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EM QUADRADO
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De tudo um pouco, do pouco um tudo. Textos, prosa, poesia, humor, crichê e tricô. Para pular na cama e estourar plástico bolha, lendo.Por Carol Barra
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textos-em-quadrados · 6 months ago
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It’s in Portuguese but I also write in English. This piece of writing is very peculiar, therefore any translation would be very difficult. It has humor and regionalism from Brazil.
DAS SENSAÇÕES, CAUBY PEIXOTO E ROCK, LISTAS TELEFÔNICAS, PORTUGUÊS CROSSDRESSER E VIAGENS DE BUSÃO ESPACIAL NA MATRIX
Listas rabiscadas em papel de caderno amassado, veludo de pêssego na boca, brisa úmida de verão na praia, toalha felpuda com monograma bordado com linha de costura, paredes rabiscadas pelas crianças. Experiência estética, resfriada e agasalhada, embaixo de meus lençóis. Explosões, de imersões caladas, em terremotos de dez graus, na escala Richter, falam-me ao pé do ouvido. Aceito de bom grado, embora meus ouvidos ainda não tenham criado pés. Pulo na cama, resignada, ao som de Cauby Peixoto. Se existe um avesso do rock, ele tem nome, e é Cauby. Vem sempre acompanhado de Conceição, que nunca esqueceremos, pois ele fazia questão de lembrar. Aceita, meu amor (SENSUAL: 2022). Não sei se seria correto revelar meus pensamentos, mas imagino que, uma boa lembrança no epitáfio do querido Cáuby, seria a frase: “AINDA ME LEMBRO”. E a gente também.
Eufórica, deito e abraço as sensações, embaixo das cobertas. Gratidão à vida, por poder ver edifícios de papel inanimados (ou não), gritando, de lá do outro lado da rua, para que eu os note. Não, eu não sou esquizofrênica, não entro nesse papinho se vocês querem saber. Coisa de fina estampa é ter ciência de que existe tanta lindeza, lindezando, nos lugares e não-lugares da vida. O cotidiano do encantamento é um grande momento, em que minha pele de alma, olha a realidade, com um filtro dourado e cor-de-rosa, só porque também adoro Piaf e Manolo Otero. Um mundo em que seres humanos melancólicos vão à janela, com cara de paisagem, olhando o que os vizinhos estão fazendo, cuidando da vida dos outros. Este serzinho, o que mora aqui dentro, só quer destroçar esse dia-a-dia, do jeito que aprendi a passar o tempo. Rabisco e escrevo, em linhas imaginárias, de papel de saco de pão (porque papel de pão nunca mais vi), com meu mísero vocabulário de percepções de mundo, meu pobre e acanhado português, que veste minhas roupas e povoa meu planeta interno (talvez seja até galáxia pois é vasto que facilmente me perco a cada dois minutos).
Dia após dia, noite após dia e noite, ando a colecionar e viver palavras, a montar quebra-cabeças de letras, a colocar a língua sob uma lupa, compreensão honesta do que é essa sensação de experimentá-la, literalmente. Viajo, peito livre e aberto, desbravando fronteiras imaginárias de países inóspitos, batizados por mim mesma. Tive a magnífica, brilhante e vetusta ideia quando achei uma antiga lista telefônica da TELEPARÁ, batizando uma estrela errante de Leocádia da Silva 453, que morava exatamente na Rua Estrela, número 453.
Para matar meus dias, de calor, é claro, passeio pelo deserto, de vestido de babado, fru-fru e manga bufante, em tecido sintético. Cabelos molhados à minha moda, amassados por um enorme laço, que não me faz esquecer minha meninice, além de ser uma alternativa mais feminina a um boné. Usualmente, no lombo de um camelo, ou dromedário. Posso dissertar sobre o assunto transporte no deserto, que com minha cidade só tem em comum o calor insuportável durante o dia, o que já basta. Acumulo experiência e grande apreciação pelo tansporte de duas corcovas, pois o design do assento me parece melhor resolvido. Entendi que tal habilidade seria importante para algo, então a incluí no meu currículo do Linkedin.
Também sempre pego o primeiro ônibus espacial na parada perto de casa, de onde parto a explorar planetas e galáxias desconhecidas, normalmente às segundas, terças e sextas-feiras (é desorganizado mesmo porque eu sou bagunçada então não tem esse negocio de segunda, quarta e sexta). Quem sabe até eu vá ao supermercado da esquina que, de tão perto, acaba sendo o lugar mais distante que eu conheço, pela preguiça monstruosa de ir andando porque “de carro é muito perto”, e voltar toda breada com 2 coca-colas zero e pacotes de pipoca pantera.
Nos dias e horários específicos, quando não estou procrastinando, coisa que eu adoro fazer, parece que inventaram na época do Império Romano (os gregos eram mais certinhos que o papo de filosofia e a tal da matrix do Platão). Retorno de minhas aventuras internas e encaro o papel, seco e mudo, que me olha de volta com um ar de silêncio e descrédito. É o tempo de um átimo para a pele de minha alma, de que espremo sucos de histórias e poesias saborosos, acompanhados de colágeno, é claro. Dou uma voltinha nas nuvens e as palavras invadem meu coração, poeticamente, como o vizinho de baixo, que é mais da prosa, invade o âmago de minha privacidade, quando liga religiosamente às duas da tarde, para reclamar do barulho de rock-rock (yeah) da rede. Ele bate baixinho, para que eu ouça a voz da minha paz enquanto vivo o presente a escrever e sobrevôo no firmamento lilás do meu quarto de dormir (mentira, é porque se bater mais alto tem o vizinho ouvindo lá na sala de comando dele, de onde ele cuida da vidas dos outros).
Por tudo, é só, um momento de epifania tomou meu espírito, em que pensei na poesia. Acovardei-me, entorpecida pelo dia-a-dia repetitivo da Matrix de Platão (ou seria Baudrillard??? Meu Deus, será que eles são a mesma pess...opa). Por incrível e inefável coincidência, Platão também é o nome do meu vizinho do andar de baixo, que fica fora da bat caverna. Concluímos, em razão de fatos aqui relatados, que sou apenas uma simples artista-artesã anônima, tendo por ofício mera representação vulgar e subterfugiada da cópia, em um mundo falso, vulpino, equivocado, falso, marketeiro, de Inteligência artificial, filtros do instagram e munchausiano, em que o ser humano médio (mínimo e máximo também) é alienado da verdade, portanto, de uma vida feliz e gratificante. Argumentos da lógica decartiana, contrapondo-se ao empirismo defendido no século XVIII (HUME: 1748).
PS: O belo português não é namorado crossdresser não tá? Só para esclarecer
Maria Leontina Pereira de Carvalho Amaral (e mais 25 sobrenomes). Meu pseudônimo, um eu tipo rica quatrocentona, fresca e falida
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