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#zanini's journal
zanicto · 2 years
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Relatos Pretensiosos de um TCC em Destruição, Parte 1
Anos atrás, submerso nos processos de realizar meu trabalho de conclusão do curso de cinema e audiovisual, escrevi uma série de memorandos a fim de clarear minhas ideias sobre o projeto e manter meus orientadores atualizados sobre o andamento deste. Na ocasião os nomeei ‘Relatos Pretensiosos de um TCC em Destruição’, o que não poderia ser mais correto. Uma vez prolixas minhas escritas nesses momentos de crise, achei válido tirá-las do limbo de textos perdidos na máquina e publicá-las aqui, de forma serializada e seguido de alguns comentários póstumos. Peço perdão pela falta contexto no que diz respeito ao projeto em si, mas uma camada a mais de confusão talvez seja interessante. Divirta-se.
21/01/2021
Deveras é tardio o momento em que me posto a redigir este documento, mas redigido ele teria de ser, qualquer que fosse o momento, e talvez agora, após ter sido posto para fora de um sono já não agradável para regurgitar meus estresses na privada em plena hora do lobo, seja um momento apropriado.
A seguir, irei regurgitar o que vem, veio e virá a minha cabeça a respeito do meu maldito projeto de conclusão de curso, entituliado Bermas, até então. Até então também, pois agora já não penso que utilizarei este título. Gosto de seus sentidos e expressão, porém não me atrai sua sonoridade, nunca me atraiu. Lembro-me sempre de Bergman, que não por acaso, penso ser terrível com os títulos de suas obras, entre eles ‘A Hora do Lobo’. Me atrai mais e talvez melhor se aplique às estéticas do projeto, algo que remeta mais aos títulos de Magritte, como “Time Transfixed”, se é que foi ele quem intitulou a obra, coisa que geralmente crítico que faz. Portanto, no momento, algo mais claro do que Bermas, mas igualmente embrenhado, como “Ecoar no Vazio da Concha” me soa mais interessante, ainda que talvez direto demais e, convenhamos, demasiado pretensioso. De qualquer maneira, o filme irá iniciar com um close de uma concha oca, so that is that…
Enfim, já se vai mais de um semestre desde que eu parei de ativamente reescrever este filme, não parei de alterá-lo todavia. Era certeza que alguns elementos do filme iriam mudar, é o destino de qualquer coisa deixada ao tempo, porém temo em afirmar que o filme de um semestre atrás e o filme que pretendo realizar agora são bastante distintos. Não me entenda mal, as bases referenciais e temáticas são as mesmas, ainda que agora ampliadas; a sequência de eventos é a mesma, porém a montagem difere em algo daquela apresentada pela decupagem de fotografia, mas isso também era esperado; e a estética, ao menos o que se limita a atmosfera e tom, não foram alterados. No mais, tudo foi reconstruído, ou melhor, será, eu espero. As duas mudanças mais drásticas dizem respeito a estética (a mudança mais complicada) e a narrativa (não o enredo, devo deixar claro). 
Pois, irei discorrer primeiramente sobre a narrativa: O diálogo, que permeava todo o segundo ato do filme, nunca me agradou. Ele surgira mais como um desabafo das minhas aflições pessoais na época, do que portento de real motivo para estar ali, o que me foi alertado por Ramayana, se bem me lembro, que implicou a possibilidade do filme ser mudo tal qual os experimentos de Maya Deren. Mas naquele momento, o roteiro ainda estava em seu estágio embrionário e mantive o diálogo acreditando que era um melhor mecanismo para captar a atenção do espectador e de informá-lo, a bem dizer, expô-lo a certas informações que pensava relevantes. Tentei transpor o diálogo do ambiente de enredo no qual ele se punha à um ambiente mais integrado a narrativa do recorte fílmico ali representado, aplicando mais uma camada de “confusão” a narrativa do filme como um todo, o que foi por sua vez incentivado por Daniel justamente como uma maneira de deixar o espectador mais intrigado. Contudo, o diálogo ainda precisava ser trabalhado, e um semestre mais tarde, decidi desfazer-me dele. Não completamente, afinal “um diálogo" ainda está lá, a ligação acontece, as metáforas se mantém, apenas as palavras faladas é que se vão.
Primeiramente pelo fato de ele não necessitar estar lá, como Ramayana e tantos filmes que assisti desde de então reforçam (show, don’t tell… if really needs to be shown, that is); depois, pois não sou capaz de redigir nada do calibre de Virginia Woolf, a quem tanto deste projeto se deve, tampouco irei me usufruir diretamente de seus escritos; e por último, mas - do meu ponto de vista - não menos relevante, pois diminui dores de cabeça advindas da produção, afinal “um filme mudo” derruba as barreiras linguísticas de veiculação da obra, minha atriz não irá precisar decorar falas e pode se concentrar completamente em sua fisicalidade, inclusive, ela pode muito bem ser completamente muda, aliás, é realmente necessário uma atriz? O que nos leva a segunda grande mudança do projeto, a estética.
Como mencionei anteriormente em termos de atmosfera e tom nada foi alterado, talvez apenas um mergulho mais profundo no surrealismo, não necessariamente o movimento, que muito embasou a primeira fase do projeto, mas sim da maneira como ele tem sido explorado pelo cinema, que - me parece ser o caso - muito se tensiona em linha tênue com o experimentalismo e o simbolismo. O que - novamente, ao meu ver - é coerente, visto que o surrealismo se sustenta como força motora para criação, mas depois de criado, o que quer que seja, este em contraste com o mundo torna-se automaticamente um experimento, sempre incerto de quais serão seus efeitos no mundo. No que diz respeito ao cinema, cito aqui não somente os trabalhos pioneiros de Maya Deren, mas também os projetos de Peter Tscherkassky; obras mais narrativas como as de Bergman e Resnais; e mesmo os momentos avulsos nos - a bem dizer, inquietantes - filmes de Leos Carax. Citaria também o ‘Limite’ de Peixoto, mas estou a meses protelando assisti-lo por medo de encontrar o que procuro. Do que eu falava mesmo, ah, pois bem, a estética.
Quem melhor me conhece sabe da minha fascinação pela animação. Anos atrás, quando primeiramente me foi informado da necessidade de se produzir um curta metragem ao final do curso, minha primeira intenção foi realizar uma animação. Com o tempo acabei me encantando por outras coisas e outras pessoas, mas animei, em todo caso, uma nano obra que - ainda me surpreendo com tal fato - repercutiu sem vezes mais do que eu pudesse imaginar.
Mesmo depois de Welles ter me convencido de que eu precisava arranjar uma capa e um chapéu e dar uma de Mojica frente às câmeras como TCC, eu ainda queria utilizar de animação aqui e acolá, como mencionei algumas vezes em memorandos antigos, semelhantes a este. E agora, mesmo com um projeto totalmente distinto do que esperava ser meu TCC, mais do que nunca, frente a uma pandemia interminável, a uma carreira profissional sem grandes bases ou prospectos, sem certeza de estrutura humana, financeira ou psicológica para gravação do projeto e, até o presente momento, com tempo nas mãos, mais do que nunca, quero fazer uma animação.
A vontade, além de ser despertada por uma breve redescoberta da animação e do ato de desenhar em si, surgiu em parte quando dei de encontro com uma série de micro animações que Emmanuel Lantam, um designer e animador francês, realizou em parceria com a Washington National Gallery. Pequenos episódios animados de uma jocosa personagem chamada Pipine tendo como fundo pinturas clássicas de paisagem. Relativamente falando, meu projeto tem como referências visuais - em pinturas, fotografias e arquivos pessoais - uma abordagem muito mais direta aos materiais referenciados (como, sei lá, Peter Greenaway faz, por exemplo) do que simplesmente uma fonte de inspiração (a lá Eric Rohmer). Não obstante, eu sei que que em uma gravação convencional nunca teria a minha disposição o controle da imagem ao nível que anseio, e jamais conseguiria replicar as imagens que criei para o storyboard do filme, que a bem dizer, está mais para um moodboard ou um cenário propriamente dito do que um storyboard. 
Portanto, sem mais motivações ou desculpas, proponho que o projeto assuma o status de animação de uma vez por todas. a seguir discorramos sobre as particularidades e necessidade desta que, num contexto geral, me parece ressoar mais harmoniosamente com o projeto.
Tal qual a série com Pinipe se constrói sobre uma base já pronta, os próprios quadros nos quais enquadra as vinhetas de animação, proponho esta mescla de mídias, que eu tenho certeza de já ter visto em outro lugar, mas não consigo me recordar. Sim grande parte do cinerários ainda será “pintado a mão”, mas há uma grande possibilidade de espaço não somente para o encaixe dos materiais referências, como pinturas ou fotografias, bem como vídeos em domínio público, e também - creio até, em uma maior escala - fotografias e vídeos de arquivo pessoal.
Os melhores ambientes para usos desses materiais, se dão durante as sequências mais realistas do filme. Na praia, onde os trabalhos de Frederick J. Waugh ou Gustave Courbet, tem relevância, por exemplo; e na residência da protagonista, onde os trabalhos Wilhelm Hammershøi e Edward Hopper são preferíveis. Novamente, arquivos pessoais serão favorecidos, não somente os já arquivados, como possíveis materiais a serem ainda captados, o que, suponho, esteja gerando alguma confusão neste momento, afinal, se irão ocorrer gravações, porque já não gravar o filme inteiro? Veja bem, essas imagens já pré produzidas, seja de arquivo pessoal ou não, podem e irão ser modificadas para construção do produto final, quase um processo Duchamp de “ready-mades”, mas claro, em se tratando apenas de imagens, algo que inclina-se mais as colagens deste dadaísmo.
Melhor ilustrando, pense na animação de uma figura que movimenta-se sobre a fotografia de uma praia deserta, cujo céu é recortado da parte de uma pintura a óleo de Courbet, e o movimento das ondas no mar é um recorte de ‘The Unchanging Sea’, de 1910, ou algo nesses moldes. Portanto, materiais a serem ainda captados, individualmente por este vos escreve, com sua pequena câmera digital ou mesmo celular, num final de semana qualquer se fazem passíveis de serem utilizados. Uma gravação completa do filme não poderia ser realizada desta maneira, primeiramente pela necessidade de uma equipe mínima, também pela necessidade de reter-se a certas datas, a falta de consistência ou mesmo baixa qualidade do trabalho, vide a menor escala. Dito isso, o contraste claramente existente entre uma figura animada a mão, uma fotografia, uma pintura a impressionista e um filme em película do início do século passado, ainda que seja minimizado ao máximo por vias de edição de imagem, existirá e será abraçado como escolha estica, não por necessidade, mas por real desejo. Assim como acabo inclinando-me mais ao surrealismo enquanto estética visual, vide os trabalhos mais experimentais de Man Ray ou a maior parte da obra Dave Mckean. 
Além do que, o contraste entre as células de animações cartunescas e os cenários pintados por Eyvind Earle em Bela Adormecida ou Kazuo Oga em Princesa Mononoke, nunca foram um problema, bem pelo contrário. Até mesmo as animações em computação gráfica de hoje em dia ainda contrastam personagens cartunescos, com cenários hiper-realistas que chegam a dar água nos olhos.
De toda forma, parte desse contraste será naturalmente harmonizado pelas edições de imagem referentes a geração de atmosfera, tom e textura. Já mencionei parte destas em outros textos divagantes sobre o projeto onde melhor expresso seus propósitos e motivações, portanto somente citarei o factual dos elementos. Primeiramente, a distorção da imagem e a perda de foco (principalmente nas arestas do quadro) semelhante aos efeitos causados por lentes anamórficas e mais agressivamente por lentes tilt-shift; segundamente, serão utilizadas vinhetas e mudanças irreais de exposição da imagem; terceira e por-ultimamente, interferências sobre a imagem, como grão e ruído ou intervenções diretas como sobreposições de outros elementos sobre a imagem base. Em resumo, não é uma imagem limpa, é uma imagem que carrega impressões de uso e marcas de desgaste, que carrega fantasmas de uma dimensão material a um ambiente onírico.
E em muito essa impressão fantasmagórica estará presente na animação em si, não somente compondo ao escopo estético da obra. A animação será realizada a 12 frames por segundo e transporta para 24 frames por segundo via software (ou assim eu espero) e efeitos colaterais advindos deste processo serão abraçados. Uma vez que não há cor com a qual se trabalhar (lembrando que é um filme preto e branco), a animação poderá se concentrar nas formas e valores de luz e sombra, por conseguinte favorecendo o uso de figuras menos complexas, mais remetentes a silhuetas de forte contraste dos valores de claro e escuro.
Uma das razões para que eu acabasse levando o filme aos caminhos da animação era o fato de não querer enquadrar a personagem as limitações fisionômicas de uma atriz em específico. Tendo a possibilidade de dar o rosto que eu bem entender a personagem, pretendo dar-lhe a face das diversas pintoras que compõem o referencial da personagem, as quais ainda estou estudando e melhor me familiarizando tal qual pretendo familiarizar o espectador. Logo, o rosto da personagem não será um, mas vários, o que consequentemente acaba eliminando a necessidade de uma consistência mais firme no que tangia a fisicalidade de um rosto único representado de distintos ângulos.
Eliminar é a palavra chave aqui, diminuir ao máximo o volume de produção é a intenção. Inclino-me, então, a um maior uso planos still e cenários sem qualquer movimento, a truques de movimento que independem de um trabalho a mão, e substituições de exposições complexas por sugestões simples, seguindo os ditados populares que todo estudante de cinema conhece: “menos é mais” e “você não precisa de um helicóptero para fazer uma cena de perseguição de helicóptero".
Encontrar mecanismos para conter esse amontoado volume de trabalho que é sinônimo de animação será o foco durante os próximos meses. Creio que softwares terão grande papel nessa resolução de problemas, e digo apenas “creio”, pois terei de reaprender a utilizar esses softwares, tanto é o tempo que não vislumbro suas interfaces. Mais informações sobre essa parte do processo em memorandos futuros.
E com esta nota, afirmo que, a curto prazo, o foco será em pesquisa e experimentação. Tenho ainda alguns livros para ler e infinitos filmes para assistir, fora uma série de materiais para pesquisar e empecilhos narrativos e de produção para resolver. Em paralelo a isso pretendo reescrever o roteiro a maneira da montagem final do filme, não as cenas a serem interpretadas, mas sim o que se vê e como se vê, o que se ouve e como se ouve; redesenhar o storyboard, dessa vez mais simples, porém mais completo; e realizar um animatic para poder trabalhar os efeitos narrativos de som e montagem, e ter estabelecido o ritmo e tempo do filme. Isso tudo até o final deste primeiro semestre, para que possa passar o segundo semestre de fato realizando o filme. Até lá mais memorandos como este serão redigidos, é bom ir descansando os olhos.
Este filme acima descrito hoje encontra-se total e completamente submerso em lixo, chorume e demais dejetos, nem sequer próximo da gaveta, onde guardo tantos outros filmes, ele se encontra. Mas outros projetos, todos ainda em andamento e, espero, sem o mesmo destino, surgiram dele, narrativa e esteticamente, o mais interessante nessa releitura de tais ideias foi perceber que ainda tenho interesse, até mais do que antes, em explorar esses conceitos de mixmidia, justando fotos, filmes, pinturas e animação. Nada se cria, tudo se transforma.
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bitpiner · 2 years
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Vitamin r drink
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A study published July 28, 2022, in the New England Journal of Medicine examined the effects of 2,000 IU of vitamin D3 supplements versus a placebo in over 25,000 healthy, nondeficient volunteers older than 50. If you’re not deficient, recent research says your bone health likely won’t benefit from a pill. Those who eat a plant-based diet, however, may prefer vitamin D2 (ergocalciferol) supplements, which are manufactured using UV irradiation of ergosterol in yeast, per the NIH. Zanini recommends vitamin D3 ( cholecalciferol), which is found in animal sources of food and has been shown to more effectively increase levels and sustain them for a longer period of time. There are two main types: vitamin D2 and D3. If, however, your doctor confirms a deficiency, supplements might be a good option. How to Get More Vitamin DĪs with most nutrients, it’s best to get vitamin D the natural ways - through safe sun exposure and, when possible, diet. Your healthcare provider can test your blood to find out for sure. If you are nonwhite, obese, or do not get sufficient sun exposure, you may be at greater risk for being vitamin D deficient according to the NIH. A vitamin D deficiency means you have less than 20 nanograms per milliliter of the nutrient in your blood, per the NIH. No wonder an estimated 24 percent of Americans have a vitamin D deficiency, per a review published in January 2020 in Nature. Even if you drink whole milk fortified with vitamin D (whole milk has slightly more vitamin D than reduced-fat or skim), 8 fluid ounces (oz) contain just 95.6 IU, per the United States Department of Agriculture (USDA) - one-eighth the amount that you need daily. According to data from the 2013–2016 National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), average daily intake from diet was 204 IU for men and 168 IU for women. Yet most people don’t get enough vitamin D via sunlight, nor is food a good source of the nutrient, says Lori Zanini, RD, a Los Angeles–based dietitian. For those older than 80, the RDA is 800 IU (20 mcg). Vitamin D is produced in your body when the sun’s ultraviolet rays hit your skin, and the recommended daily allowance (RDA) of vitamin D is 600 international units (IU), which is 15 micrograms (mcg) for most adults, according to the NIH. Food and Drug Administration (FDA) began requiring food manufacturers to include it on nutrition labels in 2018. It also helps prevent the bone disease rickets in children, and along with calcium, the so-called sunshine vitamin guards against osteoporosis in older adults, according to the National Institutes of Health (NIH). Are you getting enough vitamin D in your diet? This nutrient is important for growing healthy cells, keeping your immune system humming to ward off illness, and aiding in calcium absorption so your bones stay strong.
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didanawisgi · 3 years
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References
Barbosa Esper R, Souza da Silva R, Teiichi Costa Oikawa F, et al. Empirical treatment with hydroxychloroquine and azithromycin for suspected cases of COVID-19 followed-up by telemedicine. April 15, 2020. Accessed April 30, 2020.https://pgibertie.files.wordpress.com/2020/04/2020.04.15-journal-manuscript-final.pdf
Heras E, Garibaldi P, Boix M, et al. COVID-19 mortality risk factors in older people in a long- term care center. Preprints September 9, 2020. https://doi.org/10.21203/rs.3.rs-70219/v2
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Ladapo JA, McKinnon JE, McCullough PA, Risch HA. Randomized Controlled Trials of Early Ambulatory Hydroxychloroquine in the Prevention of COVID-19 Infection, Hospitalization, and Death: Meta-Analysis. Preprints September 30, 2020. https://doi.org/10.1101/2020.09.30.20204693
Lagier JC, Million M, Gautret P, et al. Outcomes of 3,737 COVID-19 patients treated with hydroxychloroquine/azithromycin and other regimens in Marseille, France: A retrospective analysis. Travel Med Infect Dis 2020 Jun 25:101791. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1477893920302817
Ly TDA, Zanini D, Laforge V, Arlotto S, Gentile S, Mendizabal H, Finaud M, Morel D, Quenette O, Malfuson-Clot-Faybesse P, Midejean A, Le-Dinh P, Daher G, Labarriere B, Morel-Roux AM, Coquet A, Augier P, Parola P, Chabriere E, Raoult D, Gautret P. Pattern of SARS-CoV-2 infection among dependant elderly residents living in long-term care facilities in Marseille, France, March-June 2020. Int J Antimicrob Agents. 2020 Nov 6:106219.https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0924857920304301
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Sulaiman T, Mohana A, Alawdah L, et al. The effect of early hydroxychloroquine-based therapy in COVID-19 patients in ambulatory care settings: A nationwide prospective cohort study. Preprints September 13, 2020. https://doi.org/10.1101/2020.09.09.20184143
Szente Fonseca SN, de Queiroz Sousa A, Wolkoff AG, Moreira MS, Pinto BC, Valente Takeda CF, Rebouças E, Vasconcellos Abdon AP, Nascimento ALA, Risch HA. Risk of hospitalization for Covid-19 outpatients treated with various drug regimens in Brazil: Comparative analysis. Travel Med Infect Dis. 2020 Oct 31;38:101906.https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1477893920304026
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jbpiggin · 6 years
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Via Appia Found on Satellite Image
The Appian Way is perhaps the world's most celebrated road. On the outskirts of Rome it is a major tourist attraction. I have just discovered you can see some of its far reaches on photographs from space. The Way seems to be the source of a common misconception in the English-speaking world that all Roman roads were solidly paved and ran straight as a laser, up hill and down dale, never yielding to the lie of the land. Beyond the vicinity of Rome, much of the Via Appia was neither paved nor straight, but wriggled along long-worn prehistoric ridgeway routes, where the ground was drier (and harder) and the traveler had the best chance of spotting approaching attackers, whether they were bandits or bears. Begun under the direction of Appius Claudius, a consul, in 312 BCE, the Via Appia initially connected Rome to Capua near Naples. Later it was extended to Brindisi on the Adriatic Coast. It was any physical traces of this latter extension that I was hoping to find while on a visit last week to Italy. We were staying in the newly elegant city of Matera which is dolling itself up to be one of two European Capitals of Culture of 2019. In Roman times, Matera was just a remote warren of hand-hewn caves, never mentioned in the ancient sources. Perhaps it was a refuge of the above-mentioned bandits, who could murder a merchant on the Via Appia at dusk and carry the booty 15 kilometers away to the caves to hide it, safely holed up by midnight like the Ahlbergs' brigands:
Near Matera one finds two modern highways named Via Appia. The one beginning from Ferandina, national highway SS7, and proceeding via Matera to Massafra is a fake, although it too terminates at Brindisi. The other, Puglia provincial road SP28, marked "Strada Provinciale Appia" on maps, is, in some stretches at least, the real thing. Recent articles by Luciano Piepoli dispense with the armchair scholarship (mainly German) about this part of the Via. They assemble new hard archaeological evidence about its course and stage-stops. Unfortunately Piepoli does not provide GIS geolocations (this ought to be prescribed by the style guides of every journal dealing with historical geography). He writes:
The Appian Way, at the exit from the current town of Gravina in Puglia, begins its path in a south-easterly direction near Scomunicata and, after having touched the localities of Graviscella and Ponte Padule Cardena, reaches the rocky outcrop of the Murgia Catena, located about 7 km southeast of Altamura. The road runs along the southern slope of this last location to Iesce, where there are the remains of an important settlement that had been abandoned by the 2nd century B.C. On the territory of Altamura, in a flat section between the southern slope of the Murgia Catena and the hillock of Montepovero, the projecting traces of wheel ruts are visible in the rocky surface for a length of about 200m and a total width of more than 30m, forming multiple lanes. Although they are not contemporary with one another, it appears highly probable by virtue of their topographical location that some of them must derive from the consular Via Appia. (My English, helped by Apple and Google Translate).
Hoping to see these traces of the wheels of ancient or medieval carts, we stopped our car on the shoulder of the SP28 at what we thought was the spot. Since a narrow lane of wheat was growing there on the verge of the road itself, we searched the rocky field behind it, but to no avail. On the point of giving up, and after nearly stepping on a sturdy snake, I finally discovered the ruts further up the road.
In the 50-second video above you can hear cicadas and see the colorful wild flowers of a southern Italian spring including tall fennel, all growing in the dirt that has collected in the ruts. The most pronounced track is at the left, close to the dry-stone wall. There are no doubt specialists who could estimate from the wheelbase whether this track is ancient or medieval. A second, shorter bunch of tracks can be found about 50m further down the hill (in a 24-second video). I have uploaded videos of both to my YouTube Channel. The greatest surprise came later: these ruts are visible on common garden satellite imagery. When I studied the same location on Google Maps later, I was amazed to see the big set of ruts quite clearly at the location 40.76424, 16.61516 (tip: copy just this to any sat-nav or mapping app to find it):
As far as I know, this remarkable, aerially visible archaeological site is not listed on any of the ancient geographical portals such as the Digital Atlas of the Roman Empire, Pelagios or Vici. I can see how to add it to Vici (and will add it later), but I must admit that I have no idea yet how to contribute it to the former two. They do not offer any "guide for dummies" instructions. These stone remains do not seem to have gained any legal protection, although the feature is surely known locally. The IGM map of 1919 (reproduced as British AMS M791 of 1939) labels a nearby stretch of the road "od via antica Via Appia". I don't know what "od" means.
Piepoli relies on a survey of the area by the great aerial archaeologist of the 1920s to the 1950s, Giuseppe Lugli, so I presume these remains are mentioned in Lugli's books or articles. As far as I can tell, they are the only surface evidence left of the ancient Via Appia between Gravina and Tarento. The fact that wheels ran across bedrock here is an indication that the highway was unpaved. A few kilometers away, the route has been archaeologically excavated. Piepoli writes:
Near Masseria Capitolicchio Vecchia, recent excavations conducted by the Archaeological Superintendency of Puglia have highlighted a short stretch (about 200 x 4.90 m) of a road - of the glareata type - interpreted, on the basis of the construction technique, orientation and topographic context, as a segment of the Appian Way [Mattioli, 2002]. An interesting fact which emerged during the excavations is that the roadway is partially obliterated by a layer of relative collapse likely due to a structure located near the road axis. The ceramic finds and coins found can be dated between the end of the 2nd century BC and the 3rd century AD, which could be considered as a terminus post quem for the abandonment of the Via Appia in this section.
The simple glareata road had a base of stones, built up to a sand or gravel, and would be kicked or ground apart by heavy traffic if it were not maintained. This is probably what happened at 40.76424, 16.61516, exposing the bedrock to the cart and carriage wheels. Above, I mentioned a narrow crop of wheat growing in the queen's acre (the roadside). It too is clearly visible in the space imagery, and occupies what seems to have once been a ford through a seasonal stream, the Vulle. No doubt the silt, organic particles and the churning of the wheels created fertile soil in this rocky landscape. Most of the Via Appia in this area follows the watershed. Here's a more open location, looking towards the Murgia Catena from the north-west, where you may be able to see that the land slopes very lightly away to both sides.
To the left of this spot, the drop to the base of the valley is quite substantial, as the next image shows:
In an article this year, the scholar Tønnes Bekker-Nielsen compares the posterity of this southern Via Appia built in the 3rd century BCE to the highly engineered Via Traiana built with cuttings and bridges in the 2nd century CE. The bridges ultimately fell down, whereas the prehistoric footpaths and droving tracks along the watersheds remained in use. The self-maintaining character of ridgeway routes is the reason that the Via Appia lost all its gravel but remained in continuous medieval use:
For the Roman traveler, the Via Traiana was a significant improvement. It was shorter, had far fewer inclines and declines and was less vulnerable to snowfall. But despite the many advantages of the Via Traiana, it is the Via Appia which has survived to this day. An estimated 90% of the total length of the Appia is still in use as graveled or asphalt road. Large portions of the Via Traiana, on the other hand, are overgrown and impassable. (My assisted translation from the Danish.) 
Bekker-Nielsen, Tønnes. ‘Romerske Veje i Syditalien: Via Appia Og via Traiana’. Vejhistorie, 2018. Academia.edu
Piepoli, Luciano. ‘Blera e Sub Lupatia (It. Ant. 121,4-5): Proposte per l'identificazione di due stazioni itinerarie lungo il tratto apulo della via Appia’. In Statio amoena: Sostare e vivere lungo le strade romane, edited by Patrizia Basso and Enrico Zanini. Oxford: Archaeopress, 2016.  Academia.edu
———. ‘Il percorso della via Appia antica nell'Apulia et Calabria: Stato dell'arte e nuove acquisizioni sul tratto Gravina-Taranto’, in Vetera Christianorum, 51, 2014, 239-261’. Academia.edu.
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nnn-res-blog · 7 years
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Pulsed plasma-polymerized 2-isopropenyl-2-oxazoline coatings: Chemical characterization and reactivity studies
Publication date: 25 January 2018 Source:Surface and Coatings Technology, Volume 334 Author(s): Stefano Zanini, Luca Zoia, R. Della Pergola, Claudia Riccardi Thin coatings were deposited by means of low pressure plasma polymerization of 2-isopropenyl-2-oxazoline (2-IOX). Depositions were performed in the pulsed mode, exploiting the carbon-carbon double bond of the monomer, in order to maximize the retention of oxazoline rings in the coatings. The wettability of the thin films was assessed by water contact angle measurements, while their stability was investigated by immersion in different aqueous environments (Phosphate Buffer Saline (PBS) at 37°C and aqueous solutions with different pH) and was found to be dependent on the deposition conditions. Chemical characterization of the coatings was performed by means of Attenuated Total Reflectance Fourier Transform Infrared (FTIR/ATR) spectroscopy, Nuclear Magnetic Resonance (1H NMR) spectroscopy and Gel Permeation Chromatography (GPC). All these techniques allowed to assess the retention of oxazoline ring, which can be exploited through reaction of the plasma deposited coatings with carboxylic acid groups. To this end, reactions with poly(acrylic acid) in different conditions (temperature, reaction time) were investigated. Read more from Journal of Safety Research http://ift.tt/2AcZR45
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Navigating a Low-Carb Eating Plan
New Post has been published on http://type2diabetestreatment.net/diabetes-news/navigating-a-low-carb-eating-plan/
Navigating a Low-Carb Eating Plan
Navigating a Low-Carb Eating Plan
Some people are giving up bread, potatoes, and pasta in pursuit of better health. Should you?
May 2017
If you ask a dozen people, including medical professionals, to define a low-carb diet, you’ll likely hear 12 different answers. For some, it’s an eating plan that swaps refined grain products (such as white pasta) with their whole-grain cousins (such as whole-wheat pasta). Others say such a diet demands that you give up cereal, bread, potatoes—and other carbohydrate-rich foods—altogether.
On the surface, it seems that a diet lower in carbohydrate—the nutrient that has the biggest effect on blood glucose levels—would benefit people with diabetes, who need to manage those levels for optimal health. Cutting carbohydrate, particularly when it comes from sugar and refined grains, can help people with diabetes manage weight and their blood glucose. But the notion of a low-carb diet is poorly defined and commonly misunderstood.
“When people tell me they are following a low-carb diet, they are usually still eating fruit, dairy, beans, and even whole grains—in other words, not low carb at all,” says Lori Zanini, RD, a registered dietitian based in Manhattan Beach, California, and a spokeswoman for the Association of Nutrition and Dietetics. To give you an idea of how carbs add up, consider that a medium apple has 25 grams of carbohydrate, a serving of cannellini beans (1/2 cup) has 18 grams, a serving of canned corn (1/2 cup) has 9 grams, and a small slice of whole-wheat bread has 15 grams.
“For people with diabetes, I define low carb as less than 120 grams a day,” says Jessica Crandall, RD, the wellness director at food-service company Sodexo in Denver. That number isn’t arbitrary; Crandall says this recommendation has been established through research as well as her own experience with adult clients. She says that 120 grams of carb per day provides adequate glucose to fuel your brain.
But your brain doesn’t need to get it all from carb sources, says William Yancy, MD, associate professor of medicine and director of the Duke University Diet and Fitness Center in Durham, North Carolina. On a strict lower-carb eating plan—say, somewhere around 20 or 50 grams per day—the brain will get glucose from alternate sources, such as through the breakdown of protein and fat.
Burning fat for fuel produces ketones—not to be confused with the surplus present in diabetic ketoacidosis (DKA), a condition caused by too little insulin and too-high blood glucose. The body resorts to burning fat for fuel, which produces large amounts of harmful ketones. If left untreated (IV insulin and fluids are the typical treatment), DKA can lead to coma and even death. While the lower levels of ketones produced on very low-carb diets aren’t dangerous in the way DKA is, they can cause an unusual side effect: Your breath and sweat may smell like ammonia or nail polish remover.
The Controversy
After you eat, your body breaks down the food so the glucose can find its way into your bloodstream. From there, insulin ferries the glucose into the cells, where it will be used for energy. In type 1 diabetes, the pancreas can’t make insulin, so the glucose sticks around in the blood, unless insulin is injected. In type 2, the body makes insulin but is unable to use it properly (what’s known as insulin resistance), forcing the pancreas to work extra hard to pump out more insulin. Eventually, the body can’t keep up with the demand, and high blood glucose results.
In both cases, it would seem logical to drive blood glucose down as much as possible with diet, which leads some people to adopt a strict low-carb diet. But whether that way of eating is healthy and doable for a lifetime is the subject of debate.
Since Robert Atkins, MD, popularized the low-carb weight-loss diet by telling followers to eat bun-less cheeseburgers and piles of bacon, people have been trying to lose weight and get healthy the low-carb way, with decidedly mixed results. But any diet that puts an emphasis on foods with saturated fat has the drawback of potentially increasing your risk of heart disease and cancer, which is associated with greater processed meat consumption. More moderate low-carb plans have emerged over the years, but they often cut out whole grains, starchy veggies, and fruit—food groups with significant health benefits of their own.
The American Diabetes Association (ADA) does not advocate for or against a low-carb eating plan, but it does recommend reducing saturated fat. Its 2017 Standards of Medical Care in Diabetes recommends emphasizing in a meal plan unsaturated fats found in plant-based foods, such as oils, nuts, and avocados.
Curbing your saturated fat intake can be tough when you cut carbs, because people tend to replace carb-containing foods with meat and cheese—most of which are high in saturated fat and lack fiber and certain vitamins and minerals. A low- or lower-carb diet, the way it’s commonly practiced, often means eating fewer fiber-rich foods such as whole grains and beans, which are associated with health benefits, including reducing cholesterol. This is in large part why low-carb eating stirs controversy and why some registered dietitians advise against it.
Low-Carb Cons
There are many reasons to proceed with caution if you are considering a low-carb diet. If you are on insulin, suddenly restricting your carbohydrate intake can cause lower blood glucose.
“The biggest con for me is the question of longevity. How long can most people really follow a strict low-carb plan?” says Crandall. When you think about family dinners, holiday celebrations, and birthday cake, it’s easy to see how very restrictive eating plans can socially isolate a person. And then there’s the cooking: Most prepared, packaged, or convenience foods contain plenty of carbs, even if they’re rich in whole grains, so low-carb devotees will likely need to make most of their meals.
People often lose weight on low-carb diets, “but people lose weight on any elimination diet,” says Crandall, referring to eating plans that restrict overall calories or food groups. “But what I usually see with this is someone loses 40 [pounds] and then gains back 50 when they can’t sustain it anymore.”
Without the fiber provided by carb-rich foods such as beans and whole grains, constipation can be an issue. Of course, eating nonstarchy vegetables is a lower-carb way to get enough fiber. Also, many people on low-carb diets complain of low energy and—even worse—muddled thinking. “The glucose you get from healthy carbs is your brain’s preferred fuel source,” says Crandall.
Even some advocates for a low-carb eating plan for those with diabetes offer words of caution. “We don’t understand the long-term health consequence of saturated fat consumption,” which people often eat more of when they cut carbs, says Jake Kushner, MD, a professor of endocrinology at Baylor College of Medicine in Houston, Texas. “It may well put people at greater risk of heart disease. There’s a real deficit of research. We need controlled studies.”
Low-Carb Pros
Still, Kushner says he has countless anecdotes of people with type 1 diabetes who have benefitted from cutting a considerable number of carbs. “As you get below a certain threshold [of carbohydrate consumption], glucose control becomes much more predictable,” he says.
Critics say there’s a risk for people with diabetes to have serious lows when starting a low-carb eating plan without adjusting medication. Proponents say restricting carbs could have the opposite effect. “Lowering carbohydrate intake allows people with diabetes to reduce their insulin dose,” Yancy says. “And lower insulin doses mean lower risk for hypoglycemia.”
Most experts who support a low- or lower-carb diet promote a way of eating that’s less of a bacon free-for-all and more balanced. They encourage people to eat plenty of nonstarchy vegetables, such as broccoli, peppers, and tomatoes, and to prepare salads with healthy fats like olive oil. Lean proteins, such as fish, are on the suggested menu.
Paul Loftland, 69, a retired maintenance worker, signed up for a low-carb weight-loss clinic in the hopes of losing weight and taking control of his type 2 diabetes. At first, he never thought he’d be able to stick with the food plan; it contradicted the low-fat, grain- and cereal-rich diet advice he’d heard all his life. But soon after joining the program and limiting his carb intake to 30 grams a day, his blood glucose and cholesterol had improved, and he was able to come off his metformin and cholesterol medication.
Loftland’s results may not be all that surprising. A 2015 study published in The American Journal of Clinical Nutrition that compared low- and high-carb diets suggested that a low-carb eating plan could be an effective way for those with type 2 diabetes to improve their glucose control, though the study indicated that more research is needed.
The challenge of any eating plan is that, if daily carb totals increase or other changes occur, such as weight gain or less physical activity, the need for medication may return. That’s why Loftland has remained vigilant. “When I started at the clinic, my A1C was 8.7 [percent]. Today it’s 5.1,” says Loftland, who’s lost roughly 50 pounds. So what’s on his meal plan? Omelets for breakfast, salads for lunch, and lean protein and greens for dinner—choices he expects to make for the rest of his life.
Tips for Making the Switch
What’s important to remember when considering a lower-carb eating plan is that you and your doctor—and, ideally, a dietitian—can customize the plan to fit your lifestyle and needs. For many, reducing carbohydrate and choosing the right kind of carbs, such as moderate portions of fiber-rich beans, sweet potatoes, and whole grains, plus lots of nonstarchy vegetables, is enough to make a big improvement in their health.
But be careful: When you are switching to a lower-carb way of eating, particularly if you are on medication, blood glucose can rapidly drop too low. Regular blood glucose checks and a trusted health care provider’s advice are both extremely important.
Vicki Curran of Warminster, Pennsylvania, who has type 2 diabetes, cut packaged snacks and white pasta from her eating plan after she took a nutrition class for people with diabetes at her local hospital. She lost about 50 pounds when she changed the way she ate, and has kept it off for the past six years. Her A1C level is down from 8 percent at the time of her diagnosis several years ago to 5 percent. Her doctor is planning to take her off metformin in the coming months if her A1C stays in this range. And Curran still enjoys her favorite food, pasta. “I used to eat white pasta at least once a week. Now I still eat pasta, but it’s always whole wheat, and usually I have it about once a month,” she says
Here’s an approach to a lower-carb way of eating: “Cut the liquid sugar first—soda, juice, coffee drinks—and then go for the refined white carbs,” says Zanini. For example, cut out cookies, cake, and white pasta. And as you look for foods to curb or cut out, be careful about what you’re replacing them with. “Make sure you are getting enough fiber by increasing those nonstarchy vegetables and eating some nuts and seeds,” she says. Chia and flax are her favorites to sprinkle on foods.
Meal Plan
If you decide a lower-carb eating plan is something you want to try, smart meal planning is a must. Replace carbs with healthy alternatives and make sure portion sizes are appropriate. For most carb-rich foods (even the healthy, complex carbs in whole grains and beans), you’ll want to keep it to about ½ cup per serving.
Generous amounts of steak, cheese, and bacon are often touted as perks of a low-carb program, but limiting saturated fat is also important for healthy eating. Lean protein sources, including skinless chicken and fish, should play a bigger role in your low-carb meals than foods that are processed or are high in saturated fat.
Nonstarchy vegetables including asparagus, bell peppers, broccoli, brussels sprouts, cabbage, cauliflower, and leafy greens, among others, should continue to occupy major real estate on your plate at most meals. A good guide? Fill half the plate with nonstarchy veggies. All healthy approaches to a low-carb plan—or to any healthy eating plan—will mean you are eating more vegetables, not less.
Still not sure whether a low-carb diet is right for you? Talk over your options with your health care provider, who can help you weigh the pros and cons and determine how they fit into your lifestyle and diabetes management. In the end, the best eating plan isn’t moderate or low carb—it’s a healthy plan you can stick with.
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zanicto · 10 months
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Relatos Pretensiosos de um TCC em Destruição, Parte 3
Anos atrás, submerso nos processos de realizar meu trabalho de conclusão do curso de cinema e audiovisual, escrevi uma série de memorandos a fim de clarear minhas ideias sobre o projeto e manter meus orientadores atualizados sobre o andamento deste. Na ocasião os nomeei ‘Relatos Pretensiosos de um TCC em Destruição’, o que não poderia ser mais correto. Uma vez prolixas minhas escritas nesses momentos de crise, achei válido tirá-las do limbo de textos perdidos na máquina e publicá-las aqui, de forma serializada e seguido de alguns comentários póstumos. Peço perdão pela falta contexto no que diz respeito ao projeto em si, mas uma camada a mais de confusão talvez seja interessante. Divirta-se.
15/08/2021
Time is upon us, e eu espero que eu o sane neste texto.
Este filme que vos pretendo apresentar ao final do semestre como meu trabalho de conclusão de curso é muito claramente reflexo do meu tempo na faculdade e resultado de um período muito específico da minha vida.
Em suma, ele repete em forma mais definida aquilo pincelado cá e lá em todas as produções audiovisuais e narrativas nas quais me envolvi ao longo do curso, dos cenários às temáticas, dos tons às técnicas. É também produto das experiências vividas, ouvidas e apreendidas no decorrer da faculdade, aquilo a que fui apresentado, aquilo pelo que passei a me interessar, aquilo pelo qual outros se interessavam. Mas disso tudo, ele revela-se apenas reflexo, pois surge como efeito de um momento muito específico, no limiar entre a fantasia da juventude e o real da vida adulta, entre o que e a quem agarro-me e aquilo e aqueles que se vão. 
Ele surge justamente no início do fim, período que, já não melancólico o suficiente, veio acompanhado de confusões involuntárias, perdas repentinas e mudanças drásticas, sem contar uma pandemia mundial que somente escalonava a desgracença nacional. Esse não era, e não é, o filme que eu queria fazer, é o filme que eu me vi fazendo e, portanto, percebo agora que não poderia haver projeto mais simbólico destes cinco anos de academia, ainda não concluídos. Creio já ter discorrido sobre isso nos agora saudosos textos do projeto, então não irei me estender, apenas abordarei o que se deu no período de um ano após a conclusão daquele. 
Há um ano atrás, aliás, mais tempo a essa altura, usei como justificativa de relevância de um projeto que em cerne era relevante apenas para mim, o fato da protagonista ser uma pintora, e de estar assim tentando dar tempo de tela, mesmo que mínimo, as tantas pintoras esquecidas pela história da arte. 
Verdade seja dita, esse era apenas o pretexto que encontrei para dar "relevância" ao projeto, em cima de uma decisão que já havia tomado. Desde o início a protagonista seria uma mulher, antes mesmo de ser uma pintora, mas apenas pelo simples fato de que achava mais interessante que assim fosse, não estava em qualquer grau ponderando sobre as questões sociais que essa decisão acarretava.
Me aprofundei na temática, tentando entender, neste meu olhar completamente leigo e externo, as razões por trás da máxima reiterada por Jennifer Higgie e tantas outras: “The museums of the world are filled with paintings of women — by men.” Pensava que ter esse entendimento era relevante para a construção da personagem e a base teórica do projeto, mas não era algo que pretendia em que o filme se aprofundasse. A ele reservava-se - e ainda prevalece - o conflito da artista com sua arte e não da artista com a sociedade, percebo agora, todavia, que é inevitável que grande parte do conflito entre a artista e sua arte, seja resultado direto de seu conflito com a sociedade, e seria extremamente preguiçoso da minha parte não ao menos citar tal fato.
A urgência da questão acometeu-me ainda com mais força assim que decidi que faria uma animação e não mais estava alheio aos acasos fisionômicos que uma atriz traria a tela, eu teria de decidir quais eram esses atributos e me vi conflituoso em replicar o que fizeram os “grandes mestres” e me deixar levar por fetiches pessoais ou conscientemente ponderar sobre o que o físico da personagem representa e não somente quem ela é intelectualmente.
Percebi que eu nunca havia levantado tal questionamento sobre minhas criações e, a bem dizer, nunca havia questionado isso sobre mim mesmo. Talvez por sempre ter vivido em um mundo demasiadamente interno e me ausentar sempre que possível das mazelas do exterior. Ironicamente, um ano e meio aprisionado com meus pais enquanto o mundo pegava fogo, talvez tenha invertido a situação.
Acho que Kerry James Marshall em entrevista ao Museu de Arte Contemporânea de Chicago expressou melhor o que quero dizer:
“You can't quarrel with things that were done 200 years ago, 300 years ago, 400 years ago. Those things are done, and they were done within the context of people who were idealizing themselves. For Rubens to be painting those fleshy, naked women the way he was painting them, that's not problematic. Because that's what he was interested in, that's what the culture was interested in. That's what they were supposed to do.
Now if I'm painting fleshy blond women, and that's my ideal too, then that's a problem. And it's my problem, actually. That if I can't perceive within myself enough value in my image, or the image of black women, or construct a desire to represent that image as an ideal, then that's my problem ultimately. And if I can't figure out a way to raise that image to the same level that it performs at the same frequency, then that is also my problem. But that's my problem to solve. The inability to solve that problem, to me, is a failure of imagination.”
Por esse motivo, e outros que não vem ao caso discorrer agora, minha protagonista, esta eterna desnomeada, é uma mulher, é negra e é uma pintora, essas são as decisões que enquanto criador em diálogo não somente comigo, mas com a sociedade, me vejo tomando. Não que tomar tais decisões me deixe livre das constantes coceiras atrás da nuca, mas eu não estou fazendo um documentário, logo os questionamentos que tal decisão acarreta, estão lá prontos para serem levantados, não necessariamente pelo filme em si, mas por aqueles que o assistirão, eu espero.
Reitero, o fio condutor da narrativa ainda é o conflito interno da artista com sua arte e que a sociedade, mesmo que comente em seu ouvido a todo momento, não é algo que ela enfrentará diretamente no lapso de tempo do filme.
“That she has depicted herself with the tools of her trade – her easel, her palette, her brushes – is significant. Each one of these objects is more than the sum of its parts: they are symbols of this young artist's resistance to the conventions of her time.” (HIGGIE, Jennifer - The Mirror and the Palette, p.21)
Pois permita-me agora relatar você, cara leitora, meu choque ao descobrir A Studio of One's Own: Fictional Women Painters and the Art of Fiction, de Roberta White, livro que pretende investigar o retrato de personagens pintoras na literatura, majoritariamente, ao que tudo indica, do século XIX.
Em suma, muito do que White afirma como tendências da ficcionalização da pintora, eu, ao acaso, acabei fazendo uso na narrativa do filme. Já havia tomado consciência de algumas coincidência ao ler alguns dos materiais originais analisados, como a personagem de Virgina Woolf em To the Lighthouse, Lily Briscoe, que ao começar a se aventurar seriamente como pintora “[...] thinks of herself as venturing down a dark corridor, swimming in high seas, or walking on a narrow plank above water.” (WHITE, p.05)
Talvez sejam convenções tão típicas quanto qualquer outra coisa e eu esteja dando demasiada atenção a eles, mas não posso deixar de me surpreender com as semelhanças entre o filme que pretendo fazer e aquilo exposto pelas análises que White faz das praxes da mídia literária. Entre outras coisas, ela afirma: 
“[...] recurrent images present the artist as liminal and her work as unfinished. One must hasten to add that these are not negative terms. The artist’s liminality means that she is in a state of transition or emergence, and the unfinished nature of her work represents this state of becoming.” (WHITE, p.08)
Não somente surgem semelhanças no que diz respeito às narrativas internas e simbólicas do filme, mas também aos seus cenários.
“Still, one might well reject the term liminality out of hand were it not the case that this general term is given local habitation and specificity by the persistence of imagery of seashore and sea throughout the novels discussed here, from Charlotte Bronte to Mary Gordon. In Phelps, Chopin, Woolf, Murdoch, Madden, Johnston, Walsh, and Gordon, the fictional woman painter lives or works at the edge of a sea. The seashore is the place where the painters work, not necessarily what they paint, and as such it can symbolize their social status. The literal seashore, as a line of demarcation between two separate realms, frequently symbolizes the liminality of the life of the woman artist. The seashore also serves as a nexus from which one can examine the connection (or the opposition) of the aesthetic and the political.” (WHITE, p.13)
Enfim, ainda estou a ler A Studio of One's Own e tenho certeza de que irei encontrar mais semelhanças, talvez eu as repita no meu próximo relatório, até lá, eu tenho um roteiro para escrever antes que as aulas comecem.
Eventualmente eu terminei de ler A Studio of One's Own e o utilizei como referência para um artigo, cartas de apresentação e justificativas de projetos, e certamente o utilizarei na bibliografia de minha futura dissertação que não por acaso extrapola todas as questões que, intencionalmente ou não, eu levantaria com esse filme. De lá pra cá expandi minha referencia e recomento as leituras de Linda Nochilin, Laura Mulvey, Bell Hooks e Silvia Federici sobre a temática ou desdobramentos dela. Aqui, encerram-se minha pretensões, não sei ao certo por qual motivo não escrevi mais relatos, mas é provável que estar entrando em parafuso me impedira.
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zanicto · 10 months
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Relatos Pretensiosos de um TCC em Destruição, Parte 2
Anos atrás, submerso nos processos de realizar meu trabalho de conclusão do curso de cinema e audiovisual, escrevi uma série de memorandos a fim de clarear minhas ideias sobre o projeto e manter meus orientadores atualizados sobre o andamento deste. Na ocasião os nomeei ‘Relatos Pretensiosos de um TCC em Destruição’, o que não poderia ser mais correto. Uma vez prolixas minhas escritas nesses momentos de crise, achei válido tirá-las do limbo de textos perdidos na máquina e publicá-las aqui, de forma serializada e seguido de alguns comentários póstumos. Peço perdão pela falta contexto no que diz respeito ao projeto em si, mas uma camada a mais de confusão talvez seja interessante. Divirta-se.
15/04/2021
Após mais de uma semana sem enxergar com clareza, pois meus óculos estavam no conserto, finalmente cá estou a redigir esta nota de atualizações das conjecturas que me acometeram dias atrás quando estava a escutar a edição surrealista do “Quinta Maldita”, coletânea de performances áudio-dramáticas de poemas e lirismos organizada pelo nosso conhecido boêmio de plantão, Demétrio Panarotto, cuja página da Wikipédia, a qual acabo de fazer uma rápida visita, está peculiarmente embebida de informações. Pergunto-me se fora Demétrio que as escreverá.
Menos em decorrência dos delírios do programa e mais em decorrência das imagens de Grete Stern e Jorge de Lima exibidas no decorrer do mesmo, me surgiu a simples realização de que meu filme, que como eu mesmo sei, tanto se apoia em um surrealismo narrativo, sem de fato se apoiar em seus preceitos de operação, deveria desapegar-se das convencionalidades dramáticas que lhe atolam a praia e deixar levar pelas incertezas da maré de uma vez por todas.
Para os descontentamento de alguns, alguns aos quais esta era a última reação que gostaria de causar, mais e mais este projeto desmantela-se em abstratismo. Da trama, que já não era bem clara em seu misticismo - nem dentro tampouco fora do quadro - abdicou-se dos expositivismos de diálogo, tornando-a ainda mais turva em seus deslocamentos pelo espaço. Agora, trato de abdicar de vez dos limítrofes do quadro como um todo, afinal, “neste verão as rosas são azuis, a madeira é de vidro. A terra envolta em seu verdor me faz tão pouco afeito quanto um fantasma. Viver e deixar de viver é que são soluções imaginárias. A existência está em outro lugar.”
Para não apoiar-me diretamente a estes insensatos clamores de Breton, trago Miyazaki ao diálogo, ele que tantas vezes - talvez até em “Starting Point”, mas não tenho certeza e não irei verificar - afirma que não se deve permanecer atado a uma âncora de realidade, mas sim aproveitar-se do oceano de possibilidades que a animação propicia, ele que em todo seu fervor por liberdade é deveras conservador em sua execução desta. Talvez, se o projeto não fosse uma animação, como tornei de fazê-lo, a limitações do mundo físico melhor recebessem as lógicas de uma realidade mais clara e concisa, mas, uma vez que os traços são disformes e fugidios a quaisquer que sejam os limites da imaginação, não vejo porque limitar-me às bordas do enquadramento.
Pois muito que bem, são duas as mudanças que primeiramente me arrisco a realizar, demais virão e tem de vir, mas ainda não as solucionei por completo. Como já havia dito no texto anterior, o filme se inicia com um close de uma concha oca a beira d’água, levemente - ou talvez não, pra poupar trabalho - sendo remexida pelas ondas. Esta será uma constante ao longo do filme, não só a concha, como este enquadramento, como este quadro em específico.
Ao final do primeiro ato, quando a protagonista depara-se com algo no mar ao longe e corre ao seu encontro, este enquadramento inicial da concha já daria-se como cenário do último “take” em que ela corre a distância no horizonte, a partir daí daria-se o corte para a próxima sequência, consequentemente próximo ato, que dá-se dentro da casa. Talvez perdendo um pouco do drama que prolongar o monotonismo desta cena carregada de uma tensão invisível, mas criando uma quebra de expectativa que capte ainda mais a atenção do espectador, ao final da cena, pouco antes do momento de corte, a protagonista que corre em segundo plano, muito ao longe, adentra a concha, em primeiro plano. Esta pequena mudança, ao meu ver, não só quebra-se a expectativa e distância o melodrama que tanto assombra esse projeto, como introduz a inexistência de regras de lógica em seu decorrer e mergulha de vez, como já citei, no surrealismo enquanto movimento motor e não somente como estética da trama.
A segunda mudança, dá-se ao final do terceiro ato, quando a protagonista, na praia, livra-se da tela que pintava, arremessando-a ao mar. Essa era uma sequência que me borbulhava a cabeça desde o início do projeto. Na primeira versão a personagem ia ao mar arrependida de ter abdicado de sua arte; na segunda versão ela ia ao mar para de mais longe ter-se livrar da tela, que havia retornado a praia; desta vez é o mar de tinta, que revoltado há de engoli-la em seu erro. Ela arremessa a tela que perde-se entre as ondas; em um grande plano aberto por detrás, onde a silhueta da protagonista é divida entre oceano e areia, o mar revolto erguesse perpendicularmente, como um vampiro levanta-se de seu caixão sedento por sangue, e da tela, que agora redimensiona-se colossal a frente da protagonista, desaba o mar, que agora a engolfa por completo. A cena segue como já era anteriormente, apavorada em meio ao mar revolto a personagem procura por um norte, até que avista na praia a si mesma e novamente é levada a submergir por uma onda enorme; na praia, aos pés da protagonista, a outra protagonista, uma concha, aquela mesma que iniciara o filme, porém agora de outro ângulo ou talvez do mesmo.
Por agora estas são as mudanças narrativas que se darão a sua versão final, a sequência de sonho ou delírio no segundo ato ainda me atormentam, todavia.
Isso de meus óculos estavam no conserto não é por conte de eles enatarem estragados, mas porque as lentes, que eu havia trocado na época não tinham sido fabricadas corretamente. Nesse meio tempo tive que utilizar um par de óculos muito antigos com grau totalmente distinto. Então, pra conseguir ler e escrever sem forçar muito a vista e acabar desenvolvendo uma daquelas dores de cabeça aporrinhantes, colei uma serie de fitas isolantes nas lentes e ao redor da armação, diminuindo e focalizando a entrada de luz, imagine algo como o óculo usado pelo personagem Ciclope, dos X-Men, só que produzido caseiramente por um homem bomba.
07/08/2021
Aparentemente é de quatro em quatro meses que atualizo esses memorandos, espero que as estapas do filme não sigam nesse ritmo. Mas em melhor tom, tenho que dizer, o filme está resolvido. O tenho em minha cabeça total e completo, acho. Ainda estou a ler e assistir, portanto, mudanças ainda são passíveis de acontecer, mas creio que nada drástico. Antes de expor o aqui o filme em sua versão escrita creio ser mais relevante discorrer como a produção deste se dará. Na semana em que escrevo este texto ainda estou fazendo cálculos e testes a fim de mais claramente planejar datas e afins. 
Mas como se dará a realização deste você, cara leitora, deve estar se perguntando com dentes cerrados e com a mão na testa enquanto a consciência grita “não vai dar certo esse negócio". Bom, é por isso que testes e cálculos são necessários e é por isso que este filme será realizado como uma animação é realizada, acrescentando-se uma camada de cada vez.
Em 1990, a Warner Bros. resolveu montar seu próprio clubinho de animação na tentativa de emplacar um milhões na conta, seguindo a onda de todos os grandes estúdios norte-americanos queriam roubar uma parcela da bufunfa que a Disney vinha fazendo com a nova onda de sucesso das animações de longa-metragem.
O problema foi que os veteranos animação do estúdio pediram as contas e, como Brad Bird, diretor de O Gigante de Aço e Os Incríveis deixou expressou certa vez, eles contrataram vários nomes avulsos do mercado cinematográfico, mas um animador não é intercambiável como é um operador de boom, assim como uma animação não é gravada com o potencial de ser regravada, improvisada ou editada para parecer outra coisa, uma vez animada não ter volta, a não ser que se anime tudo de novo é claro. 
Em suma o que eu quero dizer é que num filme convencional o roteiro pode muito bem nada ter que ver com as gravações, que nada vão ter a ver com a montagem. O mesmo filme tem três ou mais encarnações completamente diferentes uma da outra. Coisas podem ser cortadas ou adicionadas sem grandes empecilhos. O maior inimigo ou amigo de um filme live-action é o orçamento, o maior inimigo e amigo de uma animação é o tempo. Uma vez estabelecido o filme no storyboard, este será transposto para uma animação, uma animação bruta, uma versão composta de cenário e animação e por fim uma finalização com efeito e demais tratamentos de imagem, mas nada se corta e nada se adicionada, as coisas simplesmente são ou não são animadas. O filme é sempre o mesmo, o que muda é quantas camadas de roupa ele está usando por cima de seu corpo.
E aqui não será diferente. Como disse, ainda tenho que estabelecer quantas e quais e quando serão as fases de realização do projeto. Mas o que quero deixar claro é que se afinal do curso eu tiver de entregar meu filme apenas com uma blusinha e roupas de baixo, e não encapotado com um belíssimo sobretudo aveludado, sapatos estonteantes, echarpes e todos os demais acessórios, ainda estarei entregando o meu filme.
Caso ainda não tenha ficado claro, explicarei mais uma vez. Ao invés de imaginar tratamentos de roteiro ou primeiro, segundo, décimo corte de montagem, em que cenas inteiras mudam, ou mesmo como uma estatua de marmore em que os excessos são removidos e os detalhes são lapidados, imagine o processo de confecção de um filme de animação como o realizar de uma pintura, onde camas e camadas de tinta são aplicadas primeiro sobre um desenho estrutural, depois sobre uma base de cores que define a forma, depois sobre pinceladas grosseiras que definem os valores, depois sobre pinceladas delicadas e detalhistas, depois, se for o caso, uma camada de verniz, e por último o quadro é posto em uma moldura e pendurado em algum lugar, pra ser aclamado, odiado ou esquecido por aqueles que o vislumbram. Sim, durante o processo de pintura partes inteiras do quadro podem vir a mudar, mas se a imagem estiver bem clara na cabeça daquele que segura o pincel, ao quadro apenas se acrescenta, uma pincelada de cada vez, uma camada de cada vez.
Baseados em testes não muito aprofundados, confesso, creio ser capaz de gerar ao menos um minuto de animação bruta por semana. Isto posto, essa primeira fase, logo no primeiro retorno às aulas, em que serão finalizados o animatic e definidos o corte final e o desenho de som, é a fase em que mudanças ainda são aceitáveis, depois disso é uma viagem sem retorno a alto mar e verdadeiro teste de quanta animação (talvez mais do que no primeiro teste) sou capaz de gerar por semana e o ritmo de progresso geral do filme poderão ser calculados. Uma vantagem de tudo isso é que vai se poder prever com bastante exatidão o que exatamente será entregue ao final do semestre.
Por fim, se já não deixei claro neste e nos textos anteriores, uma das diretrizes de produção desse projeto é a economia e a simplicidade, em suma, diminuir, o quanto possível e sem prejudicar (e por vezes até beneficiar) a narrativa e estética do filme, sua produção. E creio que o planos estáticos, planos puramente de cenário, repetição de planos, sugestões sonoras do visual que acontece fora do quadro, e a estética geral da imagem da obra, suja, escura, desfoque e deformada, sirvam muito bem a essa economia. Mas repito, que tudo isso estará mais claro concluída essa primeira fase do projeto na volta às aulas.
Enfim, um reporte rápido e sem grandes gesticulações linguísticas apenas para deixar registrado no papel parte do que tem passado pela minha cabeça quando estou tomando banho.
O próximo texto será acerca dos elementos da narrativa que creio ter agora propriamente definidos. Até lá, estarei terminando de ler A Studio of One's Own, da Roberta White e começando a ler o recém lançado The Mirror and the Palette, da Jennifer Higgie, assim como estarei assistindo, como é de praxe, vários filmes de gente cabeçuda.
E não é que esse negocio acabou não dando certo mesmo, mas mais sobre isso no próximo capitulo, por ora tenho apenas que confessar que não lembrava de possuir conhecimentos sobre os bastidores da indústria de animação norte-americana dos anos 1990, e ainda não lembro. Confesso também que não passei do capitulo inicial de The Mirror and the Palette, chato pra caramba.
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zanicto · 2 years
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PARES TORTOS
Eram ciúmes, inveja, talvez um esbarrar muito brusco no espaço pessoal. Seja o que fosse no específico do momento, em ampla leitura claramente era um sentimento de exclusão, o roubo de algo que nunca lhe pertenceu e de longe fosse seu desejo tal posse, ainda assim pairava sobre o travesseiro uma noite que parecia usurpada pela angústia, como nas tantas outras vezes antes que o impediram de dormir. Naquelas, ecos vis e infundados em sua cabeça, nesta, ecos do divertimento que lhe carecia o peito, vindos do cômodo ao lado. Já se disse sobre aqueles de natureza lenta, que dá-se tempo e estes são capazes afundar ao coração do inferno, mas em princípio seu instinto é o de resistir ao sentimento e não assumir que nada bom ou ruim tenha acontecido. De olhos fechados, tentava esquecer que outros existiam.
Ainda que seja inevitável a expectativa, mesmo que mínima, esta é desmontada pela descoberta do equívoco, o prazer de ter a amedrontada primeira impressão irrompida por súbitas alegrias e rasgada por genuínas gargalhadas. Substituindo a dita exclusão por uma voluntária vontade de fazer parte, não daquela relação da qual sentia-se excluído, mas de uma outra, distintamente satisfatória, ainda a ser criada pelo passar do tempo e sintonia com aquilo que se assemelha ou se difere, ele revigora-se em esperança.
É sempre culpa da expectativa essa turbulência que o acomete em primeira instância, aquela mesma expectativa que lhe fazia ansiar por respostas daqueles que nada dizem, que lhe fazia fantasiar aventuras afora que na realidade nunca saem de casa, que lhe punha num frustrante vai e vem da conexão que nunca sintoniza a frequência. Em verdade, fazia tempo, tanto tempo que esqueceu-se das diferenças entre as partes, esqueceu-se até de quem era o interesse de que elas andassem juntas, esqueceu-se de que o interesse não era na verdade pela relação, mas pelo que ela proporcionava, companhia, confessionário, algo que certamente não trocas. Há uma ternura, é inegável, mas de pouco adianta ternura entre dois indivíduos se eles não verdadeiramente possuem interesse pelo outro, sejam por suas semelhanças, por suas diferenças, ou pelo enigma que um apresenta ao outro.
Temia que a proximidade lembrasse daquela tão profundamente sentida exclusão outrora, a mesma que certa vez lhe levou de mão dadas com ciúmes e inveja ao coração do inferno, e que ele sabia, apesar dos suicídios sentimentais, do distanciamento forçado e do tempo passado, estava apenas precariamente curado. De longe fora isso que se passara. Uma nostalgia era clara, mas essa não era pungente o suficiente para gerar qualquer tipo de expectativa. Fora mais do que aliviante perceber que a mente não se perdia em passados ou se atormentava com futuros, mas que se postava firmemente arraigada ao presente, reagindo ao que ocorria sem cálculos ou lembranças. A experiência, que de ruim teve apenas o curto período em que se deu, fez gerar nada além de súbitas alegrias e genuínas gargalhadas. 
Nunca deixou de ser verdade, todavia, que o encantamento daquela outrora, que levava-o a perde-se em sua face, tentando enxergar além do que se diz, do que se faz, do que se expressa, tentando decifrar o enigma que ela punha sobre sua existência, aquele encantamento permaneceu intocado, revigorado toda toda vez que seus corpos se tocavam por acidente. Ele só queria que fosse eterno, aquele tão curto esbarrar.
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zanicto · 5 years
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AI QUE ÓDIO
Olá caro leitor, seja bem vindo a mais um texto deste que venho a chamar de troço. Mais um texto sobre nada em específico, mais um texto onde uma imagem aleatória falsamente ilustra auto-análises e confissões sobre um inseguro indivíduo por meio das vozes de outros indivíduos em pretensiosas citações mergulhadas em estrangeirismos que parecem não querer mais do que reiterar a melancolia e o pessimismo presente em meu ego. Eu poderia, se uma alternativa vem a calhar, limitar tais ponderações aos meus arquivos pessoais, algo que muito fiz e ainda faço, mas por algum motivo escolho desviar certos textos para cá. Penso que talvez, ainda que minha intenção primária seja esbarrar em algo relevante neste meandro de divagações, essencialmente eu queira que alguém me leia.
Pois bem, a ilustração em pauta é uma concept art realizada para um dos trabalhos de conclusão de curso dos meus colegas do cinema. Até onde eu entendo da versão do roteiro que li e das intenções e referências que me foram informadas, esse monstro, javali, javalonstro, é a manifestação da insegurança, da crueldade, da raiva, e coisas do gênero, experienciadas pelo protagonista do filme. Em suma, ele é o bicho papão da vez, sua personificação do medo. Por que a cabeça de um javali no corpo de um homem? Bem, pode-se assumir que o corpo de homem é mais simples e barato de se fazer atuar do que o corpo de um javali, já o elemento javali em si é um porque a ser perguntado ao diretor, talvez seja algum acréscimo pessoal da parte dele, ou talvez não. Eu sou responsável somente pelo “conceito” da arte, não da narrativa.
“Long ago, the defenses I built to withstand the stress of my childhood, to save what I had of myself, outlived their usefulness, and I’ve become an abuser of their once lifesaving powers. I relied on them to wrongly isolate myself, seal my alienation, cut me off from life, control others and contain my emotions to a damaging degree. Now the bill collector is knocking, and his payment’ll be in tears.” Escreveu Bruce Springsteen em sua excelente autobiografia Born to Run (2016), a minha “áudio-leitura” da vez. 
Muito dentro de contexto para pra um texto meu? Talvez. Mudemos de assunto então. Tal qual Bruce - e eu - se isola, se corta da vida e controla suas emoções, Ashitaka, o protagonista de meu filme favorito, Princesa Mononoke, se isola, se corta da vida e controla suas emoções. Ou ao menos tenta, já que o único real desvio da infalibilidade de Ashitaka é nunca ter conseguido assumir o capuz de “homem morto”, como havia sido condenado a fazer no inicio filme, se apresentando bastante vivo a qualquer um que lhe aborde.
Ashitaka foi amaldiçoado por um demônio-javali consumido pelo medo e pelo ódio. Em função disso, tal qual todos os demais personagens de Mononoke, ele carrega esse ódio assassino dentro de si, porém, ainda que o seu seja o único capaz de assumir uma forma e realmente intentar o controle das ações de Ashitaka quando em manifestação, ele é o único dos personagens capaz de controlar seu ódio. San tem na manifestação de seu ódio um desejo de vingança, Eboshi tem na manifestação de seu ódio os entraves a suas ambições. Nenhuma das duas se percebe-se cega pelo ódio que carrega, Ashitaka por outro lado pretende ver com olhos desobscurecidos... e com toda a paciência do mundo.
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“A slow nature such as Maurice's appears insensitive, for it needs time even to feel. Its instinct is to assume that nothing either for good or evil has happened, and to resist the invader. Once gripped, it feels acutely, and its sensations in love are particularly profound. Given time, it can know and impart ecstasy; given time, it can sink to the heart of Hell.” Escreveu E. M. Forster em seu romance tardio Maurice (1971), adaptado para o cinema brilhantemente por James Ivory em 1987.
Eu sempre tendi a calmaria e eventual controle de emoções mais exacerbadas, um tanto quanto estoico da minha parte. Quando pequeno, no fundo do que fora meu abismo de inseguranças, como uma maneira de construir defesas, hoje em dia, como uma maneira de suprimir minha inseguranças e tentar, se possível, de fato enxergar com mais clareza. Tento ignorar raiva, rancor e quaisquer sentimentos de aversão que possam vir a me acometer. Se há algo que eu realmente odeio, e soar mais idilicamente piegas é impossível, é o próprio ódio, em mim, nos outros e neste mundinho de merda, mesmo que meu sarcasmo negativista faça com que publicamente eu declare ódio a tudo e a todos.
Assim como Bruce, esse excesso de controle acabou por atingir um nível prejudicial a minha vivência ou ao menos um não saudável, me tornando distante e insensível. Mas eu não consigo evitar, desde sempre me fiz simpático a estes códigos não escritos de cavalaria e do cavalheirismo, na busca por um ideal infalível que em muito Ashitaka, desde a primeira vista um role model, representa. Um personagem que não é rancoroso, egoísta ou ganancioso, orgulhoso ou vaidoso, não é excessivamente confiante, tampouco é um covarde, não pode ser insultado e se recusa a insultar os outros senão por sua própria inércia.
Não que eu tenha incorporado em qualquer grau este inexistente ser humano ideal, bem pelo contrário, eu confesso ter imenso prazer em soar esnobe, pretensioso e o mais cheio de soberba que consigo soar, todavia, igualmente vejo prazer na confusão gerada quando momentos mais tarde ofereço um lugar debaixo de meu guarda chuva, me ofereço pra carregar peso ou para me estender-me frente a luz que irrita seus olhos ou, servindo como barreira do vento que nos resfria, não me atrevo a mencionar a então acordada revesa de posições. As reações a essas atitudes tendem a reproduzir algo similar a San sendo confrontada pelo “você é linda” de Ashitaka. O mais interessante, é que agora que mencionadas tais atitudes, eu volto a soar tão pretensioso quanto antes.
Ainda que um personagem quase que, senão totalmente, sem falhas, um personagem tão omisso que na completude de seu idealismo poderia facilmente ser tão imparcial quanto o próprio Espírito da Floresta, Ashitaka escolhe um lado da batalha, o que me parece, ironicamente, tornar ele ainda mais “ideal”. Parafraseando Ian Danskin, outro divagador pretensioso da internet: "in considering every view it's your job not to be paralyzed by too much perspective". Esse é um deus eu ainda não tive coragem de cortar a cabeça, todavia. Coragem de seguir com a perspectiva expressa na minha própria autobiografia ao invés de ficar estagnado analisando a perspectiva escrita na autobiografia dos outros.
Isto posto, que Bruce fale por mim mais uma vez: “I was sliding back toward the chasm where rage, fear, distrust, insecurity and a family-patented misogyny made war with my better angels. Once again, it was the fear of having something, allowing someone into my life, someone loving, that was setting off a myriad of bells and whistles and a fierce reaction. Who’d care for me, love me? The real me. The me I knew who resided inside my easygoing façade.”
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zanicto · 2 years
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SEVEN STORIES HIGH, LOOKING AT THE WORLD GO BY
Oh, olá cara leitora. Como anda essa sua vida? - Claramente desocupada, dado sua presença neste local de desalento - Faz tempo, eu sei, mas não se preocupe, se é que uma vez foi causa de preocupação, ainda não deixei este lugar por completo, nem nenhum lugar, diga-se de passagem, na verdade permaneço no mesmo exato lugar, apodrecendo em seu chão se a essas alturas já não virei mera mancha em suas paredes ou assombração de seus cantos escuros.
Se insiste em continuar a leitura, pois bem, vejamos se ainda possuo capacidades cognitivas suficientes para colocar uma palavra após a outra. Da última vez que tentei soava como um aluno de ensino médio não muito aplicado, então esteja avisada de antemão, expectativa tende a ser a morte da alegria. Em minha defesa, não é que durante o período em que estive ausente deste espaço, tive-o ocupado por outras atividades literárias, linguísticas ou gramaticais que mantivessem afiado o meu tecer textual, se é que algum dia foi. Já não me recordo de muito depois de, bem, anos, sucumbindo a velhice que me é inata nesse asilo do meu próprio fazer.
Lembro que costumava redigir num costurar de citações, tentando conectar pontos de vista alheios, aos meus, como fazem todos os ensaístas prolixamente enrolados, em minha atual conjuntura, porém, sou incapaz de recitar uma frase sequer. Sei que li livros, só não lembro quais ou o que continham. Sei que assisti filmes, mas costumeiramente me faço estranho a cartaz e sinopse dos mesmos. Sei que agora posso até ser abertamente alcunhado bacharel em imagens que mexem, mas a cada dia parece mais que foram cinco anos de um delírio, não sei se individual ou coletivo, uma leve capotagem na curva das vivências. Ao menos valeu a adrenalina da velocidade com a qual o veículo era conduzido.
Que fique claro, antes da memória se esvair pelo para-brisa, houveram tentativas de escrever alguma, minimamente consistente, iteração deste texto. Quase todas não passavam, porém, de melancólicos e desesperançosos resmungos sobre o que me afligia nestes, sempre estranhos, dias de letargia induzida e voluntária.
Tentava divagar sobre as minhas tantas incapacidades, sobre o que tem me irritado e o que tem me deixado estéril, sobre aquelas inquietudes sentimentais que irrompem sem aviso, sobre o violento vazio que ecoa as fragilidades neste vago museu de questionamentos no qual me afundo a procura de algum objeto empoeirado, que a essa altura já é mais deterioração do que artefato. Mas releguei a fazer isso, temo até que tenha perdido capacidades de assim fazer, vide a poeira acumulada sobre inatividade de meu "diário pessoal", há muito dado como falecido, por um fio de ser dado como deletado.
Talvez não haja nada sobre o que se escrever, mas tantas vezes já disse isso e aqui estou novamente. É verdade que não tem acontecido muita coisa nos oito metros quadrados nos quais permito-me trancafiar. Não acho, todavia, que seja consequência de se estar neste lugar, como estão tantos outros em espaços semelhantes. Como disse, sempre estive aqui, e já cheguei até a escrever consideravelmente sobre. São e salvo, chuchado em minha pilha de coisas e pensamentos, apenas eu comigo mesmo e o pó que acumula sobre.
Cresci dentro de casa, não fora dela, e acabei me acostumando as suas rotinas, isolado em frente de telas de TV, mais tarde telas de computador e agora todas as telas em minha posse ou não, sempre curioso pelo tão amplo mundo que dizia respeito ao quadradinho iluminado à minha frente. Não posso evitar, eu era uma criança muito afeita a sorver conhecimentos e me entreter por meio da observação para qual tais objeto foram idealizados, e em verdade era uma criança drasticamente tímida, daquelas que acham um canto para ficar quietas sem chamar atenção dos indecifráveis adultos; que se negam a tomar parte em algum jogo ou esporte nas aulas de educação física ou recreio, mais pelo medo do jogo humano do que pelo desdém a atividade física; que apesar das matrizes de personalidade afirmarem o oposto, senta no fundo da sala próximo aos supostos delinquentes e jamais levanta a mão em aula se não para responder a chamada, pois assim não é necessário vociferar seu nome. 
Eventualmente aprendi, como fiz assistindo a documentários de vida selvagem, que como outros animais, as pessoas geralmente têm mais medo de você do que você delas. O truque é se manter calmo, imovel, fingindo de morto, insensível a tudo. Eventualmente um adulto insociável veio a soterrar minha timidez infantil sob as pedras que substituem seu coração, no entanto uma irracional angústia ainda me acomete toda vez que compartilho ar com outras pessoas. Simplesmente não consigo baixar a guarda, fico tão ciente de tudo e tão ansioso pensando sobre que simplesmente não consigo me deixar engajar. 
Não que eu esteja ausente das situações sociais pelas quais me ponho a navegar, mas dou a impressão de estar disperso para que as pessoas não pensem que estou enlouquecendo por examinar as paredes tão atentamente, o que por conseguinte faço para não acharem que sou um psicopata por querer fitar seus rostos com a mesma intensidade. Responderei somente na segunda, mas ouvi meu nome pela primeira vez que chamaram, apesar de parecer estar em outro lugar, onde de certa forma realmente estou, trancado em minha mente, onde permanecerei dias após toda a interação social ter acontecido, fazendo infinitas suposições que sei serem todas falsas e que, a bem dizer, não tem propósito algum para serem formadas
Naturalmente, um espectador, por força do hábito, um ouvinte. Quando se dá ao diálogo, geralmente é apenas para quebrar o silêncio com um desconhecido antes que este tenha tempo de notar que você é um estranho que nada fala. Conduzindo uma quase-entrevista, você não se atreve a fazer comentários genéricos sobre o clima ou última crise e vigência, isso seria estupido, você faz uma série de perguntas, tentando soar simpático, interessado no indivíduo ao seu lado. A cada pergunta respodnida com uma intimidade, mais decontraidos e confientas eles ficam, e manos apreensivo você fica no gradual entendimento pragmantico de com quem esta lidado. Dá-se tempo e os problemas dessa manobra quase-sociopata começam a despontar. Na rápida confiança, talvez eles venham a desenvolver um equivocado apego, acreditando que você os entende, que você os escuta. Não percebendo que na verdade eles não te conhecem, que diferentemente deles você não abriu mão de nada, não percebendo que você nunca deixou de ser um estranho.
Eventualmente, na medida do possível, creio ter aprendido a ser social, mas ainda não entendo ser social. Há um isolamento voluntário muito antes de um mandatário, um distanciamento arquitetado por essa criaturinha assustada que se esconde dos dramas porta a fora, e esconde as angústias porta a dentro, isento de movimentações muito bruscas em ambos ambientes, que é pra não causar alarme. Mas não há real escape do mundo, a rua invade o interno, mesmo depois do expediente, não adianta fechar a porta, não importa quantas vezes Lou Reed tenha escrito o contrário ou quantas vezes Maureen Tucker tenha cantado sobre.
Todos os dias alguém passa o aspirador de pó no apartamento de cima, aspirando os pelos do gato que vez que outra se ouve brincando com uma sineta. Toda manhã, ao acordar, escuto a família ao lado falando entusiasmadamente durante o que suponho ser seu café da manhã, antes de saírem espancando a porta de entrada, costume comum de todos os moradores em nosso corredor. Do terceiro andar alguém liga o ar-condicionado ruidoso, faça calor ou frio. Da garagem alguém acelera a porcaria de um carrinho três cilindros mequetrefe achando que é um V8 ou coisa parecida. Eu não vejo essas pessoas, apenas as escuto, reverberações na edificação, fantasmas nas estruturas do prédio. 
Do outro lado da rua, berros de menino que urra para o que aparenta ser o vento, às vezes para carros que passam na rua, às vezes para vacas no pasto ao lado, enquanto sua avó o observa da porta da casa. No entardecer, potentes assobios do vizinho na casa da frente chamando seu cachorro, perdido entre as vacas, de volta a casa. Em noites silenciosas, o remexer do mato alto no breu onde as vacas pastam é a única coisa que se escuta, como almas penadas arrastando-se na escuridão. Em dias barulhentos, é a intensa peregrinagem de veículos na rua entre minha janela e o pasto, como se uma avenida tivesse sido aberta em meio ao subúrbio-quase-rural, com direito a tomar-se por rota de viaturas de polícia, pronto socorro e corpo de bombeiros, cada qual com suas sinetas e luzinhas próprias.
Não costumava ser assim, houve um tempo em que a rua era de terra e as carroças passando em dias de chuva remetiam a um tempo ermo de barro, guerra e doença onde bovinos reinavam, mas isso era há três, quatro meses. Hoje formam-se congestionamentos em todas as interseções entre bairros, assim como na curva da rua bem em frente a janela do meu quarto, nesse caso geralmente em função de dois veículos de grande porte, ônibus ou caminhões, tentando passar um pelo outro.
Antes do asfalto a rua era mais larga e isso não ocorria, em compensação eu vivia como uma múmia, soterrado sob areia e pó e os caminhões carregados que passavam saltitando pelos buracos e deformidades no chão faziam o prédio inteiro vibrar como se a violação de algum sarcofago tivesse acionado o desmoronamento da pirâmide. Em certos dias da semana, os caminhões passavam em caravanas de alguma pedreira. Não sei ao certo de onde vinham ou para onde iam, mas suponho que tivessem algo a ver com a eterna construção de um contorno viário a algumas colinas de distância. Tarde da noite, só se via suas luzinhas indo de um lado ao outro do horizonte, parecendo ovnis perambulando na noite em busca de material abiduzivel. Da primeira vez demorei a entender do que se tratavam aquelas iluminuras misteriosas, mas deveria ter imaginado que eram os mesmos homenzinhos que sem qualquer aviso explodem as montanhas da redondeza, ocasionalmente mais de uma vez ao dia, gerando ondas de choque que, tal qual seus caminhões, tremulam as janelas do prédio. Desavisados, costumam se assustar, algumas explosões chegam a ser mais altas que trovoadas, mas depois de um tempo se tornam tão triviais quantos os carros freando agressivamente no quebra-molas que antecede a curva frente a janela, aparentemente disfarçado com alguma tecnologia alienígena que o torna invisível. 
O fenômeno mais assustadoramente ensurdecedor a tomar nossas almas de assalto, todavia, ocorrera recentemente. Eram vinte e uma horas da noite de uma sexta-feira, ao que tudo indicava até então, medíocre. Eu estava assistindo a alguma besteira, absorvido em meu próprio mundo de telas, no conforto de minha poltrona e isolamento de meus fones de ouvido, quando um barulho bizarramente alto irrompe a calmaria. Eu não sabia se o prédio estava vindo abaixo, se alguma monstruosidade havia emergindo na superfície, se acidentalmente havia sumonado os portões do inferno ou se finalmente tinha-se dado início ao arrebatamento extraterrestre, só sei que o susto me fez pular da cadeira tão alto quanto havia feito vinte anos antes, assistindo um basilisco emergir em uma sessão de em Harry Potter e a Câmara Secreta.
Corri até a janela, ignorando o perigo que poderia talvez, quem sabe, seria ótimo, estar correndo. Para minha decepção, tratava-se apenas de mais um caminhão, atravancando o trânsito enquanto tombava dois morros de pedras do tamanho de cabeças no meio fio, logo em frente a minha janela, às nove da noite, de uma sexta-feira.
Eu não sei o que esses maquinários de construção sanguinários, dignos do Maine de Stephen King, tem com a frente de minha janela. Numa outra noite, era final de semana, uma escavadeira apareceu para tentar quebrar a pequena calçada de concreto que tinha sido feita uns dias antes por um pessoal que estava reformando portão e muros da casa em frente a dita calçada. A todo o vapor, ela agrediu o chão indignada por cerca de trinta minutos, até que, sem sucesso na peculiar empreitada, foi embora tão repentinamente quanto havia surgido. Não deu nem tempo da polícia, para qual havíamos dado queixa, aparecer, mas nessa época eles ainda não eram assíduos frequentadores da via.
Essas não foram as primeiras investidas na campanha de destruição da rua, cujos muros há muito são os alvos prediletos, quebrados, caídos, carcomidos por veículos desconhecidos. A ocorrência mais recente da qual tenho conhecimento se deu mais ao sul da rua, onde um retardado se perdeu na curva, subiu uma larga calçada e foi-se muro a dentro no quintal de uma quase-mansão, quase atropelado uma transeunte, ninguem menos que minha mãe, no processo. E nem era na curva aqui em frente, famosa em seu período pré-asfalto por simular um circuito de rally, derrapando carros para cima dos canteiros, forçando cavalos de pau involuntários ou os arremessando contra uma das bermas dos terrenos elevados de ambos os lados da rua.
Certa noite, já era madrugada na verdade, eu estava lavando louça com toda a tranquilidade do mundo - sim, de madrugada -  quando escuto o típico "skiiiiiid, boom" na curva. Geralmente esse é seguido de um rápido "vrum skiiid vrum vruuum..." de algum motorista saindo em velocidade de fuga do local antes que alguém possa perguntar se o pedaço de parachoque que ficou para traz lhe pertence, mas não dessa vez, dessa vez, após a batida houve silêncio. Preocupado com algo ter sido realmente destruído ou estar prestes a explodir, interrompi a louça e fui olhar pela janela. Tudo parecia estático, até começarem a despontar algumas cabeças apreensivas por cima do muro. Quatro ou cinco homens andavam de lá para cá, possivelmente analisando o estrago, apesar de que nada grave parecia ter ocorrido. Foi então que uma outra coisa despontou acima do muro, vagarosamente uma roda surgiu no horizonte, seguida por outra parte da dianteira do carro, sendo revirado de sua capotagem a posição original. Os homens então empurraram o coitado, sem para brisa e com o capô completamente afundado até um canteiro fora da curva. Sua carona que chegou logo em seguida, eu continuei a lavar a louça, pela manhã o carro já havia sumido, abdução na certa.
Me pergunto se aquelas curiosas placas de contagem regressiva antes de uma curva acentuada, que apenas geram vontade por maior aceleração, fariam diferença aqui. Como as placas que certa época foram postas ao norte da rua, distantes uns quinze metros umas das outras, tragicomicamente alertando transeuntes sobre homens em motos e assaltos a frente. Mas talvez isso não seja o suficiente, talvez haja uma maldição antiga arraigada a curva, como naquelas tantas que acabam recebendo o sufixo “da morte” após seu título, “curva”, ou talvez seja o universo querendo causar transtorno em frente a minha janela, visitada quase toda noite por motoboys perdidos que questionam "onde fica a entrada do prédio?", até que alguém, já acostumando com o episódio, retribua com “não é esse condomínio" e aponte para o gigantesco complexo de prédios uma centena de metros à frente. Alguns insistem e informam que é uma entrega para o "setecentos e um, bloco cinco” ou coisa do gênero, sem ter percebido que o condomínio aparentemente sem entrada com o qual estão tão confusos, só possui três blocos e quatro andares.
Entenda, estes tópicos sobre os quais resmungo com tanta frequência me são apenas alimento de regozijo, não há profundas intimidades com as palavras as quais aqui rubrico, apesar do velho ranzinza que me cabe afirmar o oposto, são apenas notas e observações, embebidas em volteios de deboche, acerca da pequenina bolha suburbana que me circunda, uma vez mais ao menos, que é pra não perder a prática.
Dois anos atrás, discorrendo sobre temas semelhantes, escrevi sobre meus amigos irem embora de tal bolha, e eles foram, realmente foram, seguiram com suas vidas e furaram a bolha, mudaram-se para outra ou saíram flutuando em suas próprias. Eu continuei aqui, escondido, chuchado no meu cantinho observando os efeitos ópticos da abóbada ao redor. Sempre un voyeur d'flâneur, du fugace, de l'éphémère, ou algo que soe semelhante. Aquele que observa o mundo, da janela ou do ecrã, sem tomar parte em sua rotação. Nesse ritmo, ei de um dia tornar-me nada mais do que uma mancha no enquadramento, mera impressão estática do estranho que um dia foi. É necessário que eu ponha o pé nesta rua de crônicas e saia resbalando na curva, queimando borracha no quebra-molas, despejando minhas pedras noutro lugar.
Até algum dia.
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zanicto · 5 years
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ALGUÉM TEM CERTEZA DO TÍTULO?
Este é o cartaz de "Amanhã Estaremos em Casa", antes "Ventrículo Direito", um dos dois TCCs em que trabalhei em 2019, experiências sobre as quais já discorri anteriormente aqui no troço. O filme anteriormente se chamava “Ventrículo Direito” em função de uma frase, quase monóloga, que é repetidas durante o mesmo: "Jogo Xadrez, leio e discuto Tolstói, a Europa é um continente com 50 países, o sangue do sapo entra pelos átrios cardíacos e do ser humano pelo ventrículo direito" ou algo do gênero, já não me recordo com precisão.
É sobre essa frase que é o cartaz, como o sapo, o atlas da Europa, os dois livros de Tolstói e as referências a xadrez deixam bem evidente. O filme não é sobre isso, todavia. O filme é sobre uma família disfuncional, ou uma família com pais de cabeças apáticas que lidam com suas singularidades no conjunto familiar, ao menos é isso que diz a sinopse. E sim eu assisti o filme, mas confesso não saber dizer precisão do que se trata. Aliás, porque precisaria ser sobre alguma coisa pra começo de conversa?
Sendo ou não sobre uma família disfuncional, fato é que ela lá está, assim como está igualmente representada no cartaz pelas peças de xadrez, incluindo as gigantescas e surreais ao fundo. Mas se você tiver assistido ao filme isso será mais do que claro. As peças eu digo, não o filme. O filme já era ambíguo desde o princípio, foi o que me atraiu a ele na verdade, e foi o que me fez optar por um cartaz surrealista para o mesmo. A distopia tipicamente presente no surrealismo fazia todo o sentido com a narrativa igualmente distópica do filme.
Apesar do alto nível de contraste tonal que tem mais semelhança a um Dali, o que eu chamo de distopia aqui tem mais a ver com um Magritte, pois não diz respeito a uma distorção onírica da realidade, mas sim a justaposição de elementos, justamente, distópicos. O que é deveras interessante pra mim nessa abordagem do surrealismo é que, creio, justamente por ser uma deturpação do real, a discrepância entre elementos em cena cria justamente uma unicidade da imagem, tornando-a, em vista desse paradoxo, idealística. Algo, portanto, utópico. Ou não, sei lá.
Certa vez me perguntaram o que era a minha utopia. Eu disse que não sabia, que era algo difícil de responder, porque de fato eu não sei e de fato é algo difícil de se responder, ao menos saber e responder com certeza. Mas sinceramente, porque eu queria ter certeza, era a pergunta que eu de fato não conseguiria responder, porque não faz qualquer sentido eu querer ter certeza de qualquer que seja a coisa.
Always seeking “a great perhaps” como diria Francois Rabelais, ou seria John Green? Enfim, não é essa a pergunta que pretendia responder aqui, mas sim “qual minha utopia?”, e as respostas são inúmeras. Eu poderia dizer que seria morar numa casa na beira de uma desfiladeiro em frente ao mar, que seria viajar o mundo sem me preocupar com nada além da próxima parada, ou que seria encontrar - ou ter certeza, caso eu já tenha encontrado - as pessoas com quem eu dividirei o resto da minha vida. Mas essas não são utopias, são apenas restritas realidades que certamente me fariam feliz se eu vivesse elas, mas até aí quem disse que eu não sou feliz agora, vivendo minha vida mundana na minha pequenina bolha? E se eu sou feliz, isso não significa portanto que eu já esteja vivendo minha utopia? Afinal não é esse o grande objetivo da humanidade, ser feliz? Não é essa a grande utopia? Ou seria algo, bem, mais utópico, como ter todo o dinheiro, tempo e amor do mundo? Mas aí qual é a graça de ter algo se nada lhe falta?
O conceito é clichê. É necessário que haja escuridão para que haja luz, é necessário que haja tristeza para que haja felicidade, e assim por diante. Eu citaria alguém com mais credibilidade que eu para afirmar isso, mas já não me recordo da citação, enfim.
Não que eu seja romântico o suficiente para querer viver pobre, sem tempo e sendo odiado, mas sou romântico o suficiente para reconhecer a sublime beleza de tamanha melancolia, for I am “young and dipped in folly, (no doubt) I fell in love with melancholy”. Mas até aí, o que é belo e o que é sublime? 
Seria alguém dormindo algo belo e sublime, uma vez que o ato de dormir é igualmente o momento em que nos fazemos mais vulneráveis, em nossas camas, e o momento em que nos fazemos mais livres, em nossos sonhos? Enfim, me desculpe pelos devaneios, creio estar um tanto obcecado com Le Lit de Henri de Toulouse-Lautrec ultimamente, um pintor famoso, veja só você, por seus cartazes.
Mas ainda que eu tenha feito esse retorno, estou desviando do assunto, que era: seria dormir minha utopia? Não, não era isso, apesar de eu ter certeza ser a utopia de muita gente. A pergunta era “qual é a minha utopia?” e eu sinceramente não sei responder e talvez eu nem queira, pois a partir do momento que eu alcançar a resposta não haverá nada além, eu terei tudo e qual é a graça de ter algo se nada falta?
“When you offer me happiness, you offer too much, my ideal is a long-lasting longing, for someone whom I cannot quite touch”
A graça não é viver em sonho, é ter que acordar pra realidade e poder ir dormir de novo no final do dia. Mas talvez isso tudo seja uma perspectiva um tanto romântica da coisa ou talvez não, o que sei eu sobre romantismo? Eu estou mais pra um classicista com recaídas de idealismo, ou talvez não. Talvez, talvez, talvez, “a great perhaps”. Talvez minha utopia seja estar vivo, mas talvez isso seja um ponto de vista demasiado utópico ou não, who gives a shit? I certainly don't.
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zanicto · 5 years
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PLACE TO BE
Vivo numa bolha. Possivelmente e muito provavelmente numa bolha social, cultural, psicológica e emocional, mas até aí creio que todos nós vivamos em nossas próprias bolhas. Mas amplos ou mais restritos, nossos umbigos sempre serão o centro do universo, afinal uma vida não pode ser genuinamente compartilhada senão de maneira lírica. Todavia, nesse que é meu constante intento lírico, pretendo tecer uma vez mais sobre a bolha física que me rodeia. 
No bairro de sempre outubro do qual me faço morador, as fronteiras são mais do que definidas ainda que não intransponíveis. Um bairro que consome a si mesmo, ignorando quase que em tom de deboche seus arredores. Um bairro que olha pro seu próprio umbigo como se ele fosse grande coisa.
Seus moradores, todavia, não olham pra esse umbigo da mesma perspectiva. Afinal, nada acontece nesse bairro, não se têm nada pra fazer aqui, eu não aguento mais esse lugar e similares são comumente proferidos pelos residentes desta bolha, principalmente, e talvez exclusivamente, pela parcela púbere destes que nela residem. O que a maioria deles não percebe é que num bairro verdadeiramente residencial, num real subúrbio, nada nunca acontece. Os reclames vem, portanto, não do desconhecimento das configurações de funcionamento de um subúrbio, mas sim por que o que existe neste bairro, digno da alcunha de sub-cidade que lhe é a literal tradução, não sacia o tipicamente jovem anseio por mais do que lhe cabe experienciar.
Ainda que autodeclarado um bairrista, deixo bem claro que não há em mim qualquer resquício de amor, carinho ou qualquer outro sentimento maior que uma simples simpatia auto-imposta por este lugar. Contudo, me recuso a afirmá-lo como um local estagnado, inerte, travado em alguma lacuna espaço-temporal onde nada acontece. Bem pelo contrário, muitas coisas me aconteceram aqui, independente do meu estancamento, da minha inércia e dos meus mergulhos em lacunas espaço-temporais. Algo se move, algo gira, ainda que seja um movimento tão imperceptível quanto o do coelho que não se decide animal ou estátua. Mas talvez isso seja apenas eu, refletindo somente sobre o que acontece dentro da bolha.
“When I was younger, younger than before, I never saw the truth hanging from the door, and now I'm older see it face to face, and now I'm older gotta get up clean the place”.
Me lembro do entusiasmo e da euforia que era andar por este lugar logo que me mudei. De onde eu venho, costuma-se trombar em praças e parques a cada 100 metros e para o meu prazer infantil aqui não é diferente. Eu procurava no mapa as praças que já havia visitado, mas nunca as encontrava. Passei a procurar por qualquer área verde, pedaço de grama ou poça d'água passível de lago que pude encontrar no mapa. Acabei explorando cada instância desse lugar e catalogando todos os conglomerados de mato que encontrei pelo caminho.
Me vejo agora responsável por apresentar tais locais a visitantes ou moradores letárgicos a exploração de seus arredores. Apontar qual a melhor praça pra que, onde ficam as árvores passíveis de escalada, onde se proteger da chuva em caso de uma tempestade repentina e por aí vai. Posso indicar o que ou quem possivelmente se encontrará dependendo de onde se vai, como os cogumelos venenosos do mini bosque, a súcia de cães sanguinários na encosta com sopé d'água, o playground, também comumente conhecido como castelinho, que uma vez encontrei tomado por post-its românticos de alguém certamente confuso quanto ao que é romântico, ou como a absorta fumante do topo da colina ou o velho que, boatos dizem, rodopia seu flagelo na base da colina. A colina, a mesma colina que também é vale, onde alto se erguem pinheiros e outras magnificências.
Tall trees, that for sure ain't layin' down, even if this old world keeps spinning round.
Há uma árvore chamuscada, retorcida e quebrada no topo dessa colina. Baixa e horizontal, ela oferece uma excelente variedade de assentos de fácil subida. Certa vez eu e um bardo tentamos desarmoniosamente invocar a lua sobre aqueles galhos. Muitas foram as vezes que e eu e eu mesmo tentamos invocar a nós sob aqueles galhos. Algumas foram as vezes que uma bruxa tentou harmoniosamente encantar a mim mesmo também sob aqueles galhos. A bruxaria só faria efeito, porém, ao sopé da colina, quando com o simples manusear de dedos fui literalmente embebedado de carinho. Se eu permitisse, a bruxa certamente me deixaria bêbado de outras coisas, mas como descreve a velha bruxa Patti Smith, quando se referindo a um outro alguém com nome de bruxo, “No,” I said, and he pretended to be mad. But I knew Harry. He just wanted to diffuse the intimacy of the moment. Whenever you had a beautiful moment with Harry he just had to turn it upside down". (Just Kids)
“And I was green, greener than the hill, where the flowers grew and the sun shone still. Now I'm darker than the deepest sea, just hand me down, give me a place to be”.
Eu não sei de onde vem esse meu ímpeto por estragar prazeres, de inverter completamente uma situação a ponto de todos os envolvidos passarem de um estado de puro júbilo a um estado de confusão e misantropia. Talvez um desejo estranho de soar ambíguo, de gerar irritação e ao mesmo tempo emanar serenidade. É como o peculiar flerte de um gato, que suplica por carinho pra momentos depois dar uma nada gentil mordida na mão que lhe acaricia. Acho que esse comportamento surge como uma maneira de criar distância, talvez de tentar não se deixar ser controlado, talvez seja uma maneira fazer com que os outros não esperem nada de mim, talvez seja só uma maneira covarde de fugir das responsabilidades inatas a viver em sociedade. Pobres são aqueles que simpatizam comigo pra logo mais ficarem desnorteados com os meus julgamentos demasiado excêntricos, comentários comicamente negativos e elogios que tendem a soar mais como insultos. Pobres vítimas do meu sarcasmo exacerbado. Pobres vitimas da minha bolha.
“In the blue light of dusk, there is a river. By the river, there is a fair. At the fair, there is music, a small stage, filled by a local band playing for their neighbors on a balmy night. I watch men and women lazily dancing in each other’s arms, and I scan the crowd for the pretty local girls. I’m anonymous and then . . . I’m gone. From nowhere, a despair overcomes me; I feel an envy of these men and women and their late-summer ritual, the small pleasures that bind them and this town together. Now, for all I know, these folks may hate this one-dog dump and each other’s guts and be screwing one another’s husbands and wives like rabbits. Why wouldn’t they? But right now, all I can think of is that I want to be amongst them, of them, and I know I can’t. I can only watch. That’s what I do. I watch . . . and I record. I do not engage, and if and when I do, my terms are so stringent, they suck the lifeblood and possibility out of any good thing, any real thing, I might have. It’s here, in this little river town, that my life as an observer, an actor staying cautiously and safely out of the emotional fray, away from the consequences, the normal messiness of living and loving, reveals its cost to me.” (SPRINGSTEEN, Bruce - Born To Run)
Meus olhos e meus ouvidos estão sempre a disposição de quem quer que seja, ao menos isso as pessoas podem esperar de mim.  Minha não tão peculiar assim, mas igualmente anormal habilidade de observar e absorver. Não que seja de qualquer maneira útil quando se tem alguém em prantos ao seu lado e eu estou lá apenas pra ouvir e nada mais. Ao menos já era esperado que essa fosse a única coisa que eu faria. Ouvir o que se tem pra ser dito e absolutamente nada mais.
“Robert loved to hear of my childhood adventures, but when I asked about his, he would have little to say. He said that his family never talked much, read, or shared intimate feelings. They had no communal mythology; no tales of treason, treasure, and snow forts. It was a safe existence but not a fairy-tale one.” (SMITH, Patti - Just Kids)
Certa vez me perguntaram porque eu sempre pergunto da vida dos outros, mas não costumo falar da minha própria. Dei uma clássica desculpa de que a minha vida não é interessante ou algo do gênero. Fato é que eu já falo em demaseio da minha vida, no que eu escrevo, no que eu desenho, até mesmo nas músicas que escuto, tudo gira em torno do meu umbigo. E as vezes eu só quero que minha bolha estoure.
Não é à toa que meu gênero literário favorito é a autobiografia ou o memoir. Não é à toa que eu costumo lembrar das conversas que tenho e retomo assuntos ou comentários de alguma conversa passada para o sempre inicial, às vezes continuo, estranhamento da pessoa com quem estou a dialogar. Eu sempre acabo guardando essas interações, principalmente se houver algo novo, uma informação, uma descoberta, uma perspectiva, um sentimento, algo que até então não existia, something “out of thin air, out of this world, something that before the faithful were gathered here today was just a song-fueled rumor” (SPRINGSTEEN, Bruce - Born To Run). 
Eu absolutamente discordo da assumpção de que tenho boa memória. Claramente é apenas resultado do meu psicológico demasiado auto-reflexivo. “Reflection is how you turn the sights you've seen into insights. It's how you turn experience into meaning.” (IYER, Pico)
So let me hear about your life. About your past and all the wonders that moved fast, about your present and why it seems a torment, about your future and the dreams you want to capture. Maybe we will discover something new about ourselves, maybe we will create something new within each other.
Muitas das pessoas ao meu redor vivem numa filosofia de se estar no momento, experienciando a vida e não dissertando sobre a experiência. Eu, por outro lado, costumo dizer que vivo de passado, muito provavelmente resultado dessa constante reflexão. Mas fato é que independente se as questões que nos acometem durante uma conversa sobre tudo e nada referenciam passado ou futuro, o estado momentâneo de se estar levantando esses questionamentos será a experiência genuína. Mais do que criar algo, mais do que conquistar algo, quando uma conversa permeia reais intimidades, por mais banal que seja o assunto em pauta, é quando o mundo gira, é quando o tempo de fato passa na pequena bolha que nos envolve.
Nostalgias de passados distantes ou aspirações a futuros longínquos são sentimentos que pra mim dizem respeito ao presente. A reflexão é sobre as extremidades da bolha tão ao longe, mas ela só pode partir de onde estamos, bem no centro, ponderando sobre o caminho que fizemos e pra onde vamos depois daqui, questões que inevitavelmente surgem em qualquer caminhada que se dê comigo.
É interessante como essa perambulação desnorteada que não leva a lugar nenhum, ao invés de fluir como qualquer que seja a analogia a algo que flua, se faz sempre atravancada, travando a cada esquina em que eu questiono quem quer que esteja comigo para onde vamos. A resposta vem sempre com um “não sei” ou um “porque eu tenho que escolher”.
A bolha é um ambiente muito simples quando se conhece ela, se sabe suas regras, seus obstáculos, seus limites e seus caminhos. E eu a conheço muito melhor que a palma da minha mão, devo confessar. De qualquer maneira quando a esquina ou o cruzamento ou qualquer que seja o caminho que não em linha reta surge a nossa frente, é como se estivéssemos completamente perdidos, apenas querendo chegar ao conforto e a segurança de nossas casas/refúgios sem saber em que direção ficam.
Agora que já perambulamos por um bom tempo, questionamentos de para onde vamos começam a ficar bastante frequentes. Pro desespero daqueles que questionam, as possibilidades vem não como uma entusiasmada certeza, mas como uma angustiante incógnita.
Eu não sei o que vai ser de mim nessa bolha, todas as pessoas com quem caminho por ela eventualmente irão embora, ou para uma nova bolha ou retornaram para uma antiga. Tal qual eu, nenhum deles é natural daqui, e diferente de mim nenhum deles se estabeleceu aqui, são todos andarilhos, nômades cujas vidas pertencem a outro lugar ou a lugar algum. Talvez quando forem todos embora, eu me enclausure ainda mais na minha bolha, talvez eu volte a explorá-la eufórico tal qual fazia logo que aqui cheguei. De qualquer maneira, sei que ainda que eu saiba perfeitamente para onde levam todos os caminhos, estarei andando completamente perdido.
“And I was strong, strong in the sun, I thought I'd see when day is done. Now I'm weaker than the palest blue, oh, so weak in this need for you.”
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zanicto · 5 years
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SÓ GRAVAREI EM LOCAÇÃO E VOU PRA LÁ DE BICICLETA
Eu nem sei pra que vou escrever esse texto, não tem nada relevante nele pra ser exposto. Aliás, eu podia muito deixar isso apenas como um registro do meu diário, mas ia faltar poética, e eu tenho que publicar algo nesse troço sobre essa imagem, eu acho. Eu não sei, acho que só quero escrever sobre umas conversas que eu tive, sei lá.
Enfim, passei olhando para o retrovisor durante os pouco mais de vinte quilômetros até Caldas da Imperatriz, na esperança de não testemunhar minha bicicleta despencando do hack velho e mal posicionado sobre a tampa do portamalas. Felizmente chegamos a Caldas sem nenhum desastre e minha bicicleta, Brunhilda, pode protagonizar o filme, junto a minha cara de pau e falta de bom senso, tranquilamente.
Protagonizar o filme era apenas uma da minhas funções no projeto, já que eu  - como escrevi no meu relatório quando discorrendo sobre as funções de cada membro da equipe - “[...] que sofro de um gravíssimo caso de desvio de função, acabei primeiramente sendo designado como roteirista”. Essa minha disfunção sempre se apresentou em todos os filmes que fiz, mas até então eu tinha como justificativa a máxima de que o primeiro filme, Lunão, era o primeiro filme, e tudo subsequente a isso foram projetos individuais ou muito pequenos, sendo quase impossível que um membro da equipe não cruzasse com a função de um outro. Contudo, na atual conjuntura das coisas, depois de feito esse filme e ter trabalhado e outros dois que nada tem a ver comigo, fica bem claro que se eu estiver em um set, acabarão tendo que me creditar como assistente geral ao invés de uma função específica para a qual eu tenha sido chamado.
Mas enfim, em Sanguíneo, título que eu não escolhi para o filme cujo cartaz ilustra este texto, eu além de ter sido roteirista, protagonista e, obviamente, ter feito o cartaz, também contribuí na concepção fotográfica, arranjei boa parte dos objetos de cena, montei o filme, fiz o desenho de som e qualquer outra coisas a qual minha atenção fosse necessária. Tempos depois eu também montaria o que considero uma das duas obras primas oriundas desse projeto, o Making Of. 
Não me interprete mal, caro leitor, não é minha intenção gabar-me da quantidade de funções que assumi, bem pelo contrário, é bastante besta da minha parte assumir tantas funções, mas do meu ponto de vista é apenas óbvio que sinto prazer em fazer filmes, independente da função ou funções, aliás, quanto mais eu poder participar melhor. Acho que comecei a ver sentido nesse negócio no qual me meti. Esperança, acho que costumam chamar.
Gravamos o filme, e quando digo “gravamos” quero dizer eu, meu habitual parceiro de crimes Renan Rigon, a semideusa Débora Espit, o ícone incomparável Ariane Derner, a musa inspiradora parceira de melancolias Luiza Medeiros, e Dionathan, o cara com os equipamentos e o carro pra levar todo mundo, incluindo Brunhilda e Liada, que enfim, estavam lá em Caldas com a gente, onde o filme foi majoritariamente gravado. Mas especificamente em um hotel abandonado, o infame Hotel do Chinês, onde aparentemente costumavam acontecer raves, eventos de motocross, e mortes.
Dificuldades no transporte de bicicletas, cachorros quentes, peidos e mosquitos, foi isso que compôs a divertidíssima experiência de se gravar Sanguíneo, como a collage-art que Ariane fez, a outra obra prima oriunda desse projeto, resume bem.
Re-afirmei e descobri certas coisas com a produção desse filme. Algumas coisas relativas a fazer cinema, algumas coisas que dizem respeito as minhas capacidades, algumas coisas que são muito importantes pra mim, mas pelo ritmo em que anda esse texto e parafraseado Patti Smith em Just Kids, “If he discovered anything on his own, he kept it to himself”.
O que eu não iria descobrir nesse filme, mas sim no próximo em trabalharia e o fato de que, independente do meu envolvimento ou não na criação de um filme, meu desvio de função é real e ele tende a atacar assim que eu entro em set.
“Eu não vou trabalhar em nenhum TCC esse ano, quero me focar nos meus projetos pessoais”, todos me ouviram dizer. Não dá muito e Renão pede encarecidamente que eu, como bom coveiro que sou, tape um buraco no TCC em que ele está trabalhando. Não dá muito tempo e além desse buraco outras duas covas são reportadas necessitando de reparos. Quando eu chego no cemitério, acabo tapando uma outra cova que até então eu nem sabia da existência, também dou um reparo nas lápides, troco as flores, aparo o gramado e faço figuração em alguns velórios. Meu cargo no cemitério? Assistente geral. Fora os momentos em que, acordando as oito da manhã e indo dormir as quatro da madrugada, assumi, junto ao demais membros da equipe em set, o cargo de morto-vivo de plantão. “They're coming to get you Barbara”, e by “they” I mean o sono, que acabava levando ao desfalecimento qualquer um que recostar-se em qualquer que fosse o canto do set. 
E duas semanas depois dessa miríade de funções eu estava novamente sem cargo específico em um outro TCC, no qual caí tão por acaso quanto. Mas enfim, creio que o ponto já esteja bem explanado, então não vou me estender muito sobre esse set de mortos-vivos em específico, pois basicamente eu estava lá, fazendo o que eu tivesse que fazer, do catering a logagem, logagem essa que evoluiu de uma prancheta na cintura, pra uma fita crepe no meu braço, pra uma tabela no meu telefone, e assim manteve-se do primeiro para o segundo TCC. Veja só você, não é que esse negócio de tecnologia presta pra algo.
O que foi de fato relevante na minha experiência de set nesses dois TCCs, e que já era muito claro quando gravamos Sanguíneo na primeira metade do ano, foram as interações com os espaços e as pessoas ali presentes.
O primeiro TCC foi gravado em Jurerê Internacional e todas as idas à praia, que ficava duas quadras de distância da casa, foram marcantes, senão peculiares. No primeiro dia éramos eu e Renão, feito duas crianças ansiosas indo na praia e dando umas voltas no bairro no meio de uma chuva, e obviamente não tínhamos guarda-chuva. Depois teve a ida reflexiva e melancólica no meio da madrugada com parte da equipe, e então teve a ida na finaleira antes de irmos embora, também de madrugada. Ela foi precedida por uma pseudo festa/balada com muita, mais muita fumaça em um dos quartos, ideia de Kamila, oficialmente a fotógrafa de fumaça, posta em ação por Greg, um verdadeiro amante de redes e do nada fazer, e foi encerrada com a descoberta e o avistar de uma das luas mais bizarramente lindas que já tive o prazer de testemunhar. É uma pena que você não estava lá pra ver, caro leitor.
A locação do segundo TCC foi melhor ainda. Uma casa literalmente na beira da Lagoa da Conceição, com direito a trapiche e muito lagartear na rede. Greg que o diga. O que foi, na verdade, o motivo pra eu ter participado do TCC. Eu havia visitado a locação pra ajudar com o fotoboard e o videoboard, fiquei maravilhado e prontamente me dispus a chegar uns dias antes do resto da equipe e limpar tudo. Ou seja, tive aquele lugar mágico só pra mim, e pra nada fazer. Por um dia inteiro vivi a vida de rico aposentado com a qual tanto anseio. 
Nessa estadia estendida tive a oportunidade de descobrir várias coisas na casa, incluído bizarrices como o montinho de areia aleatório em cima de um móvel, um abajur com a lâmpada verde, um cancerzinho no chuveiro principal, um armário com tanta bebida alcoólica que o grau etílico só do cheiro daquele troço já era mais alto que muito vinho vagabundo, entre outras coisas. 
Como averiguei e organizei todos os colchões, colchonetes, travesseiros e outros aparatos de dormir da casa, acabei ajudando a organizar quem dormiria onde e com quem. O que soa irônico uma vez que eu dormi no sofá e tive que me contentar com uma almofada como travesseiro, porém, diferente de muitas pessoas, eu dormi sozinho na única coisa naquela casa que não estava mofada, assim como a almofada que utilizei, mais limpa que qualquer um dos travesseiros fedorentos disponíveis.
Não tivemos nenhuma lua mágica naquele lugar e tão pouco tivemos coragem de molhar nossos pés na Lagoa como fizemos na praia, na ocasião em que a areia estava tão gelada que ficar com os pés dentro d'água era melhor do que pisar na areia. Mas em qualquer que fosse a oportunidade estávamos na frente da casa. No trapiche, na rede, onde fosse, passávamos apreciando a vista e a brisa frente a lagoa.
O que reflete bem o ritmo do set, bem diferente da gravação em Jurerê. Enquanto lá acordávamos às oito e só íamos dormir às quatro sem conseguir gravar todos os planos do dia. Na lagoa acordávamos às oito pra ir dormir às quatro, não porque ainda estávamos gravando, isso já tinha sido encerrado muitas e muitas horas antes, mas sim porque queríamos bater papo e passar frio até altas horas da madrugada. Em específico eu Greg e Luiza, os três apertados na rede debaixo das cobertas. Não era a primeira vez que fazíamos isso e certamente não será a última, pois, e na verdade este texto é sobre isso, se perder em conversas sem rumo com pessoas maravilhosas é uma das melhores coisas desse mundo. Se divertir é uma das melhores coisas desse mundo.
“I've opted for fun in this lifetime” (de acordo com a internet, Jerry disse isso, e eu vou concordar com os dois)
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zanicto · 5 years
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TEM QUE TER TÍTULO ESSE NEGÓCIO?
Well, well, well, here we go again. To where? I don’t know and i don’t care. 
“We demand rigidly defined areas of doubt and uncertainty.”, diriam os filósofos do Guia do Mochileiro das Galáxias, com os quais eu não discordaria uma vírgula. Mas, supondo que eu coloquei a imagem do cartaz de Luna aqui por algum motivo outro que simplesmente “ilustrar” um texto sobre absolutamente nada, falemos de Luna ou, como é mais conhecido, o grande Lunão.
Há tempos, realmente há tempos, um texto sobre Luna, este curta-metragem imortal, se fazia presente nas minhas listas de “algum dia”, “pra não esquecer”, “talvez seja interessante”, etc, etc e tals. Primeiramente porque era meu desejo discorrer sobre a produção do cartaz, como fiz aqui com outros projetos subsequentes; depois porque ao montar o making of do filme pensei que divagar sobre os agora nostálgicos momentos durante a produção cairia bem com o formato ao qual eu inevitavelmente tenho levado o troço; agora preguiçoso, porém -  como deixei bem claro no texto anterior a este - e com vontade de egocentricamente refletir sobre mim mesmo, usarei Luna apenas como ilustração de mais um texto sobre absolutamente coisa nenhuma, e de quebra já elimino um item da minha lista.
Para minha sorte - agora, na época foi só desespero - após realizarmos o filme tínhamos que produzir um dossiê do projeto, incluindo relatórios pessoais de todo o processo, com os quais eu encarecidamente encherei sua paciência agora, caro leitor, mas não se preocupe, eu irei editá-lo.
“Era sábado, os grupos estavam sendo formados. Este, especificamente, continha um produtor (Renan), um cara do som (Paulo), uma diretora de fotografia (Indrea), e um diretor (Rafael); de sobra acabaram entrando, coincidentemente, todos os (W)Victors da sala, Zanini (este que vos escreve) na assistência de direção, Villac na direção de arte e Galles na edição.
A princípio idéias pertinentes pareciam escassas, a não ser por uma que surgira portentosa como a lua cheia em uma noite de domingo (19). Genial, ela consistia em um falso documentário sobre a vida universitária de um grupo de vampiros e fora aceita com aplausos incansáveis e comemorações diversas pelos membros da equipe, que julgavam ser aquela a ideia mais brilhante que o mundo já havia presenciado. No entanto, cláusulas do regulamento da produção restringiam a confecção de obras no formato de falso documentário, obliterando por completo a tão primorosa ideia e pondo em depressão aguda todos os membros da equipe.
O novo plano de ação viria de Renan, o produtor, que em uma óbvia tentativa de assumir o controle do projeto, convenceria a todos de jogar a antiga ideia no lixo e seguir com um roteiro pronto, que este já havia redigido, muito provavelmente, meses antes, quando começara a forjar seu plano de dominação mundial.
Com o enredo basicamente estabelecido, ao menos nesta primeira versão, começou-se a decupagem das cenas, em um sábado (25/MARÇO). Houve certo lapso de compreensão mútua entre os membros da equipe, que demonstravam dificuldade de explicar e entender certos conceitos e elementos que se procurava serem inseridos no filme. Ainda no mesmo dia a equipe fora alertada, por um dos orientadores, do demasiado uso de linguagens poéticas e simbólicas.
O processo de decupagem demonstrou-se longo e tortuoso. problemas de comunicação entre a direção, fotografia e assistência, dificultavam sua confecção. Inicialmente uma decupagem bastante simplória fora redigida pelo departamento de assistência, em uma falha tentativa deste de assumir o controle narrativo do filme. À essa versão preliminar de uma pseudo decupagem foram acrescidas sugestões por parte da fotografia. A segunda versão decupagem, pode-se denominá-la também de primeira versão alternativa da decupagem, fora redigida pela direção em cima do roteiro. Revelada tardiamente apenas na data de reunião do grupo, esta versão foi rejeitada, sendo iniciada, na mesma reunião, uma nova versão da decupagem, assumindo como base as duas versões anteriores e as sugestões de toda a equipe presente. Essa, terceira, versão da decupagem já possuía a formatação correta e fora parcialmente finalizada pelo departamento de assistência posteriormente.
Em virtude da exigência de cortes e comprimento de prazos, alterações desorganizadas foram feitas a esta (4ª?) decupagem, gerando conflitos com o roteiro e com o storyboard, que havia começado seu processo de confecção.
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Os storyboards começaram a ser desenhados em uma sexta-feira (31/MARÇO) por um especialista em arte esdrúxula, conivente com a escola italiana de orientação barroco-tenebrista de Reggio Emilia. As peças, portadoras de tamanha vistosidade, foram aplaudidas incessantemente por todos aqueles que as observavam, como que uma vasta coleção de Monas Lisas sendo admiradas por um enorme bando de de turistas leigos decepcionados pelo diminuto tamanho da obra, ou algo semelhante.
Em paralelo ao processo de confecção dos storyboards a produção e, principalmente, a direção de arte buscavam por uma locação ideal às necessidades do projeto. Era requerido um escritório de grande porte, alta circulação de pessoal e baixo nível social, em suma um belo Call Center (Central de Atendimento). Em meio a essa troca constante de possibilidades e tentativas de locação, os storyboards eram alterados e redesenhados para se adequarem às mudanças, da mesma maneira eram as plantas baixas, que acabaram por suscitar novas sugestões de enquadramento e eventualmente uma nova decupagem (5ª???).
Sem um avanço nas negociações para arranjo de uma locação, optou-se pelo adiamento das gravações, e devido igualmente a outros problemas mais um adiamento sucedeu o primeiro. A produção começara a apresentar seus problemas drásticos.
Quando assistimos ao material captado, foi constatado, para o nosso desespero, que era pouco para o mínimo proposto para a disciplina. Tivemos de nos forçar a criação de novo material para preencher as lacunas de improviso.
Na segunda diária de gravação, muitas das cenas foram inventadas na hora, não só pois não tínhamos as planejado anteriormente, como o fato de estarmos confortáveis para trabalhar uns com os outros fez com a gravação fluísse com o dobro da velocidade e metade do estresse. A esse ponto eu e Renan já tínhamos assumido a direção do filme, não somente por estarmos mais inseridos no projeto criativa e fisicamente, mas principalmente porque nosso incompetente diretor havia debandado.
É assertivo afirmar que um dos maiores problemas fora relativo ao som e tudo o que o circunda. O projeto já havia perdido seu responsável de som preliminar (Paulo), contudo esse já tendia a ser substituído pela equipe de som veterana, uma espécie de terceirização da coisa. E eventualmente as capitações em set foram feitas pelo recém agregado ao grupo, Lucas. A equipe terceirizada, pode-se afirmar, apenas piorou o as coisas e em algum grau não foi responsável por mais do que a gravação das narrações da protagonista.
Na pós-produção me juntei a Renan para montamos um guia para nossos editores, e após inúmeras sessões cansativas na casa de Wictor e Renan, finalizamos o projeto."
Na correria de entregar um filme, um dossiê com mais de cem páginas e todo uma infinidade de coisas das quais eu nem sequer lembro, produzi o cartaz. Resumindo o cartaz, portanto, temos uma fotografia da atriz como base, um meteoro, uma lua, a ideia do nome do filme estar escrito na areia da praia, uma edição de cores bem hipster e uma experimentação com brushes estranhos no photoshop.
Resumindo Luna, por sua vez, temos nosso primeiro filme ou ao menos o primeiro relevante pra maioria de nós. Como é de se esperar, creio, de todos os primeiros filmes, tivemos problemas. Perdemos um diretor e um responsável de som - aparentemente, confesso que não faço a menor ideia de que seja Paulo - faltou-nos material para completar o filme e tivemos de improvisar de última hora; os responsáveis “terceirizados” pelo som simplesmente cagaram em cima do que já existia, não era necessariamente bonito antes, mas também não era um cocô; e no mais, fizemos um filme cheio de buracos e solavancos, resultado tanto na nossa inexperiência quanto dos já mencionados problemas de produção. 
Basicamente não sabíamos o que estávamos fazendo, mas nos divertimos horrores e até hoje, no que diz respeito a se fazer filmes, o processo é sempre mais interessante, prazeroso e enriquecedor do que acaba sendo o resultado. Ao menos pra mim.
Ter toda essa inexperiência que acarretou tantos problemas e dificuldades fora, no final das contas, um dos pontos mais interessantes da produção, uma vez que, sem bases referenciais propriamente estabelecidas, éramos livres e carentes de medo de ousar com o que bem nos vinha a cabeça. Estava em prática o clássico dizer do cinema que eu adoro inverter: tínhamos “uma ideia na mão e uma câmera na cabeça.” E assim se produziu Luna, um filme que, por mais incrível que ainda pareça pra mim, ganhou a tão disputada premiação interna do curso, mas também foi só isso. O que talvez diga muito sobre os filmes produzidos naquele ano, quiçá talvez em todos.
A proposta temática que foi nos dada para criação do filme, se bem me lembro, era intolerância. Luna é, por sua vez, em um grau ou outro, sobre relações interpessoais, uma relação de assédio, uma relação abuso, algo que vem da infância, algo que é do momento, todos os elementos estão ali inseridos, intérprete a linha narrativa como lhe cai melhor. Ironicamente, dentre as muitas coisas absorvidas durante a produção a que creio ter mais ecoado entre os membros da equipe, ou alguns ao menos, foi justamente a construção de relações interpessoais, não ruins como expressas no filme, mas boas, verdadeiras e duradouras, ainda que tenham existido relações de ódio em meio a estas, confesso. 
Sendo bem clichê: conheci pessoas maravilhosas, fiz amigos pra vida... e todo aquele papo sentimental com qual a maioria dos meus colegas vai concordar como o motivo de não se arrependerem de ter escolhido estudar esta bela merda, entre muitas outras coisas, que é o cinema.
Pobre Luna, coitada, só cultivou relações dolorosas, mas no final conseguiu libertar-se dos espectros que carregava ao gritar essa dor e não guardar pra si mesma. Ou ao menos essa era a ideia, eu acho. Tomar uma atitude ao invés de aceitar o mundo ao seu redor e esperar ele girar por você.
Tá virando auto-ajuda? Talvez esteja, mas grandes obras também têm sua mensagem de auto-ajuda, afinal, Lunão está aí para me provar correto. Bem, talvez uma obra um pouco maior… Neon Genesis Evangelion (Shin Seiki Evangerion, 1995-1996), por exemplo, a obra prima de Hideaki Anno. Sim, Evangelion tem camadas e camadas, mas se explicitamente personagens tentam ajudar outros personagens, expondo suas falhas e sugerindo concertos, ao ponto de fazerem um episódio inteiro sobre isso, não contaria como auto-ajuda?
Evangelion também é sobre relações interpessoais… bem, mas até aí a vida também é… enfim, o que eu estou querendo fazer aqui é criar, fracassadamente, uma ponte entre os assuntos para parar logo de falar de Luna e começar a falar de Evangelion e do que eu mais quero falar, de mim. Os norte americanos chamam isso de “segue”, pronunciando sé-gu-e, no entanto a palavra vem do italiano “segue”, que apesar da pronúncia distinta é mesma coisa que o nosso “segue”. Ou seja, é mais fácil eu simplesmente seguir pro próximo assunto.
Shinji, o protagonista perturbado de Evangelion, tem esse mesmo problema, fazer tudo ao seu redor ser sobre ele mesmo, porém é ingênuo demais pra perceber sem perceber. Numa ambição por afirmar a si próprio, ele acaba afastando o outro, ainda que anseie por aprovação e carinho. Seu equívoco, e isso é constantemente reafirmado na série pelas personagens de Misato e Asuka, é não ter iniciativa, nenhuma iniciativa, nem sequer para afirmar a si próprio e muito menos para engajar-se nas relações interpessoais que tanto almeja e tanto teme. Shinji, diferente de Luna, espera que as coisas venham até ele, prefere receber ordens do que tomar suas próprias decisões, afinal é mais fácil viver uma vida cujo peso não cai sobre suas costas.
“someone who hates themselves, will project that hate, and will then be unable to trust others.”
O ambiente que Shinji habita é certamente drástico, e as relações, senão estranhas, certamente incomuns que os demais personagens tem uns com os outros e com eles mesmos, igualmente não facilitam a situação, mas é bastante óbvio que Shinji é um personagem perturbado, um escroto de marca maior, que sim, tem seus traumas, mas que não justificam o quanto um merda, sendo bem claro, ele é. E esse é um dos fatores que o tornam um personagem tão interessante e que, justamente a outros elementos de mesma natureza, engrandecem Evangelion. 
Personagens falhos, consequentemente mais humanos, são sempre mais interessantes que personagens infalivelmente plásticos, o ponto fora da curva ou mais fora da curva ainda no protagonismo de Shinji, é o fato de que ele é puramente falho. Não há um sequer acerto em todo o arco do personagem, nem na série clássica nem nos longas-metragem sequenciais Rebuild of Evangelion (2007, 2009, 2012). Shinji é um personagem apático do início ao fim, não que ele careca de momento empáticos, mas carece de momentos simpáticos, e se Hideaki Anno não conseguiu convencer o espectador disso durante todo o decorrer de vinte e seis episódios, ele certamente conseguiu com a masturbação perturbadora do início de The End of Evangelion (1997).
“The terror that i’ll disappear. But i feel like i’ll be fine if i disappear. Why is that? 'Cause no one wants me, i'm one unwanted human being. I knew it, i’m an unwanted child. I don't matter to any one and i never have! You’re running away because you think nothing matters, aren't you? You’re afraid of screw it up, aren't you? You terrified of having people hate you, aren't you? You scared to look the weakness inside you, aren't you. Yeah, but you're no different that i am, Misato. That's right, we all share this thoughts and feelings. That's something in ours hearts that's missing, and we are terrified of it, we are anxious, and that is why we are trying to melt in to one. We are trying to fill in each other's gaps.”
Tal qual Evangelion, Luna também teve suas versões alternativas, mais uma das várias semelhanças que as duas obras não possuem. Renan Rigon, nosso excelente produtor e co-diretor de Luna, resolveu remontar o filme em uma versão de um minuto, o que em suma resultou em outro filme ao invés de uma versão resumida do mesmo, mas acho que a intenção era de fato essa, naquele ponto só queríamos esquecer que Luna, o filme, existia. Grandes, ou Cage internacionalmente, não ganhou nenhum prêmio até o momento, mas já foi exibido até mesmo no Paquistão, veja só você.
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Daqui pra frente eu poderia continuar apenas com citações. Tenho percebido que gosto de me expressar por meio delas. Tanto pra reforçar minhas verdades, quanto para expor as verdades, minhas ou do mundo, que tenho medo de expressar. Talvez eu prefira que o outro fale por mim, nesse aspecto não posso negar minhas semelhanças a Shinji, mas garanto que em grande parte gosto de usar citações porque fica pomposo e soa pretensioso, assim como é uma maneira de expor o conteúdo que tenho consumido, o que, se bem me lembro, era o propósito principal deste troço, principalmente na época em que ainda não era um memoir, ou seria uma epístola? Me deparei com esse questionamento quando uma amiga sugeriu ser interessante desenvolvermos uma relação epistolar. O termo me era familiar mas precisei pesquisar seu total significado para entender o que se estava sendo proposto. Um autor que usa muitas epístolas e muitas citações - e escreve memoirs como ninguém - é Stephen Fry, principalmente como recurso narrativo em The Hippopotamus, romance de 1994 que recebeu uma boa adaptação cinematográfica, ainda que carente da profundidade e certamente dos temperos que tem a versão textual, em 2017. Se isto que vos escrevo pode ser considerado uma epístola, um memoir, ou quiçá um artigo, eu não sei e eu não ligo.
Uma das minhas características que bastante me agrada, apesar de causar ojeriza nos demais - e talvez seja esse o motivo d'eu gostar desta - é a certeza de não ter certeza de absolutamente nada. Me permito ficar indeciso e dizer “não sei” sem titubear, na necessidade de sempre pensar mais, por vezes demasiado mais, profundamente sobre qualquer que seja a coisa. Mas talvez eu esteja apenas fugindo da responsabilidade de decisão. 
“Sometimes people use thought to not participate in life”, diria Chbosky. Não, nenhum filósofo russo, mas sim Stephen Chbosky, o autor de The Perks of Being a Wallflower e diretor de um dos meus filmes favoritos. Mas eu já falei disso em outro texto neste compilado de epístolas… memoir?... troço.
Enfim, eu sei, Charlie sabe, Chbosky sabe, Shinji sabe, Anno sabe, Luna sabe, você, caro leitor, sabe que relações interpessoais são complicadas, possua-se elas ou não, tendo-se medo de que elas deem errado ou jogando-se nelas pra ver no que vai dar, participando-se ou não, relações interpessoais são complicadas. Como diria a maravilhosa Carrie Fisher:
“...with these human beings you never know. They might not want to hurt you. They might even like you, and that would be the worst possible thing that could happen. Because what can you do with people that like you, except, of course, inevitably disappoint them? It’s very dangerous to have someone like you, because one day he’ll find that you are not the person he thought you were. He’ll end up someday having only one thing in common with you and that’ll be a shared sense of contempt and disgust for you. Of course you knew all along how foolish and worthless you were, you just hoped that if you crouched down behind yourself enough he wouldn’t see it. But one day when your guard is off-duty you see him see. You both catch you at yourself. Catch you behaving. And then you’re lost. No. You were lost all along."
Perdão, eu falei, “como diria a maravilhosa Carrie Fisher” quando na verdade deveria ter falado “como escreveria a maravilhosa Carrie Fisher e como leria maravilhosamente sua filha Billie Lourd”, que narra de maneira estupenda os trechos de poemas e epístolas do diário que Carrie escreveu durante as filmagens do primeiro Star Wars, incluso, creio que em partes, em seu último memoir, The Princess Diarist (2016).
Enfim, é complicado, é bem complicado… Mas no final das contas não seria a vida se não fosse, não é mesmo? Como diria Marvin: “loathe it or ignore it, you can't like it."
CARRIE FISHER BÔNUS
Don’t offer me love
I seek disinterest and denial
Tenderness makes my skin crawl
Understanding is vile
When you offer me happiness
You offer too much
My ideal is a long-lasting longing
For someone whom I cannot quite touch
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zanicto · 5 years
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FINDOU, CESSOU, SE EXTINGUIU, PADECEU, MORREU A MAMATA
Peço desculpas, caro leitor, por ambos texto e demora em publicá-lo. Verdade seja dita, o troço é meu e eu faço com ele o que bem entender, fora que, e eu creio que você concorde comigo, caro leitor, não há real compromisso atrelado ao troço, uma vez que não há real leitor para que eu me comprometa com. Para minha angústia, todavia, soa como se houvessem, o que implica a mim um sentimento de culpa por não estar fazendo jus ao status que o troço outrora tivera. Qual status eu não saberia lhe dizer, mas deve haver algum.
Eu havia prometido trocentos textos atrás que o troço passaria a implicar uma carga mais pessoal, como um journal, tornando-se uma extensão do que já fazia em meu diário, que agora insisto em denominar, mais corretamente, de memoir. No entanto, não passou pela minha cabeça que depois de publicados os poucos textos acadêmicos e analíticos que se encontravam então engavetados, juntamente a publicações relacionadas a produções imagéticas mais elaboradas do que as presentes neste texto, por exemplo, não haveria mas o que se publicar senão justamente estes textos fúteis e egocêntricos sobre absolutamente nada e coisa nenhuma, que em sua jocosidade e liberdade criativa me dão prazer ao escrever, mas que em nada contribuem para o “status” do troço, que se continuar nesse ritmo acabará tendo de ser referido como não mais do que um vago, vesgo e vazio, blog.
Devo lhe informar, caro leitor, que essa noção e consequente preocupação somente me acometeu, quando há pouco tempo decidi reler meu diário e descobrir os sórdidos segredos que a memória me fizera esquecer. É interessantíssimo avaliar o quanto mudei, minhas opiniões, meus sentimentos, minhas referências, minha escrita. E o quanto formei ao longo dos anos essas mesmas opiniões, sentimentos e referências que carrego comigo hoje. Diria que o Zanini que foi ainda é, mas o Zanini que é nem sempre foi... Enfim, é uma satisfação ter esses registos. Até porque, na tentativa de relembrar, intentado escrever um “capítulo” de meu diário que faça jus a nomenclatura memoir, percebi o quanto certas informações simplesmente não constam no meu arquivo mental. Eu não conseguiria descrever, por exemplo, um único dia da minha vida estudantil. Mas eu consigo lembrar de coisas muito específicas que mais ninguém lembra, fatos e ocorridos inúteis que foram meramente mencionados uma única vez, e não, não é memória selectiva, eu só sou estranho mesmo.
Uma memória estranha, aliás, me angustia desde que… bem, me lembro, a memória da “garota queimada”. Em um dos anos do fundamental, eu não sei qual, uma garota nova entrou na turma. Eu não sei seu nome e sinceramente não lembro de como ela se parecia, mas eu sei que essa garota tinha o corpo queimado do pescoço pra baixo. Nós nos divertíamos juntos, eu gostava dela e ela gostava de mim, talvez fossemos os estranhos da turma que se davam bem, eu não me lembro. A última, e aliás uma das únicas, lembranças que tenho da garota é de um momento em que andávamos juntos, rua da escola abaixo, junto de todas as outras crianças que iam embora. Eu queria muito saber quem era a garota queimada.
Talvez eu devesse ter registrado mais naquela época, hejo esquecer é um medo real. Como diria Samwell Tarly no segundo episódio da ��ltima temporada de Game of Thrones: “That's what death is, isn't it? Forgetting. Being forgotten”. E olha que registro até bastante, todos as obras, literárias audiovisuais ou de qualquer tipo que consumo, por exemplo, estão registrados em meio as minhas muitas listas, listas de coisas pra fazer, listas de ideias pra algum projeto específico, listas notas vagas que depois de um tempo o raramente lembro do que se tratavam, coisas como: “Início do Moab is my washpot”, seguido de “34 sobre o nariz” e “paramos no elton john”. Sobre este texto em específico havia anotado: “falar das férias e indicar coisas”. Eu não tenho o que falar das férias, elas acabaram, faz um tempo já, mas vou lhe indicar coisas, se me permite.
Nas férias, de acordo com os meus registos, assisti a 150 coisas, entre séries, longas e curtas-metragem de ficção ou documentário, animação ou live-action; assim como li ou ouvi 13 obras literárias de ficção ou não-ficção. Listarei e farei divagações sobre, por tanto, o melhor de tudo isso.
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Bem, por onde começamos?... Stephen Fry?... Não, não, não, vamos começar por outro ídolo, justamente um que eu não tenho o que falar sobre, Orson Welles. Em agosto do ano passado (2018) a Netflix lançou a então “última” obra incompleta de Welles, The Other Side of the Wind, juntamente a um documentário They'll Love Me When I'm Dead. Eu havia ficado eufórico quando o lançamento do filme foi anunciado, com supervisionamento de Peter Bogdanovich. Extasiado quando o filme foi finalmente lançado, eu não me atrevi a assisti-lo em meio ao ano letivo, sabendo que precisaria de tempo para matutar sobre a obra. Bom, tempo se passou, mas eu não irei falar nada além de que, juntamente com F For Fake, é um dos filmes que coloca Welles nesse posto de “ídolo”.
Tentando fazer com que bons cineastas não sofram o destino que acometeu Welles, vou indicar uma produção nacional, ou melhor, regional ou local ou até mesmo institucional, um trabalho de conclusão de curso dos meus coleguinhas do cinema, que no caso eu nem conheço, igualmente não sei onde você, caro leitor, pode encontrar o filme, mas enfim, ele se chama Escarro (2018), é uma produção florianopolitana sob a orientação da Universidade do Sul de Santa Catarina e tem um final sur-pre-en-den-te.
Num mesmo estilo “sujo”, não tão nojento talvez, e uma obra que creio igualmente ter pouca atenção, indico uma série do Youtube Premium, Wayne (2019), que eu obviamente assisti por outros meios que não pagando pelo Youtube Premium, mas o primeiro dos dez episódios de meia hora é grátis. A série (não é sobre o Batimá) é uma road trip cheia de sangue de um recém formado casal de jovens perturbadas que gostam de encrenca e altas confusões. É uma série “pequena”, mas com estilo; barata, mas o valor de produção é ótimo; o elenco é formado por excelentes atores jovens ou pouco conhecidos, incluindo a Disney mirim Ciara Bravo e o iniciante músico irlandês Mark Mckenna, que tinha estreado três anos antes no jocosinho Sing Street (2016).
Sinceramente, eu já to ficando sem saco pra ficar comentando obras desse jeito vesgo, então não vou falar nada sobre Anne with an E (2017), ou Blakkklansman (2018), Roma (2018), The Favorite (2018), ou qualquer outro filme do Oscar, como Spider-Man: Into the Spider-Verse (2018), ou qualquer outra animação, tipo A Goofy Movie (1995) e An Extremely Goofy Movie (2000), ou Age of Sail (2018) do Google Spotlight Stories, que está disponível no Youtube e que muito comicamente meus pais disseram ser “pesado”, fico só imaginando o que eles diriam de The Cove (2009). Não, não vou falar de nada disso, pois quero pular logo para o Stephen Fry, essa figura que simplesmente não para.
Sei que já citei em alguns textos as recomendadíssimas autobiografias do Fry, assim como sua fantástica narração de Harry Potter, mas não sei se já citem sua igualmente ótima narração da obra total e completa de Sherlock Holmes, agora citada, ou os outros livros não biográficos de Fry, que no caso ainda não ouvi, mas já lhe informo, caro leitor, que eles existem e não tardo a comentar sobre eles aqui. Mas enfim, como dizia, Fry simplesmente não para, é fato. Recentemente o ouvi narrar, por exemplo, seus diários e documentações da época em que ele (biólogos e uma equipe televisiva, no caso) resgatou um urso-de-óculos nas florestas do Peru, em Rescuing the Spectacled Bear (2002). Em audiovisual, das inúmeras séries, documentários e programas nos quais Fry participa, cruzei mais recentemente com Last Chance to See (2009) uma minissérie sobre espécies em extinção co-apresentada por Mark Carwardine, o biólogo que vinte anos antes publicaria um livro com a mesma premissa juntamente a seu amigo em comum com Fry, Douglas Adams. Se você não for assistir a série, assista apenas um trecho do quinto episódio em que Mark é assediado por um Kakapo. Está disponível no Youtube.
Fora isso, não fiz muito mais nas férias (era disso que eu estava falando, não era?), fora passar a maior parte dos dias sentado em minha confortável poltrona lendo biografias, como o memoir meio autoajuda do Connor Franta, Note to Self (2017); a autobiografia encomendada do Graham Norton, The Life and Loves of a He Devil (2014), que pra mim tem um dos melhores talk shows existentes; e, já fora das férias, o primeiro memoir da sensacional Patti Smith, Just Kids (2010).
Das três a biografia da Patti é a minha favorita, não só porque ela foi genuinamente bem escrita e porque o ambiente pelo qual ela transita conversa muito mais com o meu, mas também porque eu identifiquei semelhanças, não com a minha vida per se, mas com o que me rodeia. E me identificar com algo quando consumindo uma obra, eu que raramente tenho reação qualquer que seja coisa, tende a ser o ponto alto de conexão para com a obra, o que faz todo sentido, mas entenda que eu geralmente não sinto empatia por aquilo que não me diz respeito por mais “tocante” ou “emocionante” que seja, qualquer que seja a direção desse emoção e desse toque. Não significa que eu não consiga ser empático, só que o ato de ser empático não parte de um sentimento real, mas sim de um senso de educação e, sei lá, cavalheirismo.
Enfim, Patti queria só ser artista, e hoje ela é música, poeta, desenhista, fotógrafa, escritora e outras coisas. Espero algum dia chegar aos pés da artista que ela é, uma vida dedicada a fazer arte pela arte.
Aqui entraria um desenho que protelei a fazer e que agora não estou mais com saco.
Outro dia, como muito já fiz e deixei de fazer, estava pensando o quanto procrastino e deixo de procrastinar, o quanto eu faço e deixo de fazer. Lembro da época em que essa palavra não existia, não pra mim pelo menos. Não sei quando ela passou a ser usada comumente, mas lembro quando a descobri, nos idos de 2015, quando minha principal atividade de procrastinação era assistir vlogs no youtube, creio ter até anotado algo em meu memoir como “o ingleses (vlogers) usam muito procrastination”. Fora do mundo contemporâneo que é o youtube provavelmente só voltei a ouvir procrastinação na faculdade ou, antes disso, em nichos muito específicos de minhas amizades.
Nessa época, a época em que “descobri” a procrastinação, ela era de fato um problema, caso comum, eu creio, pra maioria dos jovens da minha idade. Nós não tínhamos responsabilidades e a nossa geração era abruptamente mais caseira e antissocial do que a geração do meu pai, que não procrastinava, mas sim vadiava ou vagabundeava. A nossa geração ficava em casa, no youtube, videogame, mensageiro eletrônico ou rede social do momento, nós procrastinavamos. Meu pai só foi ouvir sobre procrastinação alguns meses atrás. Como falei, essa palavra não existia.
Hoje em dia sinto - ou muito provavelmente é só efeito do meu ambiente atual - que a procrastinação migrou quase que exclusivamente para as redes sociais, e eu incluo aqui os mensageiros eletrônicos, uma vez que eu tenho mais grupos do que contatos no meu whatsapp. Felizmente, redes sociais sempre proporcionaram o menor suprimento de entretenimento pra mim e acabei nunca um viciado como algumas pessoas que conheço, bem pelo contrário, eu odeio, genuinamente odeio, redes sociais.
Minhas procrastinações de hoje, raramente são reais “procrastinações”, ou eu penso assim ao menos. Isso não valida meu desperdício de tempo ou vagabundagem, mas não é procrastinação. Procrastinação pra mim não dura mais do que 15 ou 30 minutos diários, ao menos eu tento fazer com que não dure mais do que isso, quando deslizo meu dedão gordo pelas fotos do instagram ou do pinterest, admirando lugares que queria estar visitando ou casas nas quais queria estar morando. Ainda passo bastante tempo no youtube, é fato, mas vai ser raro você me pegar assistindo outra coisa que não um videos informacional ou científico, um ensaio ou uma análise, entrevistas, documentários, ou filmes per se. Não que assistir a estas coisas seja uma atividade “válida”, mas o que é de fato “válido”?
Um das minhas maiores reclamações a mim mesmo no período da vida em que me vejo existente, é “não estar assistindo filmes o suficiente”. É uma real satisfação ter uma desculpa para passar o dia assistindo filmes, mas eu não faço, eu passo o dia assistindo vídeos científicos sobre cetáceos, lendo e assistindo ensaios e artigos sobre como alguma coisa mudou ou vem mudando o mundo de alguma coisa; assistindo vídeos de como fazer uma ukulele baixo, ou como fazer um side car para bicicleta, ou lendo alguma biografia que alguém genuinamente relevante ou que eu simplesmente acho relevante, ou assistindo o making of ou comentários de um diretor sobre um filme, isso quando não passo meu dia ouvindo audiolivros enquanto navego pelo street view do google maps de algum lugar qualquer, como São Francisco, por exemplo, fora quando não passo o dia escrevendo textos sem rumo que ninguém lê, tal qual este. É mais válido ficar fazendo isso do que passar o dia stalkeando a vida dos outros ou consumindo e compartilhando memes? Eu não sei, eu genuinamente não sei. Pra mim é mais válido, mas pode ser só procrastinação.
Eu gosto de caminhar, andar sozinho e somente comigo mesmo pra lugar nenhum por uma ou algumas horas, somente observando ou não as coisas ao meu redor conforme eu passo por elas. Gosto de fazer isso conversando também, eu gosto de conversar, de matracatricar, mas caminhar sozinho parece mais válido, é reflexivo, é contemplativo, é conceito... “snort”... mas é fato, soa como um ato importante, ao menos pra mim, apesar de ser o momento onde eu de fato não estou fazendo absolutamente nada, e não, eu não considero um exercício, e não fico pensando sobre a vida enquanto caminho (eu faço isso no chuveiro) eu não penso em nada, eu só caminho. Seria procrastinação?
Bom, seria o ato de dormir uma espécie de procrastinação então? Particularmente prefiro a ideia de caminhar sem rumo por oito horas do que a ideia de dormir por oito horas, ainda que dormir seja trocentas vezes mais prazeroso.
Bem, eu não sei onde quero chegar com toda essa caminhada divagatória sobre… Procrastinação? Sei que comecei a divagar sobre isso porque queira expor a noção que recentemente me acometeu de que eu passo a maior parte dos meus dias, isso seriam de 16 a 20 horas por dia, ou deitado na minha cama, dormindo, ou sentado na minha poltrona, no outro lado do quarto, fazendo o que quer que seja a procrastinação que eu esteja fazendo.
Ainda bem que não sou sedentário.
Até algum dia, caro leitor.
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