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ㅤ 　　Você nos traiu!, eles diziam, e eu nunca pude entender o porquê. Pelo menos até agora… 　　Durante toda a minha vida eu me senti estranho, como se às vezes uma parte do meu tempo congelasse e outra vida tomasse o lugar a partir dali. Assim também acontecia com tal vida, congelava e minha vida normal voltava a acontecer. Pensando ser apenas coisa da minha cabeça, eu ignorei; mas não por muito tempo. 　　Após entender exatamente — ou quase — o que estava acontecendo, eu preferiria não ter entendido. Como um ser como eu poderia existir? Meus pais, falecidos Nephilins��� eu sou um deles. Sou um Caçador das Sombras! Mas quando a luz da lua cheia reluz no fundo escuro do céu, eu me torno outra… coisa. Uma coisa que eu não deveria ser. E aparentemente as únicas pessoas que percebem isso são as que estão prestes a ser assassinadas, e ela… 　　A licantropia… deveria ter sido curada! Entretanto, uma parte de meu corpo parece ter absorvido a doença como uma droga. A doença criou uma nova pessoa dentro de mim, completamente diferente. Não é como se as duas identidades se misturassem. Eu tenho dois corpos, dois tipos de sangues, dois tipos diferentes de habilidades, dois nomes, duas vidas; completamente separadas, porém postas juntas dentro de um só homem. 　　Ora um fiel Caçador, tendo como função exterminar demônios e trazer paz ao mundo, ora um lobisomem, vagando agora sozinho pela escuridão da floresta. Sozinho, porém há um tempo acompanhado pela alcateia que lutou tanto para construir. O Nephilim a destruiu. Por mim eu nunca teria descoberto nada, mas ela notou e me ajudou a entender. 　　Margot estava lá aquela noite. 　　Em um segundo, o lobo caminhava acompanhado de três outros, e no outro, a lâmina serafim reluzia na escuridão e atravessava o peito de cada um dos seres ali, espantados com aquele que aparentava ser seu líder, ela me contou. No segundo seguinte, o Nephilim desapareceu. O lobisomem analisou a cena à sua frente. Havia acontecido rápido de mais. Ele estava caminhando com sua alcateia, o tempo congelou, e quando voltou novamente, todos estavam mortos. 　　Saindo de trás das sombras, a vampira revelou seu rosto pálido, encarando a figura do amado ajoelhado à frente dos outros. O sangue escorrendo pelo meu rosto e mãos. 　　— Você já percebeu o que está acontecendo aqui, Drystan? — ela viu que as runas haviam desaparecido de minha pele e que as armas que carregava comigo se desprenderam de minhas vestimentas e estavam agora jogadas pelo chão. — Ou devo dizer… Kenyon? 　　Este respondeu com sua respiração ofegante e um olhar espantado virando em direção à mulher. 　　— Eu vi tudo. Eu tentei o parar, mas não consegui…! — disse Kenyon pouco depois, para a surpresa dela. 　　Ele… viu? Ela pensou, imaginando esta ser a oportunidade para fazê-lo, ou melhor, fazer-me entender quem era. 　　Margot. A mulher que esteve com ambos e que não os temia. Um inimigo natural de sua espécie e um Caçador. Ela não tinha medo de nenhum de nós, e nenhum de nós pretendia criar qualquer guerra contra ela. 　　Se isso era contra qualquer regra? Claro. Mas desde quando regras têm algum significado quando se trata de amor?   　　Aquela mulher era o controle para o lobo e a perdição para o Nephilim, e mesmo assim, eu a amava. A amo. Mesmo correndo o risco de ser exilado por ambas as raças, eu a amo. Eu só preciso manter isso em segredo.   　　Ela me ajudou a entender e me contou o que havia acontecido aquela noite. Antes era confuso, estranho, mas agora, a partir daquela noite, quando um de nós tomava conta, o outro podia ver tudo o que acontecia. E paralelamente podiam tomar o controle quando quisessem, como um trabalho em equipe, mesmo um não suportando o outro.   　　De qualquer forma, um lado teria que ser escolhido, e eu tentarei com ambos. Atualmente vivo em um Instituto com mais Nephilins. Tudo perfeitamente normal até então. Alguns compromissos falsos criados para que eu e Kenyon possamos visitá-la, o segredo sendo guardado com êxito. Kenyon aprendeu a coexistir comigo, mesmo não suportando ver suas mãos repreendendo algum de sua raça de vez em quando. Por ela, eu dizia a ele, controle-se por ela! 　　Só espero que continue assim.