flechasdenevoa

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Estou casando, mas o grande amor da minha vida é você.

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Às vezes, o universo apenas espera o exato momento em que tudo parece perfeito… para mostrar o que estava escondido o tempo todo.

Tem coisa que só revela o gosto quando apodrece.

Tem castelo que desaba na véspera da cerimônia.

Tem abraço que engasga depois de um cheiro estranho no ar.

E tem gente que só descobre o que perdeu quando o chão se vai junto com quem nunca teve pressa de ficar.

O nome disso?

Justiça.

Mas ela nunca chega com aviso.

Ela chega no silêncio.

E dói mais quando chega tarde.

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Você pensou em mim, mesmo que não tenha dito nada.

E eu senti, como sempre sinto, quando o silêncio te acusa.

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Alguns castelos foram construídos tão depressa que esqueceram de verificar os alicerces.

Mas tudo que sobe empurrado por euforia, cedo ou tarde, despenca com o peso da realidade.

A pressa em exibir felicidade é quase sempre o disfarce perfeito daquilo que já começou a ruir por dentro.

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Esquecer era o plano. Sentir falta, o imprevisto.

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Ninguém sente saudade do que é estável. A saudade se esconde onde o toque era risco, onde o corpo tremia só de lembrar.

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Tem dias em que tudo parece estar no lugar.

A rotina caminha, os compromissos se cumprem, e eu até sorrio nas fotos.

Mas tem um silêncio específico que só aparece quando deito a cabeça no travesseiro.

É um silêncio que não tem som, mas tem nome. Tem rosto.

Não sei exatamente o que me faz pensar em tudo outra vez.

Talvez seja o cheiro de algo familiar, um lugar que passa rápido pela janela do carro, ou uma palavra dita no meio de uma conversa qualquer — e pronto.

Volta tudo.

Eu juro que achei que tinha superado.

Achei que bastava seguir em frente, construir algo novo, amar alguém bom, me distrair, preencher os espaços.

Mas esquecer não é bem isso, né?

Às vezes me pergunto se você também sente.

Se ainda acorda com aquela dor escondida no peito.

Se ainda lembra dos detalhes — do jeito que eu falava, das manias que te irritavam e te faziam rir ao mesmo tempo.

Eu me lembro. Mesmo que eu diga pra todo mundo que não.

Acho que estou bem, sim. Mas não completamente.

E talvez nunca esteja.

Tem coisas que a gente não esquece.

Só aprende a esconder melhor.

E no fundo…

No fundo, eu só queria saber se você também sente esse silêncio às vezes.

Ou se fui eu quem ficou preso no tempo.

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É curioso como algumas construções gritam felicidade com força demais.

Como se o volume fosse uma tentativa de silenciar o que ainda ecoa embaixo.

Como se sobrepor fosse mais fácil do que desfazer.

E há quem chame isso de amor.

Eu prefiro o nome disfarce.

Tem rituais que parecem promessas, mas são apenas distrações.

Mãos que seguram outras como quem segura um galho qualquer, só pra não cair no mesmo buraco de sempre.

Há pressa nos sorrisos, há roteiro nos gestos.

E mesmo que ninguém veja, o script vaza nas bordas.

Salvam fotos.

Salvam planos.

Salvam links de alianças como se salvar fosse o mesmo que sentir.

Enquanto isso, do lado de cá, existe apenas o que não foi apagado.

O que não virou feed.

O que não tem filtro nem legenda.

A parte que não desaparece só porque foi ignorada.

Já fui esquecido de muitas formas.

Mas há uma que ninguém percebe:

a de ser lembrado em silêncio — quando ninguém mais está olhando.

Essa é a mais cruel.

E a mais verdadeira.

No fim, toda pressa de felicidade é uma forma de esconder os pedaços mal colados.

E quando esse castelo de conveniências desabar — não por maldade do destino, mas pelo próprio peso das certezas forjadas — alguém vai se lembrar do que recusou.

E vai entender, tarde demais, que nem toda ausência é desamor.

E que nem toda presença é abrigo.