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e é pra cá que novamente retorno sempre que eu me perco.
é quase como se essa minha adolescência fosse meu ponto de partida pra mim mesma. Sempre que me bate “aquela bad”, eu volto pra cá, meu cantinho íntimo e virtual. Virtual diz respeito a uma não-realidade, mas sinto que aqui posso ser verdadeiramente verdadeira. Aqui minha dor é mais real do que em qualquer outro lugar desse mundo. Existe aqui um espaço onde ela pode se acomodar e às vezes até se transformar em outra coisa.
Esses últimos dias tem sido difíceis. Já perdi a conta de há quanto tempo os dias tem sido difíceis. Eu na verdade me sinto perdida no tempo e dentro de mim mesma. Tá difícil de grana, de tempo, de espaço, de relações... a grana é pouca, o tempo apertado (e, convenhamos, mal aproveitado), o espaço bagunçado (e na tentativa de encontrar as coisas e deixá-lo melhor, só consigo torná-lo ainda mais desajeitado), as relações então... vi minha família se reconfigurar (pra não dizer se desmanchar), vi de longe, porque não foi possível estar perto. Sei que as dores alheias são alheias, mas de alguma maneira me sinto responsável e queria poder estar mais perto pra ajudar. Não é como se eu realmente tivesse esse poder, mas a gente sonha, né?
Meu passado vira e mexe dá as caras no meu pensamento e me atormenta, feridas que não cicatrizaram sempre voltam a doer. Fico me perguntando se o fato delas estarem abertas em mim significa estarem abertas em outros lugares também... espero que seja só em mim mesmo.
Acredito que vivi muitas coisas nos últimos tempos, uma faculdade, um casamento, alguns trabalhos. Nada disso me realiza. Talvez seja porque minha realização tenha a ver mais comigo do que com meus feitos, mas pra mim é muito difícil separar as coisas. Não quero nem contar quantas vezes escrevi a palavra “difícil”. Quando eu “tô mal”, eu escrevo... ultimamente só tenho escrito livremente nesses momentos. é engraçado como, com o tempo, eu fui deixando de ler, desenhar e escrever livremente... esses que sempre foram dos meus fazeres favoritos... talvez eu esteja mal por isso.
Mas também não quero me culpar e nem me julgar por isso. é mesmo difícil ler, escrever e desenhar livremente, quando você TEM QUE ler, escrever e desenhar sobre coisas pré-estabelecidas por seus estudos e trabalhos. Esses amores foram virando obrigação. Não sei me organizar, acho que esse talvez seja meu maior problema. sempre que olho ao meu redor só encontro bagunças acumuladas, não consigo encontrar nada (menos ainda eu mesma) no meio desse mar de toda e qualquer coisa jogada por aí... Mas tudo bem, eu já sei há muito tempo que faço parte de um arquétipo melancólico...
Também tenho uma preguiça imensa de resolver tudo isso... preguiça de fazer o melhor aproveitamento possível do meu tempo (eu na verdade nem sei como faria isso), tenho preguiça de arrumar o espaço, de organizar (e seguir) a agenda, de cumprir as obrigações (o que no fim sempre acabo fazendo, mas daquele jeito...)
me pergunto porque estou tão triste
que vai dar tudo certo todo mundo já tentou me convencer, eu mesma já tentei. já acreditei e às vezes ainda acredito.
Todos dizem que vai ficar tudo bem. Eu vou arrumar um trabalho, bem ou mal vou acabar me formando, minha irmã vai ficar bem, minha mãe também e meu pai, é claro. Porque tanto medo da vida?
Esteja consciente. olha ao seu redor, releia o texto... onde está o problema?
Não é como se eu não soubesse... essa culpa, quando paro pra pensar no problema, ele tá sempre em mim. é como se eu não soubesse como fazer as coisas, e acho que não estou sabendo mesmo.
Mas isso não devia ser sobre saber. Sinto que eu devia estar fazendo algo além de estar aqui, batendo a cabeça sobre problemas e dificuldades, mas ao mesmo tempo quero respeitar esse meu sentimento de tristeza. Quando olho pro meu país, pra minha casa, quando sinto esse cheiro ruim ao entrar na minha casa, sempre que entro aqui, me dá um desespero profundo. mas ao mesmo tempo eu tenho um livro inteiro pra ler e entender, uma peça pra apresentar, trabalho pra arrumar, contatos pra fazer, família pra pensar... Até pra cagar tá difícil e eu perdi a porra do médico... porque eu esqueci... eu simplesmente esqueci. não sei onde estão os cartões do convênio, não sei onde estão meus certificados, meu quintal tá cheio de formiga, e eu to aqui, sem conseguir me perdoar por tudo isso e sem resolver nada...
mas eu também sei que enquanto eu quiser ficar triste por isso, eu vou ficar... coisas ruins acontecem o tempo todo... coisas boas também, a questão é que pras coisas acontecerem (sejam boas ou ruins), é preciso estar fazendo algo, movimentando-se... a casa não vai ficar limpa a não ser que tenha alguém limpando-a. não tem outro jeito. O livro não será lido a não ser que alguém o leia... Seu trabalho não virá até você, você precisa se apresentar primeiro, sempre foi assim, lembra? E você precisa confiar nas pessoas, acreditar que vai ficar tudo bem é isso. Eles sabem se cuidar, cuide de você. Fique bem!
Tudo bem você chorar, o mundo desabar por um instante. Mas a vida segue andando, ela é tão intensa, né? Não dá pra saber o que esperar, isso é aterrorizante e belo. É o que há de mais delicioso no fim das contas. Aproveite seus momentos de choro, e os de gozo também. Não se culpe por se entristecer, você tem esse direito, as coisas não estão fáceis mesmo, seu relato só confirma isso, então tá tudo bem se desesperar, você está num turbilhão, mas também há de se acalmar, se você deixar. A tristeza como veio, pode ir embora. pode se transmutar em vontade e paciência. Ainda tem tempo de ir ajeitando as coisas e as ideias. Então tá tudo bem ficar de mau humor, triste, desistir de um rolê, chatear um pouco alguém com isso, se você se desculpar depois com um sorriso, e explicar porque se sentiu assim. Ninguém é de ferro não. As pessoas entenderão e só vão querer que esteja bem. Faz seu trabalho sem tanta cobrança e julgamento. Acredita em teus amigos, na sua família, confia. tem mil maneiras de encarar as coisas, nem sempre é possível controlar, mas, na medida do possível, encare positivamente.
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Carta ao tempo
São Paulo, 26 de março de 2013
Querido presente, Como vai?
Tenho uns versos de Sá Carneiro para ti:
“Perdi-me dentro de mim, Porque eu era labirinto. E hoje, quando me sinto, É com saudades de mim”
Sei que tenho andado bastante distante nos últimos dias, mas, por favor, não me leve a mal por isso. Desenvolvi certa intimidade com o passado, que agora quer me prender e... eu to deixando. Também tenho de confessar que gostava mais de ti enquanto ainda era futuro. Eu, a desapegada, me deixando prender por memórias.
Peço pra que, por favor, não se ofenda. Você tá acontecendo e eu to flutuando e o erro é meu, certo? E pode ter certeza de que será uma das mais especiais entre minhas saudades. É, sou mesmo dessas pessoas comuns apaixonadas por suas vidas somente enquanto não são reais.
E é assim com tudo. Platônico. É assim com tudo, mesmo. Amores platônicos, amizades, lugares, ritmos de vida, tenho até mesmo tesões platônicos. Quando algo ou alguém ultrapassa essa linha e é bem sucedido, consegue me fazer feliz. Sou mesmo dessas pessoas comuns que amam muito, sobretudo o que não as pertence.
Tenho vivido alheia à minha própria vida, quase como espectadora. Patético, eu sei. E não me venha com pena, que te chuto o saco. Sinto saudades de mim, mesmo. De quando fazia o que tinha vontade, de quando queria abraçar o mundo, e abraçava. Eu que só comia se tinha fome e só bebia se houvesse sede, pra saciar qualquer vontade com intensidade, com prazer maciço, eu que só tomava uma ducha se fosse queimando ou gelada, hoje me banho em água morna, todas as madrugadas. Sou dessas pessoas comuns que deixam de se incomodar com o meio termo.
O vermelho ainda está no meu cabelo, desbotado, mas está. Só não me deparo mais com a paixão, força e ousadia que ele costumava representar. Sou dessas pessoas comuns, que precisam de algum símbolo pra reforçar aquilo que pensam ser.
E você já foi tão mais encantador, mesmo em seus tempos mais difíceis, e a tua falta pesa em mim como pesa o sono aos olhos. Mas “A vida é você quem faz”. Cansei de ler e ouvir isso por aí. Clichê, eu sei, mas sincero e de tamanha simplicidade, que chega a me doer. Sou sua autora, e me vejo como seu maior erro. Talvez eu esteja cansada demais pra te viver e tenha resolvido me acomodar numa poltrona murcha. Talvez eu esteja cansada demais de mim pra estar presente. Cansada de tanta insegurança, desordem e preguiça. Me rendi à rotina. Sou dessas pessoas comuns, que “querem acordar e ver tudo diferente, mas também não querem mudar nada em si, ou nas coisas. Quero andar por aí e tropeçar em algo, mas sem cair”.
Talvez eu só precise de uns tapas, pra lembrar que tenho cara.
Sou dessas pessoas comuns precisam sentir dor pra lembrar que estão vivas.
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Messages from machines. 27 March, 20.57 by Timo Arnall.
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