Este blog é um lugar de reflexão, de conversa e de ampliação. Ele surge no âmbito da disciplina Educação e Cibercultura do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Tiradentes (UNIT/PPED), ministrada pelas professoras Dra. Cristiane Porto e Dra. Alana Vasconcelos.O objetivo do blog é contribuir com a popularização da ciência a partir de produções sobre cultura, ciência e cotidiano num contraponto com a cibercultura e assim chegamos a um ponto importante: a Luneta Interconvexa. Uma luneta ajuda a explorar o universo, mas aqui a ideia é que o próprio observador é também o observado. Por isso a interconvexão. Ao olhar pela lente, ele enxerga não apenas a pluralidade das coisas, mas também consegue ver a si mesmo olhando em outra extremidade, e assim, tem a possibilidade de pensar o todo. Ele é um observador/observado que é multi: multiterritório, multicultura, multipotência. Ele é emissor e receptor de si e do mundo. Ele é, está e circula no universo que ele mesmo analisa e suas análises são meta. E ele (nós) é o autor de toda a produção que aqui iremos acompanhar. Quem sou:Sou Caio Mário Alcântara, Jornalista, Mestre em Educação e Doutorando em Educação pelo PPED. Pesquiso as culturas, as mídias, os espaços e suas relações com campos como a Educação e a Religiosidade. Sou professor de Comunicação Social na Universidade Tiradentes e tenho muito orgulho em ser pais de meus três pets: Hermes (meu anjinho), Hórus e Évora.
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Educar no digital: pensar a formação do professor

Na cibercultura, a aproximação entre a educação e a comunicação se faz muito evidente, visto que toda a ação cotidiana, inclusive os processos de ensino e aprendizagem, estão de modo definitivo mediados pelos dispositivos comunicacionais, que geram fenômenos como o da plataformização de conteúdos e uma nova organização das linguagens para o contexto das redes sociais (Poell, Nieborg e van Djick, 2020).
Organismos internacionais e instituições de ensino têm se debruçado em pesquisas e experiências em tentativas de integrar de modo efetivo a educação, a comunicação e a cibercultura, com vista à uma formação mais completa dos indivíduos.
Essa educação pressupõe aprendizagens personalizadas e independentes, que produz efeitos nos modos de construir conhecimento e integra os espaços de aprendizagem, demandando das instituições de ensino novas posturas diante do processo educacional.
Aqui há um ponto que merece ser melhor discutido: a atuação do professor. Se por um lado há certo consenso de que a docência é uma atividade importante para o processo de aprendizagem, por outro, reflexões mais recentes sobre o tema reforçam o caráter autônomo da aprendizagem na cibercultura, conferindo à docência um aspecto de tutoria.
Acontece que, apesar desse entendimento sobre as mudanças na docência, estudos mostram que não há alterações significativas na concepção de cursos e abordagens de formação de professores (Freitas, 2010). Na prática, o tema da cibercultura e suas implicações não compõem os currículos em cursos de graduação ou de formação continuada, ou seja, o professor segue sendo formado para atuar numa educação que já não existe mais.
Programas, leis e projetos apenas apresentam as novas demandas, orientam episódios formativos, mas deixam o professor à deriva, apenas apoiado na cobrança do que deve ser feito, sem que seja inserida a comunicação da cibercultura em suas experiências formativas (Vasconcelos, Ferrete e Lima, 2020).
O resultado de tudo isso foi comentado por Serres (1993), ao anunciar que o comunicador aprendeu a educar, mas o educador não aprendeu a comunicar. Assim, vivemos uma realidade em que redes sociais e plataformas digitais têm formado os sujeitos, mas a escola não consegue cumprir plenamente sua função. E aqui, consideramos que o professor é o elemento central para solucionar essa equação.
Em tempos de cultura mediada pelos dispositivos comunicacionais, discutir a profissão docente, seus fundamentos e práticas é uma tarefa que se faz importante. Essa discussão deve começar pela formação do professor.
Referências
SERRES, Michel. Filosofia mestiça. Trad. Maria Ignez Estrada. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
POELL, Thomas; NIEBORG, David; VAN DJICK, José. Plataformização. Revista Fronteiras - Estudos Midiáticos, v. 22, n. 1, p. 2-10, 2020, DOI 10.4013
VASCONCELOS, Alana Danielly; FERRETE, Anne Alilma Silva Souza; LIMA, Ivonaldo Pereira de. Formação docente para o uso dos aplicativos do Google for Education em sala de aula. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 15, n. 4, p. 1877–1887, 2020. DOI: 10.21723/riaee.v15i4.12741. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/12741 Acesso em 05 de junho de 2025.
FREITAS, Maria Teresa. Letramento digital e formação de professores. Educação em Revista, v. 26, n. 3, p. 335-352, dez., 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/edur/a/N5RryXJcsTcm8wK56d3tM3t/ Acesso em 05 de junho de 2025.
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Resumido

Em tempos de respostas instantâneas e de atenções atômicas, conhecer um podcast que tem a intenção de resumir como proposta é algo, no mínimo, intrigante. Essa é a ideia por trás do “Resumido”. O podcast se torna ainda mais instigador quando você lê a descrição dele, onde se diz que ele “conecta as notícias e artigos mais relevantes da semana no universo da cultura digital, explicando como a tecnologia impacta todos os aspectos em nossas vidas”. Sim, todo esse conteúdo está comprimido numa narrativa de cerca de 20 minutos, com uma mistura de notícia e opinião leve e descontraída.
O podcast, idealizado e desenvolvido pelo jornalista Bruno Natal, foi apresentado a mim por um de meus alunos da Comunicação. Em nossa última interação numa aula de Assessoria de Imprensa a conversa evoluiu para a produção de informação na cultura digital e hoje, ao abrir meu WhatsApp pela manhã, lá estava a recomendação. Episódio #315, com o título “Parem a internet que eu quero descer!”
A variedade de temas nos demais episódios é enorme. Os ouvintes podem ter acesso a discussões que vão desde a experiência sensível humana frente aos usos da internet, até a aplicação de dispositivos tecnológicos no mercado de trabalho, sem deixar de passar por tópicos polêmicos, como a autoria em tempos de Inteligência Artificial (IA) ou o envolvimento de influenciadores com aplicativos de apostas online.
Nesta edição que foi apresentada a mim, na qual o podcast discute temas como a busca por desconexão e o empenho de bigtechs em tornar a IA mais atrativa, três pontos chamaram minha atenção e me fizeram refletir. Listo aqui em ordem, não de importância, mas cronológica.
O primeiro deles é o exemplo dos retiros para desconexão. No episódio, é discutido que cresce em alguns países o número de hotéis e pousadas que ofertam pacotes individuais e em grupos para temporadas sem conexão com a internet. Há uma problematização que me lembrou de um pensamento foucaultiano: falamos das coisas para reprimir as coisas.
É preciso problematizar não apenas uma sociedade em que as pessoas precisam de reabilitação do online, mas principalmente todo o comércio que se forma e fortalece em torno desse fenômeno. Muito mais do que pitoresco ou patológico, esse problema é cultural. Cabe a nós, sociedade, discutirmos de forma política e aprofundada.
O segundo ponto é quando ele fala de uma mudança comportamental. Passamos de uma sociedade que tem prazer em participar, para uma que tem prazer em não fazer parte. De interações, de festas, de discussões... do espaço público. Para Bruno Natal, isso é reflexo de um mundo exausto por tantos estímulos, tarefas e exposições. O que nos diria Han diante disso, hein?
Por fim, impossível não falar dela. Lucia Santaella. Ao discorrer sobre os efeitos da IA, o podcast adentra nas discussões da integração entre o corpo humano e os dispositivos informacionais. Uso de óculos, chips, aplicativos de localização, até mesmo a troca de profissionais reais por avatares virtuais. Tudo isso no bojo das notícias sobre tecnologias digitais da semana e tudo isso já discutido pela venerada pesquisadora.
Tudo isso me lembra outra indicação, sobre a qual podemos falar mais à frente, que é a série “Cassandra” disponível na Netflix. Discute as IA’s por uma perspectiva alucinante e ainda nos faz refletir sobre os limites da imersão corpo máquina. Ficam as recomendações.
Para quem se interessar:
Podcast Resumido | EP #315 - https://open.spotify.com/episode/74T2OwmHEG8YJu7j9EDwY6?si=r6BWK2ZFTWqwIS1kM-R6Ng
Série Cassandra - https://www.netflix.com/br/title/81621534?s=i&trkid=0&vlang=pt
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Ler na cibercultura: um ato de experiência, formação e diversão.

A cibercultura demanda novas abordagens educacionais e o processo de ensino e aprendizagem deve levar esse contexto cultural em conta. Larrosa (2002), defende que não é papel da educação formar indivíduos em abordagens puramente técnico-científicas, centradas numa razão purista, mas buscar abordagens que sejam pautadas na experiência, o que está em conformidade com o mundo atual.
Esse assunto é tangenciado por Porto e Santos (2019). Falar sobre livro e leitura é um tópico fundamental nas discussões sobre sociedade. Burke e Briggs (2004) comentam como o impresso e o livro revolucionaram os processos sociais e históricos e autores como Kerckhove (2009) discutem como a leitura influenciou a composição das culturas. Santaella (2022), por sua vez, defende que o livro é o propulsor de uma das revoluções cognitivas da humanidade.
Neste tópico, o que Porto e Santos (2019) trazem é que, seguindo essa lógica de um contexto de aprendizagens por experiência, o livro, elemento central na composição social, perde seu sentido se não estimula a participação, a multilinguagem e a interação. Em outras palavras, as mudanças da cibercultura são tamanhas, que interferem mesmo na natureza da leitura e faz com que o livro, para seguir com sua influência enquanto mídia, precise se adaptar a novos dispositivos, linguagens e formatos, deixando de ser uma mídia de leitores passivos para alcançar um público ubíquo.
Como podemos relacionar isso com as aprendizagens do hoje? Trago novamente Larrosa (2002), que defende a aproximação do processo educativo das experiências como uma forma de promover uma educação política, crítica e emancipadora. Assim, entendo que estimular a composição midiática e a leitura de meios comunicacionais em alinhamento com as expectativas da sociedade do ciber é um caminho para uma formação de indivíduos mais aptos à produção cultural neste contexto.
Ainda neste sentido, destaco que há outra característica importante a ser discutida: o lugar da colaboração. Há quem chame o leitor da atualidade de prosumer (Tofler, 1981), de EMIREC (Coultier, 1973), ou de diversas outras nomenclaturas, mas o fato é que, como previa Lévy (2010), na cibercultura há a consolidação de um novo perfil de leitor (de mídias e de mundo): um sujeito que é fruto da participação, que consome e produz cultura na mesma intensidade e em processos simultâneos.
Isso é destacado por Porto e Santos (2019) quando falam, por exemplo, que “o novo leitor lê, anota, pinta e borda, tudo no dispositivo de leitura. [...] discute junto com outros leitores [... e] precisa de um livro de tal modo” (p. 34). A mobilização e o debate público pelas mídias da cibercultura é algo também mostrado em estudos como o de Gonçalves (2012), que destaca o papel articulador da arte e das tecnologias da comunicação. Tudo isso culmina em um fenômeno de grande relevância social na atualidade: os memes.
Há muito a ser discutido quando se fala em memes, indo além de sua concepção ou conceitualização. Um ponto a ser destacado é que, inegavelmente, ele se consolidou como uma forma de leitura popular nas redes sociais. Aqui, declaro que entendo o meme como texto, com uma linguagem muito específica, voltada a alcançar um público que se interessa por uma comunicação leve, voltada ao humor, à piada e à brincadeira (Oliveira, Porto e Cardoso Júnior, 2020).
E se pensarmos que há uma relação muito forte entre os modos de ser, a experiência e as aprendizagens, não podemos dissociar elementos da cibercultura, como os memes, dos processos educativos e mesmo dos debates acerca da divulgação de ciência e da expansão do conhecimento. Mas esse é um tópico que falaremos mais à frente.
Referências
BURKE, Peter; BRIGGS, Asa. Uma história social da mídia: de Gutenberg à Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
COULTIER, Jean. La communication audio-scripto-visuelle à l’heure des self média. Montreal: Les Presses de l’Université de Montreal, 1973.
GONÇALVES, Fernando do Nascimento. Arte, ativismo e tecnologias de comunicação nas práticas políticas contemporâneas. Contemporânea, Ed 20, Vol. 12, N. 2, p. 160-192, 2012.
KERCKHOVE, Derrick de. A pele da cultura: investigando a nova realidade eletrônica. São Paulo: Editora Annablume, 2009.
LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação. N. 19, jan-abr, p. 20-28, 2002.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2010.
OLIVEIRA, Kaio Eduardo de Jesus; PORTO, Cristiane; CARDOSO JÚNIOR, Leonardo Fraga. Memes sobre ciência e a reconfiguração da linguagem da divulgação científica na cibercultura. Acta Scientiarum, V. 42, p. 1-12, 2020.
PORTO, Cristiane; SANTOS, Edméa. O livro na cultura digital: entre fios inovadores para conceber um novo formato de ler e escrever. In: PORTO, Cristiane; SANTOS, Edméa (org). O livro na cibercultura. Santos: Editora Universitária Leopoldina, 2019.
SANTAELLA, Lucia. Neo-humano: a sétima revolução cognitiva do Sapiens. São Paulo: Paulus, 2022.
TOFLER, Alvin. A terceira onda. Record: São Paulo, 1981.
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Realidade aumentada e a imersão com dispositivos: uma experiência

A cibercultura traz à vida ideias e conceitos que são pensados e desenhados pelas artes e pela ciência. Quem nunca assistiu a um filme ou desenho em que a realidade aumentada deu o tom da narrativa? Acesso a mundos e espaços virtuais onde era possível todo e qualquer tipo de interação? Quantos não são os livros e artigos que teorizam e preveem um futuro cada mais pautado na relação entre humanos e tecnologias?
Pois é, esses sonhos e expressões tendem a se tornar realidade num ritmo cada vez mais acelerado e não tem sido difícil encontrar experiências, por exemplo, no campo da educação que comprovem a imersão entre o virtual e a vida cotidiana. É o caso da vivência da turma da disciplina Educação e Cibercultura, componente curricular do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Tiradentes.
Numa imersão que uniu a turma com uma representante da Ada Metaverse, uma startup de neuroenganharia que cria experiências educacionais no campo do metaverso, foi possível experimentar o conteúdo de realidade aumentada produzido para turmas da disciplina de anatomia. O princípio é simples: viabilizar um laboratório de anatomia humana virtual, em que seja possível para os estudantes visualizar as peças do corpo com uma qualidade de imagem maior que a dos livros e sem os problemas e limitações de um laboratório físico.
A experiência segue todos os preceitos do que é a realidade aumentada, definida como “enriquecimento do mundo real com informações virtuais [...] geradas por computador em tempo real” (Kirner e Kirner, 2011p. 16) e trouxe ainda aspectos como interação com o mundo real e o alinhamento espacial entre os dois, algo pontuado por Azuma (2011). Na prática, quem participou da experiência pôde, por meio da utilização de óculos especiais, interagir com uma simulação de corpo humano, conhecer especificidades técnicas de peças específicas e tudo isso, sem perder o contato visual com a sala de aula física onde todos estavam situados.
De certo, esse tipo de experiência é uma possibilidade muito rica para a promoção de uma formação mais completa, que abarque, além dos aspectos técnicos de disciplinas, questões que envolvem ética, democratização de acesso e letramento para as mídias e dispositivos tecnológicos. Afinal, aprender na cibercultura é uma ação que pressupõe imersão e exploração de novas linguagens e recursos, algo que está contemplado em vivências com a realidade aumentada.
Referências
AZUMA, R., et al. Recent advances in augmented reality. IEEE computer graphics and applications, v. 21, n. 6, p. 34-47, 2001.
KIRNER, C.; KIRNER, T.G. Evolução e Tendências da Realidade Virtual e da Realidade Aumentada. In: Ribeiro, M.W.S.; ZORZAL, E.R. (Org.). Realidade Virtual e Aumentada: Aplicações e Tendências. Realidade Virtual e Aumentada: Aplicações e Tendências. 1 ed. Porto Alegre: SBC, 2011, v. 1, p. 8-23.
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Cibercultura e comunicação: precisamos falar sobre divulgação de ciência

A produção de ciência está diretamente ligada ao desenvolvimento social e está em todos os campos da vida humana. Por isso, ela entra, cada vez mais, nos espaços de comunicação social, como o jornalismo e a televisão. Essa é uma ideia defendida por pesquisadores como Porto, Oliveira e Rosa (2018) para o quais, vivemos num contexto em que a discussão sobre ciência necessita sair de seus espaços tradicionais e adentrar nas casas e cotidianos do público em geral.
Hoje, estimular a circulação do conhecimento científico é uma forma de buscar soluções para problemas típicos da sociedade na cibercultura. Se por um lado vivemos num mundo cada vez mais tomado pela desinformação e que encontra nas redes sociais um terreno fértil para se desenvolver, por outro, a forma mais rápida e eficaz de combater esse problema é investindo em formação e em consumo de ciência.
Acontece que o público, de um modo muito geral, está acostumado a consumir apenas aquilo que lhe convém. Já discutimos esse assunto em nossa última interação, mas vale sempre ressaltar: falar em redes sociais é discutir uma comunicação que entrega conteúdo específico a um público determinado. E esse público tem demonstrado diminuição no interesse pelo tema, segundo pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (2023).
Mas o que a falta de acesso a conhecimento científico pode acarretar para a sociedade em geral? Destaco aqui o que para mim são dois pontos principais. O primeiro deles é que, assim como afirmei no começo do texto, falar sobre ciência é falar sobre vida. Neste sentido, saber o que cientistas produzem e quais os efeitos desse trabalho é um direito e a sua não ocorrência é uma forma de exclusão.
O segundo diz respeito à segurança. Se conhecemos, por exemplo, o que a ciência tem a nos explicar em termos de algoritmos, segurança de dados e usos seguros da internet, estaremos muito melhor preparados para lidar com golpes e crimes, além de estarmos mais aptos a enfrentar práticas como as fake news, que deturpam informações sobre política e saúde, para citar apenas alguns campos.
Levar a ciência para o centro da produção midiática, desde a televisão até as redes sociais, com linguagens cada vez mais diversificadas, é uma forma de garantir uma sociedade mais protegida, mais participativa e melhor formada. Um tema que merece destaque, atenção e que, certamente, voltará a ser discutido por aqui.
Uma boa experiência
Deixo aqui uma sugestão. Um exemplo, caso prefira. Uma reportagem do programa Globo Rural, exibido na televisão e que faz um bom trabalho de divulgação de ciência. Não é sobre rede social. Não fala sobre golpes e nem algoritmos. Mas discute algo de extrema relevância: acesso e democratização de conhecimento.
youtube
Referências
BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Percepção pública da C&T no Brasil – 2023. Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2024
PORTO, Cristiane; OLIVEIRA, Kaio Eduardo; ROSA, Flávia. Profusão e difusão de ciência na cibercultura: narrativas em múltiplos olhares. Ilhéus: Editus, 2018.
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Informação, redes sociais e o despertar

Estava eu naquele momento da manhã, entre decidir se acordo ou se mudo o canal da televisão, ainda tomando minha xícara de café reflexivo lá pelas 6h, quando resolvo não escolher entre as opções disponíveis. Ao invés de uma ou outra, opto pela terceira via e ingresso no universo acolhedor das redes sociais. O ritual é sempre o mesmo: abro o Instagram, vejo os stories dos (talvez) cinco primeiros perfis listados e aperto no perigoso ícone da lupa. Pronto. Abriu-se o portal para a terra de onde não há mais volta.
Caí no lugar em que o conforto é a regra, no país onde o guilty pleasure escolheu fazer morada. Minha bolha, otimizada para operacionalizar a minha visão do que é o mundo. Ela não falha. Santaella (2018) nos conta que essa relação que temos com as redes sociais e todo seu complexo sistema de algoritmos é, na verdade, fruto de “tendências homofílicas que fazem parte do funcionamento do psiquismo humano” (p. 7). Jeito bonito de dizer que somos egóicos.
Por outras palavras, as redes nos mostram o que queremos ver. Quer seja o que nos interessa, o que nos aproxima ou mesmo aquilo que nos incomoda. Ao acessarmos um desses espaços virtuais, vamos nos conectar com a informação que fornecemos às plataformas. É assim que funcionam os tão detestados algoritmos. Coitados... A responsabilidade (para não dizer culpa) daquilo que forma nossa opinião na internet é nossa, e isso quem nos ensina é a própria Santaella (2018).
Pois bem. Entre gatos aprontando peraltices, danças de orixás, notícias da MPB e ex-presidentes arranhando um péssimo inglês, me deparo com algo que prendeu minha atenção. Exatamente o que figura como imagem inicial desta nossa conversa. Um print de post feito por um usuário do X (@lwnzi) e mostrado a mim por uma publicação do perfil @memesbrasil. Transcrevo aqui o conteúdo do print:
"a quantidade de problema que eu já resolvi no trabalho só pesquisando no google e o pessoal reagindo como se eu fosse um gênio!!!!!!!! Como pode que um diferencial no mercado de trabalho eh literalmente saber buscar informações por conta própria!!!!!!!!!!!!!"
Independente do referencial, uma posição é demarcada: vivemos num mundo completamente ligado à informação. Castells (2013) definiu esse contexto como a Sociedade da Informação, ressaltando o papel das tecnologias da comunicação nas ações sociais. Berardi (2019) conceituou o semiocapitalismo como resultado dessa centralidade informacional, que tem na semiótica do ser a essência do existir e o valor de cada um em uma sociedade. São muitas e diferentes as abordagens...
Mas veja só, apesar da consolidação dessas questões, há quem ainda não tenha se dado conta do quanto informação e conhecimento estão relacionados e o quanto, juntos, interferem em nosso cotidiano. Vivemos hoje num mundo em que compreender as mídias e lidar com a informação é uma característica básica para uma aprendizagem crítica, para a inserção no mercado de trabalho, para ter soberania na própria vida. Finalmente, para ser cidadão.
O conteúdo do post no Instagram me trouxe essa reflexão: o quanto o convívio com as redes sociais modificou nossa cultura. Estamos tão imersos em informação que sequer percebemos que ela nos cerca. Quem não sabe pesquisar na internet, acredita que essa competência é algo extraordinário e quem a domina, não tem sequer a noção de que uma pesquisa na internet não é algo simples. Envolve política, letramento e liberdade. Especialmente em tempos nos quais os filtros informacionais trabalham para nos entregar apenas o que nos convém. Tempos limitados esses da pós-verdade...
Depois de uma eternidade de instantes pensando sobre isso tudo, acordei. Não foi o café, não foi o jornal na televisão, talvez tenha sido a cibercultura. Certamente foi a tela do smartphone o meu despertador. Ali, parado, não percebi que o dispositivo foi bloqueado. Vi meu reflexo olhando para mim e, contrariando o que Santaella nos fala ao citar Caetano, achei feio o que vi.
No susto, levantei, resisti à tentação de voltar ao Instagram, desisti do café frio e nem lembrei do que passava no telejornal. Apenas segui com os afazeres matinais e fui para o trabalho. Com pesquisa. Com letramento. Com informação. Até que ponto verdadeira, já é assunto para outras conversas...
Referências
BERARDI, Franco Bifo. Depois do futuro. Tradução Regina Silva. São Paulo: Ubu Editora, 2019.
CASTELLS, Manoel. A Sociedade em rede (vol. 1). São Paulo: Paz & Terra, 2013.
SANTAELLA, Lucia. A Pós verdade é verdadeira ou falsa? [recurso eletrônico]. Barueri: Estação das Letras e Cores, 2018.
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Educação, cibercultura e novos rumos

Entre os temas que se cruzam nos debates sobre educação, há um questionamento que sempre se faz presente: para onde aponta o futuro da formação de pessoas numa sociedade midiatizada? A discussão não é nova, Buckingham (2010) já falava que desde o surgimento do cinema havia vozes que previam o fim da escola. Mesmo se voltarmos séculos, para contextos em que sequer existiam as mídias digitais, como a França Iluminista de Rousseau ou a Alemanha reformista de Comenius, veremos que a pergunta já estava lá. Afinal, pensar e construir o futuro é uma atividade que pressupõe conhecer quem serão os sujeitos desse futuro.
Exemplos do passado são importantes nessa discussão. Eles mostram como a cultura ocidental concebeu a arquitetura mental de gerações e como nesse processo, modos de ser foram reforçados, exterminados ou consolidados. Essa é uma informação muito cara para entendermos nossos problemas e potencialidades, mas sozinhas, as experiências do passado não respondem nossa questão inicial.
Isso porque lidamos hoje com um novo contexto: a cibercultura. Lemos (2007) nos explica que este é o momento cultural de forte imersão em processos comunicacionais totalmente atrelados ao uso da internet, a qual, obviamente, não foi foco de análises educacionais no passado. Era impossível pensar um mundo de territórios recombinantes e de cultura remix quando o digital sequer existia.
Mas ele chegou. Hoje a cibercultura, a inteligência coletiva, as interações nas redes não apenas são uma realidade, como trouxeram efeitos antes inimagináveis e cada vez mais urgentes. Se no passado se concebia uma educação voltada à instrução, para formar pessoas aptas a reproduzir um status social, hoje lidamos com um mundo que demanda pessoas mais autônomas e produtoras. As três leis da cibercultura, também anunciadas por Lemos (2007), provocaram muito mais que o hábito de criar, emitir e transformar: elas fomentaram a necessidade de imergir no processo de recombinação.
A questão que nos preocupa é compreender qual o lugar que a escola ocupa nesse contexto. Se até o começo do século XXI ela era a instituição que formava as pessoas, hoje elas já chegam à escola minimamente formadas pelas mídias, algo já discutido por Buckingham (2010). O resultado é que o processo educacional foi forçado a agregar uma série de saberes, competências e práticas formativas, que contemplam o conhecimento técnico e a concepção moral de sujeito, sem ter tempo nem condições de pensar os tópicos principais do debate: quem é o sujeito da cibercultura; o que ele precisa ser/saber/conhecer; e como a escola pode contribuir para formá-lo.
A urgência do ciber invadiu os modos de ser na sociedade e forçou as instituições a seguirem a liderança da internet no processo de concepção de sociedade. A questão é tão séria que já desperta a preocupação de pesquisadores em áreas como a formação de políticas públicas educacionais (Heinsfeld, 2019), avaliação educacional (Alcântara, Loureiro e Linhares, 2021), tecnologias educacionais (Valente e Almeida, 2022) e inteligência artificial (Alves, 2023).
Seguimos, no entanto, sem respostas para nossa pergunta inicial e, mais do que nunca, sem certezas sobre o fenômeno. O que há apenas é a preocupação manifestada em compreender o que se passa num ritmo cada vez mais frenético para que, em meio ao caos cibernético, seja possível entender as necessidades formativas para o futuro e então, qual o papel que a formação de pessoas deve desempenhar.
Referências
ALCÂNTARA, Caio Mário Guimarães, LOUREIO, Maria João; LINHARES, Ronaldo Nunes. Avaliação como aprendizagem: conceptualização e mapeamento de estudos . Estudos Em Avaliação Educacional, 32, e07560, 2021. https://doi.org/10.18222/eae.v32.7560
ALVES, Lynn (org). Inteligência artificial e educação: refletindo sobre os desafios contemporâneos. Salvador: EDUFBA ; Feira de Santana: UEFS Editora, 2023.
BUCKINGHAM, David. Cultura Digital: Educação Midiática e o lugar da Escolarização. Educação & Realidade, v. 35, n. 3, setembro/dezembro 2010, pp. 37 - 58. Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre, Brasil. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/3172/317227078004.pdf Acesso em: 15 fev. 2018.
FREITAS, Rogério Gonçalves de; COELHO, Higson Rodrigues; OLIVEIRA, Marcos Renan Freitas de. Educação do futuro ou futuro da Educação? Pandemia, educação à distância e reflexões sobre plataformas de resistências globais. Educação Em Foco, 26(Especial 04), 2022, e26089. https://doi.org/10.34019/2447-5246.2021.v26.36730
LEMOS, André Luiz Martins. Cibercultura como território recombinante. In: MARTINS, C. D; SILVA, D. C. e; MOTTA, R. (org.). Territórios recombinantes: arte e tecnologia. São Paulo: Instituto Sérgio Motta, 2007. p. 35-46. Disponível em: https://edumidiascomunidadesurda.files.wordpress.com/2016/05/andrc3a9- lemoscibercultura-como-territc3b3rio-recombinante.pdf Acesso em: 23 maio 2018.
VALENTE, José Armando; ALMEIDA, Maria Elizabeth Biancoccini de. Tecnologias e educação: legado das experiências da pandemia COVID-19 para o futuro da escola. Panorama Setorial da Internet. N 2, Jun, Disponível em https://cetic.br/media/docs/publicacoes/6/20220725145804/psi-ano-14-n-2-tecnologias-digitais-tendencias-atuais-futuro-educacao.pdf Acesso em: 02 abr 2025
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Sobre caminhos, podcast e sociedade
Toda caminhada é cheia de surpresas. Quase nunca se sabe, já no começo dela, o que você pode encontrar pelo percurso. E é sobre isso que vamos falar agora. Tenho uma relação muito pessoal com o Candomblé, não é de hoje que ele me cerca e desperta a atenção, mas fazem apenas três anos que resolvi dar os primeiros passos na religião. Nunca imaginaria, lá naquele começo, que o podcast seria uma ponte entre minha profissão, minha religiosidade e a possibilidade de gerar algum impacto, ainda que mínimo, numa comunidade tão carente de espaços de discussão pública.
Se pararmos para analisar, as religiões de matriz africana, no geral, sofrem com uma narrativa midiática preconceituosa, especialmente em produtos audiovisuais, que é fruto de um processo histórico opressor. Assim, seus sujeitos e suas práticas estão limitados a formas alegóricas, aparecendo em novelas, séries e filmes sempre em momentos de vingança, de desespero ou como fantasia.
Enquanto cidadão essa interpretação nunca foi possível. Somente quando passei a conviver com o Candomblé e, posteriormente, cumpri os ritos de iniciação, é que pude verificar o quanto a falta de discussões públicas atinge o cotidiano dos adeptos das religiões de terreiro. Poder falar, com autonomia e empoderamento, sobre sua religião é importante para combater preconceitos e também, para educar. Os de fora e os de dentro. E esses espaços de comunicação são escassos e pouco divulgados entre a própria comunidade do Candomblé.
Nesse sentido, o podcast se mostra como uma potência muito significativa. Para além de ser uma mídia do momento, ele permite uma comunicação rápida, fácil e democrática, já que atua na simplificação aprofundada de temas. Além disso, ele é altamente direcionado, como nos aponta Jesus (2014) ao dizer que ele surge, justamente, para atender a demandas pessoais de dados e informações.
Juntando esses pontos, percebi onde estava uma possível (e singela) contribuição minha: a criação de um podcast que discutisse temas do Candomblé. Pautas de movimentos sociais, segurança pública, arte, histórias de vida. Devemos sempre lembrar que nos nossos contextos sociais, por mais diferentes que sejam, há um ponto em comum, o fato de que vivemos uma cultura cibernética, pautada na inteligência coletiva e, neste sentido, somos todos atores em prol do debate público, da ação e da ampliação e manutenção das liberdades. Isso já nos diziam Lemos e Lévy (2010).
É assim, com essa intenção, que nasce o ‘Caminhos de Odé - sabedoria ancestral para questões do cotidiano’. A primeira temporada, disponível em canal no YouTube e no Spotify, conta com 16 episódios todos com cerca de 1 hora de duração. No conteúdo, entrevistas com personalidades direta e indiretamente relacionadas com o Candomblé e a Umbanda, em debates pautados nas histórias e visões de mundo deles.
Como resultado, muitos depoimentos nas redes sociais e pessoalmente, em festas de terreiro e funções religiosas, apontando para a importância e a contribuição de um espaço midiático feito por alguém do Candomblé, para falar sobre a cultura afro-brasileira. Muitos dos quais, com foco na relevância desses depoimentos para que pessoas de fora da religião conheçam as práticas de forma não preconceituosa ou estereotipada.
Para mim, duas reflexões: em primeiro tópico, a comunicação e a cibercultura têm, de fato, uma contribuição enorme para as questões sociais, ajudando na quebra de preconceitos e colaborando para o empoderamento de pautas e de grupos; numa segunda instância, o podcast, elemento da cibercultura, foi fundamental para que eu pudesse compreender melhor minha caminhada e o papel que cada um, por menos influente que possa parecer, pode desempenhar no processo social.
A primeira temporada do ‘Caminhos de Odé’ está disponível para audiência e colaborações. Sobre uma segunda temporada... só acompanhando os próximos passos. Quer conferir? Acesse os links:
Caminhos de Odé no YouTube
Caminhos de Odé Spotify
Referências
ALCÂNTARA, Caio Mário G. Caminhos de Odé: sabedoria ancestral para questões do cotidiano. Aracaju, 2024. Disponível em https://www.youtube.com/@caminhosdeodepodcast acesso em 21 de março de 2025.
JESUS, Wagner Brito de. Podcast e educação: um estudo de caso. 2014. 56 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro. Disponível em http://hdl.handle.net/11449/121992 acesso em 21 de março de 2025.
LEMOS, André; LÉVY, Pierre. O futuro da Internet: em direção a uma ciberdemocracia. São Paulo: Paulus, 2010.
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