guessiamdoingfine
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moça com cicatriz no peito
75 posts
desabafos, insanidades, delírios e um coração quebrado.
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guessiamdoingfine · 7 years ago
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Baseado em música
dedilho um Belchior no violão, enquanto um mundo novo se desvela ao meu redor com tinta branca. sinto cada letra de forma profunda, por cima de uma tinta antiga, se cria uma nova, porque João, o tempo andou mexendo com a gente. tanta desventura que ano passado eu morri, mas esse ano eu me refiz. E ainda não entendi.  Não entendi nada, minha melhor amiga foi atropelada, e isso respingou em mim. Dedilho novamente, e novamente, reconstruindo canções nos meus dedos, cada corda absorvendo o suor da minha sensibilidade. 
Quero pintar um mar dentro de mim, quero pintar um Navio com passagem só de ida, porque tudo tem essa urgência de já é outra viagem, porque o meu coração selvagem tem essa pressa de viver. E meu violão entende tudo isso. Canta pro seu violão tuas tristezas, canta as mazelas, canta que tu és e como vives, e porque vives, porque não é formar, é amar. Não é construir patrimônio, é construir afetos. Você está há um século à frente de seu tempo, porque a carta que recebeu não foi a de Pero Vaz de Caminha, mas a de que diz que a procura pela cura da loucura, quem tiver cabeça dura vai morrer na praia. 
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guessiamdoingfine · 7 years ago
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Limão?
Arranquei do pé uma laranja pensando que era um limão, erro meu. No instante que definia o que a fruta seria, eu pus minhas mãos nela. Cometi enorme pecado, que irresponsável. A arranquei com tal ímpeto, estiquei as pernas até o mais alto, e a devorei. Não era limão, mas também ainda não era algo maior. Ainda estava em gestação, precisava só de apreciação. De cautela, Vigiar o sono, como se vigia a um bebê que dorme. Sem pressa, no ritmo da chuva, do sol, das nuvens passeando altas acima das cabeças desavisadas, entorpecidas pela maresia e pelo álcool, porque é assim que as pessoas gostam de viver seus dias na Ilha. Eu mesma não estava lá com meu juízo muito bom, e foi essa história que eu contei, para expiar a culpa do assassinato. Umas lágrimas caíram não muito depois do retorno à casa. Depois eu chorei mais um pouco, e cada dia eu choro um pouco mais, pra ver se nasce uma nova coisa indefinida regada pela chuva que eu não soube esperar, e que guardei em mim. Os bagos não possuem sumo suficiente, para que novamente eu os roube pra ti,para saborearmos juntas o suco num dia quente, mas penso numa safra de morangos, que é coisa difícil de encontrar por ai, eu não precisaria roubar, tenho que deixar germinar de meu próprio ventre. 
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guessiamdoingfine · 7 years ago
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Gangorra
Me vejo construindo 
e desconstruindo coisas...
Fazendo certo e fazendo errado
Me equivocando, me inquietando...
me aquietando
Ajeitando a saia,
abarrotando a camisa
Despenteando os cabelos
Lavando o batom escuro da cara, 
pintando as unhas com cor clara.
Desejando crescer, mas sentindo falta de ser criança
Ficando grande 
Ficando pequena
Vestindo armaduras
Uma espada, um escudo, uma faca de caça
Pilhando os corpos em que já habitei
Fazendo moradia em uma carcaça por dia.
No espelho um novo aspecto se formatando 
Novos olhos saltando
uma nova face
uma nova pelagem se desvelando.
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guessiamdoingfine · 7 years ago
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navegando
soltar os cabelos sobre os travesseiros no fim do dia é o melhor alívio dos últimos tempos. os pés cansados cedem ao toque no lençol fino, e minha pele nua arrepia com o frio instalado. o dia inteiro se passa em um túnel. como um borrão oscilante. muita euforia, ou muita apatia. não sinto meu corpo. sinto minha alma longe. em outro lugar. em outra dimensão. em outro país. velejando mares, navegando em navios. explorando cavernas, e muito ocupada lutando contra monstros. que alma corajosa. que alma guerreira. vai lá fazer o que o corpo não aguenta. 
estão aqui os meus dentes, minhas unhas, meus olhos com seu leve toque de loucura e estranheza. um rosto cansado, mas ainda agradável. “acostume-se, você é uma moça bonita”, mas eu rejeito os olhares diários de apreciação masculina. são olhares efêmeros, deficitários. incapazes de perscrutar algo além da aparência. não lamento. meus olhos não desviam de seus possíveis pensamentos sacanas. eu conheço suas ideias. mas vocês não conhecem as minhas. vocês não conhecem meu sangue.
meus pés, minhas veias salientes, meus lábios, todos grandes, já tocados. meus cílios pequenos, minhas orelhas, meus ouvidos que apitam por falta de ar. afinal, esse sempre foi o problema: falta de ar. falta de respirar pra oxigenar tudo. todas as ideias. desobstruir todas vias. libertar toda energia, e voltar pra minha moradia. 
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guessiamdoingfine · 8 years ago
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Preciso limpar o espelho sujo que embaça o reflexo do meu rosto. Preciso destruir a máquina do tempo que insiste em trazer ao presente sentimentos ruins. Mas não posso me limpar de toda sujeira, não posso engolir água sanitária e esperar que tenha algum resultado. Preciso esperar o tempo das flores, o tempo do céu azul e da mata verde. Preciso ter calma pra suportar o inverno e esperar a primavera. Preciso de uma casa na árvore pra reconstruir meus sonhos de menina, preciso de um novo mapa mundi, preciso me deliciar com vinhos que ainda não experimentei, preciso ir atrás de minas de ouro e aventuras fantásticas, preciso comprar meu próprio carro e com ele percorrer minhas estradas, construir uma fazenda. Preciso montar no próximo cavalo que passar e recomeçar minha existência.
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guessiamdoingfine · 8 years ago
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um sentimento que deve ser escrito
a natureza segue um curso perigoso. o curso dos desejos de um riacho que desagua no oceano. um mar de coisas perniciosas que te deixa um olho borrado de rímel, um cabelo machucado pelos travesseiros, um estomago embrulhado. 
um colar que esqueco no fundo da bolsa, junto com os batons que misturo na boca. você sabe que beija muitas cores, e nunca  chega até a primeira. As unhas te arranham, e as pernas te prendem fundo, enquanto a pele que voce cheira, descasca do Sol forte da praia.
minha violência, o que te digo nos momentos de desespero, você sabe que é pura euforia. A natureza, em sua sapiência, nos agracia com a maturidade também.
amém
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guessiamdoingfine · 8 years ago
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Quero a explosão das ondas de um mar agitado num dia tranquilo. a natureza guarda tanto vigor, em suas rochas, em suas águas, em suas árvores. Nadar próximo ao precipício, sentir a palpitação, o coração na língua quando o mar te engolir. O medo ao escalar uma rocha, o pé que treme, perdendo terreno, um desespero.
Tenho o coração de um guerreiro antigo, de um aventureiro que se perde de propósito dos seus. Eu manejei a flecha na cara da selva, eu uivei o uivo agourento dos lobos. Eu arranquei toda a pele de roupa humana, eu virei um animal selvagem, eu observei com serenidade a migração das aves. Eu sou a capitã Nemo do meu mundo.
Eu sou a única que restará para contar minha própria história. E eu sei muito e pouco dela. Eu ouço uma música distante sobre meus feitos, ditos pela boca de alguém. Por que teimam em saber mais sobre mim, do que eu mesma? Eu amo o humano, mas eu amo mais a natureza.
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guessiamdoingfine · 8 years ago
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eu quero o que a alma deseja
tenho 25 anos de sonho, de sangue e de américa do sul, que ei de explorar cada centímetro antes de desaparecer e virar espuma do mar. já cortei a carne de velhos inimigos, e em breve serei só king of the road, baby, na voz de Roger Miller tocando no som do carro, e olhando sua cara linda me espiando com sua visão periférica.
vai sendo resolvida e revolvida a vida, como terra fresca na mão, e um punhado de semente nova que sempre brota. há sempre um por do sol lindo nos esperando em algum lugar, junto com uma praia semi deserta, e algumas pessoas esquisitas que sempre querem ser nossas amigas.
eu sempre guardo seus cartões de amor, e um pedaço de bolo pra quando você chega. eu te conheço de outras vidas, talvez de outras peles e outras carícias. talvez eu seja Espírita. Não sei, não sei, não quero pensar, o sentir que vai me guiar. O pulsar que vai me afetar. Você sempre tira um pouco do gelo que puseram sobre meu peito.
eu provavelmente fui sua Rainha em algum castelo antigo, sua ninfa em alguma floresta proibida, sua guerreira e sua princesa. eu sempre fui sua. Eu busquei seu cheiro e sua pele desde tempos remotos. seu sexo e sua carne. sempre embriaguei meus sentidos nos vinhos da sua boca. talvez com medo, eu corri, desolada, sem freios e sem sandálias, para longe de ti.
mas você veio, caminhando lento, a pé, sem marcha, sem cavalo, com os pés já inchados. dizendo: ei, calma, você esqueceu os seus sapatos. Foi com você que compartilhei as estrelas quando perdi o teto, e entre os caminhos enluarados, tu segue junto os meus passos, e eu os teus. nos perderemos da civilização, mas não um do outro, enquanto nos mantivermos quentes e abraçados, ouvindo o som de Bowie ou Belchior.
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guessiamdoingfine · 8 years ago
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desculpa, doutor, mas eu não consegui. não sei como te dizer isso, mas ensaiei muito antes de chegar aqui. eu não consegui. sei lá, fui fraca, ou não fui persistente o suficiente. Simplesmente não consegui me desvencilhar do que é tão humano em mim. Sinto que falhei com você, que falhei com todos, falhei por sentir demais. E sinto muito. 
é a última linha, é o último trem. foi assim que comecei essa jornada nova, sabendo que ela seria a última. é o último vagão, a última estação. porque essa é a minha única vida. não há travessia de volta, apenas seguir em frente. entre a neblina eu enxergo que meu eu antigo se tortura ainda, como um bebê asqueroso convulsionando em febre, e não o quero de volta.
os sons são ensurdecedores, doutor. a raiva, o pânico, o terror de olhar bem de perto a própria alma. é espanto, é dor. não estou preparada pra isso, doutor. por favor. me entenda. me dê mais um tempo. doutor, é o coração quem sente, você não lembra dos contos de fada que te contaram? Deus, como é dificil sentir, e te fazer entender, doutor. por favor.
doutor, vamos falar de amor, de sentido, de essência, de existência. não fale de remédios comigo, doutor, eles já fazem parte da minha espinha dorsal. não me atormente me dando a cura, e depois guardando-a só para si. não é justo, doutor. eu gostaria de te dizer o quanto odeio todas essas farmácias do meu bairro, minhas limitações, doutor. 
doutor, teu nome é reverberado com um grito de dor.
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guessiamdoingfine · 8 years ago
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minha cara
Gosto de ao fim do dia Derramar água quente No pescoço frio Gosto de ter os pés roxos das andanças que fiz Dos caminhos que percorri Gosto da minha alma suja de lama Minha roupa amarrotada e salpicada de grama Gosto de ver coisas para contar histórias De vislumbrar o por do sol ardendo minha cara Eu gosto de viver, Eu gosto de viver, minha cara!
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guessiamdoingfine · 8 years ago
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quando deixamos
Quando foi que cometemos o assassinato da naturalidade? Quando deixamos de pisar nossos pés descalços na areia, e deixamos de sentir o gosto salgado do mar na boca? Quando foi que fechamos os vidros dos carros e nos recolhemos nos nossos ar condicionados? Quando foi que deixamos de sentir o vento e a brisa ensurdecer nossos ouvidos e bagunçar nossos cabelos? Quando foi que deixamos de andar a pé e olhar o caminho? E olhar as nuvens e apreciar as estrelas? Quando deixamos de admirar a paisagem e ficar acordados para ver o mundo ganhar cor? Quando foi que deixamos de acariciar um animal? Quando foi que deixamos de sentir o sol queimando nossa pele, e a bebida àspera atravessando nossa garganta? Quando foi que deixamos de mergulhar fundo nossas cabeças no mar, quando foi que deixamos que as rochas nos impedissem de escalá-las? Quando foi que deixamos de conversar por horas com as pessoas? Quando foi que deixamos de comer por medo de engordar? Quando foi que deixamos de dançar na frente do espelho? Quando foi que deixamos de querer voar? Quando foi que deixamos de querer gozar? Quando foi que não aceitamos nos perdoar? Quando foi que deixamos de plantar? De querer andar a cavalo e se molhar na chuva? Quando deixamos de admirar uma borboleta polinizar e um pássaro cantar? Quando foi que não queremos mais desejar? Quando foi que deixamos de imaginar? Quando foi que deixamos de rir loucamente por tolices? Quando foi que deixamos de querer sentir? Quando foi que nos impomos tantos contratos para viver? Quando foi que nos deixamos anestesiar?
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guessiamdoingfine · 9 years ago
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Hoje eu acordei cega, um frio insuportável tomava conta da minha alma e do meu quarto, eu abria os olhos sucessivamente, mas a escuridão não arrefecia. Minha alma congelada no medo de não conseguir enxergar um palmo a frente de meu nariz, sufocando nos travesseiros sem calor humano, sem o cheiro do meu espírito para confortar todo o descaso e desafeto.
Uma lágrima quente se desprendeu de um olho, e de susto me assaltei, e gritei para as paredes cerradas em noitidão, e continuei gritando o ar que não tinha nos meus pulmões, e nada aconteceu, nada aconteceu.
Eu estava sem vida como pedra
Mas se em uma nota
Eu escrevi
tudo isso aqui
Como posso estar morta?
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guessiamdoingfine · 9 years ago
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sou intensidade de amor e sonhos, não me caibo em pensamentos, tenho algo como um grande precípicio embaixo dos braços. olho para o abismo com mais frequência do que deveria, porque gosto do gosto de sangue na boca. mas desculpa, eu reivento minha loucura.
não preciso da tua ajuda, pela rua minha euforia ganha vida. eu sou o nome e sobrenome da mania, e a tristeza quando me alcanca, bem, já tenho minhas armas de vingança.
não me tomes por fraca, ando com uma grande faca empunhada, sabes, como numa fábula, sou um animal cheio de alma. mesmo ferida, minha mão continua erguida, em prontidão. cuidado, sou bicho feroz soltado na selva, sem nós nos pés, ou amarras nos braços.
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guessiamdoingfine · 9 years ago
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cherry wine
Wanessa, querida, queria te dizer que amor não é isso ai não. Wanessa, quem te deu esse nome de Deusa, queria que tu fosse feliz. que tu não vivesse na sombra, na penumbra do outro. Wanessa, meu amor, por favor, entenda, nada é mais importante que você mesma, em toda sua lindeza. Wanessa, eu sei que te ensinaram tudo errado, que pegaram pesado, e nunca te ajudaram. Mas, olha só pra você, Wanessa. Que mulher linda, parece uma canção de blues, um potente acorde de violão que reverbera no quarto como um gemido gostoso de ouvir, te conceberam a própria divindade, então não se maltrata, se ama até a alma.
Wanessa, eu te peço, e te impeço de se desamar. Eu não te impeço de viver tua tristeza com toda potência, mas não se deixa cegar. Eu sei que não é fácil, mas Wanessa, olha tua alma, quanta graça, fico até inebriada, estou em cada centimetro, irremediavelmente apaixonada.
Wanessa, wanessa, wanessa, não se deixa, Wanessa, não deixe de se amar.
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guessiamdoingfine · 9 years ago
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Que lindo!
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por Lucas Maciel Dadaísmo em Quadrinhos
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guessiamdoingfine · 9 years ago
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warm whispers
tenho uma alma velha como casca endurecida de fruta, mas com superficie as vezes suave e molinha que você deve tocar com cuidado. cuidado! seus dedos vão ficar melecados de minha seiva fresquinha, como aquele suquinho feito na hora, sem espera, docinho ou amargo, depende do gosto anterior da tua boca. da tua língua ao tocar meu céu da boca. opa! novamente não sei mais quem sou, e vai permanecer assim até o próximo ciclo da lua, até a estiagem, até a terra estar fecunda. meus frutos apodreceram, sou só folhas ressequidas pelo calor e pelo tempo, a primavera se encerrou em mim em cortejo fúnebre, mas estou certa de quem irá resnascer, será criança do inverno.
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guessiamdoingfine · 9 years ago
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sangue entre as unhas  (cont.)
Eu trazia sangue entre as unhas. Sangue antigo e sangue novo, de batalhas recentes e de velhas batalhas. O elmo pendia amassado sobre meus ombros exaustos, meu cavalo avançando lento e pesaroso pelas mortes que presenciou, era um cavalo jovem. Eu não me importava, ritmo não me era relevante aquela altura. Já lavara minha alma no penhasco, ao desferir o golpe final no maldito traidor do meu reino. o regozijo foi intenso, mas agora toda a emoção se esvaia com a bruma. eu me sentia vazia. A verdade é que aquela luta parecia agora sem importância, eu já sabia que era inatingível. o sangue que trago entre as unhas nunca será o meu. 
“Mitra vai te cobrar um preço alto, princesa” essas palavras ecoavam como se gritada pelos Deuses de todo o mundo. Eu fugia delas a todo momento, eu batalhava e continuava batalhando para fugir delas. Os pesadelos eram afastados pela vigília constante que fazia, dia e noite, e os homens sussurravam se eu estava me tornando um demônio. Não tinha medo de conspirações, eles depositavam toda a confiança em mim, e meu mérito era toda batalha sair incólume, e lhes da o sangue do inimigo. Também não tinha medo que me acusassem de bruxaria, porque não eram homens cristãos.
Mas sentia que o dia em que recuperasse Carfelion, eu não seria uma mulher feliz. Tinha a impressão de que Mitra me tiraria a vida no outro dia. As vezes minha luta não parecia ter sentido.
“Princesa!” alertou o escudeiro que estava mais próximo. Eu estava a pouco de cair do cavalo, entontecida pela bruma, e embriagada pelos pensamentos de incerteza. Abri os olhos, e me vi cega. Urrei, e escutei meu escudeiro esporrear o cavalo. “Princesa?”
“Não vejo nada” gritei. “Não enxergo nada, Barbo” E senti lágrimas quentes desprender dos olhos, queimando minha face levemente congelada. “Princesa, é a bruma” “ela faz isso, ela está escondendo tudo por horas, e estamos levando os cavalos em círculos.”
Por que não havia percebido antes? Acabara de lutar contra quem eu acreditara ser meu pior inimigo, mas nada foi maior que a sensação de horror que se apoderava de mim naquele momento. Barbo viu o desespero em meus olhos, eu estava mesmo horrorizada, nunca havia visto nada parecido. Para mim, aquelas brumas pertenciam aos velhos contos que minha ama contava para mim e minha irmã. Eu, mulher adulta, não podia percebe-las, a não ser que definitivamente estivesse me transformando em demônio.
“Chame o velho” falei, elevando um pouco a voz. Ouvi Barbo esporrear o cavalo naquilo que acreditava ser a direção oposta. Em direção ao velho celta, Nagui, cujas costas tão encurvadas pelos anos afirmava serem mortes que entregara para Mitra. Mas o ancião nunca, nem em seus anos de juventude, dispusera de força igual a minha.
Chegou balbuciando meu nome, era o único que tinha a coragem de chamar-me por ele. “Lití” pronunciou com a voz rouca, “alertei-a de isso poderia acontecer como vingança dos Deuses”.
“Eu o entreguei a Mitra!!” gritei. Não suportaria aquele velho me dizer que eu estivera errada ao aniquilar aquele que atormentara toda a minha vida desde que tornei-me uma exilada de meu próprio castelo.
“Receio, Liti” e senti a determinação em sua voz crescer, ele não me temia. “Você o matou por gozo e orgulho.”
“Se atreves a dizer que não o entreguei a Mitra, é isso, velho?” respondi. “Sim, Liti” falou, e com pouca felicidade ou qualquer afetação. “Não vou poupar-la de ouvir que essa morte não foi para Mitra”
“E eu devo pagar por isso então?” “Dei a Mitra cem mortes, sem contar com as vidas tiradas por meus homens, e não poderia aniquilar meu principal malfeitor?” Senti lágrimas escorrer novamente pelo rosto que há muito não via em um espelho.
Nagui suspirou profundamente, e seu suspiro me pareceu o suspiro de morte que eu sempre ouvia antes de matar um homem. Não desejava mais que ele me respondesse.
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