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Murphy’s law strike me again

Acho que te vi no ponto de ônibus um dia desses, tive um espasmo, olhei novamente e não era você. Acho que te no shopping; te vi quando saí pra correr; te vi na sala de espera da clínica; toda vez um susto e um espasmo. Te vejo em estranhos várias vezes. Foram tantas vezes que decidi sair sem meus óculos, assim não te vejo, nem vejo mais ninguém. Foi pior porque todo borrão caminhando na rua parecia familiar. Depois de tanto tempo assombrado pelos cantos decidi assumir a loucura e não importa mais se te vejo, sorrio e aceno para o fantasma e sigo em frente. Por isso fui ao show, talvez, esperando encontrar mil versões erradas de você, jamais a certa.

A música estava acima das vozes das pessoas e as luzes piscavam, eu embreagado na mutidão, desgarrado dos amigos, suando, perdenado meu folêgo com todo aquele movimento... Encontrei uma velha amiga que não via a muito tempo e dançamos juntos com meu sangue fervendo pelo torpor da bebida. Preciso de ar.

Estava indo em direção a saída quando te vi entrando lentamente através da mutidão com teu jeito caracteristíco de andar, um gingado lento que eu costumava achar fofo, talvez ainda ache, não sei bem. Um arrepio desceu minhas costas, meu sangue gelou, meu coração acelera, era aparição mais real até agora. Sinto o ar pesado e acho que vou cair porque não sinto o chão, não sinto mais nada do mundo a minha volta. Completo pânico quando estou de guarda baixa. Foi terrível e celestial. Sem espasmo dessa vez, não consigo me mexer de forma alguma durante o segundo mais longo da vida até decidir fechar meus olhos e não lidar com isso. Hoje não. Foi a bebida, foi o calor, é minha cabeça de novo.