taihfelix
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Thai
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Tenho outro cantinho onde escrevo sobre coisas mais delicadas, mas aqui a ideia é diferente: quero um espaço para postar contos e crônicas mais leves, mais neutros — só deixar as palavras passearem um pouco.Não prometo nada genial, só prometo tentar. Esse é um novo hobby, e escrever sempre foi uma forma de cuidar da cabeça nos dias meio nublados.Então é isso: bem-vindo(a) a esse pequeno experimento. Vamos ver no que dá.
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taihfelix · 10 days ago
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Domingo, ela e o som que ainda ecoa
Domingo à noite. Sempre tem um ar de fim de história, mesmo que nada tenha realmente terminado. O mundo respira fundo antes da segunda-feira, e eu aqui… respirando também, pensando nela.
Engraçado como algumas pessoas passam pela nossa vida dizendo que são difíceis de amar. Ela dizia isso com uma firmeza quase ensaiada, como quem repete um aviso antes da decolagem: “Cuidado. Amar-me pode causar turbulências.” Mas, no fim das contas, o difícil mesmo foi esquecê-la.
Hoje, enquanto adiava uma pilha de pendências do trabalho, coloquei pra tocar a cantora preferida dela. Um hábito que criei sem perceber, quase um ritual pra sentir que ela ainda habita algum canto da minha rotina. As músicas foram invadindo a sala, assim como as lembranças.
Pensei em como ela dizia que era difícil de amar… e em todas as vezes em que me provou o contrário. Com gestos pequenos e gentis — como ir me buscar no trabalho, a pé, só pra caminhar comigo um pouco. Os encontros na praça da igreja, as tardes em que dividimos um sorvete de chocolate com menta, o preferido dela. A vida com ela era feita dessas cenas simples que ainda hoje me desarmam só de lembrar.
Não, ela não era uma daquelas personagens de romance que encantam de cara. Era feita de camadas, de silêncios, de falas atravessadas que só quem ficava prestava atenção. E eu fiquei. Todos os finais de semana em que pude, eu pegava estrada, quase 80 quilômetros só pra estar com ela. Só pra dormir naquele apartamento pequeno que ela alugava com orgulho e onde cada detalhe tinha o toque dela.
Lembro da gente juntas numa madrugada de sábado, enroladas num lençol verde, fazendo planos bobos. Eu sonhava com o dia em que a gente talvez tivesse um lugar só nosso. Ela queria decorar tudo, e eu só queria estar lá. Na manhã seguinte, era a minha voz cantarolando as músicas preferidas dela, enquanto o som ecoava pelas paredes que ela chamava de lar.
Cada canto daquele apartamento guardava um pedaço dela. Os copos dos shows que ela teve coragem de ir sozinha — memórias empilhadas em prateleiras, como medalhas de quem não esperou ninguém pra viver. As viagens solo, que ela ainda faz sempre que o mundo fica apertado demais. E, entre esses fragmentos, o meu livro preferido. Aquele que dei de presente com uma dedicatória escrita à mão. Quando tudo acabou, ela queimou só a dedicatória. Como se queimar as palavras fosse o suficiente pra me apagar também.
Ela ama karaokês. Sobe no palco com uma confiança que eu sempre admirei, canta como se estivesse vivendo a música. E eu… eu fui burra de nunca ter ido com ela. Sempre adiando, sempre inventando uma desculpa qualquer. Me arrependo disso. Me arrependo de não ter dividido com ela aquele palco pequeno, aquela alegria inteira.
Difícil, na verdade, nunca foi gostar dela. Difícil foi ir embora no domingo à noite, enquanto ela ficava no portão. Difícil foi carregar de volta os sonhos, as vontades, e o arrependimento. E vê-la seguir firme, decidida, como sempre foi. Mesmo que eu quisesse duvidar, lá no fundo, eu temia que ela tivesse razão ao dizer que era o melhor.
E hoje, de novo, nesse domingo silencioso, entre tarefas adiadas e notificações vazias, ela voltou. Não em pessoa. Mas no som, na lembrança, no gosto do sorvete que nunca mais pedi.
Talvez algumas pessoas simplesmente continuem ecoando dentro da gente, mesmo depois do fim.
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taihfelix · 15 days ago
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A Esquina e as Cartas
Hoje, dirigindo a caminho do trabalho, passei pela esquina onde bati o carro meses atrás. E, como quem escorrega nos próprios pensamentos, entrei num devaneio.
O sinal estava fechado — como se também ele estivesse esperando por uma resposta — quando comecei a pensar: o que será que uma cartomante enxerga de verdade naquelas cartas coloridas?
Não estou duvidando da arte. Longe de mim. Logo eu, filha de um pai místico que lia os sonhos como se fossem profecias e de uma mãe católica até a última conta do rosário. Neta, ainda por cima, de uma índia que era filha de um escravo liberto. Ter fé, pra mim, é quase instinto.
Mas eu olho para as cartas e só vejo imagens bonitas, símbolos que mais parecem saídos de um baralho antigo de jogo de salão. Nada de revelações. Só o óbvio.
Será que a cartomante veria algo sobre mim? Um futuro, um tropeço, um amor mal encaixado? O que ela diria sobre meu destino? Que caminho apontaria no meu mapa cabalístico? Haveria alguém me esperando em alguma encruzilhada que eu ainda não cheguei?
Às vezes acho confusa essa ideia de que temos livre-arbítrio e, ao mesmo tempo, estamos presos ao que está escrito. Eu entrei naquela porta numa terça-feira qualquer porque quis, ou porque o destino já tinha colocado meu nome na agenda daquele lugar, ainda que eu tenha acordado atrasada e quase desistido de sair?
Vejo tanta gente apostando tudo nas cartas, nas casas astrológicas, nos trânsitos planetários. Eu mesma, com essa lua em Gêmeos, fico me perguntando se é ela que me faz ser tão indecisa, tão cheia de perguntas. E será culpa do meu Sol em Peixes essa mania de sonhar mais do que viver?
A quem estará atado o meu fio invisível vermelho? A um amor, a um acaso, ou a um erro? Será que é ele que me puxa em silêncio pelas esquinas da vida, como esse semáforo que fecha na hora exata em que eu mais queria avançar?
Pedir conselhos às cartas seria trapaça? Uma forma de burlar a prova, saber com antecedência qual escolha dói menos? Será que as cartas mentiriam para mim, ou será minha amiga — a que lê baralhos — quem inventa histórias com a cara mais séria do mundo? Às vezes parece mais ela falando do que as cartas.
O que eu sei é que, segundo o meu mapa astral, estou perdida entre quem sou e quem ainda espero ser. E, pela rosa dos ventos do meu karma, parece que venho pagando dívidas de outras vidas, com juros altíssimos e parcelas vencidas.
Talvez isso tudo seja só mais um hiperfoco novo. Mas ainda assim, real o bastante pra me acompanhar na fila do café, no meio do trânsito, no silêncio da madrugada.
O sinal abriu. O carro de trás buzinou. Eu tenho que correr pro escritório, terminar uma pilha de documentos e fingir que minha cabeça não está cheia de perguntas aleatórias.
Mas ainda me pergunto: em qual esquina eu me perdi — ou me encontrei? E pra onde, ou pra quem, estou mesmo indo?
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taihfelix · 16 days ago
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O contrato que assinei sem ler
Tenho tido pensamentos confusos nos últimos tempos. Não que sejam ruins. Pensar, para mim, é uma forma de existir mais fundo. Me faz tocar em assuntos que a rotina disfarça: vida, morte, amor, sorte.
Às vezes me pego perguntando: será que a pessoa mais amada do mundo é justamente aquela com menos sorte nos jogos? Ou será que aquele que nunca acerta uma aposta carrega, em troca, o amor mais sincero e inteiro que se pode ter?
Penso também no poeta. Em quantos pedaços foi partido o coração que escreveu os versos mais bonitos? Quanto de dor é preciso para se criar beleza? Não sei responder. Só sei que acreditar em sorte, hoje, pra mim, é crer que viver com saúde, bons amigos e risadas honestas é mais valioso que qualquer bilhete premiado.
Mas e quem acredita que a sorte é o amor? Como vivem aqueles que passam a vida inteira correndo atrás de um pássaro que se recusa a fazer ninho? E quem não sabe ser ninho — só gaiola? Como se aprende a acolher quando só se sabe prender?
E como se tem um amor tranquilo quando o coração insiste em se apaixonar por tempestades? Daquelas que fazem questão de mostrar o quanto é difícil conter uma força da natureza...
Tudo me parece um pouco nebuloso, e talvez não seja sábio escrever depois de dois ou três copos de vinho. Recentemente, venho sentindo um desejo estranho de fumar. O que é irônico, já que detesto o cheiro da fumaça. E tenho asma. Respirar já é difícil o bastante sem que eu decida complicar ainda mais.
Às vezes me pergunto: o que acontece antes de nascermos? Será que escolhemos os amores, os encontros, os desencontros, antes mesmo de chegar aqui? Teria eu assinado, sem ler direito, um contrato que previa a perda do meu pai, as turbulências com minha mãe, a cumplicidade tão forte com minha irmã?
Talvez, lá no além, eu já tivesse TDAH e não tenha prestado atenção nas letras miúdas. É bem o tipo de coisa que eu faria.
Sou uma confusão engraçada. Essa é minha maior característica. Disfarço meus nós com sorrisos, escondo meus vazios nas risadas que arranco dos outros. Roubo instantes de afeto como quem coleciona pequenos relâmpagos — querendo guardá-los numa garrafa de vidro.
Nunca fui do tipo sortuda. Nem em jogo, nem em amor. Mas confesso: por um breve momento, achei que tinha vencido a lógica do universo. Numa manhã de domingo, no fim de setembro, eu senti no peito que havia roubado o fogo dos deuses. Tive em meus braços o raio mais poderoso que Zeus já empunhou. E por isso, talvez, ele tenha me odiado.
Se um dia eu tive sorte, a perdi. Deve ter sido a tal cláusula que não li com atenção. Aquela que dizia: “Não é do tipo que nasce com sorte. E se um dia tiver, perderá por falta de inteligência emocional.”
Minha inteligência lógica é mediana. Não impressiona, mas também não envergonha. Já a emocional… essa eu mal tenho. E a pouca que possuo, exercito todos os dias — como quem levanta pesos para fortalecer músculos frágeis.
E o que acontece quando tudo acaba?
Será que os livros que lemos são memórias de almas que já passaram por aqui? Histórias que brotam no coração dos escritores para reviverem em nossas imaginações? Será que, no fim das contas, somos só personagens sendo lidos por alguém… e achamos que estamos vivos?
Eu não sei. Só sei que preciso, urgentemente, parar de escrever depois de algumas taças de vinho.
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taihfelix · 17 days ago
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Crônica de um Domingo Qualquer
Já são quase onze horas de mais um domingo, e o celular, silencioso, só confirma o óbvio: nenhuma notificação importante. Nenhuma mensagem que me faça querer dirigir quase 90 km com a desculpa de um acaso.
Na geladeira, algumas cervejas geladas. Mas o estômago ainda se lembra da última ressaca, daquelas que fazem a gente jurar que nunca mais. E, bem... eu até lembro da noite — ou parte dela — mas chega a ser vergonhoso repetir erros adolescentes com uma carteira de identidade que já acusa a idade.
Amanhã me esperam pelo menos duas reuniões sérias, além de uma lista de tarefas que faria minha versão mais jovem dar risada ou fugir correndo. É curioso pensar nisso: como é que uma adolescente inconsequente virou uma adulta tão chata?
O celular vibra de novo. Outra notificação sem importância. Sempre um convite novo para um erro recente. Nunca fui do tipo que se entrega ao acaso — ou pelo menos não era. Mas ando me acostumando com essa facilidade dos encontros aleatórios, dessas companhias que aparecem num domingo entediado, só pra dividir um vinho ou se perder comigo pelas estradas.
Ainda não lembro de onde veio aquele colar esquecido no quarto. Mas, sinceramente, não importa. Ando pensando em comprar outro violão, terminar aquela música que comecei em março. O problema é que eu já coleciono memórias demais, e conhecendo meu jeito, a melodia vai martelar na cabeça por uma eternidade.
Recentemente descobri uma coisa nova — e como tudo que é novo em mim, virou obsessão.
É estranho viver uma vida que às vezes nem parece minha, e ainda assim me sentir no controle. Liberdade também é solidão quando o domingo chega ao fim e a segunda-feira parece uma promessa mal feita.
Meu gato, cada vez mais gordo, dorme com a paz de quem nunca precisou fazer grandes escolhas. Um sortudo, esse desgraçado. Foi adotado quando já tinha sentença de morte decretada. E olha aí, agora dorme como rei. Amo esse filho da mãe — mesmo quando, do nada, ele me traz lembranças que eu queria esquecer.
Penso na possibilidade de viajar de novo. Talvez, dessa vez, sozinha. Preciso me perder um pouco mais, pra talvez me reencontrar em alguma esquina de mim mesma.
O livro na cabeceira até que é bom, mas estou cansada de romances eternos e detetives que sempre descobrem o assassino na última página. Talvez eu deva pegar aquela cerveja e ver se o sono chega.
Mas tenho medo de dormir e sonhar. Sonhar com o que me esforço tanto pra não pensar.
No fim, sei que essa semana vai me engolir. Vai passar como sempre passa: rápida, insensível, enquanto eu espero que alguma atitude brote em mim com a mesma facilidade com que eu preparo meu café.
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