Tumgik
brusatur · 3 years
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Chamas, Dick Grayson.
Eu estava observando a cidade pelo vidro do escritório dele, pensando sobre o quanto ele se culpava pelas coisas por ser o líder.
Estava nublado, e o dia cinza parecia trazer àquele cômodo uma estranha melancolia, como se refletindo meus pensamentos ou meus sentimentos.
— Eu não sabia que estaria aqui. — ele diz, interrompendo meu devaneio.
Seus cabelos estavam úmidos, como se ele tivesse pegado uma chuva leve, o que poderia ser verdade.
A variação do tempo oscilava entre uma garoa chata e o tempo úmido.
— Pedi para que ninguém falasse nada. — respondi. — Sabia que não viria se soubesse, daria alguma desculpa como as que tem me dado.
— Ando ocupado, o trabalho tem consumido boa parte do meu tempo.
— Dick, eu sei que está me evitando, por tudo o que aconteceu e por medo.
— Não torne as coisas mais difíceis, por favor. — ele largou a jaqueta na cadeira, aproximando-se de mim. — Eu sou péssimo cuidando dos outros, você sabe disso.
— Na verdade, você é péssimo vendo a si mesmo. Não pode se culpar por tudo, e nem querer controlar tudo. — dei um passo em sua direção, esperando que ele recuasse, mas não o fez. — Pode esperar o tempo que quiser, mas eu sempre estarei com você.
— Eu estou sozinho, e é melhor assim.
Talvez, se eu escrevesse em um papel todas aquelas coisas, e enfiasse na cabeça dele, ele poderia me entender.
— Melhor para quem?
— Para... Todo mundo. — sua voz vacila, e ele desvia o olhar. — Não posso destruir você, nem te deixar muito perto.
Aproximei-me ainda mais, sentindo as chamas de meu coração me preencherem, como se eu precisar de continuar, embora ele parecesse decidido.
— Eu não vou te deixar sozinho, não vou embora, e nem vou deixar você se destruir. — toco sua bochecha. — Você não pode mandar em mim, e mesmo se pudesse, eu não te obedeceria.
Dick parece não saber o que responder, ou como se livrar de minha teimosia, então, ele desabou.
Seus braços me envolveram em um forte abraço, e senti toda a sua dor, quando ele murmurou com a voz embargada:
— A culpa foi minha.
— Não, Dick, não foi. — abraço-o de volta, sentindo o quanto precisava de ajuda.
A culpa é como fogo, se você não controlá-la logo, ela te incendeia, te queima e te sufoca.
Acariciei seus cabelos, enquanto suas estavam em minha cintura.
— E ninguém além de você mesmo pode te perdoar. — falei. — Eu vou te apoiar, e te ajudar como eu puder.
— Você não precisa fazer isso por mim, não posso ser egoísta desse jeito.
— Não pense como egoísmo, afinal, estou, em tese, te obrigando a aceitar. Não posso permitir que se destrua.
Ele apoiou-se na mesa, e eu sentei na cadeira, apenas observando seus movimentos.
— Você consegue ser muito persuasiva. — passando a mão pelos olhos, como se estivesse secando uma lágrima, continuou. — Eu vou aceitar sua ajuda, mas apenas porque está me obrigando. — sorriu, e fiquei feliz por ter insistido tanto.
— Obrigada. — pisquei. — Vou pegar um café para nós.
Levantei e fui até a máquina de café, pegando dois expressos  e voltando rapidamente.
Ele estava sentado, observando a janela, e parecia pensativo.
— Eu poderia passar horas te admirando, Dick, mas acredito que seria loucura.
— Muitas das coisas que você faz por mim são, e... Eu acho que isso é amor.
— Demorou demais para perceber que eu ainda te amo, não é?
Ele virou a cadeira bruscamente, como se eu o tivesse ameaçado, e percebi que havia dito alto demais.
— Mesmo depois de todo esse tempo?
— Desde mil anos, mesmo que você esteja...
— Igualmente amando você, garota. —ele completa. — Com teimosia e tudo.
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brusatur · 3 years
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Amor Líquido, Will Herondale.
Eu estava no Instituto, ouvindo Tessa e Jem conversando sobre algum assunto que pouco me interessava. Mesmo sendo conhecido por todos como um homem forte e até insensível, não me sentia assim. Nem um pouco.
Quando a encontrei, ela parecia decepcionada, e o pior de tudo, é que era comigo. Não podia me permitir amar alguém, e ela não sabia ainda, mas era ela.
O lugar havia perdido a graça de repente, e tudo o que queria, era isolar-me no quarto e dormir, culpar meu cansaço pela indisposição e pouca vontade de fazer qualquer coisa.
Subi até o quarto que ocupava, passando pelas janelas e vendo que estava quase chovendo. Se ela não chegasse logo, teria grandes chances de se molhar.
O quarto estava organizado, diferente dos meus sentimentos, que pareciam cada vez mais difíceis de controlar. Não podia me apaixonar por ninguém, e ninguém podia se apaixonar por mim.
Ouvi um trovão soar, e logo a chuva caiu sem dó, castigando o teto e toda a cidade. Deitei na cama, puxando as cobertas para cima de mim.
Acho que acabei adormecendo logo. Em meu sonho, ela havia chegado. As roupas molhadas coladas ao seu corpo, e um corte profundo em seu braço.
Lembro de fazer uma piada sobre isso, e o quanto ela sempre parecia se meter em brigas, mais do que o normal para um caçador de sombras.
— Aquele vampiro estava com uma humana, que pensei estar correndo perigo, mas eles estavam apaixonados.
— Mas ele não te atacou?
— Não, isso eu me arranhei em algum lugar.
— Deixa eu limpar para você. — falei, saindo da cama e indo até o banheiro. Peguei uma caixa de remédios e uma bacia com água.
Mesmo que houvesse uma forma muito mais simples de curar os ferimentos, eu queria me sentir um pouco humano de novo.
Ela tirou a camiseta de mangas longas, ficando com apenas uma blusa justíssima, de alças finas.
Limpei o ferimento, sentindo o tempo todo seus olhos em mim. Estavs ciente de aquilo era somente um sonho, e por isso, deixei que as palavras que estavam entaladas em minha garganta saíssem.
— É você, quem eu amo, e para quem, sem querer, entreguei meu coração. - respirei fundo. — Por favor, não o quebre, me destrua, mas preze pelo meu coração, porque ele é seu.
— Will, eu sempre amei você, garoto. — ela acariciou meu rosto com o braço que não estava ferido. — Cuide bem do meu coração, porque ele também é seu.
Sorri, e senti aquela onda de felicidade preencher meu corpo, como uma substância que fora misturada ao meu sangue. Amor líquido, recíproco e único.
Suas mãos tomaram as minhas, e puxei-a para um abraço. Senti seu perfume, com muito mais realidade do que utopia.
Ela levantou, afastando-se, enquanto a chuva continuava caindo.
— Vou trocar de roupa, volto em poucos minutos. — uma piscadela. — Só passei aqui antes para ver como você estava.
Assenti, e pisquei. Estava sentado na cama, a bacia d'água estava em cima da cômoda, e um rastro de passos molhados estava marcado no chão.
Eu realmente havia declarado meus sentimentos a ela, eu não acredito no que eu fiz.
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brusatur · 3 years
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Home, Tate Langdon.
Enquanto balançava meus pés no ar, sentada no galho de uma árvore alta, respirava fundo e contava até dez, repetidas vezes, tentando controlar minha respiração e acalmar minha mente agitada. Há poucos instantes, tivera uma crise feia, ocasionada por uma discussão que tive com meu pai.
Nossa relação não era lá muito agradável, e diversas vezes, fugi para o parque, encontrando naquele espaço um pouco da paz que me faltava em casa. Havia chegado um pouco mais tarde que o previsto em casa, um atraso ocasionado pela minha necessidade em sanar todas as dúvidas antes de ir embora.
Conforme a agitação ia gradativamente diminuindo, eu me dava conta de algo. Meu pai podia ter ficado irritado não com o atraso, mas com o fato de que havia sido acompanhada até em casa pelo meu vizinho, Tate.
Estudávamos na mesma escola, mas não éramos muito chegados, não desde que passamos a nos ver frequentemente através das janelas. Eu deixava as cortinas abertas para que o sol iluminasse os cômodos, e para que o ar ventilasse, não tinha nada a ver com o fato de que diversas vezes ele havia acenado para mim, e sorrido daquele jeito que as pessoas sorriem quando isso virou hábito, e não por estar realmente feliz ou animado.
Naquela manhã, estranhamente, ao sair da sala do professor, o encontrei apoiado na parede, encarando como quem não quer nada, a porta da sala que eu havia acabado de sair. 
— Estava te esperando, não achei que seria legal deixar você ir sozinha para casa.
— Bem, que eu saiba, você pode estar planejando me matar, e não me ajudar. — comentei, balançando a cabeça afirmativamente. 
— Eu realmente passo essa impressão?
Encarei-o, demorando-me mais em seu rosto do que no resto do corpo. Seus olhos eram intensos e misteriosos, o tipo de olhar que você sempre pode se surpreender. Possivelmente, mil coisas se passavam em sua cabeça a todo minuto.
— Na verdade, vou deixar você com essa dúvida. — respondi por fim.
Eu até entenderia se meu pai não fosse tão estúpido.
— Se eu passo a impressão de homicida, aí de cima, você está parecendo suicida o suficiente para mim. — ouço a voz dele soando abaixo de mim. 
— O que faz aqui?
— O mesmo que você, imagino. — ele retruca. — Vai descer ou vou precisar subir?
Não respondi. Estava ciente do que aquilo significaria, não só para meu pai, caso descobrisse, mas para mim. Sentia-me vulnerável, como se meus sentimentos mais profundos estivessem expostos.
— Eu ia te oferecer uma caminhada no parque, e um chocolate quente na minha casa. — sua expressão se assemelhava a mesma que eu costumava fazer quando pedia para minha mãe contar uma história para eu dormir. 
— Espera... Um pouco. — respirei fundo, então desci.
Tate cruzou os braços.
— O que você vai querer?
— Aceito caminhar com você. — limpei as mãos na calça. — E sobre o chocolate quente... Eu bem que gostaria, mas meu pai é um pouco... Rígido.
— Não se preocupe, não há motivos para ele se preocupar. — respondeu, estendendo a mão para mim. — E você não precisa contar a ele se não quiser.
— É uma proposta tentadora, mas você pode imaginar que uma coisa assim nunca fica em segredo absoluto, não é?
— Não vou contar nada. — ele piscou.
Aceitei sua mão, sentindo-a quente contra a minha. 
— Droga, Tate, eu vou... Mas se meu pai descobrir, vou atirar pedras na sua janela.
— Se isso for um convite para sair à noite, é uma ótima ideia.
— Você está abusando da minha boa vontade. 
— Quero te mostrar um lugar. — ele guiou-me pelas árvores até quase o fim do parque. 
As sombras projetadas pelas árvores eram agradáveis, e havia um banco desocupado ali. 
— Costumo vir pensar aqui, é bom, e geralmente calmo também.
— Nós não andamos tanto, e você já está pensando em sentar. 
Sentamos lado a lado naquele banco, encarando a vista do parque. Tate soltou minha mão e abraçou meus ombros. Não senti necessidade de me afastar, mesmo sabendo que isso provavelmente era o mais correto. Apoiei minha cabeça em seu peito, deixando que ele me puxasse mais para perto.
— Você ainda prefere continuar caminhando? — perguntou rindo. 
— Prefiro ficar aqui, por mais alguns instantes. — bocejei. — Mesmo que esteja com sono.
— Podemos voltar aqui amanhã, eu te devo um chocolate quente.
— Obrigada, Tate.
Continuamos ali por alguns minutos, apenas sentindo o calor que emanava de nossa pele. Eu tinha a impressão que a crise fora há muito tempo, e agora era como estar envolta em um cobertor de tranquilidade e suavidade. Nada que exigia de mim mais do que eu tinha a oferecer no momento.
Senti a mão de Tate acariciar minhas costas, e pensei que ele fosse dizer alguma coisa, e por isso levantei o rosto.
— Vamos para casa?
Assenti, e levantei, seguimos então o caminho até sua casa. Arrisquei uma olhada para o pátio de onde morava, não havia nenhum sinal do carro de meu pai, e considerei aquilo como um sinal. Era uma chance de fazer o que eu queria pela primeira vez, para variar.
— Seu pai não está, isso quer dizer que sua desculpa não combina agora.
— Eu sei, e não estava pensando em dar uma desculpa.
O sorriso iluminou nossos rostos simultaneamente, e ainda que minhas bochechas estivessem levemente ruborizadas, pude dar me conta de algo. Eu estava me sentindo em paz, quase que como se estivesse em casa. Não a casa que eu morava com meu pai, mas a casa que eu idealizava como meu porto seguro. 
— Espero que você goste. — seus dedos apertaram os meus levemente. — Não costumo fazer isso frequentemente, mas acho que há primeiras vezes para tudo. 
— Concordo com você, não é de meu feitio ir às casas dos vizinhos para tomar chocolate quente, ou eles me encontrarem em cima de árvores.
— Acho que estou lisonjeado de ser o primeiro, se este for o caso. — ele riu. 
— Pode apostar que é.
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brusatur · 3 years
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My Boy, Brahms Heelshire.
Às vezes, eu precisava do menor dos motivos para justificar minhas atitudes, e a desculpa da vez, era o sumiço de um casal podre de rico, pelo menos era o que aparentavam ser pela mansão que tinham.
Não que eu fosse detetive, embora quisesse muito, mas tive que seguir os negócios da família, o que logo me saturou, contudo, eu ainda continuava.
Estacionei o carro em frente aos grandes portões, que estavam destrancados e fechados de qualquer jeito.
Parecia uma casa típica de filme de terror, onde espíritos assombravam a casa, e pensando nisso, um arrepio percorreu minha espinha. Infelizmente, era uma possibilidade, já que o único filho do casal havia morrido em um incêndio ali mesmo.
Era final de uma tarde de sexta, e eu pretendia ficar o fim de semana fora, me mandar dali o quanto antes, e sair pela cidade.
A casa não possuia campainha, então apenas um puxador com um formato assustador. Revirei os olhos, estava tentando transformar minha pequena aventura em um filme.
Enquanto esperava alguém responder, ou o menor sinal de vida, observei ao meu redor.
Sim, era uma grande propriedade, majestosa, até. Seria uma grande venda, se eles aceitassem. Um grande negócio a ser feito.
Esperei alguns minutos, e nada. Tentei abrir a porta, que para minha surpresa, estava destrancada, e abriu com um rangido.
Comemorei internamente, não teria ido por nada.
Se externamente a casa era grande e bonita, em seu interior, era ainda mais. Os móveis rústicos pareciam repletos de pó, e haviam teias de aranha aqui e ali.
— Oi. Eu vim aqui por... — minhas palavras morreram ao ver um boneco de porcelana sentado no sofá. Ele parecia ter sido quebrado e colado, pois seu rosto estava repleto de "cicatrizes". — O que aconteceu com você? — pedi, acariciando o rosto dele.
Sabendo que não teria uma resposta, pego-o no colo, e continuo minha exploração pela casa.
Os quartos estão vazios, a cozinha parece ser o único cômodo que recebera visitas, pois estava limpa.
— Bem, eu preciso voltar à cidade, vou deixar você aqui, já que nem sei se você pertence a alguém.
Ouço passos, e viro-me bruscamente, sem encontrar nada. Meu coração parecia prestes a sair pela boca. Largo o boneco na bancada da cozinha.
— Acho que não há ninguém aqui, pelo menos ninguém que queira companhia. — o telefone toca. Não o meu, que estava sem sinal, mas o da casa.
— Você quer brincar?
— Sim. — digo olhando para o boneco, que antes parecera até fofo, mas que agora parecia assustadoramente macabro. — Apareça, querido.
Encerro a chamada, e desvio o olhar do boneco, não havia nada de estranho. Até que ele sumiu.
— Vamos brincar de esconde-esconde com um boneco, não é? — digo, andando pela casa.
Encontrei-o em um quarto, e sinto como se mais alguém estivesse ali, uma presença humana.
Não pergunto quem estava ali, apenas falo:
— Achei você, sua vez.
Corri até o andar inferior, tanto por medo do que quer que fosse, como para me esconder.
Vou até o jardim, e me escondo atrás da fonte de um anjo, de onde ainda jorrava água.
Sinto as mãos de alguém em meus ombros, e vejo o boneco sentado no gramado.
— Tá com você. — diz, e antes que a pessoa possa fugir, viro-me e seguro-o pela cintura.
Era um homem, alguns centímetros mais alto que eu, com um cheiro misto de poeira e desinfetante, que usava uma máscara estranha no rosto.
— Quem é você? — pergunto, assustada com a proximidade em que nossos corpos estavam.
Ele segurou-me pela cintura, e eu pensei que fosse me empurrar, ou me afastar, contudo, ele continuou ali, parado, me encarando.
— Eu não estou com medo, só quero saber quem você é.
— Brahms. — responde, soltando-me, e lentamente, se afastando.
— Espere. — pego o boneco, e tomo-o pela mão. — Posso preparar algo para tomarmos enquanto você me conta isso direito.
Ele parece perdido. Como se estivesse considerando fugir, ou me levar a algum lugar escuro, para que eu não contasse sobre ele.
Deixo a água para o café esquentar, e vou ao banheiro, onde há uma banheira. Faço o que gostaria que fizessem para mim, e preparo um banho para ele.
— Brahms?! Pode vir aqui?!
O homem surge na porta. Indico a banheira, e por alguns instantes, ele parece considerar, por fim, concordando.
Suas roupas logo são deixadas de lado, e eu viro o rosto, até ele estar embaixo da água e da espuma.
Com sua permissão, tiro sua máscara. O rosto estava coberto de cicatrizes, cicatrizes de queimaduras.
— Ainda dói?
Não sei se pergunto do incêndio ou de sua falta de companhia ali.
Brahms afirma com a cabeça.
Lavo suas costas, e distraio-me com pensamentos do quanto eu não queria ser uma babá.
Ele segura minha mão de repente, e entrelaça nossos dedos.
— Você vai me deixar?
— Eu... Não sei, Brahms.
Ele suspirou, e me soltou, afastando-se. Talvez, tivesse passado por alguma coisa recentemente, e estivesse magoado ainda.
— Vou preparar o café, ou prefere chá?
— Café, por favor.
Assinto, e saio o mais rápido possível. Deixo o café passando, vou à janela e observo a noite que havia chegado.
Levo um susto quando uma música começa a tocar e Brahms aparece, enrolado em uma toalha.
— Vou me vestir, não se preocupe. — falou, e subiu até o andar superior.
Aprecio a música, e danço de olhos fechados, até que sem aviso, ele me toma nos braços, e dança comigo.
Seu rosto estava muito próximo ao meu, e aquela proximidade era até agradável. Então, a música acabou. Nos afastamos e fomos até a cozinha.
Preparei o café, e enquanto encarava o vapor, esperei que ele começasse a contar, porém, ele permanecia em silêncio.
— Você pode me contar, Brahms. — toco sua mão. — Preciso saber o que aconteceu, para poder decidir se vou ficar ou ir.
Brahms acariciou minha mão, e continuou olhando para além de mim.
— Tudo bem, eu... Tudo começou há muitos anos, quando minha amiga e eu estávamos brincando na floresta. Ela gritou comigo, e eu voltei para casa, mas acabei ficando trancado, o fogo consumiu a casa, e como você pode ver...
Ele estava mentindo, mas estava claro o motivo. Longe de justificar, todavia, estava claro que ele sentia medo.
— E a Greta?
Sua mão se afastou da mim, como se eu tivesse tocado em uma ferida recente, quem sabe, mais recente do que eu pensava.
— Ela deveria ficar comigo, mas fugiu com o Malcom. Eu salvei ela daquele ex maluco, e o que ela fez? Fugiu.
— Não fique tão chateado, estou aqui com você agora. Não está mais sozinho.
Estranhamente, sua expressão relaxou. Era como uma criança em uma noite de tempestade, que se acalma após ficar com os pais. Então, algo me ocorreu. Havia vasculhado a casa mais cedo, e ele não estava em lugar nenhum.
— Onde você estava? Antes de aparecer no jardim?
— No porão... Por favor, não vá lá.
Assinto, mais para tranquilizá-lo do que para realmente concordar.
— Está tarde, o que acha de irmos dormir? — digo, planejando trancar-me no quarto e não sair nunca mais.
Estava na metade da escada quando ele me alcançou.
— Fique com o Brahms. — disse, entregando-me o boneco. — E fale se precisar de alguma coisa. — ele beijou minha testa. — Boa noite.
— Boa noite. — respondo, e subo para o quarto. O que eu estava fazendo?
Joguei-me na cama, e deitei o boneco ao meu lado. Acariciei sua bochecha fria, e me perguntei o quão dolorida e triste devia ter sido a vida de Brahms, o homem.
Todavia, ao mesmo tempo que sentia medo do que ele poderia fazer, eu precisava de ajuda. Aquela casa seria o suficiente para eu poder partir de vez, e deixar de lado aquela cidade.
Uma pequena ideia surgiu, e eu percebi como o egoísmo pode ser traiçoeiro, contudo, não custaria tentar. Porém, eu não sabia que às vezes, a paixão se sobressai ao interesse.
No dia seguinte, fui até o jardim, no canto mais afastado, onde o sinal pegava. Enviei uma mensagem para meus pais, avisando que ficaria fora durante algum tempo.
Depois, fui até o quarto de Brahms, e sentei na beira de sua cama.
— Eu vou ficar. — sussurro, sabendo que ele poderia gostar da notícia, mas não de ser acordado. — Pelo tempo que você quiser.
Ele piscou, e eu toquei seu rosto, coberto pela máscara.
— Acho que você não vai precisar disso.
— Não quero te assustar, mesmo que você já tenha visto.
— Por favor, não vai.
Ajudei-o tirar, e então descemos para comer.
Brincamos no jardim pela tarde, e à noite, Brahms tocou piano para mim, enquanto eu adormecia no sofá. Para minha surpresa, ele me carregou até o quarto, e deixou o boneco tomando conta de mim.
E aos poucos, nos tornamos próximos, mais do que eu gostaria de admitir, e que gostaria de sentir. Deveria estar me preparando para ir embora, mas ali estava, prestes a me apaixonar por ele.
Ele me abraçou, e eu perdi a noção. Havíamos cuidado de suas cicatrizes, e ele estava me olhando como se eu fosse seu mundo.
— Por favor, não me deixe.
— Nunca, Brahms. — beijei sua bochecha. — Você é meu garoto.
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brusatur · 3 years
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