Trabalho desenvolvido no âmbito da disciplina de "Estudos Literários II", ministrada pelo prof. Fernando Fiorese, 1° semestre de 2017, Faculdade de Letras/UFJF.Cristiane SchettinoLetícia Freitas de AraújoLetícia Maia da Silva CruzNatália de Castro CantuáriaRejane Kellen de Paula Ferraz
Don't wanna be here? Send us removal request.
Text
CLASSIFICAÇÕES DAS CANTIGAS
Com o estudo das canções trovadorescas e a observação da heterogeneidade entre elas, chegou-se a três tipos de classificações: quanto ao conteúdo temático, quanto à organização estrófica e quanto à subespécie.
No ramo do conteúdo temático, temos as cantigas de amor, as cantigas de amigo, as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer - as duas últimas atualmente consideradas como um só tipo de classificação, já que deveriam ser separadas pelo léxico (sendo mais culto as de escarnio, produzidos na corte, e de “baixo-calão” as de maldizer, produzidas pelas camadas mais populares) – porém, não se sabe quais palavras eram cultas ou não.
Pela organização estrófica as cantigas dividem-se em quatro tipos: as cantigas de refrão, que como o próprio nome revela, possui um refrão que se repete, o que ajudava as camadas populares – e analfabetas – a decorarem com mais facilidade a cantiga; as cantigas de maestria, que eram mais comuns em regiões onde a população era letrada, pois eram feitas geralmente com métrica e sistema elaborado de rimas; as cantigas atafinda ou ateúda que eram mais elaboradas, típicas da corte, sendo metrificadas, rimadas e formadas em um discurso só, com um único ponto final no último verso; e as cantigas paralelísticas que eram provençais, resultados de nobres tentando chegar à perfeição de trovadores estrangeiros, além disso, frequentemente repetiam a mesma coisa do começo ao fim.
Quanto às subespécies, encontramos seis tipos, baseados no tema das cantigas. Encontramos as cantigas de seguir, que imitam uma cantiga já existente parafraseando-a ou ironizando-a; as cantigas alba que falam basicamente do alvorecer; as cantigas pastorelas que baseavam-se na vida e nos trabalhos do campo, nos animais e nas paisagens campestres; as cantigas marinhas de temática marinha; as cantigas de pranto que tratam da morte de alguém, seja lamentando ou satirizando (“falso pranto”); e as cantigas de tensão que eram uma espécie de diálogo ou discussão entre dois trovadores, geralmente no improviso, com temática pré-estabelecida (poderia ser uma ofensa, um tema cotidiano ou uma moça) e tinham tom de batalha.
CURIOSIDADE:
As cantigas de tensão, que eram improvisos em forma de batalha te lembraram algo contemporâneo? Isso mesmo! Elas originaram as batalhas de rap que acontecem até hoje. Veja a seguir como funciona na atualidade.
youtube
0 notes
Text
MPB E O TROVADORISMO
A presença da música na humanidade é ressaltada a partir da necessidade de expressar sentimentos. Atualmente podemos perceber na MPB (música popular brasileira) a similaridade da letra e da poesia das cantigas de amor presentes no trovadorismo medieval.
O trovadorismo vivo nas trovas e músicas contemporâneas brasileiras a partir do tema: amor destaca-se na relação entre o homem (amador) e a sua musa, mostrando a permanência da sua condição de vassalo, que são encontrados claramente através dos adjetivos e pela maneira como autor se dirige a sua amada. Sua beleza é aliada a sua indiferença, quando a musa não concede esperança ou amador passa a ser mais valorizada, o sentimento do amador em relação a musa são inversamente proporcionais.
O ideal de mulher perfeita e valorização da dama surgem na idade média com a ligação ao culto da Virgem Maria.
“Como ícone, a santa inspirou vários tradutores a produzirem cantigas em sua homenagem, tomamos como referência as Cantigas de Santa Maria (do século XIII) do rei trovador Afonso X, as quais apresentam riquíssimas histórias de uma Maria protetora, profética e libertadora, além da utilização da imagem de uma virgem não somente sagrada, mas voltada ao profano. Neste sentido, com o surgimento da adoração e poemas Marianos, feitos para serem cantados, fez-se surgir uma real valorização da mulher, a imagem da santa foi reveladora da importância social da mulher no ocidente cristão.” (Silva, 2009, p.35)
Podemos perceber essa maneira de idolatrar a mulher amada e a condição de vassalo que deposita a sua condição existencial em função da musa em” Luiza” de Tom Jobim:
Rua Espada nua Boia no céu imensa e amarela Tão redonda a lua Como flutua Vem navegando o azul do firmamento E no silêncio lento Um trovador, cheio de estrelas Escuta agora a canção que eu fiz Pra te esquecer Luiza Eu sou apenas um pobre amador Apaixonado Um aprendiz do teu amor Acorda amor Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração
Vem cá, Luiza Me dá tua mão O teu desejo é sempre o meu desejo Vem, me exorciza Me dá tua boca
E a rosa louca Vem me dar um beijo E um raio de sol Nos teus cabelos Como um brilhante que partindo a luz Explode em sete cores Revelando então os sete mil amores Que eu guardei somente pra te dar Luiza Luiza
FONTES:
Jobim, Antônio Carlos. 1981. Luiza. instituto Antônio Carlos Jobim. [Online] 1981. www.jobim.org/acervo/handle/2010.0/7849.
Pinto, Sandra Regina Marcelino. 2009. A CANTIGA DE AMOR E O AMOR NAS CANTIGAS. Cadernos do Congresso Nacional de Lingüística e Filologia. Nº 04, 2009, Vol. XIII.
0 notes
Text
FILME PALAVRA (EN)CANTADA
“Palavra (En)cantada” é um filme dirigido por Helena Solberg, que conta com a participação de Adriana Calcanhotto, Antônio Cícero, Arnaldo Antunes, BNegão, Chico Buarque, Ferréz, Jorge Mautner, José Celso Martinez Correa, José Miguel Wisnik, Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), Lenine, Luiz Tatit, Maria Bethânia, Martinho da Vila, Paulo César Pinheiro, Tom Zé e Zélia Duncan. Imagens de arquivo queresgatam momentos de Dorival Caymmi, Caetano Veloso e Tom Jobim. Retratando a história da viajem do cancioneiro brasileiro, tratando da relação entre poesia e música, desde suas origens no período clássico, passando pelo trovadorismo e pela tradição franco-provençal até afluir na cultura brasileira. Destacando a importância da canção em nosso imaginário.
Mais informações podem ser encontradas no site oficial: http://palavraencantada.com.br/
Teaser do filme:
youtube
0 notes
Text
A FIGURA DA MULHER
Nas cantigas de amor o discurso está intrinsecamente ligado ao sofrimento, de certo modo, até mesmo os obstáculos impostos por este amor são valorizados e contribuem para manter a chama da paixão acessa. É proposto um amor que não se realiza no plano físico, uma espécie de amor platônico. O mais importante é a conexão entre almas.
A sociedade estratificada da Idade Média também é refletida na poesia. A mulher, a dona, não se entrega ao amor carnal e é como se estivesse em uma plano superior ao do trovador. Percebe-se pois que ela está cumprindo o mesmo papel do senhor feudal, a quem o vassalo, neste caso o trovador, deve ser submisso e fiel.
A mulher é diversas vezes referenciada pela sua beleza física, sendo objeto de desejos carnais. Acreditava que a beleza física era o reflexo de sua beleza interior e sua espiritualidade no entanto ao mesmo tempo provocava a tentação, a excitação. A ideia do sexo estava atrelada ao pecado e por tal razão, quem desperta o desejo, a fantasia é a figuração da mulher como Eva. No livro Tratado do amor cortês de Claude Buridant o autor afirma que era comum o trocadilho entre as palavras AVE/EVA “Eva, tuum nomen dic retro! Fiet: Ave
[Eva, diz teu nome ao inverso! Será: Ave]” mostrando claramente a dualidade feminina que ora conduzia os homens à perdição ora à salvação. Porém ela representada como uma mulher nobre, da aristocracia e fidalga, consequentemente é vista como um ser inatingível para os vassalos, que estão em uma posição social inferior.
O amor descrito pelo apóstolo Paulo é uma amor espiritual, assim como o amor de Deus pelos homens é um amor livre de interesses, que não busca nada em troca. Com isso, a mulher deixa de ser vista como fonte do pecado e e passa a ser vista como luz, fogo, candeia permitindo os homens enxergar . A mulher assume a figuração de um amor sublime e espiritual, tal como Virgem Maria.
Apesar do discurso poético exaltar a figura feminina (pelo menos do ponto de vista físico) e o trovador jurar respeito e fidelidade, a situação da mulher na prática cotidiana era diferente. As mulheres da Florença, por exemplo, usavam cintos de castidade para não serem violadas por exércitos estrangeiros. Especula-se também que as noivas camponesas eram obrigadas a passar a primeira noite com o senhor feudal, porém o livro "Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo" de Leandro Narloch desmistifica esta história:
Veja abaixo um trecho na íntegra deste livro:
"A lenda surgiu de um mal entendido. Em muitos feudos, os senhores autorizavam o casamento dos servos com um gesto simbólico, colocando a mão ou a perna na cama dos noivos - a tal "pernada". Citações a essa tradição foram mal interpretadas por historiadores que acharem ter encontrado provas de exploração sexual das camponesas. "É um exemplo impressionante de certas interpretações baseadas apenas em jogos de palavras", escreveu a historiadora Regine Parnoud."
Devemos lembrar também que foi só após o Conselho de Trento, que confirmou o culto à Virgem Maria, que as mulheres passaram a serem vistas como um ser que possui alma. Por tal razão, elas deveriam ser valorizadas pois poderiam conseguir a salvação eterna. As mulheres deveriam espelhar-se em Maria.
FONTE:
Narloch, Leandro. Guia politicamente incorreto do mundo - São Paulo: Leya, 2013.
0 notes
Text
AMOR CORTÊS
Os trovadores medievais possuíam uma capacidade de viver intensamente, dedicando-se à exaltação da natureza, a verdadeira liberdade, ao envolvimento amoroso e sobretudo a arte de tecer versos, o que seria o “alegre saber dos trovadores”, a Gaia Ciência a “alegre ciência”.
Esses trovadores do sul occitânico (cortes da Provença, Toulouse, regi da Catalunha) difundiram pela Europa Feudal o amor cortês (a mulher ocupa uma posição que remete à do suserano e o amador corresponde ao vassalo), já que essa nova maneira de sentir estava em sintonia com os valores feudo-vassálicos. Esse papel de vassalo por parte do amador faz com que ele tenha um conjunto de obrigações, que forma um código de cavalheirismo amoroso.
O amor cortês consiste na maioria das vezes a uma entrega total do amador, a mulher é plenamente idealizada, no corpo e no espirito, é a mais bela entre as criaturas, o amor é intenso, mas inatingível, portanto amor cortês provençal, tem um componente de sublimação, que atualmente, chamamos de amor “platônico”.
Podemos perceber nas cantigas, além do amor cortês, uma sensualidade que pulsa sob o amor idealizado, de forma ao contraponto entre o amor concreto e o amor ideal. O amor cortês e o amor concreto estabelecem uma interpenetração, na qual um transforma sensivelmente o outro. O amor verdadeiro de acordo com o entendimento cortês, não tinha relação com o casamento, chagando a dizer que no casamento o amor não era possível.
FONTES:
A gaia ciência dos trovadores medievais. Barros, José D 'Assunção. 2007. Florianópolis : Revista de Ciências Humanas, 2007, Vol. v. 41. Uma «arqueologia produtiva»: Natália Correia e a tradição trovadoresca. Pereira, Paulo Alexandre.
1 note
·
View note
Text
TROVADOR, SEGREL E JOGRAL
Existiam três tipos de intérpretes que cantavam as cantigas do trovadorismo: Trovador, Segrel e Jogral.
Os trovadores eram considerados os poetas medievais completos, pois escreviam a letra, colocavam a melodia e interpretavam as canções. Eram artistas de origem nobre, ou nobres “caídos” que eram protegidos por alguém da nobreza, e moravam na corte. De uma forma geral, eram do sexo masculino. Usavam instrumentos musicais como lira, harpa, flauta, entre outros para acompanhar suas cantigas.
O segrel, normalmente era de origem camponesa, que andava a cavalo, de corte em corte apresentando cantigas de trovadores e eventualmente suas próprias. Diferentemente dos trovadores, o segrel compunha e interpretava em troca de pagamento.
O jogral era trabalhador de origem humilde, que não possuía cavalo, e eventualmente acompanhava os trovadores, raramente também, compunha algumas cantigas. Para sobreviver fazia apresentação em praças públicas e palácios, por isso foi muitas vezes considerado o divulgador do trovadorismo.
FONTES:
http://cultura.culturamix.com/curiosidades/o-que-sao-trovadores http://literaturadecamoes.blogspot.com.br/2012/03/existe-diferenca-entre-trovador-jogral.html https://www.significados.com.br/jogral/
0 notes
Text
CANTIGAS DE ESCÁRNIO E MALDIZER
A primeira expressão do gênero satírico na literatura portuguesa se deu no Trovadorismo (séc. XII–XV), através das cantigas de escárnio e maldizer. Estas, ao contrário das cantigas de amor e de amigo, não se focavam no amor, mas faziam críticas sociais, ou a um indivíduo em especial. O eu lírico dos poemas dessa modalidade eram sempre masculinos, assim como as vozes das versões cantadas. Como outra característica em comum, ambos os tipos de cantigas continham um tom cômico e eram as cantigas mais próximas das camadas populares da sociedade.
Na CANTIGA DE ESCÁRNIO, o eu lírico satiriza sem apontar seu alvo diretamente, a crítica é encoberta e cheia de ironia e sarcasmo. A linguagem é rica e trabalhada, os trocadilhos são sutis e a ambiguidade é muito presente.
por Lopo Lias
A dona fremosa do Soveral há de mi dinheiros per preit'atal: que veess'a mi, u nom houvess'al, um dia talhado, a cas Dom Corral; e é perjurada, ca nom fez en nada; e baratou mal, ca desta negada será penhorada que dobr'o sinal. Se m'ela crever, cuido-m'eu, dar-lh'-ei o melhor conselho que hoj'eu sei: dê-mi meu haver e gracir-lho-ei; [e] se mi o nom der, penhorá-la-ei: ca mi o tem forçado, do corp'alongado, nom lho sofrerei; mais, polo meu grado, dar-mi-á bem dobrad'o sinal que lh'eu dei.
As CANTIGAS DE MALDIZER, no entanto, são agressivas e diretas, repletas de palavras e expressões obscenas, vulgares e chulas. Em alguns casos, o nome e sobrenome do alvo da crítica eram expostos.
por Estêvão da Guarda
A molher d'Alvar Rodriguiz tomou tal queixume quando s'el foi daquém e a leixou que, por mal nem por bem, des que veo, nunca s'a el chegou nem quer chegar, se del certa nom é, jurando-lhe ante que, a bõa fé, nõn'a er leixe como a leixou. E o cativo, per poder que há, nõn'a pode desta seita partir, nem per meaças nem pela ferir, ela por en nẽũa rem nom dá; mais, se a quer desta sanha tirar, a bõa fé lhe convém a jurar que a nom leixe em nẽum tempo já.
Atualmente, porém, é muito difícil diferenciar, na prática, as cantigas de escárnio e maldizer, já que não se sabe exatamente quais palavras eram do léxico da linguagem culta e quais eram da linguagem popular. Além disso, infelizmente, pela natureza oral das cantigas, muitas foram perdidas através do tempo.
FONTES:
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1382&pv=sim http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1332&pv=sim https://www.colegioweb.com.br/trovadorismo/as-cantigas-satiricas-de-escarnio-e-de-maldizer.html
0 notes
Text
AS CANTIGAS DE AMIGO
O trovadorismo é o nome que se dá a produção literária portuguesa do século XII. As cantigas trovadorescas receberam este nome pois tinham o objetivo de serem cantadas. As canções podem ser divididas quanto ao conteúdo temático ou quanto a organização estrófica. Dentre a 1º classificação está a cantiga de amigo. As cantigas de amigo sofreram forte influência da tradição oral, mas especificamente dos kharjas que é uma composição lírica popular hispânica mulçumana. O estudo dos kharjas são importantes no que se refere a origem da literatura portuguesa e espanhola. O escritor brasileiro José Lins dos Rego também defende a contribuição do folclore popular na literatura; "É na língua onde o povo mais se mostra criador. Mais do que cantado é falando que o povo nos ensina coisas extraordinárias. Por que então desprezar a contribuição que ele nos oferece a cada instante? Por que nos metermos em câmaras antissépticas para escrever?" (Gordos e Magros, José Lins do Rego).
Assim como na Kharja, na cantiga de amigo a voz lírica é feminina e frequentemente se lamenta da ausência de seu amigo na cama. Neste caso, amigo tem o sentido de amante, amor. Percebe-se pois que o tema é o amor carnal, físico, instintivo e animal. A cantiga de amigo pode ser, inclusive, considerada, uma crítica à cantiga de amor pois na cantiga de amigo há uma visão contra o amor espiritual porque o amor é algo natural. A crítica ao amor espiritual era possível visto que os autores das cantigas de amigo não tinham relações comerciais com a igreja como os nobres, por isso não os devia obediência as normas religiosas O poeta Manuel Bandeira também compartilha esta ideia: "as almas são incomunicáveis. deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não." (A arte de Amar, Manuel Bandeira)
O paralelismo é uma característica da canção de amigo. Esta técnica consiste na repetição da ideia e com isso facilita a memorização do texto. Há dois tipos de paralelismo: o de par de estrofe e o leixa-pren. O de par de estrofe é a repetição de dois versos na estrofe seguinte com apenas sutis diferenças. Já o leixa pren é a conexão entre estrofes pares e ímpares.: o segundo verso da primeira estrofe se repete no primeiro verso da terceira estrofe e o segundo versos da segunda estrofe se repete no primeiro verso da quarta estrofe e assim sucessivamente. Além disso, nas cantigas de amigo, a natureza não apenas um cenário, mas tem vida própria. O mar, o campo e a praia são elementos que aparecem frequentemente. Leia abaixo um exemplo de paralelismo:
por Fernando Esquio
Vaiamos, irmana, vaiamos dormir nas ribas do lago u eu andar vi a las aves meu amigo. Vaiamos, irmana, vaiamos folgar nas ribas do lago u eu vi andar a las aves meu amigo. Nas ribas do lago u eu andar vi, seu arco na mãao as aves ferir, a las aves meu amigo. Nas ribas do lago u eu vi andar, seu arco na mãao a las aves tirar, a las aves meu amigo. Seu arco na mano as aves ferir e las que cantavam leixa-las guarir, a las aves meu amigo. Seu arco na mano a las aves tirar e las que cantavam non'as quer matar a las aves meu amigo.
Um fato interessante sobre as cantigas de amigo é que apesar de os autores, isto é, pessoas reais, serem jovens humildes camponeses, o sujeito poético, um ser ficcional que só existe no poema, é uma donzela. A donzela é uma moça solteira pertencente à classe média que dialoga com a mãe e com as amigas.
Veja abaixo um exemplo de cantiga de amigo na versão original e na versão do português atual:
por Martim Codax
Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo? e ai Deus, se verrá cedo? Ondas do mar levado, se vistes meu amado? e ai Deus, se verrá cedo? Se vistes meu amigo, o por que eu sospiro? e ai Deus, se verrá cedo? Se vistes meu amado, o por que hei gram coidado? e ai Deus, se verrá cedo?
Tradução:
Ai ondas do mar de Vigo, Se vistes o meu amigo, dizei-me: voltará cedo?
Ondas do mar levantado se vistes o meu amado, dizei-me: voltará cedo?
Se vistes o meu amigo Aquele por quem suspiro dizei-me: voltará cedo?
Se vistes o meu amado, que me pôs neste cuidado, dizei-me: voltará cedo?
FONTES:
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1327&pv=sim http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1308&pv=sim https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Kharja https://pensador.uol.com.br/frase/NTcyODI/ Português Linguagens William Roberto Cereja e Theresa Cocker Magalhães (pg.62) Textos: Leituras e Escritas (pg 75)
0 notes
Text
AS CANTIGAS DE AMOR
Originadas no Sul da França, na região da Provença, esse tipo de cantiga retratava constantemente a COITA, palavra muito presente nas canções de amor, que significava amor não correspondido, ou o sofrimento causado por ele, por isso eram escritas em tom de lamento e/ou de fúria.
Nas cantigas de amor, o eu lírico é masculino, sofredor e canta um amor platônico e impossível por uma mulher de nível social diferente, prometida ou até mesmo casada.
A poética dessas canções era bem elaborada revelando que muitas das vezes o poeta era alguém da nobreza. Apesar disso, ele se colocava como vassalo da mulher suserana, relação também chamada de vassalagem amorosa, e que contrastava com a tradição da época em que o homem era o “senhor” na relação.
Para preservar a identidade da mulher, o seu nome nunca era revelado, o poeta se referia a ela como “dona” ou “senhor” (em galego-português, palavras terminadas em -or possuíam o gênero indefinido). Na intenção de preservar também a ideia de amor cortês, as palavras eram sempre respeitosas, e os reais sentimentos e desejos não eram revelados de forma explícita.
Nessas cantigas, era muito comum aparecer também súplicas a Deus, para que Ele tornasse o amor do poeta possível, algumas delas eram esperançosas e outras traziam a ideia de que a morte era melhor que a vida sem a mulher amada. Porém, ao mesmo tempo, a coita era importante porque era através do sofrimento que o homem obtinha elevação espiritual e purificação da alma.
por Bernal de Bonaval
Ai Deus! e quem mi tolherá gram coita do meu coraçom no mundo, pois mia senhor nom quer que eu perça coita já? E direi-vos como nom quer: leixa-me, sem seu bem, viver coitad'; e se mi nom valer ela, que mi pode valer, no mund'outra cousa nom há que me coita nulha sazom tolha, se Deus ou morte nom, ou mia senhor, que nom querrá tolher-ma. E pois eu hoer por mia senhor mort'a prender, Deus, meu Senhor, se lhi prouguer, mi a leix'ant'ũa vez veer. E se mi Deus quiser fazer este bem, que m'é mui mester, de a veer, pois eu poder veer o seu bom parecer, por en gram bem mi per fará – se m'El mostrar ũa razom, de quantas end'eu cuid'acá a dizer, que lhi diga entom.
Versão cantada:
https://trovadorescas.tumblr.com/post/159383578172/descri%C3%A7%C3%A3o-do-%C3%A1udio-vers%C3%A3o-de-carlos-villanueva
Imagens do manuscrito:


FONTES:
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1079 http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/trovadorismo.htm https://www.todamateria.com.br/trovadorismo/ http://www.mundovestibular.com.br/articles/9331/1/Trovadorismo/Paacutegina1.html https://www.resumoescolar.com.br/literatura/trovadorismo-caracteristicas/
0 notes
Audio
Descrição do áudio: Versão de Carlos Villanueva,
In Itinere: Grupo Universitário de Câmara de Compostela
FONTE: http://cantigas.fcsh.unl.pt/versaomusical.asp?cdcant=1079&cdvm=388
0 notes
Text
O SURGIMENTO DO TROVADORISMO
Desde muito tempo a literatura acompanha a vida dos homens, registrando a cultura e história da época. Para chegarmos em nosso tema principal, o trovadorismo, precisaremos recorrer a um tour pelo tempo, começando pela Grécia Antiga. Nesse período, encontramos como principais contadores de histórias, os anciãos e os marinheiros, que, por terem muitas experiências e aventuras, tinham muito o que contar. Deles surgiram os aedos, também na Grécia, que adicionaram às histórias o ritmo e o acompanhamento musical, pois auxiliavam a repetição e a memorização dos contos, já que a literatura era apenas oral.
Avançando no tempo, as cantigas passaram a ser registradas, o que apesar de nos parecer bom por possibilitar um estudo mais detalhado da época, não era uma mudança tão positiva. Quando se decide registrar canções em um contexto onde a população era, em grande parte, analfabeta e falantes de outras línguas, o resultado só poderia ser a elitização da literatura, ou seja, quem tinha acesso à literatura da época eram apenas aqueles que tinham tempo e dinheiro suficiente para financiar seus estudos em latim. Isso mesmo, latim, pois apesar de se tratarem de grupos falantes de diferentes línguas, a literatura era exclusiva em latim.
Após esse período de forte restrição, surge no sul da França uma literatura oral, também baseada em canções, que eram cantadas nas línguas provençais, as utilizadas no dia a dia nas diferentes regiões, como o occitânico e o castelhano. Dessa forma, a literatura passou a ser acessível também à parte analfabeta da população, que entendia e decorava as canções através da repetição, que era auxiliada pelo ritmo musical atribuído à elas, assim como na Grécia Antiga dos aedos.
Depois dessa contextualização do trovadorismo, aproveite para admirar a letra de uma das canções da época:
por Lourenço
Assaz é meu amigo trobador: ca nunca s'home defendeu melhor, quanto se torna em trobar, do que s'el defende por meu amor dos que vam com el entençar. Pero o muitos vẽem cometer, tam bem se sab'a todos defender em seu trobar, per bõa fé, que nunca o trobadores vencer poderom, tam trobador é. Muitos cantares há feitos por mi; mais o que lh'eu sempre mais gradeci: de como se bem defendeu nas entenções que eu del oí - sempre por meu amor venceu. E aquesto non'[o] sei eu per mi, senom porque o diz quem quer assi que o em trobar cometeu.
FONTE: http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1292&pv=sim
0 notes