aescritoradequintal

[aescritoradequintal]

Há tanto em mim que grita por mudança, que pede socorro, que diz "não dá mais".

Por outro lado, há tanto de mim que pede paciência, que sugere silêncio, que diz "vai melhorar".

A parte mais difícil é escolher, em meio a guerra entre as duas partes, qual delas faz mais sentido, qual delas vai doer menos.

[aescritoradequintal]

Tantas notas... Notas? Não notas. Ninguém nota.

[aescritoradequintal]

Eu queria conseguir falar tudo o que está preso em minha garganta.

Queria conseguir gritar para o mundo ouvir o quanto eu fui burra ao me adoecer mentalmente para não magoar pessoas e, no final das contas, ninguém se importou.

Queria conseguir falar que quero cuidado, que quero surpresas especiais, que quero dedicação e conforto, que quero aquilo que me esforço para oferecer.

Queria conseguir reclamar, falar que não gostei, que queria de outro jeito, que me senti desvalorizada, desamada e frustrada.

Queria conseguir ter pulso firme e não choro engasgado.

Queria.

[aescritoradequintal]

Eu queria lembrar como é conseguir expressar meus turbilhões através de letras. Eu sei que é libertador, eu lembro da sensação, mas parece que as palavras fogem da minha mente agitada e eu simplesmente nem começo.

[aescritoradequintal]

Viver é um rasgar-se e remendar-se.

Guimarães Rosa.

[aescritoradequintal]

PONTO ZERO

Duas palavras e um desafio. Começo ou recomeço?

Não, não significa a mesma coisa. Um quer dizer esquecer tudo, o outro, ressignificar.

Um diz respeito a ignorar os males, o outro, a transformá-los em bem.

E assim, com esse desafio em mente, eu escolho os dois: começar e recomeçar. 

Começar quando alguém me machucar e eu não conseguir lidar com a dor das palavras, recomeçar quando a vida parecer pesada demais, mas as plantas ainda estiverem verdes.

Começar quando a crítica não vier para construir, recomeçar quando o fracasso vier antecedendo um aprendizado.

Começar quando o mundo grita ao meu ouvido, "já era!", recomeçar quando ao fundo do grito, uma suave voz diz, "calma, faz parte do processo. Você vai chegar."

E assim, começando e recomeçando, vou construir meu caminho. Ponto zero.

- Autoral, D.A

[aescritoradequintal]

Bloqueio criativo deixou de ser uma questão de perspectiva para mim. Anos atrás, talvez há uma década, a solução para meu bloqueio criativo era sair da sala e ir até a praça da esquina, sentar em algum banco e ver o movimento.

Hoje, não.

Eu me vejo tão cheia de amadurecimento precoce e de preocupações da vida adulta, que precisaria de muito mais que um banco de praça para a escrita fluir.

Não bastaria o movimento, teria que enxergar histórias, não bastaria uma árvore, precisaria imergir na natureza, não bastaria a vontade, seria necessário ter força mental.

[aescritoradequintal]

Eu queria não estar tão cansada.

Cansada a ponto de não sentir mais minha própria existência, de não fazer questão de absolutamente nada, de ficar assistindo o dia nascer e morrer, sem me importar se eu amanheço ou não, sem nenhuma expectativa de que a vida volte a ter brilho ou de que minha alma volte a ser ensolarada.

Trágico e nada cômico.

-Autoral, D.A

[aescritoradequintal]

Prefiro ser triste a ser egoísta.

Se é de abstinência que tenho de viver para usufruir da boa consciência, que seja.

Que eu chore de vontade, que eu me debruce na cama de curiosidade, mas vença.

Se tenho de engolir meus instintos fatais e lutar contra demônios invisíveis para defender quem eu amo de mim mesma, que eu faça.

Que eu morra, se necessário, mas não abandone o amor.

-Autoral, D.A

[aescritoradequintal]

Fique viva, menina.

Apenas fique viva.

[aescritoradequintal]

Preciso controlar meus antigos impulsos. Aqueles que me levaram ao lugar mais escuro que alguém pode chegar: longe de Deus.

E tudo bem, eu respeito se você não tem fé. A questão é que a fé me salvou de mim mesma, de tudo aquilo que eu tinha certeza que um dia ia me matar. Por isso, eu devo minha vida e essa nova chance a fé. E não posso traí-la de novo com minhas fraquezas, preciso lutar até o fim.

[aescritoradequintal]

Preciso me cuidar mais

Preciso me alimentar melhor

Preciso fazer exercícios

Preciso ir ao médico

Preciso fazer terapia

Preciso

Precis

Preci

Prec

Pre

Pr

P

Pe

Ped

Pedi

Pedir

Pedir lanche e comer deitada enquanto vejo alguma bobagem na Tv

É, acho que é isso.

[aescritoradequintal]

Já são tantos dias isolada da sociedade - quer fisicamente, quer mentalmente - que estou começando a perder minhas habilidades sociais, antes tão elogiadas.

Agora, até dar bom dia para o vizinho (que eu vejo uma vez ao mês, em média) me parece constrangedor.

Que tragicômico.

-Autoral, D.A

[aescritoradequintal]

Um diálogo

- Por agora.

- Por agora? O quê?

- Por agora, eu preciso de um pequeno espaço, o necessário para caber minha mesinha de escrita, meus vasos e minha presença, o suficiente para eu ter uma vista nítida e verde, bastante verde.

- Verde, como?

- Verde, meu caro. Verde o suficiente para eu esquecer a selva de pedra dos dias normais. Mato, sabe? Mato verde. Por agora, é isso.

[aescritoradequintal]

Quem sabe eu escreva um romance que ninguém vai ler, e nas entrelinhas, talvez, eu coloque os gritos da minha garganta, que ninguém vai ouvir.

[aescritoradequintal]

Aqui será o meu novo quintal.

[aescritoradequintal]

Ao amanhecer.

Ao amanhecer, um tal sonho me tomou por inteira e nem pude ver as cores do sol quando nasce.

Ao amanhecer, me vi presa em uma realidade surrealista - eu sei, é contraditório - na qual eu não sabia o que era o luto, tudo o que eu precisava fazer era pegar um avião e viver uma aventura, sem chorar por ninguém.

Ao amanhecer, fui despertada por um sinal de fumaça da vida real, que formava a frase: chega de sonhar, bobinha. Junta sua bagagem, seus lenços de lágrimas, e vai fazer o seu café, já é tarde.