tongue-or-god
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𝑺𝒉𝒆.
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Everything that should have never been said out loud, but I said it. I am her.
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tongue-or-god · 5 days ago
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Life doesn’t make sense without you.
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tongue-or-god · 27 days ago
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O tempo havia se dissolvido.
Dia, hora e lugar eram conceitos mortos ali. O que restava era um palco de ecos, onde o som ritmado de açoites se confundia com um cântico profano, pulsando como um mantra que percorria cada nervura do corpo dela.
Havia nele a respiração de uma besta sem dono, arfante, selvagem, cuspindo grunhidos que soavam como trovões colidindo entre o ódio e a fome; uma fome que não era de carne, mas de domínio, de controle, de aniquilação e prazer na mesma medida.
Ela se debatia, ou fingia que podia. Suas mãos, frágeis contra muralhas, batiam, empurravam, tremiam. Gotas salgadas se misturavam à umidade que traía qualquer resistência ensaiada. O corpo, esse traidor impiedoso, dançava uma valsa diferente da alma.
Num ímpeto, tentou romper os grilhões invisíveis, empurrando-o com desespero. E nele, a noite tomou forma: olhos mais escuros que abismos, traços enrijecidos por uma cólera que flertava com o prazer mais cruel.
O terror fez morada em seu peito. O coração descompassado batia tão alto que parecia querer romper as costelas e fugir por conta própria. As pernas, frágeis como galhos ao vento, a conduziram numa fuga desengonçada, rastejante, doente como um animal ferido que ainda crê na miragem da liberdade.
Buscou desesperada a maçaneta, seus olhos não conseguiam desgrudar das costas dele, uma escultura viva de brutalidade: músculos tensionados, respiração de fera, sombra que engolia a luz. Era alto. Era imenso. Era o próprio demônio desenhado em carne.
O grito rasgou sua garganta como vidro. Correu. Correu nua, pequena, assustada, como quem carrega o próprio epitáfio nas mãos.
Atrás, o som do predador. Uma respiração contada, precisa, ritmada como uma contagem regressiva para o fim. Ele correu. E seus passos não eram passos, eram terremotos, eram tambores da guerra, eram a sentença vindo buscá-la.
As escadas se tornaram um campo de batalha. Escorregou. Caiu. A dor pintava seu corpo com tons de vinho, rubro, roxo e negro. A pele se fez mapa de marcas, linhas, mãos. Memórias gravadas na carne.
Quando a alcançou, não o fez como homem, mas como fome encarnada. E ali, no exato limiar onde a humanidade se dilui, ele tomou o que julgava ser seu; não com amor, não com ternura, mas com aquela fome selvagem que apenas as criaturas feitas de sombra conhecem.
Foi diferente.
Não era apenas pele que se entregava, era a morte da inocência, o desabrochar de uma flor que jamais voltaria a fechar suas pétalas. Era como atravessar, sem retorno, a tênue fronteira entre o antes e o depois.
E veio de trás, como o sopro impiedoso de um inverno que não pede licença antes de açoitar a pele nua. Ali, ela deixou de ser coisa livre; foi domada, marcada, feita pertença. Mas a verdade é que sempre fora dele, mesmo quando fingia não saber.
O corpo, ingênuo até então a tais horrores deliciosos, gemeu em estalos mudos. A sensação era como rasgar véus de linho fino, ouvir o som invisível de fibras que cedem, de carne que se abre não como flor, mas como fenda, como ruptura.
Por um segundo acreditou que o sangue faria sua aparição; gota rubra selando o pacto entre dor e prazer. Que algo havia sido partido, rompido, esgarçado. E talvez tenha sido.
Mas então sorriu.
Sorriu como quem se embriaga do próprio colapso. Sorriu como quem entende que há uma beleza oculta nas dores que moldam. Sorriu e, no espelho daquela dor que também era dele, encontrou o êxtase mais sórdido, mais brutal, mais humano.
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