiam ver os olhares maldosos que alguns lançavam na direção das duas criaturas que, por sua vez, estavam tão entretidas em seu mundo particular que nem mesmo davam atenção para os outros. No caso de Nidhogg, Kyrell ficava feliz que ele optasse por ignorar, do contrário, seriam longas horas explicando os motivos que poderiam levar um dragão a queimar alguém sem ser mandado. "Recentemente eu vi algo peculiar, o Nidhogg estava observando peixes, ou seja lá o que ele enxerga quando olha pra água durante o dia." Ele riu. "Foi uma das poucas vezes que eu vi ele perto da água aqui, fora as vezes em que ele acompanha a Nyla. De resto ele parece gostar do calor perto da Forja."
Devagar, ele assentiu para o que ela disse. "Compreendo. Na verdade, tem bastante coisa me tirando o sono recentemente," respondeu de forma sincera, enquanto deixava os olhos se fixarem nas duas enormes figuras próximas do lado. Será que Nyla havia conversado com ela também? Se sim, será que ela falou sobre o Cálice e por isso Elora parecia preocupada? Ou será que ele apenas projetava as próprias preocupações na outra por que sentia que precisava falar sobre com alguém? Ele suspirou, frustrado por todas aquelas dúvidas. No entanto, ele confiava em Elora o suficiente para responder a pergunta com sinceridade. "Eu não sei ao certo como te falar sobre isso sem parecer um maluco," o rosto dele se virou na direção dela. "Mas... o Nidhog... Ele falou comigo. Tipo, falar falar mesmo. Na minha mente, não com a boca... Quer dizer." Ele respirou fundo. "O Nidhogg se comunicou comigo. E eu queria saber se isso aconteceu entre você e a Nyla também." Dito isso, ele torceu para que o fato dele não poder mentir ajudasse ele a não soar tão maluco quanto estava se sentindo.

Apenas um revirar de olhos foi direcionado a Kyrell em resposta, seguido de um pequeno sorriso. Estava sempre tão acostumada com as implicâncias que rondavam aquela amizade todas as vezes que se encontravam, que já não mais se surpreendia de que aquelas eram suas primeiras palavras ao se dirigir a ela. Todavia, sempre haveria ali uma reciprocidade, tão disposta a provocá-lo da mesma maneira. “Não fique tão chateado, eu sei que isso é apenas inveja por eu ser infinitamente mais bonita que você. Um dia, quem sabe, você possa chegar lá.” Sustentava um tom de falsa indiferença, mas apenas deixara que um riso escapasse por entre os lábios. Não levava as palavras dele a sério, e sabia que ele também não.
“Foi apenas para garantir sua noite de sono, não quero ser eu a destruí-la.” Ela apenas se permitiu dar um revirar de olhos em sua direção como resposta. “Bom, maluco você realmente é, não há como fugir disso. Mas ainda bem que está ciente do destino que te espera se ousar fazer algo do tipo sem mim, eu poderia fazer Nyla te jogar lá de cima como punição.” Seu olhar voltou-se ao dragão, pouco se importando com os olhares, curiosos ou repletos de desprezo, em sua direção. Achava engraçado como ela sempre parecia encontrar algo a se entreter, mesmo com a visão prejudicada durante o dia. E agora, com uma nova companhia, ela parecia se divertir à sua maneira com um entusiasmo ainda maior. “Eu acho engraçado, embora pareça que ela se torna um pouco desastrada quando está tão atraída com o próprio reflexo. Ela passou a gostar de vir aqui desde... Tudo. São os momentos em que ela parece não estar tão estressada.” Era impossível não sentir a preocupação fluir por suas veias, e Elora apenas se deitou ao lado dele, passando a encarar o céu. “Muita coisa acontecendo de uma vez, acho que é impossível não me sentir preocupada de uma forma ou de outra. Mas e você? O que se passa por essa cabeça de vento?”
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Com @ethcl, nas ruas de Zelaria.
Apesar de sua habilidade quase natural em arranjar brigas, Kyrell não se considerava uma pessoa de natureza encrenqueira. Ele não procurava confusão, elas pareciam encontra-lo naturalmente e ele simplesmente não possuía o discernimento necessário para evitá-las quando surgiam. Na verdade, até tinha esse discernimento, mas raramente se dava ao trabalho de usá-lo. No entanto, a situação mudava quando estava acompanhado, especialmente por pessoas com hábitos diferentes dos seus. Por isso, quando a amiga se intrometeu na briga prestes a acontecer anteriormente acabou se deixando levar pela amiga para fora do bar, lutando para não ser consumido pela vergonha por tê-la envolvido na confusão anterior.
"Eu ainda acho que você devia ter me deixado quebrar a cara daquele infeliz," resmungou Kyrell, caminhando ao lado dela, mas evitando olhá-la diretamente. "Ele foi completamente desrespeitoso com você. Até um urubu faminto teria mais educação que ele." A indignação ainda fervilhava dentro dele, e ele considerava seriamente a ideia de voltar e terminar o que havia começado. Bastou sair por um instante para buscar bebidas, e o homem já havia se aproximado. Em uma situação comum, Kyrell teria deixado passar, dando alguns minutos a mais para a conversa, mas ao olhar para a amiga por apenas dois segundos, soube que a abordagem havia sido tudo, menos agradável. "Me desculpa," murmurou, a voz um pouco mais baixa. "Eu não devia ter te deixado naquela situação." Virando o rosto ligeiramente, ele finalmente a encarou. "Você está bem?"

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"Talvez eu devesse aprender a guardar tais pensamentos." Falou, pensativo. "Me diga, revirada de olhos e ser ignorada causariam a mesma satisfação?" Ele arqueou uma sobrancelha, como se estivesse genuinamente interessado na resposta. "Apenas para eu saber qual a melhor forma de agir para não te deixar assim tão confortável." No entanto, assim que notou a reverência breve, ele revirou os olhos, sabendo que muito provavelmente só a estava deixando mais satisfeita quando respondia suas provocações. "Eu sei que você passou um bom tempo ocupando seus olhos comigo, mas se você olhar bem," ele gesticulou de modo contido para as pessoas ao redor. Não haviam tantas mesas ocupadas, mas dos rostos visíveis, era notório que aqueles presentes não estavam em busca de confusão, assim como ele. "Todos aqui parecem muito mais preocupados em cuidar das próprias vidas ou afogar seja lá quais demônios os estejam assombrando na noite." Ele ajeitou novamente o corpo sobre a cadeira, virando-se na direção da garota. "Não em arrumar confusão."
Ele teria falado algo a mais, mas acabou se interrompendo ao vê-la tomar o lugar livre ao seu lado. "Se queria companhia, deveria ter pedido de uma vez," resmungou. A fala seguinte o fez suspirar de forma audível e virar o corpo para frente mais uma vez. Agarrou o copo a sua frente, o levando aos lábios e sorvendo um longo gole enquanto continha o ímpeto de revirar os olhos com a fala dramática a respeito da relação dos dois. "Se não pergunta como amiga, eu não vejo motivos para responder esse tipo de pergunta." Ele resmungou, passando a ponta dos dedos pela condensação que havia se formado ao redor do copo. "Tem como duvidar de muitas coisas a meu respeito, Mae, mas não da minha habilidade de mandar um khajol ir para a puta que pariu. Sou capaz disso até nos meus piores dias." Pela primeira vez a sombra de um sorriso genuíno se formou em seus lábios, mas logo se apagou. A pergunta ainda pairava em sua mente, e graças ao álcool, era difícil achar uma forma de contornar a verdade como ele geralmente fazia. "Não tenho um motivo específico. Não estou tendo um dia bom e estou tentanto me obrigar a esquecer que não estou tendo um dia bom. Simples." Enquanto a respondia, fez questão de não olhar em sua direção na intenção de dificultar que ela percebecesse que ele não falava toda a verdade, só depois se dirigiu a ela. "Isso te parece motivação suficiente?"

O sorriso que em outro momento nasceria em seus lábios com naturalidade, naquele momento foi forjado para transparecer júbilo, assim conferindo consistência à postura que tentava preservar. Seu objetivo ali não era provocá-lo, como diversas vezes havia feito no passado, mas aquele era um segredo que não permitiria que o changeling reconhecesse. ── Você é quem não parece estar ciente da satisfação que me proporciona ao admitir que me acha insuportável. ── Inclinando o dorso ligeiramente para frente, oferecia a ele uma singela reverência, insinuando sua diversão ao irritá-lo até o ponto de inspirar suas ofensas pessoais. Nenhuma delas eram realmente absorvidas por Maelisara, que contava com seu único inimigo dentro da própria consciência. ── O objetivo é exatamente esse. ── Seu sorriso se ampliou ao dizer.
A rivalidade entre eles se mostrava sólida o suficiente para desanuviar o raciocínio alheio, permitindo que observasse a inconsistência em seu argumento. Mas, sem se abalar por isso, a curandeira logo procurou por um caminho que permitisse contornar o equívoco justificável. ── Acha que o faturamento é alto o suficiente para cobrir a despesa que alguns desses bêbados insuportáveis causam quando perdem o controle? ── O olhou com a confiança e o desdém de quem apontava o óbvio. ── Principalmente os mais esquentadinhos como você. ── Realçando seu atrevimento, uma das sobrancelhas se arqueou. Estava decidida a abrandar suas ofensivas assim que encontrasse um pouco menos de resistência por parte dele. Lançou um olhar rápido ao redor, examinando o ambiente com atenção antes de voltar sua atenção para Kyrell ── Não me parece ser o perfil desse lugar, mas perdi as contas de quantas brigas violentas presenciei em algumas dessas tavernas. ── Acrescentou, dando de ombros.
Deliberadamente interpretando a dúvida sobre suas intenções como um convite, Maelisara arrastou a cadeira posicionada ao lado do rapaz - reproduzindo um som agudo com o contato dos pés do móvel contra o assoalho - para se sentar junto a ele sem qualquer cerimônia. ── Vim saber qual é o motivo deste seu ímpeto em se embriagar. ── Expondo o motivo real que havia a conduzido até ali, não esperou por uma reação, de imediato esclarecendo um ponto que seguramente viria à tona. ── Não que eu esteja tentando agir como uma amiga aqui, pois bem sabemos que esse não é o tipo de dinâmica que mantemos… ── Seu sorriso foi tingido pelo sarcasmo, mas também transparecendo genuinidade. ── Mas o momento que estamos vivendo me faz querer ver cada um de nós firmes para resistirmos às provocações dos khajols. ── Concluiu com uma verdade que lhe era conveniente naquele momento.
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Houve um tempo em que a teimosia de Brianna seria vista com admiração, assim como sua destemida indiferença ao perigo. Ela sempre fora mestre em se meter em encrencas. Onde os insultos nunca passariam de provocações leves, e ambos estariam ocupados demais rindo da situação para se importarem com ferir um ao outro. Mas agora, tudo era diferente. Houve uma época em que a simples presença dela trazia alívio, não a dolorosa lembrança de uma amizade fracassada, de uma tentativa falida de conectar-se com alguém tão diferente dele. Ela não foi a primeira a decepcioná-lo, mas essa decepção carregava um peso maior. Ela foi a primeira khajol a fazê-lo baixar a guarda, a primeira a atravessar suas defesas e fazer com que ele ousasse sentir algo além da desconfiança. E, ao final, foi ela quem o lembrou o quanto ele fora estúpido. Tolo por acreditar, ainda que por um breve momento, que uma amizade como a deles poderia se criar em meio às diferenças. Agora, restava apenas a amarga constatação de que ele havia se enganado. Mais uma vez.
Ele aguardava enquanto ela falava, a expressão distante revelando o aborrecimento que ele mal se dava ao trabalho de esconder diante do drama exagerado de suas palavras. Por Erinwood, será que ela sempre fora tão dramática, ou o tempo havia acentuado essa característica? Mas então, o apelido escapou dos lábios dela, e seus dentes se cerraram com tanta força que, se suas presas aparecessem, provavelmente feririam suas próprias gengivas. "E mais uma vez eu tenho que te lembrar que o que você espera ou deixa de esperar não poderia me importar menos." Sibilou entre dentes, soltando o ar lentamente pelas narinas afim de controlar a raiva que parecia fazer seu sangue borbulhar. "E você realmente deve ser muito egocêntrica para imaginar que eu perderia meu tempo fazendo algo tão pessoal assim logo com você. " Um riso de escárnio escapou de seus lábios. "Ou que eu sinto por você é repulsa, Brianna. Nojo. Esse tipo de sentimento não é pessoal o suficiente para fazer com que eu me suje com você."
As palavras saíram de sua boca com um gosto amargo, principalmente porque não eram inteiramente verdade. Toda a raiva que sentia por Brianna vinha da frustração pela forma como a amizade deles havia terminado. Ele se permitira criar um vínculo com ela, apenas para que, no fim, ela se revelasse como qualquer outro khajol. Mesmo que o que estivesse sendo discutido fosse uma hipótese remota, a verdade é que ele jamais faria nada contra ela, justamente por temer o arrependimento que poderia surgir depois. Não queria mais Brianna por perto, isso era fato. Mas ainda havia vestígios de um carinho antigo, um sentimento que ele não cometeria o erro de oferecer novamente.

《TW.: IDEAÇÕES SUICIDAS??? LEVEMENTE GORE???? Enfim, Brianna sendo uma doida varrida no geral. Proceda com cuidadado.》
Para alguém tão sisudo quanto Kyrell, o fato de tê-lo feito sorrir seria contado como uma vitória em seu placar mental. Mesmo que fosse um sorriso falso, mesmo que tivesse chegado ali após palavras vis serem proferidas. Um sorriso era um sorriso, e ele já havia dado a ela o que desejava, um vislumbre do garoto que um dia fora, o garoto que por muito pouco não havia conquistado a amizade e que até hoje ela não conseguia entender completamente onde tinha dado errado. Ele a lembrava um pouco dos gatos de rua que costumava cuidar quando estava na cidade, às vezes machucados demais por humanos cruéis que seu primeiro instinto era atacar antes de sofrer mais nas mãos que tentavam alimentá-los. Infelizmente para Kyrell, coletar gatos perdidos era um passatempo que ela adorava, e já estava acostumada com as garras rasgando sua pele antes de conquistar o coração dos felinos. Isso não poderia ser tão diferente.
Além disso, nada do que ele poderia dizer era pior do que ela já pensava sobre si mesma. Era quase acalentador estar por perto de alguém que desse voz ao que se passava dentro de sua mente a maior parte do tempo, a dureza e sinceridade das palavras eram quase como cauterizar uma ferida, agoniante mas necessário para que ficasse melhor, uma válvula de escape para o seu próprio martírio auto infligido. — Eu esperava mais de você, Ky — Sorriu para si mesma ao utilizar o apelido, antecipando a réplica dele apenas pela audácia da intimidade forçada. — Matar uma mulher com magia queimando ela? Dá para ser mais clichê? O que você vai fazer antes disso? Me perseguir com forcados e tochas? Me atar a uma estaca? Para alguém que supostamente fantasia com a minha morte, você não parece muito criativo. — Sua voz era quase melódica ao sair do seu lugar, pronta para segui-lo onde quer que fosse, com ideias bem vividas para ilustrar quanto ao que esperava do cenário hipotético que pintavam juntos. — Eu esperava no mínimo ser empurrada de uma escada. Defenestrada pela janela de uma torre talvez, ou melhor, ser abduzida pelas garras de um dragão e jogada das alturas sobre uma floresta, tendo uma última respiração arrancada do meu peito ao ser empalada por uma árvore. Ou algo mais pessoal e íntimo, que explore todo esse ódio que você parece nutrir por mim. Você não tem garras? Imagine cravá-las em meu peito, sentir meu coração ainda batendo em sua mão enquanto você vê a luz se apagar em meus olhos sabendo que eu jamais iria te atormentar novamente. Eu poderia até usar um vestido claro para a ocasião, deixando a cena toda mais dramática. — Ela balançou as sobrancelhas, com um olhar travesso de quem tinha acabado de propor um roubo de sobremesas antes do jantar. O curandeiro da mente contratado por seus pais logo após a morte de sua irmã, diria que não é saudável fantasiar de forma tão vívida sobre como deixar esse plano, mas Brianna sempre achou o homem um pouco parvo demais para o trabalho que fazia. Mas a ideia implantada em sua mente por Kyrell era muito melhor do que suas fantasias costumam ser. Ao morrer pelas mãos dele, ela não estaria sendo fraca, não estaria tomando a saída dos covardes ao tirar a sua própria vida. Seria uma morte honrosa, uma boa morte. — Sabe, eu acho que vou conceder essa honra para alguém com mais gosto pelo drama. Eu mereço uma morte mais memorável do que só queimar em uma estaca como uma bruxinha qualquer.
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Esconder os próprios sentimentos parecia ser algo em que Khajol era tão hábil quanto em lançar facas, o que quase o fez rir. Tentar apelar para o ego dele era uma jogada esperta; em situações normais, quando sua ajuda não fosse obviamente necessária, isso até poderia ter funcionado. Na verdade, só fez aumentar sua vontade de rir. "Eu vi você jogar", ele disse, com tranquilidade. "Você não colocou muita força. Só teve o azar de a faca cair num ponto onde a lâmina entra fácil. Isso costuma acontecer quando você praticamente joga fora do alvo." Um sorriso de leve curvou seus lábios. "É o tipo de erro que crianças costumam cometer." Apesar da provocação evidente, ele dizia a verdade. Já havia cansado de corrigir as crianças que ele treinava para que não cometessem mais tais erros.
Kyrell virou levemente a cabeça para o lado, observando mais uma vez o ponto onde a faca da garota havia ficado presa. No entanto, ao focar o olhar no cabo, algo chamou sua atenção. Ele piscou algumas vezes, tentando assimilar a imagem e a familiaridade que ela trouxe. Conhecia aquela lâmina. Já a tinha visto antes, especificamente no dia em que foi comprada — nas mãos de Cillian. Ele voltou a atenção para a garota novamente, dessa vez cheio de perguntas que, graças a teimosia dele, ela seria poupada, porém o mesmo não podia ser dito sobre Cillian na próxima vez que ele o encontrasse. "Sabe que eu conheço? Mas todos eles seguem o princípio de que ajuda só é ofertada quando pedida diretamente e com educação." Mais uma vez seus lábios se curvaram em um sorriso provocativo. "Boa sorte em conseguir ajuda sem usar nenhuma dessas coisas."

A habilidade e mira alheia pareciam uma provocação quando Sigrid fracassou totalmente em suas tentativas. Tentou não se deixar levar demais, pensando em todas as outras coisas nas quais era boa. E haviam muitas! No entanto era ruim em um número semelhante, de movo que sempre tentava ocultar suas poucas inabilidades. Ninguém precisava saber que era péssima com pinturas, que seus feitiços de teletransporte nunca davam certos ou que jamais acertava alvo algum... porém agora o changeling irritante sabia, o que Sigrid considerava uma fraqueza. Maior ainda do que a que estava sentindo no momento, a respiração tornando-se um pouco mais acelerada ao ser confrontada pelas palavras dele. Insolente. A provocação brincou na ponta da língua, mas sabia que não era prudente brigar com alguém assim, principalmente quando sua adaga estava presa e Sigrid não tinha força o suficiente para retirá-la. "Ah, eu só queria saber." Respondeu, segurando a irritação que crescia no peito. Ele não tinha educação alguma? Não se oferecia para ajudar? Nem um pouco cavalheiro? Ela estava acostumada com homens que se colocavam ao seu serviço e disposição, portanto por alguns poucos segundos apenas o encarou como se esperasse algo mais. "Seria incrível se tivesse por aqui um homem forte o suficiente para me ajudar com isso, não é? Eu não consigo tirar, acho que lancei forte demais." Disse, a sentença acompanhada de um suspirar triste ao olhar para a pedra da empunhadura de sua arma. O rosa quase parecia brilhar. "Uma pena que não tenha, não é mesmo? Você conhece algum home forte e educado o suficiente que pode me auxiliar com esse problema?" Indagou, enfatizando cada uma de suas palavras, uma tentativa de atingir o ego, ignorando o crescente mal estar dentro de si.
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Enquanto ele a observava, pensava em qual seria o próximo insulto. Seria ingênua o suficiente para insultar um dragão novamente ou dessa vez dirigiria os insultos para ele? Talvez um discurso sobre o quanto os changelings não deveriam estar ali ou se acostumando ao lugar? Era difícil dizer. Mesmo que khajols fossem extremamente previsíveis, a gama de absurdos era bastante ampla, e dependia da personalidade de cada um. As sobrancelhas se franziram levemente ao notar a mágoa em sua fala, no entanto, mal teve tempo de perguntar, pois no segundo seguinte já estava rindo. “Bom, acho que pra recompensar essa generosidade toda, quando eu me formasse eu deveria ir para as fronteiras lutar a guerra de vocês e só me aposentar quando eu morresse.” Kyrell estalou os dedos. “Ah, não, eu já sou obrigado a fazer isso naturalmente.” Uma nova risada de escárnio saiu por seus lábios. “Você deve ser muito ingênua para achar que essa recepção foi um favor e não uma necessidade.” Havia termos piores para se utilizar, mas ele os guardou para si, afinal, a situação ainda o divertia.
Ainda que sua hesitação fosse notória, ela não dava o braço a torcer, mesmo que isso significasse despertar a ira de um dragão cujo temperamento não era um dos melhores. Kyrell não precisou falar nada, pois no exato momento em que ela finalizou a fala, o dragão arreganhou os dentes de modo ameaçador. Ainda que o ato deixasse Kyrell apreensivo, ele nada fez além de cruzar os braços, afinal, sabia que Nidhogg não faria nada para colocá-los em risco, a menos que se mostrasse necessário. Ele estalou a língua no céu da boca. “Desdenhar de um dragão também não é algo muito inteligente a ser feito, te deixa ainda mais próxima de se tornar um lanche.” Disse de forma simplória, com Nidhogg raspando a garra no chão atrás dele, como se estivesse concordando.
Pela expressão em seu rosto era óbvio que ela ainda teria muito mais a falar, por isso Kyrell apenas aguardou, a escutando com um sorriso divertido nos lábios. Talvez ela estivesse buscando formas de se sobressair sobre ele, mas mal ela sabia que apenas o estava deixando mais disposto a provoca-la. “E o que exatamente você é para assumindo esse tipo de coisa sobre mim?” Ele arqueou levemente a sobrancelha. “Arrogante? Presunçosa? Desesperada por ter a última palavra” seu cenho franziu levemente, como se estivesse genuinamente interessado em saber a resposta. Devagar, ele deu alguns passos na direção dela, parando apenas ao notar a agitação do seon. “Inteligente seria se você tivesse se curvado e demonstrado respeito. Sei que não é algo que vocês estão acostumado a fazer, mas no meu mundo, atos são muito mais valiosos do que palavras ou presentes” deu uma pequena ênfase na palavras ao lembrar das oferendas que via os khajols colocarem no lago quase todos os dias. “Mas não se preocupe, esse tipo de inteligência não é mesmo esperado de um khajol.” Após o insulto seguinte, Nidhogg bufou, mas não como se estivesse prestes a devora-la ou queimá-la viva, e sim como se concordasse com o que ela havia acabado de falar. Virando a cabeça na direção do dragão, Kyrell lançou ao mesmo um olhar ofendido. Traidor, pensou. “Sinto informá-la que o que pensa a meu respeito não muda muita coisa na minha vida,” ele ergueu os ombros.
Aproveitando a proximidade, Kyrell finalmente se permitiu observá-la de verdade. As feições dela eram delicadas, contrastando com a expressão tensa, como se estivesse pronta para atacá-lo a qualquer momento. Seus olhos, de um azul intenso, prenderam sua atenção por mais tempo do que ele esperava. Eram tão claros e profundos que, por um instante, ele pensou no céu em um dia limpo de verão. Mas havia algo a mais naqueles olhos. Não era apenas a beleza que o intrigava, mas também a combinação de ambição, curiosidade e uma força latente, elementos que despertavam um interesse incomum no changeling. Para disfarçar o súbito fascínio, Kyrell sorriu, exibindo uma simpatia nitidamente falsa. "Curioso," começou com um tom casual, "para alguém que parecia tão determinada a atravessar o campo, você está perdendo um bom tempo aqui, conversando com... um mero animal."

Semicerrou os olhos, odiando a suposição do real significado do que dizia. É claro que ele podia pousar onde quisesse, mas ainda parecia uma invasão inapropriada. Os dias com changelings por todos os cantos e dragões de tamanhos anormais ainda eram difíceis de serem absorvidos, causando sempre um desconforto por mais esperado que fosse. O pior foi quando ele ofendeu um lugar considerado quase sagrado pelos khajols com o termo esquisita. "Eu disse que queria passar. Por que vocês sempre gostam de inventar que falamos coisas que não falamos?" Ali havia uma mágoa a mais de relações e diálogos com changelings que não haviam dado certo, e não sabia porque insistia em tentar alguma civilidade daqueles selvagens. "Aliás, pense um pouco antes de se achar bom o suficiente para ofender os lugares da academia que teve o bom grado de receber vocês sem aviso prévio." Não conseguia disfarçar o incômodo, perdendo a expressão medrosa para uma carrancuda.
Se aquilo era uma ameaça, havia funcionado bem. Um arrepio ansioso subiu pela espinha de Freyja e deu outro passo para trás, sentindo a energia de Huginn, mais fraca desde o roubo da pira, em suas costas. "Não tenho interesse em ser amiga de dragões." Murmurou inquieta. Khajols e dragões vinham de fontes diferentes demais para terem qualquer ligação e duvidava muito que teria alguma oportunidade de se ver em outro cenário. Parecia certo que se detestassem, assim como os seons e changelings. Estavam apenas protegendo os seus de ambos os lados, mas qual era a verdadeira razão de defesa além da origem? Para ela, pouco importava, embora a curiosidade para saber mais um pouco a corroesse por dentro, sempre salivando em busca de mais.
A provocação deveria mexer com ela, mas Freyja era movida por segurança quando estava com raiva, a necessidade constante de se sentir superior já que era aquilo que vinha fazendo durante toda a vida. Fitou o homem incomodada, ainda intrigada pela audácia que divergia de ofensas diretas para provocações mais que invasivas. Como ele ousava falar daquela maneira com uma dama? Patético. "Você precisa ser muito anormal para achar que estava flertando com seu dragão. Sei que você seria incapaz de elogiar o incomum, mas não sou cega e nem burra." Inflou o peito, a postura mudando de uma só vez, ambiciosa em querer impressioná-lo um pouco. A pior parte de elogios era como conseguiam ser desconsertantes quando feitos de surpresa. "Inteligente seria o quê, exatamente? Correr na direção da boca dele?" Huginn se agitou apenas com a fala, mais ainda quando Freyja ousou em voltar os passos recuados para frente, sem olhar para a fera uma vez sequer. "Já deu pra notar que o menos animal dessa dupla é o seu dragão. Muito simpático..." Parou no meio da frase, sem saber o nome da criatura para elogiar outra vez e, talvez, conseguir a provocação que tanto queria. "Ele, é claro."
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FLASHBACK, 3 anos atrás.
O tempo que Kyrell e Tadhg passaram juntos lhe concedera a habilidade de ler o amigo como se fosse uma página aberta de um livro. Assim, ele captou o exato momento em que a frustração e a mágoa passaram pelo rosto de Tadhg. Aquele instante trouxe consigo uma onda de culpa, fazendo-o sentir-se indigno da amizade que sempre fora tão fiel. Em todos os anos de convivência, nunca houvera motivo para questionar a lealdade de Tadhg. No entanto, mesmo assim, Kyrell sempre hesitava em compartilhar completamente seus segredos, mantendo parte de si escondida. Ele costumava justificar dizendo para si mesmo que ninguém precisa confidenciar toda a sua vida a outra pessoa. Mas ali, naquele silêncio carregado, Kyrell percebeu que, na verdade, temia ao contar mais sobre si, Tadhg descobrisse que ele, de fato, merecia um amigo muito melhor do que Kyrell jamais seria capaz de ser.
Não soube o que responder, mas também não pensava que argumento algum fosse suficiente para convencê-lo do contrário. Ao seu lado, Nidhogg bufou, inquieto, e, pelo vínculo, ele sentiu que em breve não estariam apenas os três por ali. Ainda em silêncio, perdido em seus próprios pensamentos, deixou que ele circulasse o local onde estava, mas se viu pego de surpresa pela fala seguinte. "Armas?" Questionou, a voz nitidamente alterada pela súbita ira que o invadiu. Seus olhos faíscaram na direção do outro, mas a chegada de Buruk acabou distraindo Kyrell o suficiente para que ele visse Nidhogg o observando. Ao olhar no fundo dos olhos avermelhados do dragão, sentiu como se ao mesmo tempo ele o lembrasse que não podia se sentir daquela forma sendo que havia escondido partes importantes de sua vida e que talvez havia chegado a hora de contar o que havia guardado até então. Devagar, acenou com a cabeça na direção do dragão que logo se voltou para o recém chegado; no fim das contas, Kyrell não era o único com explicações para dar.
Ele flexionou as mãos algumas vezes, tentando controlar o nervosismo. "Armas?" repetiu com descrença, balançando a cabeça de um lado para o outro antes de soltar um riso baixo. Em seguida, com a habilidade de quem já fizera aquilo muitas vezes, escalou a perna do dragão e subiu em suas costas, caminhando até onde as caixas estavam presas. Sem muita cerimônia, soltou uma das amarras e lançou a caixa aos pés de Tadhg. Com a queda, a caixa se abriu no instante em que atingiu o solo, revelando itens de higiene e caixas de sementes. Logo após, Kyrell pulou para o chão, aterrissando a poucos metros de onde o amigo estava.
"Lembra quando éramos pequenos e você não entendia por que algumas das crianças que entraram com a gente me detestavam tanto?" Perguntou, olhando diretamente para o rosto do amigo. "Meu pai não foi simplesmente morto por ser mestiço, ele foi morto por ser o cabeça de uma rebelião que aconteceu anos atrás e foi muito bem abafada pelo nosso querido Imperador. Mas claro, quem em sã consiência iria sair falando sobre uma rebelião depois de assistir familiares sendo mortos em praça pública, não é?" Ele sorriu sem traço algum de humor. "Não é algo que seja tão facilmente esquecido." Ele empurrou a caixa levemente com o pé. "Todos os meus sumiços inexplicáveis" as duas últimas palavras foram proferidas com certo exagero "são para levar o mínimo pra garantir que eles tenham o suficiente pra sobreviver de forma digna sem precisar correr riscos todos os dias pra isso." O ar escapou de seus pulmões de forma ruidosa, como se ele estivesse aliviado por finalmente falar aquilo em voz alta. "Eu tenho motivos pra cogitar as armas, talvez até uma inclinação genética, se você levar em consideração, mas eu nunca ia perder o meu tempo com isso sendo que tem coisa bem pior espreitando a gente do outro lado da muralha."

flashback, 3 anos atrás.
O que quer que fosse que Kyrell estava escondendo, parecia ser grave. Identificou certa hesitação em sua postura, como uma linha que parecia o endurecer ainda mais que a faixada habitual. Pelo que o conhecia, tinha a impressão de que travava uma batalha interna na qual não podia interferir. Sentiu-se inadequado, então, como se houvesse algo de fundamentalmente errado a seu respeito–o suficiente para que o próprio melhor amigo nele não pudesse confiar. As diferentes maneiras com que viam o mundo eram fonte frequente de conflito, era verdade, mas nunca com proporções tão colossais quanto agora: ao encará-lo, sentiu-se medido e julgado, mas escolheu não se acovardar.
Como um vento fantasma a tocar-lhe a pele, sentiu que Burukdhamir estava a caminho, a curiosidade falando mais alto: o que estava prestes a vir à tona era grave o suficiente para que Buruk quisesse estar presente para confrontar Nidhogg. Para Tadhg e Buruk, nada ia além da lealdade, sendo aquela a linha que traçavam na areia para dividir os seus do restante do mundo. ❛ Nada vai além da lealdade. ❜ Retrucou com a convicção quieta de uma montanha, sabendo que contra-argumento algum o poderia mover. Não importava se Kyrell acreditava nele ou não–a verdade como conhecia era que o iria apoiar, quer ele quisesse ou não. Com passos lentos, se permitiu circular as patas de Nid a uma distância segura, contando cada uma das caixas a ele atadas–informação que poderia ser útil caso os segredos não viessem à tona logo de cara. ❛ I wouldn't judge you if you told me you're carrying weapons. ❜ Sabia que a indignação de Ky com as circunstâncias que o aprisionavam em servitude era inflamada, e embora a sua preferência pessoal fosse a de não tratar a raça inimiga como farinha do mesmo saco como faziam consigo, entendia a urgência carregada pelo impulso da rebelião.
Sob a luz noturna, Buruk apareceu no céu como um recorte contra as estrelas, aterrizando com surpreendente delicadeza para evitar atrair atenção. Caminhou até o dragão no exato momento em que o serpentear de seu pescoço se voltou na direção de Nidhogg, como se o questionasse em um idioma que não era capaz de ouvir. Não era o único com um amigo escondendo segredos, percebeu. Entre as emoções confusas que podia sentir através do vínculo, a que o cortou com a mais afiada das pontas foi o pesar. Havia algo de triste no segredo até então escondido, e foi por esse motivo que o quis desvendar: juntos, a carga emocional do que afligia Kyrell não precisaria mais recair sobre um único par de ombros. ❛ Também há detalhes da minha vida que você não sabe. ❜ Admitiu, sabendo serem detalhes que ele próprio era incapaz de recordar: apenas tinha as cicatrizes como evidência. Conforme o amigo por fim despejava toda a verdade que carregava em seu peito, o ouviu em silêncio até ter certeza que havia terminado. ❛ É patético. ❜ Se ouviu resmungar, não em relação à companhia presente, mas à configuração da sociedade de Aldanrae, onde era crime ajudar quem os havia ajudado. Como se em concordância, Buruk se aproximou o suficiente para que Tadhg tocasse suas escamas, buscando certo conforto. ❛ Eu não espero saber de tudo, mas quero saber o suficiente para poder te ajudar. ❜ O incentivo foi direto e sucinto, e perfeitamente ele em sua maneira de se comunicar. Não faria perguntas–apenas o convite para que dividisse tanto quanto quisesse consigo. ❛ Fale ou não, a escolha é sua. Só lembre que qualquer peso se torna mais leve quando dividido–o seu fardo é o meu, Kyrell. ❜
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"Uh, uma khajol que precisa falar com um changeling pra pensar bem de si mesma? Não é atoa que nem mesmo os da sua espécie te suportam então. O único problema é que se eles te ignoram, você acaba tendo tempo para achar que eu quero ouvi-la falar." O sorriso se manteve em seus lábios, como se estendesse a ela o maior dos elogios. Em momentos como aquele, gostava do fato de não poder mentir, pois sequer precisava pensar antes de responder. Assim que ela retornou a falar, Kyrell decidiu simplesmente não prestar atenção no teatro sem graça, e estava indo bem, até que a insinuação final o atingiu diretamente.
Devagar, ele se levantou, caminhando a passos calmos na direção dela. Seus lábios ainda ostentavam um sorriso pequeno, que mais parecia uma ameaça enquanto as orbes naturalmente pretas pareciam pegar fogo, assim como as do dragão a qual era vinculado. Quando falou novamente, sua voz estava mais baixa, o suficiente para que apenas ela o ouvisse. "Sim, eu sei que você realmente não tem muita utilidade, e isso não se estende apenas ao campo de batalha." Kyrell a olhou de cima a baixo, seus olhos repletos dos mais puro desdém. "Mas deixe-me deixar duas coisas claras pra você. Primeiro, nós militares temos mais o que fazer do que pensar em que tipo de idiotice está se espalhando entre a sua raça. Segundo," seu sorriso se alargou "se isso acontecesse um dia e eu estivesse entre os rebeldes, você não precisaria se preocupar com uma batalha, já que eu me certificaria que você fosse a primeira que eu assistiria queimar." A ameaça havia sido completamente desnecessária, fruto apenas do ressentimento que ele já nutria pela garota. Afastou-se cerca de dois passos e a cumprimentou brevemente com um aceno de cabeça. "Se me permite, tenho mais o que fazer."

Sentar-se no chão seria uma tarefa complicada, tendo que considerar as camadas e mais camadas de suas saias, e sabia que se assim o fizesse, Kyrell iria sair do lugar e ela teria que ter todo um novo esforço de se levantar para continuar atormentando sua tarde. Por esse motivo optou pela praticidade de se apoiar contra o tronco da árvore, o que facilitaria sua vida caso ele decidisse escapar, antes de se dar por satisfeita em irritá-lo. Sorriu de forma brilhante, tomando suas palavras como um elogio, mesmo sabendo que estavam longe disso. — Vê, é por isso que eu gosto de você. Sempre acabo me sentindo melhor sobre a minha falta de aptidão social. — Olhando a distância, ela brincava com uma mecha dos próprios cabelos escuros, um hábito que tinha desde muito jovem e que a acalmava. Levou uma das mãos ao peito, como se as palavras dele a ofendesse de forma dolorosa. — Você me ofende desse jeito, Sr. Vortirgen. Eu jamais seria gentil sem um motivo maior. Imagina que absurdo, eu sendo uma boa anfitriã apenas pelo prazer de ver o conforto dos convidados? Um absurdo sem tamanho. — A mulher fazia esforço para manter seu tom ofendido como se ele houvesse feito uma acusação absurda. — E pensar que eu estava prestes a te oferecer travesseiros melhores, em troca de um aviso antes de vocês de Wülfhere começarem os planos para tomarem o castelo. — Se atreveu a olhar para ele pelo canto dos olhos, ansiosa para ver sua reação. — Eu tenho certeza que ouvi uma história assim. De uma batalha que foi vencida por causa de um cavalo de madeira dado de presente, que carregava soldados e atacaram a cidade inimiga no meio da noite. Eu adoraria receber um aviso se esse for o plano, você deve saber bem que eu não sou alguém feito para a batalha e tenho sedas preciosíssimas em meus aposentos, seria terrível perder tudo por causa de uma rebelião. Eu posso até tentar conseguir lençóis melhores ou fazer um encanto para que seus aposentos tenham sempre água quente. O que me diz?
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Ele conteve o impulso de rir ao vê-la assumir uma posição similar a dele, como se quisesse dizer que não se sentia intimidada quando era nítido em seus olhos o que a presença dele e do dragão causavam nela. Malditos khajols e sua necessidade constante de se sentirem superiores. "Aqui é um campo aberto, onde preferia que um dragão pousasse? Em cima do telhado dos alojamentos? Naquela Cripta esquisita? Tenho certeza que uma asa que ele esticasse já seria o suficiente pra redecorar aquele lugar." Respondeu como se falasse de algo extremamente óbvio. "Dragões não são como essa coisa de luz que vocês tem, eles não mudam de tamanho quando querem." Gesticulou, com o rosto levemente franzido ao ver as diferentes cores de luzes que a esfera emitia. Sabia que khajols tinham seus seons tinham uma comunicação similar a de changelings e seus dragões, mas ele não tinha a mínima idéia do que todas aquelas cores poderiam significar.
Observou com certa curiosidade a esfera praticamente dobrar de tamanho quando Nidhogg, impaciente, soltou um novo grunhido. Geralmente ele teria proferido alguma outra fala grosseira ao ouvir a audácia com a qual ela se referiu ao seu dragão, no entanto, estava intrigado demais com o comportamento do mesmo na presença do seon que parecia ser a verdadeira fonte de irritação ao invés da forma com a qual a khajol se referia a ele. "Continue assim, é dessa forma que você vai conhecer o lado mais amistoso dele." Mesmo provocando ainda mais a garota, Kyrell se manteve atento ao ver a forma com a qual o dragão girava a cabeça; ainda que ele não se importasse tanto do dragão jantar alguns khajols, preferia que ele não fizesse isso, ao menos não ali.
Mais uma vez sua atenção se desviou da bola de luzes e seu foco mudou para a garota que agora falava diretamente com o dragão. Talvez devesse tê-la avisado que bastava uma reverência suficientemente baixa e demorada para que Nidhogg a desculpase, mas nesse caso, perderia a ótima oportunidade de vê-la corar enquanto elogiava a aparência do dragão. Kyrell mantinha a respiração baixa e contida, apenas para segurar o riso, mas no momento em que ela se virou em sua direção ele explodiu em risadas. "Elogiando a aparência de um dragão? Fala sério, você achou que flertar com ele ia servir de algo?" Ele balançou a cabeça para os lado, ainda incrédulo sobre o que havia acabado de presenciar. Até mesmo Nidhogg parecia estar processando a informação enquanto encarava o seon ainda próximo dela. "E pensar que khajols constantemente ficam contando vantagem sobre serem inteligentes."

Imitou a pose dele, cruzando os braços diante do peito como se dissesse que não estava intimidada, mas estava, e muito. O dragão que tinha o mesmo tamanho do muro, senão maior, piorava as coisas e seu seon denunciava suas emoções de maneira irritante. O olhou de cima a baixo, julgando as vestes típicas de changelings, quase sem cores vivas e amarrotadas pelo vento do voo recente, que infelizmente lhe caíam bem demais. "Bom, eu estava mesmo. Queria atravessar e fui impedida pelo seu..." A língua se enrolou na própria boca, precisava ser mais cuidadosa com o que dizia para não acabar sendo engolida em uma só oportunidade. "Pouso." Os olhos semicerraram-se uma vez. Freyja detestava ser desafiada porque sempre queria ganhar ou ter alguma vantagem em cima daquilo, e era exatamente o que o homem fazia, deixando-a ainda mais tensa. A presença de ambos havia sido como uma pintura há poucos instantes, sendo agora um cenário de horror.
Tentou não desviar o olhar para a fera, mas foi impossível quando o mesmo dilatou as narinas para soltar outro grunhido. Chegava a ser cômico como dragões e seons tomavam partido mesmo sem a consciência exata da diferença entre eles. Deu um passo para trás e Huginn praticamente dobrou de tamanho, como se estivesse pronto para entrar em sua frente a qualquer instante. "Como não poderia observar algo desse tamanho?" A audácia era enorme e se sentiu inferior, porque não poderia fazer muito. Não confiava em changelings e menos ainda que eles não poderiam atacá-la. O pavor, no entanto, era maior, se misturando com a beleza que ela encontrava nas escamas e na forma com que o pescoço de alongava em uma cabeça assustadora. Aquele sentimento era confuso e sua melhor escolha era aceitar a derrota. "Desculpe." Ele sequer podia entender o linguajar? Não arriscaria a sorte. "Não fiz por mal. Você é..." Quase gaguejou, as bochechas ficando vermelhas e o calor irradiando pelo pescoço, envergonhada e apavorada. "Bonito." Assumiu com dificuldade e sentiu um pouco de irritação em seguida, ficando ainda mais corada. "Você está zombando de mim?" Direcionou o olhar para o montador, descruzando os braços.
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Longe dos tatames aquele dia, decidiu se dedicar ao treinamento com adagas, mais precisamente a aumentar a quantidade de adagas que conseguia arremessar em um período menor de tempo. Uma atrás da outra, as adagas eram atiradas em direção ao círculo central, circulando a área até que restar apenas o espaço central que estava prestes a ser preenchido quando ele a viu. A mulher definitivamente não pertencia ao ambiente, com seu vestido volumoso e sapatos claramente inadequados, assim como nitidamente não tinha idéia do que estava fazendo, por isso não foi surpressa alguma quando a adaga ficou presa ao ser arremassada de modo tão patético. Na verdade, ele se surpreendeu ao ver a adaga se preender ao alvo.
Segurando o riso, ele atirou a última adaga, acertando o exato local planejado e então caminhou até o alvo para recolher suas lâminas. Uma a uma elas foram recolocadas na bainha, até que ouviu a voz feminina direcionar-se a si, percebendo por fim de quem se tratava. Devagar, ele virou na direção dela, reconhecendo as feições da khajol irritante que lembrava ter desmaiado diante dele no último contato que tiveram. Mantendo a última adaga em mãos, ele desviou o olhar para o local onde o cabo despontava antes de olha-la novamente. "Consigo sim." Respondeu de forma simples. "Por que?" Fingindo não saber do que se tratava. Se ela queria que ele a ajudasse, teria que usar a boa educação que ela havia propositalmente esquecido naquele momento.

Starter para @kyrellvortigern
Centro de treinamento
Merda. Merda. Sigrid agarrava com força sua pequena adaga, o coração acelerado ao perceber que não conseguia tirar o objeto do alvo. Não tinha acertado sequer perto do centro, nada que justificasse o impulso de ter lançado a adaga em tal direção. Sentia como se estivesse em território inimigo, porque sabia que o porão tinha sido transformado especialmente para os changelings. E ela estava ali, explorando e espreitando como se tivesse o total direito. Bem, parte dela acreditava que sim. O local ainda estava dentro de Hexwood, o que fazia com que pensasse que tivesse certa liberdade. Só gostava de evitar os meio feericos, uma presença que sempre parecia causar algum tipo de mal estar em Sigrid. Talvez fosse o medo dos dragões. Ou das espadas. Ou da maneira como sempre pareciam letais. A apreensão enchia os pulmões de Sigrid, o ar se tornando difícil de respirar enquanto as mãos ainda forçavam a empunhadura. Ao ouvir um barulho atrás de si, apenas fechou os olhos com força, por um breve instante desejando estar morta. A khajol respirou fundo, virando-se para para trás apenas para encontrar um dos vários changelings insolentes que perambulavam pela academia. Sigrid sequer sabia o nome dele, mas sabia que os olhos escuros causavam arrepios desconfortáveis pelas pernas. Não tinha muito a falar com ele, tampouco desculpas para estar naquele local. "Você consegue tirar isso daqui?" Perguntou então, propositalmente se esquecendo das boas maneiras ao indicar com a cabeça a adaga presa no alvo.
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para: @aylaras, no pátio central.
Era fim de tarde quando Kyrell se sentou no banco, retirando um anel do bolso. Ele havia encontrado a joia na manhã seguinte ao baile, mas, devido à dor de cabeça e à sensação inquietante de lembrar apenas fragmentos da noite, não lhe dera a devida atenção. O roubo da pira sagrada também contribuíra para que a busca pela dona do anel fosse deixada de lado, até aquele momento, quando o anel reaparecera no fundo do bolso de sua jaqueta.
Segurando o adereço entre o polegar e o indicador, ele o observava atentamente, como se esperasse que, de alguma forma, o objeto o ajudasse a lembrar a quem pertencia. Sabia que era de uma mulher — conseguia recordar vagamente o perfume dela, a cor dos cabelos compridos e alguns breves momentos compartilhados — mas isso era tudo. Nenhum nome, rosto ou qualquer outra pista que o ajudasse a identificar a dona. Mesmo perdido em pensamentos, Kyrell notou uma presença parada ao lado do banco. "Precisa de algo?" perguntou, ainda imerso em seus pensamentos, sem sequer desviar o olhar do anel para encarar a pessoa que acabara de se aproximar.

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Ele não demorou a se acomodar ao lado dela, observando de longe enquanto o dragão se divertia, batendo a cauda na água e espirrando gotas na companheira, que parecia completamente entretida com o próprio reflexo. "Olha, vou ser sincero: suas feições já não são lá grande coisa, mas hoje conseguiram piorar." A fala saiu tão naturalmente que, se alguém os ouvisse, poderia pensar que ele estava falando sério. No entanto, o sorriso que ele ostentava deixava claro que tais provocações faziam parte da dinâmica entre ambos.
"Engraçado você achar que tinha a opção de recusar. Eu só estava sendo educado, na verdade." Disse com um tom de falsa indiferença, inclinando o corpo para trás, enquanto desviava com habilidade do cutucão dela, se apoiou nos cotovelos, esticando as pernas em uma postura completamente relaxada. "A propósito, você não notou como estou feliz? Nem um cruzou meu caminho até agora, e olha só, você até me chamou de bonitinho." Ele franziu o cenho, como se estivesse a julgando por uma completa insanidade, mas logo deixou escapar uma risada. "Mas eu sei que a nossa amizade seria destruída num instante se eu fizesse algo assim. Não sou maluco." Com uma revirada de olhos, ele claramente se divertia, mantendo o olhar nos dragões. "Às vezes me pergunto o que eles enxergam durante o dia pra ficarem tão fascinados com o próprio reflexo." Soltou uma risada baixa, antes de finalmente olhar para ela de novo. "Mas me conta, você está aqui sozinha por escolha ou tem alguma coisa te incomodando?"

com: @kyrellvortigern + ❛ i thought you’d like some company. ❜
onde: lago oeste
Não se conteve em esboçar um pequeno sorriso na direção de Kyrell. Um suspiro de alívio em, ao menos, estar perto de um rosto conhecido e reconfortante a sua maneira. Não havia notado que estava há tanto tempo sentada sobre o gramado, enquanto observava Nylathra se divertindo sozinha ao encarar o próprio reflexo, até perceber a aproximação do changeling. Fez um indicativo para que ele se sentasse ao seu lado, mas sem tirar os olhos do dragão avermelhado. “Devo estar com uma cara muito acabada para você vir até aqui de tanta boa vontade. Que bonitinho, Kyrell.” Não duvidava que estivesse, mas também havia ali um certo tom de provocação e era algo tão habitual entre eles que Elora muitas vezes o fazia sem pensar. Sempre encontraria uma brecha para provocá-lo de alguma forma, fosse nos treinos ou em alguma taverna, tão bêbados que mal conseguiam encontrar o caminho de volta. “Mas eu não serei aquela a recusar companhia.” Direcionava o olhar a ele enquanto falava, cutucando-o com o ombro. “Me diga, qual khajol você insultou hoje? Espero que não tenha entrado em uma discussão grande demais sem mim, isso seria traição.”
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A cada vez que voltava da floresta onde Brennan residia, Kyrell sentia-se confuso e esquisito, como se retornar para o castelo fosse errado de alguma forma. Claro que tinha perfeita noção de que aquela sensação nada mais era do que sua mente arrumando formas de atormenta-lo, mas ainda assim não era um pensamento tão fácil de se distanciar.
Sua atenção estava dividida enquanto Nidhogg realizava o pouso em um dos lugares mais afastados que eles haviam descoberto até então e que Kyrell julgava ser pouco procurado pelos khajols. Como flamions não possuíam uma visão tão boa durante o dia, Kyrell e Nidhogg haviam criado um sistema para facilitar seus vôos diurnos que consistia em toques suaves entre as escamas, uma conhecisa região sensível dos dragões, indicando o lado para qual ele devia ir, e dessa forma, ele havia guiado o dragão até o chão. No entanto, no momento em que as patas dele tocaram o solo, suas asas se esticaram, como se tentassem se livrar de algum incômodo e um rosnado baixo pode ser ouvido do fundo de sua garganta: eles não estavam sozinhos.
Enquanto o dragão se virava na direção da intrusa, Kyrell se preparava para saltar a partir da asa esticada que o faria aterrissar perto da curva do muro onde ela parecia achar estar suficientemente bem escondida. O pensamento o fez querer rir, ainda que estivesse incomodado a atenção extra que estava recebendo. Esperou pacientemente até que ela notasse sua presença, observando a forma com a qual sua atenção recaía sobre o dragão a ponto de conseguir distinguir os momentos exatos em que a admiração se transformava em medo e vice-versa. "Escondida dessa forma, parece que você está bisbilhotando, e isso não é uma ação muito educada." Respondeu com a voz séria. Os braços estavam cruzados em frente ao corpo enquanto os olhos escuros fitavam os olhos azuis de modo tão intenso que por pouco ele não se perdeu em sua imensidão.
Sabia que permanecer na defensiva somente reforçaria a idéia de que ele estava fazendo algo de errado, por isso se obrigou a relaxar a postura e bateu sutilmente o pé no chão, sutilmente, três vezes, como se indicasse que Nidhogg devesse relaxar também. O dragão, no entanto, o havia ignorado e observava a garota como se algo nela o incomodasse profundamente. "Acho que ele ficou incomodado em ser observado." Kyrell bem sabia que havia algo a mais ali, por isso encarava a khajol com curiosidade, esperando que ela lhe desse uma pista do que pudesse estar acontecendo. "Talvez você precise pedir desculpas."

ONDE: Espaço aberto entre a muralha de Hexwood e a Academia
COM: @kyrellvortigern
O lugar vasto e extenso foi a opção de Freyja apenas para cortar caminho, desejando chegar ao outro lado da Academia sem ter que atravessar todas as escadarias, torres e corredores. Até preferia caminhar do lado de fora para aproveitar um pouco do sol, que se encontrava mais cinzento pelo tempo desagradável nos últimos dias. Vez ou outra, acabava se surpreendendo com o barulho das asas dos dragões e seus rugidos, mal acostumada com a presença das criaturas enormes. Era melhor vê-los no céu, e não em sua frente... Como acabara de acontecer. Para sua sorte, o mesmo se encontrava de costas, refletido as escamas em tom escarlate conforme se movimentava. Teve tempo de perceber o montador que tentava alguma coisa com ele e se recolheu para a curva do muro, observando atentamente de olho. Por mais que fosse uma khajol nata e tivesse suas crenças, era inegável: dragões eram magníficos. Morria de medo deles e preferia passar longe, mas aquela oportunidade era especial e importante. Tentou entender o que estava acontecendo, hipnotizada pelos movimentos entre dragão e changeling, mal conseguindo ver o montador, tão minúsculo ao lado da fera. Pousou a mão na parede e apoiou o rosto contra, temendo piscar e perder algo importante. Estava admirada e deslumbrada, entrando e saindo em devaneios que a assustavam com a hipótese de ser esmagada que ocasionalmente aparecia. Foi em uma daquelas que percebeu o silêncio repentino, tendo virado o foco da atenção de ambos. Os olhos azuis ficaram mais expostos com o levantar das pálpebras, completamente constrangida. "Oi." Disse após um breve instante, focando no focinho enorme do dragão. O medo a consumiu e, quase que imediatamente, o seon Huginn apareceu, denunciando a emoção com um vermelho quase da mesma cor do dragão. "Eu queria... passar." Quase engasgou, a respiração aumentando conforme o medo crescia.
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Desde sempre a mente de Kyrell era um lugar ruim de se habitar. Constantemente cercado por pensamentos corrosivos, ele se via preso em espirais de autodepreciação, onde cada reflexão parecia pesar mais do que a anterior. Havia dias em que o simples ato de existir parecia insuportável, e o desejo de desaparecer parecia se afastar cada vez mais do conceito de vontade e se tornar uma necessidade. Nessas horas, a pressão mental se tornava tão esmagadora que ele buscava refúgio em um bar. Não era o álcool que o atraía — não buscava consolo em taças vazias —, mas sim uma forma de fugir temporariamente da prisão que seu próprio subconsciente havia criado.
Havia ingerido mais canecas do que era capaz de lembrar, mas ainda assim a bebida parecia não surtir o efeito desejado, o que por sua vez se refletia em seu humor irritadiço. Podia sentir os olhos de alguém sobre si, reconhecendo a dona do olhar apenas quando seus passos ecoaram em sua direção, trazendo consigo o aroma característico do perfume cujo ele era perfeitamente capaz de reconhecer, dado o tempo em que a garota passava examinando Nidhogg, mesmo que o dragão raramente precisasse de cuidados médicos.
Antes que ele disesse algo, a caneca foi levada mais uma vez até os lábios, onde ele sorveu um gole longo da bebida antes de retorna-la a mesa. "Eu poderia dizer que concordo, mas infelizmente você não precisa do álcool para se tornar insuportável, Mae." Grosseirias e insultos não eram algo exatamente incomum entre ambos visto que a única coisa que pareciam possuir em comum era o carinho por Nidhogg. Ignorando a proximidade da palma, virou devagar o rosto para observa-lhe a face e ofertar um sorriso igualmente insinuante. "Mas claro, você já está mais do que ciente disso." Completou, o rosto exibindo uma expressão falsa de simpatia.
A fala seguinte o fez soprar um riso breve e nitidamente sarcástico. "É mesmo? Achei que os donos de bar estivessem mais interessado no faturamento do que na quantidade de pessoas servidas. Obrigada por me agraciar com tamanha inteligência." As sobrancelhas se ergueram levemente, como se dando ênfase a grande novidade apresentada por ela. Ele já havia chamado dela de sabe tudo irritante tantas vezes que ela provavelmente consideraria a fala como um elogio atualmente. Com um revirar de olhos, Kyrell soltou o ar de forma pesada, abandonando momentâneamente a postura sarcástica. "O que você quer? Sabe bem que eu estar alcolizado não muda em nada na vida do Nidhogg."

who: @kyrellvortigern
where: pigg & blanket.
Naquela noite, seu comportamento estava longe de ser motivo de orgulho, mas tampouco demonstrava intenção de alterá-lo. Por uma fortuna do acaso, havia escolhido ocupar uma mesa posicionada logo atrás de onde Kyrell estava sentado - na taverna que rapidamente se tornava um esconderijo para a changeling - o que lhe permitia observá-lo sem ser notada. Casualmente, Maelisara acompanhava as novas canecas de cerveja que eram deixadas diante dele a seu pedido, enquanto sua preocupação aumentava progressivamente a cada gole que ele sorvia.
O afeto que sentia por Niddhog, o imponente dragão domado pelo rapaz, certamente não se estendia ao próprio, mas, por alguma razão inexplicável, parecia haver dentro de si uma sutil consideração por aquela figura ranzinza que tanto gostava de contrariá-la. Antecipando-se às reações grosseiras e à indiferença que esperava encontrar com sua aproximação, a mulher levou o restante da bebida até os lábios, entornando-a de uma vez só. Secando a boca com a parte de trás da mão, soltou um suspiro profundo, ciente de que estava prestes a cometer um erro, mas os pés logo trataram de assumir o peso de seu corpo para conduzi-la até o outro.
Os dedos que repousaram suavemente na superfície da mesa marcaram sua chegada e, ao parar ao lado dele, seu olhar desceu até encontrá-lo. ── Não acha que a venda de bebidas alcoólicas deveria ser mais rigorosamente controlada, especialmente para aqueles que se tornam ainda mais insuportáveis quando embriagados? ── A provocação saiu de seus lábios com uma calma quase desinteressada, um sorriso leve insinuando-se, mas sem realmente tomar forma. Reconhecia que, se fosse excessivamente cuidadosa, isso poderia prejudicar mais do que simplesmente trocar algumas alfinetadas — algo que já era um terreno bem conhecido entre ambos. ── Só queria garantir que você vai deixar um pouco de cerveja para os outros clientes.
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No momento em que os olhos se encontraram, se viu envolto em um espiral melancólico que o fez questionar se o que a aflingia era mesmo a bebida ou excesso de pensamentos, mas logo afastou o pensamento, afinal, o que acontecia na vida de uma estranha não era da conta dele, ainda que seus traços lhe fossem familiares. As mãos rapidamente retornaram aos braços dela conforme ela o segurou, oferecendo o máximo de apoio para que ela se mantesse em pé. "Com todo respeito, mas não. Não aparenta." Respondeu devagar, optando por ignorar a aparente teimosia da mulher. Esperou que a frase seguinte fosse concluída, suas sobrancelhas levemente arqueadas como se esperasse por mais um comentário cheio de falsas convicções, no entanto, a frase permaneceu sem complemento, visto que no instante seguinte a viu desacordada em seus braços. Ainda que pego de surpresa, ele reagiu com agilidade, aparando o corpo feminino que desabou em seus braços com uma facilidade natural. Os murmúrios de preocupação ao redor não passaram despercebidos, mas ele dispensou a ajuda dos poucos que se aproximaram, percebendo que estavam tão afetados pelo álcool quanto a garota em seus braços. Seu olhar avaliou rapidamente o estado dela, e sem perder tempo, ajustou o corpo em seus braços, envolvendo-a com firmeza e com um movimento seguro, ergueu-a no colo, ignorando o burburinho ao redor, e seguiu em direção à saída, seus passos firmes contrastando com a atmosfera caótica da festa. Ao chegar em uma área mais tranquila, encontrou uma das poltronas dispostas no espaço externo e, com toda a gentileza possível, a colocou ali. Ajustou seu corpo cuidadosamente, esperando que a brisa suave ajudasse a garota a recuperar a consciência mais rapidamente. Seus olhos permaneceram atentos enquanto ele pensava no que poderia fazer para que ela despertasse. Talvez devesse tê-la levado diretamente a enfermaria ou ir em busca de ajuda médica. Ele suspirou, frustrado por geralmente passar a maior parte de seu tempo aprendendo a deixar pessoas desacordadas e não fazendo com que voltassem a consciência. Uma voz baixa interrompeu seus pensamentos, chamando sua atenção. Ele virou rapidamente para o lado e viu um dos funcionários da festa oferecendo um copo de água. Kyrell aceitou o gesto com um aceno de cabeça e, com cuidado, voltou sua atenção para a mulher ainda inconsciente. Com movimentos precisos e delicados, ele levou o copo até os lábios dela, permitindo que uma pequena quantidade de água escorresse suavemente para sua boca. "Espero que eu esteja fazendo isso certo..." murmurou para si mesmo, o tom de incerteza acompanhando seu gesto cuidadoso. Ele se afastou ligeiramente, seus olhos atentos à procura de qualquer sinal de melhora ou despertar. O que deveria fazer em seguida? Molhar um lenço e passar ao redor do rosto dela? Ele sequer tinha um lenço consigo naquele momento. Outro suspiro escapou de seus lábios, enquanto ele ponderava suas opções. Ainda que incerto, levou o copo novamente em direção à boca dela, pronto para oferecer mais um pouco de água, na esperança de que aquilo a ajudasse a recobrar os sentidos.

𝐋ogo nos primeiros goles, o álcool desce ao estômago, é prontamente absorvido e se espalha pelo corpo através da corrente sanguínea, alcançando órgãos e até o cérebro. O tempo que leva para essa circulação se completar depende de diversos fatores, como a quantidade ingerida e o volume de gordura corporal. No estágio inicial, ainda permanecemos sóbrios, e manter o controle do corpo ou a orientação no ambiente não é tarefa árdua; para Aeolian, na verdade, isso era quase trivial, dado seu hábito bem consolidado com doses generosas.
Após toda a exaltação do segundo estágio — a euforia —, ela havia se rendido completamente ao ambiente que antes julgara tão odioso. Dançou com as poucas e seletas companhias que encontrava, conversou sem reservas e se lançou em competições frívolas, mas que, de alguma forma, conseguiam entreter. No entanto, agora começava a sentir o peso do último estágio: a melancolia que assombra o sistema nervoso. A graça das coisas desvanecia-se aos poucos, e embora mantivesse uma postura minimamente composta, com os pés ancorados ao chão e a taça esquecida, pela primeira vez, entre os dedos, sentia-se lentamente imersa em um mundo que girava mesmo sem que ela se movesse, seu corpo vacilando levemente para o lado.
Ela não teria percebido os sinais, profundamente inerte da própria matéria, mas quando a figura masculina, envolta em sombras difusas, deteve-se à sua frente, tocando-a com delicadeza e fitando-a como se não fosse um objeto descartável esquecido numa prateleira qualquer — e sim algo digno de um segundo olhar, algo que merecia ser contemplado com cuidado — inclinou a cabeça levemente, sentindo, enfim, o que se passava dentro de si.
Como se buscasse uma âncora antes de afundar irremediavelmente, ela segurou o braço que, em outro instante, lhe oferecera apoio, buscando firmar-se. "Certamente. Não aparento estar bem?" inqueriu com lábios crispados e sobrancelhas apertadas, erguendo o queixo com uma falsa convicção, embora os sinais estivessem tão escancarados que apenas ela, com orgulho abismal, insistiria em fingir não perceber. "Sinto que hoje..." Tentou focar o olhar, cerrando os olhos com toda a força, como se isso pudesse, por milagre, tornar menos turva a visão de quem estava à sua frente. E, como que vencida por essa mesma correnteza, desfez-se por completo, recostando a cabeça sobre o peito do homem, espalhando a desordenada cabeleira prateada sobre ele, como ondas espalhadas por um leito esquecido.

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