Tumgik
queridoatelier · 1 month
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Eu também te amo.
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queridoatelier · 2 months
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Te amar foi
Sinto que perdi uma chance que nunca existiu.
Eu jamais consegui entender muito bem as pessoas que amam tão facilmente, tão rapidamente. Jamais consegui compreender como se conectam, como se encantam, como se apaixonam uns pelos outros em um estalar de dedos, após uma flor dada, um encontro marcado ou um beijo roubado.
O amor nunca se apresentou tão instantâneo para mim. Pelo contrário. Te amar foi uma construção.
Quando vi você pela primeira vez, ainda de longe, chegando no hotel e conversando com suas amigas, o interesse acendeu em mim como um holofote responsável por iluminar unicamente a estrela do show e ofuscar todo o cenário ao redor. Eu só via você. Deve ter durado apenas uns dois ou três segundos, mas posso jurar que o meu mundo parou naquele momento com seu casaco preto largo e sorriso fácil.
Mas isso foi interesse, não amor.
Ele, como disse, foi construído. Tijolo por tijolo. Palavra por palavra. Ação por ação.
Você ouviu meus desabafos e esteve ao meu lado quando eu estava fragilizada pela perda de alguém importante, respeitou a minha dor, as minhas dúvidas, minhas inconstâncias e tranquilizou minhas inseguranças, silenciou vozes maldosas.
Você acreditou em mim, foi uma das maiores responsáveis por eu seguir meu coração na escolha do meu futuro e estar onde estou hoje - não acho que saiba o quanto sinto gratidão por isso.
Você me fez rir como o melhor filme de comédia da história - honestamente, se diretores famosos soubessem da sua existência, se envegonhariam de seus humores fracos. Me entregou doses de felicidade que jamais terei repertório o suficiente para descrever, mas Deus! Você era a luz dos meus dias!
Não aquela branca, forte e desconfortável como a de um hospital, mas como luzes amareladas de um pisca-pisca em época de Natal. Eu sempre amei decorações de Natal. Sempre disse que ao ter a minha casa, as deixaria o ano inteiro. Eu sei, parece que estou definindo você a uma alegoria ao te comparar com decorações natalinas, mas você me conhece, não conhece? Você sabe exatamente o que o Natal desperta no meu coração, tudo que eu sinto por essa época do ano, o quanto ela significa para mim. Você era a felicidade natalina no meu peito sem época para iniciar e sem previsão para acabar.
Você ouviu minhas incontáveis ideias que jamais seriam exploradas e ainda assim ficava tão animada, me impulsionava, me incentivava.
Atrizes de meia idade, séries duvidosas, humor questionável, jogos emocionantes, musicais, fanfics... Compartilhamos tantos interesses em comum na mesma intensidade. Eu nunca precisei me explicar, te dar um manual de instruções. Era orgânico. Era natural.
Você respeitou a minha história, o meu estado de espírito, o meu tempo e o meu espaço. Você respeitou a minha mente, a minha alma e o meu coração.
Você foi a minha melhor amiga e eu te amei assim antes de te amar como mulher.
Para além do que você fazia comigo e por mim, também havia o seu simples e encantador jeito de existir e operar no mundo. Eu nunca tive a menor chance de não me apaixonar por você. Não quando eu conhecia o seu coração, o seu carater e suas imperfeições. Eu admirei tanto você pela pessoa que era, pela história que tinha e pela vida que estava construindo. Eu admirei você pela forma que tratava as pessoas, que defendia seus ideais, pela maneira de ver o mundo.
Então, o amor chegou. Romântico, encantador e tão perigoso como poderia ser ao se tratar de um amor por uma melhor amiga. Essa foi a minha ascensão - porque não há sentimento equiparável a amar sua melhor amiga - e minha queda - porque não há sentimento mais devastador do que não poder viver esse amor.
Você era o Sol e eu era Ícaro voando perto demais com minhas asas de cera.
Eu sabia que havia um sorriso idiota no meu rosto sempre que ouvia a sua voz; eu podia sentir meu coração um pouco descompassado sempre que havia um indício de flerte; meus amigos me perguntavam sobre você, faziam piadas; eu sabia que um calor diferente preenchia meu peito sempre que via uma notificação de mensagem sua no meu celular... Mesmo com todos esses sinais claros, eu demorei para admitir para mim mesma a seriedade de meus sentimentos, a intensidade e profundidade, porque Cristo! Você era a minha melhor amiga antes de tudo, e eu não queria te perder. Eu não queria que meus sentimentos fossem um enorme inconveniente, não queria te colocar em uma posição tão desconfortável, porque eu sabia, eu sempre soube...
O Sol jamais amaria Ícaro.
Parece torturante e doloroso, não é? Amar em silêncio sabendo que jamais poderia viver isso. No entanto, surpreenda-te se te disser que durante os anos que te amei (fora os últimos meses) não foi tão doloroso reconhecer e conviver com a não reciprocidade?
Tentei voar baixo, tentei controlar enquanto admirava a paisagem, me perdia no dourado da luz que você emanava. Era tão pacifico.
Te amar foi pacifico.
Te amar foi fácil.
Te amar foi natural.
Te amar foi puro.
Te amar foi como a luz da manhã, os primeiros raios do sol esquentando minha pele após uma noite fria demais.
Te amar foi como ouvir a natureza, cantos de pássaros, a água corrente de um riacho com cachoeira, o vento brincando com as folhas das árvores, aquela garoa de fim de tarde.
Te amar foi como música, notas se encaixando, melodias ecoando em suas mais belas harmonias, despertando apenas o que a arte tem o poder de fazer: identificação silenciosa por simplesmente existir como existe.
Te amar foi ledário.
Te amar foi sublime.
Te amar foi etéreo.
Te amar foi passageiro.
Esse amor já não existe dentro de mim, mas eu lembro perfeitamente como é sentir isso por alguém e agora me pego pensando... perdi uma chance que nunca existiu.
A chance de amar.
A chance de amar assim.
A chance de amar a minha melhor amiga.
Mas nunca pude realmente te amar, não é?
E, agora, temo que jamais poderei amar qualquer outro alguém assim novamente.
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queridoatelier · 2 months
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Eu também te amo muito.
Eu também ainda te amo muito.
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queridoatelier · 3 months
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Esforço, família e distância
Querido Atelier,
Quando penso em família, dificilmente isso me remete aos meus parentes de sangue. Nossa dinâmica sempre foi "cada macaco no seu galho", nós nunca conversamos, buscamos conhecer, entender ou saber uns sobre os outros. Éramos e ainda somos completos estranhos morando sob o mesmo teto, compartilhando o mesmo sangue.
Portanto, acho justificável que eu nunca tenha me sentido, de fato, parte de uma família, certo? Não havia ligação, fora a casa e o DNA. Não havia sentimento construído, nutrido, fora aquele que vem como padrão de fábrica sobre seus entes queridos.
Eu não sabia o que era ser ou estar em família até conhecê-la. Até ela me ensinar sobre amizade, confiança e... família. Até ela me mostrar na prática todas essas coisas apenas por existir sendo ela mesma, sendo uma pessoa incrível na minha vida. Uma pessoa que cometeu erros, é bem verdade, mas uma pessoa que jamais deixou de significar muito para mim, nem mesmo durante aquela temporada sombria de um silêncio gritante e uma ausência torturante.
Ela é minha melhor amiga. Passou por poucas e boas comigo, tanto sobre terceiros quanto por mim mesma. Nunca foi fácil ser minha amiga, eu sei disso. Eu nunca fui fácil. Fui tóxica tantas vezes. Requisitei demais. Sobrecarreguei.
Eu pensei que havíamos superado isso, no entanto. Eu pensei que, depois de voltar para a minha vida, depois do perdão, depois da conversa, estava tudo nem. Eu pensei que havíamos crescido, amadurecido, aprendido e seguido em frente. Mas eu estava errada, não é? Eu estava.
Ela continuou se sentindo mal comigo. Continuou se cobrando, mesmo quando eu não a cobrava. Pensou estar em dívida comigo, tentava ser perfeita para não me machucar como ia havia feito, sentia culpa e por isso pisava em ovos. Deve ter sido um caminho tão cansativo nos últimos anos... Deve ser sido cansativo tentar não me machucar. Deve ter sido cansativo me fazer pensar que estava tudo bem, quando ela não estava.
Então, a bolha estorou. Tinha que estourar, não é? E agora? Agora eu estou no quarto de hóspedes da casa dela enquanto ela está no quarto com a pessoa que, de fato, ela tem como família. E tudo bem. De verdade, tudo bem.
Eu nunca serei para ela o que ela é para mim. Jamais. Demorei a perceber. Forcei sem ver. Mas ela está certa, sabe? Temos necessidades diferentes. E as temos porque nos vemos de maneiras diferentes. Acontece.
Tentamos do meu jeito. Não deu certo. Ela continua se sentindo mal. Então... bem, vamos alinhar essas necessidades, mas por outro caminho. Ela não tem que me alcançar. Não precisa. Não quando meu jeito faz mal a ela ou... a incomoda. Meu jeito a incomoda. Meu jeito a incomoda. Deus, que loucura. Meu jeito a incomoda.
Meu jeito incomoda a todos?
Bom, eu estou diminuindo várias coisas. Apelidos carinhosos, toques (minha principal linguagem de amor, o que realmente me doi), convites para qualquer coisa, tenho tentado (sem tanto sucesso, já que infelizmente não sou um robô que pode regular qualquer função ou necessidade) não conversar tanto com ela e já nem lembro a última vez que falei eu te amo, porque ela reclamou sobre isso.
Eu não preciso ficar reafirmando o tempo todo, porque ela sabe. Então... eu não digo mais. Não existe mais felicidade em dizer. Toda vez que eu quero, ao invés de alegria, eu só me sinto triste por lembrar disso, então guardo para mim.
É engraçado. Eu quero tanto o bem dela e claramente fazer as coisas do meu jeito (ela tentou se adaptar às minhas necessidades) não saiu muito bem... então, acredito que o que resta é fazer as coisas do jeito dela. É ser menos. Fazer menos. Falar menos.
E eu posso fazer isso. Ajo assim com alguns amigos. Alguns amigos... ela é família. Então, querido Atelier... preciso alinhar, certo? Preciso ser menos. Ela tem que ser menos aos meus olhos. Ao meu coração. Posso me comportar como qualquer outra amiga, faço isso com outras pessoas, mas.. ela tem que ser isso para mim.
Eu só... eu estou abrindo mão de vê-la como família. Ela não é. Não pode ser. Isso faz mal a ela. Preciso ser apenas... mais uma amiga.
Então, eu não pedi para estar aqui hoje. A mãe dela me convidou. Eu perguntei a ela, depois, se ela estava bem com isso. Positivo. Aqui estou eu. E, bom, o Plus de toda essa situação também está. E aqui entra mais um esforço.
Para além do esforço constante e diário de me tornar menos, ser menos e vê-la como menos, também depositei energias em ser agradável, extrovertida e divertida. Não foi um sacrifício, não foi difícil, mas foi algo fora do meu padrão. Não usei fones no carro. Conversei. Puxei assunto. Sentei perto. Ri de tudo. Paguei por coisas. Eu me inseri. Não é o meu padrão, eu gosto de ficar quieta no meu canto, mas isso também era um problema.
Enfim. Estou no quarto de hóspedes ouvindo risadas vindas de seu quarto. Ela e sua verdadeira família.
Estou feliz por ela.
Estou triste por mim.
É solitário saber que não tenho ninguém.
Eu queria que houvesse um caminho mais simples, mais fácil, mais rápido e indolor de fazer com que ela seja menos, mas há tanto amor dentro de mim agora... eu não sei o que fazer com tudo isso. Eu não sei o que fazer com o amor que sinto por ela.
Onde o coloco, querido Atelier?
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queridoatelier · 7 months
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Perdão, volta e seguir em frente
Querido Atelier,
Você acredita naquela máxima de que o tempo cura tudo? Eu não. Não acredito que ele seja o principal responsável, pelo menos. Nós somos.
Nós podemos escolher nos agarrar na raiva, na dor, na tristeza que alguma coisa ou alguém nos infligiu. Alimentar ressentimentos, mágoas e rancores por tanto tempo que em algum momento esquecemos quem somos sem eles. Então não, o tempo não cura tudo. Não se não quisermos. Não se não trabalharmos para isso.
Acontece que trabalhar para isso não é fácil. Na verdade, é uma das coisas mais emocionalmente desgastantes que podemos nos propor a fazer, na minha visão. Isso porque todo o seu corpo está dolorido, sua mente gira ao redor de uma mesma coisa, seu coração dói, você chora, xinga, grita e chora de novo. Você não entende, tem raiva e seus olhos estão constantemente inchados, vermelhos. É muito difícil sair desse estado, adotar maneiras diferentes de pensar, de sentir, de ver, de compreender e de processar seus próprios sentimentos. É cansativo saber que precisa fazer alguma coisa sobre aquela dor para que ela vá embora.
Eu levei alguns meses. Meses de pura raiva, ressentimento e muitas lágrimas. Meses onde eu sentia ódio por sentir falta, ódio por ter sido tão compreensiva, ódio por ter me doado tanto, por ter tentado tanto não ser um problema apenas para descobrir que meus esforços foram diminuídos para uma única frase que me quebrou ainda mais "ela está se tornando uma dor de cabeça". Doía mais do que posso descrever, porque mesmo assim ainda existia amor.
Não houve um momento especifico onde, de repente, tudo isso foi embora. Não. Eu diria, se me perguntasse, que a dor foi embora gradualmente e o perdão foi construído em momentos-chave de conversas importantes, quando eu estava pronta para ouvir, quando eu queria ouvir, quando eu queria deixar ir e ficar bem.
O perdão é uma decisão que precisamos tomar quando nos sentimos prontos, com o coração em paz. Forçá-lo apenas nos trará mais dor. E bom... mesmo que perdão não signifique voltar, eu escolhi voltar. Escolhi voltar porque, como eu disse, mesmo nos piores momentos de raiva e dor eu ainda sentia amor. Algumas relações são simplesmente... importantes demais, sabe? Às vezes vale a pena pagar para ver se aquela pessoa ainda encaixa na sua vida e se você ainda encaixa na dela. E estou torcendo para continuar sentindo que ainda fazemos sentido.
Para além disso, preciso dizer que embora eu tenha perdoado, tudo o que aconteceu me deixou sim marcas negativas difíceis demais de apagar. Talvez seja uma daquelas que se leva para a vida, afinal eu não menti quando disse que havia se tornado meu maior trauma. Não a pessoa, não mais. A situação toda. Você sabe, querido Atelier, dos meu problemas com confiança e lealdade.
Acredito que também deixei maus pedaços de mim pelo caminho dela. A fiz sentir raiva, tristeza e tudo o que ela também tinha direito de sentir diante de tudo. Por isso, eu não podia voltar e pedir para entrar de novo na sua vida sem lhe ser clara sobre uma coisa muito importante: Eu a perdoei, eu a amo, ela continua sendo uma das pessoas mais importantes para mim, mas eu não posso, de maneira nenhuma, dizer que perdoei ou que estou bem com a pessoa que, hoje em dia, provavelmente é a mais importante da sua vida.
Porque embora eu acredite no perdão e que ele é uma escolha, eu também acredito nisso:
- Você não precisa perdoar e não precisa esquecer para seguir em frente, você pode seguir em frente sem que nenhuma dessas coisas aconteça” (Taylor Swift)
Eu não perdoei e eu definitivamente não esqueci. E estou em paz com isso. Não é raiva o que sinto, não desejo mal algum, reconheço e sou grata pela felicidade que traz as pessoas que amo, assim como aprecio suas qualidades. Apenas é alguém que escolho não ter por perto por ter me machucado da forma que machucou, por ter traído a minha confiança, porque embora ninguém entenda isso, foi exatamente como me senti quando aconteceu e eu cansei de pedir desculpas ou invalidar meus próprios sentimentos por não fazerem sentido para terceiros.
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queridoatelier · 10 months
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Confiança, toxicidade e mudanças
Em 2013, quando eu tinha onze anos e estava no sexto ano em uma das melhores escolas da minha cidade, conheci uma pessoa. Ela era a típica garota bonita e popular, quase inacessível, da qual eu não costumava gostar. E bom, acredito que eu não era a única, já que quase todas as outras meninas da classe tinham alguma coisa contra ela ao ponto de me alertarem sobre ela não ser nada confiável.
Foi em uma tarde na sala de espera onde ficávamos para aguardar quem vinha nos buscar que acabamos ficando próximas. Eu estava sozinha vendo alguma coisa no meu celular sobre a banda que eu gostava na época e ela, como sempre, estava rodeada de outras pessoas. Foi decisão dela vir até mim, sentar ao meu lado e puxar assunto. E assim, como toda amizade infantil, acabamos nos tornando amigas. A partir daquele momento, começamos a andar juntas, conversávamos sobre o namorado dela e as incontáveis idas e vindas nas quais eu tentava aconselhar ou só ouvir.
Talvez qualquer outra pessoa teria ouvido os alertas de várias pessoas sobre uma única outra, mas eu era muito ingênua, gostava de dar a minha confiança gratuitamente, de pagar para ver quem as pessoas realmente eram por mim mesma. Bom, o preço foi caro. Acontece que sempre foi de mim entregar demais e não foi diferente aqui, então quando ela se mostrou tudo aquilo que as outras pessoas diziam e traiu a minha confiança, eu fiquei sem nada além do vazio de uma amiga que eu amava e prezava.
Foi minha primeira decepção, a primeira vez que senti o gosto amargo da confiança quebrada, o veneno da mentira contada e foi o pontapé para eu me tornar tão intolerante com qualquer atitude que pudesse partir minha confiança, principalmente a falta da verdade.
O que não me livrou de passar por isso outras vezes com outras pessoas. Eu tinha outro problema também: queria provar meu valor para aquelas pessoas que tinham algum valor para mim. Busca por validação e aprovação. Acontece que nem sempre a reciproca era verdadeira e eu acabava sendo usada e me machucando no final das contas.
Todas essas experiências ruins culminaram numa adolescente um tanto insegura quanto ao seu próprio valor, extremamente sensível a mudanças e qualquer mínimo sinal de uma possível partida, porque significava abandono. Isso fez de mim uma pessoa controladora, sufocante e tóxica. Houve uma pessoa que esteve ao meu lado desde a primeira traição que realmente sofreu com quem eu fui, mas ironicamente é quem está aqui até os dias de hoje.
Essa pessoa me ajudou ao longo dos anos de maneiras que ela possivelmente não sabe. De alguma forma, ela foi uma espécie de esperança, um sinal de que ainda valia a pena me manter aberta para novas pessoas, que nem todo mundo me machucaria como os outros machucaram. Ela também, de alguma forma, me ajudou a ser menos insegura, ou talvez apenas menos tóxica com relação às minhas inseguranças. Eu não era fácil e eu não queria ser um problema como sabia que estava sendo, então me restava mudar, me restava evoluir por ela, pelas outras pessoas na minha vida que mereciam mais do que alguém tóxico, sufocante.
Não foi fácil - ainda não é - e levou anos para que eu alcançasse o patamar que estou hoje, que ainda está longe de ser o mais saudável ou ideal, mas fico feliz que hoje em dia não sufoque mais as pessoas ao ponto de elas quererem correr para o mais longe possível, fico feliz em realmente estar em paz com o tempo diferente que os outros têm, com o espaço de que precisam, com o modo diferente que possuem de lidar com as mais diversas coisas.
Percebi isso ao conhecer uma outra amiga. Ela era uma das melhores pessoas que já tive o prazer de conhecer, provavelmente a mais engraçada, tão inteligente, gentil e extremamente carismática. Tudo isso, e também um pouco inconstante. Ela era do tipo de pessoa que às vezes sumia por dias do absoluto nada, sem nada ter acontecido. Três dias, uma semana, às vezes duas. Incomunicável. E era notável, já que nossa amizade era virtual nosso único meio de comunicação era por mensagens. Antigamente, com minha versão mais infantil, insegura e tóxica, isso definitivamente teria sido um baita problema ao ponto de não conseguirmos ter metade da amizade que conseguimos cultivar, mas não foi o caso.
Esse traço jamais me foi um problema. Eu sentia saudades, é claro, às vezes preocupação para saber se estava tudo bem, mas nunca raiva, nunca tristeza e jamais insegurança em sua ausência. Estava em paz com aquilo, sabia que ela voltaria como sabia que o céu é azul e que sou alérgica a camarão. Nunca me incomodou de forma alguma e quando percebi isso foi impossível não me sentir feliz comigo mesma por ter mudado, por ter conseguido sair de um nível de imaturidade e toxicidade para um estado mais estável e saudável com as pessoas que eu amo. E eu ficava feliz em poder oferecer a ela a segurança genuína de que estava tudo bem, de que ela poderia ter o tempo e espaço que quisesse.
Por tudo isso, é realmente uma crueldade irônica da vida que o primeiro motivo que fez com que eu a cortasse da minha vida tenha sido justamente, não sua presença inconstante - onde eu ainda a sentia como uma das pessoas mais próximas de mim mesmo estando do outro lado do país, onde sabia que ela voltaria com uma piada de quinta, um meme que salvou para me mostrar ao retornar e um desejo genuíno para saber o que eu andei fazendo - mas sua constante ausência - onde eu passei a limitar minhas palavras para ser o mais direta possível já que ela sempre sumia no meio das conversas, onde ela fazia as perguntas e me deixava falando sozinha mesmo se fosse um desabafo, mesmo se fosse uma dor, onde as risadas foram dando lugar a pressa e a certeza foi dando lugar a duvidas. Ela se tornou alguém que eu sentia profundamente que não poderia mais contar... até eu descobrir que ela também traiu a minha confiança e esse foi o motivo para eu não voltar atrás em minha decisão de me afastar.
Não é um padrão irritante esse? Você se abre, você ama, então você se machuca e tudo fica sombrio por um tempo enquanto você aprende uma valiosa lição. E então tudo se repete. Não importa o quanto você mude, evolua, sempre haverá mais a aprender e, bom... dizem que a dor é uma excelente professora.
Boa noite, Atelier.
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queridoatelier · 10 months
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A maioria dos meus dias tem sido sombrios nos últimos... meses? Eu nem sei mais. Só sei que o brilho da vida já se foi há algum tempo, não há mais nada acolhedor, nada com cor, nada que me desperte o menor dos prazeres de viver.
Só queria que isso terminasse. Só queria que isso terminasse de uma forma que não fosse ser um inconveniente para ninguém. Nenhuma dor, nenhum trauma, nenhuma lágrima, nada para lidar, nada para resolver, nenhum arrependimento de feitos, não-feitos, ditos e não-ditos, nenhum vazio ou falta. Nenhum dinheiro.
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queridoatelier · 10 months
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Há dias
Há dias em que eu sinto que fodi tudo.
Há dias em que sinto que fodi completamente a minha vida com cada mínima escolha que fiz ou deixei de fazer. Por que eu agi daquela forma? Por que gritei? Por que me calei? Por que quis saber sobre aquilo? Por que não quis saber? Por que tentei tanto? Por que não tentei nada? Por que me entreguei? Por que me afastei? Por que ouvi aquelas palavras? Por que não segui aqueles conselhos?
Há dias em que sinto que fodi completamente as pessoas que passaram pela minha vida e fodo diariamente aquelas que, Deus sabe o motivo, ainda se encontram aqui. Por que eu briguei com ela? Por que eu não fui mais compreensiva? Por que não fui menos julgadora? Por que não fui mais parceira? Por que não fui mais ouvinte? Por que agi daquela maneira com ela? Por que ela ainda está aqui quando tudo que eu sou é um compilado de inseguranças e dores?
Há dias que sinto que sou a pior pessoa que qualquer um pode ter, dias em que eu sou um peso pesado demais, uma péssima decisão. Porque estou o tempo inteiro péssima. Porque estou o tempo inteiro realmente considerando morrer. Porque estou sempre chorando pelas mesmas coisas. Porque sou infantil, insegura, ansiosa e preciso de afirmações e reafirmações com frequência. Porque sou melancólica, neurótica. Porque sou um problema, um fardo, um acidente, uma tonelada de estresse que não vale a pena. Porque, por mais que eu tente, eu nunca passei de nada além do mais medíocre nada. Insignificante. Insuficiente. Só alguém a ser aturado, só alguém sem nada de bom a oferecer, só alguém... só ninguém.
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queridoatelier · 10 months
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Às vezes
Às vezes penso em você batendo na minha porta. Eu abro com surpresa, as palavras me faltam porque você está bem na minha frente com ombros tensos, já faz tanto tempo desde a última vez.
Às vezes ouço você limpar a garganta, respirar profundamente e proferir um tímido oi com a voz falha, dedos inquietos e peito arfando diante da ansiedade do não-saber.
Às vezes eu me vejo tentando sorrir, mas parece que estou em choque demais para sair algo reconfortante, mas isso não importa, porque você está bem aqui na minha porta e eu ainda consigo ler seus olhos.
Às vezes penso sobre te deixar entrar, te oferecer uma coca e te pedir para ficar o mais confortável possível diante desse novo. Você senta no sofá, testando, olhando em volta para como algumas coisas parecem diferentes nesse ambiente que você costumava conhecer tão bem, mas ainda posso notar um reflexo de reconhecimento nos seus olhos.
Às vezes nos ouço sem jeito, tentando iniciar uma coisa que antes costumava ser tão fácil antes de respirarmos fundo e finalmente abordarmos o elefante branco na sala.
Às vezes nos vejo tendo uma conversa difícil, pesada, sobre como nos machucamos tanto a esse ponto, sobre nossos erros, sobre nossas verdades, sobre nós. Há choro, há raiva, há ressentimento, há pedido de desculpas, há vontade de cura, há amor, há espaço para compreensão.
Às vezes sinto o perdão.
Às vezes imagino tudo isso. Às vezes me perco nessa fantasia de "e se tivéssemos volta?"
Às vezes.
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queridoatelier · 10 months
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Para minha querida
Ter sentimentos ambivalentes por uma mesma pessoa tende a ser enlouquecedor. Minha forma de lidar com isso foi separar você em duas pessoas, em dois momentos. Uma parte, a atual, possui de mim unicamente ressentimento e mágoa. A outra, a do passado... Bom, tem essas palavras:
Oi, querida. Já faz algum tempo, não é? Sinto muito que não tenha pensado tanto em você nos últimos meses, mas espero que possa entender que pensar em você é pensar também na sua perda e isso... ainda dói.
Esse mês tem sido diferente, no entanto. Terça (07/11, você lembra?) foi meu aniversário e tudo começou (você veio à minha cabeça) às onze horas do dia anterior, quando eu imaginei (fantasiei, sonhei, mas não desejei, ansiei ou torci) que você me mandaria mensagens animadas dizendo que no seu fuso horário já era o meu grande dia, provavelmente faria alguma piadinha de quinta - que eu amaria - com o fato de eu estar fazendo 22 anos e então me avisaria que na minha meia-noite (uma hora da madrugada para você) voltaria para me desejar feliz aniversário novamente. E você faria isso em grande estilo com o texto mais carinhoso e engraçado de todos os tempos! Provavelmente com alguma foto anexada, um meme, um desenho, uma montagem com a Taylor Swift, porque você simplesmente sempre foi essa pessoa que sabe misturar tão bem humor com amor. E você não pararia por aí, não é? Você postaria uma homenagem no instagram me desejando as coisas mais lindas e verdadeiras enquanto 22 da Taylor tocaria ao fundo.
E então eu me obriguei a parar de pensar no pretérito imperfeito, porque é tudo que isso é... um "teria, poderia, deveria".
Não consegui parar de pensar em você, mesmo assim. Ou melhor, passei a lembrar de você no passado concreto, não em pequenos delírios de um presente impossível.
Você sempre foi a pessoa que me tirou as melhores risadas, sabia? Não é modo de dizer, não é exagero de lembranças alteradas e nubladas pela perda. É simplesmente a verdade, você pode perguntar a qualquer pessoa! Você sempre me trouxe uma felicidade inexplicável em palavras, mas visível no meu humor, no meu sorriso, nos meus olhos. Uma vez você me disse que se surpreendeu com o quanto sou expressiva através deles, espero que em algum momento você tenha visto refletido o bem que você me fazia.
Acho que nunca conseguirei explicar o efeito que você tinha em mim. Era como se você tivesse cores vibrantes que mais ninguém tinha e colorisse a minha vida com os seus tons únicos e alegres, como se o seu toque fosse mágico e tudo se tornasse um pouco mais bonito se tivesse contato com você. Sempre achei bonito, sempre foi encantador e admirável aos meus olhos o seu diferente dos diferentes de outras pessoas.
Você me fez tão, tão, tão feliz!
Uma das coisas mais divertidas era contar minhas histórias para você. Ou melhor, contar plots que jamais serão escritos. Você sempre ficava tão animada e me dava novas ideias, me tecia elogios, me "brigava" por nunca terminá-las. Tenho certeza que você ficaria indignada se soubesse que eu, de fato, terminei uma e que ela jamais verá a luz o dia. Por que? Bom, é sobre você, sobre a gente, e acho que sou egoísta demais para compartilhar isso com outras pessoas, então... sabe, vou manter para mim. Mas ei, eu andei pensando naquele plot de colegial/song fic, você lembra? Cidade pequena, Lena e Kara não se dando bem na escola num primeiro momento e então virando o primeiro amor uma da outra, Lena ajudando a Kara a se reconectar com a música, você lembra? Fiz até uma pasta no pinterest, você iria pirar! Misturei elementos e acontecimentos da carreira da Taylor, é claro. Você gostaria de saber que a Emma e a Regina também estão dentro, tenho certeza! E então você me daria todas as ideias mais legais e engraçadas do mundo. Deus, como eu sinto falta das suas ideias!
Como eu sinto falta de você. Sinto falta de conversar com você, de rir com você, de jogar com você, de reclamar com você, de fofocar com você, de brincar com você, de desabafar com você, de ouvir você, de animar você, de cuidar de você, de tudo sobre você. Eu sinto tanta saudade de você, querida. Sinto saudade do seu carinho, da sua atenção, da sua amizade, do seu humor, do seu amor...
Eu gostaria de ter aqueles tempos simples de volta, de receber uma ligação no meio do dia só para jogar conversa fora, de interromper seu banho e de fazer piadas e te dar dicas sobre como fazer o número dois no banheiro alheio. Eu gostaria que você voltasse para mim. Eu gostaria de voltar para você.
Eu te amo. Se tenho uma certeza na vida é essa, Jhen, eu te amo de todo meu coração e isso jamais vai mudar, ainda que você tenha o partido se tornando a pessoa que se tornou. Você foi uma das melhores pessoas na minha vida, uma das minhas melhores amigas, uma das minhas conexões mais profundas, você era família e lar para mim. Se ainda há um pouco de você aí dentro, por favor, cuide-se.
Com todo meu amor e de todos os pedaços do meu coração...
Caroline.
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queridoatelier · 11 months
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ENVENENADO
Eu me interessei por você no momento em que te vi, como naqueles filmes de comédia romântica barata em que tudo ao redor deixa de existir e o interesse amoroso fica em câmera lenta, iluminado por uma áurea dourada.
Eu me apaixonei por você tão sutilmente que quando percebi já era tarde demais, suas mensagens no meio do dia me tiravam sorrisos bobos, ouvir sua voz me trazia paz, meus amigos notavam como meu olhar brilhava e meu humor melhorava sempre que você estava presente.
Eu amei você e era como a luz da manhã entrando pela janela, suave e dourado. Um abraço quente da própria felicidade. Foi o sentimento mais puro que já tive, mais fácil e pacifico que senti. Era como estar de volta ao lar depois de muito tempo fora.
Mas a sua amizade era o que mais me importava. Sempre foi. Não era um prêmio de consolação, um "pelo menos isso". Era um dos maiores tesouros da minha vida, algo de valor inestimável e que eu teria feito de tudo para manter. Eu não me importava com a não reciprocidade do romântico, isso nunca foi uma questão e pensei que havia deixado claro que te amava para além disso, que me importava com você para além disso.
Eu te considerei, um dia, o acontecimento mais bonito da minha vida em muito tempo, afinal não é todo dia ou em qualquer esquina que encontramos uma conexão como a que tínhamos. Na verdade, foi em uma noite fria em frente a um hotel luxuoso especifico na viagem e momento mais feliz da minha existência.
Imagine o quão triste é ter tudo o que eu disse até aqui envenenado, ter você agora não como um presente, uma luz, uma amizade de imensurável importância, e sim como o maior trauma da minha história. Aquela viagem costumava ser minha memória mais feliz, mas agora quando ela me vem a cabeça, tudo que consigo pensar e sentir é azul e preto, porque acabamos aqui. Assim.
Amor genuíno envenenado por falsidade. Amizade valiosa envenenada por mentiras. Um passado uma vez feliz envenenado por um presente de traições e atitudes egoístas. Você quebrou a minha confiança. Manipulação, falar pelas minhas costas, fazer exatamente o que me ouvia condenar. Você não tem um pingo de vergonha?
Não tem vergonha de todas aquelas mensagens de "vamos passar por isso" e falsas promessas, apenas para ir falar o que falava quando eu não estava ouvindo? Não tem vergonha de ser tão cega para sua atitudes tóxicas e manipuladoras? Não tem vergonha de ter usado minha confiança, minha amizade e meu amor em seu beneficio? Você sabia, não sabia? Sabia que eu teria te dado o mundo se me pedisse, então você pediu a minha sanidade e meu bem-estar. E eu dei. Dei porque a sua felicidade era o que mais importava para mim.
Não. Você não se envergonha por ter me arruinado. Você deita a cabeça no travesseiro tranquilamente, tem sonhos doces, acorda com uma mensagem de bom dia, pega o metrô, ri com seus amigos de alguma piada idiota que você fez - porque você sempre foi a pessoa engraçada de qualquer grupo -, faz planos para o futuro e nunca, nunca, nunca pensa naquela garota que você quebrou da pior maneira que poderia ter feito, muito menos se envergonha ou se arrepende por ter sido tão desprezível.
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queridoatelier · 1 year
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Sem títulos em azul ou em grandes fontes hoje.
Hoje eu quero apenas falar sobre uma lembrança que ocupou a minha mente o dia inteiro, como vez ou outra faz. Talvez ela o faça com uma frequência muito maior do que estou dando a entender, mas a verdade é que meu tom casual não vem da irrelevância dela, e sim do fato de que, em comparação a tudo que já vivi, vi e ouvi, ela acaba se tornando uma pedrinha no meio do caminho que eu, de tempos em tempos, acabo pisando.
Eu e minha irmã esperávamos nosso ônibus, havíamos acabado de sair da terapia e conversávamos sobre algumas coisas que levamos para a nossa psicóloga naquele dia. Eventualmente minha irmã me diz que falou com o nosso pai sobre algo que não consigo lembrar nesse momento, mas lembro que ela estava resistente a me falar como, exatamente, ele recebeu sua mensagem.
Em resumo, ela disse que precisava comunicar algo a ele e ele, em uma mensagem que talvez tenha pensado que não chegaria a mim, disse "Você não vai me dizer que é lésbica também, né?".
Lembro que foi como levar um soco no estômago quando já se está quase perdendo a consciência depois de tanta porrada, então era uma dor surda, quase invisível, mas ainda incômoda, ainda existente. Eu só dei de ombros, continuamos a conversa, mas aquilo, como se pode notar, ficou cravado em minha mente.
A decepção que essas simples palavras carregam não me deixam esquecer que, por mais que ele tenha me acolhido tão gentilmente quando precisei, para ele eu ainda sou o que sou para a minha mãe. Sempre fui, sempre serei uma decepção, um erro e uma vergonha.
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queridoatelier · 1 year
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Saudosismo
tendência, gosto fundado na valorização demasiada do passado.
É inevitável falar sobre o passado quando estamos conhecendo uma pessoa nova. Contamos sobre histórias engraçadas da infância, um acidente de bicicleta que deixou aquela cicatriz no joelho, um encontro desastroso e constrangedor e a ressaca que nos fez prometer nunca mais tocar em uma gota de álcool na vida. Tiramos risadas divertidas e olhos arregalados de incredulidade, nos divertimos com a reação do outro e rimos juntos, partindo para os próximos fatos sem dar muita importância.
Mas às vezes... às vezes as histórias que contamos possuem aquele momento que parece banal, até sentirmos um aperto no peito. O aperto no peito que nos faz respirar um pouco mais fundo e então nos perder dentro da memória de um instante tão simples, tão cotidiano, que nos enche de uma emoção inexplicável para algo que, a principio, parece não ser motivo de comoção.
Uma noite de filme entre tantas com a melhor amiga, uma tarde de jogos com os amigos, uma espera no terminal de ônibus depois de um dia cansativo, um café regado a conversas fiadas e risadas frouxas. Por que coisas tão triviais nós fazem nos perder no tempo ao recordar? Minha teoria está justamente na importância do trivial, do simples, do pacifico. Do cotidiano.
Como compartilhar o dia a dia com colegas de trabalho que acabam se tornando sua rede de apoio. É precioso. Eu tive isso e me enche o peito recordar das manhãs no refeitório do hospital, das primeiras conversas, dos momentos de ensinamento, das risadas e piadas bestas. Eu me perco em memórias de provocações e ciúmes amigáveis entre as meninas, as implicâncias e abraços, o carinho diário, o perfume preenchendo o corredor do setor, aquele cuidado compatilhado. A touca de presente, o esperar para almoçar em grupo, a ajuda para arrumar os documentos e as vezes que duvidas foram tiradas e favores foram feitos sem querer nada em troca, apenas porque podiam fazer para facilitar a vida uma das outras. As vezes em que arrrumei o consoltório 2 nas quintas-feiras, as vezes que meu material já estava na sala onde eu ficaria porque alguma delas havia chegado mais cedo e se importou o suficiente para isso.
Eu sinto falta delas. Profundamente. Daquele tempo, daquela rotina, daquele "a gente". Sinto falta do cotidiano, do simples, do normal, da vivência compartilhada. De chamar a lanchonete de aeroporto, de sempre ganhar um abraço, de ir até a parada com companhia, de ter carona. Eu tive sorte. Sempre lembrarei disso, delas, de tudo, com um carinho de inundar meu peito.
Eu amei esse momento e é com saudosismo que o recordarei. O desejo, a falta e a gratidão de ter novamente, não ter mais e ter tido uma vez. Obrigada, Clã.
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queridoatelier · 1 year
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Ser-para-a-morte
o “ ser-para-a-morte ” A existência é o ato de se projetar no futuro, ao mesmo tempo transcendendo o passado. A morte provoca angústia por lançar-nos diante do nada, ou seja, do não sentido da existência. Olhar crítico sobre o cotidiano e construção da vida. O ser humano inautêntico, foge da angústia da morte, repete os gestos de “todo o mundo”, recusa-se a refletir sobre a morte como um acontecimento que nos atinge pessoalmente.
Eu tenho pensado muito sobre morrer.
Bom, talvez não sobre morrer, mas não existir. Não falar, não estar, não fazer, não ser, não pensar, não sentir. Não haver a possibilidade de um "não", porque para haver um "não" eu então precisaria estar aqui para emitir alguma vontade ou falta dela sobre o que quer que seja, ou ter existido em algum momento no tempo.
Eu simplesmente gostaria de ser nada absoluto. Não ser nem ideia, nem lembrança, nem poeira, nem comida para minhocas. Não ser alma, nem carne, nem nome, nem lágrimas ou pensamentos. Não ser sonho, desejo, sorriso, saudade ou buraco no peito. Apenas... nada, nunca e a todo momento.
Mas estou aqui e sou todas essas coisas no mundo para várias pessoas. Sou calor, amiga, compreensão e acolhimento. Sou toque, cheiro, gosto e barulho. Sou o passado, o presente e o futuro. Sou os planos, os anseios, o amor, o carinho. Sou as músicas da Taylor Swift, os episódios ruins de Once Upon a Time, o mundo das fanfics, os efeitos especiais péssimos de Supergirl, o grito no cinema em um filme da Marvel. Sou uma escritora de histórias não finalizadas e textos não publicados, editora de vídeos planejados cuidadosamente e desenhos mal feitos. Sou o silêncio confortável, a cor azul, o frio, a chuva, o pisca-pica amarelado. Sou uma macarronada ao molho branco com salsicha, sou uma Coca-Cola gelada e um suco de maracujá, uma trufa de cupuaçu, um pudim de leite e um bolo de prestigio.
Também sou sou um problema. Sou um fardo, um peso, um sacrifício. Sou desrepeito, desonra e decepção. Sou nojo, distância, desobediência e depravação. Sou imoral, indigna, tola, burra, fraca e não querida. Sou meu quarto, bagunça, sujeira, desorganização e preguiça. Sou má filha. Sou má neta. Sou má inquilina. Sou grossa, rude, mal educada, fria e indiferente. Sou uma futura má profissional, um fracasso sem igual.
Heidegger estava certo quando disse que a morte traz consigo o não sentido da existência, porque se o fim é nada, então... Por que tudo suporto? No entanto, começo a pensar que se o fim é nada, então é o nada que prefiro, ele não me desperta angústia. A vida se apresenta agora como uma doença angustiante e morte me parece o único remédio capaz de curá-la e me trazer alivio. Me dar o estado que desejo: Ser nada, pelo menos para mim. A todas as pessoas para as quais sou algo... eu lamento profundamente, apenas não aguento mais ser e não ser tudo de ruim.
Não sou a pessoa mais religiosa que qualquer um possa falar que conheça, no entanto. O que me impede, se não me cabem as leis do Deus que conheço desde a infância? Tenho me questionado o mesmo. Penso, inclusive, que se há um Deus e ele tudo conhece, então ele sabe o que há em meu coração, sabe a minha dor, e se ele é todo bom, então como poderia me punir por estar sofrendo?
Eu não quero morrer, essa é a resposta. Não quero deixar de ser o Buzz, não quero deixar de compartilhar a vida com o Woody, não quero deixar as noites de filmes, conversas com lanche, piadas internas, essa coisa única que jamais encontrarei novamente. Não quero deixar o futuro que desejo para mim, minha Bixxxinha, minha Gatinha, o P nem o Pomba Lesa. Não quero não poder ver o que eles irão se tornar, não fazer parte. Não quero não passar tempo com o Herói de 2018. Não quero não saber como é usar um chapéu de formatura, fazer uma viagem e encontrar a FBI ou matar a saudade da RP. Eu não quero não viver, porque todas essas outras pessoas também são um monte de coisa para mim e eu sei disso, sei como é.
Eu apenas... estou cansada demais do meu melhor, de todas aquelas coisas boas que sou, não ser o suficiente. Não sou o suficiente. Meu melhor ainda é inferior a todo o mal que sou, que causo. E bom... se no final de tudo é apenas o ruim que trago comigo, a desgraça, a dor, a raiva, a frustração, o nojo e a decepção, então eu acho que qual é o ponto da vida? A morte parece mais acolhedora e menos julgadora.
Ela é simplesmente nada.
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queridoatelier · 1 year
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You're Losing Me
We thought a cure would come through in time, now, I fear it won't. Remember looking at this room, we loved it 'cause of the light. Now I just sit in the dark and wonder if it's time.
Há alguns meses encarei meu celular, não havia nada. Há alguns meses encarei meu celular, havia desculpas. Há alguns meses encarei meu celular, havia ausência. Há alguns meses encarei meu celular, me perguntei em que momento nos perdermos ao ponto de eu não sentir que poderia contar com você.
Uma das melhores partes do meu dia costumava acontecer com aquela janela de bate-papo aberta. Minhas mais sinceras risadas foram dadas por alguma bobagem ali escrita. Eu amava aquela pequena janela de bate-papo.
No entanto, não havia mais nada ali além de silêncio. Tanto silêncio que passei a preenchê-lo com perguntas, como em que momento aquilo havia acontecido? Em que momento a dor virou um pequeno incomodo em meu peito? Em que momento não ter mais você aqui passou a ser aceitável? Nunca fui boa em encerrar ciclos, então quando a ideia de te deixar ir não pareceu absurdamente dolorosa, pensei que esse era o maior sinal que eu poderia dar a mim mesma de que talvez estivesse na hora.
Do I throw out everything we built or keep it? I'm getting tired, even for a phoenix. Always rising from the ashes, mending all her gashes. You might just have dealt the final blow.
Há alguns meses encarei meu celular, havia um desabafo meu. Há alguns meses encarei meu celular, havia uma promessa sua. Há alguns meses encarei meu celular, tudo parecia nos trilhos por um tempo. Há alguns meses encarei meu celular, não havia nada.
Por meses encarei meu celular, e tudo estava acontecendo de novo. Minha pergunta foi respondida no seu silêncio. Era hora.
Por semanas encarei meu celular, bloco de notas. Por semanas encarei meu celular, me certificando sobre qual seria o momento mais apropriado para isso. Por semanas escrevi e apaguei um ponto final que prometi que diria a você se decidisse colocá-lo na nossa história. Por semanas você ficou em silêncio e, como antes, seu silêncio foi preenchido por minhas próprias perguntas.
O que eu queria com essa conversa? Refleti. Eu não queria colocar aquele ponto final, eu queria que você o transformasse em um ponto seguido. Infelizmente ou não, essa não foi a única coisa sobre a qual pensei. Feridas não curadas, cicatrizes não cicatrizadas totalmente, pontos que rasgavam e sangravam o tempo todo, machucados os quais pensei que poderia cuidar e fazer sarar enquanto mantinha você perto. Eu me enganei. Nunca consegui. Uma coisa somou-se a outra. Eu ficaria se você pedisse, mas não podia fazer isso comigo.
Então, assim como você, também usei o silêncio.
Eu abri mão de você pelo meu bem.
I gave you all my best me's, my endless empathy And all I did was bleed as I tried to be the bravest soldier
Há uma semana encarei meu celular, uma ligação. Há uma semana encarei meu celular, chorei sobre coisas difíceis da vida. Há uma semana encarei meu celular, decidi me abrir sobre a decisão que tomei há pouco mais de dois meses de me afastar de você. Há uma semana encarei meu celular, quebrei uma promessa que fiz a você. Há uma semana encarei meu celular, tentei processar o que me foi revelado. Há uma semana, entendi todos os motivos pelos quais te fizeram a vilã da história.
Em dias você foi de alguém que eu consideraria importante para o resto da minha vida, de alguém que eu considerava ter perdido muito ao ter que abrir mão, de alguém que eu amaria profundamente para sempre - mesmo tendo me afastado -, para alguém que cometeu a pior traição pela qual já passei, alguém que agora eu vejo que não passou de uma pessoa manipuladora e mentirosa quando teve a oportunidade.
Você fez tudo aquilo que sempre soube que eu não tolero, achou que ia esconder isso por quanto tempo? Eu não sei se você sempre foi assim, prefiro pensar que não. Quero acreditar que alguma coisa foi real, até você se tornar essa pessoa que não conheço e não tenho a menor vontade de conhecer.
Infelizmente eu dei a essa versão desprezível todas as melhores versões de mim, e Deus sabe como eu gostaria de te tirar o privilégio de saber como é me ter, ter meu amor, minha amizade, minha confiança, meu coração. Deus sabe como eu gostaria de nunca ter existido na sua vida, de nunca ter te dado toda a compreensão e carinho que dei, de sempre ter escolhido você quando eu deveria ter escolhido a mim. Essa sua versão jamais me mereceu de nenhuma forma, nem mesmo em lembranças.
E agora, você me perdeu.
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queridoatelier · 1 year
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Escrever
Querido Atelier,
Meu processo de escrita nunca foi tão simples. Meu perfeccionismo excessivo para encontrar as palavras certas já me levaram a passar horas no sinonimos.com.br, dias lendo e relendo, editanto e reescrevendo cada oração ao ponto de que todo o sentimento que me levou a idealizar tais textos simplesmente evaporassem junto com qualquer animação para acabá-los. Com isso, muitas ideias acabaram no final trágico para toda ideia: continuar sendo apenas isso, apenas ideias.
Agora, no entanto, estou tentando outra abordagem ao recorrer a você, querido Atelier, em todos os momentos em que sinto a necessidade de sublimar toda a dor, raiva e angustia ou que simplesmente sinto vontade de criar, de escrever. Sem pensar muito, sem longas pesquisas no Google, sem semanas tentando descobrir a maneira perfeita de construir uma sentença, porque talvez a maneira perfeita seja apenas falar o que eu sinto com as palavras que já tenho. Mais eu impossível, mais verdadeiro impraticável.
As palavras que te escreverei a partir de agora são do mais sincero Eu, da minha mais profunda alma e da minha, nem tão vasta assim, biblioteca mental.
Com amor e certamente com um vocabulário menor daqui em diante,
Eu.
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queridoatelier · 1 year
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Querido Atelier 
Substantivo masculino - O termo atelier é um estrangeirismo, emprestado da língua francesa (significa “lugar onde um artista trabalha).
Quando te criei, imaginei fazer de ti exatamente o que diz a discrição acima. Um atelier. Um espaço meu, seguro e confortável para expressar minha arte, o meu eu, da forma que eu achasse melhor, fosse por textos de desabafo, por possíveis pequenas histórias, por vídeos das coisas que eu gosto ou desenhos que tentei fazer. Um espaço longe de qualquer olhar curioso ou julgador, distante de qualquer ansiedade ou medo que a exposição de qualquer parte do meu interior possa despertar. Sem ninguém para questionar, sem ninguém para achar que sabe qualquer coisa sobre mim.
Venho aqui hoje para te usar como diário, embora estejamos longe dessa frequência de registro. Preciso te dizer, querido Atelier, que minha ansiedade tem estado cada vez pior. Paralisante e explosiva ao mesmo tempo. É como ser incapaz de levantar de uma cadeira enquanto tudo ao meu redor está em chamas. Não há cola ou amarras me prendendo, minhas pernas funcionam perfeitamente - sei disso porque elas não param de balançar. Posso ouvir o alarme de incêndio incessante na parte de trás da minha cabeça me avisando do perigo, gritando para que eu faça alguma coisa, ordenando que eu me levante da cadeira; posso sentir a minha respiração falhar com a fumaça, meus pulmões reclamarem da falta de oxigênio e meus olhos derramarem a pouca água que resta no meu corpo; posso sentir meu corpo desejar desesperadamente a vida, o ar, o movimento que irá me tirar do meio do fogo. Estou ciente de tudo, de todo o perigo, de todos os avisos.
Mas eu sou simplesmente incapaz de me mover. Simplesmente incapaz de usar o extintor há poucos passos, porque eu sequer consigo ter o pensamento de levantar da cadeira. Sei que preciso, sei que é o racional, mas, por algum motivo, minha mente apenas não consegue emitir essa mensagem para os meus membros.
Então, aqui estou eu, em meio a um incêndio enquanto meu corpo inteiro grita para correr e minha mente está paralisada demais fazer algo a respeito. Então, aqui estou eu, sem ar e com o coração em uma frequência assustadora.
Então aqui estou eu, tão quieta e sorridente quanto uma pessoa saudável e estável, sem levantar bandeiras vermelhas para o caos dentro de mim.
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