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mrshanklyn · 3 years
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“Carrie, A Estranha” e como somos moldados pela sociedade em que vivemos
Cuidado com SPOILERS e peguei alguns pontos que já havia falado na minha resenha do Skoob.
Como primeira publicação eu decidi trazer minhas considerações sobre um livro que terminei recentemente, Carrie, A Estranha, de Stephen King.
Sempre admirei Stephen King, e recentemente percebi que consumi menos obras dele do que eu gostaria de ter consumido. Comecei então minha “Maratona King”, decidi ler todas as obras dele em ordem cronológica, para entender melhor como esse escritor se desenvolveu até virar uma referência do terror moderno.
Por ser o primeiro livro do King, é possível ver nascendo e em sua forma mais básica, alguns pontos que se tornariam marcas registradas da escrita dele, como por exemplo: as idas e vindas da linha temporal, que na minha opinião tornaram a leitura mais dinâmica, uma maneira interessante de aprofundar a história sem ficar maçante. Além da cultura dos anos 70 dos estados unidos que fica bem explícita na fala e nas ações dos personagens, sendo muitas vezes preconceituosa e intolerante.
Existem muitas coisas a serem ditas sobre Carrie, mas vamos matar o óbvio, sabemos que Carrie carrega um grande peso sobre a questão do “sangue”, ela conseguiu seus poderes pelo sangue (genética) e eles surgiram pelo sangue (primeira menstruação), seu destino foi marcado com sangue no baile, entre outras coisas. Além da questão de como King consegue pintar muito bem a relação obsessiva e doentia que as pessoas podem ter com a religião.
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Mas o que mais me marcou e a primeira coisa que me deparei quando comecei Carrie foi o excesso das ações e das reações, tudo é levado ao extremo, como se a vida fosse um “8 ou 80″, a religião, a violência, o sexo, a rebeldia e até pequenas discussões como a do diretor Grayle com o John Hargensen, pai da Chris, chegam à lugares que me deixaram pensando “tudo isso é realmente necessário pra resolver essa situação?” No começo parece uma briga boba e infantil, e em um certo nível ela é, mas o ego dos dois são postos a mesa e ambos recorrem às suas maiores cartas, com ambos os lados ameaçando entrar com um processo, na minha percepção isso mostra como os personagens da história não gostam de ser contrariadas e levam as coisas até as últimas consequências, e isso fica ainda mais óbvio com o desenvolver da história.
Existe esse clima estranho e pesado que envolve todos na história, como se aquilo não fosse real, afinal a cidade é povoada apenas com os piores arquétipos de pessoas. A realidade da pequena cidade de Chamberlain e das pessoas que vivem nela parece totalmente distorcida.
As únicas personagens que fogem desse estereótipo, até certo ponto, são: Sue, a senhorita Desjardin e a própria Carrie. As duas primeiras, no começo da história, são parte desse surto coletivo, elas reagem mal à primeira menstruação de Carrie e agridem a menina de jeitos diferentes, mas ambas percebem o que aconteceu e recai sobre elas um peso moral, como se fossem acordadas de um transe, a partir disso elas tentam ser melhores, mas em uma cidade onde a ética e a moral não são recompensadas, ambas são esmagadas e suas ações deslegitimadas pelas pessoas ao redor, e se tornam “as estranhas” que tentam ajudar Carrie. Mas não existem alguém genuinamente bom naquele lugar, a Sue em algum momento, pensa e até admite para si mesma que quer ser legal com a Carrie não para ajudar a menina, mas para se sentir melhor consigo mesma, a senhorita Desjardin faz isso em certo grau, já que se sente mal por não ter entendido o lado de Carrie durante sua primeira menstruação e quer se redimir por isso.
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Já Carrie, que sempre foi “a estranha”, criada em um lugar onde o poder sempre foi a base de tudo, ela nunca conseguiu o respeito de ninguém porque não tinha esse poder, sendo constantemente insultada pelos colegas e amaldiçoada pela mãe. Ela tem pensamentos ruins e essa sede de machucar as pessoas ao seu redor, mas se mantem submissa por não ter como enfrentá-los, mas ao despertar seus poderes tele cinéticos ela se vê em um lugar que antes nem mesmo sonhava em estar, o topo. Ela se torna um reflexo das coisas que sofreu a vida inteira, um dos 80, uma pessoa que leva as coisas ao extremo, e que é capaz de destruir uma cidade inteira como vingança, um comportamento que eu esperaria de qualquer outro personagem “normal” que vive na cidade de Chanberlain.
E tudo isso me deixou pensando: por que a Carrie é a estranha? Porque ela tinha poderes? Porque ela não era bonita, nem se vestia como as outras garotas e tinha uma mãe maluca?
O conceito da Carrie ser a estranha é na verdade um rótulo que veio dessas pessoas que tinham visões de mundo e ações completamente deturpadas. Tanto maluco sem caráter na cidade e a menina que nunca fez nada pra ninguém é a estranha.
A única coisa que e incomodou no livro foi a conexão inexplicável da Sue com a Carrie, que sabe que ela esta está no hotel The Cavalier. Todos da cidade sentem a presença dela, seu poder telepático influenciou todos a ponto de saberem quem estava queimando a cidade sem ver a menina de fato fazer isso, mas por que Sue era a única que podia encontrá-la?
O título do livro nos dá a sensação que a Carrie será o monstro da história ou que tem algo de errado com ela, mas analisando profundamente, ela foi criada e corrompida pela cidade em que vivia, pela mãe e pelas pessoas ao seu redor, e mesmo tendo queimado a cidade, ela não é o grande monstro do livro.
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Seguindo a ordem o próximo livro do King que vou ler é Salem’s Lot - A Hora do Vampiro. Mas não sei se vai ser o próximo post. Até a próxima
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mrshanklyn · 3 years
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O Começo
Sempre fui uma usuária ativa do tumblr, acho que meu post mais antigo data de Maio de 2011. O post era uma transcrição de um quadrinho chamado “Insônia” do Caco Galhardo, desenhista que sempre admirei, que falava sobre ser constantemente perseguido por uma nuvenzinha negra que fica acima da sua cabeça, e que às vezes não se tem o que fazer além de esperar ela ir embora. Logo que cheguei aqui percebi o potencial ilimitado do site, que me permitia compartilhar tudo o que eu pensava, e personalizar minha página de acordo com a minha vontade (o que me fez conhecer o HTML desse site como a palma da minha mão), longe de olhares de pessoas conhecidas ou familiares, um prato cheio para uma pré-adolescente. Comecei então a usar o tumblr como um ventilador, que soprava a nuvenzinha pra longe.
Desde esse dia encontrei um lugar para organizar minhas ideias, produzir textos e encontrar pessoas com quem me identificava. Alguns anos depois, o site foi sendo abandonado como acontece com muitas redes sociais, mas eu continuei por aqui, recorrentemente, procurando inspirações e afastando a nuvenzinha.
Sempre gostei de analisar as coisas que consumia, então é comum eu me perder em meus pensamentos depois de ler, assistir ou consumir qualquer conteúdo que ache interessante e estimulante, por isso tenho vários perfis em sites e aplicativos de crítica e análise de livros e produções audiovisuais. Mas recentemente surgiu em mim um desejo de ter um lugar só pra isso, um lugar só pra mim.
Como redatora eu busco sempre desenvolver minhas habilidades de comunicação escrita, mas as plataformas feitas pra isso são muito limitantes. Elas estabelecem um número de caracteres que pode ser escrito, de ferramentas visuais que podem ser usadas e eu percebi que estava pendendo a diminuir minhas criticas e pensamentos para se adequar a esses predefinições, e o tumblr sempre foi um lugar seguro, que aceita qualquer tipo de texto, além de vídeos, gifs e links, de forma ilimitada.
Então aqui estou eu, exatamente 10 anos depois, começando outro blog, ou diário, ou projeto, eu ainda não sei direito, espantando minha nuvenzinha como quem tenta se livrar de um mosquito irritante. Pretendo colocar nesse tumblr minhas opiniões e considerações sobre obras que vou consumir.
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