Assim como as estações do ano, tinha minhas mudanças constantes. Uma vez dessas, quis ser como a primavera: Sensível, delicado e bonito conforme o tempo. Na teoria, a ideia era boa. Tinha sentido, estrutura e só precisava de alguém disposto a me regar sempre. Na prática, faltou paciência. Ninguém me esperou florescer.
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SÉRIE: "CARTAS DE VERÃO PARA GAROTOS QUE ERAM MARÉ”
(Correspondências não enviadas entre dunes, coqueiros e amores que duram menos que bronzeado)
CARTA FINAL: "Do Garoto Que Aprendeu a Ser Farol"
Data: 1º de setembro, primeiro dia de primavera
Local: Mesmo bar, banco diferente
Querido Diário,Hoje o mar tá azul, mas não do mesmo azul que me engolia antes.
Agora ele só toca meus pés, como quem pede desculpas por ter tentado me afogar.
Um turista me chamou de "lindo" e, pela primeira vez, eu não procurei no elogio o eco da tua voz. Talvez seja isso que chamam de amadurecer: quando você percebe que nem todo olhar precisa ser espelho, e nem todo toque precisa do peso de uma promessa.
Guardo nossas memórias junto com a camisa social que uso nas noites mais caras:
— Sei que não combina mais comigo
— Mas ainda me serve quando preciso parecer alguém que já não sou
A diferença é que agora, quando as ondas vêm, eu não me escondo.
Eu as deixo passar, porque aprendi que ser farol não é impedir naufrágios, mas iluminar o caminho de quem ainda não sabe nadar.
Eu continuo sendo companhia, mas agora sou mais minha do que de qualquer outro.
(Último P.S.: Se um dia você voltar, minha porta terá tranca. Mas a janela do quarto estará aberta. Não por esperança. S�� porque, às vezes, a gente precisa de ar fresco.)
Autoria: Luíz Such
Este não é um fim. É um ponto de partida. Porque o mar nunca termina.
Amores? Esses a gente deixa à deriva.
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SÉRIE: "CARTAS DE VERÃO PARA GAROTOS QUE ERAM MARÉ”
(Correspondências não enviadas entre dunes, coqueiros e amores que duram menos que bronzeado)
CARTA #6: "Enviada por Engano pro Ex do Grindr"
Data: 31 de agosto, lua nova
Local: Wi-fi da padaria (senha: amor123)
C.,
Desculpa a mensagem de "ainda te amo" que mandei às 2AM. Era pra ser pro outro C. (o que me beijou na praia, não o que me bloqueou no Zap).
Mas já que leu:
— Sim, ainda tenho tua camiseta roxa
— Não, não lavei
— O cheiro já não é você, é só poeira e esperança
A vida, no fundo, é só isso: um "erro de destinatário" constante. Entre mensagens enviadas pra quem não devia e encontros marcados com quem nunca vai ficar.
Ontem, um cliente me perguntou se eu já amei alguém de verdade. Respondi que sim, mas não expliquei que era você.
Ele não entenderia.
Você, talvez, também não.
(P.S.: Se responder, eu juro que apago. Ou não. Deus sabe que eu coleciono más ideias.)
Luiz Such.
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(Correspondências não enviadas entre dunes, coqueiros e amores que duram menos que bronzeado)
CARTA #5: "Do Salão Que Cobra R$50 o Corte e Lava Nossa Alma"
Data: 20 de julho, 3:33PM
Local: "Cabelo & Cia" (Santos)
- onde o ventilador gira devagar como meu coração
Querido Ex-Freguês do Banco 3,
O Diego, o cabeleireiro, perguntou hoje por você.
"Cadê aquele gato que vivia com a mão no seu joelho?"
Eu ri, como se não tivesse passado a última madrugada fuçando teu Instagram até o fundo do poço (2017, foto com o ex que você jurou não ter amado mais do que amou a mim).
Cortei o cabelo. Ficou parecendo aquele ator de novela das 6 que você odiava.
Vingança passiva-agressiva, meus bem.
Mas, pra ser honesto, também foi porque um cliente pediu algo "mais clássico" pra hoje à noite.
A vida segue, mesmo que o coração ainda tropece no teu nome.
Tem um novo boy no apartamento 302. Ele canta no chuveiro.
Nunca será tua voz desafinando Lana.
Eu ouço do meu quarto, entre uma troca de roupa e um gole de vinho barato, pensando em como você sempre dizia que eu era "muito mais que isso".
Será que era mesmo?
(P.S.: Encontrei teu chinelo debaixo da cama. Joguei fora. Mentira. Coloquei no micro-ondas e deixei lá por 3 dias. Ainda tem teu cheiro.)
Luiz Such.
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(Correspondências não enviadas entre dunes, coqueiros e amores que duram menos que bronzeado)
CARTA #4: "Do Corsa 96 que Não Liga no Calor"
Data: 1º de abril (sem mentiras)
Local: Estacionamento do Shopping Jardins (SP)
- onde você me beijou na escada rolante
P.,
Hoje eu estava no estacionamento do shopping, esperando um cliente.
Fazia calor, e o carro morreu de novo.
Engraçado, né? Sempre parece que ele quebra nos dias mais quentes, como aquele 31 de janeiro em que a gente também quebrou.
Você disse que não queria nada sério, e eu só sorri, porque já sabia que, pra mim, nada pode ser sério. Não na minha vida.
Entre uma mensagem e outra no celular, pensei em você.
Um garoto passou e me chamou de "gato". Sorri com teus dentes na minha boca, sem querer.
É estranho, mas você ainda aparece nos detalhes — na forma como eu rio, como eu ajeito o cabelo, até no jeito que eu olho pros outros.
O rádio do carro agora só toca The Weeknd — você odiaria. Mas eu deixo tocar, porque, de alguma forma, combina com o vazio que sobrou depois de nós.
Saudade é:
— Teu número ainda no meu histórico de Uber, entre endereços que nunca foram meus
— Seu brinco de argola no porta-luvas, perdido entre recibos de clientes e batons esquecidos
— Essa vontade de te ver numa rede bebendo cerveja quente, me olhando como se eu fosse mais do que só um corpo alugado por algumas horas
(P.S.: Comprei um novo óleo de coco. Cheira a você. Joguei fora. Mas o cheiro ainda ficou nas minhas mãos, como tudo que você deixou.)
Luiz Such.
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(Correspondências não enviadas entre dunes, coqueiros e amores que duram menos que bronzeado)
CARTA #3: "Do Pier Onde os Garotos se Beijam Antes do Amanhecer"
Data: 14 de março, lua cheia e maré alta
Local: Farol da Barra (Salvador) - onde você me deu um selinho e um adeus
Diário,
Vi um cara com teus ombros dourados hoje.
Quase chorei. Quase cheguei. Quase virei estatística de tristeza com cheiro de protetor solar.
Você ainda usa aquela sunga vermelha que deixava marcas na tua pele? Eu guardei a tua por acidente na minha mochila, junto com o cheiro do último verão.
Virou meu santo remédio e veneno.
Lembrei da tua risada naquela noite, quando a gente dividiu o último drink no pier.
Você me chamou de imprudente por pular no mar à meia-noite, e eu só respondi que não sabia nadar.
Você riu e disse: "Eu te seguro."
Mas quem segura agora sou eu.
Seguro a saudade no peito, seguro a vontade de te ligar, seguro a memória daquele beijo salgado e do teu adeus sussurrado.
O mar tá engolindo as estrelas.
(Talvez eu pule. Mas dessa vez, ninguém vai me segurar.)
Luiz Such.
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SÉRIE: "CARTAS DE VERÃO PARA GAROTOS QUE ERAM MARÉ"
(Correspondências não enviadas entre dunes, coqueiros e amores que duram menos que bronzeado)
CARTA #2: "Do Motel que Cobra por Horas, mas Nunca Cura Saudade"
Data: 3 de fevereiro, madrugada úmida
Local: "Paraíso dos Anjos" (quarto 9, cama redonda)
Amor que Foi Sol de Verão
Tô ouvindo Chemtrails Over the Country Club no celular com a bateria piscando.
O ar-condicionado chia teu riso abafado.
A garrafa de Skol Beats vazia ainda tá no chão
— nosso troféu de um verão que se perdeu na estrada.
Lembrei do teu jeito de ajeitar os óculos escuros no cabelo, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Você ria quando eu te chamava de clichê de filme gringo, mas adorava o apelido.
Naquela tarde na praia, você roubou meu cigarro e disse que eu devia parar de fumar. "Pra durar mais um verão", você brincou, com aquele sorriso torto que me desmontava.
A recepção ligou perguntando se eu queria mais uma hora. Respondi que sim, mas só porque queria te sentir mais um pouco.
O quarto tá vazio, mas tua risada ainda ecoa por aqui.
(P.S.: O travesseiro tem teu cheiro. Ou talvez seja só minha vontade de te ter de volta. No fundo, acho que tanto faz.)
Luiz Such.
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SÉRIE: "CARTAS DE VERÃO PARA GAROTOS QUE ERAM MARÉ"
(Correspondências não enviadas entre dunes, coqueiros e amores que duram menos que bronzeado)
CARTA #1: "Do Garoto que Bebeu Seu Nome no Bar da Praia"
Data: 15 de janeiro, 5:17PM
Local: Bar do Caju (Aracaju) - onde o vento gruda sal na pele
Querido Fantasma de Óleo Solar,
Encontrei tua pulseira de miçangas hoje. Tava enterrada na areia igual nossas promessas. Guardei no bolso e cortei o dedo — sangue e lembrança têm o mesmo gosto metálica.
O bartender me serviu caipirinha sem perguntar. "Ele não voltou esse ano, né?" Disse que não com os dentes e sim com os olhos. Você sempre gostou dessa minha contradição.
O mar tá cor de *Venice Bitch* ao pôr do sol.
(P.S.: Joguei nossas fotos no rio Vaza-Barris. Você sabe que eu menti sobre ter apagado.)
Luiz Such.
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POSTCARDS FROM THE EDGE
Escrevo cartas que nunca vou enviar
endereçadas a fantasmas e amantes de verão
— os selos são feitos de lágrimas secas
e o correio é o fundo da minha gaveta
minha alma é um motel às margens da route 66
onde os viajantes param pra chorar
antes de seguir viagem
(e eu? eu fico. sempre fico.)
“dizem que a esperança é a última que morre
mas aqui ela já virou lenda urbana
— uma assombração que ronda meus dias claros
como fumaça de cigarro em tarde quente...”
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Casado, Mas Não Aqui: O Motoboy e Eu
Ele é casado. Tem uma mulher, um anel no dedo, uma vida que não me inclui—pelo menos não da forma que a gente se inclui quando tranca a porta e o mundo lá fora deixa de existir.
Não lembro o nome dele. Talvez eu nunca tenha sabido. Ele é só *o motoboy*—chega de jaqueta, botas sujas de estrada, aquele cheiro de vento e gasolina que some rápido quando a gente se encontra. Discreto. Rápido. Como se soubesse que aquele tempo é um roubo.
A gente não fala. Não precisa. Um olhar, a mão puxando meu cinto, e já estamos onde queremos: naquele lugar sem regras onde ele não é marido, eu não sou o cara solteiro, e a única coisa que importa é a boca molhada, o dente no pescoço, o jeito que a gente se esfrega como se quisesse virar um só.
Penetrar? Às vezes. Raro, mas quando rola, é selvagem. Ele já me empurrou na parede com uma força que quase arrancou o gesso, e eu já o virei de quatro e devorei como se fosse a última refeição da minha vida. Mas o melhor mesmo é quando a gente para no meio, ofegante, e só fica se beijando, se mordendo, dois cachorros vadios que não cansam do gosto um do outro.
A maconha ajuda—solta a carne, afunda a culpa. A fumaça sobe enquanto a gente desce, e ninguém precisa dizer que isso é errado. A gente sabe. Ele mais que eu. Mas quando a moto dele some no fim da rua, levando ele de volta pra *outra* vida, eu fico aqui, ainda com o gosto dele na minha boca, me perguntando quando—e como—a gente vai se encontrar de novo.
Porque ele é casado. Mas aqui, naquele quarto, entre quatro paredes, ele é só meu. Até deixar de ser.
Luiz Such
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Dizem que quando passamos por algo completamente sozinhos isso muda quem somos, não sei se para melhor ou pior mas ser a mesma pessoa de antes seria um insulto a tudo que você já superou até agora.

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Seus lábios macios tocaram os meus com uma vontade intensa, quase selvagem, de devorá-los. Nossos desejos explodiram à flor da pele, e, entre beijos e carícias, você se espalhou pelo meu corpo como uma febre contagiante – daquelas que, confesso, eu desejaria nunca curar.
Vania Grah
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