Sepultar os pássaros mortos e empobrecidos no jardim já exausto. Você vai subir o meu degrau como um sol raiando o dia, eu vou sacudir os trapos guardados com zelo e levantar voo. Você nunca me disse mais do que eu já sei. E o que me resta? O que foi que você deixou cair pela concha das mãos? Espremer o resto de nós, o seco sem sulco, a memória fria, o sonho abatido exatamente no momento em que pensei em você e menti só para ter um pedaço da sua atenção? É uma vergonha até para mim — cobrirei os nervos com uma película expurgadora. O mundo continua sem nós. Assumir o papel da mulher ingrata que te deu as costas quando você lembrou que eu existia aqui é qualquer coisa semelhante a coragem. Nós morremos ainda mornas, ainda meio vivas, saboreando os nossos incômodos azedos que endureciam a língua. Os soluços ouvidos à distância eram meus e o coração que se despediu também. O seu nem isso.
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i don't mind, if you forget me.
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owarakaii
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você me disse que para ser inteiro é preciso ser fiel ao que nasce conosco
mas não foi bem assim
que confessamos a culpa apesar do cinismo
que engolimos palavras suicidas
que assassinamos a intervenção do sagrado
contemos a secura de nossa pele
para ser inteiro é preciso enumerar nossos pedaços
você não concordou
o coração desceu até nós neste dia
pensei em endereçar à você o derradeiro suspiro
do animal vivo
hoje a minha ausência ocupa bastante espaço, eu sei
mas, tínhamos de morrer antes
e depois morrer mais um pouco
desculpa, mas talvez seja preciso
todos os dias arrumar um jeito de se deteriorar
é só quando apodrece que faz sentido
é só quando rasga que nasce
e depois há um coração disparando
eu não prometo fidelidade ao meu cordão umbilical
se eu não me reinventar, my dear
não existo.
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i don't mind, if you forget me.
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Você escreve muito bem.
que honra! muito obrigada <3
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Anselm Kiefer. "O nilly, not all, here’s the fust cataraction!" , Emulsion, oil, acrylic, shellac, sediment of electrolysis and gold leaf on canvas, 2023
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Alex Turner & Miles Kane c. 2015
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Baudelaire’s Les Fleur du Mal, 1900/07 by Carlos Schwabe (German, 1866–1926)
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Vladimir Mayakovsky, from a letter featured in "Love in the Heart of Everything; The Correspondence between Vladimir Mayakovsky & Lili Brik, 1915-1930,"
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o trocadilho infame da fragilidade humana me pegou. há uma vergonha plantada em meu rosto, mas não faça disso um grande melodrama, eu vou assumi-la.
o tempo está nublado, faz frio aqui e eu me vi desejando que você lembrasse de mim. você ainda lembra de mim? não que eu espere que você ainda pense em mim, imagina só, martelar na memória de quem disse adeus tão fácil?
me disseram que é humana a vontade de ser lembrada, me disseram que tudo bem, g, está tudo bem parte minha desejar que haja algum resquício meu nos confins da sua memória. o quão vira-lata seria eu por desejar uma merda dessas?
não sei como terminar esse texto, que nem é bem um texto, é só um pretexto que já nasceu embrenhado em vergonha. eu disse que estariam para inventar um mar grande o bastante para me assustar, para me afastar de você, oras, nem foi preciso, bastou você.
não sinto saudades e não penso em você, mas seria lamentável não ser se quer a porra de uma lembrança insignificante, g.
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estapeando ventos que me cortam a cara
de bruços chorando no travesseiro
culpando a liberdade dos pássaros
culpando Drummond
bebendo tristezas em baldes de lirismo.
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como me dizer medrosa
se todos os monstros até aqui,
eu enfrentei sozinha?
com o sangue no rastro
e a coragem -ou desespero
intrínseca?
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é como esbarrar em quem ainda não fui
mas que está ali
está
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honey, o mundo não acabou, o céu não sucumbiu ao terror e eu te amei num presságio mudo. quanto custou cada uma das certezas que juramos? os demônios não foram exorcizados, a madeira não foi polida, mas as vozes em uníssono, num clarão frágil e límpido, declararam a morte minha e sua. você me expurgou delicada, tão quieta que parecia o animal mais bonito do mundo e eu só senti um respingar amargo e silencioso. um silencio que coçava, ardia, e sugava dos poros. era a intenção, então? me velar de uma forma tão pequena? confesse que eu merecia mais. honey, o mundo não acabou e o céu não sucumbiu, mas o terror está aqui. se nós morremos, eu não sei, mas há muitas noites não te ouço respirar e você não alcança a minha pele quente.
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o olhar apressado prometia ser a última vez,
e foi.
o olhar demorado prometia não ser a última vez,
mas foi.
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