Espaço para informar, discutir e pensar: a Agricultura Familiar, as Mulheres Rurais no Brasil e no Mundo e o Sertão Nordestino.
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Cadeias Curtas de Abastecimento de Alimentos: uma contrarrevolução

Entre os vários privilégios de ter nascido e me criado no meio rural, e mesmo permanecendo com um pé outro cá e o outro por aí, pude em muitos momentos mesmo quando lá, alimentar meu corpo e alma com comidas que remetiam a minha história, ao meu povo e ao saber desses.
Na infância, o beiju de massa de Altair, a broa de Edvaldo, a coalhada escorrida de Antônia, o avoador de Maria José, entre outros sabores que nutriam minha alegria de saber de onde vinha aquele alimento, uma vez que esses alimentos ao terem determinadas origem, resgatavam na minha memória, afeto, acolhimento, história passada de pais para filhos/as e a certeza de que eu estava comendo a melhor receita de todos os tempos para aquela comida.
Esse maravilhoso histórico rural, de proximidade, de amizade, de familiaridade me fizeram uma eterna exploradora da origem dos alimentos que eu fui consumindo ao longo da vida entre Sertões e Veredas. Sempre que chego a uma cidade, a primeira pergunta é: qual o dia da feira? onde fica a feira? E na feira ou em algum restaurante o questionamento continua: quem fez esse produto? de onde ele vem? quem começou a fazer? tem alguma história sobre esse produto? E assim tenho me nutrindo de sabores, valores, causos, contos e encantos alimentares.

Essa realidade descrita, infelizmente, não faz parte da realidade de muitas pessoas, sejam elas urbanas ou até mesmo rurais. Pois, essa proximidade entre o produzir – quem produziu – e o consumir, ou seja, quem compra – foi distanciada pelos complexos sistemas agroalimentares, que com menos de uma dúzia de empresas ditam as regras do que comemos em todo o mundo. E nesse novo sistema, que nada me agrada, as histórias a serem contadas são de produtos padronizados, sem identidade, ricos em açúcar e sal, sabores sintéticos, componentes que desconhecemos o mais trivial dos significados, além dos que não sabemos se num futuro não tão distante não afetará nossa saúde física e mental.
A indústria de alimentos alcançam das grandes cidades aos sítios onde só vai quem tem negócios – dada a distância e a dificuldade de acesso. Ademais aos efeitos maléficos que causam a saúde, comprovados pelas altíssimas taxas de obesidade, diabetes e desnutrição. Pois, somente no Brasil a previsão é que em 2025 tenhamos mais de 11 milhões de crianças obesas, 1 milhão hipertensas, 400 mil pré diabéticos e aproximadamente 1,5 milhão com acúmulo de gordura no fígado, de acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS. Esses sistemas de produção exercem também uma pressão fortíssima sobre as/os agricultoras/es familiares e camponeses de modo geral.
Para atender as exigências desses conglomerados, esses atores rurais necessitam de insumos externos muito além das suas capacidades produtivas e reprodutivas. O que torna inviável a produção, ou essa tem custos elevados, que por conseguinte exclui grande parte da população consumidora de terem acesso a alimentos diversos e saudáveis. Pois, segundo dados apresentados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura - FAO através do relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional do Mundo - SOFI 2020, a fome atingiu 690 milhões de pessoas em 2019 e outras 104 milhões não puderam pagar por uma dieta saudável.
Os sistemas agroalimentares impossibilitam ainda, que esses/as agricultores/as comercializem diretamente sua produção ou se assim fazem é com uma fatia de lucro minúscula, que mal sustenta a família. Basta olharmos para os produtores/as de aves e suínos através do sistema chamado integração, no sul do país. Esse sistema que não permite quase nenhuma mobilidade dos/as agricultores/as oferece uma margem de lucro mínima para os/as trabalhadores/as do campo, deixando-os em uma situação de fragilidade que a qualquer tempo estarão endividados, correndo o risco de falência e consequentemente abandono das suas terras.
A pressão dos conglomerados alimentares vão para além dos preços pagos aos/as agricultores/as, mas, também com a rigidez na legislação, em especial a legislação sanitária, que de modo geral atende única e exclusivamente essas empresas. Já que quase nada se tem no Brasil, nesse âmbito, que atenda as pequenas produções, como por exemplo: plantas baixas agroindustriais adequadas a processamentos que não estejam dentro da perspectiva de larga escala comercial ou exportação.
Umas das consequências da pressão dos conglomerados alimentares sobre as agroindústrias familiares, que como ressaltado não atende em muitos casos a legislação sanitária vigente no país, é a venda dessas pequenas unidades de beneficiamento de origem familiar para as corporações alimentares. O Guaraná Jesus com origem maranhense, de sabor, cor e história única, sucumbiu ao poder da indústria de refrigerante que tem Papai Noel como garoto propaganda, pertencendo hoje a Coca Cola.

Muitos se fala sobre o peso das grandes produções – agronegócio, conglomerados agroindustriais – para a balança comercial. Sim, há razão em alguns aspectos, mas, e se todo o investimento que sempre houve e continua havendo nos conglomerados fosse investido nos/as pequenos/as produtores/as? Qual seria o resultado? Vale a pena a discussão. Que não será nesse texto.
Contudo, é importante que não fiquemos somente na discussão sobre a real necessidade de maiores acessos para os/a pequenos/as médios/as agricultores/as, mas que tenhamos enquanto consumidores ação positiva para com esses atores que alimentam nosso corpo e nossa alma todos os dias. E uma forma de atuar indo na contramão dos conglomerados alimentares que pressionam o congresso para que os rótulos de alimentos não tenham a informação básica se naquele produto contém transgênicos ou não, é buscar e fortalecer as cadeias curtas de abastecimento de alimentos - CCAAs.
O que são essas cadeias? Como elas se organizam, e, como podem contribuir para um contraponto frente aos excludentes conglomerados agroalimentares?
De acordo com inúmeros estudiosos sobre o tema, as CCAAs são aquelas em que um alimento é identificado e a sua produção ou processamento passar a ser atribuído a um/a produtor/a. Havendo portanto informações sobre a origem, o modo de preparo, e em muitos casos as histórias por trás da forma de fazer e produzir esse alimento. Possuindo ainda outra característica fundamental, que é a redução a zero – ideal – ou a um mínimo de atravessador. As cadeias curtas possibilitam que os alimentos sejam ressocializados, onde os consumidores poderão formar um juízo de valor sobre os mesmos a partir do seu conhecimento e experiência. Permitido desse modo um relacionamento entre produtores e consumidores.
As cadeias curtas podem ocorrer de três formas: face a face, onde o consumidor compra diretamente do produtor, aqui podemos exemplificar as feiras da agricultura familiar, Comunidades que Sustentam a Agricultura – CSA, cestas prontas, vendas de beira de estrada e a compra na propriedade. Temos também o modelo de proximidade espacial, onde os produtos são produzidos e comercializados em uma região especifica. Como por exemplo marcas regionais, mercearias e restaurantes locais, cooperativas de consumidores, roteiros temáticos, lojas especializadas e agricultura de base comunitária.
E por fim a cadeia espacialmente estendida, onde o produto é comercializado em áreas distantes do seu espaço de produção, mas, este produto leva consigo informações sobre o modo de produção e processamento. Para essa última forma de cadeia curta, podemos usar como exemplo os produtos com Identificação Geográfica, Denominação de Origem, orgânicos e Fair Trade.
O grande feito das CCAAs é a autonomia promovida aos agricultores/as familiares e campesinos, uma vez que há uma redução na dependência de insumos externos e maior controle dos processos produtivos. Esses/as agricultores/as têm a liberdade de produzir de acordo com seus conhecimentos, valores e respeito a sazonalidade da natureza, e não de acordo com as exigências do mercado para atender as demandas de padronização e frequência de produtos. Essa autonomia permite aos/as agricultores/as utilizarem seus conhecimentos relacionado ao agir, ao saber fazer, ao ter o conhecimento socializado e ao erro para construir o novo.
Com as cadeias curtas, é possível criar entre quem produz e quem consome uma relação de confiança interpessoal, os produtos passam a ter identidade, valores sociais, culturais, ambientais e éticos. Nessas cadeias a natureza das transações comerciais são vistas a partir dos vínculos sociais.
A reconstrução dos elos e as ligações pessoa a pessoa nos processos de compra e venda através das CCAAs, busca responder a problemas gerados pelo capitalismo, que é a perda de confiança por parte dos/as consumidores/as no que diz os rótulos e os certificados sanitários que as embalagens trazem. Essas cadeias originam mais que transações econômicas, promovem amizade, interconhecimento sobre o modo de produção, o passado rural, criam uma sociabilidade.

Quando eu, ou outro consumidor elege as cadeias curtas para buscar alimentos que nos rememore lugares, pessoas, modos de fabrico, entre outros pontos já citados, estamos fortalecendo as pequenas e médias produções, o/a agricultor/a local e o comércio regional. Nesse ponto, ressalto que na atualidade os/as agricultores/as têm se organizado em associações, cooperativas, CSAs, produzido cestas de alimentos, organizado feiras de produtos oriundos da agricultura familiar, além das lojas com produtos exclusivos da produção familiar, agroecológica, campesina e indígena. Facilitando o acesso a esses produtos para nós consumidores.
Destaco que não é fácil para agricultoras e agricultores familiares se lançarem contra as grandes corporação de alimentos que tem braços/tentáculos em todas as partes. É uma competição desleal e injusta. De certo é uma luta de Davi contra Golias. Pois, não é preciso relatar aqui a discrepância das condições em que esses/as agricultores/as se encontram no acesso as políticas públicas de crédito, assistência técnica, espaços de comercialização e demais subsídios, se comparados com as grandes empresas de alimentos no Brasil e no mundo.
Analisando o que foi discutido até então, chego à conclusão e espero que você também tenha o mesmo olhar, que, cada um de nós que almeja um país justo e igualitário tem em suas mãos a possibilidade de dar poder a tantos Davi’s – aqui incluindo Davi’s femininos. E essa oportunidade vem através das CCAAs, onde diretamente fortalece os/as agricultores/as familiares, possibilitando o desenvolvimento de um mundo rural sustentável, através da construção de novas redes, infraestruturas, apoio local e regional.
As cadeias curtas possibilitam ainda a inclusão socioeconômica de grupos de agricultores/as e consumidores/as marginalizados e excluídos pelo sistema agroalimentar dominante e coorporativo. Através da consolidação das CCAAs, teremos a oferta de uma maior variedade de produtos saudáveis, com conhecimento da origem, além de uma redução no custo de produção e por conseguinte no preço de venda ao consumidor.
Além do mais, as cadeias curtas promovem para nós consumidores um espaço onde podemos manifestar nossa preferência por determinados alimentos, tipos de produção e modos de fazer. É possível ir contra a dita Revolução Verde que desde os anos 50 do século XX promete acabar a fome no mundo, mas em verdade tem acentuado essas nos últimos anos, e por certo acentuará muito mais no pós pandemia. É factível ir contra a proposta de vida fast food, onde na urgência para enriquecer os outros corremos e comemos, sem aproveitar as delícias que uma vida slow food pode nos proporcionar.
Assim sendo. Valorize a produção da sua comunidade. Compre direto de quem produz. Busque alternativas de alimentos sadios que estão no seu entorno. Fortaleça as iniciativas da agricultura familiar, campesina e indígena. Revolucione-se!!! Coma comida de verdade.

Imagens: Disponível no Google
Fonte: Cadeias curtas e redes agroalimentares alternativas: negócios e mercados da agricultura familiar / organizadores Marcio Gazolla [e] Sergio Schneider. – Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2017.
Brasileiros atingem maior índice de obesidade nos últimos treze anos. https://saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45612-brasileiros-atingem-maior-indice-de-obesidade-nos-ultimos-treze-anos Acesso em 02 e abril de 2020.
Brasil está entre países que enfrentam epidemia que combina obesidade e subnutrição https://www.bbc.com/portuguese/brasil-42231526 Acesso em 02 e abril de 2020.
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QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ

Mulher nasce para florir, embelezar, germinar, frutificar, sombrear e enraizar. Mas, o mundo tem despetalado essas Margaridas e as proibido perfumar.
Falar de violência contra as mulheres é uma tarefa de eleição e revisão histórica. Já que essa epidemia mundial tem uma lista desmesurada de formas de violência contra as mulheres, e, é histórica por ser necessário voltar ao período da expulsão das mulheres do campo no feudalismo, em especial nos momentos em que o capitalismo se institucionalizava, para entender a realidade atual.
A realidade é que mesmo sendo a agricultura a atividade econômica realizada por 48% das mulheres que vivem no campo em todo o mundo, no Brasil, essas mulheres detém menos de 13% da posse das terras onde realizam seu trabalho e tiram seu sustento diariamente. Esse fato remota além da expulsão das mulheres das terras comunais, à fragilização do ser feminino, que como pregou a igreja católica no século XVII era “o vaso mais frágil”, a criação da costela masculina, e portanto um ser humano de segunda classe que necessitava de cuidadores masculinos - pais, irmão, maridos, tios - oficializando assim o patriarcado.
A mulher forjada nos 300 anos de flamas das fogueiras da inquisição era mansa, dócil, bela, recata e do lar, e sendo ela uma mulher rural uma mera ajudante dos homens - cabeças pensantes - da família. Situação que se perpetua até os dias atuais, onde mesmo sendo a cara da agricultura já que representa 45% da mão de obra no campo nos países em desenvolvimento, mais de 60% em alguns países do continente africano e responsável por 01 terço da criação de gado, essas mulheres que lutam cotidianamente para ter sua valorosa labuta reconhecida como trabalho, recebem apenas 5% da extensão rural prestada no Brasil e acessam menos de 10% do crédito rural. Vale a ressalva, que essa estrutura governamental de políticas públicas que não fortalece as mulheres do campo, das águas e das florestas reforça o patriarcado e a dependência dessas da figura masculina.
A força feminina, responsável pelo trabalho doméstico não remunerado que hoje estar na cifra de R$ 50 bilhões de reais/ano, mantenedora dos hábitos e culturas alimentares, detentoras de conhecimento e habilidades que podem contribuir com as comunidades onde vivem, uma vez que são reconhecida como uma força poderosa que pode comandar o progresso global, é também o membro da família que mais sofre com a pobreza que acomete pelo menos 20% da população mundial.
A invisibilidade do trabalho das mulheres do campo, em conjunto com a exaustiva carga de trabalho, que chega a ser até 13 horas a mais que os homens, não favorece a participação dessas nas entidades representativas da agricultura familiar. Dados mostram que nas assembleias gerais a participação feminina fica em torno de 10% e a masculina 90%. Vale a ressalva que quando as mulheres participam do quadro diretivo das entidades são quase sempre em cargos secundários, tendo portanto, muita dificuldade de acender aos cargos de presidência, e poder assim ter espaço de fala.
Das violências supracitadas contra as mulheres, nada se compara a violência doméstica que assassinou 1 mulher a cada 7 horas em 2019 no Brasil, a cada 2 minutos agride violentamente 5 mulheres, e já lastimou pelo menos uma vez na vida 30% da população feminina mundial. No meio rural essa violência é tão normalizada quanto silenciosa, poucos são os dados sobre violência no campo contra as mulheres, assim como, os frágeis instrumentos de combate à violência contra as mulheres que conquistamos não alcança as trabalhadoras rurais. Distância dos centros urbanos, pobreza e ausência de educação formal favorecem a situação de violência no campo, que é agravada pela falta de diagnóstico e de instrumentos de combate.
A lista de violência, infelizmente, não para nas acima citadas, contudo, tem havido construções sociais ao longo das últimas décadas que vêm dando força e entusiasmo para a edificação de uma sociedade justa, sem violência contra as mulheres e com equidade de gênero. E uma delas é a agroecologia.
Assim como a agricultura foi uma descoberta das mulheres, foram as mulheres que inventaram a agroecologia, junto com suas mães, tias e avós que sempre mantiveram os quintais, os pomares, os animais domésticos, a diversidade de sementes e animais produzidos nas unidades familiares. Em especial por essas ações possibilitarem a segurança alimentar – que diga vovó com sua seleção de pés de umbuzeiros e mandioca, garantindo a melhor e mais forte umbuzada de todos os tempos – assim como um complemento da renda familiar – as vendas de ovos, galinha, queijos, leite, nata – são alguns exemplos. Na atualidade, a ampliação dos estudos rurais e o crescente movimento agroecológico que considera todos os componentes dos sistemas de produção tem contribuído para dar visibilidade e reconhecimento econômico ao trabalho realizado pelas mulheres rurais.
Ao valorizar economicamente as atividades tradicionalmente desenvolvidas pelas mulheres – que na lógica da monocultura não tem validade, pois não são lucrativos do ponto de vista do mercado convencional - a agroecologia tem dado condições para a autonomia financeira dessas agricultoras, pescadoras, extrativistas, entre outras, fator de extrema importância para a redução de todas as violências citadas no texto, mas em especial a violência doméstica, uma vez que a independência econômica possibilita a mobilidade física ou jurídica dessas mulheres que juntam forças e se organizam em outros espaços onde tenham segurança. Essa valorização permite ainda que as mulheres se percebam capazes de aprender, estar em outros espaços, enfim, que a vida não necessita ser restrita ao fogão.
A perspectiva agroecológica traz uma mudança radical no modo de se relacionar com a natureza e com as pessoas, possibilitando assim uma concepção ética de cuidado tanto com o meio ambiente como com os seres humanos. Abrindo desse modo espaço para questionamentos sobre as relações autoritárias características do sistema patriarcal. Oportunizando desse modo, perceber a mulher rural como uma parceira nas atividades realizadas na unidade familiar, e não mais, como alguém sem valoração e, portanto, sem necessidade de direitos e representatividade nos espaços de fala. Esse ponto é reforçado pela construção de um processo de transição que exige a integração do conjunto das atividades da propriedade, que normalmente estão sobre a responsabilidade dos diferentes membros da família, quebrando o monopólio masculino da gerencia.
Os sistemas agroecológicos têm permitido a participação das mulheres em espaços públicos como as feiras, esse elemento torna a mulher e o seu trabalho visível, assim como permite a troca de experiências e com isso a aquisição de novos conhecimentos e habilidades, favorecendo o reconhecimento social e a elevação da autoestima, um passo a mais na conquista de espaço nos cargos eletivos das entidades representativas da agricultura familiar. A conquista desse espaço tem ainda uma segunda importância, que é a construção da identidade das trabalhadoras das águas, dos campos e da floresta, pois enquanto permanecem sujeitas a seus papéis domésticos e, sobretudo, às tarefas de dona de casa não reconhecidas economicamente, as mulheres só alcançam identidade por procuração – filha de fulano, irmã de cicrano, mãe de beltrano. Já que as identidades são construídas pelo trabalho produtivo.
Desde a gênese do latifúndio, com a escravização dos povos originários e povos africanos, as relações sociais do campo brasileiro se constituem historicamente pela dominação econômica e patriarcal. A participação das mulheres e seus movimentos efetivando ativamente a promoção da agroecologia, tem chamado atenção para a necessidade da valorização do trabalho realizado por essas, reforçando a crítica a hierarquização e a fragmentação do trabalho produtivo e reprodutivo, além de defender o compartilhamento das responsabilidades pelo cuidado da casa e da família e reafirmar o direito de serem reconhecidas como agricultoras, camponesas, pescadoras e agroextrativistas.
Assim sendo, o acesso que a agroecologia tem possibilitado às mulheres agricultoras aos recursos econômicos e produtivos resultará na redução, em 100 a 150 milhões, do número de pessoas com fome. Possibilitará às mulheres um rendimento, direito de propriedade à terra e acesso ao crédito que significarão menos crianças desnutridas e/ou obesas. Por fim, dar oportunidades econômicas às mulheres rurais irá resultar num aumento significativo do crescimento econômico e na redução da pobreza. Pois como precisamente vem preconizando a ONU, “as mulheres rurais são a chave para a fome zero no mundo”.
FONTES CONSULTADAS
Agroecologia e relações de gênero em projeto societário. In: Mulheres Camponesas: trabalho produtivo e engajamento político. HENN, I. A. Niterói, 2013.
Atlas de la Mujer Rural em América Latina y em Caribe. FAO, 2017.
Carta política do II ENA. Recife, 2006.
Colonas italianas no Sul do Brasil: estigmas e identidade. In: Mulheres Camponesas: trabalho produtivo e engajamento político. ZANINI, M. C. SANTOS, M.O. Niterói, 2013.
Mulheres agricultoras e a construção dos movimentos agroecológico no Brasil. In: Mulheres Camponesas: trabalho produtivo e engajamento político. SILIPRANDI, E. Niterói, 2013.
La agricultura com cara de mujer. FAO, 2015.
Um olhar feminista sobre as lutas por sustentabilidade no mundo rural. In: Agricultura familiar camponesa na construção do futuro. SILIPRANDI, E. Rio de Janeiro, 2009.
Imagem: Feira Nordestina - Militão dos Santos
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Margaridas no Jardim
Andarilhar o caminho das mulheres do campo, da floresta e das águas na busca pela representatividade e construção dos movimentos sociais que deram e dão suporte a construção e o desenvolvimento da agroecologia é semelhante ao apreciar uma flor de umbuzeiro; é encher os olhos ao ver desabrochar flores nos meses secos do Semi Árido Brasileiro; é respeitar a bravura e a persistência em transformar a Caatinga num espetáculo contrastante de cor, onde o escuro da mata seca ganha vida com o seu branco amarelado; e é enamorar-se pela delicadeza da flor que através dos seus fruto germinará a “árvore sagrada do Sertão”.
As flores que compõe o meio rural brasileiro, perceberam com a expansão da Revolução Verde a diferenciação ocorrida nos setores da produção familiar, com a pauperização da população do campo, o êxodo rural e a degradação ambiental. Os anos 80 e 90 foram marcados pelo surgimento de propostas que contrapunham o modelo em crescimento, onde dentre esses estava a agroecologia. Mesmo em um movimento de essência tão feminina como é o caso da agroecologia, para descortinar a participação das mulheres nesse espaço, é preciso seguir a trajetória das mulheres de Canudos, Pau de Colher, Caldeirões, Contestado; é preciso buscar as Dandaras, Marias Bonita, Diolindas, Anas Maria e tantas outras mulheres que mesmo participando das lutas sociais nem sempre tiveram sua participação reconhecida.
Até a década de 1980, a participação feminina se dava por meio da atuação dos maridos ou de outros familiares, tendo inúmeras situações onde as mulheres não ficavam na sala no momento das reuniões nem compartilhavam com os homens o momento das refeições pós ou pré reuniões. Esse cenário começa a mudar nessa mesma década onde é possível obter relatos de que em 1982 já haviam mobilizações de mulheres no interior do Nordeste para protestar contra a sua exclusão nas frentes de emergências, ação realizada pelos governos afim de atenuar os efeitos das secas prolongadas. Dois anos depois, criou-se o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais no Sertão Central de Pernambuco, responsável pela reinvindicação junto a CONTAG, da sindicalização das mulheres. E como no movimento das mulheres nunca se cogitou o Nordeste ficar independente, apesar da beneficie de ter Asa Branca como hino nacional, no Sul do país desde 1980 já ocorriam reuniões provocadas pela Igreja e os movimentos sindicais, que discutiam a sindicalização das mulheres.
O ano de 1985 é tido como um ano chave para as mulheres do campo, da floresta e das águas, em virtude da visibilidade pública das demandas dessas mulheres que ocorre através de dois eventos: mobilização em Nova Timboteua, no Pará e a aprovação no VI Congresso da CONTAG, pela primeira vez, de uma moção de apoio à sindicalização das mulheres e o reconhecimento da sua condição profissional de trabalhadora rural. Ainda na década de 80, temos: 1984 passeata em Erechim (RS) com mil agricultoras e a criação do Movimento de Mulheres Agricultoras em Santa Catarina; 1985 I Encontro Estadual da Mulher Trabalhadora Rural no RS, com 10 mil mulheres e Fundação do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Paraná (MMTR-PR); 1986 I Encontro das Mulheres Trabalhadoras Rurais da Paraíba; Fundação do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Pernambuco; 1987 Fundação do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste, em João Pessoa, na PB; e 1989 Fundação do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais no RS (MMTR-RS), além de outros inúmeros movimentos em todo país; vale destacar ainda que em 1989 as Normas Gerais do MST apresentaram um capítulo apresentando a necessidade das mulheres se articularem, assim como estimular a participação dessa nas reuniões e atos do movimento como forma de combater todas as formas de preconceitos.
Já na década de 1990, entre os marcos gerais da organização das mulheres trabalhadoras rurais, destacam-se: os Gritos da Terra, a partir de 1994; I Encontro Nacional das Mulheres Militantes do MST e I Encontro Latino Americano e do Caribe da Mulher Trabalhadora Rural em 1996; em 1998 surge o Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia (MAMA); e o início da preparação da primeira Marcha das Margaridas em 1999, que ocorreria no ano 2000. Em âmbito internacional, o destaque foi o surgimento da organização Via Campesina, onde articula movimento de camponeses, indígenas e pescadores.
Nos anos 2000 a Marcha das Margaridas se consolida como o maior movimento das mulheres rurais do país, e tem na pauta, um conjunto de reivindicações históricas dos movimentos: o reconhecimento das mulheres enquanto trabalhadoras na agricultura; reforma agrária com acesso à terra para as mulheres; ampliação dos direitos trabalhistas e previdenciários das mulheres; acesso a políticas produtivas; participação das mulheres nas políticas de preservação ambiental; acesso a documentação básica; políticas de saúde, educação, e prevenção da violência contra as mulheres no meio rural.
Entre as Marchas que fortaleceram e fortalecem a caminhada das mulheres na agroecologia não poderíamos deixar de falar da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que surgiu na Paraíba em 2010, com o objetivo de dar visibilidade ao papel das camponesas na agricultura familiar e denunciar todas as formas de violência contra as mulheres. A marcha é um marco da associação do feminismo com a agroecologia, através da mobilização e do empoderamento das mulheres para a promoção de equidade nas relações de gênero no âmbito da família camponesa.
Desde 2004 com a criação do Grupo de Trabalho de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia - ANA, formado por organizações de assessoria no campo agroecológico, organizações feministas e movimentos de mulheres, tem havido a construção junto as mulheres que militam no campo da agroecologia, intercâmbios, sistematização e divulgação de experiências e a construção de políticas públicas. Podemos destacar ainda a participação das mulheres nos Encontros Nacionais de Agroecologia, onde já tomam acento em 50% ou mais das vagas, e o GT-Gênero da ANA, onde as mulheres têm participado ativamente da promoção da agroecologia, chamando a atenção para a necessidade de valorização do seu trabalho; criticam a hierarquização e a fragmentação entre trabalho produtivo e reprodutivo; defendem o compartilhamento das responsabilidades pelo cuidado da casa e da família; reafirmam o direito de serem reconhecidas como agricultoras, camponesas e agroextrativistas.
Falar da jornada das mulheres rurais na agroecologia é também contar a história da Casa da Mulher do Nordeste (CMN), Centro Sabiá, o Centro Feminista Oito de Março (CF8), no Rio Grande do Norte, e o Cunhã Coletivo Feminista, na Paraíba, Articulação Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais – ANMTR –, reunindo as mulheres de Movimentos Autônomos – MA –, Comissão Pastoral da Terra – CPT, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, Pastoral da Juventude Rural – PJR, Movimento dos Atingidos pelas Barragens – MAB, alguns Sindicatos de Trabalhadores Rurais.
E por fim, não poderíamos deixar retratar aqui a luta de mulheres como: Elisabete Teixeira, líder camponesa, nascida em Sapé/PB, fundadora da Liga Camponesa de Sapé em 1958, e tinha como objetivo lutar pelos direitos dos/as trabalhadores/as e pela reforma agrária. A mesma tornou-se símbolo de resistência nos anos 60, no Nordeste do Brasil, que com a morte do companheiro, passa a ser perseguida e entra na clandestinidade fugindo das forças repressivas do regime militar, trocando de nome, assumindo a identidade de Marta e sendo dada por morta até o fim da ditadura miliar; indicada ao Nobel em 2005, Vanete Almeida, Nordestina de Custódia no Pernambuco, desenvolve seu trabalho com mulheres rurais no início na década de 1980, quando saía de casa de madrugada e percorria 30 quilômetros de carona em caminhões com o único objetivo de conscientizar mulheres de seus direitos. Foi coordenadora Internacional da Rede de Mulheres Rurais da América Latina e do Caribe e assessora da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco – Fetape. Sua história inspirou o livro Ser Mulher num Mundo de Homens, de Cornélia Parisius. E nessa lista de Nordestinas Arretadas – sim, estou puxando brasa para meu espeto de carne de bode assada – a inspiradora Margarida Alves que iniciou seu trabalho pela igreja católica onde obteve apoio para iniciar seu trabalho junto ao Sindicato Rural de Alagoa Grande/PB, onde ficou de 1973, até 1982. Como resultado do seu trabalho a mesma moveu mais de 600 ações trabalhistas contra os usineiros e senhores de engenho da região, ganhando todas elas, além de lutar pelo acesso aos direitos já adquiridos pelos/as trabalhadores/as urbanos/as, como décimo terceiro salário, jornada de oito horas semanais, férias anuais e carteira assinada. A mesma dá nome a maior Marcha de Mulheres Trabalhadoras Rurais do País: A MACHA DAS MARGARIDAS.
O movimento da agroecologia coaduna com o movimento das mulheres por ambos serem movimentos de resistência ao modelo de desenvolvimento em vigor e os problemas sociais, culturais, ambientais e econômicos causados pelo modelo supracitado. Ambos representam a luta dos/as camponeses/as pela autonomia frente ao capital e ao agronegócio. A agroecologia da mesma forma que o movimento de mulheres rurais, buscar construir relações onde as mulheres não estejam susceptíveis aos diversos tipos de violência, onde essas possam ter autonomia sobre seus corpos e não mais o sistema patriarcal que concebe esse direito aos homens, onde a reprodução seja por escolha e não a falta dessa, e os direitos sexuais sejam assegurados e que seja assegurado os espaços de falar, poder e representação política.
A perspectiva agroecológica que tem demonstrado potencial de abrir espaços para que as mulheres agricultoras, pescadoras, extrativistas, quebradeiras de coco, marisqueiras, entre outras enfrentem sua condição de vulnerabilidade e, neste sentido, conquistem mais poderes nas esferas pessoal, produtiva, familiar e política. Através da agroecologia tem sido possível o enfrentamento à violência que as mulheres vêm sofrendo desde que suas terras foram tomadas no período feudal e essas tiveram seu papel e seu trabalho desvalorizados. Desse modo seguindo a perspectiva de nem matar formiga, nem oprimir as mulheres é que seguiremos a trilha das beneficies da agroecologia para a luta feminina e o fim da violência contra as mulheres rurais.
FONTES CONSULTADAS
Agroecologia, campesinidade e os espaços femininos na unidade familiar de produção. BIASE, L. Piracicaba, 2010
As flores e os Frutos da luta: o significado da organização e da participação política para as Mulheres Trabalhadoras Rurais. JALIL, L. M. Rio de Janeiro, 2013
Mulheres e agroecologia: a construção de novos sujeitos políticos na agricultura familiar. SILIPRANDI, E. Rio de Janeiro, 2009
Rompendo a cerca do isolamento: as relações entre a Agroecologia e as questões de gênero. SANTOS, M. K. C. A. Recife, 2012
Foto: Símbolo da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia
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Resgatando o Feminino

O mundo contemporâneo vive uma crise em todos os setores e a produção de alimentos bons, limpos e justos estão no topo dessa problemática, uma vez que as pessoas a cada dia se alimentam com menos qualidade, e muitas com menos quantidade, gerando duas das três pandemias mundiais, a desnutrição e a obesidade. A busca por soluções para sanar a fome no mundo coloca as diversas formas de fazer agricultura em evidências, já que se busca para além da produção alimentos, sustentabilidade ambiental, social e econômica.
As atuais crises, em especial a crise ambiental veio questionar a racionalidade e os paradigmas que impulsionaram e legitimaram o sistema econômico que negou a natureza, a coletividade, destruiu o poder das mulheres, e teve como pilares a conquista, a escravidão e o roubo dos povos. Sistema esse que expulsou camponeses e camponesas de suas terras e a posterior se firmou no meio rural com a Revolução Verde.
Esse novo modelo de produção agrícola fez perder a visão, o gosto, o tato e o olfato e com eles foram-se também a sensibilidade estética e ética, os valores, os sentimentos, a consciência e o espírito. A Pacha Mama desapareceu por completo quando a revolução científica tratou de substituir a concepção orgânica da natureza pela metáfora do mundo como máquina, é interessante ressaltar que essa transformação era imprescindível, uma vez que a terra como organismo vivo e mãe – Gaia – restringia e limitava as ações dos seres humanos. Já que a terra não poderia ver visto como progenitora, madre, protetora, uma vez que possuidora desses valores seria uma violação do comportamento ético humano levar a efeito atos destrutivos contra ela. Assim sendo, o homem transforma a natureza e passa a ver as matas como ninhos e reservatórios de indolência, preguiça e miséria. E como meio de justificar as ideias mecanicistas os pensadores recorriam entre outros argumentos, aos argumentos bíblicos, como os contidos em Gênesis, IX, 2-3 que diz: temam e tremam em vossa presença todos os animais da terra, todas as aves do céu, e tudo o que tem vida e movimento na terra. Em vossas mãos pus todos os peixes do mar. Sustentai-vos de tudo o que tem vida e movimento”.
Baseados na ideia que o mundo natural era para servir o homem e convencido de que o mundo era uma maquina nenhuma violência contra a mãe terra e todos os seres femininos seria do descontentamento de Deus. Desse modo, com a autorização do criador, o homem começa sua caminhada rumo à devastação de todas as formas de vida na Terra, como as ocorridas no passado e as que ardentemente são vistas na atualidade.
Em decorrência da destruição dos campos onde eram produzidos alimentos causada pela Segunda Guerra Mundial que gerou um mundo de fome, governos e cientistas das áreas agrárias buscaram sanar a escassez de alimentos através da maximização da produção o que viria com uso maciço de inseticidas e herbicidas, que levou inicialmente a um aumento espetacular da produção agrícola. Contudo, o uso maciço de fertilizantes e pesticidas não ajudou nem os agricultores, nem a terra, nem os milhões de faminto do mundo inteiro, fato é, que nos dias atuais temos mais de 800 milhões de pessoas passando fome no mundo.
Hoje sabemos que esta forma de produção tem levado ao comprometimento do futuro agrícola, e isto, ocorre devido à agricultura moderna utilizar intensamente o solo, fazer uso excessivo da irrigação, dos pesticidas, dos fertilizantes, e a produção ser quase que exclusivamente a monocultura através da manipulação genética das plantas.
Foi a partir de constatações da insustentabilidade - aquecimento global, redução da camada de ozônio, desertificação, violência no campo (...) perda das florestas - que começou a ser inserida uma nova proposta de produção agrícola, que estivesse afinada com a sustentabilidade, surgindo daí as chamadas agriculturas alternativas, que tinham por objetivo resgatar os antigos métodos de produção, e que de algum modo apresentavam formas sustentáveis no modo de produzir. Dentre essas novas formas de produção está a agroecologia, que surge como uma ciência que resgata o conhecimento agrícola tradicional desprezado pela agricultura moderna.
A agroecologia tem possibilitado uma agricultura que é ambientalmente consistente, altamente produtiva e economicamente viável, através de uma abordagem agrícola que incorpora cuidados relacionados ao ambiente, problemas sociais e a sustentabilidade ecológica do sistema produtivo. A produção agroecológica abre espaço para o resgate do conhecimento feminino, a inserção e o reconhecimento do trabalho da mulher rural, além de fortalecer os espaços de fala dessas mulheres. A agroecologia tem permitido as mulheres o enfrentamento à expansão do capitalismo via agricultura moderna, que através da monocromia da Revolução Verde sequestra alimentos e água para fazer negócios, destruindo a economia e os sistemas de conhecimento dessas, tornando as mulheres rurais marginalizadas e susceptíveis a violências diária.
Como pode ser averiguado em outros artigos dessa coluna, as mulheres desde a descoberta da agricultura foram as grandes detentoras dos saberes agrícolas desempenhando importante papel na conservação da biodiversidade, domesticação das plantas, além de conhecimento sobre recursos genéticos e fitogenéticos, o que tem possibilitado manter ao longo da história as bases para a segurança alimentar.
A agroecologia apreça atividades que tradicionalmente foram desenvolvidas pelas mulheres e ao longo da história da agricultura passaram a serem desvalorizados e lido como simples ajuda, como o trabalho nas hortas, pomares, na produção de pequenos animais, agroindustrialização de alimentos, pequenos roçados, seleção de sementes e plantio dessas. Através dos sistemas de produção agroecológicos todos os membros da família são envolvidos, o que faz com que o monopólio gerencial do homem seja quebrado, sendo possível dessa forma compartilhar a execução e o resultado dessas atividades com toda a unidade familiar. O modelo agroecológico preconiza ainda que as mulheres estejam presentes nos espaços de discussão e tomadas de decisões, além de capacitação a reuniões, excluindo dessa forma a misoginia que tem estado presente na vida de quase todas as mulheres rurais.
Outro avanço logrado pelas mulheres possibilitado pelo sistema agroecológico foi a participação dessas nos espaços de comercialização, que tem possibilitado o reconhecimento social do trabalho desenvolvido por elas, gerando por conseguinte autoestima e autonomia, essa última oriunda da renda permanente fruto direto do seu trabalho. Vale a ressalva que mesmo dentro dos processos produtivos agroecológico ainda há patriarcado e falta de reconhecimento do trabalho das mulheres rurais em muitos espaços. Infelizmente.
Contudo, de forma geral a agroecologia revoluciona ao desenvolver-se reconhecendo à perspectiva de gênero, promovendo alternativas de eficiência e equidade em suas funções, contribuindo para perceber e obter mudanças importantes no estilo de vida dos/as agricultores/as ao alcançar o equilibro adequado no seu ambiente produtivo. A agroecologia não é só produção sem veneno, é a construção de novas relações com o universo, o mundo, a terra, a fertilidade, o feminino, com a Mãe Terra. Construindo diariamente melhores condições para as mulheres e para todos, reavivando memórias e vozes do passado, histórias das comunidades, reconectando as pessoas com a natureza, não concebendo nem aceitando nesse sistema produtivo machismo, exclusão e violência. Como relatou uma agricultora em uma plenária de agroecologia, “quando a gente fala em agroecologia, fala em vida, mesmo”. Falamos em vida ao produzir alimentos acessíveis, com qualidade e sem veneno; falamos em vida quando através da agroecologia buscamos equidade de gênero tão necessária para o fim da violência contra as mulheres que tem ceifado centenas de vida femininas.
FONTES CONSULTADAS
Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. ALTIERI, M. Porto Alegre, 1998
Agroecologia: Processos ecológicos em agricultura sustentável. GLIESSMAN, Stephen R. Porto Alegre, 2001
Mulheres e agroecologia: transformando o campo, as florestas e as pessoas. SILIPRANDI, E.
Rio de Janeiro, 2015.
O ponto de mutação. A ciência, a sociedade e a cultura emergente. CAPRA, F. São Paulo, 1982.
Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. LEFF, Enrique Petrópolis, 2001
Foto: A Vinha Encarnada - Vicente Van Gogh - 1888
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Revolução Mono

Da descoberta pelo olhar feminino dos primeiros cultivares aos dias atuais a agricultura revolucionou-se. De um início onde homens e mulheres não dispunham de equipamentos e ferramentas necessários ao trabalho do plantio e da coleta de alimentos, a agricultura passa pelo uso da enxada, machado, os sistemas de cultivo temporário de derruba-queimada, os sistemas com alqueive e tração leve e os sistemas com alqueive e tração pesada, esse último considerado a primeira revolução agrícola dos tempos modernos, que teve seu desenvolvimento estreitamente ligada a Revolução Industrial, já que foi necessário o desenvolvimento industrial, comercial e urbano para absorver o excedente agrícola comercializável.
A primeira revolução agrícola foi além das modificações dos tratos culturais, transformou também, a ordem econômica, social, política, cultural e jurídicas. Já que para a ocorrência dessa, foi necessário suceder um vasto conjunto de reformas sobre o livre uso da terra, a liberdade de empreender e comercializar, e a livre circulação de pessoas e bens. Havendo desse modo a criação de um monopólio regional/territorial do que até então tinha sido coletivo e similar para ambos os gêneros.
E com base nesse sistema que já restringia o acesso dos/as pequenos/as agricultores/as as terras e aos meios de produção, ao longo do século XX, com o uso de insumos, motorização, mecanização, fertilização mineral, seleção e especialização, ocorre a segunda revolução agrícola dos tempos modernos ou Revolução Verde como ficou conhecida. Apoiada nos meios de produção oriundos da revolução industrial, esse novo sistema de produção que necessitava de estabelecimentos rurais com capital necessário para adquirir os insumos externos - que viria substituir por máquinas a mão de obra - gerou pacotes tecnológicos, endividamento das famílias, êxodo rural e o aumento da concentração de terra nas mãos dos grandes produtores, em especial nos países em desenvolvimento.
A Revolução Verde que surgiu com a promessa de erradicar a fome no mundo, em verdade levou à eliminação progressiva dos estabelecimentos agrícolas menos equipados e menos produtivos. Resultando em grandes desigualdades de renda do trabalho entre estabelecimentos e entre regiões, desigualdade na densidade populacional agrícola e rural, com o abandono de regiões inteiras, assim como a perda da diversidade agrícola que passa a ser mónos. Monocultivos. Monocromáticos.
Nessa monocromia, onde as novas tecnologias, substituiu o trabalho que era feito à mão, levando a diminuição do número de pessoas empregadas na agricultura, fez também com que os homens assumissem o papel de investir no aprendizado das novas tecnologias, realização de cursos técnicos rurais, realização das vendas e contato com os bancos, assim como participar das organizações da sociedade civil. O cenário de desvantagens que já era vivenciado por grande parcela das mulheres rurais, ganhou expressão com a Revolução Verde que se deu de forma conservadora, onde potencializou produtores capitalizados, promovendo um gradual distanciamento das mulheres das práticas agrícolas.
Em mais uma tendência mónos, a Revolução Verde, fortaleceu a divisão sexual do trabalho iniciada na Revolução Industrial, realizando um casamento monogâmico, com um único gênero, o masculino, já que, com a adesão as novas tecnologias as mulheres foram relegadas à esfera doméstica. A “revolução” da monocultura, avigorou a exclusão das mulheres rurais, não apenas dos espaços decisórios, mas, principalmente, dos sistemas produtivos, em especial dos mercados. Essas passam a ter menos autonomia, voz, intervenção e poder de decisão em seu grupo familiar, bem como menores possibilidades do que os homens de ser eleitas como representantes dos espaços de decisões, em especial devido a excessiva carga de trabalho, que além de todo o trabalho doméstico executa parcela significativa – invisível – dos trabalhos das atividades rurais. Resultando assim num monólogo de gênero.
De forma monárquica – onde apenas uma pessoa governa - os homens passam a administrar os recursos oriundos das atividades rurais, mesmo com a participação efetivas das mulheres, que segundo dados estatísticos representam 43% da mão de obra agrícola do mundo, em particular das indígenas, afrodescendentes, migrantes e camponesas. Valendo a ressalva que o trabalho feminino nessa área alcança a cifra de 70% em alguns países. As mulheres rurais são as responsáveis por entre 60% e 80% da produção mundial de alimentos. No Brasil, de acordo com Censo Agropecuário de 2006, 45% dos plantios e colheitas são realizadas pelas mãos femininas, onde 12,68% dos estabelecimentos rurais têm mulheres como responsáveis, bem como 16% dos estabelecimentos da agricultura familiar.
No entanto, a partir dos anos 1970-80, o modelo de forma única, que não só não admite a diversidade de formas e cores como as elimina, que levou a extinção de valores culturais, alimentares e formas de vida, que exclui a participação do gênero feminino em diversos âmbitos - em especial dos mercados – fortalecendo o patriarcado, reforçando as inúmeras violências contra as mulheres rurais e urbanas passa a ser questionado pelos movimentos feministas e de agricultura alternativa, que reivindicam novos formatos produtivos, que possam resgatar a diversidade de cores, sabores, valores, culturas, espécies, tamanhos, associações, inclusão de gênero, coletividade e a sororidade. Surgindo daí uma verdadeira revolução. A Revolução Agroecológica!
FONTES CONSULTADAS
Agroecologia: Potencializando os papéis das mulheres rurais – Fabiana da Silva Andersson, Nádia Velleda Caldas & Catia Grisa, Santa Cruz do Sul, 2017
Luchadoras: mujeres rurales en el mundo – San José, 2019
História das agriculturas no mundo: do neolítico à crise contemporânea – Marcel Mazoyer & Laurence Roudart, Brasília, 2010.
Imagem: No cafezal, Georgina de Albuquerque, 1930, Pinacoteca do Estado de São Paulo.
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O Doce Mais Amargo

Comer é um ato político. Comida de verdade é aquela que reconhece o protagonismo da mulher, respeita os princípios da integralidade, universalidade e equidade. Não mata nem por veneno e nem por conflito. É aquela que erradica a fome e promove alimentação saudável, conserva a natureza, promove saúde e paz entre os povos. Este trecho do Manifesto da V Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional põe no prato da sociedade a discussão sobre comida de verdade e sobre a soberania e segurança alimentar.
Como apresentado anteriormente em outros artigos desse blog em especial os dois primeiros, a mulher foi a responsável pelo descobrimento da agricultura, através do seu trabalho como responsável pela colheita, cultivo e processamento de grãos, frutas, legumes, dentre outros. Vimos também que ao longo da história a mulher teve seu protagonismo transformado em cinzas, sendo essas mulheres renegadas ao papel em muitos casos de figurante na atuação do ser masculino, apesar de muitas dessas terem se mantido no curso da história como provedoras dos seus lares, sejam eles urbanos ou rurais. Assumindo assim duplas ou triplas jornadas de trabalho para se manterem num sistema que cobra dessa mulheres um papel de trabalhadoras sem famílias a serem cuidadas, ao mesmo tempo que cobra e endurece o açoite para as genitoras que devem dar atenção integral a essa família.
Nessa ambiguidade entre mulheres disponível para o mercado de trabalho – mesmo as mulheres rurais que sempre estão desenvolvendo atividades econômicas para levar o sustento para suas casas - e mãe dedicada ao lar, cada vez mais as mulheres necessitaram lançar mão do que tinha de mais fácil e ágil para alimentar as suas famílias, e assim, como bem coloca o Manifesto do Slow Food estamos “escravizados pela rapidez e sucumbimos todos aos mesmo vírus insidioso da Fast Life”, que tem destruído nossos hábitos e culturas alimentares, além de ameaçar o equilíbrio do nosso ambiente.
Entre os problemas causados pela “Fast Life” imposta os seres humanos, seja ele residente numa megalópole ou uma comunidade ribeirinha, por exemplo, está a obesidade da população.
De acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), 1 em cada 3 pessoas estão acima do peso e 1 a cada 8 adultos em todo o planeta é obeso. A mesma entidade alerta que a projeção para 2025 teremos 2,3 bilhões de indivíduos acima do peso e mais de 700 milhões com obesidade. No Brasil a taxa de obesos alcançou 18,9% da população, enquanto o sobrepeso atinge mais da metade desta, ou seja 54%.
Pesquisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), afirma que entre os jovens a obesidade aumentou 110% – entre 2007 e 2017. Já em âmbito mundial, entre 1980 e 2014, a proporção de obesos mais que duplicou, segundo a OMS. Esses obesos estão concentrados em 10 países o Brasil infelizmente, faz parte deste grupo. A quantidade de pessoas obesas no Brasil tem acelerado nos últimos anos se aproximando das taxas dos países ricos. Seguindo esse ritmo, calcula-se que o Brasil terá 11,3 milhões de crianças obesas até 2025.
Os dados da obesidade mundial alarma quando nos deparamos com os números de crianças com doenças crônicas relacionadas ao aumento de peso, que de acordo com a OMS daqui a 05 anos teremos 1 milhão de crianças hipertensas, mais de 400 mil pré diabéticos e 1,4 milhão com acúmulo de gordura no fígado. Esses dados levaram pesquisadores chegar a conclusão que pela primeira vez na história a geração atual têm expectativa de vida menor que a de seus pais, e isso se dá pela alimentação inadequada.
O Brasil e outros países – nove em cada dez – estão à beira de uma epidemia de saúde conhecida como “carga dupla da má nutrição”, obesidade e desnutrição caminhando juntas. Todos os dias, 820 milhões de pessoas passam fome, enquanto outros milhões sofrem de obesidade. No nosso país, após séculos de Severinos sucumbindo pela “fome um pouco por dia”, e um pequeno respiro de menos de um década de mínima saciedade, a fome mais uma vez bate à porta de milhares de brasileiros.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), no Brasil a subnutrição e a anemia vem aumentando em mulheres em idade reprodutiva e cerca de sete milhões de brasileiros não têm nenhuma perspectiva de quando será a próxima refeição. Enquanto outros dois milhões estão em lares em que alguns comem e outros deixarão de comer. Valendo a ressalva que esses outros quase em 100% são representados pelas mulheres que primeiro alimentam os filhos e o companheiro.
Entre as causas para a pandemia da obesidade estão a ampla oferta de alimentos processados e ultraprocessados nefastos à saúde, que chega em especial a população mais pobre com preço acessível tanto quanto calóricos. O distanciamento que temos presenciado no percurso da história da alimentação na humanidade dos alimentos tradicionais, tem trazido a mesa da população mundial o consumo crescente de açúcares, gorduras e carnes na sua maioria processada, e um baixo consumo de grãos e leguminosas, em especial in natura. A “Fast Life” não permite um modo de vida onde se tenha prazeres com o fazer e saborear boas refeições.
Já a desnutrição é um mal causado pela falta de comida e pela má nutrição Especialmente as crianças estão expostas em suas casas, escolas e espaços recreativos, a salgadinhos, produtos artificiais, açucarados e tantas outras guloseimas ultraprocessadas que tem substituído refeições parcial ou completamente. Nesse ponto vale ficar atento para as grandes corporações alimentares, que dominam e monopolizam a oferta de alimentos no mundo, uma vez que temos 10 empresas distribuindo quase tudo que se consome no planeta.
Cada um de nós necessita se alimentar diariamente para se manter vivo, o que torna a alimentação mundial um enorme mercado. Para se ter ideia d faturamento desse mercado, em 2018 as 25 maiores empresas de alimentos geraram US$ 1,1 trilhão de receita, onde somente a Nestlé lucrou US$ 10,3 bilhões. Essas empresas detém logística para distribuição de alimentos a um custo baixo à todos os rincões da Terra, além de realizarem lobby constante afim de garanti benefícios para a industrialização promovendo o consumo dos seus produtos. Citamos ainda o uso, por estas indústrias de alimentos, dos Organismo Geneticamente Modificados OGMs na produção de diversos alimentos sem que se saiba ao certo os efeitos negativos para a saúde dos consumidores.
Indo na contramão da alimentação cada dia mais docemente gordurosa e empobrecia de nutrientes e vitaminas, para vencermos as duas pandemias supracitadas teremos que trilhar um caminho onde alimentos in natura ou minimamente processados sejam a base da nossa alimentação, limitando os alimentos processados, evitar os ultraprocessados e utilizar em pequenas quantidades óleo, gorduras, sal e açúcares.
É importante destacar que muitas pessoas não têm acesso a frutas, legumes, vegetais frescos, grãos, entre outros, vivendo em plenos desertos alimentares. Alimentos saudáveis não são democraticamente distribuídos, os orgânicos chegam a uma parcela ínfima da população mundial, que pode ser dar ao “luxo” de não comer diariamente alimentos além de ultrarocessados, também contaminados.
Mas, mesmo diante de um cenário tão dantesco, há esperança. E essa esperança encontra-se nas mãos de pequenas/os agricultoras/es, que produzindo alimentos para suas famílias e para os que vivem ao seu entorno alimentam com qualidade os mais pobres. É sabido que mais da metade das calorias consumidas no mundo são produzidas por pequenas/os agricultoras/es, mesmo essas detendo apenas 30% das terras agrícolas do mundo. O que nos leva a refletir que para uma democratização do alimento saudável é preciso haver também a democratização do acesso à terra e outros insumos para a produção de alimentos.
Os alimentos produzidos pela agricultura familiar e camponesa, estabelecem um estreita relação entre sociedade, natureza e cultura, e orienta-se na sustentabilidade da vida humana e do planeta. A agroecologia tem como um dos pilares a soberania alimentar, promovendo um processo de ressignificação da alimentação, dos diferentes modos de vida, produzir e comer.
Contudo, os processos de soberania e segurança alimentar necessitam reconhecer a contribuição das mulheres que por mais 04 décadas vêm lutando pelo acesso à terra para produzir alimentos para sua família e para os que vivem no se entorno. Além do papel na luta pelo acesso democrático à terra as mulheres desempenham papel fundamental em todas as etapas do sistema alimentar. Uma vez que atuam do plantio ao processamento e consumo dos alimentos, assim como são em muitos casos, as mulheres quem iniciam a transição agroecológica, em espacial a partir das hortas, da criação de pequenos animais, das plantas medicinais, pancs entre outras. Esse trabalho necessita urgentemente em todas as esferas, públicas e privadas, ser reconhecido.
As mulheres mesmo constituindo a categoria mais pobre do mundo, possuem o protagonismo na minimização dos impactos da pobreza em suas famílias e na ampliação das relações sociais, como podemos observar no relato que consta no livro Mulheres e Soberania Alimentar: “Cora acorda às 4h15 da manhã. Às 4h30 faz o café e vai para o quintal cuidar dos bichos e coletar os ovos que serão consumidos pela família. São trinta ao todo que ela limpa e alimenta: dez porcos, dez galinhas e dez codornas. Às 5h40 ela segue para a rega das plantas, diz que tem que ser antes do sol nascer, porque senão queima as folhas. Depois de aguar tudo, limpa a roça e colhe o que vai precisar para a comida do dia. Cora cuida do seu quintal, que tem mais de 43 espécies de plantas, das quais vinte são frutíferas. É com o que recebe do seu trabalho no quintal que ela alimenta sua família, entre as plantas e bichos. Cora garante alimentação saudável para os seus através desse trabalho”.
Assim como Cora, centena de milhares de mulheres gastam parte do seu dia na manutenção da casa, dos quintais e da família, trabalho esse dado como natural das mulheres, por conseguinte, invisível. Ao longo do texto estamos afirmando o papel das mulheres e da agroecologia para a soberania e a segurança alimentar, contudo, em uma sociedade marcada pela construção ideológica do capitalismo, do racismo e do patriarcado, na qual os bens materiais e a busca pelo lucro valem mais que a vida humana, fato esse exposto com toda a sua crueldade nesse momento de agonia que o mundo vive. É preciso não perder de vista que faz-se necessário ampliar e fortalecer os espaços auto-organizados por mulheres, dentro e fora de coletivos mistos como ferramentas de reflexão e transformação dos espaços, para o enfrentamento das desigualdades, em especial no que diz respeito às questões de gênero.
Reconhecer os processos agroecológicos e agroflorestais, assim como o trabalho das mulheres é fundamental para garantir uma nova sociedade mais justa e igualitária, com soberania e segurança alimentar e nutricional, que como pautado, não virá via Fast Food, mas sim, do trabalho laborioso que as mulheres com força de trabalho e habilidades agronômicas, econômicas e sagradas têm mantido e desenvolvido ao longo da história da humanidade. A revolução na alimentação será feminina, ou não será.
FONTES CONSULTADAS
Apenas dez grandes companhias controlam a indústria de alimentos no mundo https://thoth3126.com.br/apenas-dez-grandes-companhias-controlam-a-industria-de-alimentos-no-mundo/ Acesso em 02 e abril de 2020.
A fome afeta 42,5 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/591105-a-fome-afeta-42-5-milhoes-de-pessoas-na-america-latina-e-no-caribe Acesso em 02 e abril de 2020.
Brasileiros atingem maior índice de obesidade nos últimos treze anos. https://saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45612-brasileiros-atingem-maior-indice-de-obesidade-nos-ultimos-treze-anos Acesso em 02 e abril de 2020.
Brasil está entre países que enfrentam epidemia que combina obesidade e subnutrição https://www.bbc.com/portuguese/brasil-42231526 Acesso em 02 e abril de 2020.
Manifesto Slow Food http://www.slowfoodbrasil.com/slowfood/manifesto Acesso em 04 e abril de 2020.
MANIFESTO da 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional à Sociedade Brasileira sobre Comida de Verdade no Campo e na Cidade, por Direitos e Soberania Alimentar. http://www.abrasco.org.br/site/wp-content/uploads/2017/06/copy2_of_Manifes-to_comidadeverdade.pdf Acesso em 02 de abril de 2020
Mulheres e soberania alimentar: sementes de mundos possíveis. Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS), 2019
Obesidade cresce de forma acelerada no Brasil e se aproxima da taxa dos países ricos, indica OCDE https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50001245 Acesso em 02 e abril de 2020.
Obesidade e outras formas de desnutrição afetam 1 em cada 3 pessoas no mundo
https://nacoesunidas.org/obesidade-e-outras-formas-de-desnutricao-afetam-1-em-cada-3-pessoas-no-mundo/
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O PAPEL DA MULHER NA AGRICULTURA FAMILIAR

Quando questionamos o papel da mulher na agricultura familiar e campesina, imediatamente nos remetemos a responder, que as mulheres trabalham desde o momento do plantio, tratos culturais, colheita e processamento; além de cuidarem dos pequenos animais, hortas e quintais. O que por sua vez já é um papel de grande relevância. Tenho em conta que no Brasil as mulheres rurais são responsáveis por 45% da produção de alimentos e, em alguns países da África e Ásia esse número chega a 60%.
O papel produtivo das mulheres rurais gera mais da metade da produção de alimentos no mundo, além dessas desempenharem ação importante na preservação da biodiversidade, garantindo a soberania e a segurança alimentar a partir da produção de alimentos diversos e saudáveis. São elas que guardam os saberes alimentares e a utilização de plantas medicinais. Permitindo, que estes conhecimentos sejam repassados as novas gerações, possibilitando a manutenção de hábitos e costumes, que contam em muitos casos a história de um povo, de uma região e de um país.
O trabalho produtivo das mulheres do campo, da floresta e das águas é tido como “ajuda” em quase todas as partes do mundo. É assim colocado por se tratar de uma atividade, que de acordo com a divisão sexual do trabalho tem o homem como responsável. Vale pontuar que essa divisão beneficia única e exclusivamente ao sistema capitalista, que desvalorizando a mão de obra rural feminina não remunera e quando remunera é sempre menor que os valores pagos aos homens. Este fato, coloca as atividades de plantio, capina, colheita, processamento, pesca, extrativismo, dentre outras em uma categoria de desvalorização, tanto para o sistema capitalista como para as relações familiares.

O capitalismo que transformou o trabalho produtivo feminino em auxílio para que não necessitasse remunerar o mesmo, e assim mantivesse seus lucros através da exploração da força de trabalho das mulheres rurais, desconsidera que na América Latina e Caribe estas mulheres estão na gestão de aproximadamente 18% das propriedades, tendo o México com 32% e Paraguai com 27%. No Brasil, de acordo com o Censo 2017, o número de estabelecimentos dirigidos por mulheres é de 19% - 947 mil dos 5,07 milhões de estabelecimentos rurais. Destacando que na Região Nordeste do Brasil essa percentagem sobre para 57%, o que representa 538 mil estabelecimentos dirigidos por mulheres.

Ainda pontuando com relação ao trabalho produtivo das mulheres rurais, o setor de hortigranjeiros vem mostrando a força do trabalho feminino. Dados de 2020 mostram que de cada 10 propriedades dirigidas por mulheres, 06 produzem frutas, legumes e verduras. O mesmo estudo mostra ainda, que a mão de obra feminina no setor agrícola tem crescido, um exemplo disso é o Vale do São Francisco, onde 50% do trabalho na produção de uvas é feito por mulheres. Reforçando a participação da mulher no trabalho rural, o censo agropecuário de 2017 mostrou que na agricultura 28% das pessoas ocupada são mulheres.
O importantíssimo debate sobre o trabalho produtivo das mulheres rurais tem sido pautado diariamente. Porém, necessitamos tratar com a mesma urgência o trabalho reprodutivo. No campo esse trabalho vai desde o corriqueiro lavar, limpar, cozinhar, cuidar das crianças e dos idosos, para buscar água e lenha. Esse trabalho que é dado como natural, como divino, como intrínseco da mulher, é de suma importância para a sociedade como um todo e, no meio rural não é menor, já que é ele que permitiu a reprodução da mão de obra passada, presente e futura. Sendo portanto, impossível falar em sucessão rural sem o trabalho reprodutivo.
Por mais que se alcance meios que promovam a produção de alimentos com sustentabilidade ambiental, econômica e social, essa não se manterá sem o trabalho reprodutivo. Trabalho esse, que em todo o mundo, se remunerado, geraria UU$ 10,8 trilhões de dólares ao ano, aqui incluindo mulheres rurais e urbanas. Ressalto que unindo trabalho produtivo e reprodutivo as mulheres rurais brasileiras trabalham cerca de 12 horas semanais a mais que os homens. No Brasil o trabalho não remunerado das mulheres do campo, da floresta e das águas é de 27 horas semanais.

Ainda no tocante ao trabalho reprodutivo das mulheres rurais é importante descortinar que neste trabalho estão diversas atividades produtivas, contudo, por serem tidos como trabalhos femininos, não são contabilizados como tal. Não podemos esquecer que são as mulheres e os jovens que respondem pela produção de aves, ovos, pequenos animais, hortaliças e frutas. Essa produção de alimentos, em primeira mão, alimenta a própria família, secundariamente divide-se com os vizinhos e se houver excedentes, vai para o mercado, normalmente através da venda direta.

Como podemos perceber as mulheres rurais exercem um duplo trabalho, o trabalho reprodutivo e o trabalho produtivo. Porém, na prática quando a mulher realiza um trabalho produtivo classificado como masculino, ele é transformado em ajuda, sem valorização com baixíssima ou nenhuma remuneração. Quando o trabalho produtivo realizado estar no combo do trabalho reprodutivo – no trabalho de mulher – esse não é classificado como produtivo, e sim reprodutivo, que pela divisão sexual do trabalho não tem valor.
Nesse ponto da discussão, vale destacar, que se o trabalho produtivo inserido no trabalho reprodutivo gerar uma renda satisfatória, em quase 100% dos casos os homens assumem esse trabalho como seu. Podendo ser ele a produção de galinhas, o cuidado das hortas ou a criação de pequenos animais. Ficando claro, que a grande questão para o reconhecimento da importância do trabalho feminino não estar no tipo de atividades realizadas pelas mulheres, mas, no rendimento econômico direto que essa gera. Se contabilizado como rentável, o trabalho passa para a égide masculina, portanto, valorizado. Se não contabilizado diretamente como rentável – autoconsumo - esse se mantém sobre o respaldo feminino, por sua vez, desvalorizado. Capitalismo e patriarcado andando de braços dados para invisibilizar o trabalho feminino no meio rural.

Para compreendermos a importância do papel da mulher da agricultura familiar é necessário visibilizar e valorizar tanto o trabalho reprodutivo como o trabalho produtivo. Uma vez que ambos são de suma importância para a qualidade de vida das famílias rurais e da sociedade. Pois, se considerarmos os dados apresentados pelo relatório O Estado da Segurança e Nutrição Alimentar no Mundo - SOFI 2020, onde constata-se uma triste realidade de fome, desnutrição e obesidade em uma parcela significativa da população mundial, e que a recomendação dos órgãos responsáveis pelo estudo é que se diversifique a produção, podemos afirmar, sem dúvidas, que as mulheres rurais tem um importante papel na diminuição da fome e na melhoria da qualidade da alimentação no mundo.
Reforçar diariamente a importância do duplo papel exercido pelas mulheres do campo, da floresta e das águas é um exercício necessário para a construção de um mundo justo e igualitário. Onde haja divisão do trabalho doméstico, para que não tenhamos mulheres sobrecarregadas e adoecidas pela exaustão física e mental. Assim como, necessário para que as mulheres – maioria da população mundial – não sejam consideradas e tratadas em muitos espaços como meras ajudantes masculinas, que seu trabalho não seja visto como menor ou que as suas capacidades físicas e mentais sejam questionadas.

Sem o trabalho produtivo a diversidade é reduzida. A soberania e a segurança alimentar correm o sério risco de não serem alcançadas. O fim da fome no mundo não ocorrerá no tempo que desejamos, se é que ocorrerá. E a história alimentar e gastronômica dos nossos povos poderá desaparecer. Sem o trabalho reprodutivo não haverá fogo para aquecer a geração anterior a nossa, ou água para cuidar das futuras gerações. Sem o trabalho reprodutivo a humanidade não existirá.
Fotos: Google
Fontes:
Atlas de las mujeres rurales de América Latina y el Caribe: “Al tiempo de la vida y los hechos”. FAO. Santiago, Chile, 2017.
O HF também é delas. Hortifrúti Brasil. Ano 19, número 198, março de 2020.
Tempo de cuidar. Documento informativo da Oxfam. Janeiro de 2020
http://www.fao.org/americas/noticias/ver/pt/c/320313/
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/212765/1/MulheresRurais-Folder-20200310.pdf
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Em 2019, a fome atingiu 690 milhões de pessoas, 8,9% da população mundial. Desses 47,7 milhões estão na América Latina e Caribe, isso é o que indica o relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO. Esse dado que por si já é assustador tende a crescer nos próximos anos, de acordo com O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional do Mundo – SOFI – 2020, a previsão é que em 2030 esse número de pessoas com fome da América Latina e Caribe seja de 67 milhões, isso sem contar com os efeitos da COVID-19.
Tendo como base a renda média da população mundial, 104 milhões de pessoas não podem pagar por uma dieta saudável. A vulnerabilidade alimentar grave atingiu aproximadamente 01 em cada 10 pessoas no mundo em 2019. No mesmo ano, 140 milhões de crianças menores de 05 anos sofriam de retardo no crescimento, 47 milhões padeciam de inanição e 38 milhões tinha sobrepeso. Esses números tendem a serem ampliados em virtude da pandemia do coronavírus que poderá levar até 130 milhões a mais de pessoas a situação de subalimentação em 2020, do que os números atuais.
O mundo tem avançado, em projetos e ações para acabar a fome no mundo, mas, sem possibilidades de cumprir as metas estabelecidas para 2030 em relação ao retardo de crescimento e baixo peso ao nascer, assim como atingir a fome zero em 2030. Infelizmente, os dados mostram que o número de pessoas em situação de fome em 2030, estará em torno de 840 milhões.
A principal dificuldade para os países de baixa renda em fornecer uma alimentação adequada a população ocorre em virtude destes países dependem muito mais de alimentos básicos e menos de frutas e hortaliças e alimentos de origem animal. O que leva a uma dieta baseada quase que exclusivamente em amido, o que tem por sua vez contribuído para o aumento da obesidade em todo o mundo. Na atualidade somente a Ásia tem mantido os ingressos medianos de ingestão de frutas e hortaliças, que de acordo com a recomendação da FAO e da OMS é de 400g por pessoas/dia.
Ter alimentos já é um desafio. Ter alimentos saudáveis, é uma meta distante para muitas regiões no mundo, em virtude principalmente do custo, já que uma dieta saudável custa em média 05 vezes mais que uma dieta básica que sacia apenas as necessidades energéticas e não de diversidade de nutrientes. Na atualidade 38% da população mundial não tem uma dieta saudável. As pessoas em insegurança alimentar média ou grave, consomem menos carne, produtos lácteos, frutas e hortaliças em comparação com as que têm insegurança alimentar leve.
O mundo produz alimentos para 10 bilhões de pessoas, contudo, não consegue alimentar 7,8 bilhões, a população mundial atual. Reverter essa realidade depende da transformação dos sistemas alimentares, onde estes possam criar entornos alimentares propícios, com a disponibilidade de alimentos diversificados, saudáveis e com preços acessíveis, favorecendo desse modo a mudanças de hábitos para alimentos saudáveis.
Os principais gargalos para a produção de alimentos saudáveis e acessíveis são os baixos níveis de produtividade e pouca tecnificação, elevados riscos da produção, diversificação insuficiente, perda de alimentos e falta de políticas públicas que incentivem a produção de frutas e hortaliças e não somente a produção de commodities.
Para alcançarmos um estado de fome zero no mundo é preciso diversificar a produção de hortaliças e legumes, fortalecer a pesca artesanal, a avicultura e produção de ruminantes em pequena escala, revisar a legislação sanitária - que impossibilita as/os agricultoras/es familiares acessarem os mercados - e fortalecer o comércio local.
É preciso investir na agricultura familiar campesina, em especial de base agroecológica e/ou agroflorestal, afim de possibilitar uma maior resiliência as populações vulneráveis e reduzir os preços de uma dieta equilibrada e saudável.
Fonte: FAO, FIDA, OMS, PMA y UNICEF. 2020. El estado de la seguridad alimentaria y la nutrición en el mundo 2020. Transformación de los sistemas alimentarios para que promuevan dietas asequibles y saludables. Roma, FAO. https://doi.org/10.4060/ca9699es
📸 Banquete dos Famintos de Edvard Munch
#agriculturafamiliar#mulheresrurais#mulheresindigenas#campesinos#agroecologia#fomezero#zerohungri#hambrecero#sofi2020
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Muitas e muitos de nós quando ouvimos, lemos ou vemos casos de violência contra as mulheres imaginamos que essa realidade está bem distante do nosso dia a dia, olha essa violência como algo que acontece com o outro, na casa da outra, na família dos outros. Doce engano!!!
A violência é tão normalizada, que quem sofre muitas vezes não se sente violentada, quem vê não enxerga, quem escuta não entende a mensagem e, quem tem o poder de fala não sabe o que dizer. Aqui não há homens ou mulheres culpados/as, não diretamente. Há um sistema! Há uma estrutura com alicerces muito sólido, erguido com colunas de ferro e fogo, que o sustenta até os dias atuais, ocultando violências cotidianas escondidas nos ditos: sempre foi assim! Mas isso é normal.
Não, não é normal!!! Há uma violência oculta nesta normalidade.
Não é normal, as mulheres terem que acordar 02 ou 03 horas antes do horário dos demais membros da família para preparar comida, organizar a casa, lavar a roupa, se ela desejar ter um trabalho fora de casa e não ter que ficar ouvindo reclamações/piadinhas do tipo: não sei para que tenho mulher! Vou arrumar outra e colocar no seu lugar. Isso é violência!!! Alguém ou alguns estão se beneficiando com a carga excessiva de trabalho, que as mulheres têm na atualidade.
Não é normal, os maridos, os companheiros, os namorados determinarem o destino do dinheiro que as mulheres ganham com o suor do seu trabalho. Isso é violência, e se chama violência patrimonial. Também não é normal, esses mesmo homens deixarem à cargo das mulheres as despesas domésticas, com justificativas que tem muitas despesas nas suas atividades agrícolas. Essa violência psicológica tem como único objetivo captar de forma indireta o dinheiro das mulheres.
O “é assim mesmo” não pode justificar a cara feia de parceiros quando as mulheres voltam para casa depois de um dia de trabalho e ele está chateado porque não teve no momento que desejou uma pessoa para lhe servir. Isso é a mais pura violência psicológica! Assim como também é violência psicológica a “piada” se eu não te quiser, quem vai te querer?
Nós mulheres não podemos olhar, aceitar como “coisa de homem” que essas figuras masculinas façam negociatas, dívidas e afins, sem o consentimento feminino e apresentar a conta para as mulheres pagarem uma parte. Essa também é uma outra forma de violência patrimonial, pois as mulheres se veem obrigadas a pagarem essas dívidas afim de não serem abusadas psicologicamente ou até fisicamente.
Não é coisa de homem lavar louça suja, deixar roupa pelo chão, ou seja bagunça pela casa, dividir o trabalho de cozinhar, de cuidar das crianças, de manter a casa em ordem. Isso é coisa de quem tem empregada doméstica e babá 24 horas por dia. Quando todo esse trabalho fica a cargo das mulheres; Isso também é uma violência!!! Uma violência contra o direito de toda e qualquer mulher ao descanso, ao laser, a participação em coletivos, de se qualificar, entre outros.
É direito da mulher, viver uma vida sem exaustão física, sem pressão psicológica e com direito de decidir sobre o que fazer com seu dinheiro e, sem violência física que é a parte final do desse rosário de absurdos e abusos.
Qualquer coisa que não seja igual para mulheres e homens não é normal, não é coisa de homem, não é assim mesmo. É violência! E precisamos dá um basta nisso, já!
E essa violência só será banida quando todos meterem a colher, informarem e acolherem essas mulheres, quando você usar o garfo do empoderamento, da luta pelos direitos das mulheres e nós em definitivo cortarmos a normalidade da violência, e assim podermos todos comer no prato da igualdade de gênero.
Foto: Google
Texto da foto faz parte de uma Campanha do Estado de Pernambuco de combate a violência contra a mulher rural
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A potência do extremo sul da cidade de São Paulo na agricultura familiar.
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Política Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável, Agroecologia e de Produção Orgânica no Estado do Rio de Janeiro – PEAPO

A política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – PNAPO, instituída em 2012, é resultado da atuação de movimentos da sociedade civil e teve por objetivo implementar alternativas ao modelo de agricultura convencional da revolução verde. Desde a sua criação alguns estados criaram as suas próprias políticas, como é o caso do Estado do Rio de janeiro que em novembro de 2019, através da Lei 8.625 criou a Política Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável, Agroecologia e de Produção Orgânica no Estado do Rio de Janeiro – PEAPO.
As políticas estaduais promovem soberania e segurança alimentar, assim como a produção de alimentos saudáveis. Além de fortalecer a construção social dos mercados, promovendo o acesso à água, à terra e territórios, valorizando a biodiversidade, as culturas populares e a educação no campo, assim como fortalecer as relações justas de trabalho, e, empoderar mulheres e jovens.
Dada esse importância a PEAPO tem como diretrizes o estabelecimento de políticas, planos, programas, metas e ações com a finalidade de fomentar a produção agroecológica e de orgânicos no Estado; apoio ao ensino, pesquisa, extensão e inovação tecnológica voltadas para a promoção da agroecologia e da produção orgânica; criação de linhas de crédito especial, de subsídio e fomento, para apoiar processos de transição agroecológica e a produção orgânica, incluindo aqueles agricultores (as) que se encontram em conversão, contemplando a aquisição de insumos agroecológicos; financiamento por meio de editais públicos, de projetos de agroecologia e de produção orgânica, de organizações governamentais e não governamentais, cooperativas e associações, instituições de pesquisa e ensino, fundações, empresas e empreendimentos de economia solidária, colaborativa, criativa e de comércio justo e solidário; estabelecimento de um acréscimo de no mínimo 30% (trinta por cento) nos preços dos produtos orgânicos ou em transição agroecológica, em relação aos preços estabelecidos para produtos convencionais, nas aquisições institucionais; estabelecimento de mecanismos de pagamento e compensação por serviços ambientais às (aos) agricultoras (es) da zona rural, urbana e periurbana, que desenvolvam sistemas agroecológicos, de produção orgânica ou em transição agroecológica; assim como a promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional, e do direito humano à alimentação adequada e saudável, através valorização da agrobiodiversidade dos produtos da sociobiodiversidade, e apoio às experiências locais de uso e conservação dos recursos genéticos vegetais e animais, especialmente aquelas que envolvam as raças, espécies e variedades locais, tradicionais ou crioulas, entre outras ações que envolvem ações educativas, estímulo a comercialização e à participação social.
A referida política tem por objetivo a oferta de produtos saudáveis, preservar a diversidade biológica dos ecossistemas naturais, promovendo o uso saudável do solo, dos recursos hídricos, ampliando e fortalecendo a produção e o consumo de produtos agroecológicos e orgânicos, com ênfase nos mercados locais e regionais. Além de estimular a produção em escala crescente de sementes agroecológicas e orgânicas por Agricultores familiares e grupos associativos, promovendo desse modo o resgate, a produção e a troca de mudas e sementes crioulas, orgânicas e variedades.
A política objetiva ainda estimular e ampliar o associativismo e o cooperativismo para ampliar e fortalecer os mecanismos de controle social e de avaliação da conformidade orgânica, buscando fortalecer a participação ativa da sociedade organizada, favorecendo desse modo a regulamentação da pequena produção, a manipulação dos produtos agrícolas e os serviços de alimentação, o processamento mínimo voltado à preservação, entendida como a amplitude do tempo de prateleira e a frequência da oferta, e agregação de valor, estimulando a produção familiar, o turismo agroecológico e a economia popular solidária. Através da criação de programas de educação agroecológica e de formação continuada para os e as agentes de ATER, das áreas de saúde e educação, da agricultura familiar, da agricultura urbana, de assentamentos rurais, de povos e comunidades tradicionais, contemplando questões de gênero, geração e etnia, a política visa o fortalecimento e o fomento da construção e do desenvolvimento de redes temáticas em agroecologia entre os diferentes grupos envolvidos, com a participação da sociedade civil no planejamento, execução, apoio e acompanhamento das ações da Política Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável, Agroecologia e de Produção Orgânica.
Com essas ações o Estado do Rio de Janeiro busca contribuir para a promoção da soberania alimentar garantindo o direito do povo de decidir de forma autônoma seu sistema de produção agroecológica, assim como, garantir o direito da não contaminação genética e por agrotóxicos das culturas orgânicas através de medidas de coexistência e a prática do Princípio da Precaução nas inovações tecnológicas, para que o meio ambiente seja protegido contra os potenciais riscos sérios ou irreversíveis que, com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados.
Dada a realidade do atual governo, onde foi decidiu-se pela extinção por exemplo do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – CONSEA, da CIAPO e da CNAPO mostrando desse modo que os únicos beneficiários do governo serão os setores tradicionais do agronegócio exportador de commodities, a ação do Estado do Rio de Janeiro, é um alento para os/as agricultores/as familiares que nos últimos anos, construíram modelos mais inovadores de produção e consumo sustentável.
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Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres
Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher» (Gal 4, 4). Nascido de uma mulher: assim veio Jesus. Não apareceu adulto no mundo, mas, como disse o Evangelho, foi «concebido no seio materno» (Lc 2, 21): aqui, dia após dia, mês após mês, assumiu a nossa humanidade. No seio duma mulher, Deus e a humanidade uniram-se para nunca mais se deixarem: mesmo agora, no Céu, Jesus vive na carne que tomou no seio de sua mãe. Em Deus, há a nossa carne humana!
No primeiro dia do ano, celebramos estas núpcias entre Deus e o homem, inauguradas no seio de uma mulher. Em Deus, estará para sempre a nossa humanidade, e Maria será a Mãe de Deus para sempre. É mulher e mãe: isto é o essencial. D’Ela, mulher, surgiu a salvação e, assim, não há salvação sem a mulher. N’Ela, Deus uniu-Se a nós e, se queremos unir-nos a Ele, temos de passar pela mesma estrada: por Maria, mulher e mãe. Por isso, começamos o ano sob o signo de Nossa Senhora, mulher que teceu a humanidade de Deus. Se quisermos tecer de humanidade a trama dos nossos dias, devemos recomeçar da mulher.
Nascido de uma mulher. O renascimento da humanidade começou pela mulher. As mulheres são fontes de vida; e, no entanto, são continuamente ofendidas, espancadas, violentadas, induzidas a prostituir-se e a suprimir a vida que trazem no seio. Toda a violência infligida à mulher é profanação de Deus, nascido de uma mulher. A salvação chegou à humanidade, a partir do corpo de uma mulher: pelo modo como tratamos o corpo da mulher, vê-se o nosso nível de humanidade. Quantas vezes o corpo da mulher acaba sacrificado nos altares profanos da publicidade, do lucro, da pornografia, explorado como se usa uma superfície qualquer. Há que libertá-lo do consumismo, deve ser respeitado e honrado; é a carne mais nobre do mundo: concebeu e deu à luz o Amor que nos salvou! Ainda hoje a maternidade é humilhada, porque o único crescimento que interessa é o económico. Há mães que, na busca desesperada de dar um futuro melhor ao fruto do seu seio, se arriscam a viagens impraticáveis e acabam julgadas como número excedente por pessoas que têm a barriga cheia, mas de coisas, e o coração vazio de amor.
Nascido de uma mulher. Segundo a narração da Bíblia, no cume da criação surge a mulher, quase como compêndio de toda a obra criada. De facto, encerra em si mesma a finalidade da própria criação: a geração e a conservação da vida, a comunhão com tudo, a solicitude por tudo. É o que faz Nossa Senhora no Evangelho de hoje. «Maria – diz o texto – conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19). Conservava tudo: a alegria pelo nascimento de Jesus e a tristeza pela hospitalidade negada em Belém; o amor de José e a admiração dos pastores; as promessas e as incertezas quanto ao futuro. Interessava-se por tudo e, no seu coração, tudo reajustava, incluindo as adversidades. Pois, no seu coração, tudo organizava com amor e confiava tudo a Deus.
No Evangelho, esta atividade de Maria reaparece uma segunda vez: na adolescência de Jesus, diz-se que a «sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração» (Lc 2, 51). Esta repetição faz-nos compreender que o gesto de guardar no coração não era simplesmente um ato bom que Nossa Senhora realizava de vez em quando, mas é um hábito d’Ela. É próprio da mulher tomar a peito a vida. A mulher mostra que o sentido da vida não é produzir coisas em continuação, mas tomar a peito as coisas que existem. Só vê bem quem olha com o coração, porque sabe «ver dentro»: a pessoa independentemente dos seus erros, o irmão independentemente das suas fragilidades, a esperança nas dificuldades, Deus em tudo.
No Evangelho, esta atividade de Maria reaparece uma segunda vez: na adolescência de Jesus, diz-se que a «sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração» (Lc 2, 51). Esta repetição faz-nos compreender que o gesto de guardar no coração não era simplesmente um ato bom que Nossa Senhora realizava de vez em quando, mas é um hábito d’Ela. É próprio da mulher tomar a peito a vida. A mulher mostra que o sentido da vida não é produzir coisas em continuação, mas tomar a peito as coisas que existem. Só vê bem quem olha com o coração, porque sabe «ver dentro»: a pessoa independentemente dos seus erros, o irmão independentemente das suas fragilidades, a esperança nas dificuldades, Deus em tudo.
Nascido de uma mulher. Jesus, logo que nasceu, espelhou-Se nos olhos duma mulher, no rosto de sua Mãe. D’Ela recebeu as primeiras carícias, com Ela trocou os primeiros sorrisos. Com Ela, inaugurou a revolução da ternura; a Igreja, ao contemplar o Menino Jesus, é chamada a continuá-la. Pois também ela, como Maria, é mulher e mãe, e encontra em Nossa Senhora os seus traços caraterísticos. Vê-A imaculada e sente-se chamada a dizer «não» ao pecado e ao mundanismo. Vê-A fecunda e sente-se chamada a anunciar o Senhor, a gerá-Lo nas inúmeras vidas. Vê-A mãe e sente-se chamada a acolher cada homem como um filho.
Aproximando-se de Maria, a Igreja reencontra-se: encontra o seu centro e a sua unidade. Ao contrário o diabo, inimigo da natureza humana, procura dividi-la, colocando em primeiro plano as diferenças, as ideologias, os pensamentos unilaterais e os partidos. Mas não compreenderemos a Igreja, se olharmos para ela a partir das estruturas, programas e tendências: entenderemos qualquer coisa dela, mas não o coração. Porque a Igreja tem um coração de mãe. E nós, filhos, invocamos hoje a Mãe de Deus, que nos reúne como povo crente. Ó Mãe, gerai em nós a esperança, trazei-nos a unidade. Mulher da salvação, confiamo-Vos este ano, guardai-o no vosso coração. Nós Vos aclamamos: Santa Mãe de Deus, Santa Mãe de Deus, Santa Mãe de Deus! Fonte: Homilia Papal
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DESERTOS ALIMENTARES

"O acesso à alimentação é um direito humano em si mesmo, na medida em que a alimentação constitui-se no próprio direito à vida. Negar este direito é, antes de mais nada, negar a primeira condição para a cidadania, que é a própria vida" Josué de Castro.
O Direito Humano à Alimentação Adequada, o DHAA, está assegurado pelo artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), de 1948. Em 2010, foi aprovada a Emenda Constitucional nº 64, que inclui o direito à alimentação no artigo 6º da Constituição Federal do Brasil.
Apesar do direito a alimentação está assegurado na legislação o Brasil tem visto surgir diversos locais onde o acesso a alimentos in natura ou minimamente processados é escasso ou impossível, os chamados Desertos Alimentares. Esses desertos estão especialmente nos bairros periféricos ou com baixos indicadores sociais, obrigando os moradores a se locomoverem para as regiões com maior poder aquisitivo, onde ficam concentrados os hortifrútis, as feiras, peixarias, açougues, mercearias, supermercados, hipermercados, e demais estabelecimentos onde é possível obter os itens para uma alimentação saudável.
Um deserto pode surgir por diversos fatores, como falta de feiras ou de supermercados com variedades de produtos in natura. Além disso, há também a forte articulação da indústria de ultraprocessados na distribuição para o pequeno comércio, que consegue chegar em praticamente todos os pontos de venda da cidade. Isso pode explicar, por exemplo, o alto número de bares e mercadinhos em regiões mais afastadas que comercializam em sua maioria produtos industrializados e não possuem alimentos frescos.

O impacto dos Desertos Alimentares na saúde da população é percebido nos dados estatísticos, onde mostram que entre 2007 e 2017, casos de hipertensão cresceram 14,2% e os diabetes 61,8%, valendo a ressalva que a obesidade entre jovens aumentou 110% no mesmo período.
Afim de garantir Segurança Alimentar e Nutricional é necessário políticas públicas que incentivem a criação de feiras livres e de outros locais que facilitem o acesso a alimentos in natura ou minimamente processados. Sendo importante ainda estimular os pequenos estabelecimentos que comercializam produtos in natura, além de fortalecer os/as agricultores/as – em especial os familiares – que produzem grande parte dos alimentos que chegam a mesa dos brasileiros.

E por fim, considerando que se tem por Segurança Alimentar, o pleno acesso à alimentação em qualidade e quantidade suficientes de forma permanente sem comprometer outras necessidades essenciais. E necessário pensar políticas públicas que incluam as mulheres rurais, já que são essas as principais produtoras da diversidade rural – com seus quintais e hortas – que se estimuladas fará chegar essa diversidade a mesa das famílias urbanas.
Fonte: Idec & Uol
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Regulamentação do Selo ARTE

O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA acabou de publicar a Instrução Normativa no 67, de 10 de Dezembro de 2019, que estabelece os requisitos para que os Estados e o Distrito Federal realizem a concessão do Selo Arte, aos produtos alimentícios de origem animal produzidos de forma artesanal.
De acordo com o Decreto no 9.918, de 18 de julho de 2019, que regulamentou a Lei no 13.680 de 14 de junho de 2018, os produtos alimentícios de origem animal produzidos de forma artesanal que receberem o selo ARTE serão reconhecidos e comercializados no território nacional. Desse modo, será permitida a comercialização interestadual de produtos alimentícios produzidos de forma artesanal, com características e métodos tradicionais ou regionais próprios, desde que empregadas boas práticas agropecuárias e de fabricação, e que sejam submetidos à fiscalização de órgãos de saúde pública dos Estados e do Distrito Federal. Possibilitando as vendas de produtos alimentícios artesanais, como queijos, mel e embutidos.
De acordo com a IN no 67, compete à Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação - SDI, a execução das competências do MAPA, sendo os órgãos de agricultura e pecuária dos Estados e do Distrito Federal responsáveis pela concessão do Selo ARTE e os Serviços de Inspeção dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos Consórcios de Municípios, quem irá realizar o cadastro prévio no MAPA.
Para obter o Selo ARTE, o proponente deve apresentar ao órgão competente os seguintes documentos: registro do estabelecimento no serviço de inspeção oficial; nome do estabelecimento, CPF ou CNPJ, endereço de localização, endereço de correspondência, endereço eletrônico, telefone, nome do representante legal e outras informações solicitadas pelo órgão concedente; relatório de fiscalização, emitido pelo serviço oficial, que comprove o atendimento às Boas Práticas Agropecuárias e de Boas Práticas de Fabricação, nos termos dos regulamentos específicos; e memorial descritivo, contendo composição, descrição do processo de fabricação, controle de qualidade, armazenamento e transporte além da descrição das características específicas do produto, demonstrando atendimento aos requisitos estabelecidos para os produtos artesanais.
Segundo consta na IN no 67, deverão ser avaliados o atendimento aos requisitos previstos no art. 4º do Decreto nº 9.918, de 18 de julho de 2019; cumprir os requisitos de boas práticas agropecuárias na produção artesanal e boas práticas de fabricação de produtos artesanais;
As vantagens da utilização do selo ARTE: Comercialização interestadual de produtos; Diminuição da burocracia para registro e comercialização; Inspeção e fiscalização de natureza prioritariamente orientadora; Fácil identificação e reconhecimento por meio do selo único com a denominação ARTE.
O ministério da agricultura irá disponibilizar uma plataforma digital para operacionalização da concessão do selo Arte e compilação do cadastro nacional dos produtos com selo ARTE. Estados e o Distrito Federal, autorizados a conceder o Selo ARTE, serão submetidos a auditorias de conformidade com periodicidade a ser definida pelo MAPA.
#agricultura agriculturafamiliar alimentos soberaniaalimentar#agriculturafamiliar sementescriolas sementesdapaixão campesinos soberaniaalimentar segurançaalimentar#artesanal#cultural#culture#seloarte
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A Bahia tem novo Selo de Identificação de Produtos da Agricultura Familiar

Com a chamada é da Agricultura Familiar. Pode Confiar! A Bahia lançou no último dia 27 o Selo de Identificação de Produtos da Agricultura Familiar (SIPAF). Trazendo a concepção de um selo ligado ao universo da Agricultura Familiar, o mesmo tem predominância do tom azul usado como referência aos elementos naturais em especial a água. Já o amarelo é uma representação do sol, o verde das plantações e o marrom da terra.
De acordo com informações da Superintendência da Agricultura Familiar – SUAF, o selo tem o objetivo de identificar os produtos da agricultura familiar no Estado da Bahia. Além de oferecer aos consumidores a garantia de consumir produtos genuinamente oriundos da agricultura familiar. Para os/as agricultores/as o selo visa além da identificação e diferenciação nos mercados do produto da agricultura familiar a isenção fiscal do ICMS que já ocorria através do decreto 13.780/12 com a utilização do Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar -SIPAF agora Selo Nacional da Agricultura Familiar - SENAF emitido pelo governo federal.
Seguindo o padrão do Selo emitido pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA, o SIPAF baiano pode ser acessado por agricultores/as e empreendimento da Agricultura Familiar portadores/as de DAP ou CAF, e, poderá ser utilizado por produtos de origem animal, vegetal e artesanatos. O cadastro para solicitação do selo deverá ser feito através do site: www.sdr.gov.br/sipaf (ainda em construção).
Os selos propiciam a conversação entre o consumidor que nem sempre consegue identificar a origem dos produtos que chegam a sua mesa, e o agricultor/a familiar com as suas singularidades quando ao modo de produzir e gerenciar a unidade produtiva. possibilitando dessa forma a competitividade para os produtos da agricultura familiar, assim como, a diferenciação oferece ao empreendimento uma defesa contra as forças do ambiente, tornando os clientes leais e desta forma minimizando o grau de concorrência com outros produtos do mesmo segmento.
O símbolo ou marca de um determinado produto faz com que este seja mais facilmente identificado e escolhido no momento da compra. Os selos podem assegurar inocuidade, garantir qualidade nutricional, identificar atributos e valores únicos e de potencial valor para os consumidores. Assim sendo, selos que relacionem aspectos sociais e culturais são diferenciais no momento de escolha pelos consumidores.
Contudo, é necessário ressaltar que ao longo dos últimos anos a Bahia, assim como outros estados já tiveram outros selos que objetivavam identificar a produção oriunda da agricultura familiar, que caso não tenha suas marcas bem posicionadas no mercado torna-se, infelizmente, só mais um símbolo nos rótulos, onde o consumidor não sabe o que significa, e, por seguinte, não elege o produto familiar, por ser familiar. Mas, temos também casos de sucesso que esperamos que a Bahia siga como orientação para o reconhecimento da agricultura familiar Baiana, como é o caso do Sabor Gaúcho, que não só foi teve sua marca bem posicionada, como foi um elemento que possibilitou uma melhoria na qualidade do produto da agroindústria familiar gaúcha.
#agricultura agriculturafamiliar alimentos soberaniaalimentar#selos#seal#stamp#sello#campesinos#campesinas
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SANCIONADA POLÍTICA DE APOIO ÀS MULHERES MARISQUEIRAS

O trabalho árduo das mulheres marisqueiras muitas vezes em condições precárias debaixo do sol e com pés na lama desbravando a natureza marinha, passa a ser reconhecido pela Lei 13.902 de 13 de novembro de 2019 dispõe sobre a política de desenvolvimento e apoio as atividades das mulheres marisqueiras.
A referida Lei defini as responsabilidades do poder público no apoio ao desenvolvimento das atividades desenvolvidas pelas mulheres marisqueiras. De acordo com a Lei será considerada marisqueira, a mulher que realiza artesanalmente essa atividade em manguezais de maneira continua, de forma autônoma ou em regime de economia familiar, para sustento próprio ou comercialização de parte da produção.
A Lei determina ainda que cabe ao poder público estimular a criação de cooperativas ou associações de marisqueiras com vistas a estimular, por intermédio da participação coletiva, o desenvolvimento da atividade. Esperamos que a Lei 13.902 e a demais ações da política de apoio as marisqueiras reforcem a importância da cultura local e a valorização dos saberes que envolvem o ato de mariscar, ressaltando a importância do reconhecimento da força da mulher marisqueira no ambiente da pesca.
Valorizar a mulher marisqueira é enaltecer a contribuição dessas mulheres para a construção de uma nova sociedade que reconheça a cultura local e a sabedoria tradicional passada de geração em geração.
Informações da Agência Senado
#agricultura agriculturafamiliar alimentos soberaniaalimentar#marisqueiras#mariscos#mulheresrurais#legislación#legislação
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FOGO NO COLETIVO!

Mulheres trabalhando no campo em Roscommon, Irlanda. Ilustração da revista The Ilustrated London News, volume LVI, publicada em 7 de maio de 1870. Sob uma perspectiva coletiva com base comunal, as mulheres europeias até o século XIV viviam sob a égide da solidariedade e da amizade entre elas, compartilhando entre si ideias, dividindo angústias e brindando nas tavernas com as gossips. Tanto nas áreas urbanas como rurais, as mulheres eram independentes dos homens, já que tinham suas próprias atividades agrícolas e não-agrícolas. E vivendo de forma a compartilhar a execução e o resultado dessas atividades, era possível permanecer em conexão com a natureza, e com a cooperação feminina, que era a força motriz dessa época, e possibilitava a valorização do conhecimento e do trabalho feminino.
Fazendo uso das terras comunais que eram o centro da vida social das mulheres, lugar utilizado para reunir-se, trocar noticias, receber conselhos e formar pontos de vista próprios, as mulheres trabalhavam a agricultura no que poderia ser classificado como um socialismo primitivo, onde as práticas femininas eram compartilhadas através das relações comunitárias de sistemas de conhecimento, que foram a base do poder das mulheres na Europa Pré-Capitalista.
Contudo, nesse mesmo período, ocorrem grande revoluções camponesas na Europa, revoluções essas com grande participação feminina, que disputavam com os senhores feudais as terras comuns que passavam a serem cercadas pela burguesia. Em virtude dos agricultores e agricultoras não terem logrado manter as terras coletivas, os cercamentos resultaram na expulsão desses, fazendo com que as mulheres perdessem espaço na sociedade, uma vez que sem as áreas comunais, a implantação do sistema feudal e posteriormente o inicio do capitalismo, leva a uma disputa de espaço para ocupação da mão de obra, seja ela urbana ou rural. Em síntese, inicia-se uma disputa pelos postos de trabalho entre homens e mulheres.
E é nesse cercamento, nessa ausência do coletivo, e na divisão sexual do trabalho que as mulheres urbanas, e também rurais, passam a ser confinadas ao trabalho reprodutivo que nesse momento encontrava-se em processo de total desvalorização. É importante destacar que o trabalho agrícola para autoconsumo fora incluído nas atividades de reprodução da família, que também entra no rol da desvalorização, e passa a ser classificado como ajuda.
Nos séculos seguintes com a posição social deteriorada, as mulheres e suas gossips passam a serem vistas como mulheres sem ocupação, que faziam intriga sobre outras mulheres, e no tocante ao tenebroso período da Caça às Bruxas, eram elas quem denunciavam as outras mulheres. Fazendo com que o poder das mulheres de criar as próprias conexões sociais, que possibilitava o enfrentamento da autoridade masculina, fosse perdida. São perdidas também as memórias, as vozes do passado, a história das comunidades, a identidade coletiva e um profundo senso de coesão que existia entre essas mulheres rurais. Sendo silenciadas e excluídas dos lugares de tomada de decisão e privadas de determinar a própria experiência, as mulheres são forçadas a conviverem com a misoginia.
O capitalismo, essa contrarrevolução às lutas antifeudais, imposta pelos senhores feudais, os mercados patrícios, bispos e papas que buscavam resolver um conflito centenário, produziu uma grande sacudida mundial, pois, transforma o corpo masculino em uma máquina de trabalho, e sujeita as mulheres a reprodução da força de trabalho, diante da desvalorização do seu trabalho, fazendo com que essa mulher passe a ser uma serva do sistema capitalista iniciado na Europa. A mulher passa então a ser um prêmio dado aos homens em troca das suas terras perdidas.
E para lograr grande resultados e não possibilitar a insurgência feminina, em especial das mulheres rurais, que tiveram as maiores perdas em relação às mulheres urbanas, o novo sistema implanta dois séculos de terrorismo às mulheres que não aceitavam a sua perda de autonomia, a desvalorização do seu conhecimento, e a obrigatoriedade do trabalho reprodutivo sem nenhuma valorização. Ademais, implantam a caça às bruxas, que levou às fogueiras da inquisição um número expressivo de mulheres com acusações de serem velhas rabugentas que permitiam e forçavam seus animais adentrarem as terras que no momento tinha cerca e, por conseguinte, proprietário. Ou mulheres acusadas de manipular plantas silvestres para uso medicinal e ou alimentício fora do que era padronizado como comum.
E assim, temos a brutal transição dos sistemas coletivos passando pelo feudalismo até o capitalismo tanto nas áreas urbanas como nas áreas rurais, que elimina as terras coletivas onde as mulheres vinham até então tendo autonomia produtiva e reprodutiva. E nas chamas das fogueiras da inquisição foram queimadas também as relações coletivas, conhecimentos, sororidade e a relação sagrada com a natureza, que por ser feminina também deve ser desvendada, explorada e colocada a disposição dos homens. Essa mesma fogueira acende a tocha das violências contra as mulheres, não só pelo ato de queimar mulheres vivas, mas por passar a negar a importância do trabalho feminino para o bem-estar da sociedade. Negar o protagonismo das mulheres rurais no que concerne a geração de conhecimento que fez criar as primeiras sociedades com o desenvolvimento da agricultura. Negando ainda a efetiva participação feminina na geração de renda e segurança alimentar das famílias que viviam de forma coletiva.
Filhas e netas das bruxas que o sistema não conseguiu queimar, continuaram trabalhando, agora sobre a sombra negra da fumaça das fogueiras e a mão pesada do patriarcado que passa a tratar essas como um simples corpo, um ser humano de segunda classe. E passando mais alguns séculos de modificações na sociedade e no processo de produção agrícola, chegamos na Revolução Verde, que será esse o tema do nosso próximo encontro. Nos vemos antes de Noel nos visitar com os produtos frutos desse sistema econômico que queima vivo aqueles que se opõe a ele. 01.12.2019
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