Eu escrevo mais fanfics sobre snsd, mas estou aberta a escrever sobre qualquer girlgroup. sintam-se livres para fazer pedidos.
Don't wanna be here? Send us removal request.
Text
Over My Skin (OS)
Taeyeon
"Enjoy, i love you. good night, good afternoon, good morning, wherever you are in the world and see you guys soon. annyeong, bye.". Essa era a minha deixa, Tiffany havia desligado sua live e estava na hora de colocar meu plano em prática.
Eu consegui 3 dias de folga para fazer uma visita surpresa à minha namorada, ela estava tão feliz com seu debut americano e eu não pude deixar de prestigiá-la. Cheguei em Los Angeles hoje à tarde e fiquei em um hotel descansando, contei a Fany que estava ensaiando para meu próximo showcase e que não poderia falar com ela no horário durante o voo, ela caiu direitinho. Acordei quase na hora de sua live e mandei uma mensagem para ela para disfarçar:
“hi, boo.”
“bom dia pra você, meu amor.”
“ontem eu cheguei no hotel e caí morta na cama.”
“tudo bem ♡ espero que tenha corrido tudo como planejado.”
“sim, sim. tá ansiosa pra sua live? eu vou assistir tudinho daqui.”
“omo, sério??? vou me arrumar melhor então.”
“babo, você não precisa se arrumar pra ficar bonita. vai ser injusto para as pessoas que não são você.”
“idiota ㅋㅋㅋ eu vou começar então, falo com você depois. i love you.”
“também te amo, pany-ah.”
A live seguiu e eu não poderia estar mais orgulhosa da minha mushroom, ela sorria a todo instante e estava realmente muito feliz, mal podia esperar parar mostrar de verdade o quão feliz e mais apaixonada eu estava.
Algumas meninas me perguntaram o que eu achei da música, o que eu poderia responder? que era uma tortura ouvir todas aquelas palavras e não a ter por perto? que eu tive uma vontade absurda de pegar o primeiro avião para Califórnia assim q ela me mostrou a música meses antes? Eu queria fazer tudo isso, mas infelizmente não poderia. Porém, fui juntando toda essa vontade e planejei esse momento perfeito.
Após o fim de sua live, eu demorei mais uns 30 minutos me arrumando para dar tempo dela sair de casa e fui até lá. Usei a chave que ela havia me dado quando comprou essa casa, me lembro desse dia, nós estávamos conversando por telefone quando ela me disse que pediu a imobiliária duas chaves e quase não conseguiu conter a risada quando a moça disse que deveria ser para seu namorado.
Abri a porta e logo senti seu cheiro doce, era impressionante como seu perfume ficava no local mesmo depois dela ter saído, suspirei pesadamente, sinto tanta falta dela.
Uma hora e meia depois
Estava sentada no sofá mexendo no meu celular quando ouvi um barulho vindo da porta, parecia que alguém estava tentando pôr a chave na fechadura sem sucesso, ri um pouco da sua possível embriaguez. Quando ela finalmente abriu a porta e acendeu a luz a cor de sua pele parecia ter sumido e seu queixo estava no chão.
- Taetae? - Ela perguntou ainda com uma cara de espanto.
- Fiz café para você, boo. Achei que fosse precisar. - Dei um sorriso de canto, me divertindo com sua cara de boba.
- O-o que você está fazendo aqui? - Levantei-me do sofá e fui em direção a ela.
- Não posso fazer uma surpresa para minha namorada no dia do seu debut americano? - Perguntei passando os braços por sua cintura.
- É seus shows no Japão?
- Tirei uma pequena folga. - Respondi distribuindo beijos pelo seu pescoço. - A senhorita poderia acabar com o interrogatório e me beijar?
- Babo, você não existe. - E finalmente ela concedeu meu desejo e me beijou.
O beijo começou lento, cheio de paixão e saudade, fui guiando seu corpo até o sofá e a deitei nele. Desci meus beijos até seu pescoço lhe dando pequenas mordidas e lambidas em seu ponto fraco, seu perfume me levava a loucura, tanto tempo sem senti-lo e agora eu estava viciada nele.
Tiffany respondia com gemidos deliciosos de ouvir, ah, como eu sentia falta de tê-la para mim tão perto assim. Continuei meus beijos pelo seu colo, beijando cada pedacinho de pele exposto por sua blusa, eu precisava deixar minhas marcas por aquela pele branca e macia.
Voltei minha atenção ao seu rosto, ela estava ofegante e respirava com um pouco de dificuldade, fitei-a por um tempo e isso pareceu incomodar um pouco ela que estava de olhos fechados antes, mas que agora estavam abrindo aos poucos.
- O que foi? - Ela me perguntou confusa.
- Você é linda demais. - Respondi com toda sinceridade e coloquei uma mecha de cabelo atrás de sua orelha.
- Eu te amo. - Ela confessou, eu conseguia ver todo seu amor em seus olhos naquele momento, eu nunca duvidei da minha mushroom e agora eu estava vendo mais uma prova de sua sinceridade.
Voltei a beijá-la tentando pôr para fora toda a paixão que eu sentia dentro de mim, suas mãos arranhando minha nuca fazendo meu corpo todo se arrepiar. Sentindo suas curvas já conhecidas por minhas mãos de uma forma que assegurava a mais nova de que eu estava aqui e com ela, e não à horas e horas de voo distante. Quando a falta do ar se fez presente, nos separamos, Tiffany tinha um sorriso maravilhoso em seu rosto, Deus, eu amo essa mulher demais.
- Oh! – Ela exclamou quando eu a levantei do sofá em um puxão rápido e prendi suas pernas ao redor da minha cintura.
- Vamos deixar o café para amanhã, araso? – Fiz a pergunta retórica dando um selinho nela e carregando-a para seu quarto.
Ao chegar no cômodo, caminhei em direção a cama e a deitei delicadamente, ela merece, voltei minha atenção ao seu pescoço, porém dessa vez com mordidas mais quentes. Minhas mãos já estavam impacientes procurando a barra de sua blusa, toquei seu abdômen liso e ouvi a mais alta gemer em meu ouvido, eu poderia ter um orgasmo só a ouvindo gemer meu nome. Comecei a arranhar sua barriga enquanto trocávamos um beijo afoito, duas línguas brigando por dominância, uma batalha que eu obviamente ganharia e foi o que aconteceu. Retirei sua blusa junto com o sutiã e minha mão direita foi em direção a um de seus seios enquanto a esquerda lhe segurava pela nuca, ela não iria escapar assim tão fácil de mim, comecei a massagear seu seio e bingo, mais um gemido.
Soltei minha mão de sua nuca e fui em direção ao cós de sua calça, rapidamente abri o botão, ela estava tão desesperada que levantou o quadril na mesma hora para me ajudar tirar a peça. Tiffany estava tão molhada que sua calcinha rosa se encontrava com uma marca úmida em seu centro, eu tinha que provocá-la um pouquinho, passei a língua por cima do tecido e senti ela estremecer embaixo de mim.
- Tae, mmm. – Ela falou com dificuldade, eu estava adorando isso, precisava de mais.
Coloquei-me por cima dela e resolvi brincar um pouco com meus dedos ainda por cima do tecido.
- Por favor, Taetae – Ela suplicava ofegante enquanto meus dedos passavam lentamente pelo seu centro coberto.
- Uma coisa que eu quero saber, mas esqueci de perguntar. – Falei em seu ouvido e depois dei uma mordida em seu lóbulo, ela gemeu em resposta e eu tomei isso como um “continue”. – Sobre quem é sua música? – Claro que eu já sabia a resposta, mas eu queria ouvi-la falar. Ela ficou paralisada por um momento, como se estivesse pensando no que dizer.
- Espere um minuto e você verá. – Ela me deu um selinho e saiu da cama, caminhou até seu closet e virou-se para mim. – Quando eu voltar quero ver você sem uma peça de roupa, entendido? – Ela disse em um tom autoritário que eu não estava acostumada a ouvir.
Resolvi não desobedecer e retirei toda minha roupa, meu corpo ainda estava quente, comecei a me tocar enquanto esperava minha namorada voltar. Uma mão apertando meu seio e a outra já sobre minha intimidade, eu estava pronta, pronta para Tiffany e tudo que ela poderia me oferecer, com esse pensamento em mente, molhei meus dedos com minha própria lubrificação e comecei a massagear meu clitóris. Ela não demorou muito para voltar, eu poderia sentir seu peso sobre o colchão, de olhos fechados, continuei com o que estava fazendo até Tiffany retirar minha mão da minha boceta.
Franzi o cenho e abri os olhos pronta para questionar a atitude da mais nova, mas a imagem que vi tirou todas as palavras da minha boca, Tiffany estava com uma lingerie vermelha extremamente sexy e com uma fita da mesma cor na boca. Ameacei tocá-la, mas novamente fui repreendida pela mais nova que agora segurava meus pulsos em cima da minha cabeça.
- Você vai ficar quietinha até eu mandar. – Ela falou com a fita ainda na boca, apenas assenti. – Eu não queria ter que fazer isso, Taetae. – Tirou a fita da boca e amarrou meus pulsos. – Mas você não me deu escolha, eu pedi para você tirar a roupa e apenas isso. – Tiffany me encarou e eu podia sentir meu estômago revirar – Eu voltei para o quarto e você já estava fazendo o meu trabalho. – A ênfase em “meu” me fez soltar o ar que eu não sabia que estava preso dentro da minha garganta. – Você precisa ser castigada.
Então ela me beijou, dessa vez eu não tinha forças para lutar contra sua dominância, para ser sincera, eu nem queria. Esse lado dominante da Tiffany era muito raro, eu queria aproveitá-lo o máximo possível. Ela mordia meu lábio sem dó, por um momento achei que iria começar a sangrar, suas mãos agora em meus seios apertando com força me fazia gritar de prazer.
- Eu mandei você ficar quieta. – Uma mordia no pescoço – Por que você não me obedece? – Outra mordida. Eu estava inquieta, meu instinto dizia que eu deveria tocá-la, ele não estava nem aí para minha realidade de mãos atadas sem poder fazer nada.
Ela pareceu perceber minha impaciência e avançou com a boca para meus seios, sugando-os com desejo, ora ela mordiscava meu bico rijo, ora ela lambia para suavizar a dor. Sua mão continuou o caminho até minha boceta encharcada, Tiffany passou os dedos pelos meus lábios e ameaçou penetrar dois dedos em minha entrada, sua ação me fez revirar os olhos em antecipação. Minha reação causou um riso safado em seu rosto, ela largou meus seios e foi descendo dando beijos molhados por meu tronco, sem quebrar o nosso contato visual.
Ao chegar onde eu mais queria ela riu de novo ao ver meu desespero e ansiedade, parecia que Tiffany estava em modo vingança, pois ela estava me provocando de uma forma que me levava a loucura, eu só queria me soltar e fazer ela pagar por tudo isso. A situação só foi piorando quando ela começou a soprar minha intimidade, cerrei os olhos me contorcendo de prazer.
- Ãhn ãhn, eu quero que você me veja te foder toda Kim Taeyeon. – Ela comandou e eu obedeci. Abri os olhos e me ajeitei na cama para ter total visão do que acontecia.
Tiffany
Era tão bom ter Taeyeon assim em mãos, ela se faz de dominante o tempo todo, mas só eu sei o quanto ela ama meus toques e minhas ordens. Digo o mesmo sobre mim, o mundo tem essa imagem cem por cento passiva de mim, porém as vezes eu gosto de tomar o controle e fazer o que eu quiser, e ela permitir, com a minha namorada.
Comecei a brincar com seu clitóris lentamente, lambendo de cima para baixo, em ziguezague, circulando-o, ela passou a mão pelo meu cabelo e o puxou com força. Isso só me deu mais incentivo para continuar, agora eu passava minha língua por toda sua extensão, até ameacei a penetrá-la e isso pareceu ser o seu limite.
- P-p-pany-ah, eu mmm – Ela tentou falar, mas um gemido a atrapalhou.
- Ainda não, boo. – Me afastei de seu centro e antes que ela pudesse reclamar, tampei sua boca com um beijo e penetrei sua boceta com três dedos. – Because I’m owning what’s mine. – Apartei o beijo e sussurrei em seu ouvido.
- Eu sou sua – Ela respondeu ofegante.
Continuei movimentando meus dedos enquanto ela tremia sob mim, seus gemidos ecoavam pelo quarto, eu não tinha a ousadia de repreende-la novamente, eu queria ouvi-la chamar por mim.
- M-mais rápidmm – Concedi seu pedido e após alguns segundos ela gozou.
Fiz questão de limpar cada gota que saiu dela, prolongando mais o seu momento de êxtase. Subi e me ajeitei deitada ao lado de Taeyeon, foi a visão mais linda que eu tive: Fios de cabelos grudados em seu rosto por conta do suor, sua pele branca que agora estava corada e brilhante, uma dificuldade fofa de controlar a respiração e um sorriso besta no rosto
- Por que está sorrindo? – Perguntei curiosa tirando alguns fios rebeldes de seu rosto.
- Porque eu tenho a melhor namorada do mundo? Porque ela consegue me surpreender sempre? Porque eu a amo demais e finalmente estou com ela? – Ela se virou para mim fazendo com que nossos narizes ficassem colados.
- Eu te amo. – Colei nossos lábios. Ela queria mais, Taeyeon nunca se cansa. Minha namorada se pôs sobre minha cintura e atacou meu pescoço, pronta para o round dois. – This woman wants you bad. – Foi tudo o que eu consegui responder.
A distância e a saudade fazem com que você aproveite cada momento, não se importando se são horas, dias ou semanas. Quando se tem amor, qualquer segundo vira uma eternidade. E nossa noite continuou por vários e vários rounds, ficou bem claro que cada palavra daquela música foi escrita pensando na minha linda, maravilhosa e doce Taetae.
10 notes
·
View notes
Text
Capítulo III
O apartamento de Sunny não era luxuoso quanto a casa de Sooyoung, mas ele era bastante grande. Três suítes, uma sala com TV gigante, a ruivinha adora jogar videogame nas horas vagas, uma cozinha quase inabitável, porém completa e um banheiro social. Tudo muito bem aconchegante para o descanso da cantora que sempre estava viajando e vivendo em hotéis. Nada como seu lar doce lar.
Sunny dormia toda esparramada pela cama, cobertor no chão e travesseiros jogados pelo corpo. Os raios de sol não incomodavam a ruiva, ela havia aprendido a dormir em qualquer lugar e em qualquer hora devido sua agenda lotada, mas o que de fato acordou a cantora foram os passos que seu bichinho de estimação deu pelo seu corpo.
Era sempre assim, Sogeum a acordava exatamente às 9 da manhã, as vezes isso a incomodava, principalmente quando era seu dia de folga e ela poderia ficar dormindo até tarde, mas como hoje ela teria que ir trabalhar, recebeu seu despertador orgânico com muito amor. As patinhas iam pisando primeiro em sua barriga e subindo até o seu rosto, ele não chegava a arranhar com força, apenas o suficiente para deixar sua humana bem acordada.
- Bom dia para você também, meu amor. – Sentou-se na cama enquanto aconchegava o animal em seu colo. – Onde fica seu modo soneca? – Ela perguntou rindo.
Um barulho veio de seu colo, agora ela estava em dúvida se era seu estômago pedindo por comida ou seu gato finalmente havia atingido um nível de inteligência capaz de respondê-la. Ela chutou que fosse a primeira opção, pois assim que levantou da cama para ir em direção ao banheiro, sentiu um cheiro agradável de café e... panquecas?
- Jessica... – Sunny sussurrou para si mesma. Apenas uma pessoa que tinha a chave do seu apartamento poderia estar fazendo esse café da manhã americano.
Apesar de ser uma boa coreana, às vezes, seu estômago implorava por comidas estrangeiras e esse era o posto especial de sua melhor amiga, a americana, Jessica Jung. Jessica era um desastre na cozinha, não conseguia cozinhar um ovo, mas desde que a loira havia começado a namorar uma cozinheira, suas habilidades aumentaram drasticamente. E lá estava ela, de costas para Sunny, fazendo o café da manhã que finalmente não corria mais risco de causar infecção alimentar em quem comia. A ruiva riu com a visão, isso chamou atenção de Jessica que acabou se queimando com a água quente do café.
- Eu ainda não me acostumei com você cozinhando, sabia? – Ela fez uma pergunta retórica enquanto ajudava a amiga com a queimadura.
- Quando você menos esperar, vou pedir demissão e arrumar um emprego em um restaurante. – A loira deu os ombros e sorriu. – Bom dia, Sunshine.
- Bom dia, Sica. – Ela desejou com um lindo eye smile.
As duas arrumaram a mesa e se puseram a comer.
- Uau, você melhora a cada dia. – Sunny comentou com a boca cheia de panquecas. – Vou conversar com o chefe para aumentar o seu salário.
Jessica deu um sorriso de vitoriosa e uma leve piscadinha para a baixinha. A loira aprendeu tudo que sabe com a namorada, em muitos de seus encontros caseiros onde a morena sempre cozinhava, Jessica observava cada passo e anotava cada receita que lhe era ensinada. No olhar de Sunny, Yuri poderia ser considerada até uma santa, por que ela realmente havia feito um milagre acontecer.
- Ah, eu aceito um aumento de braços abertos. – Jessica disse enquanto bebericava seu café. Outro hábito aprendido com a namorada.
- Então, quais são os planos de hoje? – Sunny perguntou após terminar de comer.
Ambas levantaram para por os pratos na pia. – Hoje sua agenda está bem tranquila. Você só tem que assinar uns papéis agora pela manhã e tem uma reunião a tarde para discutir sobre um concerto que vai ter, posso garantir que ela não vai demorar muito. – A baixinha suspirou.
Jessica era uma manager muito eficiente, marcava compromissos o suficiente para não deixar a mais velha exausta de trabalho e ela sempre arrumava um jeito de não prolongar as reuniões inúteis. Sunny não podia e nem queria imaginar como seria se sua carreira fosse organizada por outra pessoa, a americana era realmente a pessoa certa para o trabalho.
- Nossa, uma noite de sexta-feira livre. Eu te amo tanto Sooyeon. – Ela apertou as bochechas da amiga.
- YAH! Não me chama de Sooyeon, – Ela empurrou os braços de Sunny e semicerrou os olhos. – Soonkyu.
- Golpe baixo! – Sunny reclamou e teve como resposta uma risada gostosa de Jessica.
- Aliás, queria te pedir uma coisa. – Ela coçou a cabeça e olhou para o chão. Era agora ou nunca.
- Não, Jessica. Eu não vou te entregar pra polícia por ter assassinado um homem. – Sunny não pode conter a risada ao ver a cara de espanto da amiga.
- Não é isso, idiota. – Ela revirou os olhos. – Eu queria saber se você toparia ir comigo no restaurante da Yul hoje a noite. Ela quer me apresentar para as amigas dela e eu não quero ficar apavorada por estar sozinha lá. Vamos comigo, por favorzinho? – Jessica fez a pergunta com uma ponta de aegyo que não passou despercebido por Sunny.
A mais velha fez uma cara de nojo. – Só se você prometer nunca mais fazer aegyo na minha frente. – Sunny era conhecida como ser a rainha do aegyo, a tentativa de Jessica foi no mínimo hilária.
- Além do mais, a própria dona pediu que eu te levasse comigo. – Jessica se atreveu a adicionar.
- Uau, me senti importante. – Sunny riu. – Imagino que ela queira publicidade para o restaurante. Se a comida for boa, não vai custar nada. – Ela deu de ombros. – Qual é mesmo o nome do restaurante que Yuri trabalha?
Jessica prendeu a respiração torcendo para que Sunny não associasse o sobrenome logo de cara, a ruiva poderia se negar a ir apenas para não encontrar Sooyoung.
- Ela é sous-chef do JungChoi... – Sunny não respondeu, ela estava pensativa, como se tivesse tentando se lembrar de onde havia ouvido aquele nome.
- Hm, nunca ouvi falar. – Por fim, respondeu, trazendo grande alívio para Jessica. – Avise Yuri que vou querer uma refeição bem caprichada, vou ser bastante dura com ela. – Sunny tinha um sorriso maroto em seus lábios.
- Não trate mal minha seobang. – A outra fez um bico que quase fez com que Sunny apertasse suas bochechas novamente.
- Vou tomar um banho e me arrumar para sairmos, quanto mais cedo formos, mais cedo voltaremos. – Ela piscou para Jessica e seguiu o caminho para seu quarto.
Jessica esperou Sunny sumir de sua visão e soltou um suspiro nervoso, hoje seria uma noite importante. Apresentar Yuri a Sunny seria o menor de suas preocupações, a morena era extremamente simpática e conseguia conquistar o coração de quem ela quisesse, até conseguiu derreter o coração de gelo que Jessica tinha.
A loira resolveu ligar para a namorada e avisar que as duas iriam hoje a noite, não demorou muito e a morena atendeu o telefone, ainda era cedo para abrir o restaurante.
- Seobang? – Ela chamou com a voz cheia de amor.
- Oi, minha princesa. – Yuri respondeu na mesma intensidade.
- Falei com a Sunny e combinamos de irmos hoje. Ela está animada em te conhecer.
- Ótimo, então. Vou avisar a Soo e me preparar para o surto que ela vai dar, ela é bem perfeccionista quando gente importante vem ao restaurante. – Jessica pode ouvir a risada gostosa do outro lado do telefone.
- Até mais tarde, seobang. – Jessica jogou um beijinho pelo telefone.
- Até, princesa. – Yuri fez o mesmo e desligou a ligação.
...
Algumas horas se passaram após a ligação e Yuri havia esquecido completamente de passar o recado para Sooyoung, a morena ficou presa em decidir o menu do dia e executá-lo. Tudo bem, ela tinha ajuda de Yoona que era uma das melhores cozinheiras daquele estabelecimento, mas assim como Sooyoung, Yuri também era perfeccionista e gostava de tudo feito do seu jeito. Assim que aprovou o menu, decidiu deixar que Yoona fizesse o que faltava e foi falar com Sooyoung.
A chefe estava em seu escritório resolvendo algumas coisas com os fornecedores do JungChoi quando ouviu batidas em sua porta, ela delicadamente se despediu pelo telefone e o desligou. O escritório da Jung era tão aconchegante quanto seu restaurante, haviam prateleiras com alguns prêmios que a castanha havia ganhado durante sua vida, quadros com fotos de famílias e amigos e sua mesa tinha apenas um porta-retrato, era Sooyoung e Kyungho segurando uma pequena Joy no aniversário de 3 anos da filha.
- Entre. – Sooyoung disse enquanto arrumava a papelada que estava espalhada pela mesa.
Yuri entrou limpando as mãos no avental que usava, além de ter esquecido de ter avisado mais cedo, ela também fez questão de deixar tudo organizado para que Sooyoung não surtasse mais.
- Ah, Yul. Você sabe que não precisa bater na minha porta pra entrar. – Ela revirou os olhos.
- Eu ouvi você falando no telefone e não quis interromper. – Yuri deu de ombros.
Ambas se encararam por um momento até que Sooyoung cortou o silêncio.
- Então...
- Falei com a Sica e elas irão vir hoje a noite. – Yuri foi esperta e tampou os ouvidos com as mãos antes que sua amiga gritasse.
- AAAAAAAAAAAAAA! – Ela estava certa. – TÃO EM CIMA DA HORA ASSIM? – Sooyoung pulou de sua cadeira e começou a andar de um lado para o outro dentro da sala. – TEMOS QUE DECIDIR O CARDÁPIO! E SE ELA NÃO GOSTAR DA MINHA COMIDA?
Yuri revirou os olhos e se levantou, parou Sooyoung pelos ombros e a sacodiu – TODO MUNDO GOSTA DA SUA COMIDA, SOOYOUNG. – A mais alta piscou os olhos tentando acordar de seu pequeno surto e respirou fundo. – Eu já decidi o cardápio de hoje e a Yoona está dando os toques finais na cozinha, vai dar tudo certo.
- Yul, eu te amo. – Ela olhou com ternura para a amiga. – Não sei o que seria de mim sem você.
- Nada, você seria nada. – Sooyoung respondeu dando a língua.
...
Apesar de Yuri ter falado que estava tudo sob controle, Sooyoung foi teimosa e fez questão de refazer quase tudo. Quem observava de fora achava que isso era um insulto ao trabalho de Yuri e Yoona, mas as mais novas sabiam que esse era o jeito da chefe e levavam tudo na paz.
Sooyoung corria de um lado para o outro, ela checou a comida, os vinhos, até na decoração das mesas ela meteu a mão. Ela estava quase tendo um ataque nervoso, a única pessoa que poderia acalma-la agora seria seu marido, ela não hesitou e ligou para o amado.
- Alô?
- Amor? – Ela perguntou ao ouvir uma voz diferente no diferente.
- Ah, senhora Jung! Eu sou a nova assistente do seu marido, me chamo Ahyoung, prazer. – Sooyoung tirou o celular do ouvido para ter certeza de que ligou para o celular do marido e não para o telefone do escritório.
- Prazer. – Ela respondeu seca. – Pode passar pro meu marido, por favor. – Com ênfase no “meu” mesmo.
- Claro, um minuto. – Ela ouviu a assistente chamar pelo seu marido e revirou os olhos. – Oi, amor. – Kyungho disse.
- Já arrumou uma assistente e não me contou? – Ela perguntou colocando a mão na cintura como se o marido pudesse ver sua expressão.
- Consegui a Yura hoje, assim que li seu currículo não tive dúvidas em contratá-la imediatamente. – Sooyoung soltou um simples “ah”, aquilo não era hora de desconfianças. – Por que ligou, meu amor? Está tudo bem?
- Sim, eu só estou um pouco de cabeça cheia por que uma celebridade vem hoje no JungChoi e eu estou um pouco nervosa. – Ela respondeu.
- Uau, amor. Isso é gigante. – Ele respondeu com entusiasmo. – Vai dar tudo certo, você é uma ótima cozinheira e essa não é a primeira vez que uma celebridade prova sua comida.
- Obrigada, amor. Yuri disse a mesma coisa, não sei explicar mas parece que essa visita vai ser diferente. – Ela confessou, Sooyoung não sabia explicar a sensação que estava sentindo mas hoje a noite seria um dia especial. – Você poderia passar aqui para me distrair, né? – Perguntou esperançosa.
- Sinto muito. Hoje eu fiquei de deixar Yura a par de tudo na empresa, vamos sair um pouco tarde. – Kyungho disse deixando uma Sooyoung cabisbaixa.
- Okay, sem problemas. – Sooyoung foi um pouco seca
- Te amo. – O moreno confessou.
- Também te amo. – E desligou a ligação.
...
O tão esperado momento havia chegado, por ser uma pessoa maravilhosa - palavras da mesma - Sooyoung havia dado uma folga para Yuri curtir o jantar com a namorada e após ter certeza mais uma vez de que tudo estava pronto para cantora, ela iria se juntar as três para ser apresentada a namorada da amiga.
Yuri estava nervosa, mais nervosa pelo reencontro de Sunny com Sooyoung do que o seu próprio reencontro com a ruiva. Ela nem sabia se Sunny se lembraria dela ou coisa assim, foram pouquíssimas vezes que elas se encontraram pela faculdade, Yuri passava a maior parte do tempo estudando ou saindo com alguma menina, enfim, ela estava bem nervosa.
Ela já estava sentada em uma mesa na área VIP do restaurante, usado para figuras públicas que desejavam um pouco de privacidade em seu jantar. Quando recebeu uma mensagem da namorada dizendo que haviam chegado, ela gelou.
“Vai dar tudo certo, Yuri. Um buraco no planeta pode acontecer quando as duas se juntaram novamente, mas nada grave.” Ela repetia isso na sua mente até avistar uma figura loira entrando no local que para ela era a mulher mais linda do universo inteiro. Jessica vestia um vestido florido simples, mas que caia perfeitamente em seu corpo e dava muita ênfase em suas curvas.
Yuri não aguentou esperar elas chegarem a mesa e foi (correndo) em direção às duas, agarrou Jessica pela cintura e depositou um selinho demorado em seus lábios, ambas se afastaram com um sorriso grande no rosto. Sunny estava alheia aos altos níveis de glicose produzido pelo casal pois estava ocupada mexendo no celular, foi só quando Jessica chamou sua atenção que ela levou seu olhar a morena.
- Sunny, essa é minha seobang, Kwon Yuri. – Jessica apontou para a namorada. – Seobang, essa é a minha melhor amiga, Sunny. – Fez o mesmo agora com a amiga.
- Prazer, Jessica falou muito de você. – Yuri se curvou para Sunny que retribuiu o gesto com um sorriso.
- Prazer, ela também fala muito de você. Muito. – Sunny recebeu um tapa de Jessica no ombro.
O começo do jantar foi muito agradável, Sunny parecia não se lembrar de Yuri, o que de certa forma era um alívio para a morena. O papo corria fluentemente, Jessica contando como era caótica a agenda de Sunny, Sunny dizendo que morreria sem a Jessica para lhe ajudar e também Yuri contando da vez que ela e Jessica saíram para um encontro e a loira levou um tombo ao sair do carro por que seu salto tinha agarrado no cinto de segurança. A risada das três preenchiam o lugar e Yuri estava ficando mais tranquila, quase se esquecendo do que estava por vir, mas isso tudo acabou quando ela que estava virada para a entrada da cozinha avistou Sooyoung saindo dela. A morena apertou levemente a coxa da namorada que prontamente levantou a vista do prato para onde a morena encarava.
Sunny estava mais uma vez alheia de tudo, tão concentrada em sua comida que nem percebeu alguém se aproximando atrás dela.
- Desculpa a demora, houve um problema em um prato e eu tive que corrigi-lo. – Sunny parou de comer na hora, ela conhecia aquela voz, era a voz que lhe atormentava até o dia de hoje.
A empresa de Sunny deixou de privá-la de ter relações com as pessoas fazia muito tempo, mas a ruiva não conseguia de relacionar com ninguém. Sempre que tentava, ela lembrava da morena que ela havia deixado para trás muito tempo atrás e que nunca mais havia encontrado novamente.
- Olá, eu sou a Sooyoung, irmã da Yuri e dona desse restaurante. – Ela primeiro se apresentou a Jessica e em seguida foi falar com Sunny que ainda estava de costas para ela. – Você deve ser a amiga da Jessica, - A voz de Sooyoung morreu no meio da frase quando a ruiva virou o rosto para encara-la, mil coisas passando pela sua cabeça no momento, mas ela apenas conseguiu formular uma unicay palavra na bagunça que estava sua cabeça – Soonkyu.
0 notes
Text
Capítulo II
- Yeri chegou, tenho que ir. – Ela se levantou, deu um beijo na bochecha de cada um e saiu pela porta carregando sua mochila.
Apesar de ser uma tampinha, como Joy a chamava, Yeri conseguia ser escandalosa de uma forma extraordinária. Ainda da entrada de sua casa, a mais alta já podia ouvir sua melhor amiga gritar do portão, como sempre reclamando que Joy estava demorando e que estava fazendo muito sol.
Ao contrário do que Kyungho queria para a filha, Sooyoung sempre disse que era muito importante que ela fosse andando ou de ônibus para a escola, para ter um pouco de humildade e não ficar abusando do dinheiro e esfregar na cara de seus colegas sem necessidade. A filha nunca se incomodou com o fato de ir caminhando para a escola, a mesma até gostava, pois Yeri sempre estava ali para acompanhá-la e era uma desculpa ótima para passar um tempo a mais com a pequena.
- Finalmente tomou vergonha na cara e apareceu, eu já estava derretendo aqui. – Yeri ficou na ponta dos pés para depositar um beijo bochecha de sua amiga.
- Deixa de ser dramática, garota. – Ela bagunçou o cabelo da mais nova. – Vamos logo, pois com suas pernas minúsculas é capaz da gente chegar atrasadas.
O caminho foi tranquilo e alegre como sempre é, as duas rindo e conversando sobre nada e tudo ao mesmo tempo. A amizade das duas chegava causar inveja em algumas pessoas do colégio, pois ninguém conseguia entender como uma pessoa de alta sociedade como a Joy conseguia ser amiga de uma zé-ninguém como Yeri.
Os Kim não eram pobres, mas também não eram tão ricos quanto os Jung, eles eram donos de uma pequena mercearia na cidade e isso era o suficiente para sustentar a família. No inicio de sua vida, Joy foi colocada em uma escola de classe média, pois de acordo com Sooyoung “Ela não precisava ficar em escolas caras por estar ainda no começo” e foi lá que a pequena Jung conheceu sua futura melhor amiga.
...
- Mãe, eu não quero ir pra escola. – Joy agarrou-se na perna da mãe e reclamou.
A mais velha abaixou-se para ficar na altura da filha. – Mas você tem que ir, filha. Já está na idade de começar a estudar.
Sooyoung queria ser mais ativa em seu restaurante e isso significava que Joy precisava começar a frequentar a escolinha, e com muito esforço ela conseguiu convencer a pequena a sair de casa. Porém, parecia que todo o seu esforço havia sido em vão, Joy não queria de jeito nenhum largar a mãe para ir à aula.
A pequena achava que ir à escola era desnecessário, com ajuda de sua mãe e seu pai, ela já estava aprendendo a ler e já arriscava nomes de pratos estrangeiros que achava no cardápio do JungChoi. O que tem de especial na escola que não poderia ser ensinado por seus pais? Isso era uma dúvida que não saia da cabeça dela.
- Filha, você vai poder fazer amigos e aprender mais coisas. – Sooyoung tentou mais uma vez. – Olha! A tia veio te receber.
Joy virou seu corpinho e avistou uma mulher mais baixa que sua mãe, mas igualmente ou até mais bonita (sua mãe não poderia saber desse pensamento) que Sooyoung, se posicionar em sua frente e lhe dirigir um sorriso encatador.
- Você é a Joy, certo? – Ela se abaixou na altura de menina.
Os olhos de Joy brilharam de alegria. – Mamãe, ela não me chamou de Sooyoung. – A mais velha riu enquanto pequena pulava animada.
A professora riu. – Esse é seu nome. Todo mundo aqui vai te chamar assim... – Ela explicou. – Aliás, meu nome é Kwon BoA, mas pode me chamar de tia Kwon.
- Tudo bem, tia Kwon. – A menina se soltou da perna da mãe e abraçou a professora. – Eu gostei de você.
- Nem parece que você estava fazendo um show por que não queria mais vir. – Sooyoung disse e recebeu uma língua da filha em resposta.
- Joy, nós temos que ir, a aula vai começar. – BoA respondeu se levantando e estendendo uma mão para a menina.
Antes de responder o gesto da professora, Joy pulou no colo da mãe lhe dando um beijo estalado na bochecha. – Te amo, mamãe.
- Eu também te amo, filha. Até mais tarde. – Ela pôs Joy no chão e viu a filha sumir para dentro da escola.
Ao chegar na salinha, Joy logo se escondeu atrás das pernas da professora, a quantidade de crianças naquele lugar estava assustando-a.
- Bom dia turma, essa aqui é a Jung Joy. – BoA se afastou para que pudessem ver a menina que estava com muita vergonha daqueles olhos todos vidrados nela.
- Seja bem-vinda Joy. – Todos gritaram em uníssono.
- Você pode escolher um lugar para sentar. – Antes mesmo que pudesse procurar um lugar uma voz a interrompeu.
- Ela pode sentar comigo, tia? – Uma menina menor ainda que Joy levantou a mão.
Joy olhou um pouco apreensiva para a professora que apenas assentiu, com dificuldade ela foi em direção a cadeira vazia ao lado da menina que não conseguia parar de bater as mãos animada.
- Oi, Joy! – Ela disse com um sorriso largo nos lábios. – Meu nome é Kim Yerim, mas pode me chamar de Yeri que fica mais fácil.
Joy devolveu o sorriso para a pequena que por incrível que pareça conseguiu aumentar mais ainda seu sorriso.
- Sinto que vamos ser melhores amigas. – Yeri confessou.
E ela estava muito certa sobre isso.
...
Ao decorrer dos anos, Kyungho fez questão de colocar a filha em um colégio caro e bem renomado, Joy ficou muito triste por estar se separando da pequena Yeri e fez de tudo para não ficar longe de sua amiga. Os Kim não tinham condições de pagar uma escola daquele porte e Joy fez de tudo para a amiga ser aceita, desde ideias para vender comida até vaquinha online. Depois de muita conversa e com a influência de Kyungho, o diretor da escola resolveu aplicar uma prova para Yeri concorrer a uma bolsa integral. Com muito estudo e esforço, a pequena obteve sucesso e conseguiu a bolsa.
Como nem tudo nessa vida são flores, apesar de ser uma menina bem doce e inteligente, Yeri sofria bullying na escola por não ser tão rica quanto os outros adolescentes e apesar de ter sua amiga sempre lhe defendendo e conseguindo livrar a mais baixa de algumas confusões, nem sempre Joy estava por perto e quando isso acontecia, o trio que Yeri mais temia, chegava para perturbá-la.
Quando a dupla chegou no colégio, foram logo recebidas pelo trio das mais populares e cruéis da escola. Im Naeyeon era a líder, filha de pais advogados muito bem renomados, tendo seu braço direito a Park Jihyo, filha do famoso dono da JYP, Park Jinyoung e por último a japonesa Minatozaki Sana, filha de pais empresários famosos que só ficavam atrás do pai de Joy.
- Chegou a ação de caridade da escola. – A mais velha do trio anunciou e riu, sendo seguida pelas outras duas.
- A carroça de seus pais quebrou no caminho? – Perguntou Jihyo arrancando mais risadas não só das amigas, mas também de quem passava pela cena.
- Não enche, suas idiotas. – Joy se colocou à frente de Yeri para protege-la.
Yeri se encolheu atrás da amiga.
- Gente, deixa Yeri em paz. – Sana falou com um sorriso debochado no rosto. – Ela pode soltar a cachorra dela Joy e vai que ela tem raiva. – A castanha deu de ombros.
Joy estava prestes a responder quando sentiu a mais nova apertar seu braço, Yeri sussurrou para que a mais alta ignorasse isso e seguisse seu caminho. As duas deixaram o trio e seguiram para a sala de aula, por ainda ser um pouco cedo, elas ficaram a sós esperando os outros alunos chegarem.
- Você sabe que não precisa aguentar isso tudo, né? – Joy afagou os cabelos da mais nova. – Nós podemos falar com o diretor, eu não sei como você aguenta esse bullying por todos esses anos.
- Eu não quero piorar minha situação, - A pequena confessou. – nem me incomoda mais, só deixe isso pra lá que uma hora elas cansam. – supirou.
- Se você diz... – Joy finalizou quando alguns colegas de classe foram chegando.
...
Finalmente o sinal de saída havia batido, Yeri não aguentava mais ouvir a professora tagarelar sobre química. Ela já tinha feito de tudo para ignorar a professora, desenhar no seu caderno, olhar as turmas mais novas brincarem pela janela, observar Joy e sua expressão fofa de concentrada enquanto tentava resolver o exercício que a professora havia passado. Era lindo como as sobrancelhas de sua melhor amiga ficavam franzidas quando ela errava um cálculo, Yeri se perdia muito da realidade enquanto observava os detalhes do rosto da mais velha, ela se perdia tanto que não ouviu Joy chamar seu nome.
- KIM YERIM! – Joy gritou, tirando a amiga do transe. – Você tava viajando de novo? Seu caderno está em branco, vai acabar ficando reprovada assim...
- Não tem problema. – Ela respondeu enquanto guardava o material. – Eu tenho a melhor professora do mundo para me ajudar. – Yeri apertou a bochecha de Joy.
Joy revirou os olhos. – Enfim, vai lá pra casa hoje?
Era rotina, toda sexta-feira após a escola Yeri ia para casa de Joy e as vezes passava o final de semana todo lá. A pequena não se importava em ficar o tempo todo com a amiga, ela amava isso, mas de uns dias para cá, ela estava percebendo que precisava ficar um pouco longe de Joy. Não é possível dizer exatamente quando Yeri começou a questionar o que sentia por Joy, às vezes ela achava que foi naquele dia em que Joy a defendeu na frente de todo mundo pela primeira vez, quando Joy deu um beijinho no seu machucado quando ela caiu do balanço ou até quando Joy apareceu pela primeira vez em sua sala de aula. Ela estava perdidamente apaixonada pela melhor amiga.
- Hoje não vai dar, eu tenho que ajudar meus pais na loja. – Ela mentiu.
- Ah, tudo bem. Mas semana que vem você não escapa. – A mais alta riu e se levantou junto com a amiga.
- Pode deixar, senhora mandona. – Ambas foram andando de mãos dadas até o portão.
Ao chegar no portão, elas se separaram por que caminho da loja dos pais da Yeri era o contrário da casa da Joy. Ainda de mãos dadas elas se encararam por um tempo, até que Joy cortou o silêncio.
- Quando chegar em casa me avisa. – Ela deu um beijo na testa da menor, o que fez Yeri ficar com a bochecha vermelhas.
- Olha as pombinhas da escola. – Jihyo e suas seguidoras passaram pelo casal rindo da cena.
Joy ficou nervosa, mais nervosa que o normal quando acontece esse tipo de situação, ela se afastou rapidamente da Yeri e lhe deus as costas. Yeri pode jurar que ouviu Joy murmurar “ela não é minha namorada”, essa reação da mais velha só reforçou a quão nula era a chance da Joy corresponder os sentimentos de Yeri.
0 notes
Text
Capítulo I
Choi Sooyoung tornou-se Jung Sooyoung em uma primavera linda de 2002, com uma cerimônia simples, porém especial. Ao descobrir que sua namorada estava grávida, Jung Kyungho não hesitou um segundo e pediu a morena em casamento, o que agradou muito os pais da Sooyoung, pois Kyungho era um rapaz novo que vinha de uma família bem-sucedida e já trabalhava como empresário, sendo um dos destaques rookie da profissão.
A ótima condição da família Jung foi recebida com muita aprovação para a família Choi, os pais de Sooyoung sempre aprovaram o relacionamento dos dois e mal poderiam esperar pela consolidação do mesmo. Já a morena nunca se encantou com o dinheiro, claro, quem seria ela para negar toda a mordomia que seu namorado lhe dava, mas ela não era interesseira e trabalhava duro para conseguir o próprio dinheiro.
Recém-formada na faculdade de culinária, a jovem Sooyoung que trabalhava em um restaurante mediano foi surpreendida por uma turma de jovens bem vestidos e ricos que queriam experimentar uma comida diferente. Após o jantar, um rapaz alto e moreno decidiu elogiar a cozinheira e como ele disse em seus votos do casamento “foi amor à primeira vista”, após algumas semanas saindo, eles resolveram assumir o namoro.
Quando completaram um ano de namoro Kyungho quis presentear a namorada com um restaurante próprio, a morena não aceitou de primeira, mas com muita insistência e incentivos do namorado, ela cedeu. E foi na comemoração desse dia que mudou tudo para o casal.
Sooyoung estava tão empolgada em ter uma filha que conseguiu convencer seu marido a nomear a filha de Sooyoung, sim, seu próprio nome. Jung Sooyoung nasceu e a vida do casal não poderia ser mais repleta de felicidade e amor, Kyungho agora tinha a própria empresa, que foi um presente de casamento de seu pai, por que de acordo com o mais velho, agora seu filho era um pai de família e teria que dar uma estabilidade maior ainda para suas amadas.
Por incrível que pareça, Sooyoung conseguia lidar com seu restaurante e sua filha muito bem. A morena teve que ficar apenas com a administração do local até sua filha ter uma idade o suficiente para ir à escola, a mulher não queria que sua pequena ficasse o tempo inteiro com uma babá e fez questão de contratar uma chef para lhe substituir, que acabou sendo ninguém menos que sua melhor amiga de faculdade, Kwon Yuri.
Os anos foram se passando e nada poderia ficar melhor, o restaurante “Jungchoi” era um dos mais renomados do país, o que rendeu vários prêmios e entrevistas em revistas do ramo culinário. Sooyoung nunca quis se vangloriar muito, pois ela mesma dizia que o que ela tinha não era talento, era amor e dedicação a profissão.
Kyungho era um pai muito atencioso, não deixava nada faltar para suas princesas, era assim que ele se referia as Sooyoungs. Mimava as duas demais e quem mais gostava disso era a pequena Joy, a menina era apaixonada pelo pai, ele era seu maior herói.
Joy, como foi apelidada a pequena Sooyoung, era uma estudante amada por todos os professores por ser muito inteligente e o happy vírus da turma, a menina era bastante popular na escola, mas apenas uma pessoa conseguia se aproximar, ela se chamava Kim Yerim. Ambas se conheceram no jardim de infância e não se descolaram desde então, Yeri até tem uma cama no quarto de Joy, já que a pequena sempre passa os finais de semana na casa dos Jung.
A família morava em uma pequena mansão em Gangnam, apesar de estar anos nessa luxúria toda, Sooyoung ainda era muito pé no chão e fazia questão de cuidar das pequenas coisas pela casa, como obviamente a comida, sempre que podia a chef dispensava os empregados pelo dia ou final de semana para cuidar de sua casa.
...
A rotina na mansão era a mesma correria de sempre, todos acordados cedo para ir ao trabalho e a escola, mas aquela manhã foi um pouco diferente das outras. O casal teve um encontro na noite anterior e Sooyoung passou um pouco do limite da bebida, o que resultou na morena dormindo mais do que deveria.
- Acorda, jagi. – Kyungho tentou acordar a esposa e recebeu um pequeno ronco como resposta. – Amor, vamos. Você já dormiu demais. – Ele deu um selinho na morena e tirou seu cobertor a força.
- Deixa eu dormir, posso fazer a Yuri abrir o restaurante por mim. – Sooyoung resmungou tentando puxar a coberta de volta ao seu corpo.
- Tudo bem – O marido disse saindo da cama - Se você não levantar agora, Joy vai comer o café da manhã toda sozinha. – Ele brincou com a esposa e saiu do quarto.
Kyungho foi em direção da cozinha para terminar seu café da manhã e encontrou sua filha arrumada para escola sentada a mesa.
- Conseguiu acordar a omma? – Perguntou a menina.
- Ela vai chegar daqui a 2 minutos, quer ver? – Ele sorriu para a filha e sentou-se na ponta da mesa.
Em menos de dois minutos, Sooyoung apareceu correndo pelas escadas, ainda de pijama e com o cabelo bagunçado.
- JUNG SOOYOUNG, SE VOCÊ COMEU TUDO VAI FICAR UMA SEMANA SEM SEU CELULAR! – Sooyoung apoiou as mãos na mesa retomando o fôlego.
- A tática de dizer que a comida vai acabar sempre funciona – A pequena riu e depois bebeu um gole de seu suco.
- Vocês são dois idiotas. – A mãe disse enquanto preparava seu prato.
O clima estava agradável, os três conversando sobre coisas aleatórias e o que estavam planejando para o resto do dia. Até a mais nova receber uma mensagem no celular e começar a se despedir dos pais.
- Yeri chegou, tenho que ir. – Ela se levantou, deu um beijo na bochecha de cada um e saiu pela porta carregando sua mochila.
- Eu também tenho que ir, aquela empresa está um caos desde que meu assistente se demitiu. – Kyungho disse.
- Vai me deixar sozinha? – Sooyoung perguntou com um biquinho.
- Se você tivesse acordado na hora certa, eu te levaria até o restaurante. – Ele riu e deu um selinho na esposa.
- Não, tudo bem. Eu ainda sei dirigir. Pode ir, eu me viro. – Sooyoung falou de modo dramático.
- De verdade, jagi. Se eu não estivesse enrolado, eu realmente te esperaria. – Foi a vez de Kyunho fazer um pequeno aegyo.
- Aish, babo! Eu estou brincando. – Ela bateu no ombro de seu marido. – Trate de arrumar um assistente logo para me esperar da próxima vez.
- Vou resolver isso hoje, prometo.
Kyungho se levantou e puxou Sooyoung para ficar à altura dele, ambos compartilharam um beijo repleto de amor e paixão.
- Vai logo, eu preciso me arrumar. – A morena afastou o beijo e tentou sair do abraço do mais velho.
- Não posso fazer nada se minha esposa é a mulher mais linda do mundo quando acorda.
A mais nova corou.
- O que eu fiz para merecer você? – Ela perguntou apaixonada.
- Nasceu.
E foi nessa breguice que o casal se separou e o mais velho foi para o trabalho, deixando Sooyoung em casa para se arrumar.
A morena terminou o café da manhã e arrumou a mesa, olhou no relógio e viu que não daria tempo de abrir o restaurante. Rapidamente mandou uma mensagem para Yuri explicando sua situação e pediu encarecidamente para sua sous-chef abrir o restaurante em seu lugar. Ao receber uma confirmação da outra mulher, Sooyoung foi se aprontar.
...
O restaurante era um ambiente chique e ao mesmo tempo descontraído, as paredes eram decoradas com luminárias grandes e caras, as mesas de madeira com assento acolchoado trazia o conforto necessário para ter uma refeição boa. Ao chegar no local, Sooyoung foi logo cumprimentada por Yuri que recebia a chef com um sorriso maroto nos lábios.
- Transou muito ontem a noite? – Yuri perguntou enquanto limpava as mãos pelo avental.
- Isso é jeito de falar com sua chefe? – Sooyoung revirou os olhos.
Foi uma surpresa e tanto quando Sooyoung convidou a outra para trabalhar em seu restaurante, Yuri não pensou duas vezes em ajudar a amiga e aceitou o trabalho. As duas passaram por tudo juntas, Yuri confia em Sooyoung de olhos fechados, a mais nova foi uma das únicas pessoas a apoiá-la quando a morena decidiu assumir sua sexualidade para a família. Sooyoung era bissexual desde sempre, mas hoje em dia apenas Yuri sabia desse detalhe, a mais alta não escondia sua orientação sexual, ela simplesmente não achava necessário ficar contando para todos.
- Até parece que você é assim. – A sous-chef brincou dando um tapa no ombro da mais alta.
- Sim, Yuri. Eu transei muito, quer ouvir detalhes? – Sooyoung perguntou tendo como resposta uma careta de nojo da morena. – Aliás, quem eu soube que transou muito foi você, quando que vou conhecer sua namorada para saber se eu aprovo ou não?
- Você é mais nova do que eu e me trata como uma criança, que isso?
- Eu sou mais alta que você, isso já basta.
- Por que eu te amo? – Sooyoung deu de ombros – Jessica é muito ocupada, mal tem tempo para mim. – A morena fez bico.
- Ela não é manager de alguma cantora famosa? Fala para ela vir no restaurante com sua celebridade, além de conhecer minha cunhadinha podemos ajudar na divulgação daqui.
- Hum, verdade. Vou falar com a Sica. – Yuri deu um sorriso frouxo.
Ela sabe muito bem de quem a Jessica é manager, ela nunca contou para Sooyoung por que sabia que a mais alta iria surtar e dar um jeito de evitar e nunca conhecer Jessica. No fundo Yuri sempre soube que o término de namoro entre Soonkyu e Sooyoung na época da faculdade foi conturbado devido a escolha de carreira da baixinha, sempre que o assunto faculdade vinha à tona, Sooyoung fazia o máximo para não falar da Soonkyu ou ao menos lembrar de momentos que passaram juntas.
Yuri ainda se pergunta se após todos esses anos Sooyoung ainda sente algo pela outra ou se tudo caiu no esquecimento, uma hora ou outra sua chefe iria descobrir que Jessica é manager da cantora Lee Soonkyu, que agora se chamava Sunny, a mesma menina que ela ouvia Sooyoung falar com tanto amor nos olhos quando chegava no dormitório após um encontro, a mesma menina que quebrou o coração de Sooyoung em pedacinhos.
Apesar de toda essa história conturbada, Yuri tinha pensamento positivo, tudo iria dar tudo certo, as duas mudaram tanto, talvez nem se reconheceriam mais, Yuri nem sabia se Sunny á reconheceria. A morena afastou todos os pensamentos duvidosos e mandou uma mensagem para sua namorada.
[9:23AM] Yulk: princesa, a soo quer te conhecer.
[9:25AM] Sica: finalmente, né?
[9:25AM] Yulk: não fala assim... você sabe por que eu adiei o máximo possível esse encontro.
[9:25AM] Yulk: ela quer que você traga a sunny também, disse que vai trazer uma publicidade boa para o restaurante.
[9:26AM] Sica: OMO, ELA SABE QUEM É A SUNNY????
[9:26AM] Yulk: nããão, ela sabe que você trabalha pra uma cantora famosa e só isso, acho que não desconfia de nada.
[9:26AM] Sica: você tem certeza que quer fazer isso?
[9:33AM] Yulk: eu quero que minha namorada conheça minha irmã de coração sim, a consequência disso a gente lida depois.
[9:34AM] Sica: tudo bem, seobang. vou comentar com a sunny e te falo a resposta.
[9:34AM] Sica: tenho que ir, sunny acordou e temos que ir para a empresa. te amo e estou com saudades.
[9:35AM] Yulk: ok, minha princesa. mal posso esperar pra te ver e matar a saudade. Te amo <3
Yuri soltou um suspiro pesado que chamou atenção de Sooyoung que passava por ela segurando uma caixa pessada.
- Oh, Jessiquinha. Será que sua namorada babona não pode para de falar com você por um segundo e me ajudar a arrumar a dispensa? – Sooyoung perguntou fazendo voz de aegyo.
Yuri revirou os olhos. – Eu estava fazendo o que você me pediu, sua girafa. Ela vai ver com sua celebridade se ela aceitar jantar aqui.
- Omo, me avisa o dia. Vou precisar me preparar, vai que ela gosta da minha comida e resolve espalhar para suas amigas famosas.
- Todo mundo gosta da sua comida, deixa de ser otária. – Yuri riu e pegou a caixa da mão de Sooyoung.
- Se você diz. – A mais alta deu de ombros.
Sooyoung sabia que o que Yuri disse era verdade, mas ela sempre ficava insegura quando alguém muito importante ia jantar em sua “casa”. Ela não fazia ideia para quem Jessica trabalhava, ela sempre foi um pouco desligada nessa coisa toda de famosos, era um dos treinamentos básicos que recebeu “tratar todos os clientes como se fossem iguais.”, por isso a mais alta não fazia questão de saber quem estava na moda ou quem cantava a música de mais sucesso no rádio. A única coisa que Sooyoung sabia sobre a patroa de Jessica era que ela era uma solista feminina bem reconhecida no seu meio, a castanha esperava de coração que pudesse agradar a cantora de alguma forma.
...
Caos era um apelido carinhoso para descrever o que acontecia dentro da empresa de Kyungho, apesar de ser o CEO, sua mesa estava cheia de pilhas de papel. A pilha que mais interessava o moreno no momento era a pilha de currículos, ele precisava achar um assistente urgente. O seu último assistente se demitiu por achar que o trabalho era muito pesado e dedicava muito de seu tempo livre, não era nada que Kyungho poderia fazer, ele sempre deixou bem claro desde o início que as tarefas eram pesadas e geralmente a urgência não respeitava momentos pessoais.
Kyungho viu um currículo perdido pela sua mesa e resolveu lê-lo, era uma mulher chamada “Kim Ahyoung”, seus cabelos dourados chamou a atenção do moreno. Além de ser uma das mulheres mais bonitas que Kyungho havia visto, seu histórico era ótimo, ainda estava cursando faculdade de administração, porém era a primeira de sua classe.
O rapaz buscou pelo número na ficha, ao achar o que queria, Kyungho usou o telefone do escritório para fazer a ligação.
- Yoboseyo?
- Kim Ahyoung? – Falou um pouco sem jeito, falar no telefone sempre foi trabalho para seu assistente.
- Aqui é da Jung e Associados, estamos ligando sobre a vaga de assistente que a senhorita estava interessada. – Kyungho forçou a sua melhor voz robótica para não demonstrar o desespero em que se encontrava.
- Ah! Sim, eu estou interessada na vaga. – Ele podia jurar que era a voz mais doce que já havia ouvido.
- Gostaríamos de marcar uma entrevista para... – Olhou o relógio – daqui a duas horas.
- DUAS HORAS? – Ahyoung exclamou. – Desculpe, em duas horas estarei aí.
- Seu nome estará com o recepcionista e ele dirá onde deve ir. Até mais tarde. – Até mais tarde? O que foi isso?
- Até.
Isso foi mais difícil do que esperava, Kyungho torcia que tudo desse certo hoje para não ter que lidar mais com telefones.
...
A hora da entrevista chegou e o moreno estava um tanto quanto nervoso, ele havia passado as horas anteriores arrumando o escritório, ou melhor, tentando arrumar para receber a loira. Ao receber um telefonema da recepção avisando que Ahyoung estava subindo, Kyungho passou as mãos suadas pela calça e começou a mexer em alguns papeis que havia deixado propositalmente na mesa para parecer um pouco ocupado.
Ouviu dois toques na porta.
- Pode entrar. – Kyungho falou se endireitando na cadeira.
O homem soltou um pequeno suspiro ao avistar a moça entrar em sua sala, a foto não fazia jus a pessoa, ela era muito mais bonita e delicada ao vivo. Ahyoung usava uma blusa social azul bebe com uma saia preta e um salto de mesma cor, seu cabelo loiro caindo em cascada por cima da blusa ajudava a manter o charme mesmo usando roupas tão formais.
Kyungho levantou-se para cumprimentar a mulher e logo apontou para a cadeira em frente a sua mesa.
- Bom, vamos começar a entrevista. O que fez você se candidatar ao cargo? – Ele perguntou curioso.
- Primeiramente eu queria ter um pouco de experiencia na carreira e não tem vaga melhor do que como assistente do CEO. – A loira respondeu com um sorriso.
- Certo e você acha que vai conseguir lidar com todo o trabalho mais os seus estudos?
- Sim, senhor...
- Senhor, é meu pai. Me chame de Kyungho. – O moreno riu
- Sim, senh... Kyungho. – Ahyoung sorriu – Eu me acho bastante organizada em relação a isso e prometo não lhe deixar na mão.
Kyungho se apoiou na mesa com as mãos no rosto. Ele precisava urgentemente de um assistente, se tivesse que chamar mais uma pessoa para uma entrevista, era capaz dele surtar e se demitir (se isso fosse possível). A entrevista havia sido rasa e rápida, mas o rapaz não via nada de ruim na mulher que estava na sua frente e nada do seu instinto dizia que seria uma má ideia, então ele fez o que já sabia que faria desde que ligou para ela.
- Contratada.
- Desculpa? – A moça se assustou por um momento, ela era confiante, mas nunca imaginou que seria tão rápido assim.
- Você está contratada, por enquanto vai ter que dividir a mesa comigo, pois preciso mudar a sua mesa para a minha sala. – Ele soltou ar pela boca ao sorrir quando percebeu a felicidade da loira.
- Quando eu começo? – Ahyoung perguntou entusiasmada.
Kyungho olhou em seu relógio e respondeu:
- Agora. – Sua assistente arregalou os olhos. – Isso é um problema?
- Nenhum. Apenas fiquei surpresa por começar de imediato.
- É que eu estou um pouco atolado. – O moreno passou a mão na nuca.
- Eu percebi. – Ahyoung soltou uma risada. – Mas pode deixar que seus problemas irão sumir. – Ela encarou o chefe. – Aliás, me chame de Yura.
- Yura? – Ele franziu o cenho.
- Um apelido de infância, te conto a história depois. – Kyungho assentiu – Eu só deixo as pessoas que eu confio usarem e sinto que já posso confiar em você. – Ela explicou sem tirar o sorriso dos lábios.
- Nós vamos nos dar muito bem, Yura.
0 notes
Text
Capítulo Vinte
- Eu sinto muito. - A médica ruiva disse suspirando e passando a mão na testa.
Taeyeon sentiu os joelhos enfraquecerem diante das palavras, Tiffany mordeu os lábios, mas então...
- O hospital está lotado hoje. Acidente no porto envolvendo um navio grande e... Por que vocês não se sentam? - Ela gesticulou com a mão o banco, inconsciente do ataque de coração que quase dera a Tiffany e Taeyeon.
As duas se sentaram novamente, assustadas demais para responder qualquer coisa. Elas tinham as mãos entrelaçadas e foi Tiffany quem saiu do transe primeiro.
- Iren... Quer dizer, Joohyun... Co-como ela está? - Ela apertou as duas mãos na de Taeyeon porque elas estavam tremendo.
- Estável, agora. Eu sou a médica responsável por ela, Dra. Son, a propósito. - Ela dizia enquanto se sentava à frente das duas.
- Detetive Kim Taeyeon e Dra. Tiffany Hwang. - Taeyeon finalmente conseguiu falar.
- Vocês são as ommas dela, eu suponho? - Ela perguntou diretamente enquanto os olhos curiosos vasculhavam as duas, concluindo que eram um casal pelo modo como seguravam as mãos.
- Não, nós... Somos apenas as responsáveis no momento. - Tiffany disse e engoliu seco temendo que a médica não estivesse mais disposta a compartilhar sobre o caso da garotinha depois da informação. O que era uma bobagem porque Taeyeon era uma detetive e ela era de fato responsável por Irene.
- Entendo. - Ela cruzou as mãos sobre as pernas e franziu o cenho. - Vocês já ouviram falar de Rohypnol?
Ambas balançaram a cabeça em sim. Era uma toxina que vez ou outra aparecia nos exames de Tiffany.
- Como vocês sabem, é uma droga proibida, mas infelizmente é uma das drogas mais usadas para... assaltos e estupros. Nós fizemos vários exames para encontrar o que estava desacelerando o organismo dela, e esse foi o resultado. Não sabemos se a droga foi ingerida ou aplicada por via endovenosa na menina, o que nessa altura não faz muita diferença. O mais importante é que conseguimos identificá-la a tempo. - A mulher mordeu os lábios inferior, pensativa e levantou os olhos para as duas. - É muita sorte dela ter chego aqui antes do pico de efeito. Um pouco mais tarde e... ela provavelmente estaria morta. Vocês a trouxeram bem a tempo.
- Quem administrou isso não tinha ideia do que estava fazendo. - Tiffany pontuou.
- Absolutamente nenhuma ideia. Uma dose dessas é perigosa para adultos, imagina para uma criança na idade dela.
- Ela... Ela vai ficar bem? - Taeyeon perguntou, a voz rouca denunciando o medo. Tiffany queria abraçá-la e beijar sua bochecha. Taeyeon poucas vezes demonstrava temer alguma coisa, mas parece que Irene era sua exceção.
A médica considerou a resposta. - Detetive Kim...
- Apenas Taeyeon.
- Taeyeon... Ela vai ficar bem. Entretanto devo advertir de que muito provavelmente ela não se lembrará de nada do que aconteceu.
- Melhor. - Taeyeon suspirou, e o comentário surpreendeu a ela mesma. Mas francamente, nessa altura ela pouco se importava com a investigação, ela queria apenas o melhor para Irene.
- Olha... Nós administramos Flumazenil, um antídoto eficaz contra essa toxina. A dosagem é lenta, apenas 1mg por hora. Nós esperamos que ela acorde logo, é claro, mas caso não acorde nós continuaremos com o antídoto. Você entende?
Taeyeon balançou a cabeça em sim, mas estava incerta. - Se não fizer efeito...?
- Vai fazer, Taetae. Vai fazer. - Tiffany garantiu e lhe apertou o braço num gesto de conforto e promessa.
Dra. Son concordou com a cabeça e sorriu para as duas. - Eu também consultei, é claro, o corpo da menina. Nenhum hematoma, nenhum osso quebrado, nenhum sinal de abuso ou de força física usado contra ela. Eu imagino que isso você já tinha concluído, Dra. Hwang.
- Tiffany, por favor. E sim, embora tenha sido um exame rápido.
Son concordou com a cabeça e se voltou para Taeyeon. - Detet... Taeyeon - Ela se corrigiu quando Taeyeon franziu o cenho para ela, - Não sei até que ponto posso ajudar na sua investigação em relação a isso, mas te ajudarei no que eu puder. É só me dizer o que precisa.
Taeyeon olhou para Tiffany e ponderou a questão. - Nesse momento nós... Será que nós podemos vê-la?
A médica abriu um sorriso para ela, como se já tivesse previsto o pedido. - Certamente. Ela estava sendo movida para o quarto quando vim para cá. Por que vocês não me acompanham? - Ela se levantou e esticou o braço numa direção enquanto esperava pelas duas.
As três caminharam lado a lado pelos corredores do hospital. Antes de alcançarem o quarto, no entanto, a médica se virou para elas e disse numa voz suave. - Ela está no oxigênio porque, como eu já disse, essa droga desacelera o organismo. Não se assustem com os tubos, certo? É apenas para auxiliar na respiração. - Ela ofereceu aquilo que dizia para qualquer familiar prestes a encarar um ente querido numa cama de hospital. Mesmo sabendo que Tiffany também era uma médica, e que provavelmente estava tão acostumada com aquilo quanto ela, ela sabia que a visão de médico-paciente mudava completamente quando o médico se tornava família. Elas andaram mais um passo e a mulher abriu a porta do quarto 108, indicando com a mão para que as duas entrassem.
- Oh, Deus. - Tiffany murmurou e levou a mão na boca para suprimir a voz tremida quando estudou a criança deitada na cama. Ela parecia pequena demais para estar ali, mas ao mesmo tempo a morena se sentia aliviada - tão aliviada - por isso. Ela ficaria bem. Ela acordaria logo.
Taeyeon apenas tinha suspirado - também em alívio, e passado a mão na cintura da morena. Ela queria terrivelmente segurar Irene em seu colo porque mesmo coberta com o cobertor azul do hospital, ela parecia fria. Talvez ela pudesse fazer isso mais tarde quando a menina estivesse livre de todos aqueles tubos.
Dra. Son limpou a garganta - Eu vou... vou deixá-las sozinhas. - Ela segurou a maçaneta da porta e olhou de novo para as mulheres. Elas pareciam comovidas demais com a menina para seu gosto, pareciam preocupadas muito além do que o caso exigia. O jeito como a morena segurava a mão da garotinha e acariciava sua testa com ternura, obviamente segurando as lágrimas. O jeito como a detetive parecia inconfortável demais em vê-la ali na cama, o modo como ela tinha levantado o cobertor até o queixo para se certificar de que ela estava aquecida... Isso era muito mais do que se importar em resolver um caso.
- Eu... Normalmente diria que vocês têm apenas uns minutos, mas... Bem, Dra. Hwang, porque você não se utiliza do seu título para ficar aqui quanto tempo desejar? - Ela abriu um sorriso em cumplicidade para a morena.
Tiffany acenou com a cabeça. - Muito obrigada.
- Não por isso. Eu mesma não gostaria que ela acordasse sozinha aqui. - Ela sorriu e se virou para sair. Antes disso...
- Doutora? - Taeyeon a chamou, a voz rouca preenchendo o quarto.
- Sim?
- Muito obrigada por salvar a tartaruga. Quer dizer, Joohyun. - Ela balançou a cabeça para se corrigir e ouviu Tiffany rir baixinho atrás de si.
- Apenas fiz meu trabalho, detetive. - E depois de oferecer um sorriso ela partiu.
Então era isso, elas estavam confortáveis ali, na presença uma da outra. Tiffany jogou os braços em volta do pescoço de Taeyeon e a abraçou, permitindo que algumas lágrimas caíssem finalmente. Taeyeon a segurou pela cintura e sorriu às sensações: sorriu porque tinha Tiffany tão perto de si que sentia seu calor, sorriu porque apesar das baixas probabilidades elas tinham resgatado Irene, sorriu porque a médica lhe dissera que ela iria acordar e Taeyeon mal podia esperar para ver seus olhos negros mais uma vez e aquela voz inocente e, Deus, Taeyeon tinha certeza de que Irene abriria um sorriso ao vê-la de novo. E agora, droga, seus próprios olhos estavam molhados.
- Nós conseguimos, Fany. - Ela falou enquanto corria as mãos nas costas da mulher. - Hoje à noite eu vou dormir muito mais tranquila.
Tiffany balançou a cabeça em sim, sua cabeça apoiada no peito de Taeyeon. Ela não confiava na própria voz. A conversa com Eunseo tinha de fato feito ela se sentir melhor, mais confiante e esperançosa em acabar encontrar Irene, mas ela não imaginou que fosse acontecer tão rápido. A mudança de estado de emoções tinha sido intensa desde aquele momento, e agora Tiffany estava tão cansada que tudo o que ela conseguia sentir era gratidão e felicidade. Talvez ela devesse focar nesses dois sentimentos, sentar e observar enquanto Irene dormia para não perder a menina de vista outra vez. Ela estava a salvo, ela ficaria bem e isso era tudo o que Tiffany precisava no momento.
- Obrigada por não ter desistido. - Ela pressionou os lábios no pescoço de Taeyeon e virou o rosto para olhar a menina, nunca soltando a detetive.
- Fany, eu disse que não tinha desistido. - Taeyeon colocou um beijo em sua cabeça.
- Eu sei. Nós chegamos a tempo. - Ela murmurou.
Taeyeon sentiu uma pontada no coração porque ela sabia o que as palavras tinham significado. Ela mesma estava pensando nelas enquanto esperava notícias da garotinha. E se fosse tarde demais? Felizmente, dessa vez não tinha sido. Vocês trouxeram ela bem a tempo, a médica tinha dito. Talvez agora fosse o momento de admitir essa vitória, de finalmente se conformar com a perda do bebê e compreender que não tinha sido culpa de ninguém. Elas tinham feito tudo que estava ao alcance antes, elas tinham tentado de qualquer forma. A perda não tinha nada a ver com negligência, falta de cuidados e amor. A questão de Irene era sobre o tempo, elas tinham vencido essa; a questão do bebê dizia completamente a respeito de genética - algo que fugia do controle delas. Agora que estava tão claro, Taeyeon se perguntou como demorou tanto tempo para entender, realmente entender, isso.
Quando Tiffany finalmente ergueu a cabeça e sorriu para Taeyeon, ela soube que a morena tinha compreendido a mesma coisa que ela. Provavelmente antes. Ela sorriu também e beijou os lábios da mulher. Agora era o momento - ela esperava - de tudo voltar aos eixos.
A medida que os batimentos cardíacos de Irene vinham se tornando normais, Tiffany e Taeyeon se sentiam mais confiantes com a recuperação da criança. Fazia meia hora que Taeyeon tinha deixado o quarto. Ela tinha que voltar à delegacia para se informar sobre o homem que tinha sido levado para interrogatório. É claro, essa não era a única coisa que planejava fazer antes de retornar ao hospital. A médica estava sozinha no quarto, apenas com a companhia da figura pequena da garotinha adormecida, imergida em seus próprios pensamentos. Já havia passado das seis horas e Tiffany sabia que não demoraria muito para Irene acordar - pelo menos era o que se esperava.
Cansada de ficar tanto tempo sentada, a médica se levantou e finalmente cedeu à caixinha de suco que Taeyeon tinha comprado para ela antes de deixar o lugar. Francamente, Taeyeon ainda precisava trabalhar no costume de ler as informações nutricionais dessas coisas. A quantidade de sódio ali era inaceitável! Mesmo assim, a morena estava começando a ficar com fome. Aquilo teria que servir por enquanto. Ela sugou o conteúdo que, teve que admitir, era gostoso. Um veneno - de acordo com ela - saboroso e em pequena quantidade. Decepcionada, ela lançou a caixinha no lixo e pegou o celular do bolso. Os pensamentos estavam voltados para Eunseo e ela tomara coragem para lhe mandar uma mensagem.
Ela só não sabia o que escrever. Talvez um agradecimento? Não, ela já tinha feito isso. Quem sabe apenas algumas palavras dizendo que tinham encontrado a garota? Ou então... Ou então o que, Tiffany? Apenas digite algo! Os dedos vacilaram em cima da tela lisa. Por que ela estava hesitando tanto? Tudo o que precisava e queria dizer era que elas finalmente tinham Irene de volta e que ela estava certa. O problema é que Tiffany sempre acabava colocando as coisas de modo impessoal, e ela não queria que a mensagem soasse distante demais. Ela resolveu adiar a mensagem por enquanto e devolveu o celular ao bolso. Cruzou os braços em torno do peito e olhou para fora da janela. O céu ainda estava nublado, mas agora as nuvens estavam rasgadas e os últimos raios de sol cortavam entre elas, deixando um tom de vermelho, azul marinho e violeta tingindo um pôr-do-sol aquarelado. Sua atenção foi tirada da paisagem quando ela ouviu Irene choramingar. Ela se virou rapidamente e assistiu enquanto a menina puxava o tubo de oxigênio e franzia o rosto numa expressão de dor.
- Irene, não. - Ela tentou advertir, mas já era tarde demais. Tubo de oxigênio: jogado ao lado. Ainda chorosa, a menina tentava tirar a agulha com o antídoto do braço. Tiffany se adiantou até ela e tentou evitar. - Irene, você deveria...
- Tá me picando! - A menina exclamou estendendo o braço para Tiffany, num pedido de ajuda. - Tá me picando! - Ela repetiu e os olhos negros encontraram os de Tiffany.
A morena segurou o ar por um instante. Aqueles olhos, Tiffany tinha pensado que nunca mais os veria. Cuidadosamente, ela segurou o braço da menina e verificou. Por causa da movimentação a agulha tinha escapado do lugar e era esse o motivo da dor. Tiffany retirou-a com cuidado e interrompeu o fluxo da administração. Aliviada, a garota esfregou o braço com a mão enquanto Tiffany se voltava para ela de novo.
A morena não teve tempo para pensar. Juntando toda a força que tinha a garotinha se ajoelhou na cama e tentou se levantar, as pernas falharam ao sustentar seu peso, mas isso não foi o suficiente para impedir que se jogasse no colo da mulher. – FANY! - Ela exclamou e apertou os braços em ao redor do pescoço dela.
O coração da médica disparou. Primeiro porque se assustou com o pulo da menina e a possibilidade de ela escapar para o chão, e segundo porque quando finalmente ela segurou-a no colo, como já tinha feito algumas vezes, sentiu uma imensa necessidade de chorar. Parecia tão familiar, tão costumeiro. Irene se encaixava tão bem em seu colo que ela não conseguia imaginar um futuro onde não pudesse tê-la ali. Mas ela não permitiria lágrimas. Agora seriam só sorrisos.
- Oh, Irene. Eu senti tanto a tua falta. - Ela deslizou as mãos nas costas da menina e sentiu os braços pequenos se apertarem em volta do pescoço.
- Tiffany - Ela disse de novo, e quando a morena tentou afastá-la para ver seu rosto, Irene se recusou a soltá-la. - Não! Eles vão me levar de novo?
- Não, querida. Ninguém vai te levar. - Ela assegurou, mas a menina ainda mantinha os braços pressionados firmemente ali. Tiffany sentou-se na poltrona e aconchegou a menina no colo. – Irene... - Ela passou a língua nos lábios. - Qual... qual é a última coisa que você se lembra, antes de dormir?
Irene ergueu a cabeça para ela, as sobrancelhas erguidas em arco. - Um homem? Eu acho... - Ela franziu o cenho em pensamento. - Eu tava no balanço e ele falou comigo.
- Entendo. - Tiffany disse e sorriu para ela. Taeyeon tinha o sujeito em custódia, é claro que ninguém precisaria da confirmação da menina para saber que ele era o sequestrador, todos tinham visto. Ainda assim, a possibilidade de ter mais alguém envolvido nisso incomodava Tiffany. - Você acha que se você ver esse homem de novo, você o reconheceria?
- É claro. Eu posso ver o Prince também?
Tiffany sorriu para ela. É claro que ela não esqueceria do cágado. - Pode, querida. Sempre que quiser. - A médica pressionou os lábios na testa dela num beijo demorado. Ela provavelmente deveria chamar a Dra Son para checá-la, mas não é como se ela mesma não pudesse diagnosticar a menina. Ela acordar tinha sido a prova final de que ela estava bem. Talvez um pouco cansada por causa da quantidade de toxina no corpo, mas definitivamente bem.
- Eu posso ver a Taeyeon também?
Tiffany deu seu melhor eye smile. - Por que não avisamos ela de que você já acordou? Assim ela volta logo para cá.
- Ela estava aqui? - Ela perguntou surpresa.
- O tempo todo enquanto você dormia.
- Oh. - Irene pensou por um instante e depois olhou curiosa para Tiffany.
- Aonde nós estamos?
Tiffany riu. - No hospital, Irene.
Ela arregalou os olhos. - Eu tô doente?
- Não mais. Você está perfeitamente bem agora. - Tiffany sorriu gentilmente enquanto a menina processava a informação.
De repente, ela se ajeitou no colo de Tiffany, sentando de lado. - Vamos tirar a foto, então.
- Uma foto? - Tiffany perguntou, confusa.
- Igual ao outro dia que você mandou para ela?
- Oh... - Como ela ainda se lembrava disso? Tinha sido apenas um pequeno detalhe num dia cheio de acontecimentos. - Tudo bem, vamos mandar uma foto.
A médica pegou o celular e esticou o braço, e antes de capturar a imagem Irene colou seu rosto com o dela, o gesto repentino fazendo as duas rirem. Lá estava. Não poderia ser uma foto mais bonita - apenas, talvez, se o plano de fundo fosse um parque ou algo do tipo. Tiffany digitou uma mensagem ”Irene acordou e está perguntando de você” enviou e colocou o celular de lado.
- Bem... Você quer me contar como é a casa que você estava? - Tiffany perguntou, sentindo uma pontada de ciúmes.
- Eles não têm nenhuma tartaruga! - A menina exclamou como se fosse a coisa mais absurda do mundo.
- Bem, mas e quanto a você? Você é uma tartaruga, não é?
Ela baixou o tom da voz e disse séria: - Mas eu sou a tua tartaruga, Fany. E da Taeyeon.
Tiffany sorriu com lágrimas nos olhos. - Certamente, Irene. E de ninguém mais. - E eu não faço ideia de como vou deixar você ir dessa vez.
- Eu sinto muito, não queria ter tomado nenhuma decisão, é o seu caso e eu não deveria, quer dizer eu deveria ter te chamado imediatamente... - Tiffany falava e gesticulava com as mãos enquanto pedia desculpas.
- Dra.Hwang, não é um problema. Não vi como uma intromissão, não tinha sentido nenhum fazê-la esperar enquanto estivesse incomodada. - A médica acariciou as costas de Irene que olhava de Tiffany para ela e vice-versa. - E imagino que vocês precisavam de um tempo a sós.
Tiffany sorriu para ela. - Obrigada. - Ela acariciou a mão de Irene com o polegar inconscientemente. - Você acha que ela pode receber alta ainda hoje?
A ruiva deu de ombros, levantou uma sobrancelha para a garotinha enquanto um sorriso cruzava o rosto. - Você se sente bem para voltar para a casa, Joohyun?
- Meu nome é Irene! – A pequena exclamou cruzando os braços.
A médica virou confusa para Tiffany que só balançou a cabeça rindo. – Me desculpe. Você se sente bem, Irene? – Ela viu a menina desfazer a cara brava.
- Muito! - Ela exclamou e juntou os joelhos ao peito.
- Exatamente quão bem? - A médica insistiu, entrando na brincadeira.
- Maravilhosamente bem. - E ela juntou o polegar com o indicador, deixando os três outros dedos esticados - o sinal universal de “ok”.
Tiffany riu. Aonde ela tinha aprendido isso?
- Não vejo razão para mantê-la aqui. - A médica ruiva ofereceu para Tiffany. A menina lambeu os lábios e virou o rosto para a morena.
- Eu vou para sua ca... Taeyeon! - A menina exclamou de repente e se levantou na cama enquanto as duas médicas viravam a cabeça para ela.
Taeyeon congelou. Ela não esperava que a Dra. Son estivesse ali. Ela se sentia ridícula segurando três balões flutuantes - um em formato de cabeça de gato, o segundo redondo, mas todo desenhado, e o terceiro inteiro rosa com a frase “fique bem” escrita - uma tartaruga marinha de pelúcia do tamanho de Irene, praticamente, duas sacolas de compras e uma caixa de chocolate na outra mão. Tiffany estreitou os olhos para o último item.
- Hey. - Ela abriu um sorriso depois do choque ter passado. - Eu trouxe algumas coisas que pensei que você fosse gostar. - Ela se aproximou, colocou a tartaruga em cima da cama e esticou o braço para Irene que rapidamente entrou em seu abraço.
- Eu tava com saudades. - A menina disse ignorando todas as coisas e quando ela não soltou de Taeyeon, a loira se viu obrigada a segurá-la no colo.
- Eu também, tartaruguinha. - E era tão bom segurá-la em seus braços. Taeyeon acariciou suas costas carinhosamente, como se certificando de que ela estava realmente ali.
- Ei, você sabia que minha mãe me deu o nome de uma tartaruga? - Ela pareceu se lembrar de repente e perguntou para a médica enquanto virava a cabeça para encará-la.
- Não brinca! - A outra exclamou, parecendo interessada.
- É verdade. Não é, Tiffany? - Ela esperou pela confirmação de Tiffany. - E ela tem 175 anos!
- Uau! É mesmo? -
- É! Bastante, né? - Ela parou e pensou por um minuto, depois se virou para Tiffany. - É bastante, não é, Tiffany? - Ela não parecia ter tanta certeza agora.
As três riram e ela olhou para cada uma delas sem entender o porquê.
- É bastante sim, Irene. - Tiffany confirmou novamente.
- Isso é muito legal, Irene. - A médica sorriu a apertou a mão da pequena.
- E a Tiffany tem uma tartaruga também, que na verdade é um cágado, mas a Taeyeon - Ela bateu a mão no ombro da loira, como se tivesse dizendo “é dessa aqui que estou falando” - disse que é pra eu dizer tartaruga pra irritar a Tiffany.
A morena revirou os olhos, é claro que Taeyeon gostava de ensinar coisas erradas para a menina.
- Hey! - Ela advertiu. - Irene, você se lembra disso tudo e não se lembra que eu disse que era segredo?
- Desculpa? - A garota tentou.
- Argh... Tanto faz. - Taeyeon deu de ombros e riu, beijando em seguida sua bochecha. - E então, você quer saber o que eu te trouxe ou não?
- Quero! - E ela estava toda empolgada porque Taeyeon estava ali com ela.
- Eu preciso visitar outros quartos. Volto mais tarde com os papéis da alta. - Dra. Son disse e se despediu com um sorriso amigável. As três acenaram com a cabeça e voltaram à atenção para os presentes.
- Primeiro, uma tartaruga de pelúcia para você. - Taeyon colocou a menina em cima do bicho e ela riu.
- É fofo! - Ela pulou sentada em cima do animal.
- Sim, é. Agora... Sacola número um: um novo pijama do Squirtle. - Ela mostrou a vestimenta para Irene que sorriu - Deus, ela estava adorável naquela mini camisola do hospital, sentada em cima do bicho de pelúcia como se tivesse surfando mar afora - e esticou a mão para pegá-la. - Sacola número dois: Okay... Essa foi demorada de achar, mas valeu totalmente a pena. - Ela tirou a camiseta branca de mangas azuis e desdobrou para Irene ver.
- Awn, Taetae. - Tiffany exclamou quando entendeu que era uma mini versão de sua blusa que Irene tinha dormido no outro dia. Quando Taeyeon encontrou seus olhos ela viu ternura ali e sorriu timidamente com o gesto.
- Oh! - Irene tinha arfado. - Essa é minha? Para combinar com a tua?
- Isso mesmo. - Ela sorriu e entregou a camiseta para a menina que pareceu sem jeito.
- Taeyeon?
- Hum? - Ela ergueu as sobrancelhas.
- Será que eu posso ficar com a tua também? - Ela pediu timidamente.
- B-bem... Pode. - Taeyeon estava confusa. - Por que, Irene?
- Porque cheira você. - Ela disse naturalmente, e Taeyeon escutou da mais doce forma. - E porque eu quero ser que nem você quando eu crescer. - Taeyeon abriu bem os olhos, quase não acreditando no que tinha ouvido. Essa garotinha, ela sabia como comprar as pessoas, de um jeito meigo e singular que nenhuma outra criança sabia.
- Oh, Irene... - Ela ficou sem palavras. Segurou a cintura da menina e puxou-a para seus braços de novo, num abraçado novo, renovado de carinho e desejando que, ao contrário do que a menina disse, ela continuasse pequena e doce para sempre. - Irene, acho que é muito mais legal ser uma tartaruga. - Ela disse e beijou o rosto da menina. Havia muito tempo para isso, mas Taeyeon não queria que ela corresse o mesmo tipo de perigo e passasse pelas mesmas coisas que ela tinha passado um dia. Deus, você tá parecendo sua mãe, Taeyeon!
A menina ergueu os olhos escuros para ela e sorriu. - É só você comprar um pijama pra você também!
Claro, a inocência das crianças. Taeyeon riu e sentou-se na cama, apoiando Irene em seu colo. - É uma ótima ideia. Agora... O último presente. Chocolate! - Ela deslizou a caixa para o colo da menina.
A garotinha segurou e abriu imediatamente, tirando um bombom de dentro e em seguida pediu para Taeyeon abrir a embalagem.
- Segura aqui no papel, você não vai querer comer nenhuma bactéria. - Ela disse se lembrando da vez que Tiffany lhe contou do número de bactérias existentes em hospitais. Ela olhou para a morena que tinha ficado quieta, e agora estava só observando sorrindo. Taeyeon ofereceu um sorriso de volta e voltou a atenção para a menina que mastigava o doce. Ela deslizou os dedos entre o cabelo escuro e ondulado nas pontas.
A médica pegou novamente o celular e abriu uma mensagem. Ela sabia exatamente o que mandar para Eunseo agora. Ela aproveitou o momento que Taeyeon estava distraída com a menina e tirou uma outra foto. Taeyeon tinha os braços em volta da garotinha num gesto de proteção e o cabelo claro da mulher se misturava com o cabelo escuro da pequena - que tinha a cabeça encostada em seu peito. Na foto ela segurava o doce e olhava atentamente para ele, e Tiffany podia jurar que precisaria de uma poesia para descrever o semblante. Ela sorriu satisfeita, anexou a foto junto com a foto anterior dela e da garotinha e escreveu em seguida “Você tinha razão. Aqui está o meu milagre.” E não era só por causa de Irene. Taeyeon também tinha sido o seu milagre há algum tempo agora. Era algo que ela reconhecia seu valor todo dia - o jeito como Taeyeon se importava com ela, cuidava dela, a amava, a surpreendia com detalhes pequenos e ainda assim tão significantes. O jeito como seu corpo a aquecia e lhe protegia, o modo como ela lhe amparava. Tiffany nunca tinha tido isso, até conhecê-la. Taeyeon, seu primeiro milagre. E Irene... Sua tartaruga. E de Taeyeon. Como ela não poderia deixar se afetar por essa menina? Como ela podia ser imune a um “porque cheira você” e ”eu quero ser como você”? Tê-la por perto valeria qualquer coisa. Vasos quebrados, tapetes manchados e noites sem dormir. Tudo seria compensado com abraços e beijos, teorias incoerentes e impossíveis, entretanto belas e dignas de serem ouvidas. E desenhos na geladeira. Com ela, Tiffany contaria seu segundo milagre. Agora vendo Taeyeon e a menina interagir, ela podia jurar que era um combo. Era tudo o que ela queria. Taeyeon. Uma criança. Uma família. Tiffany nunca esteve tão certa.
“Você tinha razão. Aqui está o meu milagre.”
Ela enviou a mensagem e voltou os olhos para as duas. Taeyeon agora comia um chocolate também - é claro, alguns costumes nunca mudavam - e perguntava para Irene qual nome ela daria para a tartaruga nova dela.
- O que você acha, Fany? - A menina perguntou e ela sorrindo, inclinou o corpo para frente.
- Que tal... Taengoo?
Irene franziu o cenho. - Que tipo de nome é esse?
- Hey! É meu apelido de infância! - Taeyeon se defendeu.
- Ops.
Tiffany riu divertida com a cara indignada de Taeyeon e a expressão de Irene que dizia “estou em apuros, me ajude!”
- É um nome bonito, Taeyeon. - Irene disse, pouco convencida.
- O que você acha de Miyoung, Irene? - Taeyeon provocou.
- Eu... ahn... - Ela olhou para Tiffany que tinha levantado uma sobrancelha. Esperta demais, ela interpretou corretamente. - Soa perfeito. - Ela ergueu a cabeça e sorriu para Taeyeon, enquanto a loira revirava os olhos.
O celular de Tiffany vibrou e ela leu a mensagem de Eunseo.
“Espero que você seja sábia o suficiente para manter esse sorriso no seu rosto.”
Irene engoliu o último pedaço de chocolate e entregou o papel para Taeyeon que amassou e colocou em cima da cama. Aparentemente satisfeita com a estadia no colo da loira, ela esticou os braços para Tiffany que a segurou e a aconchegou no seu próprio colo. Ela suspirou - um tanto cansada depois de tanta empolgação - e encolheu as pernas, apoiando os pés na poltrona.
- Tiffany,Taeyeon?
- Sim, Irene? - Tiffany disse em voz baixa.
- Hum, tartaruga? - A voz de Taeyeon soou rouca.
- Eu vou voltar para casa com vocês?
Tiffany engoliu seco e olhou para Taeyeon. O mesmo olhar questionador estava vindo da loira. O que seria agora? O que Taeyeon achava do pedido? O que ela deveria dizer?
Espero que você seja sábia o suficiente para manter esse sorriso no seu rosto.
As palavras soaram dentro da cabeça de novo.
3 notes
·
View notes
Text
Capítulo Trinta e quatro
- Omma. - Os joelhos de Irene bateram na grama com um leve ruído. O cabelo preto mais longo do que jamais fora antes voou à brisa refrescante do dia de primavera. Suas mãos, agora de dez anos, tinham dedos longos e delicados, mas um hematoma ou outro se espalhava pelos braços e pernas, denunciando a criança agitada e ainda sapeca que era. - Sei que faz um tempo, mas eu não me esqueci. - Ela disse enquanto a ponta dos dedos desenhava cada letra do nome da mãe cravado na lápide que Taeyeon e Tiffany tinham insistido em pagar. Fazia, de fato, alguns meses que a menina não tinha visitado o túmulo da mãe. - Eu nunca me esqueço. - Ela disse e olhou por cima dos ombros, para onde suas duas mães estavam esperando por ela. - Eu só tive uns probleminhas. Eu soquei a cara de um menino uns tempos atrás porque ele me disse que meninas não podem ser astronautas. - Ela disse tudo de uma vez, como se a mera presença da lápide da mãe pudesse lhe dar uma reprimenda. - Mas eu me desculpei. Pelo soco, e não por gritar o quão errado ele estava. - Ela revirou os olhos do mesmo jeito que Taeyeon fazia, e depois apontou com o dedo para trás, para as duas mulheres. - Castigo de uma semana, sem tv. Dá pra acreditar? Mas, e isso é um segredo, - ela se inclinou para frente e sussurrou - Omma Taeyeon disse que eu coloquei ele no seu devido lugar. Mas que, tecnicamente, mommy não pode saber que ela me disse isso. - Ela respirou fundo lentamente e acariciou a grama verde com os dedos, como se estivesse acariciando o rosto da mãe. As unhas estavam pintadas de um azul claro, projeto pessoal de Tiffany - segundo Taeyeon - que adorava entediar a menina quando insistia em pintar suas unhas. - E depois, nós viajamos para a praia. Nós todas! E eu peguei umas conchinhas tão lindas! Mas depois Seohyun jogou metade delas de volta no mar, se é que você acredita, porque ela disse que elas ficariam mais felizes no oceano. Eu não fiquei brava, ela é minha melhor amiga. - Ela deu de ombros e sorriu com a lembrança da irmã cantando algo da própria autoria sobre como as conchas pertenciam ao mar, e de como era nas águas que elas encontravam a felicidade. - O que mais? - Ela franziu o cenho, tentando se lembrar dos últimos acontecimentos que ainda não tinham sido narrados para a mãe. - Dois meses atrás, eu acho, omma Taeyeon quebrou o pé. E se você quer saber, ela parece um bebê chorão quando fica doente. - Ela sussurrou, com medo de ser ouvida. - Mas agora o pé dela já tá consertado. Novinho em folha. - Ela finalmente se sentou na grama e cruzou as pernas na frente do corpo, o olhar perdido em alguém lugar, tentando se lembrar de todas as novas histórias. - Ah! - Ela exclamou, admirada dessa vez. - Yeri tá aprendendo a escrever! Ela já sabe escrever os nossos nomes e sobrenomes, e ela é a melhor da turma. E ela e Seohyun vão começar aulas de piano no próximo ano, e eu escolhi natação, porque eu quero estudar biologia marinha, e quero nadar com os golfinhos e as tartarugas! - Ela disse animada, as mãos traçando desenhos indecifráveis no ar. Seus olhos estudaram Seohyun e Yeri de mãos dadas, dançando em roda alguns metros dali. Ela revirou os olhos, como se achasse aquilo bobo e nunca o fizesse. - Nós temos mais um à caminho. - Ela disse, depois virando o rosto para Taeyeon e Tiffany como se para conferir de que elas ainda estavam lá.
As duas mulheres estavam agora sentadas num banco, a morena tinha uma barriga redonda, mas não muito grande, e já não conseguia ficar em pé por muito tempo.
- Dessa vez é um menino, e o nome dele vai ser Jonghyun. Ele vai ser parecido com omma Taeyeon, é o que minha mommy diz. O sexo do bebê era para ser supressa, como o de Yeri foi, mas um babaca, - Ela arfou e checou se tinha sido ouvida, mas quando Tiffany e Taeyeeon pareceram nem estar observando-a, continuou - Um babaca machucou mommy no trabalho, e ela ficou duas semanas no hospital e eu achei que ela nunca mais iria voltar para casa. - A lembrança triste trouxe lágrimas nos seus olhos, e ela deixou que elas rolassem porque Tiffany tinha ensinado que era tudo bem chorar, e Taeyeon tinha dito que tudo bem, contanto que ela fosse forte. - Eu fiquei com medo de que ela sumisse, do jeito que você sumiu. Mas eu sei que você não foi embora porque quis. - Seus dedos ainda acariciavam a grama, e depois de se recuperar e parar de chorar, ela deu uma risadinha e revirou os olhos. - De qualquer forma, foi assim que nós descobrimos. Porque ela precisou de uns vídeos novos do bebê, para saber se ele tava mesmo bem, e você sabe como mommy é! Ela mesma quis conferir, e foi ela quem soube que era um menino primeiro. - Ela suspirou e fungou, depois mordeu o lábio inferior em pensamento. - Eu espero que isso não signifique que a tia Yuri só vai jogar com o Jonghyun, quando ele crescer.
- Irene! - A mão pequena e fofa de Yeri apertou seu ombro, e a irmã mais velha se sobressaltou com o contato inesperado.
- Ah! Yerm! Assim você me mata de susto! - Ela exclamou, mas riu em seguida.
Yeri é uma mistura física de Tiffany e do pai biológico, morena e de olhos escuros como os da mãe, mas aos quatro anos ela é tão alta como Seohyun, que tem seis.
- Você tá quase pronta? Eu tô com fome.
- Você sempre tá com fome. - Ela disse e balançou a cabeça em negativo, como se censurando a outra.
- E eu preciso muito fazer xixi! - Seohyun tinha se aproximado e se ajoelhado ao lado da irmã mais velha, batendo de leve com o próprio ombro no da outra. - Oi, tartaruga.
Irene tentou esconder o sorriso e levou as duas mãos no rosto. - E de pensar que daqui um tempo vão ser três de vocês! - Ela suspirou dramaticamente e se levantou, segurando a mão de cada uma das irmãs enquanto elas faziam o mesmo. - Até mais, omma. - Ela disse, soltando rapidamente da mão de Yeri para assoprar um beijo para a lápide da mãe.
- Até mais, omma. - As duas meninas mais novas disseram em conjunto. Irene nunca se incomodara em dividir aquela mãe, também, com as irmãs. Ela tinha ficado supresa quando Seohyun se despedira assim, da primeira vez, mas nunca a corrigira. A ideia de compartilharem tudo lhe agradava.
...
- Pronta? - Foi Taeyeon quem perguntou quando viu a mais velha escoltando as duas irmãs de volta.
- Sim. Seu dinossauro tá com fome. - Ela provocou a mais nova, e Yeri olhou com tamanha indignação para ela, que Taeyeon não conseguiu segurar o riso.
- Eu não sou um dinossauro! - A mais nova cruzou os braços em frente do corpo e olhou para Tiffany, pedindo por suporte.
- É claro que não, ela só está te provocando. - Tiffany disse com gentileza, e se inclinou para beijar a bochecha rosada da menina.
- Testando os limites da minha paciência. - A pequena corrigiu Tiffany com uma frase tão típica de Taeyeon, que dessa vez foi a própria morena quem riu.
- Irene, não provoque mais sua irmã, por favor.
- Só vale para ela? - A mais velha perguntou com um sorriso travesso no rosto, os olhos malignos mirando na direção de Seohyun, sua próxima vítima.
- Nenhuma das duas! - Tiffany adiantou, sabendo muito bem que Irene tinha a personalidade implicante e travessa de Taeyeon. - Por favor, ainda é cedo e vocês já me cansaram no caminho até aqui. Eu não quero ouvir mais brigas.
- Omma disse que você tá cansada e rabugenta por causa dele. - Seohyun apontou o polegar para a barriga da outra, não tomando a culpa.
- SEO! - Taeyeon exclamou parecendo horrorizada e, Tiffany achou, um pouco pálida. - Eu não coloquei nesses termos. - Ela tentou arrumar, mas o que ela poderia dizer? Na semana passada Tiffany tinha tido uma crise de choro porque Yeri tinha dito que seu tênis estava apertando o pé - o que tinha deixado Taeyeon muito confusa, considerando o drama - e depois tinha gritado com a loira porque ela tinha esquecido de lavar as roupas das meninas, e na mesma noite tinha dormido, acordado com dor nas costas, ganhado uma massagem - o que levou ao sexo - e chorado nos braços de Taeyeon até dormir de novo. Tinha sido a semana mais intensa da vida das duas, e não tinha como negar.
- Omma talvez tenha se esquecido de que crianças repetem tudo o que é dito perto delas. - Ela lançou um olhar afiado, mas brincalhão, para Taeyeon e aceitou as mãos da mulher como ajuda para poder se levantar.
Irene e Seohyun começaram a andar de volta para o carro, lado a lado, e Yeri - sempre checando Tiffany e Taeyeon - começou a correr atrás das irmãs mais velhas. Tiffany olhava com admiração enquanto sua mais nova, tímida e delicada e sempre curiosa - tão parecida consigo mesma - corria de braços abertos, provavelmente apreciando o vento fresco do dia.
- É tão bonita. - A voz de Taeyeon veio fraca ao seu lado, como em contemplação.
Tiffany se sentiu confusa, não tendo certeza de quem a loira estava se referindo. – Yeri - Ela franziu o cenho, sem saber se Taeyeon também estava prestando atenção na mais nova.
- Nossa família, Fany-ah. Nossa família é tão bonita. - Taeyeon apertou sua mão de leve, um sorriso orgulhoso marcando seu rosto.
Tiffany sorriu-lhe de volta e sentiu uma pequena contração no baixo ventre - depois de ser atacada na delegacia e ter ido para no hospital, essas contrações tinham se tornado presentes, mas não eram ameaçadoras, segundo os médicos.
Antes de alcançarem o carro, Tiffany observou Irene checando as duas, abrindo um sorriso em cumplicidade e motivando as duas irmãs menores a entrarem no carro. A mais velha era a mais sapeca, mas também a mais gentil e cuidadosa de todas. Faziam cinco anos desde que Taeyeon e Tiffany passaram a ter a companhia da primeira filha, mas a sensação era de que tinham vivido, no mínimo, uns dez anos.
Tanto havia acontecido.
A gravidez de Yeri tinha sido tranquila, embora mais curta do que esperado. A menina tinha nascido duas semanas antes do previsto, para o desespero de Tiffany que notou que a bolsa d’água tinha estourado enquanto ela cozinhava, ela estava em casa sozinha com as duas mais velhas, a detetive ainda na delegacia. Ela tinha ligado para Taeyeon aos prantos, mas duas horas depois, já no hospital, bem mais calma e na companhia de sua esposa, seu medo foi substituído pela ansiedade em ver o que seria a pequena Yeri em seus braços. O trabalho de parto foi longo e exaustivo, mas no amanhecer do dia, ela tinha a menina em seu colo, mamando pela primeira vez. E ela chorou de novo, só que de alegria.
Seohyun e Irene tiveram duas diferentes reações ao conhecer a mais nova: Irene pareceu empolgada e afeiçoada pela menina, e Seohyun, ainda com dois anos e nova demais, pareceu não se importar muito, pelo menos momentaneamente. Nos dias seguintes, quando Tiffany e o bebê voltaram para casa, Seohyun parecia mais exigente e carente do que nunca. Ela queria ficar o tempo todo no colo, e chorava constantemente. A fase passou, conforme ela foi se acostumando com a presença da irmã mais nova, mas Tiffany temia que a sua segunda filha fosse odiar a menor futuramente. Nunca tinha acontecido. As três crianças se amavam e se respeitavam, e as brigas eventuais entre elas nunca eram sérias, e não duravam mais do que cinco minutos.
Com três anos, Seohyun caiu do balanço da escola e trincou o osso do braço. Tiffany não se lembra de como tinha chegado no hospital, mas suas pernas quase cederam sob o peso do seu corpo quando ela viu Taeyeon e a pequena criança, ainda aos prantos e já com um gesso no braço, na sala da pediatria. Ela quis processar a escola, gritar com a diretora, castigar quem é que fosse o responsável por aquilo. No fim, quando Seohyun acabou se ajeitando em seus braços, ela fechou os olhos e fez uma oração silenciosa, agradecida por não ter sido uma contusão ou algo pior.
Com sete anos, Irene apresentou a peça de teatro que, até então, tinha sido a favorita de Tiffany: Peter Pan. A menina tinha sido Wendy, um papel o qual a mais velha tinha se dedicado e interpretado com perfeição. No final da peça, a morena tinha perguntado para a menina se ela queria ser uma atriz, e Irene simplesmente disse que preferiria ser uma veterinária. - Você pode ser o que quiser, minha doce garotinha. - Tiffany tinha dito e beijado seu rosto várias vezes, e os braços pequenos e finos da criança tinham se fechado em seu pescoço, e a morena presumiu que Irene jamais seria uma das adolescentes que sentem vergonha dos gestos afetivos das mães. A mãe de Irene, jamais tinha sido esquecida. As meninas mais novas foram apresentadas, por assim dizer, para a memória da primeira mãe da mais velha. Ainda inocentes demais para entenderem o que tinha acontecido, mas amorosas e doces, as crianças tinham aceitado a ideia sem nenhum estranhamento - e o mesmo fora feito com o pai de Seohyun. Assim, Tiffany esperava, elas teriam senso de ter pertencido a algum lugar e alguém antes de fazerem parte da família que estavam agora.
Quando Yeri completou dois anos, a família tinha feito uma pequena viagem para o México. O tempo quente despertava uma energia quase diabólica nas meninas, que nunca se cansavam, nunca queriam deixar o mar, nunca queriam comer, mas sempre queriam tomar sorvete. Taeyeon e Tiffany quase enlouqueceram durante a viagem, e chegaram à conclusão que em uma futura, Nawoon teria que ir junto para ajudar a tomar conta das três.
Quando Irene completou nove anos, Tiffany e Taeyeon discutiram a possibilidade de ter um último bebê. A morena estava considerando seriamente deixar o cargo de legista de lado, trabalhando eventualmente apenas na clínica de Eunseo, mas depois de muito pensar sobre, um acordo entre as duas foi feito: Tiffany continuaria trabalhando como chefe por mais cinco anos, e só então ela se despediria do trabalho.
Seis meses e meio atrás, então, a primeira tentativa de inseminação tinha funcionado. A família toda recebera a notícia com alegria, e Nawoon poderia explodir de tanta felicidade. Por cinco meses, a gravidez tinha sido tão tranquila como fora a de Yeri. Elas queriam descobrir o sexo do bebê somente no nascimento, como da última vez, mas os planos foram jogados por água abaixo quando, numa manhã movimentada na delegacia, o irmão de um jovem que tinha sido assassinado conseguiu acessar o necrotério. Tiffany estava finalizando uma autópsia em outro corpo, para só então começar o daquele segundo que estava em espera. O jovem homem tinha entrado na sala, e Tiffany tinha falhado em notar como suas pupilas estavam dilatadas e em como ele cheirava à bebida. Ao passo de que ele tentou tocar o corpo do irmão, ela se adiantou para evitar que evidência no corpo fosse perdida ou alterada. Ela gritou e balançou as mãos, pediu para que ele se afastasse do corpo. No lado de fora, ela viu Sooyoung e Yuri correndo pelo corredor, e achou que a presença de mais duas mulheres pudesse desestimular o intruso. Ela tentou se colocar entre o homem e a maca onde o corpo jazia. A força com que foi jogada para o chão fez seu corpo deslizar alguns centímetros antes de parar, e a dor que sentiu nas costas e quadril quase cegou seus sentidos.
Ela gritou.
Yuri partiu para cima do desconhecido.
Sooyoung já tinha o celular no ouvido, chamando pela ambulância.
O tombo não tinha afetado o bebê, mas, sim, sua musculatura na coluna - que foi tratada com sessões de fisioterapia - e seu quadril. Ela passara a sentir aquelas contrações, que não eram fortes, mas quando aconteceram pela primeira vez, ela chorou inconsolavelmente e só parou quando dois médicos diferentes lhe garantiram de que seu bebê estava em perfeito estado, assim como a bolsa d’água e a placenta também. Demorou quase um mês completo para que ela pudesse voltar a andar normalmente e sem dor, e Taeyeon tinha ficado ainda mais - irritantemente - super protetora e prestativa.
É claro, depois do atentado que sofrera semanas atrás, a detetive trouxera o assunto à tona e Tiffany estava reconsiderando a decisão, ponderando se deixar o cargo depois que o bebê nascesse seria mais sábio.
Ela ainda teria que decidir.
Tantas decisões precisariam ser feitas.
Quando contar para Irene o que realmente tinha acontecido com sua mãe?
Como explicar para Seohyun de que ela tinha, afinal, uma mãe biológica viva, mas que nunca quis saber de sua existência?
Quais perguntas suas duas crianças mais velhas iriam fazer? Seriam algumas que ela teria resposta? Seriam perguntas cujas respostas fossem causar dor? Trariam dúvidas de quem elas eram como pessoas? Se foram amadas e desejadas?
- Mommy! - O grito agudo de Seohyun veio de dentro do carro, e as duas mulheres pararam de andar, assustadas.
De repente, uma cabeça morena apareceu para fora da porta, e a menina correu em sua direção, uma mão esticada para cima no ar. - Eu achei, eu achei! - Ela cantava feliz.
Tiffany sorriu, divertida. - E o que é que você achou?
- O cartão de visita que você disse que estava procurando! - Ela exclamou, indignada, como se Tiffany tivesse esquecido algo importante. - Vê? Kim Hyuna. - Ela tinha lido com facilidade, e Tiffany não conseguiu evitar um sorriso e as lágrimas nos olhos. Aquele pedaço de papel não significava nada para Seohyun, não significava presentes ou sorvetes ou passeios. Nada que fosse de seu interesse particular. Dois dias atrás, Tiffany tinha mencionado para Taeyeon que não sabia onde colocara o cartão com o telefone da nova massagista. Ela tinha procurado por toda a parte, mas estava convencida de que nunca mais veria o pedaço de papel. A menina tinha escutado a conversa, encontrado o cartão e se certificado de que era aquele que a mãe procurava. Seus olhos escuros olhavam para a mãe com felicidade genuína e amor, e ela não esperava nenhuma recompensa senão a que estava prestes a ganhar.
- Oh, Seororo, você é minha salvadora! - Tiffany disse, e ela queria tanta se abaixar e pegar a menina no colo, mas sua situação não permitia.
Taeyeon, então, é quem o faz. Ela pegou a criança com facilidade e sustentou o corpo pequeno enquanto Tiffany e a filha trocaram um abraço demorado.
- Você me faz tão feliz, pequena, e eu amo tanto você.
- Eu te amo também, mommy. - Ela riu baixinho e beijou a bochecha de Tiffany. - E você também. - Ela disse para Taeyeon, uma vez que se soltou da morena, e apertou os braços no pescoço da mulher. Taeyeon riu, deliciada, e colocou a menina no chão. - Para o carro!
- Sim, senhora! - Seohyun devolveu, rindo.
Irene, ainda do lado de fora, abraçou primeiro Taeyeon pela cintura, depois Tiffany, clamando por sua parte de atenção. - Eu amo vocês também, Ommas.
- Nós também, tartaruga. - Tiffany disse com ternura.
- E EU TAMBÉM! - Veio o grito empolgado de Yeri de dentro do carro, e as três deram risadas juntas.
- Cadeira e sinto de segurança, tartaruga. - Taeyeon a lembrou, fechando a porta de trás do carro quando a mais velha das crianças finalmente sentou em seu lugar.
- Você tem razão. - Tiffany começou, e Taeyeon se virou para ela de modo que pudesse encará-la. - Sobre nossa família. Você tem razão.
Um sorriso se espalhou pelo rosto de Taeyeon.
- Ela deve ser a família mais bonita de todas. - Ela disse, satisfeita e feliz.
- É porque todas as crianças têm sua classe e beleza. - Taeyeon brincou e beijou seus lábios com carinho.
Tiffany riu e revirou os olhos, e seus dedos entrelaçaram com os de Taeyeon. - E a sua também, Taetae. Além disso, você é nosso Norte, nosso porto seguro.
A loira a colocou gentilmente num abraço, e acariciou sua barriga, num gesto que derreteu Tiffany. - Depois de todos esses anos, eu ainda te daria o que você me pedisse, o mundo inteiro.
Tiffany se inclinou e beijou a loira de novo, dessa vez com mais demora, embalada pela confissão.
- Eca! - As crianças gritaram de dentro do carro, fazendo a morena rir.
- Eu não preciso do mundo todo, eu tenho e preciso só de vocês.
1 note
·
View note
Text
Capítulo Trinta e três
Eu nunca fui aquele tipo de pessoa que para e pensa sobre a vida. Não. Não mesmo. Mas toda vez que olho para trás e vejo todos os altos e baixos que passamos, não consigo deixar de pensar em como a vida funciona de um jeito misterioso. Por muitas vezes é dolorido, amargo, mas ainda assim tudo o que vejo ressaltado é o quão surpreendentemente doce ela pode ser também. Talvez Tiffany esteja certa em dizer que se fosse fácil, todo mundo teria. Pode ser de natureza, mas nós sempre fomos atraídas pelo difícil, por desafios, e acho que se estimo por tudo o que temos, é porque sei o quão fácil é perder o que amamos... O quão fácil teria sido deixar tudo para trás, desistir, continuar só. Mas nós tomamos o caminho difícil, e eu sei, agora eu sei, que a vista do outro lado é tão mais bonita. Oh sim, a vida pode ser tão boa.
Quando Seohyun chegou na nossa casa, Tiffany tinha razão sobre uma coisa: a adaptação dela não seria fácil. Nas primeiras noites nós quase não dormimos. Ela chorava o tempo todo, manhã, tarde e noite. Quando a pegávamos no colo era só para que ela gritasse mais. Ela não nos reconhecia e, embora fosse algo que Tiffany já sabia e eu fora avisada, não podia deixar de me sentir impotente, derrotada. E eu podia ver o mesmo nos olhos dela. Tudo havia piorado quando Irene tentava brincar com ela, e ela chorava. Nossa Tartaruga chorava decepcionada por se sentir rejeitada pela sua irmã mais nova, e era compreensível. Ao passo de que Seohyun parecia rejeitar todas nós, a nossa frustração crescia, até que um dia se tornou demais. Nós nunca fomos do tipo de desistir de algo, entretanto todos aqueles sentimentos, o estresse, o cansaço, tudo aquilo enchia um balão que em certa noite estourou. Tiffany tinha acabado de colocar Irene na cama, que parecia estar sob o mesmo estresse que nós estávamos, e entrou no quarto. Sem nenhum aviso, ela se jogou nos meus braços e começou a chorar.
Você sabe, eu já fui pregada no chão por bisturis, e atirei em mim mesmo. Eu conheço a dor... Eu sei o que é sentir o aço metálico transpassando minha pele, meus músculos, esbarrando nos ossos. Qualquer um pode dizer que é exagero, mas acredite, uma vez que você ama realmente alguém... Nenhuma dor se compara a dor de ver essa pessoa chorando, seja pelo que for. Nem mesmo a dor física. Eu, infelizmente, tenho que dizer que algumas vezes senti isso. Ver Tiffany chorando é meu ponto fraco, um que todo mundo já sabe. É por isso que me esforço para vê-la sempre feliz, é por isso que custe o que custar, manter minha família em paz, em segurança, unida, é tudo o que penso. Naquela noite, com ela em meus braços, tudo o que eu queria era arrancar a dor dela com minhas mãos, esmagá-la e arremessá-la longe. Aquele tinha sido o ápice de nosso desespero, a parte em que tudo parecia tão difícil e impossível que não nos restava muita coisa, senão chorar. Bem, nós choramos. Nós nos permitimos apenas algum momento de fraqueza, porque no dia seguinte, nós acordamos tão cedo quanto o sol, e fizemos tudo o que supostamente tínhamos que fazer.
Aquela tinha sido a primeira semana, e como se era esperado, as coisas começaram a melhorar depois disso. Seohyun passou a chorar menos conforme os dias se passavam. E Irene, caramba, aquela menina... Ela foi tão compreensiva e madura o quanto pôde ser para uma criança de seis anos. Nós conversamos, nós explicamos que Seohyun estava tendo dificuldade em se adaptar... E ela foi tão maravilhosa que eu acho que grande parte da adaptação de Seohyun com a gente foi por causa dela. Irene sempre foi uma boa irmã, uma boa filha. Tiffany não acredita em destino - ela provavelmente torceria o nariz para mim - mas o que eu acredito é que a Tartaruga estava destinada à nós. Alguém lá em cima sabia que nós precisávamos dela no exato momento em que apareceu em nossas vidas. Eu sempre vou ser grata por isso, porque foi ela que definitivamente trouxe nossa alegria de volta. Quando Seohyun começava a chorar, Irene em vez de chorar junto, apenas encontrava uma distração para fazer a menina rir. Eu não conseguia fazê-la parar de chorar, Tiffany não conseguia, mas Irene? Ela tinha talento natural para isso. Acho que Seohyun se conectou à ela primeiro do que a mim ou Tiffany, no fim das contas. De qualquer forma, tudo estava melhorando de novo.
...
Nós conseguimos. Nós finalmente tínhamos passado pela fase que eu tanto temia. Eu soube que tudo estava perfeitamente bem e de que Seohyun nos reconhecia e aceitava como sua família quando cheguei em casa em um anoitecer, depois de dez horas excruciantes de trabalho. O dia tinha sido longo, cansativo. Eu me lembro de ter feito duas autópsias naquele dia, me recordo de quais eram porque foram duas que me abalaram. Uma mulher e uma criança de oito anos tinham sido espancadas até a morte. Autópsia em crianças é algo que particularmente não gosto de fazer. Um calafrio percorre meu corpo toda vez que me vejo de frente com alguém pequeno demais deitado em minha mesa. Eu penso nas minhas crianças e sinto vontade de vê-las e checá-las imediatamente. Naquele dia não tinha sido diferente. Taeyeon tinha ficado na delegacia e eu voltara para casa sozinha. Nawoon passara a cuidar de Seohyun para nós durante alguns períodos, e Irene já frequentava a escola. Eu sabia que naquele horário as três estariam em casa. Irene, claro, foi quem abriu a porta. Ela me abraçou pelas pernas e ergueu a cabeça sorrindo para mim.
- Oi, mommy! - Ela me disse enquanto eu a pegava no colo. Era um ritual. Chegar em casa significava abraços e sorrisos e beijos da parte dela. Ela era doce, carinhosa. E ela era tão rápida em me abraçar, quanto em me soltar.
- Oi, tartaruga. - Eu respondi enquanto recebia um beijo estalado na bochecha. - Como foi seu dia? - Eu perguntei e ela pulou de volta ao chão antes de me responder.
- Os elefantes são sociais! Eles andam de trombas dadas quando se amam! - Ela disse enquanto pulava no sofá. Era algo que havia aprendido naquele dia na escola. Ela sempre contava algo novo quando chegávamos em casa.
- Bem, suponho que agora você goste de elefantes também?
- Grandes mamíferos, pode apostar! - Ela respondeu animada e eu ri.
Instantes depois Nawoon apareceu com Seohyun nos braços, vindo da escada. Ela estava vestida com um pijama de leão, um que Irene tinha escolhido para ela. E que eu e Taeyeon concordamos, concordava perfeitamente com ela - tanto em personalidade, quanto em cor. No instante em que a bebê me viu, ela esticou os braços e a balançou as pernas em pura empolgação. Ela nunca tinha feito isso. Eu fiquei em dúvida se era por minha causa, mas quanto mais tempo eu ficava sem reagir, mais agitada ela ficava e balançava as mãos em minha direção. Ela balbuciava algo ininteligível e quando eu finalmente a segurei nos braços, ela riu.
- Hey, menininha. Eu senti falta de você também. - Eu disse com a voz baixa. Eu não poderia estar mais feliz. Seohyun era um bebê fofo, com feições delicadas, pele rosada e com cheiro de criança nova. Eu gostava de tê-la em meus braços, mas durantes três semanas isso havia acontecido porque precisei acalmá-la, alimentá-la, trocá-la. Daquela vez tinha sido diferente. Daquela vez ela tinha vindo para meu colo por vontade própria, ela tinha pedido por mim. Depois de dias de aflição, algo se transformara. Era como se eu tivesse segurando Seohyun, minha filha, pela primeira vez. Acredito ser seguro dizer que ela, também, tinha me reconhecido como sua mãe pela primeira vez. Depois daquele dia exaustivo, querendo fazer uma ligação para saber como minhas crianças estavam, mas tentando a todo custo resistir àquela neurose, eu tinha recebido um lembrete: minhas duas filhas estavam em casa, esperando por mim. Literalmente esperando por mim, ansiando por meu colo, por meu amor.
E eu soube. Eu estava pronta. Nós estávamos prontas para mais um. Eu não verbalizei minha decisão naquele mesmo dia porque seria imprudente, impulsivo. Eu ainda teria que experimentar mais dias daquela calmaria que se seguiu de Seohyun nos recebendo com sorrisos e braços lançados em nossa direção. Confesso que por um momento, em dias de crise, temi que engravidar e acrescentar mais um bebê à nossa casa, em nossas vidas, não seria a decisão mais sábia de todas. Enquanto Seohyun chorava no meio das noites, minhas dúvidas se transformavam em fantasmas que me assombraram durante as primeiras semanas após sua chegada. E se eu adiasse engravidar e meu corpo se tornasse velho demais? E se eu não pudesse mais gerar um bebê? O medo me consumiu, por um curto período de tempo, é verdade, mas você só sabe o quanto deseja uma coisa a partir do momento que a perspectiva de perdê-la te atinge. Eu queria engravidar. Seohyun e Irene eram minhas filhas, mas eu queria ter a experiência de alguém crescendo dentro de mim. Uma semana foi todo o tempo que tive para me centrar, me certificar de que tudo estava nos eixos.
...
Eu me lembro que a neve tinha parado de cair. O frio já nem era tão intenso e minhas mãos já não doíam tanto. O que me surpreendeu bastante, considerando isso, foi que entrei em casa naquele dia e a lareira estava acesa. Tiffany tinha acendido e esticado um cobertor macio em frente a ela. Ela estava deitada nele e tinha Seohyun sentada em sua barriga, sua pequena cintura sustentada pelas mãos de Tiffany. Irene estava deitada ao seu lado, e a cada vez que a Tartaruga jogava uma fralda no rosto da menina, para tirá-la em seguida, Seohyun ria, mostrando um sorriso desdentado. Era fofo, e fiquei observando por minutos, até que a bebê me viu e ficou agitada. Quando três cabeças estavam viradas para mim, andei até elas e beijei cada uma com carinho - Tiffany nos lábios, claro. Era uma noite agradável, silenciosa - a única coisa que ecoava no ar eram risadas, e nada mais. No momento em que Tiffany deitou a bebê na coberta, dizendo para Irene tomar conta dela porque iria preparar uma mamadeira, eu sabia que deveria seguir a deixa.
Crianças ocupam boa parte do tempo, e eu aproveitava toda oportunidade a sós com Tiffany para beijá-la, abraçá-la. Quer dizer, é Tiffany. Tiffany, que fica linda mesmo em um pijama de ovelhinhas. Ela negaria até a morte, mas ela tem um. E foi Irene quem escolheu. Essa menina vive escolhendo coisas para gente, e nós compramos porque, bem... É fofo, e se até mesmo eu admito, por que Tiffany não pode? Ela estava usando o dela naquele dia, e era adorável. Eu a envolvi nos meus braços e a enchi de beijos, e sua risada vibrou na minha pele.
- Taetae, tem algo que quero te dizer. - Ela disse enquanto segurava meus ombros e os olhos castanhos brilhavam para mim.
- Eu estou ouvindo. - Eu disse e me inclinei para roubar um beijo, e quando Tiffany se inclinou para trás tentando escapar, eu a segurei e a puxei de volta para mim, e lábios macios pressionados contra os meus foram minha conquista - além da risada suave que escapou da sua boca. Eu gostava daquele clima leve, havia tempos em que a única tempestade que conhecíamos era a de neve, de duas semanas atrás. Tirando isso, toda a dor que passamos antes parecia ter desaparecido entre certezas, sorrisos e abraços, cheiro novo de bebê e gargalhadas de criança.
- Eu quero tentar de novo. Eu quero engravidar. - Ela sussurrou as palavras e eu não tinha certeza se era porque ela não queria que Irene ouvisse sobre a conversa, ou se era porque ela simplesmente tinha despejado isso de uma vez em cima de mim. Meu coração deu um salto, eu confesso. Nossa última experiência não tinha sido boa. Era medo. Ao mesmo tempo, uma empolgação tomou conta de mim. Ela estava decidida, pronta. Eu também estava. Eu a queria grávida, tudo tinha sido tão bom e especial da primeira vez, antes de perdemos o bebê. Eu queria aquela sensação de novo, a expectativa, os três meses de silêncio e segredo, algo só nosso, até nos sentirmos seguras para contar a todos.
- Então vamos abrir um vinho. Pode ser uma das últimas taças durante alguns meses. - Eu respondi enquanto acariciava seu rosto, e um beijo doce foi plantado nos meus lábios.
- As mulheres francesas continuam a beber vinho quando grávidas. - Ela me respondeu sorrindo.
- Eu tô vendo o que você tá fazendo, Fany. E não. Não mesmo. Você tá virando uma alcoólatra! - Eu ri quando ela me beliscou e meus lábios se encontraram com os dela de novo. - Quando você quiser começar, me avise. Marque uma consulta e nós vamos fazer isso.
- Ok. - Ela encostou sua testa na minha e o futuro parecia promissor demais, a ponto de nos esquecermos do presente.
- Você, ahn... Não tinha algo para preparar? - Eu apertei a cintura dela e ela riu, os olhos ainda fechados, perdida em seus próprios pensamentos.
- Uma mamadeira. - Ela respondeu apertando os braços no meu pescoço. - E você, dois brindes.
Para ser honesta, a gente já tinha muito para comemorar. Eu estava casada com a pessoa que eu amava, tinha duas filhas. Como eu disse, a vida não é fácil, tem sim seus momentos difíceis, mas ter ao seu lado alguém para lutar junto, lutar por, faz toda a diferença. Tiffany, Irene e Seohyun eram minha força, meu porto, minha alegria. Elas eram o sentido de tudo, as estrelas que guiavam as minhas noites escuras, o conforto de encontrar paz, o lugar ao que eu pertenço. Naquela noite, quando sentamos no cobertor estendido em frente a lareira, eu entendi porque algumas pessoas enlouquecem quando perdem a família em acidentes trágicos. Eu era apenas uma parte de um todo, mas se de repente eu me visse sem as três não restaria muita coisa de mim. Então eu celebrei; os gestos pequenos que indicavam amor, as risadas suaves de felicidade, o calor do fogo que nos aquecia e nos unia em torno dele. Os detalhes, os pequenos detalhes que formavam a figura inteira. E a possibilidade de multiplicar isso tudo. N��s teríamos outro bebê. Nós comemoramos silenciosamente com nossas filhas, Irene não poderia saber ainda ou mil perguntas seriam feitas todos os dias, e Tiffany não precisava de estresse adicionado nos três primeiros meses de gestação. E depois, nós comemoramos sozinhas, ao nosso próprio jeito.
...
Eu me lembro de como foi receber o resultado pela segunda vez. As sensações dominaram meu corpo, as minhas mãos tremeram levemente. Eu estava grávida, tinha dado certo. Eu gostaria que meu primeiro pensamento tivesse sido Taeyeon, em como ela sorriria e me abraçaria por causa da notícia... entretanto, o que me veio na cabeça foi... Bem, o bebê que perdi antes. Ainda é dolorido falar sobre isso. Eu ainda me pergunto o porquê, imagino como teria sido se ela tivesse nascido, que nome teríamos escolhido. Quando soube que estava carregando outra criança uma alegria desmedida me invadiu. E um medo irracional. Eu não tinha contado para Taeyeon sobre o dia da consulta. Eu preferi ir sozinha. Eu disse para mim mesmo que o motivo era que eu gostaria de surpreendê-la com a notícia boa, o que de fato fiz, mas a verdade era que meu medo era tão grande quanto minha esperança. E se não tivesse dado certo? Eu não queria decepcioná-la. Felizmente, tudo saiu como planejamos. Ao sair do consultório eu me dirigi para a delegacia e me encaminhei imediatamente para o meu escritório. Me lembro de não ter hesitado, de simplesmente ter mandado uma mensagem para Taeyeon dizendo que tinha um resultado esperando por ela. Não mais do que cinco minutos mais tarde, lá estava minha mulher: cabelo revoltosos emoldurando o rosto, um ar de irritação tão comum em dias de casos trabalhosos e suspeitos arrogantes e desafiantes... E o olhar sempre doce quando pairava em minha direção.
- O que você tem, Fany-ah? Eu espero que seja um positivo para aquele DNA. Aquele desgraçado tá brincando com minha cara. Eu juro que não me importaria em passar um dia inteiro com a senhora dos recursos humanos, se ao menos eu ficar feliz em socar aquela cara babaca.
Ela cruzou os braços e me encarou, como se esperando uma reprimenda. Nem me importei com a fala dela. Taeyeon, tão pouco, sabia que havia algo a mais, algo novo entre nós. Ela não sabia que eu tinha deixado o prédio na parte da manhã. Avisei apenas Yoona, e eu não tinha ficado mais do que uma hora fora do prédio, logo, seria impossível que Taeyeon sequer desconfiasse de que eu tinha ido a uma consulta ou para em qualquer outro compromisso. Eu estiquei o papel dobrado em três na direção dela.
- Veja você mesmo. - Eu sorri pacientemente enquanto ela passava o olho no papel.
- Positivo! - Ela disse em comemoração, pronta para sair da sala e prender o bandido. Taeyeon era assim, ela nunca lia os testes por completo. Sempre pulava para o final, a parte objetiva.
- Taetae, querida. Leia de novo. Desde o início. - Eu observei com um sinal de cabeça e ela franziu as sobrancelhas e passou os olhos pelo papel. É algo que vou me lembrar para sempre: o semblante dela se transformando enquanto lia as informações. Primeiro confusão, depois dúvida, a seguir compreensão, e depois...
- Isso é... Um... Seu? - Ela perguntou quase desacreditada.
- Eu acabei de chegar da consulta. - Eu respondi e senti meu coração bater a mil no peito. Ela ficaria brava porque não tinha contado a ela?
- Oh, Pany-ah!
E de repente eu estava dentro dos braços dela, naquele abraço acolhedor que eu conhecia, e gostava, tanto. O mais curioso de tudo é que, tomada por tantas emoções - alegria de estar grávida, o medo de perder de novo, a ansiedade de saber o desfecho da gravidez, o alívio de Taeyeon sorrindo e recebendo a notícia com tamanha surpresa, felicidade - me fez chorar. Eram muitos sentimentos rodopiando em minha mente, e era difícil lidar com todos ele de uma vez. Eu estava rindo e chorando ao mesmo tempo. Eu estava pensando no bebê que tinha ido e no que estava ali, crescendo dentro de mim. E pensando nas minhas duas meninas em casa. E em Taeyeon.
- Vai dar tudo certo, Fany. - Taeyeon me disse e segurou o meu rosto. Eu olhei para aqueles olhos negros, carregados, infinitos, tão sinceros e devotados quanto o amor que sentia - sinto - por ela.
- Já está dando. - Eu beijei os lábios dela carinhosamente porque, francamente, ter Taeyeon em minha vida é a condição básica para poder dizer que ela vale a pena.
...
A parte mais difícil foi não contar para ninguém. Mas que culpa eu tinha afinal? Eu estava feliz e todo mundo via, eles só não sabiam o motivo. É claro, eu tinha tantas respostas para assegurar de que não estava escondendo nada. Eu dizia frequentemente, “eu sou casada com Tiffany, o que você espera?”, ou então, “você já viu minhas filhas? Esse é o motivo”. E era verdade... Eu só não estava contando apenas a outra razão, a mais nova delas. Se eu dissesse algo, Tiffany me mataria... E ela sabe manobrar um bisturi como ninguém. É claro que outras vezes eu nem precisava me justificar. “A noite foi boa, hein, Kim?”, eu escutava os machões provocarem com um sorriso irônico. Quer saber? Eu nem ligava. Para falar a verdade eu tinha vontade de dizer “sim, tive, você já viu minha mulher?”, mas sempre achei melhor não comprar as provocações, simplesmente por respeito a Tiffany. Ela não era um troféu a ser exibido. Não. Tiffany sempre foi a mais delicada, doce, com aquele toque atrapalhado que fez eu me apaixonar por ela. Feita sob medida. A obra-prima que sempre fora admirada. Minha Tiffany. Eu não queria exibi-la; eu queria guardá-la e mante-la só para mim. Talvez eu seja a eterna boba apaixonada, mas ta aí algo que eu nunca vou negar: meu amor por ela.
De qualquer forma, esconder era a parte mais difícil, principalmente quando se tem uma mãe como a minha por perto. Nos dois primeiros meses foi... bem, manejável. No terceiro mês parecia uma missão impossível. Minha mãe passava tempo demais em casa, principalmente na parte da manhã por causa de Seohyun... Na parte da manhã, quando Tiffany começou a enjoar. E que ela nunca me ouça, mas os dois quilos que ela havia ganhado também denunciavam algo. A coisa é que, na primeira manhã em que acordei com Tiffany no banheiro, as coisas saíram do controle. Era cedo e eu imaginei que só estávamos nós duas acordadas. Tiffany estava sentada no chão, corpo inclinado na privada enquanto vomitava pela segunda vez. Me lembro de segurar uma toalha úmida e pressionar gentilmente no rosto dela em seguida. Foi só depois de ter beijado sua testa que vi pelo canto dos olhos a figura de Irene parada junto à porta.
- O que é? - Ela perguntou assustada, olhando para Tiffany e para mim. - Mommy tá doente? - Os olhos se arregalaram e eu jurei que ela iria chorar.
- Não, querida. - Tiffany se adiantou em dizer. - Eu estou bem.
Mas Irene olhou para mim porque a imagem de Tiffany não era muito convincente. - Mommy tá bem, Tartaruga. Foi só algo que ela comeu e não fez bem. Ok? - Eu tentei acalmá-la e ela balançou a cabeça em compreensão.
- Biscoito recheado, né? Sei como é. - Ela disse sabiamente olhando para Tiffany. É claro que Irene sabia. Certa vez ela tinha comido um pacote todo sozinha, de uma vez, e vomitara o dia inteiro por conta disso. Lição aprendida, ela odiava biscoito recheado desde então.
- Certo, isso. - Eu disse enquanto via Tiffany se debater com a ideia de algo doce em seu estômago já embrulhado. - Tartaruga, que tal ver se sua irmã já acordou, hum?
- Certo. - Ela disse e confirmou com a cabeça e depois olhou para Tiffany mais uma vez. - Nunca mais coma isso, é melhor. - E o tom de confidência me fez rir.
- Droga. - Tiffany resmungou enquanto limpava a boca pela terceira vez.
Eu me inclinei e a abracei. - Ei, tá tudo bem. Agora que nós sabemos que começou podemos dar um jeito nisso, ok? Você se lembra o que funcionou da última vez.
- Me lembro. - Ela disse enquanto descansava seu corpo no meu.
- Ótimo. Eu também. Deixa comigo que eu compro tudo, ok?
Ela balançou a cabeça e suspirou, fechando os olhos. Ela andava mais cansada do que o normal. Preciso confessar que essa fase foi um pouco difícil. Seohyun estava com dentes nascendo, o que a deixava irritada e chorona. Alguns dias foram seguidos de febre e Tiffany já parecia exausta pelas noites mal dormidas. Irene nunca dava trabalho, o que não significa que nossos olhos não estavam nela o tempo todo também. Foi cansativo, mas não torturante. Naquele dia eu a embalei gentilmente nos braços e a convenci a voltar para cama e dormir algumas horas a mais. Ela não protestou, e se entregou ao sono tão logo se aninhou em baixo das cobertas.
Quando desci para a cozinha, não esperava encontrar minha mãe lá. Ela e Irene estavam na maior conversa e quando apareci a mais velha olhou em minha direção e perguntou justamente de Tiffany.
- Onde está Tiffany? Quer dizer, o que se esperava é que ela levante primeiro do que você. - Lá estava, minha mãe sempre me provocando sobre meu costume de levantar mais tarde.
- Ela comeu muitos biscoitos. - Irene disse naturalmente e eu tive vontade de dar um tapa em minha própria testa. Lá estávamos nós, uma tonelada de perguntas pela frente.
- O que você quer dizer, querida?
- Mommy comeu muito... - Irene começou de novo. Eu a cortei.
- Fany só está se sentindo mal por causa de algo que comeu ontem. - Eu dei de ombros, parecendo indiferente.
- Ah, não. E o que foi que ela comeu? - Minha mãe era ótima em especulação, e Irene não conseguia segurar a língua.
- Biscoito, já disse! Os recheados! - Ela disse enquanto jogava as mãos para cima, visivelmente irritada por ter sido ignorada da primeira vez.
- Oh... Ela está... Com dor de estômago? - E minha mãe perguntou inocentemente e estreitou os olhos em minha direção.
- Pode apostar. Comeu porcaria.
- Irene! - Eu chamei sua atenção, porque “porcaria” não era uma palavra do vocabulário que deixamos ela usar.
- Mas é! Você mesma diz.
- Eu não... Ok. Você já sabe o que aconteceu, - Eu apontei o dedo para minha mãe - E você, sem falar essas coisas.
As duas trocaram um olhar e deram de ombros. Irene tinha que passar menos tempo com minha mãe, era o que eu achava. Ela estava copiando alguns costumes. Foi quando Irene saiu de perto para procurar por Prince, provavelmente, que minha mãe se aproximou de mim e perguntou em voz baixa.
- Ela está grávida? - Eu soltei uma arfada de ar ridicularizando a suposição dela e revirei os olhos... Mas ela continuava séria, me encarando, os olhos carregados de esperança. E foi assim que Kim Nawoon soube que seria avó de novo.
- Está. Três meses, mãe. - Eu ri enquanto ela me abraçava. Era bom contar para alguém. Era ótimo. Meu peito parecia ter se inflado, ele iria explodir.
É claro que, três horas depois, quando Tiffany entrou na cozinha e minha mãe a abraçou e beijou sua bochecha, esse mesmo coração parou por um minuto. Eu tinha esquecido de dizer para ela que era segredo. Tiffany me condenou com o olhar, e ela me prometeu que a primeira roupa do bebê, fosse menino ou menina, iria ser rosa.
Rosa pink.
...
Há algo sobre estar grávida de novo que só quem sofreu um aborto sabe: o medo de perder o novo bebê é contínuo. Mesmo nos mais esperados sintomas da gravidez. Na semana em que o enjoo me deixou por horas na parte da manhã no banheiro, eu sentia medo. Eu sou médica e sei, sei, que enjoos assim são normais, mas meu lado irracional estava em alerta o tempo todo. Um pequeno desconforto no meu abdômen, e lá vinha meu pior pesadelo me atormentar. O útero se dilatando, causando a sensação quase parecida com uma cólica, me deixava nervosa. Eu não queria perder aquele bebê, e por mais motivos que eu tivesse para acreditar que não perderia, meu medo estava lá, para onde quer que eu virasse me deparava de frente com ele.
Era o início do quarto mês. O mesmo mês em que eu tinha perdido meu primeiro bebê. O mesmo mês em que tudo estava, teoricamente bem. Eu estava ansiosa porque era quando nós tínhamos decidido começar a contar para nossos amigos mais próximos e família. Eu liguei para minha mãe logo depois que Nawoon soube. Algo curioso é que ela ficou extremamente feliz, do mesmo jeito que ficava com a presença de Seohyun e Irene. Ás vezes penso que ela viu minhas crianças como uma oportunidade de oferecer o que não tinha me oferecido. Me deixava comovida e eu me sentia confortável com a ideia.
Logo depois dela, contamos para Sunny, Sooyoung, Yoona, Yuri, Minji e Eunseo em um jantar na nossa casa. Todos pareciam felizes e animados com a notícia. Irene soube no dia seguinte. A menina ficou elétrica e perguntava a todo momento quando o bebê chegaria em casa, quando Hyoyeon iria trazer o novo bebê. É claro, em sua imaginação de criança a responsável por bebês era sempre Hyoyeon. Afinal de contas fora a assistente social que trouxera a própria Irene para nós, e logo depois Seohyun. Claro que precisei explicar, repetidas vezes, de que o bebê estava crescendo em minha barriga.
Ela não acreditou. Olhou com cara de quem não havia comprado a ideia e franziu o cenho e o bico, emburrada. - Por que você colocaria ele aí? - Ela me perguntou e bateu o pé no chão. - Quanto tempo isso vai levar?
- Alguns meses ainda, querida. Ele é bem pequeno, desse tamanho. - E mostrei com meu dedo polegar e indicador o tamanho que o bebê provavelmente estaria.
- Desse tamanho? É tipo uma azeitona. - Ela vociferou irritada. - Não existem bebês desse tamanho.
Eu não soube o que responder. Na verdade, Irene parecia tão aborrecida porque o bebê iria demorar para chegar que ela simplesmente deixou o assunto para lá. Pelo menos pelo resto do dia.
- Bem, e o que você acha? - Eu perguntei para Seohyun enquanto a tirava da cadeira e a acomodava no meu colo. Ela riu e mordeu a mão gordinha, seus olhos segurando meu olhar. - É isso mesmo, e vocês vão se dar muito bem. - Eu ri e beijei sua testa, e minha bebê se segurou em mim com toda força.
Com nosso plano concluído, tudo o que nos restava agora era esperar. Todos já estavam cientes do meu estado - do nosso estado - e levando isso em consideração, foi de certa forma uma soma ao nervosismo que eu estava sentindo. Quatro meses. Minha barriga se destacava levemente. Eu estava extremamente consciente da presença fantasma do bebê que havia perdido. Taeyeon podia sentir a tensão também, e em certa noite nós chegamos a conversar sobre isso.
Nós estávamos na cama, eu tinha acabado de colocar um livro de lado quando ela começou a acariciar minha barriga. Eu virei o rosto e sorri para ela. Por mais medo que sentisse, minha gravidez sempre nos arrancou sorrisos.
- A cada dia tá maior. - Ela disse enquanto os dedos dançavam sobre minha pele.
- Eu sei. Daqui um mês não vai haver dúvida. Todos saberão só de olhar. - Eu sorri e depois de um tempo suspirei e me virei para ela. - Taetae... - Eu hesitei. Eu sempre hesitava em falar sobre nossa perda. - Nós estamos na mesma época.
- Eu sei, querida. - Ela disse e passou o braço por baixo de minha cabeça, me acolhendo em seu abraço. - Eu tenho pensado nisso. Mas Fany... Dessa vez vai ser diferente. Dessa vez nós vamos chegar até o final.
Ela disse com tanta convicção que parecia ser capaz de prever o futuro. - Como você sabe, Taetae?
Ela sorriu deliberadamente, e me puxou para perto dela. Nossos corpos de coloram. - Eu apenas sei. É intuição.
Eu ergui uma sobrancelha para ela.
- O que? Você sabe, minha intuição nunca falha, Fany-ah. - Ela sorriu gentilmente e depois acrescentou. - Você tá com medo, e é só por causa da data, querida. Foi difícil pra gente, Fany, e ficou marcado, mas é isso. Apenas isso. Não significa que vai acontecer de novo. Certo?
- Certo. - Eu respondi mais confiante. Taeyeon tinha toda razão. Era apenas medo, um medo justificável, mas não necessariamente antecipado. - Certo. - Eu repeti e ela beijou minha testa carinhosamente.
Um segundo depois e Irene tinha batido na porta e aberto.
- Mamães? - Ela disse enquanto esperava por uma de nós responder.
- Oi, Tartaruga? - Taeyeon disse já esticando o braço, sabendo bem o que significava um pedido aquela hora da noite.
- Posso ficar com vocês? - Os pequenos pés se remexeram no chão e eu sorri. Meu amor por Irene aumentava a cada dia.
- É claro, querida. - Eu respondi e abri espaço para ela na cama.
Ela se enfiou entre nós e de repente lançou a pequena mão em cima da minha barriga. - É aqui que o azeitona mora?
Eu e Taeyeon gargalhamos ao som da pergunta inocente. Abracei minha tartaruga e enchi seu rosto de beijos. - Exatamente, querida. É bem aí.
Ela franziu as sobrancelhas e perguntou pensativa. - Bem, e como é que a gente faz pra tirar ele daí?
- Irene, essa é uma outra história, ok? Que nós vamos te contar amanhã. - Taeyeon disse enquanto abraçava a nós duas e beijava a cabeça da menina.
Do outro quarto o protesto de Seohyun chegou aos nossos ouvidos. Ela era a única que faltava ali. Taeyeon se levantou e em menos de um minuto a menina cessou o choro. De volta ao quarto, com Seohyun nos braços, nós quatro nos acomodamos na cama. Todas dormimos ali, juntas, naquela noite. Para alguém que não acredita em destino, em Deus, em coincidências... pode parecer estranho, mas eu soube naquele momento, com minhas duas filhas e minha mulher na cama, que dentro de alguns meses mais um bebê estaria certamente entre nós.
São as façanhas da vida. O ato de nos presentear e de retirar o que amamos. Os altos e os baixos, as certezas e as incertezas... E algo que Eunseo havia me dito certa vez, mas que depende apenas de nós: a capacidade de reconhecermos tudo aquilo que a vida nos oferece, nos cerca, as possibilidades que surgem. Aqueles pequenos milagres, os milagres que recebi. Naquela noite eu beijei os meus três: Taeyeon, Seohyun e Irene. E o meu quarto milagre, o que sobreviveria ao quarto mês... a minha mais nova e pequena oportunidade, a promessa de novos sorrisos e amor. Nosso bebê. Não podia beijá-lo, não ainda... Mas podia senti-lo crescendo dentro de mim, crescendo em nós. Ocupando um espaço entre nossa família, nosso futuro.
Taeyeon estava certa. Eu soube, apenas porque fui capaz de reconhecer a conspiração da vida a favor do meu desejo se realizar, de que eu seguraria aquele bebê nos braços.
2 notes
·
View notes
Text
Capítulo Trinta e dois
Algum tempo depois
Irene estava ansiosa. Ela já havia tentando de tudo para fazer os ponteiros do relógio da parede da sala se mexerem logo, mas aparentemente nada adiantava o tempo. Suspirando, ela colocou as mãos acima dos olhos e depois na janela, como se tivesse observando algo a distância. Como se o simples gesto pudesse fazer a convidada aparecer repentinamente. Mas tudo o que ela via além do vidro eram os flocos de neve caindo preguiçosamente ao chão. Rodopiando, se erguendo com uma rajada de vento, rodopiando de novo e deslizando para se juntar aos flocos similares já aterrissados. Ela bateu o pé no chão e virou-se impaciente para suas mães.
- Tá levando uma eternidade! - Ela reclamou para Tiffany e Taeyeon que estavam sentadas no sofá, abraçadas uma na outra com canecas de chocolate quente nas mãos.
- Irene, querida... Se você se distrair o tempo passa mais rápido. É uma questão de relatividade - Tiffany começou mas Taeyeon a cortou.
- Tartaruga, vamos assistir um filme? - Ela convidou a menina com as mãos.
…
Irene tinha finalmente dormido. O dia tinha sido longo e cansativo, e agora a menina tinha a cabeça apoiada no colo de Tiffany. A morena deslizava seus dedos entre o cabelo escuro da criança, lenta e carinhosamente, observando enquanto mechas se desprendiam do conjunto para caírem separadas em seu joelho. Yuri era uma boa tia, e Irene se divertia tanto com ela. Tiffany se sentia abençoada por ter a menina em sua vida, e ela esperava que Irene se sentisse tão feliz quanto ela. Em dias que a irmã da detetive apareciam pela casa, Tiffany tinha certeza de que aquelas seriam as mais doces e felizes memórias da menina. Irene brincando de baseball com a tia e Taeyeon. Irene apresentando seus bichinhos de pelúcia para a tia, e Yuri pacientemente servindo o chá para todos eles. Era adorável e a lembrança colocava um sorriso inconsciente nos lábios de Tiffany, e seus olhos estavam perdido na distância assim como seus pensamentos.
- Fany? - A detetive a chamou quando percebeu que a morena estava prestando atenção em qualquer coisa, menos nela.
- Perdão? - Ela virou o rosto para encarar Tiffany.
- Eu perguntei se você quer uma taça de vinho agora. - Ela mudou o peso dos pés enquanto esperava pela reposta.
- Eu... Não. - A morena chacoalhou a cabeça.
Isso surpreendeu Taeyeon. - Okay...? - Ela se sentou no sofá ao lado da mulher e franziu o cenho em pensamento. - Hoje foi um dia ótimo. - Ela acrescentou enquanto descansava as costas no sofá e olhava de relance para a morena. Se Tiffany estava pensativa, ela estava disposta a escutar o que tanto prendia sua atenção.
- Foi. Irene está exausta, mas eu acho que são esses dias que ela gosta mais. - Ela virou o rosto e sorriu para Taeyeon, e como se quisesse participar da conversa também, a menina suspirou em seus sonhos, fazendo-se notar ao se virar e esconder o rosto na barriga da mãe.
- A gente deveria considerar em contratar Yuri como nossa babá. - Taeyeon riu divertida e Tiffany revirou os olhos.
- Eu tenho pensado em outra coisa. - Ela admitiu.
- Ilumine-me com seus pensamentos, Dra. Stephanie. - Taeyeon a provocou e escapou de um beliscão.
- É só que... Eu vejo você e sua irmã, Tae, e tudo o que eu consigo pensar é o quão sortuda você é por tê-la. - Ela balançou quando a loira bufou em sarcasmo. - Taetae, você precisa admitir. Vocês são diferentes em várias maneiras, mas vocês se amam assim mesmo, e vocês estão sempre unidas não importa o quê.
- Bem... - Ela deu de ombros. Era verdade, ela e Yuri sempre foram conectados, e suas brigas e caras feias não duravam mais do que uma hora, duas no máximo. Um sempre estava lá para defender a outra; abrir os olhos uma das outras. Sim, elas eram unidas. - Não é completamente ruim. Quer dizer, eu posso beber de graça na casa de Yuri, por exemplo. É, é vantajoso. - Ela curvou os lábios e balançou a cabeça como se ponderando as opções.
Tiffany sorriu para ela, não disposta a comprar a provocação. Ela encostou a cabeça no sofá e olhou para a loira. - Eu quero que Irene tenha isso. Que ela possa contar sempre com alguém da idade dela. Quer dizer, ela brinca na maior parte do tempo com adultos, Tae. E o contato que ela tem na escola é suficiente, mas não é... família.
Taeyeon se remexeu no sofá e virou-se para ela. Sua mão esquerda pousou no rosto da morena e ela inclinou para beijar-lhe os lábios. - Vamos ter um bebê.
...
Ela pareceu suspeita a princípio, mas quando a palavra “Frozen” saiu dos lábios de Taeyeon, ela correu empolgada para a pilha de DVDs e agarrou o filme. Contentemente ela saltitou até a loira e numa melodia ensaiada cantou o trecho “let it go”, segurando o “o” do final com um bico. Tiffany riu e se levantou, colocando a caneca delicadamente em cima da mesa de centro. Crianças davam trabalho. Sua rotina só não era mais cansativa porque elas podiam contar com a ajuda de Nawoon, e embora Irene fosse uma criança obediente que cooperava na maior parte do tempo, ela ainda tinha muita energia para ser queimada.
Tão logo Taeyeon se aproximou da tv e Irene se jogou no sofá, a morena parou ao lado da detetive e estudou enquanto ela lutava com a capa do dvd. - Você tem certeza que podemos fazer isso? - Ela perguntou insegura. Ela estava ansiosa também. A festa natalina de algumas noites anteriores tinha proporcionado tanta alegria para elas. Principalmente porque todos acolheram seus novos planos quando eles foram anunciados. Irene era visivelmente a mais empolgada de todos, e ela mostrava. Fora ela quem dera a notícia tão logo abrira a porta da sala para... bem, todos os convidados. “Vamos ter um bebê!” E ela jogava o braços para cima em comemoração, deixando Taeyeon e Tiffany sem graça quando os convidados olhavam especuladores para elas, esperando por uma confirmação, sem saber se deveriam dar, de fato, os parabéns ou não.
Taeyeon deu uma risada em sarcasmo enquanto mostrava o dvd para ela. - O que? Assistir isso pela milionésima vez? Qual é, eu não me canso do Sven.
A morena revirou os olhos. - Tae, você sabe que não me refiro a isso. - Ela cruzou os braços.
…
Tiffany se olhou no reflexo do espelho. Os olhos escuros pareciam nublados, e ela diria que poderia ser apenas o cansaço, mas ela sabia melhor do que mentir para si mesma. A dor no baixo ventre não a deixava esquecer os pensamentos sombrios que circulavam em sua mente, apenas esperando o momento certo para dar o bote, para assustá-la, fazendo com que ela se encolhesse de medo. Ela levou a mão na barriga e lembranças se materializaram na sua mente. Ela não se perdoaria se perdesse outro bebê, se seu corpo falhasse com ela novamente. Apenas a suposição fazia suas mãos tremerem. Ela estava ficando ansiosa, e isso não era nada bom para o momento.
- Fany-ah, você sabe onde deixei minhas chaves? E droga, não consigo encontrar o par de tênis de Irene. Ela se recusa a colocar qualquer outro. Você tem... - A frase morreu no meio do caminho quando a loira pegou a imagem de Tiffany parada dentro do banheiro, mão na barriga, se olhando do espelho. – Fany? - Ela chamou pela morena de novo que parecia desconhecer sua presença ali.
- Sim, Taetae? - Ela se virou e apoiou uma mão na pia.
- Você tá bem? - Taeyeon olhava desconfiada para ela.
- Sim. É apenas uma cólica. - A mulher informou e as bochechas se enrubesceram imediatamente. Ela passou por Taeyeon enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha, dispensando o olhar preocupado da outra. - O que você precisa?
Taeyeon a segurou pelo braço antes que ela saísse de seu alcance. - O que é, Fany?
A morena sorriu um sorriso triste e balançou a cabeça. - É apenas uma bobagem.
- Então me diz. - Ela pediu pacientemente.
- Eu tenho medo. Tenho medo de engravidar e... e perder de novo. E tenho medo do que isso pode causar para nós, Tae, para Irene. E tenho medo de, de não ser capaz de gerar outro bebê, de não poder dar irmãos para ela. E se demorar Taetae? E se isso acontecer só daqui dois anos? Ou três? Quer dizer... - Ela suspirou, abalada.
- Uma bobagem?! - Taeyeon exclamou. Ela pousou as mãos na cintura da morena e suspirou também, enquanto pensava. – Fany-ah, se você quer ter um bebê, você vai ter um bebê. E eu vou me certificar de que isso aconteça, porque eu vou fazer tudo ao meu alcance. Mas se o que te preocupa é o tempo... Um recém-nascido só chegaria aqui dentro de o quê? Um ano, se fossemos contar com todo o processo que você já sabe... A outra opção funcionou bem da outra vez. - Ela sugeriu e ergueu a sobrancelha para a loira.
Tiffany abriu a boca em surpresa e juntou as sobrancelhas. – Tae. Nós não podemos simplesmente decidir isso assim, tão rápido, como se fosse tão simples.
- É claro que podemos. - Ela viu Tiffany balançar a cabeça em descrença e adicionou. - O plano de ter o bebê ainda continua. Nós só vamos...
- Taeyeon! Você ficou maluca? - E agora ela estava realmente surpresa, porque Taeyeon estava falando sério.
- Fany-ah, olha para Irene, nós! Funcionou perfeitamente!
...
Conhecendo bem Tiffany, Taeyeon apenas deu de ombros. – Fany-ah, nós podemos, ok? Nós já conversamos sobre isso. Eu sei que você quer engravidar. E eu sei o que essa situação toda significa.
- E se for muito? E se de repente... - Ela começou a argumentar, mas Taeyeon já estava balançando sua cabeça em não.
- Por que você tá soando tão insegura? Quer dizer, olha para minha mãe. Se ela conseguiu, nós vamos tirar de letra.
Bem observado. Aliás, Taeyeon tinha toda a razão. Nawoon tinha sido uma ótima mãe, e o fato de ela estar sempre ao redor, de um jeito acolhedor, acalmava Tiffany. - Certo. - Ela cedeu, passando as mãos nas dobras invisíveis do vestido de inverno.
…
- Dra. Hwang, os resultados dos exames toxicológicos que você pediu. Eles acabaram de chegar e parecem em ordem. É claro que sei que você gostaria de conferir por si mesma. E devo acrescentar que os níveis de ferro estavam elevados, como você previu. - Yoona tinha entrado no seu escritório e entregara em suas mãos as pastas. Prestativa, a mulher esperava enquanto Tiffany passava os olhos pelos números e siglas.
- Como previ. - Ela suspirou e ergueu os olhos para Yoona. - Muito obrigada. Agora posso concluir o relatório.
- Não por isso. E... Dra. Hwang?
- Sim, Yoona? - A morena apoiou a mão na mesa enquanto esperava pelas palavras da médica mais nova. Os olhos de Yoona vagaram de sua barriga para seu rosto.
- Ouvi dizer que você... está grávida?
Tiffany arregalou os olhos. - O quê? Quem te disse isso?
A mais nova pareceu confusa. Era para ser um segredo? Ela não deveria ter falado nada? Ela só tinha intenção de dar-lhe parabéns. - Eu, ahn... Ouvi Nawoon dizer.
- Não. Eu posso te assegurar de que não estou, Yoona. - Ela disse apressada. - ;Se você me der licença, agora eu preciso resolver outra coisa. - Ela sorriu educadamente e subiu ao andar de cima para se encontrar com Nawoon. O elevador parecia mais lento do que todos os outros dias, e Tiffany se perguntou o que a mulher estava espalhando por aí, sem seu consentimento, ou o de Taeyeon. Coincidentemente, quando ela saiu do elevador sua mulher estava a dez passos de distância. Ela se apressou em alcançá-la e pegou-lhe o braço. Tiffany lançou um olhar para ela e depois para a cafeteria. Ela entendeu imediatamente.
- Ah não, o que minha mãe fez agora? - Ela parecia derrotada.
...
- E nós sempre podemos contar uma com a outra. Quer dizer... - Ela apertou o play do controle remoto ao mesmo tempo que a campainha tocou.
- Ela está aqui! - Irene pulou e correu até a porta, e freneticamente pulava para tentar tirar a trava que Taeyeon fora obrigada a colocar, caso contrário a menina estaria esperando pela visita do lado de fora. Quando Tiffany finalmente destrancou a porta, Irene foi mais rápida do que a morena e puxou-a com tudo, escancarando-a.
- Oicomovai? - Ela disse rapidamente porque sua mãe dissera que era educado. E não esperando nenhuma resposta, ela acrescentou. - Você trouxe minha encomenda?
...
- Taeyeon e Tiffany! - A voz de Hyoyeon soou alegremente quando elas se aproximaram de uma das mesas da cafeteria. Nawoon e a mulher estavam no maior conversa antes disso. Aí tinha sido a causa do pequeno mal entendido. Yoona provavelmente tinha escutado apenas uma parte da conversa, uma que dava a entender que Tiffany iria ter uma criança, o que não significava necessariamente que ela estava grávida. - Ouvi dizer que vocês querem adotar novamente? - A assistente social se levantou e apertou a mão das duas.
- Nós ahn... - Taeyeon olhou para Tiffany que balançou a cabeça significativamente para ela, e depois para a outra mulher. - Sim, nós queremos.
- Não é ótimo? Irene vai ter uma irmã, ou irmão! Você precisa ver como ela está feliz! - Nawoon bateu palmas em empolgação e Taeyeon desconfiou de que na verdade a mãe estava dizendo em como ela estava feliz.
- Vocês já começaram um novo processo? Se se interessarem... Eu posso ser a responsável por vocês. Posso ajudá-las.
As mulheres trocaram olhares e pareceram inseguras. É claro que elas já tinham decidido que elas iriam adotar mais uma criança, elas apenas não tinham decidido quando começariam o processo. Obviamente fazia mais sentido se elas iniciassem logo, considerando que a ideia era trazer um bebê o mais rápido possível para casa, para Irene finalmente tê-lo como irmão, ou irmã.
- Nós ficaríamos muito agradecidas. - Tiffany disse educadamente.
- Eu conheço vocês e sei o quão boas são para Irene. Ficaria feliz em saber que mais uma criança receberia o tipo de cuidado e amor que vocês oferecem. - Ela estendeu um cartão para as mulheres. - Vamos marcar um horário e assim começamos com a papelada. Contratem um advogado. - Ela disse por cima do ombro enquanto deixava as três mulheres para trás.
Nawoon radiando de felicidade.
Tiffany perplexa, segurando o cartão na mão, acenando um tchau com a outra...
E Taeyeon já agarrando Nawoon pelo braço. - Nós precisamos conversar, mãe.
…
Hyoyeon piscou os olhos para a menina, impressionada em quão rápido ela conseguia falar, e mais ainda em quão ligeira ela era em movimentar os pés de um lado para o outro. Em seus braços ela carregava um embrulho de cobertas, e pendurada nos ombros havia uma grande bolsa branca. - Eu, ahn...
- Irene, vamos deixar que ela entre primeiro, certo? - Tiffany segurou os ombros da menina e a virou delicadamente para dentro, sinalizando para que Hyoyeon a seguisse. Taeyeon veio a seguir, fechando a porta atrás delas, impedindo que o ar gelado esfriasse a casa.
- Me deixa ver! - A menina pediu em exigência. - Eu quero ver! - Ela ergueu a cabeça para Hyoyeon, os olhos pintados com empolgação e curiosidade.
- Irene, você precisa se acalmar. - Taeyeon lançou um olhar para ela, e conhecendo bem sua mãe, a menina consertou a postura e concordou com a cabeça.
- Sinto muito pelo atraso. - Hyoyeon começou. - As ruas estão impossíveis. A tempestade chegou antes do que prevista e... O resto vocês sabem. - Ela arrumou o bolo de coberta em seus braços apenas para passá-lo para Tiffany. A morena estendeu os braços em completo nervosismo. Um frio na barriga e um leve tremor de mãos acompanhava a imensa curiosidade, os sentimentos pintavam traços de um dia que Tiffany, tinha certeza, se lembraria para sempre. Quando ela finalmente ajeitou o peso - que não era muito - nos braços, ela afastou a coberta rosa claro para revelar um pequeno rosto ali.
...
- Eu tenho uma criança para vocês. Quando bati os olhos nela não consegui pensar em ninguém mais. - A assistente dizia calmamente enquanto se sentava no sofá da casa de Tiffany e Taeyeon. - A situação dela é... Bem, o pai morreu num acidente de carro. A mãe não tem condições de criá-la. O bebê sempre viveu com o pai, a mãe nem se importou com a guarda. - Ela mostrou a foto da criança para as duas.
- Ela é linda. - Tiffany murmurou enquanto passava o polegar sobre a foto, desejando poder segurar a pequena criança nos braços.
- Sim, de fato. O nome é Seo Joohyun. – Hyoyeon disse com um sorriso sabendo que esse também era o nome de Irene. - Está sob meus cuidados desde ontem a noite quando o pai veio a falecer. Eu teria ligado, mas... Achei melhor conversar pessoalmente.
- Irene vai adorar saber que ela tem o mesmo nome que o dela. Obrigada por ter se lembrado de nós. -Tiffany agradeceu honestamente.
Hyoyeon sorriu para elas. - É verdade que me comprometi em ajudá-las com o processo, mas devo confessar que, em partes, me lembrei de você, Dra. Hwang. Ela está internada no hospital em que Irene ficara internada antes. Ela estava no mesmo carro que o pai, mas não se preocupem. A menina não tem sequer um arranhão. Ela está apenas em observação.
- Oh. - Tiffany e Taeyeon disseram em uníssono.
Taeyeon balançou a cabeça para a mulher e depois estudou novamente a foto. Ela sorriu com a delicadeza da imagem, de quão serena e delicada ela parecia. E então algo lhe ocorreu. - Quantos meses ela tem, Hyoyeon?
- Cinco meses.
- Cinco... - Tiffany murmurou de novo e apertou a foto levemente nas mãos. Seria um desafio. Mas era um que ela queria enfrentar de qualquer jeito.
- Fany. - Taeyeon colocou a mão em suas costas. - Você sabe que eu tô dentro.
- Você tem certeza, Taetae? - Ela ergueu os olhos para a mulher. Taeyeon olhou para a foto mais uma vez e sorriu antes de retornar o olhar para Tiffany. E eram nesses momentos que Tiffany amava a loira um pouco mais. Os olhos carregaram o compromisso, a dedicação, e a determinação de embarcar em uma nova fase da vida delas.
- Sim. Ela é nossa.
- Me deem um par de dias. Ela precisa receber alta do hospital. Assim que ela estiver pronta para sair eu aviso vocês. E se preparem nesse meio tempo. Bebês dão muito mais trabalho do que vocês podem imaginar.
…
- Tiffany, Taeyeon, Irene... Essa é Joohyun.
A bebê se remexeu levemente nos braços da morena. De repente todo o nervosismo tinha ido embora, e em seu lugar um sentimento de proteção e carinho preencheu o peito dela. Ela poderia nomear os nomes dos hormônios correndo pelo corpo agora, mas aquele pequeno bebê... Aqueles pequenos olhos escuros como a noite - como os de Irene - e aquele cabelo castanho, ainda curto... Ela não conseguia fazer nada senão observar e registrar cada traço minúsculo, bonito, delicado. A forma como o roseado das bochechas se espalhavam na pele clara. O modo como as pequenas e fofas mãos se apertavam em punhos e se soltavam. A combinação do rosa claro da manta, destacando suavemente o dourado dos fios de cabelo.
- Irene. – Tiffany sussurrou. Ela se ajoelhou no chão e inclinou o bebê de cinco meses para que a garotinha pudesse vê-la. - Essa é sua irmã. - Olhos marejados se ergueram para os negros de Irene, e depois para os olhos carregados de emoção de Taeyeon. - Essa é sua irmãzinha. - Ela repetiu, a voz falhando dessa vez. Tantos sentimentos tomavam conta da mulher agora. Ela estava assustada. Ela saberia como cuidar de um bebê? Ela nunca tivera experiências com um antes. E ela estava feliz. Ela queria um bebê, do mesmo jeito que ela queria Irene. Ela queria que a menina tivesse irmãos, algo que ela mesma não teve, e embora Taeyeon dissesse que ela tinha sido sortuda, ela sabia que era mentira toda vez que a loira e sua irmã se encontravam. Taeyeon tinha sido a sortuda, não ela. Medo também fazia parte da mistura. Irene se sentiria tão amada quanto antes? Ela saberia que mais uma criança não diminuiria o amor das mães por ela? E o bebê se adaptaria à casa, à nova família? Tiffany se deu conta de que ela estava praticamente se fazendo as mesmas perguntas quando Irene chegou ali. Ela olhou para a menina que tinha as duas mãos apoiadas no joelho e corpo inclinado para frente. Ela parecia encantada, conquistada imediatamente pela fofura da pequena criança.
- Eu posso tocá-la? - Ela perguntou incerta, o que arrancou um sorriso ainda maior de Tiffany.
- É claro, querida. Apenas tome cuidado. - Ela balançou de leve a neném no colo quando ela se contorceu, agitada.
- Oh! Ela é fofa. - A menina observou enquanto corria os dedos levemente pela bochecha. - Você acha que ela vai gostar de Frozen? E de tartarugas? - Ela perguntou sem tirar os olhos da criança.
- Bem, eu acho que sim. Você vai deixar que ela brinque com a Miyoung? - Tiffany especulou.
- Pode apostar! Mas eu sou sempre a piloto. - Ela respondeu e as mulheres riram.
...
- Ela é linda. Não consigo parar de pensar naquele rostinho. - Taeyeon disse enquanto puxava a coberta até o queixo e abraçava Tiffany por trás.
- Nem eu. Entretanto eu confesso que... Me assusta. E se ela não se adaptar a nós, Taetae? - A morena suspirou na noite escura.
- Fany-ah, qual é. Ela vai. Ela é só um bebê, e se Irene conseguiu, quer dizer...
- Irene é uma criança, Tae, mas ela sabe falar, se expressar. Não tem bem quanto nós, é verdade, mas ainda assim sabe. Ela sentia falta da mãe e aquilo se manifestava de alguma forma. Mas e esse bebê? Ela tem cinco meses e eles sentem, Taetae. E se tudo o que ela fizer for só chorar pelo pai? E se ela sentir tanto a falta dele a ponto de não se conectar com a gente?
- Fany-ah, qual é! Agora você só tá sendo neurótica.
Tiffany arfou indignada e se virou de frente para ela.
- Como é?
Taeyeon riu. - Eu só quis dizer que não há motivo para se preocupar tanto assim. Se ela só fizer chorar, nós ficamos de guarda, okay? Irene começa, vai ser tudo culpa dela de qualquer jeito. - Ela brincou e resmungou quando um tapa estalou em seu braço. - Ow, Fany! Você sabe que eu tô brincando. E você sabe, - Ela beijou demoradamente os lábios da mulher - que somos eu e você, contra o resto do mundo se for preciso.
Tiffany sorriu, e mesmo no escuro Taeyeon sabia. Ela se inclinou e beijou os lábios da loira. - É por isso que amo você. - Ela murmurou.
- É pelo meu charme, eu sei. - Ela riu e apertou os braços em volta da morena. - Agora dorme, amanhã é ano novo e nós temos tantas coisas para preparar.
...
Seohyun se remexeu de novo, e dessa vez Tiffany se levantou. Taeyeon se inclinou para perto e estudou mais uma vez a criança. Ela era bonita. Parecia pequena e frágil, assim como Irene. Os olhos a encaravam com curiosidade e delicadeza, e essa foi a primeira diferença que ela distinguiu entre o bebê e a garotinha. A criança seria definitivamente mais paciente do que a irmã mais velha. Quando a boca se abriu numa expressão de incômodo, Taeyeon soube que ela seria exigente como Tiffany. A loira se inclinou e beijou a cabeça da criança antes de se afastar, e depois lançou um olhar para Tiffany. Elas estavam fisgadas. Desde o momento em que Hyoeyon mostrara a foto dias anteriores, mas agora não havia dúvidas de que elas haviam tomado a decisão certa: adotar um bebê só duplicaria aquela alegria intensa que elas estavam vivendo com Irene. O rosto de Tiffany estava iluminado de um jeito que Taeyeon sabia que apenas confirmava sua hipótese; ela tinha apostado que no momento em que a morena segurasse o bebê, todos os medos seriam colocados de lado, e a determinação de ser uma mãe tão boa quanto era para Irene a moveria dali para frente.
A menininha se remexeu irritada no colo de Tiffany e começou a chorar. Quase desesperada, a morena balançava lentamente a criança, esperando que o movimento a acalmasse. Mas nada mudou. Ela lançou um olhar para Taeyeon, um pedido de ajuda, e a loira quase sorrindo, levantou as sobrancelhas para e indicou com o queixo o bebê. Quando Tiffany checou, a pequena cabeça estava voltada ao seu peito por puro instinto. Mãos fechadas em punhos - uma delas em seu vestido, perto do decote - se moviam furiosamente. - Oh. - Ela entendeu. - Ela está com fome.
- Morrendo de fome, eu diria. - Hyoyeon adicionou. - Ficamos presas na estrada por mais de uma hora, e nesse tempo ela não foi alimentada. Você sabe como bebês mamam o tempo todo. - A mulher finalmente retirou a bolsa dos ombros e a depositou em cima da mesa da cozinha.
- Fany, eu seguro o bebê. Você prepara a formula? - Taeyeon disse já esticando os braços. Ela ainda não tinha segurado sua nova filha, e ela definitivamente queria.
...
- Taengoo, você pode pegar uma cerveja pra mim? - Yuri tinha perguntado quando Taeyeon se levantou da cadeira para tirar o seu prato.
- Qual é? Você não tem mãos? Levante sua bunda e pegue você mesmo. - Ela rebateu impaciente.
A morena revirou os olhos e bateu as cartas na mesa. Sooyoung segurou o riso - não, ela tentou segurar - e aproveitou a pausa do jogo para se virar na direção de Taeyeon, que agora já estava se acomodando na cadeira novamente.
- Esse ano foi... - Ela suspirou e ergueu as sobrancelhas. Lá vinha Sooyoung, ficando todo sentimental na noite de ano novo. - Um ano que só mediu dois extremos. Coisas boas e coisas ruins.
Taeyeon lançou um olhar para Tiffany e Irene que estavam sentadas no sofá da sala em uma calorosa conversa com Nawoon. - Nem precisa me dizer. Aliás... - Ela apoiou o queixo nas mãos antes de continuar. - Eu nunca cheguei a agradecer vocês, por tudo que vocês tem feito. - Ela olhou significativamente para Sooyoung e Sunny.
- Qual é, Taeyeon. Eu só fiz o meu trabalho. - Sooyoung sorriu simpaticamente para ela, e Taeyeon nunca se sentiu tão agradecida por ter requisitado um parceiro novo, anos atrás. É claro, ela admirava e respeitava Sunny da mesma forma, e era justamente esse o ponto. Suas duas parceiras eram pessoas boas, amigas - parte da família.
- Você sabe tão bem quanto eu que não é só isso. - Ela bateu com a mão no ombro da maior.
- ;É uma pena que... Nós nunca conseguimos pegar o responsável pela... - Sunny se certificou de que ninguém tava ouvindo antes de dizer “morte da mãe de Irene.”
Taeyeon encolheu os ombros e esfregou as mãos uma na outra. - É, é uma pena. Às vezes eu me perguntava se... Se Irene não tivesse ido para a delegacia... Se tivessem levado ela... Me perguntava se todos eles sairiam impunes.
A risada da menina ecoou alta pela casa, e cabeças se viraram para sua direção. Tiffany estava tampando a boca de Irene gentilmente enquanto ela mesma ria.
- Mas quer saber? Já me cansei dos “e se”. Parece que devo tanto à mãe dela. E das coisas que estão fora do meu alcance, nada posso fazer, agora eu entendo. E é por isso que eu me comprometo a manter essa família assim, do jeito que nós sempre quisemos. - Ela apontou um dedo para a direção de Tiffany e Irene.
- E por falar em “sempre quisemos” - Yuri se sentou ao lado delas, novamente. - Como andam os planos para o bebê?
Droga. Elas ainda tinham que contar as novidades para todos eles. A detetive limpou a garganta e se movimentou inquieta na cadeira. Yuri ergueu as sobrancelhas para ela, do mesmo jeito que ela fazia para ele quando ela sabia que ele estava escondendo algo. Caramba, Tiffany iria matar ela, mas ela precisava contar agora. Ela se inclinou para frente e sorrindo colocou um dedo esticado na frente da boca.
- É segredo. Era para contarmos juntas, mas... A adoção deu certo. A bebê chega na semana que vem.
- Aaaaaaaawn! - O coral de vozes ressoou pela casa inteira e Tiffany mais do que depressa lançou a cabeça na direção de Taeyeon.
A loira revirou os olhos e jogou as mãos para cima, para depois deixá-las cair ao seu lado. O que ela tinha dito sobre ser segredo?
Os olhos de Tiffany estavam aniquilando ela. - Você contou, não contou?
Taeyeon deu o sorriso que geralmente a livrava de problemas.
- Contou o quê? - Nawoon parecia, pela primeira vez, perdida. Como se de alguma forma ela compreendesse através do silêncio, ela abriu a boca em completa descrença.
- KIM TAEYEON!
...
- É claro. - Tiffany passou o bebê com cuidado para Taeyeon, e já familiarizada em como lidar com eles, a loira ajustou a criança facilmente em seu colo.
- Olá, pequenininha. - Ela beijou a cabeça da criança mais uma vez e sorriu quando a menina abriu a boca e se remexeu no colo dela, estudando tudo o que conseguia enxergar ao seu alcance. - Vamos nos sentar. - Ela indicou o sofá com a cabeça, e as três caminharam até lá - Irene colada em seus pés.
Depois de acomodadas, Hyoyeon retirou uma pasta e a colocou em cima da mesa de centro. - Aqui estão os últimos documentos que vocês precisam assinar, depois disso, ela é definitivamente de vocês.
- Certo. - Taeyeon concordou com a cabeça enquanto ajeitava a menina em seu colo. Irene se sentou sobre os joelhos ao seu lado, e segurava a mão da irmã.
- Como vocês sabem, algumas visitas são costumeiras, pelo menos nos primeiros meses.
- Sem problemas. - E o bebê começou a chorar novamente, irritada pela fome. Ela levantou a criança e apoiou os pequenos pés nas pernas, balançando-a carinhosamente... O que só a fez a chorar mais. - Fany? Como estão as coisas aí? - Ela perguntou por cima do ombro.
- Mais uns minutos. - A morena respondeu.
- Ela é barulhenta. - Irene parecia incomodada com a criança mais nova. Ela se soltou da mão da pequena, e de nariz torcido pulou do sofá e foi se sentar ao lado de Hyoyeon.
- E aí? Você gosta de Frozen? - Ela mordeu o lábios inferior enquanto esperava interessada pela resposta da mulher.
Taeyeon revirou os olhos, desacreditada em quão rápido ela tinha perdido o interesse no bebê. - Sério?
A menina deu de ombros para ela. - Você também gosta. - Ela disse em alta defesa, perdendo o real motivo da pergunta de Taeyeon. - O favorito dela é o Sven. - Ela contou em voz baixa para Hyoyeon, quase em segredo e depois encolheu os ombros como se dissesse “quem é que entende?”
- Oh. - E foi tudo o que Hyoyeon disse antes de rir.
Para sua salvação, Tiffany estava voltando com uma mamadeira em mãos. Ela esticou os braços para Taeyeon, mas a loira abraçou a criança e se virou para ela. - Eu alimento o bebê, Pany-ah.
A médica abriu a boca, perplexa. - Taeyeon! - Ela protestou.
- Você tem que assinar os papéis. - Ela se justificou em voz baixa, sabendo que não era um argumento válido.
A médica entregou a mamadeira para ela e assinou toda a papelada. Quando terminou, ela esticou a caneta para Taeyeon, e a outra mão pedindo pela criança. - Sua vez agora.
Derrotada, a detetive fechou a cara e entregou o bebê.
- Vocês vão ter muitas oportunidades para isso a partir de agora. Não se preocupem. - A assistente disse quase rindo, achando engraçado a disputa entre as duas. - Se vocês me dão licença, eu preciso ir. - Ela pegou a pasta com documentos e se levantou.
- Você tem um encontro? - Irene perguntou curiosa.
- Irene! - As duas mulheres chamaram a atenção da menina. Taeyeon realmente tinha que parar de dizer isso para sua mãe toda vez que ela dizia que ia sair. Irene estava copiando tudo o que elas falavam.
- Não é da sua conta. - A loira disse para ela.
- Desculpa. - Ela balançou as pernas no sofá, não parecendo muito arrependida.
- Tudo bem, Irene. - Hyoyeon disse sorrindo, e levantou as sobrancelhas para Tiffany e Taeyeon. De seu ponto de vista, aquilo tudo parecia certo. Como profissional ela se sentia realizada por ter encontrado uma família para aquelas duas crianças. Como pessoa, ela ficava ainda mais feliz por saber que a detetive e a médica estavam felizes - e ela sabia que estavam. Hyoyeon conhecia a médica e a detetive por dois anos agora, e apesar de antes só ter tido contato profissional, ela sempre teve a impressão de que ambas eram boas pessoas.
- Obrigada, mais uma vez. - Tiffany agradeceu.
- Você tem que assistir Frozen comigo! - Irene gritou do sofá, pulando empolgada.
Ela sorriu ainda mais. - Pode apostar, Irene. E Taeyeon, Tiffany?
As duas seguraram o olhar da assistente. - Eu sei que já fazem três dias, mas... Feliz ano novo.
Taeyeon balançou a cabeça e retribuiu o sorriso. Ela olhou para Tiffany com a criança no colo e Irene ainda pulando no sofá. Sim, o ano que estava começando seria por pura definição novo. Em todos os sentidos - e em todos os olhares, e mais novos amores. E definitivamente feliz.
2 notes
·
View notes
Text
Capítulo Trinta e um
- Você fez o quê? - Tiffany colocou as mãos na cintura e o tom de voz a uma oitava acima entregava a indignação e reprovação da ação da loira.
- Eu fui ver Jonghwan. - A loira suspirou e apoiou as mãos na bancada da cozinha. - Fany, me deixa explicar. - Ela levantou uma mão como se pedisse calma, mas a morena balançou a cabeça irritada. Ela sabia que essa seria a reação. Tiffany sempre entrava em conflito com seus sentimentos quando Jonghwan interferia na vida dela de alguma forma. - Eu fui ver ele porque não me restava nada mais a fazer.
A voz de derrota chamou a atenção da morena e ela dobrou os braços na frente do corpo e com olhos atentos estudou Taeyeon. - O que você quer dizer?
- Você tinha razão. - Ela pesou as palavras antes de dizê-las. - Sobre o ataque, eu quero dizer. E se mandassem alguém de novo? E se tentassem mais uma vez? - Taeyeon balançou a cabeça em negativo. - Nós não temos nada do assassinato da mãe de Irene, Fany. E você sabe porquê? A máfia atrás disso é tão boa como nós somos no nosso trabalho. Você sabe que levamos anos para prender Jonghwan, e foi praticamente uma questão de sorte.
- Então você estava escondendo algo. - Tiffany afirmou. Não tinha sido necessariamente uma acusação, mas o tom magoado acertou em cheio o coração de Taeyeon.
- Não é como... Eu queria te contar. Fany-ah, escuta. - Ela andou até a morena e segurou as mãos. - Você lembra que me disse de que como aquele homem era familiar para você?
A morena ergueu os olhos e balançou a cabeça em sim.
- Ele estava no mercado. Da vez que sua mãe esteve aqui, logo depois que Irene tinha sido levada. Ele falou comigo, Fany. Ele provavelmente viu todas nós lá, e obviamente tava espreitando, esperando a oportunidade para sequestrar ela de nós.
A morena arregalou os olhos e soltou as mãos da loira. - Desde quando você sabe disso? E por que não me contou antes?
- Não vem ao caso.
- Vem, vem sim. - Ela rebatou. - O que mais você sabe que eu não sei?
Taeyeon sabia que ela estava ficando mais brava, e felizmente não havia mais nada além disso. - Isso é tudo, eu juro. Isso e a visita ao Jonghwan.
- Eu não me importo quando você visita ele por questões de trabalho, mas eu realmente gostaria de saber quando isso acontece porque está relacionado a mim. - Ela disse secamente.
- Você teria tentado me impedir. - Taeyeon murmurou.
- É claro que eu teria, Tae. Eu não quero ele na minha vida, não quero nada que venha dele.
Taeyeon fechou os olhos. A teimosia e resistência de Tiffany em relação ao laço afetivo que ela tinha com Jonghwan - ainda que a morena negasse completamente - desconsertava a detetive. - Ele vai nos manter salvas, Fany-ah. Eu não quero você e Irene correndo riscos. Eu não quero essa sensação de que algo ruim pode nos acontecer. Ele pode resolver isso, e ele vai. - Ela colocou as mãos nos bolsos da calça.
- Eu não quero a proteção dele. Nós estamos bem sem ela até agora.
- Até agora! Fany você não entende? Nós prendemos um, ele foi morto. Outro veio atrás de vocês!
- Tae, você sabe como ele lida com isso. Ele provavelmente vai mandar matar alguém! - Ela disse clinicamente.
- Que grande perda para o mundo. Um sequestrador de crianças. - E foi tão frio quanto pôde. A morena ergueu os olhos para ela, a expressão de incredulidade no rosto. - Se ele fizer isso, eu espero que a mensagem seja bem clara. Espero que eles entendam que ninguém deve mexer com você, com Irene. Eu prefiro ter vocês a salvo. Eu definitivamente não vou lamentar por alguém que teria traficado uma criança e abusado de você.
Tiffany encostou na geladeira, o vidro da porta gelando suas costas. Ou talvez fosse só o tom da voz de Taeyeon. Sombria, carregada de verdades que não deveriam ser ditas em voz altas tão repugnantes poderiam ser.
- Eu sei que você não aprova. E você sabe que eu não aprovo o que ele faz, Fany. Mas acredite, eu não faria isso se achasse que isso é mais um assassinato corriqueiro. Tudo indica o oposto. É algo que eu... eu não posso enfrentar, Fany. Uma máfia inteira? Não, não eu. Só uma pessoa da mesma posição de poder pode resolver isso. E você deveria estar aliviada porque ele se dispôs a ajudar. Você é filha dele, e ele sempre manteve um olho em você.
- Eu não quero carregar isso. Não quero carregar essa... herança dele. - Ela cruzou os braços na frente do corpo em proteção. A voz vacilou diante da confissão.
Taeyeon entendia. Tiffany se sentiria envolvida como própria parte da máfia do pai, uma herança que ela carregaria escolhesse ou não. A loira caminhou até ela e segurou sua cintura. – Fany-ah, nós não podemos escolher de quem viemos, onde viemos. Mas você e ele são completamente diferentes. Aceitar ajuda dele não significa que você aprova as ações e meios, nem que você faz parte disso. Não é você que está atacando alguém, Fany. Alguém está tentando machucar você. Tudo bem se defender. - Ela apertou a cintura da morena levemente e, sem levantar os olhos, a mulher jogou a cabeça para o lado, em pensamento.
- Omma? - A voz de Irene veio atrás de Taeyeon e ela se virou sorrindo.
- Ei, tartaruga. - Taeyeon esticou os braços para ela e a menina andou para frente.
- Fome! - Ela bateu a pequena mão na barriga.
- Certo. Vamos encher você de rúcula! - Ela disse enquanto erguia a menina nos braços.
- Nãaaoo! - Ela protestou, rindo.
- Tartarugas comem rúculas, não comem? - Taeyeon perguntou inocentemente.
- Não! Elas comem cookies! - Ela disse alegremente.
- Que tipo de tartaruga come isso? - Taeyeon franziu o cenho.
- As raras. - E a resposta foi tão rápida quanto o piscar dos olhos.
A loira riu e beijou a bochecha da menina, depois se virou para Tiffany. A médica tinha um leve sorriso no rosto enquanto assistia as duas. Taeyeon se aproximou dela novamente e lançou um olhar significativo, depois depositou um beijo em sua bochecha. - Foi para preservar o que me importa mais.
…
- Esse chá não vai se tomar sozinho. - Taeyeon disse enquanto se sentava no sofá, logo depois de ter colocado Irene para dormir. Por longos minutos ela observara a morena de longe, mexendo pensativamente a caneca nas mãos. A princípio a loira julgou que a ação era apenas para esfriar o líquido, mas depois de cinco minutos ela desconfiava que não havia sequer mais calor ali dentro.
A morena olhou para ela e abaixou os olhos para o conteúdo dentro da caneca. De fato, ela não beberia aquilo. Ela tão pouco respondeu a observação de Taeyeon. Ela estava... Irritada? Não, não era isso. A não-anunciada ida da mulher até a prisão tinha revirado seu estômago - seus sentidos. Se ela soubesse o que a detetive estava prestes a fazer antes de sair de casa, ela teria tentado a todo custo impedi-la. Ela odiava a ideia de depender de alguma forma de Jonghwan, de dever alguma coisa ao seu pai biológico. O pai que a tirara de sua mãe no dia em que nascera; aquele que a fez acreditar durante toda a vida de que ela tinha sido abandonada, não querida. Ela odiava Jonghwan. Era graças a ele que ela se perguntava quando criança se era parecida com ele, ou com a mãe biológica. Se ela tinha irmãos em outro lugar do mundo - e se eles poderiam ter sido a tão desejada companhia enquanto mais nova. Ele havia destruído Eunseo, proporcionado o tipo de dor e senso de perda que Tiffany não desejava a nenhuma mulher - ela mesmo havia passado por isso, e não conseguia imaginar como alguém pudesse cometer esse ato meditado com outra pessoa. Como Jonghwan podia ter olhado para um bebê, sua própria filha, e ter simplesmente a doado para alguém? Ele era assim tão frio? Não. E o fato de saber que havia algo de bom nele - ela pôde identificar logo da primeira vez que se encontraram - a desconsertava. A confundia. Aquele era um homem que tirava a vida de outras pessoas. Aquele um que, entretanto, sem seu conhecimento estivera em importantes eventos de sua vida - alguns do quais ela provavelmente não sabia.
- Fany? - Ela ouviu Taeyeon a chamar, mas não registrou o som. Ela suspirou e se inclinou para frente, pousando a caneca delicadamente em cima da mesa, se encostando no sofá novamente em seguida. Toda vez que Jonghwan aparecia, ela se sentia como agora. Confusa. Em conflito com sentimentos opostos, alguns ambíguos. Por que Jonghwan tinha que parecer tão calmo e pacífico quando se tratava dela? Por que ele tinha que dar a impressão de querer cuidar dela? De saber genuinamente se ela estava bem e de se retrair e respeitá-la quando a loira exigia que ele se afastasse? E todas as vezes ela sempre jogava duro, colocava uma barreira entre os dois. Para a Doutora Tiffany Hwang, não havia piedade para assassinos frios; ela lidava com a morte todos os dias, e não desejava aquilo para ninguém. Para Tiffany, aquela que só Taeyeon conhecia muito bem, havia uma brecha, um sinal que ela classificara como fraqueza e hediondamente incorreto: havia bondade nele, ela sabia, apenas relutava em reconhecer.
- Fany, você sabe que em algum ponto você vai ter que conversar comigo. Mesmo que seja para gritar. - Taeyeon interpretou o silêncio da morena como irritação e se preparou para a briga que ela previa acontecer.
Finalmente, tirada de seus pensamentos pela insistência da loira, Tiffany a encarou com olhos bem abertos, como se tivesse ouvido o maior absurdo. - O que? Eu não grito com as pessoas. - Ela se defendeu.
É claro que não, ela era educada demais para isso. Taeyeon levantou as mãos em sinal de paz e depois as depositou em seu colo. - No que você está pensando, Fany-ah?
Ela suspirou e entrelaçou os dedos. - O que... O que vocês conversaram?
Não era nenhuma surpresa para Taeyeon que a morena fosse perguntar por isso novamente, afinal de contas elas não tinham encerrado a conversa mais cedo. - Eu contei para ele sobre Irene. Sobre a mãe dela ter sido friamente assassinada.
A morena ergueu as sobrancelhas como um sinal para Taeyeon continuar.
- Ele não pareceu interessado a princípio... - Ela encolheu os ombros. Pensando agora, fazia sentido. Ele não tinha nada a ver com aquilo, a criança era uma completa estranha para ele. - Então eu disse que ela é nossa. Que nós a adotamos. - Ela fez uma pausa para esperar a reação de Tiffany, esperando ser repreendida. A morena apenas estreitou os olhos e franziu o cenho. Ela estava curiosa, Taeyeon sabia.
- E só isso o convenceu? - Ela rebateu, parecendo incrédula.
- Não... Não foi bem assim. - A loira suspirou e passou a mão pelo cabelo. - Ele pareceu surpreso ao ouvir isso. Eu não sei, quem é que sabe o que se passa na cabeça dele? Mas pelo menos ele me deu ouvidos.
- O que mais ele disse? - Ela se remexeu no sofá, agora mais confortável.
- Que eu deveria ter cuidado melhor de você. - Ela disse honestamente, mesmo sabendo que...
- Tae. - A morena rebateu firmemente. - Ele não tá em posição de dizer isso. E eu espero, honestamente, que você não tenha dado ouvidos a isso.
- Eu sei, eu sei. E foi exatamente o que eu disse a ele. Que ele não tem ideia... - Ela suspirou enquanto se lembrava da conversa que tivera com o homem. - Eu meio que perdi o controle e eu posso ter... gritado com ele. - Ela se permitiu um riso quando a morena riu de leve e balançou a cabeça. - Eu tenho que dizer, ele sabe que botão apertar para tirar as pessoas do sério.
Tiffany resistiu a urgência de revirar os olhos. Como se Taeyeon, por ela mesma, não perdesse a calma tão facilmente.
- Onde eu parei? Certo. Na parte que perdi o controle. O que foi bom, eu acho. Na verdade, agora que eu tô pensando aquele filho da...
- Taetae! – Tiffany censurou antes que ela pudesse xingar.
- Tenho quase certeza de que ele fez de propósito, Fany, para me testar, saber se ainda podia confiar você a mim. Ele se importa com você, Fany.
A morena se encolheu no sofá diante das palavras de Taeyeon. Esse era o ponto da conversa que ela esperava evitar, simplesmente por não saber lidar com isso ainda. Ela inclinou a cabeça para um lado e considerou o pensamento.
- Você é uma policial, Tae. Como você pôde fazer isso? Aceitar que ele tome controle dessa situação pelos meios dele? - As palavras saíram inseguras e Taeyeon entendeu imediatamente que não era uma acusação. Ela queria entender, porque possivelmente era a via que ela procurava se encontrar para poder viver em paz com aquilo.
Taeyeon colocou uma mão nas costas da mulher e acariciou levemente. - Querida... A policial em mim acredita em justiça. Nós somos boas pessoas, Fany. Você e eu colocamos os caras ruins atrás das grades. Nós trazemos paz para famílias. Nós fazemos assassinos pagarem pelo crime que cometeram. Nós fazemos justiça. Mas você espera, Fany, que eu realmente acredite que tenho que esperar alguém sequestrar Irene e vendê-la para alguém que provavelmente abusaria dela, ou que alguém tenha que machucar você para... para só então agir? Para só depois clamar por justiça?
- Tae, eu acho que... - Mas a loira a cortou.
- Não é justo viver sob medo. Não é justo que eu saia de casa pensando se vou encontrar você bem quando eu voltar. Eu não acredito que justiça só pode ser clamada depois de ter sofrido um ato de agressão tão terrível. - A loira segurou a mão da morena para chamar sua atenção, que agora tinha os olhos fixos no colo, processando as palavras. - Ele disse, Fany. Ele mesmo disse que outra pessoa viria atrás de nós. Ele mandou um aviso, e eu não ligo a mínima que pode ter sido um blefe. Eu prefiro não correr esse risco. - Ela não precisava esclarecer que por “ele” ela se referia a Jung San.
- Eu não quero ser a filha de um mafioso, Taetae. - A morena murmurou, as palavras correram para revelar a fragilidade diante da confissão.
Taeyeon a envolveu nos braços e beijou sua cabeça. - É como eu disse, Fany-ah. Nós fazemos justiça. Há maldade lá fora, e Jonghwan só a impede que ela chegue até nós. Nós não estamos machucando ninguém, estamos? - A cabeça da morena se moveu lentamente em seu peito. - Exato. É o que nós fazemos. No trabalho nós tratamos de trazer paz e justiça. Aqui, em casa, nós nos tratamos com amor e respeito. Nós somos boas pessoas.
- Nós somos. - A morena concordou.
- E Fany-ah? - Ela esperou até que a médica erguesse a cabeça para ela. - Ele ama você, eu sei porque...
- Porque você é uma boa julgadora de caráter? - Ela provocou, mas no fundo era verdade.
Taeyeon riu. - É. E quer saber? Tudo bem se isso te afeta de alguma forma. Aceitar o que ele sente, e o que você sente... não vai mudar quem você é. Você pode ser qualquer coisa, Fany, menos o reflexo dele. Você é a pessoa que seus pais te criaram para ser.
A morena curvou os lábios num bico que significava apenas uma coisa: ela estava prestes a chorar. Mas antes que o fizesse, Taeyeon inclinou o corpo e beijou a boca da mulher, num ato repentino que a fez rir. Tiffany laçou seu pescoço, apenas para garantir que não fosse cair do sofá. Quando a loira se afastou, ela colocou uma mecha de cabelo moreno atrás da orelha da mulher e acariciou seu rosto. - Você é esse ser humano perfeito com quem eu me casei. E até onde eu sei, o único crime que você cometeu foi ser tãaao lerda ao ceder aos meus encantos. - Um tapa soou alto no seu braço.
- Acho que você acabou de inverter os papéis aqui. - A médica estreitou os olhos.
Taeyeon estreitou os olhos também, em pensamento. - Pode ser que seja verdade. - Ela admitiu e depois riu. - Me deixa te levar para cama e te lembrar todos os motivos pelos quais eu amo você? - Ela beijou mais uma vez os lábios da morena e sentiu braços apertando em sua cintura.
- O que aconteceu com “o sofá é perfeitamente confortável para nós duas?” - Ela provocou a detetive que em várias ocasiões defendia as sonecas (de noite inteira, Tiffany a lembrava) no sofá.
A detetive pensou por um segundo. - Certo. - Ela sorriu, e se inclinando deitou parte do seu peso sobre o corpo da morena. Tiffany poderia precisar de mais tempo para resolver os sentimentos conflitantes em relação à Jonghwan, mas Taeyeon jamais permitiria que ela se sentisse mal, que duvidasse da pessoa adorável, carinhosa e honesta que ela era. Sim, Taeyeon a lembraria todos os dias, se fosse necessário e se ela pudesse explicar, as razões pelas quais Tiffany havia virado sinônimo de amor.
…
- Guerra! Guerra! Guerra! - A menina gritou quando a campainha da porta tocou, empolgada com a ideia de receber Yuri e convidá-la a brincar com ela. Ela havia ganhado um conjunto de armas que atiravam bolas de tênis, e para o desespero de Tiffany a criança atirava bolas em todas as direções - acertando qualquer objeto que estivesse na frente.
- Nem pensar, tartaruga. - A morena disse quando segura a pequena cintura da menina e a ergueu do chão. - Eu atendo a porta. Ninguém vai ficar muito feliz ao ser recebido com tiros. - Ela colocou a menina na posição contrária de que estava indo.
- É de mentira, não dói. - A menina replicou enquanto se virava de novo, em poucos segundos estando aos pés da morena.
- Não é educado. - Tiffany pontuou. Para seu alívio, tão logo ela abriu a porta, revelando uma pessoa que não era Yuri, Irene pareceu desinteressada e correu para a cozinha novamente, onde Taeyeon estava.
- Tiffany Hwang-Kim? - O carteiro perguntou, segurando uma caixa que Tiffany tinha certeza de ser sua mais nova aquisição - um par de sapatos.
- Eu mesma. - Ela sorriu educadamente e assinou o papel, e felizmente recebeu a caixa nos braços.
- Isso também é para a senhora. - Ele colocou o envelope branco em cima da caixa.
Senhora. Tiffany franziu o rosto com a formalidade. Apesar de ser por educação, ela sempre se sentia velha. - Obrigada.
O homem sorriu, acenou com a cabeça e se virou. Tiffany fechou a porta com o pé e se dirigiu até a cozinha. – Irene! - Ela repreendeu a menina que tinha acabado de atirar uma bola em Taeyeon, mas que na verdade tinha acertado o pequeno vaso em cima da mesa.
- Sem danos! - A menina se defendeu e correu longe do alcance dela.
- Eu odeio você. - A morena lançou um olhar afiado para Taeyeon. Fora a detetive quem dera o brinquedo para Irene, claro. - Ela vai destruir a casa inteira.
- Tudo bem, nós podemos comprar uma casa na outra costa. O que você acha? Fugir desse inverno rigoroso. - A loira sorriu angelicalmente para ela, e Tiffany revirou os olhos.
- Por favor, me consulte antes de comprar brinquedos para ela. - Ela depositou a caixa em cima da mesa e pegou o envelope na mão. - Você tem certeza de que é assim que se faz essa massa? Você poderia ligar para sua mãe, é o que eu acho. - Ela provocou Taeyeon sobre a massa de mandu que ela estava fazendo, apenas porque queria se vingar do descaso de Taeyeon em relação às suas esculturas e telas que corriam o risco de ser danificadas por causa da arma que ela dera a menina.
A loira fingiu estar ofendida e colocou a mão no peito. - Stephanie! Saiba você que essa receita é de família, passada de geração a geração, e eu aprendi a fazê-la aos meus onze anos. Fui o orgulho da minha avó.
Tiffany riu com a voz forçada e a mentira da loira. - Então eu estou enganada de achar que essa é a sua primeira tentativa? - Ela levantou a sobrancelha e segurou o riso.
Taeyeon levantou as dela, abaixou o queixo e continuou mexendo na massa enquanto a encarava. Instantes depois as duas começaram a rir. Tiffany chacoalhou a cabeça e finalmente abriu o envelope que tinha nas mãos. Lentamente ela puxou o conteúdo para fora. Era uma única folha. Uma única foto. Ela cerrou o cenho e estudou a imagem. Era uma foto tirada do dia em que ela, Taeyeon e Irene haviam saído para almoçar num restaurante italiano, confortável e afastado do centro da cidade. Elas tinham escolhido um lugar perto das janelas, e na foto Irene segurava o garfo na direção de Taeyeon, e a loira tinha a boca aberta e Tiffany colocava a mão em baixo do garfo para impedir que o conteúdo caísse na mesa. Tinha sido um momento familiar agradável, leve, e as três estavam visivelmente felizes. Um momento apenas delas. Que havia parado naquele pedaço de papel. Com uma arfada ela soltou a foto. Quem havia mandado aquilo?
- Tae. - Ela chamou com a voz tremida, sem desgrudar os olhos da imagem.
- O que foi? - A loira se aproximou, preocupada. Ela perguntou sem entender porque de um segundo para o outro a mulher tinha passado de contente para assombrada.
A morena apontou o dedo para a foto, lançando um olhar assustado para a detetive. Taeyeon se colocou ao lado dela, ombro no ombro, e estudou a imagem de rosto franzido. Os olhos negros se ergueram para Tiffany em confusão e medo. Quem havia mandando aquilo? Ela pegou um guardanapo e cuidadosamente virou a foto. No canto inferior direito havia duas letras escritas. C. J.
A mensagem não podia ser mais clara. Com um suspiro de alívio, ela levou a mão nas costas da morena e acariciou. - Ele manteve a promessa. - Ela disse com a voz controlada. O dedo indicador pousou ao lado das letras e ela olhou para Tiffany. - Jonghwan. Ele mandou uma mensagem para dizer que... Nós estamos sendo cuidadas.
Tiffany pegou a foto, dessa vez com mais segurança. Ela leu as iniciais e suspirou. A sensação, agora que sabia de quem aquilo vinha, não era de todo tão ruim. De alguma forma ela se sentiu segura. Incomodada com o fato de que possivelmente, nesse momento, homens de Jonghwan estavam rondando sua vizinhança, apenas para garantir de que elas estavam salvas. Mas elas estavam seguras, e era isso o que mais importava. O fato de a mensagem ter vindo por uma simples via, uma foto de um momento agradável, carregava valores que ela precisava reconhecer que Jonghwan tinha. Diferente da outra vez em que o homem enfiara um picador de gelo no peito de um homem, deixando claro que qualquer agressão para com sua família seria combatida com agressão da parte dele, a mensagem dessa vez tinha sido diferente.
A foto emitia serenidade e harmonia, e tomada por um sentimento de ternura Tiffany correu o polegar por cima do papel. Jonghwan sabia se expressar bem. Ele tinha mandado aquele recado porque era exatamente o tipo de coisa que queria dizer: que elas vivessem a vida exatamente do jeito que estavam vivendo naquele momento em que a foto fora tirada. Com a companhia uma da outra, a calmaria de um almoço comum no meio da semana, a afeição que claramente conectavam as três. Despreocupadas. Felizes.
A morena deslizou a foto para dentro do envelope e o depositou em cima da mesa de novo. Taeyeon tinha razão. Jonghwan a amava. O fato de ele ser um mafioso, ou de tê-la tirado de Eunseo não fazia dele, exatamente, um péssimo pai. Se ela fosse considerar, o afastamento dela e da mãe fora em primeiro lugar para segurança das duas. O homem tinha fotos de toda a sua vida, de momentos que ela nem soube que ele estava lá. Era natural que ele quisesse protegê-la depois de ter nascido, mas ele não tinha que ter acompanhado seu desenvolvimento. Se ele não tivesse se importado, ele simplesmente não teria aquelas fotos.
- Fany? - A voz de Taeyeon penetrou seus pensamentos.
A morena ergueu as sobrancelhas lentamente e olhou para ela.
- Nós estamos bem. - Ela acariciou a bochecha da mulher.
- Sim, nós estamos. - A médica sorriu para ela e apertou de leve sua mão. Estava tudo bem. Ela podia sentir a calmaria finalmente se estabelecendo em seu peito, como numa lufada de ar leve e fresco em dia quente, que chega de mansinho e arrepia o corpo todo. Jonghwan garantiria aquele serenidade.
Taeyeon sorriu para ela e segurou sua cintura, depois se inclinou e lentamente beijou seus lábios. - Nada mais vai nos perturbar, Fany-ah. - Ela acariciou o rosto da morena com o polegar, sorrindo. A sensação de alívio ao saber de que a morena e Irene estariam completamente sob vigia dos homens de Jonghwan encerrava, de uma vez por todas, a fase de desconfianças e aflições. Elas estavam seguras. Elas estavam juntas, vivendo tudo aquilo que tinham aspirado antes. Um casamento, uma criança. Elas estavam tão bem. A loira beijou novamente os lábios da médica, dessa vez mais demorado. Até que algo duro acertou com força sua cabeça.
- Ouch! - Ela se afastou assustada e olhou para trás, escandalizada. Irene abriu a boca e deu uma gargalhada alta que, Taeyeon desconfiou, poderia ser ouvida do outro quarteirão.
Certo, elas ficaram bem. Contanto que Irene nunca mais segurasse aquele brinquedo de novo.
2 notes
·
View notes
Text
Capítulo Trinta
Jung San. O homem que tinha agredido Tiffany. Aquele que tinha tentado sequestrar Irene. Taeyeon se inclinou na parede e encarava o sujeito, convencida de que sairia dali com um sermão de Sunny - mas tentando, contra expectativas, se manter calma.
- Você não pode provar que fui eu. - Ele sorriu calmamente, dando nos nervos de Taeyeon.
- Nós podemos, nós já provamos. O material recolhido da unha da vítima bateu com seu DNA. - Sunny retrucou duramente.
Taeyeon franziu o cenho ao ouvir “vítima”. O homem ainda parecia calmo. Ela reajustou o peso nos pés.
- Belo trabalho. - Ele elogiou na mais pura falsidade. E esperou.
Sunny trocou um olhar com Sooyoung. O homem não iria ceder tão cedo.
- Eu quero saber quem tá por trás disso. - Sooyoung assumiu o interrogatório. - Você oferece informação, sua pena é diminuída.
O homem riu e passou a língua nos lábios, depois ficou sério de novo. - Não há nada que você possa me oferecer. A minha sentença é de morte.
Elas ignoraram a observação do outro. - Como vocês encontraram a menina?
- Haha. - E foi tudo o que ele ofereceu. Depois, mudando de ideia, ele levantou os olhos para Sunny. - Você sabe como. Vocês também são caçadores. - E o olhar afiado encarou Taeyeon.
Era verdade. Todos eles eram caçadores, a única diferença era o motivo da caça. Ela se remexeu novamente, se endireitando. Não era algo a ser comparado. Eles faziam justiça, enquanto aquele homem e tantos outros que passaram por aquela sala causaram nada mais do que dor para outras pessoas.
- Nossos meios de encontrar pessoas são certamente diferentes dos seus. - Sooyoung devolveu.
- Ah, isso pode ser verdade. Vocês têm escrúpulos. - O sorriso irônico parecia nunca abandonar seu rosto.
Deus, esse homem jamais iria ceder. Ele não parecia se importar com a cadeia, não parecia se importar com coisa alguma. Taeyeon respirou fundo e lançou um olhou para os colegas de trabalho que estavam de costas para ela. Era difícil interrogar alguém assim, tão seguro de si, alguém que aparentemente não precisava de nada em troca. Mas o que Taeyeon não sabia, é que logo ela teria uma oportunidade.
- Cara, você mexeu com um dos nossos. - Sooyoung abaixou a voz num nível em que dizia claramente que ele estava perdendo a paciência. - Você tá ferrado, você tá entendendo? - Ela se inclinou para frente. - O melhor que você pode fazer é colaborar, dizer para quem você trabalha. E aí, quem sabe, a gente dá um jeito de você não virar o novo saco de pancada da cadeia.
Sunny ergueu uma sobrancelha. - Você se lembra, Choi, do cara que pegamos no aeroporto? Eu não gostaria de morrer daquele jeito. - E embora ele tenha se dirigido à Sooyoung, os olhos nunca deixaram o rosto do culpado.
- Argh. Morrer espancado... Não. Muito obrigado.
O homem se mexeu levemente na cadeira.
- Quem era ele, Jung? Seu comparsa?
Sooyoung achou que ele não fosse responder, mas para sua surpresa o homem disse sem ensaios. - Oh, sim. Um velho amigo.
- Parece que você vai acabar como ele. - Sunny provocou.
- Vocês não parecem saber de muita coisa, não é mesmo? - Ele ajeitou a postura na cadeira, parecendo irritado. - Eu sou apenas uma peça do jogo. - Ele lançou um olhar para Taeyeon. - Me diga detetive, elas gritam a noite? É bom que ainda estejam assustadas.
- Cala a boca. - Taeyeon inclinou o corpo para frente e apontou um dedo ameaçador para ele, a voz rouca cortou o ar com força, raiva.
- Aquela menina é corajosa, devo dizer, mas isso não é suficiente para salvá-la.
- Chega! – Sooyoung levantou a voz para o homem. Sunny, rápida o suficiente, desligou o gravador.
Ele sorriu. - E aquela médica? Ela é gostosa. Adoraria ter colocado minhas mãos nela, você sabe, para outros fins.
Coisa errada para se dizer para uma Kim já irritada. Sem medir suas ações, a loira cruzou a sala no que pareceu ser apenas uma passada, agarrou o colarinho da camisa do homem e o empurrou para trás. O movimento fez ele se levantar e com uns passos ele bateu as costas na parede. O impacto foi tão forte que ele ricocheteou para frente, e Taeyeon mais uma vez o jogou contra ela. - Canalha! - Ela gritou com toda raiva que sentia. - Não se atreva! Não se atreva a mencionar ela!
O homem empurrou-a pela barriga com as mãos algemadas, com a força suficiente para mandá-la para longe dele.
- Vá com calma, benzinho. Você pode participar da festa também.
- Seu desgraçado! - Ela avançou para cima dele de novo e quando seus dedos agarraram a garganta do homem, mãos forte a seguraram e a puxaram para trás.
- Cala a maldita boca! - Sunny gritou para ele.
Ele tomou como um desafio. - Quer saber? Talvez o próximo consiga fodê-la.
Taeyeon juntou toda a força que tinha para se livrar de Sooyoung. Ela iria fazer aquele desgraçado engolir cada palavra, cada dente.
- Taeyeon! - Sooyoung apertou seus braços em volta da loira, e ela sabia que se vacilasse Taeyeon partiria para cima do homem novamente. - Não!
- Me solta, Choi! Eu vou matar esse animal. - A voz rouca e grave parecia ter perdido toda a razão.
- Eu tenho meus direitos. - O homem disse enraivecido. - Desde quando é permitido agressão por parte de policiais dentro de delegacias?
- Eu não vi nada, você viu Sooyoung? - Sunny empurrou o homem de volta a cadeira onde estava.
- Nada. - Ela disse enquanto ainda segurava a loira. Depois ela a soltou, quando finalmente acho que seria seguro, mas manteve as mãos nos ombros dela. - Era por isso que não queria você aqui. Qual é, Taeyeon. Vá para casa.
- É docinho, corre e vê se você come ela pela última vez. Você sabe, eu não fui o último a aparecer. - Indiferente às ameaças, ele provocou de novo.
- Cala essa maldita boca ou eu mesmo vou arrebentar você. - Sooyoung apontou um dedo para ele enquanto apertava o ombro de Taeyeon com uma única mão. Se ela resolvesse se livrar dela agora, da segunda vez que a tirassem de cima do homem ele estaria morto.
Os olhos da morena se escureceram com terror, diante das palavras do outro. Ela já havia pensado nisso, ele apenas confirmara. Ou ele tinha apenas blefado, com o único intuito de provocá-la? Desarmada, ela ergueu os olhos para o homem e levantou uma sobrancelha. A máfia era algo grandioso demais para ela lidar sozinha. Até mesmo operações de meses - anos, como no caso do pai biológico da Tiffany- às vezes falhava. Ela se sentiu derrotada e queria estar ao lado de Tiffany e Irene mais do que nunca. Deixar a sala de interrogação era a melhor saída, ela sabia. Ela já tinha estragado tudo, de qualquer maneira. Ela tinha deixado ser afetada por provocações de alguém que, nesse momento, não fariam a mínima diferença. É claro, a dor e a raiva de encontrar Tiffany agredida não tinham desaparecido - nunca iria, mas reagir daquele jeito tão pouco iria mudar algo.
Ela balançou a cabeça para Sooyoung.
- Nós damos conta disso, Taeyeon. - Ele assegurou.
- Eu sei. - Ela murmurou. Num último momento ela olhou para o homem sentado e resmungou. - Eu espero que os homens de Jonghwan piquem você. Eles estão em todos os lugares, você sabe. - Ela estava prestes a se virar e deixar a sala, mas o homem pareceu confuso.
- Do que você tá falando? - Ele perguntou ridicularizando-a.
Taeyeon e Sooyoung trocaram olhares. - Então você não sabe? – A morena abriu um sorriso. - Cara, você tá tão ferrado. - Ela se aproximou da mesa de novo e apontou um dedo para Taeyeon. - A mulher dela, Dr. Tiffany Hwang... Você sabe de quem ela é filha? Choi Jonghwan.
- Aquele Choi Jonghwan. - Sunny enfatizou.
- Cara, você vai ter os melhores dias na cadeia. - E ela riu com a situação, porque percebeu que o nome tinha surtido efeito.
Ele sorriu, mas pareceu meio inseguro. - Nós temos um código. Não nos metemos com os assuntos um dos outros.
- Parece que você quebrou esse código no momento que atacou a filha dele. - Sooyoung rebateu.
- Falando em Jonghwan... Faz tempo que não faço uma visita à ele. E quanto a você, Taeyeon? - Sunny estava quase se divertindo com a situação agora. Ela olhou para a morena e ela sorriu.
- Na verdade, eu tô com tanta saudade dele que tô indo visitá-lo agora.
O homem pareceu se encolher um pouco, e para pressionar ainda mais, Taeyeon abriu a porta.
- Qual é! - Ele exclamou.
Determinada e confiando que o interrogatório tinha agora tomado, finalmente, rumo, ela saiu da sala e fechou a porta. Ela adoraria chutar a bunda daquele infeliz, até mesmo vê-lo pedindo por proteção em troca de informação, mas nesse momento ela tinha que fazer duas coisas. Ela andou até o quadro onde a foto do homem estava pendurada e arrancou de lá. Ela sabia que as fotos do ataque de Tiffany deveriam estar ali também, mas que foram tiradas por consideração porque as companheiras sabiam que elas viriam hoje. Ela vasculhou por cima da mesa de Sooyoung e quando não encontrou nada, procurou na mesa de Sunny. Em baixo de uma pilha de papel, as fotos estavam viradas para baixo. Ela examinou cada uma delas e escolheu apenas duas. É claro que eles logo notariam o sumiço delas de qualquer forma, mas era só queria o necessário. Depois de colocar as fotos de um envelope amarelo, ela se encaminhou para o elevador.
Ela precisava checar Tiffany e Irene. Depois ela faria uma curta viagem.
Ela destrancou a porta e entrou na casa, esperando por encontrar Tiffany e Irene no andar de baixo. Ela correu os olhos pela sala e logo em seguida pela cozinha. Elas não estavam ali. A casa estava mergulhada no mais absoluto silêncio.<
- Fany? - Ela chamou e esperou pela resposta. Nenhuma veio. Ela sentiu um arrepio correr pelas costas quando as palavras de San cruzaram sua mente. Você sabe, eu não fui a último a aparecer. Ela balançou a cabeça para espantar os pensamentos e virou nos pés para tomar outra direção. – Fany? - Ela chamou de novo, e nenhuma voz apareceu depois da sua.
Por uma razão incompreensível seu coração começou a bater mais rápido. Ela levou a mão na arma, um hábito adquirido depois de anos de polícia. Não havia nada errado no andar de baixo, nada fora do lugar indicando que alguém tinha estado ali, mas o medo corria em sua veia, alertando todos seus sentidos.
- Tiffany. - Ela chamou de novo quando os pés alcançaram os primeiros degraus da escada. Ela subiu o mais rápido que pôde, pulando dois degraus por vez. Quando alcançou o piso de cima, ofegante pelo esforço, ela chamou pela mulher de novo.
A morena apareceu na porta do quarto, esfregando os olhos, cabelo bagunçado. A visão da morena completamente calma, e não totalmente desperta, a acalmou imediatamente. A detetive soltou a arma de volta ao coldre, antes que Tiffany se visse e se assustasse.
- Taetae? O que está acontecendo? - A médica perguntou desorientada. Ela tinha escutado Taeyeon a chamando apenas uma vez, mas aparentemente não tinha sido a única. E por que ela estava ofegando?<
- Nada. Você tava dormindo? Desculpa, não queria te acordar. - Ela segurou o rosto da mulher e beijou os lábios, depois colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.
- Eu devo ter apagado enquanto estava lendo. Não ouvi você entrando. - Ela sorriu e segurou na cintura da loira.
- Irene?
- Na cama comigo. Por que você parece tão preocupada, Tae? - Os olhos escuros estudaram o rosto da mulher e Taeyeon já não queria mais esconder o medo e a preocupação dela, entretanto ela não queria estressar a mulher.
- Não é nada, Fany. - Ela manteve a voz firme. - Como foi Irene com Yuri hoje? - Ela sorriu com a ideia.
Tiffany revirou os olhos. - Minhas habilidades no basquete não são tão louváveis como no xadrez.
Taeyeon riu com o comentário e beijou a bochecha dela. - Graças a Deus você não sabe uma coisa ou duas. Caso contrário você seria insuportável!
A morena fez uma cara de magoada e deu um tapa no braço da detetive. - Eu sou boa em esportes, Tae!
- Patinação não é esporte, Fany-ah. Achei que a gente já tinha concordado nisso.
A médica revirou os olhos. Era melhor não começar a discutir sobre o assunto novamente. - Como foi o interrogatório?
Taeyeon suspirou. Ela não iria contar a parte em que tinha perdido a cabeça, e nem o motivo. - Ele começou a falar, Fany. Sai de lá antes de terminar, preciso resolver outras coisas ainda hoje.
- O que é, Taetae? - Ela deslizou sua mão dentro da mão da loira e segurou.
- Eu te conto assim que eu voltar, ok?
- Voltar? Aonde você está indo?
Taeyeon hesitou. Ela não tinha certeza se contar para Tiffany o que estava prestes a fazer era uma boa ideia. A morena não aprovaria de forma alguma, e tinha a grande possibilidade de ela ficar irritada com a detetive, talvez tentasse até mesmo convencê-la a não ir. Entretanto era algo que ela precisava fazer. Ela se sentiria mais segura, mesmo que por meios que, como policial, ela não aprovaria.
- Confia em mim, ok? Eu prometo te contar tudo hoje à noite quando eu chegar.
- O que você vai fazer? Taeyeon! Isso tem a ver com o caso? Você não pode se envolver, você sabe. Aonde você pensa que vai? E pode ser perigoso. Você vai sozinha, sem reforço? Eu não estou gostando disso! - Ela começou a falar sem parar, já se abalando com a ideia, mas a loira a cortou.
- Ei, ow! Fany. Não... Não é sobre o caso. Juro. Não é nada perigoso. Nada que envolva perseguições, armas, interrogatórios. Nada.
- Sua definição de perigo é bem diferente da minha. - Ela rebateu.
- Fany, não é perigoso, ok? De acordo com a sua definição, se te faz melhor.
- O que é então? - Ela pressionou.
- Só vai fazer sentido se eu fizer primeiro e te contar depois. - Ela sorriu o melhor que pôde.
A morena balançou a cabeça. - Não gosto de suspenses.
- Não há nada com o se preocupar, Fany. Eu prometo que... - Ela suspirou, rezando para que o que pretendia desse certo, e que ela se sentisse segura o suficiente para assumir outros planos depois. - Prometo que quando voltar nós vamos falar sobre... sobre bebês. - Ela abriu um sorriso esperando que Tiffany comprasse a oferta.
Ela abaixou a cabeça, tímida. - Tae... Esse não é o momento para...
- Não. Esse não. - Ela segurou o rosto da morena. - Mas dentro de algumas horas qualquer momento vai ser o momento para se falar disso.
E Taeyeon estava decidida a encerrar de uma vez por toda esse período da vida delas, onde o medo as assombravam em cantos escuros da casa, em rosto de pessoas desconhecidas. Onde a tensão apertava seus corpos em um laço forte toda vez que alguém batia à porta da casa delas - mesmo se fosse o carteiro, o entregador de pizza - simplesmente porque não havia garantia nenhuma de que elas estavam salvas.
Não. Taeyeon não queria isso para Irene, Tiffany. Ela definitivamente não queria nenhum tipo de tensão rondando a casa, ainda mais se Tiffany estava decidida a ter outro bebê. E Taeyeon faria qualquer coisa - qualquer coisa - para mantê-las seguras e confortáveis.
- Eu volto em duas horas, no máximo. E se Irene acordar, pergunte o que ela acha de ter um irmão ou irmã. - Ela sorriu e beijou os lábios de Maura. A morena hesitou em soltar sua cintura, mas Taeyeon apertou suas mãos num gesto reconfortante e finalmente ela a deixou.
Taeyeon tamborilou os dedos em cima da mesa fria e dura. O pequeno móvel combinava com o lugar em que ela estava agora. As mesmas características pareciam se espalhar e grudar em tudo o que havia naquele prédio: paredes frias, duras, ambiente seco, sem cor. Ela se ajeitou na cadeira e cruzou as mãos, focando nos dedos enquanto esperava ansiosamente pela pessoa que fora visitar.
Ela odiava estar fazendo aquilo. Odiava ter que assumir que havia chegado em um ponto que precisava de ajuda, odiava ter que admitir que não podia cumprir parte do que mais almejava: proteger Tiffany, de qualquer perigo que fosse. Parte dela estava furiosa consigo mesma por parecer tão inofensiva agora, tão fraca, mas no fundo ela sabia que nessas circunstâncias não havia outra solução. Ela precisava de ajuda. Ela precisava de ordem e força maior do que tinha para colocar uma barreira de proteção em volta dela, de Tiffany e Irene.
Ela levantou a cabeça quando o som de metal ecoou pelo corredor e um minuto depois dois homens entravam na sala. Um guarda corpulento conduzindo um prisioneiro. O homem acorrentado lançou um olhar afiado para ela enquanto se sentava na cadeira. Os olhos eram familiares, mas o que habitava atrás deles era desconhecido - perigoso e ameaçador, capazes de coisas que ela preferia não saber.
E era a esse homem que ela tinha vindo recorrer ajuda.
Choi Jonghwan. Chefe da máfia coreana. Pai de Tiffany - apenas biológico. Protetor o suficiente para enfiar um picador de gelo no coração do sujeito que se metesse com sua família. Poderoso o suficiente para comandar a máfia mesmo dentro da prisão. Seu nome era respeitado, e mesmo estando entre os bandidos, Jonghwan seguia um tipo de moral regente entre eles. Talvez ele mesmo a tivesse criado. Taeyeon não entendia de que forma alguém que fora condenador por quinze assassinatos pudesse, entretanto, entender algo sobre moral. Ela só imaginava que a moral que ele seguia era distorcida, ao menos bem diferente da dela.
Hoje, apesar de tudo, ela não viera para julgá-lo. Viera para pedir ajuda, algo que fazia questionar o próprio ato em si, mas convencida de que era um termo plausível, era acenou a cabeça para o homem em cumprimento.
- Você veio antes do que previ. - O homem disse sem nenhuma emoção.
- Senti falta das nossas conversas agradáveis. - Ela rebateu tentando segurar o sarcasmo. Ela estava preste a pedir algo e provocações não era a melhor forma de quebrar o gelo.
- Como está Stephanie? - Ele perguntou e dessa vez a voz soou mais calorosa. Eunseo e Tiffany eram definitivamente o ponto fraco do homem.
- Bem, ela tá bem. - A loira acenou uma vez com a cabeça para confirmar as palavras.
O homem a encarou por um tempo, como se estivesse digerindo a informação. Quando nada mais parecia ter restado para ser compreendido, ele inclinou o corpo para frente, curioso. Cauteloso. - O que você quer de mim?
A detetive juntou os lábios numa linha fina. Ele era direto, ela também. Ela desbloqueou o celular e mostrou uma foto de Irene para Jonghwan. A menina estava chupando sorvete, a boca suja da cor rosada do doce, os olhos amendoados na tela encarando o homem de volta. - Você sabe quem é essa criança?
O homem olhou para a foto e depois para ela. Havia uma tensão crescente entre eles. - Onde você quer chegar?
Taeyeon franziu as sobrancelhas. Era provável que ele conhecesse, mas como ela iria saber com certeza se ele respondia sua pergunta com outra?
- A mãe dessa garotinha foi morta. Ela foi a testemunha em um caso de tráfico de crianças e estava sob a proteção do governo. Mesmo assim a acharam e a executaram. É um milagre que ela esteja viva.
- E então? Você quer saber se eu tenho parte nisso? - A pergunta era um truque, Taeyeon sabia. Jonghwan não tinha nenhuma relação com o assassinato da mulher, e até onde ela sabia ele nunca havia matado mulheres e crianças antes. Traficar crianças tão pouco se encaixava na lista de descrição de coisas que o homem fazia - ou mandava fazer. A outra possibilidade escondida por trás da pergunta, era se Taeyeon sabia de que ele estava tomando conta, de alguma forma, do que acontecera com Tiffany. Um ponto que ela ainda iria tocar.
- Por que você não me diz, Jonghwan? - Ela usou da mesma estratégia.
Ele bufou, ridicularizando a pergunta. - Você sabe que esse não é meu negócio. Agora, Kim, o que você quer de mim?
Oh, ele deve estar tão ocupado hoje. A loira pensou em sarcasmo. - Quero que você coloque um aviso. Algumas pessoas estão atrás dela, tentando sequestrá-la e vendê-la. Coloque um aviso lá fora, Jonghwan, de que é para deixá-la em paz. Esquecerem dela.
O homem riu e balançou a cabeça em negativo. - Desde quando você joga o meu jogo, detetive? - Ele inclinou o corpo para frente. - Você tem ideia do que está me pedindo? Do que isso pode me custar?
Era isso. Ele não sabia nada sobre Irene. Nada sobre o ataque de Tiffany. Taeyeon se perguntou como, considerando que ele tinha homens lá fora. Poderia ser algo sobre território, algo sobre não se envolverem demais com os crimes de outra organização mafiosa, algo que escapava de seu entendimento. Ela desbloqueou o celular mais uma vez e passou para a foto seguinte. Os olhos negros estudando o conteúdo. Tiffany estava deitada na cama, adormecida. Metade de Irene estava em cima dela, uma mão na boca e cabeça apoiada no peito da morena. Os olhos fechados apenas enfatizavam a serenidade do momento, e a luz clara da manhã dava um ar pacífico. A imagem parecia ter sido capturada de um filme.
- Nós a adotamos. - Ela disse com a voz mais baixa. - Irene é filha da Tiffany. Minha filha. Ela é doce, inteligente, engraçada. Ela fica emburrada se tem que comer ervilhas, e ri sem parar quando eu a jogo para cima, mas é Ginger, nosso cachorrinho, que ultimamente tem a feito perder o ar. Irene adora o cágado que temos em casa... E ela só é uma criança. Nossa criança.
A detetive esticou o braço e mostrou a foto para o homem. Ele estreitou os olhos e observou a imagem.
- E é ela quem coloca um sorriso no rosto de Tiffany, até mesmo nos dias mais difíceis. Ela nos consertou, Jonghwan. Ela é a... Droga. Ela é Irene. Nossa Irene. - A loira deslizou o dedo pela tela do celular, revelando outra foto em seguida. Tiffany rindo com Irene no colo, os braços da menina abertos enquanto contava uma das histórias - essa especificamente, Taeyeon se lembrava de ser sobre o filme que elas tinham visto no dia anterior. O sorriso de Tiffany era tão sincero e contagiante que a própria detetive se pegou sorrindo com a foto. - Ela completou o que nos faltava, e... Multiplicou o que já tínhamos. - Taeyeon odiava dar uma de sentimental, especialmente para pessoas que ela não tinha intimidade nenhuma, principalmente para Jonghwan, alguém que ela desconfiava que não tinha qualquer sensibilidade.
Os olhos do homem se ergueram para se encontrar com os dela. Ele respirou fundo, parecendo um tanto quanto chocado pela nova informação. O rosto endureceu numa expressão que Taeyeon não sabia identificar e a dúvida começava a assombrar sua mente, lançando retalhos de arrependimento. Ir ali não tinha sido a melhor ideia, afinal de contas. Tinha?
- Há muito mais. - Ela continuou, aproveitando o momento de silêncio. Ela abriu o envelope e deslizou uma foto para fora. O ângulo enquadrava Yoona agachada ao chão, Tiffany sentada em sua frente e Irene ao lado da morena. Uma imagem do dia da invasão. Uma foto que Taeyeon devolveria a mesa de Sunny e juraria de pé junto que não tinha tirado de lá. O velho saberia que era mentira, mas deixaria para lá, porque ele confiava nela. A loira esticou o braço e mostrou a foto.
- O que é isso?
- Um homem invadiu nossa casa. Ele estava procurando por Irene, mas Tiffany a escondeu. Tiffany a protegeu. Stephanie, a sua filha, Jonghwan, se colocou entre uma criança de seis anos e um homem de quase dois metros de altura. Um homem que poderia quebrar os ossos do braço dela com um único aperto. - Ela sentiu as lágrimas arderem nos olhos e as mãos tremerem levemente diante da verdade. Como que para provar seu ponto - e para escapar do sentimento doloroso que a foto trouxe, ela abriu o envelope para procurar pela seguinte. Os dedos depositaram a folha de papel ao lado da primeira.
O hematoma roxo e consideravelmente grande se contrastava na pele branca. A foto fora tirada para ser catalogada como evidência, e Taeyeon não sabia de sua existência até que revirara a mesa de Sunny. Ela apontou o dedo para a parte escura das costas e encarou o homem- Ela não pensaria duas vezes se tivesse que fazer de novo. Não importa quantos ossos quebrados e, droga, você quer saber, Jonghwan? Ela morreria por essa menina. Eu morreria. Acontece que eu não quero que isso se repita. Ela está assustada. Nós todos estamos.
- Achei que tinha sido claro quando disse para você cuidar bem da minha filha, detetive. - Ele disse duramente, os olhos reprovando a mulher.
- E eu tenho. Mas isso é maior do que eu posso lidar, e você sabe. Se fosse tão simples você estaria atrás das grades por anos agora. - Ela rebateu. Ela apoiou o cotovelo em cima da mesa e apontou o indicador para ele. - Não venha me dizer que eu não tomo conta dela enquanto tudo o que venho fazendo é isso, desde o momento que a conheci. E isso vai muito além de protegê-la de pessoas perigosas, de alguns riscos que ela corre, inclusive, por ser sua filha. Você não tem ideia do que ela tem passado. Droga, você não tem ideia nenhuma. Você não sabe das lágrimas e dos gritos de medo. Você não sabe das noites em claro e do que me custou saber que eu não podia poupá-la de certo sofrimento. Você não estava lá quando a dor foi tão grande que ela pediu para eu pará-la. E quer saber, Jonghwan? Eu não pude. Mas era eu quem estava lá por ela, eu quem a tinha nos braços, cuidando e tentando de todos os meios fazê-la sorrir. Então, seu desgraçado, não me venha dizer que eu não tenho tomado conta dela. Eu faço o que ela precisa para ser feliz, custe o que me custar. Eu sei o quanto ela é frágil e o quanto é forte. Eu estive lá todas as vezes. Pro inferno com “você não cuida bem dela”! - Ela disse com a voz rouca e quase tremendo de raiva. O peito subia e descia com a respiração forte, e o dedo ainda continuava apontado para ele.
Ela tinha abusado da sorte. Ela não pretendera em nenhum momento enfrentá-lo dessa forma, mas ser acusada de não estar tratando Tiffany como ela deveria tinha a tirado do sério. Se ela tinha arruinado quaisquer chances de receber ajuda, ela não fazia ideia, mas esperava que não.
- E se ela quer essa menina, ela tem essa menina, porque Irene a faz feliz. - Ela disse num ultimato. - Caso você não tenha percebido, nós dois queremos a mesma coisa. Eu não estou pedindo por mim, mas por ela. Eu odiaria ter que voltar a dormir com uma arma em baixo do travesseiro, ainda mais com a presença de uma criança em casa. - Ela respirou fundo e esperou.
Jonghwan se remexeu na cadeira, nunca desgrudando os olhos dela. Ele parecia estar ponderando as escolhas, medindo o discurso de Taeyeon. Os olhos percorreram as fotos de novo e depois caíram para as próprias mãos. O silêncio estava incomodando a loira. Ela queria chacoalhá-lo e arrancar uma resposta imediatamente dele, mas o bom-senso a mantinha presa na cadeira. Ele sabia ser irritante. Ela revirou os olhos.
- Você diz que eu não sei o que isso pode te custar? Não faço a mínima. Mas eu espero que você saiba o que a sua decisão pode custar a Stephanie. - Ela pressionou.
Com a cara fechada, ele acenou com a cabeça para ela. - Você tem um nome? - Ele resmungou.
Ela tirou a última foto e mostrou para ele. - Esse homem foi quem a atacou. Nós o temos sob custódia, mas o problema não é ele. É o próximo. Ele não foi o primeiro a vir atrás dela.
- Jung. - O homem murmurou o sobrenome. Outro aceno de cabeça.
- Coloque um aviso, Jonghwan. Diga para que fiquem longe de nós, ou Deus sabe o que vai nos acontecer da próxima vez. - A loira pediu sob todo o medo e assombro de um novo ataque.
- Você, - ele apontou um dedo para ela - você continua mantendo minha filha feliz. - E era uma ordem.
A loira concordou com a cabeça. - É o que eu mais quero. Acredite.
Ele a encarou como se analisando a sinceridade - inquestionável - dela. Quando pareceu convencido e certo do acordo que estavam fazendo, ele falou finalmente. - Você tem minha palavra: vocês vão ter a paz que querem daqui para frente.
Taeyeon sorriu - mas não muito, afinal ela não queria parecer totalmente agradecida e dependente da segurança que ele podia oferecer. - Obrigada.
- Não é por você. - Ele lembrou.
Ela revirou os olhos. - Eu estou agradecendo pela Stephanie. - Ela recolheu todas as fotos e devolveu dentro do envelope. Quando Taeyeon se levantou, Jonghwan chamou pelo guarda, anunciando que a visita tinha terminado. A loira lançou-lhe um último olhar antes de deixar a sala, e ela teve certeza, pelo olhar que o homem a devolveu, de que ambas as partes do contrato seriam cumpridas.
2 notes
·
View notes
Text
Capítulo Vinte e nove
O cheiro de Taeyeon impregnando seu nariz foi a primeira coisa que despertou em sua consciência. Ela tentou abrir os olhos, mas o estado de letargia impediu o movimento, então ela continuou mergulhada na escuridão acolhedora daquele conforto. As lembranças flutuaram levemente em sua memória, e ela recolheu uma de cada vez, começando pela da noite anterior. Ela e Taeyeon tinham feito amor. Não sexo. Amor: lento, com paixão, em movimentos sincronizados e gestos calorosos, cheio de cuidado e carinho. Ela tinha adormecido em cima do peito da loira, de forma que as batidas do coração a ninaram para um sono profundo. Ela não teve nenhum pesadelo, não acordou suando no meio da noite com o coração acelerado, desorientada. Era a segunda noite consecutiva que dormia bem, e embora fizessem apenas oito dias depois da invasão, o hematoma em suas costas já não estava tão dolorido, graças aos cuidados de Taeyeon, e Irene se sentia segura novamente para dormir em sua própria cama - também graças à loira.
Tudo parecia estar voltando aos eixos, inclusive a vida sexual. Elas tinham feito amor na noite anterior... E também naquela manhã. Nawoon tinha levado Irene para o parquinho logo cedo, e depois iria levá-la ao shopping para comprar roupas e brinquedos - um mimo que uma avó precisa fazer aos seus netos! - ela tinha argumentado e Taeyeon não iria desafiar aquele olhar decidido. No momento em que a mais velha deixara a casa, a detetive logo viu a vantagem de estarem sozinhas. Ela tomou Tiffany em seus braços e a levou de volta para a cama, e dessa vez nenhuma delas tiveram que se preocupar com barulhos. E dessa vez tudo tinha sido mais sedento, ainda que continuasse no mesmo ritmo da noite passada. Era como se precisassem de cada segundo para desfrutar do calor, memorizar os gestos, aproveitar sem pressa o arrepio que corria o corpo quando lábios encontravam pele, quando gemidos escapavam das bocas circulando no ar para morrer num suspiro baixo.
Ela se lembrou das palavras da loira logo depois de ter alcançado o orgasmo. Taeyeon tinha a abraçado por trás e colocado a mão em seu peito, apenas para sentir o coração bater descompassado. O ar quente no ouvido arrepiou sua pele.
- Você é tão linda. É algo que eu nunca vou me acostumar. - Os dedos dançaram no cabelo dela e logo a loira plantava um beijo em sua nuca. - Sem maquiagem, quando você acorda e seu cabelo tá bagunçado... Isso me deixa atônita. - Tiffany riu e chacoalhou os ombros. - Quão justo isso é com as outras pessoas? Quer dizer, olha pra mim! - E a morena riu mais. Não podia ser verdade, não que Taeyeon estivesse mentindo, era apenas que aquela era a percepção dela.
- Isso é impossível, Taetae. - Ela murmurou de volta sentindo a bochecha arder.
- É muito possível, eu vejo todo dia.
- Se você se checasse mais vezes no espelho, você também veria o quão linda você é. - Ela replicou, tentando tirar o foco de atenção dela. Tiffany podia ser aberta para muitas coisas, e ativa para tantas outras; na cama geralmente ela não tinha vergonha de nada, e nem mesmo as mais ousadas provocações, movimentos ou palavras a deixavam desconfortável, mas depois disso se Taeyeon a segurasse nos braços e começasse a elogiar... Ela ficava tímida de alguma forma. Apenas porque era doce, porque Taeyeon cuidava tão bem dela e com tanta ternura, porque a loira a polia, a colocava num pedestal. Ninguém fizera isso com ela antes. Na vida profissional qualquer conquista tinha sido através de esforço, logo tudo o que adquiria tinha vindo apenas como consequências. No âmbito familiar ela nunca havia recebido elogios dos pais, talvez porque parecesse tão independente e madura a ponto de não os fazer pensar de que tais palavras pudessem fazê-la se sentir bem. Mas agora havia Taeyeon, e toda vez que a loira oferecia palavras gentis, toda vez que Taeyeon dizia o quão linda e perfeita ela era... seu rosto ardia em pura e verdadeira timidez. Ela simplesmente não sabia o que fazer com aquilo, e ao passo de que se sentia extremamente bem e confiante, era algo que a desarmava.
Ela rolou para o lado de Taeyeon e escondeu seu rosto no pescoço da mulher.
Taeyeon riu. - Você me faz tão feliz.
Tiffany levou a mão no pescoço da loira e acariciou, a voz se perdendo no sono. - E você a mim.
A loira sorriu e abraçou sua mulher, num ato que a fez perceber claramente algo. Tiffany e Irene eram todo o seu mundo. E... - Tudo o que eu preciso para ser feliz cabe dentro dos meus braços.
Tiffany riu docemente. - O que seria? Um fardo de cerveja e uma bola autografada pelo Kia Tigers
Taeyeon riu enquanto beijava a cabeça da morena. - Não! Você, você e Irene. As duas únicas pessoas que preciso para ser feliz!
Tiffany ergueu os olhos para ela, e seu olhar estava agora carregado de afeição. - Você acha que consegue abraçar três de uma vez? - Ela sorriu. Ela sorriu e Taeyeon sabia o que aquele sorriso significava.
Ela quer um bebê.
- Deus, - ela riu - eu abraçaria até mesmo quatro!
A médica sorriu com a lembrança - ou pelo menos ela achou que estava sorrindo, considerando o quão preguiçosa estava naquela manhã. Minutos depois ela sentiu os lábios quentes da detetive beijando seu pescoço: primeiro levemente, com carinho, depois com mais insistência. Tiffany resmungou e passou um braço em volta da loira.
- Nunca se cansa? - As palavras saíram preguiçosas.
- O que? Eu só quero te fazer carinho. - E ela riu em seguida. Se entregando.
- Uhum. Nós duas sabemos que isso não é verdade. - A morena abrira os olhos e pousara as mãos nas costas da detetive que agora estava em cima dela.
- É sim! Eu não tenho culpa se isso leva a outras coisas... - E o sorriso que Tiffany conhecia tão bem estava estampado no rosto da loira.
Ela revirou os olhos. - Você é impossível.
- Irresistível. - Ela corrigiu quando correu a mão pelo seio nu da mulher e sentiu o mamilo endurecer rapidamente.
- E tão humilde. - Tiffany mordeu o lábio inferior enquanto sorria, e apertou a coxa entre as pernas da loira, pegando-a desprevenida.
- Oh - Ela gemeu e arregalou os olhos para a morena. - E você diz que sou eu quem começo com isso?
- Eu só estou adiantando a sua brincadeira. - Ela riu de novo e, segurando o pescoço da loira, a puxou para um beijo. As línguas se entrelaçaram e a respiração ficou mais pesada a medida que os corpos buscavam um pelo outro - dançavam um com o outro. Quando elas quebraram o beijo para pegar ar, a morena apertou as pernas na cintura e beijou o ouvido da loira. O ar quente arrepiou Taeyeon, mas não mais do que as palavras.
- Taetae, dessa vez não precisa ser gentil. - Ela afastou o rosto apenas para encarar a loira, apenas para que Taeyeon visse o sorriso maroto nos lábios, a sobrancelha levantada em perversa sugestão.
- Deus... É por isso que eu amo você. - E o sorriso safado no rosto da loira, o cabelo rebelde e incontrolável modelando o rosto, as mãos segurando firme em sua cintura, prometiam a Tiffany que ela teria exatamente o que desejava. Ela aproximou o rosto da morena, o suficiente para os lábios se roçarem, e então falou com a voz firme e autoritária. - Eu vou pegar o strap-on. - A morena balançou a cabeça em sim, levemente. - E você nem pense em gozar até que eu diga que você possa. - E as palavras soaram roucas e diretas no ouvido da médica. Uma onda de prazer percorreu suas costas e ela inclinou a cabeça ligeiramente para trás, antes mesmo de Taeyeon pressionar seu centro. Uma arfada de ar escapou de seus pulmões.
Oh sim, ela adorava aquele jogo.
Taeyeon traçou uma linha invisível de beijo do pescoço da morena, descendo entre os seios e abocanhando um deles. Tiffany arqueou as costas com o movimento abrupto. Ela entrelaçou os dedos no cabelo loiro e segurou Taeyeon contra seu corpo, e a cada sugada a morena sentia a umidade aumentar entre as pernas.
- Tae, você disse que ia pegar algo, se lembra? - Ela disse entre arfadas. A loira mordiscou o mamilo e soltou lentamente, em pura provocação, depois encontrou seu rosto com o dela.
- Por que a pressa, Pany-ah? Achei que você tinha... - Mas a frase morreu no meio porque o celular começou a tocar. Taeyeon franziu as sobrancelhas e Tiffany enroscou suas pernas na cintura da loira.
- Não. Não agora.
Taeyeon deu de ombros e sorriu maliciosamente. Ela poderia fazer Tiffany gozar em tão pouco tempo, se ela quisesse, mas Taeyeon gostava da doce tortura... Ela gostava de...
Se ao menos o barulho do celular a deixasse em paz.
- Merda! - Ela resmungou quando inclinou o corpo para o lado para apanhar o aparelho. E se fosse importante? Ela precisava saber Tiffany rolou os olhos em reprovação, mas esperou pacientemente pela mulher.
- Kim. - A loira falou com a voz rouca. Ela lançou um olhar para Tiffany e a expressão de seu rosto passou de irritação para assombrada. Qualquer vestígio de luxúria tinha desaparecido e sido preenchido por tormento. A médica sabia que o que tinham planejado para o resto da manhã não iria mais acontecer.
Tiffany se apoiou nos cotovelos e correu os olhos pelo rosto da loira, preocupada. Algo tinha acontecido com Nawoon e Irene? Ela sentiu o coração disparar. - Taetae?
A detetive estendeu a mão num gesto de espera e balançava a cabeça enquanto anotava mentalmente cada palavra ouvida.
- Onde? - Ela perguntou. - Ok. Eu vou... Ok. Obrigada.
Quando ela desligou o celular e voltou a atenção para a morena, o peito subia e descia descompassadamente.
- Tae, o que aconteceu? Alguma coisa com Irene? Nawoon? - Tiffany tinha se sentado na cama agora e estava segurando nos braços da loira.
- Eles encontraram... Encontraram ele, Fany. - As palavras saíram secas, arranhando a garganta da loira. Ela viu Tiffany se encolher um pouco enquanto a tensão se instalava em seu corpo. Taeyeon suspirou e a colocou entre seus braços, um tanto quanto aliviada, um tanto quanto ansiosa. Se ao passo de que parecia ótimo terem finalmente pego o agressor da invasão, lembrar de tudo o que acontecera, ainda mais nesse momento em que tudo estava começando a finalmente se apagar, reabria as feridas. - Você sabe que está a salvo.
A cabeça da morena se mexeu levemente em seu ombro. - É só que... E se a história se repetir, Tae? E se quando transferirem ele para a prisão o matarem? E se outra pessoa vir atrás de nós?
Taeyeon já havia considerado isso. Elas estavam com uma criança que deveria ser a mercadoria de alguém. A mercadoria... Ela franziu o cenho, irritada. Mas para eles, Irene era apenas isso: uma transação de bens. E crianças eram vendidas por um alto valor, um valor que a pessoa por trás de tudo isso não recebido. A detetive sabia tão bem como perda de dinheiro deixava pessoas furiosas. Ela se perguntou até onde essa máfia iria, e se eles mandariam mais alguém atrás delas. Quem sabe conseguiriam alguma resposta agora que haviam capturado o homem? E se o medo de Tiffany se confirmasse? Afinal de contas a mãe da menina havia sido morta mesmo sob a proteção do programa de testemunhas.
- Fany, eu sei que Sunny e Sooyoung vão fazer o que for possível para... para acabar logo com isso. Ok? Nós já pegamos dois deles, Fany-ah. Eles estão perdendo números... quer dizer, quantos mais eles estão dispostos a perder?
A morena deu de ombros. Como ela poderia saber? - Você pode ligar para sua mãe e chamá-la de volta? Não gosto da ideia de Irene... Não quero ela lá fora.
Taeyeon compreendia e compartilhava do sentimento. - É claro, querida. E tem mais uma coisa...
Os olhos da morena se encontraram com o dela. - O que é?
- Você e Irene precisavam identificá-lo. Nós temos que ir até a delegacia e...
- Eu sei. - Ela disse e abaixou a cabeça, esfregando as mãos uma na outra num sinal de nervosismo.
- Eu vou estar com vocês o tempo todo. Ok?
...
Irene balançava a perna para frente e para trás, esperando ansiosa por Taeyeon. Sentada na cadeira da detetive, ela não tinha muito o que fazer - a ponta do lápis arranhava a folha de papel em branco, aquela que ela supostamente deveria estar desenhando, mas sua atenção estava focada na conversa dos adultos ou, ao menos, no que ela estava tentando ouvir dela. O que não era muito.
A menina observava Taeyeon gesticular e falar sobre algo com Sooyoung e Sunny. Tiffany estava ao seu lado, esfregando as mãos no vestido a todo momento, como se quisesse alisar as dobras invisíveis dele. Os sussurros eram abafados pelo barulho ruidoso do trânsito, de telefones tocando na sala, detetives e policiais conversando ao redor. Derrotada pela incapacidade de ouvir qualquer coisa, ela abaixou os olhos e riscou linhas na folha.
Alguns passos de distância, Taeyeon tentava negociar o que iria acontecer dentro de alguns minutos.
- Ela precisa mesmo fazer isso? - A detetive resmungou em voz baixa, se referindo à Irene.
- Taeyeon, você sabe que a confirmação dela ajuda na execução do caso. A de Tiffany já é suficiente, mas como o júri vai reagir quando souber que a própria criança o reconheceu? Você sabe como isso mexe com eles. Ele vai pegar uns bons anos. - Sunny disse.
A detetive não estava muito convencida, ela não queria expor Irene de novo, entretanto ela não podia ignorar que o reconhecimento do invasor feito por duas pessoas distintas aumentavam as chances de condená-lo. - Tudo bem. Mas eu entro com elas, e eu explico para ela o que vai acontecer. - Ela olhou para Tiffany em busca de apoio. A morena balançou a cabeça em sim.
- Certo. - Sooyoung disse e logo depois Taeyeon se virou para elas e andou até sua mesa.
A detetive segurou a criança em seus braços e depois se sentou na cadeira, colocando-a em seu colo. O olhar curioso de Irene encontrou o dela. Aquela menina era tão nova e já tinha passado por tanta coisa... Taeyeon queria levá-la embora dali e protegê-la, e que fosse para o inferno todo aquele caso, mas a detetive que existia nela não lhe deixava a razão faltar. Prazeroso ou não, ela não podia negar que Sunny tinha razão. Ela respirou fundo e tentou um sorriso para a menina.
- Ei, tartaruga. Eu vou precisar de sua ajuda agora, ok?
- Tá bom. - Irene parecia disposta a ajudá-la no que quer que fosse. Ela juntou os joelhos junto ao peito e abraçou as pernas mantendo o olhar fixo no da loira.
- Ok... Você se lembra... - Taeyeon suspirou. Era difícil. - Você se lembra do homem que entrou em casa e machucou sua mom?
Os olhos castanhos escureceram e a menina ficou séria. - É, eu me lembro.
- Você acha que o reconheceria se o visse de novo? - Taeyeon passou as mãos no corpo pequeno da menina, num instinto de proteção.
- Acho que sim. - E ela parecia incerta agora.
- Ok. Nós... Conseguimos pegá-lo, Irene. Ele vai para a cadeia e ele nunca mais vai aparecer de novo.
As sobrancelhas da menina se arquearam para ela e ela mordeu o lábio. Taeyeon tomou o silêncio como um bom sinal e continuou falando.
- Mas nós precisamos que você o veja uma última vez. Ele não vai ver você, querida. - Ela se adiantou em dizer quando a menina pareceu assustada. - Eu vou com você, e Fany também. Ele vai estar segurando uma plaquinha com um número e tudo o que você precisa fazer é dizer que número é. O que você acha?
Ela pareceu ponderar por um minuto. - E depois eu nunca mais vou vê-lo?
- Nunca mais. Ele vai morar na prisão, e ninguém pode sair da prisão, garotinha. É impossível. - Taeyeon sorriu para ela enquanto os olhos se estreitaram em pensamento.
Irene olhou para trás, para Tiffany que parecia ansiosa e pálida até mesmo para a percepção dela, e depois voltou o olhar para Taeyeon novamente. - Ele nunca mais vai vir atrás de nós?
- Nunca mais.
- Acho que posso fazer isso. - Ela disse ainda parecendo insegura, mas querendo a todo custo colaborar com a loira.
Taeyeon se levantou e a colocou num abraço apertado. - Você é tão corajosa, tartaruguinha. - Ela esperou que a menina a soltasse e olhasse em seus olhos de novo. - Eu cuido de você, ok? Nada de ruim vai acontecer. Eu prometo. - E ela deu um beijo na bochecha de Irene.
Taeyeon balançou a cabeça para os três e logo elas estavam sendo conduzidas para a pequena sala de observação. O quarto era apertado e mal iluminado e a sensação de ser posta em um caixão deixava Tiffany ainda mais ansiosa. As persianas do outro lado do espelho de duas faces estavam fechadas e Sunny aguardou a confirmação de Taeyeon.
Ela olhou para Tiffany que estava ao seu lado e a morena acenou com a cabeça. Taeyeon apertou o braço em torno do corpo de Irene e olhou para o homem. Um maneio de cabeça e Sunny deu dois soquinhos no vidro. Alguém do outro lado da sala subiu as persianas. Taeyeon passou os olhos em cada homem que estava lá, segurando uma placa numerada do número um ao quatro. Ela ainda estava estudando o segundo demoradamente quando Irene arfou e se jogou contra seu peito, escondendo o rosto no seu pescoço e apertando os braços nela.
- Irene? - Tiffany colocou a mão em suas costas, mas a menina não se movia.
- Eu achei. - Ela sussurrou, inegavelmente assustada.
- Tudo bem, querida. Lembra que ele não pode ver você? Ele também não pode te ouvir. - Taeyeon ofereceu.
- Medo. - Num murmúrio ela estendeu a mão para fora e fez o número quatro.
- Esse é o número que ele tá segurando, querida? O quatro?
- Sim!
- Fany? - Taeyeon se virou para a morena que parecia tão desconfortável quanto a menina.
- É ele, Tae. Número quatro.
- Sunny? - A loira chamou pela mais baixa.
- É isso. - Ela bateu mais duas vezes no vidro e as persianas voltaram a se fechar. Antes de sair da sala ela apertou de leve o ombro de Taeyeon.
- Fany, você tá bem? - A detetive pousou uma mão nas costas da morena. Ela não parecia bem.
- Só... Vamos sair daqui? - O desconforto que sentia a deixava fraca. Estar mais uma vez no mesmo ambiente do que aquele homem trazia de volta medos que tinham sido enterrados, mas que agora voltavam do túmulo para assombrá-la. Um mau pressentimento agarrou sua pele e arrepiava os pelos do corpo, e ela não conseguia se livrar da sensação. Aquele homem iria ser preso, mas aquela questão não parava de rodar em sua mente: e se mandassem outra pessoa atrás delas? Isso não acontecia com pessoas que se envolviam com a máfia? Elas teriam alguma paz de agora em diante? A mão invisível do medo agarrou seu estômago e apertou sem piedade. Ela sabia que era um medo quase irracional, neurótico até, mas ela não conseguia se controlar.
- Fany, acabou. - A loira passou a mão na cintura dela e elas caminharam para fora da sala, e se Tiffany não tivesse se apoiado nela, ela teria dificuldades para se locomover. Ela sabia que Taeyeon estava atormentada, e isso também a incomodava. O instinto de proteção estava em alerta total, e Tiffany sentia que além do cuidado adicional havia algo de mais ali; algo que Taeyeon não estava contando.
A detetive puxou a cadeira para ela e ela se acomodou, e logo depois Irene estava em seus braços. - Tá tudo bem, garotinha. - Tiffany beijou sua cabeça e a abraçou, e Irene encostou a cabeça em seu ombro e não disse mais nada.
- Eu sei que foi difícil. Me dê mais alguns minutos e eu peço para alguém levar vocês para casa. - A detetive disse enquanto acariciava o braço da morena em conforto.
Tiffany agarrou rapidamente o braço dela. - O que você quer dizer com nos levar para casa? E você?
- Eu quero interrogá-lo, Fany. - Ela disse naturalmente.
- Você não está mais no caso, Tae.
A loira a cortou. - Eu vou interrogá-lo, Fany. Vocês são minha família e Heechul não pode me negar isso. - Ela disse com a teimosia de sempre.
- Ele pode, e você pode ser suspensa se -
- Fany, eu preciso saber, ok? Eu preciso esclarecer algumas coisas. Tenho certeza de que Sunny -
- Esclarecer que coisas? Existe algo que você não me contou?
Bela escolha de palavras, Kim. Ela correu a mão pelo cabelo revoltoso. - Não, não tem nada. - Ela mentiu. Omitiu? Ela nem sabia dizer ao certo ainda. - Eu juro. Você sabe de tudo o que eu sei.
Tiffany não pareceu muito convencida, ainda mais porque mesmo que Taeyeon não soubesse de algo novo, ela tinha certeza de que a loira tinha pelo menos algum novo palpite.
- Ok. - Ela disse em voz baixa, cansada e estressada demais para argumentar contra.
Taeyeon apertou a mão da loira uma última vez e mordeu o lábio inferior em pensamento. - Eu já volto. Vou conversar com Sunny e arrumar alguém para levar vocês.
A detetive se virou e andou até as duas mulheres que estavam discutindo alguma coisa em voz baixa, encarando o quadro do caso que ela havia começado a montar. Agora a foto do homem que tinha acabado de ser identificado – Jay Park - estava colada ali. Ela estudou o quadro com cuidado, e quando Sunny se virou para ela e entrou em sua frente para esconder as informações, ela fez uma careta.
- Ah, qual é?
- Você sabe que não tá mais...
- Trabalhando nesse caso. Me diga algo novo. - Ela disse, emburrada. - Sunny... Eu entendo os motivos, mas eu posso, por favor, interrogá-lo? - Ela tentou a versão educada, sabendo que as chances seriam maiores. Mesmo assim...
- Nem em sonho. - Sooyoung respondeu. - Eu não quero ter que impedir você de matar ele. Não. De jeito nenhum.
Ela olhou para a parceira sem nenhuma expressão no rosto, o que era ainda pior do que qualquer outra. Era como se ela estivesse dando uma segunda chance, fazendo de conta que não escutara corretamente a primeira resposta.
- Taeyeon, não sou eu quem faço as regras. Você não pode interrogá-lo e...
- Ele tava no mercado. - Ela falou tão baixo quanto pode. As mulheres se viraram para ela e franziram a sobrancelha. - Ele tava no mercado. Quando Irene foi levada para casa do outro casal, Yonghee estava aqui. Nós fomos no mercado e ele falou comigo. Ele estava de olho o tempo todo em nós, e talvez tenha pensado que na época Irene ainda estivesse com a gente. Ele poderia ter sequestrado ela lá, Sunny! De baixo dos meus olhos.
As duas mulheres pareciam entre duvidosas e assombradas.
- Ele tem uma tatuagem de dragão no braço. Uma tatuagem vermelha. Vocês podem checar.
- Ele tem. - Sooyounh deu de ombros, porque embora não fosse algo que elas tivessem conseguido ver da sala de observação, era algo que Sooyoung tinha visto quando apreendeu o homem.
- Me deixa interrogá-lo, Sunny. - E ela estava implorando agora. - É Fany, Irene. Como eu devo protegê-las sendo que não sei direito do que isso se trata?
A mulher mais baixa pareceu incerta, dividida entre a amizade que tinha por Taeyeon e a obrigação do trabalho. Ela falou quando pareceu finalmente encontrar uma solução. - Você pode assistir, Taeyeon. É o máximo que posso fazer. O resto você confia a mim.
Ela sorriu. Era melhor do que nada. - Obrigada, Sunny. - Ela notou pelos cantos dos olhos que Yuri acabara de entrar na sala.
- Não faça eu me arrepender disso. - A menor advertiu.
- Eu não vou! - Ela disse enquanto se distanciava para se encontrar com sua irmã. - Ei, Yul! - Ela levantou a mão para chamar a atenção da mais nova.
- Taeng? - Ela soou surpreso.
- Não. A fada madrinha. - Ela disse com sarcasmo.
A morena revirou os olhos e suspirou. - Oh sim, eu senti tua falta também.
A loira segurou o braço da irmã. - Me faz um favor? Você pode levar Irene e Fany para casa? -Ela apontou com o polegar atrás de suas costas, onde as duas ainda estavam sentadas, conversando sobre alguma coisa.
- Posso, claro. - Ela disse imediatamente.
- E... você pode ficar e se certificar de que elas estão bem?
- Posso ficar durante... Uma hora? Depois preciso voltar para cá.
- Sem problemas, é o suficiente. - Ela sorriu para a irmã. - É mais do que suficiente. Obrigada, Yul.
- Não por isso, Taengoo.
Ela espremeu os olhos. - Me chama de Taengoo mais uma vez e eu atiro em você. - Ela deu um soco no braço da irmã para provar seu ponto, mas riu logo depois quando se virou. Ela andou até Irene e Tiffany e explicou que Yuri iria levá-las para casa, e de quebra lhe fariam companhia durante um tempo. Irene pareceu empolgada, sabendo desde que passara a morar com elas de que Yuri gosta tanto de jogar basquete quanto Taeyeon. A menina se atirou no colo da tia enquanto tentava comprá-la, sem saber que não precisava, para um jogo assim que chegassem em casa.
- Eu e você. Mommy no outro time. - Porque parecia perfeitamente razoável para ela de que ela ficasse no time dos - com certeza - vencedores. Tiffany era péssima naquele esporte.
Taeyeon riu, mas não fez nenhum comentário, sabendo que a morena não estava em nenhum estado para provocações. - Eu vejo vocês em casa, ok?
- Okaaaay. - Irene respondeu enquanto acenava do colo de Yuri.
A detetive se apressou e beijou a bochecha de Tiffany antes dela entrar no elevador, e acenou a cabeça num sinal de que tudo ficaria bem. Tiffany sorriu - o melhor que pôde - e as portas se fecharam.
Agitada, Taeyeon se apressou para a sala de interrogatório. Antes de entrar, entretanto, ela parou por um minuto e respirou fundo. Ela não podia perder a cabeça. Ela não podia deixar se afetar pelo que quer que o sujeito dissesse. Ela sabia que as provocações viriam, e que ela iria ouvir coisas que a irritariam ou a machucariam. Ainda assim, era algo que ela precisava fazer. Ela virou a maçaneta da porta e entrou, tentando ignorar a presença do outro homem no quarto. Ela focou apenas em Sunny e Sooyoung, até o momento que ela cruzou os braços, se encostou na parede, e com um olhar sério encontrou seus olhos com o do criminoso.
Ele estava sorrindo ironicamente. As mãos em cima da mesa davam a impressão de que ele estava se sentindo em casa, como se ela fosse a convidada. Taeyeon não gostava daquilo, ela não gostava nenhum pouco. Algo dentro dela - a velha detetive Kim - gritava que aquilo não acabaria bem.
1 note
·
View note
Text
Capítulo Vinte e oito
Taeyeon acordou para o dia - se é que ela poderia usar a palavra “acordar”, considerando que mal dormira - e deslizou para fora da cama deixando Tiffany e Irene, que tinha acordado aos berros, amedrontada no meio da noite, dormindo.
Havia algo queimando dentro dela. Algo borbulhando em sua garganta, e presa na imobilidade da cama com sua mulher nos braços e sua criança dormindo profundamente em cima de seu estômago, ela não conseguia se livrar, e ela havia lidado e sufocado a sensação até o momento que pôde, mas que tinha se acumulado a tal ponto que agora parecia que iria explodir.
Então ela tinha substituído seu corpo entre os braços de Tiffany por um travesseiro - uma manobra demorada e delicada para não acordar a morena - e havia reajustado Irene na cama, de forma a ficar perto o suficiente da mulher, mas numa distância segura para não rolar para cima dela.
Agora, no quarto de yoga de Tiffany, o mesmo quarto que ela havia pendurado um saco de areia, ela colocava as luvas de boxe. O dia clareava lentamente lá fora, e embora fosse tão novo e promissor, a loira não conseguia deixar de sentir e reviver o dia anterior. O medo quando ouvi as palavras de Sunny pelo telefone. A raiva que brotou rapidamente dentro de si quando o homem lhe contou em poucas palavras o que havia acontecido. A angústia ao encontrar Tiffany ferida, com sangue escorrendo do rosto. E Deus, o hematoma roxo que estava se espalhando por sua pele quando Taeyeon a ajudou a tirar a blusa para tomar banho.
Ela ainda não tinha processado o dia anterior, e, se antes as mãos tremiam de medo ao volante no caminho apressado para casa, agora elas se fechavam firmemente em punhos, direcionadas ao saco de areia com toda força que ela conseguia juntar. Ela não sabia dizer ao certo o que sentia, apenas conseguia identificar o emaranhado de emoções se enroscando uma na outra, grudando em sua garganta e impedindo-a de respirar.
Ela socou ainda com mais força o saco de areia num impulso de raiva por sentir lágrimas queimarem seu rosto. Não era justo. Nada disso estava certo. Ela deveria ter protegido Tiffany e Irene. Tiffany estava machucada, ela não estava. Irene estava tão assustada que parecia entregue ao medo, no escuro, na noite anterior quando Taeyeon chegou ao quarto para acalmá-la. Os olhos desamparados foram cobertos pelas pequenas mãos no momento em que Taeyeon andou em sua direção, depois de ter acendido a luz. Irene estava com medo dela? Não. Ela só estava assustada. Ela chorou no colo da detetive e pediu para que a mulher não a soltasse. Ela perguntou de Tiffany enquanto a loira trocava sua roupa molhada - Taeyeon imaginou que as noites a partir de agora iriam ser muito parecidas com essa, até que o trauma fosse diminuído a ponto de não existir mais - e a levou para o quarto para checar a morena. Taeyeon a ninou no colo até que ela voltasse a dormir, e só então se deitou na cama de novo, com a menina enroscada em seu pescoço. Irene estava amedrontada. Taeyeon não estava. Ela estava?
Os socos no saco de areia se tornaram tão forte que mesmo com a luva as mãos começavam a doer. Você não tem nenhum direito de chorar. Ela se repreendia enquanto as lágrimas corriam livremente pelo rosto, e ela tentava em vão impedi-las. Furiosa, ela finalmente decidiu por arrancar as luvas e limpar os olhos. Você não está machucada. Você não foi ameaçada e violentada. Sem direito de chorar.
As mãos pressionavam o rosto com força, numa tentativa de secar as lágrimas, de limpar qualquer evidência delas. Ela não estava em lugar para derramar uma única sequer. Tiffany podia chorar, Irene podia chorar. Elas viveram minutos de medo e assombro, mas ela? Não, ela nem estava lá. O direito de chorar não havia sido concedido à ela.
Ainda assim, as lágrimas...
- Não. - Ela murmurou enquanto sentava no chão e pressionava os olhos com as mãos. Ela encolheu os joelhos e encostou o rosto neles, esperando que a sensação que estava dominando seu corpo sumisse. Ela abraçou as pernas e se balançou levemente, respirando fundo, tentando se convencer de que o movimento combinado com a respiração regular ajudaria no processo de dissolução daquilo que estava matando-a por dentro.
Me matando, ela pensou ironicamente enquanto a mente mais uma vez voava de volta para a imagem do corpo ferido de Tiffany em sua frente na noite anterior.
- Dói! O jato de água faz doer! - Tiffany tinha pisado para fora do alcance da água tão logo ela havia entrado em baixo do chuveiro.
- Fany, eu preciso te levar para o hospital. - Taeyeon insistiu pela segunda vez.
- Não. Não. É apenas um hematoma. Os vasos sanguíneos foram rompidos e o contato com qualquer pressão causa desconforto. Eu só preciso de um analgésico e -
- Você já tomou um.
- E de descanso.
Tiffany era uma paciente terrível. Não era surpresa, os médicos sempre são os piores pacientes. De um jeito ou de outro, o que mais perturbava Taeyeon era a mancha escura na pele, o fato do corpo de Tiffany ser tão magro e parecer tão sensível. Quanto tempo aquilo continuaria doendo? Analgésicos resolveriam? A morena parecia menor naquela noite, e depois de toda a atitude de braveza usada ao defender Irene, parecia ter lhe sobrado nada mais do que vulnerabilidade. Até mesmo ao toque das mãos da loira.
Ela tinha vacilado ao toque de Taeyeon. No momento em que os dedos deslizaram pela pele machucada, Tiffany havia se encolhido. Taeyeon retraiu os dedos imediatamente e descartou a sugestão da médica de passar uma pomada específica para traumas daquele tipo.
As mãos de Taeyeon supostamente deveriam proteger e acolher Tiffany, e não causar nenhum tipo de dor. Ela se odiou por um instante.
Ela se odiava agora, porque as lágrimas estúpidas ainda caiam sem consentimento. Você não tem o direto de chorar! Ela gritou para si mesma, o mais alto que pôde em sua mente, de qualquer jeito.
- Para. - Ela murmurou implorando, porque somente se as lágrimas cessassem ela conseguiria manter sua sanidade. Somente se ela se recompusesse ela poderia fazer aquilo que supostamente deveria: cuidar de Tiffany e Irene, cuidar para que o dia fosse tão tranquilo como nunca. E como ela poderia fazer isso se ela estava desfeita?
Ela esfregou o rosto mais uma vez, tentando limpá-lo como se estivesse limpando junto seu estado de espírito. Então, ela abraçou a perna e respirou fundo. A respiração tremida ecoava no ouvido e ela apertou a testa contra o joelho, numa tentativa de se acalmar.
- Taetae? - A voz de Tiffany veio incerta e fraca da porta.
Merda. Não agora.
- Fany, não. - A loira disse entredentes, odiando a ideia de ser pega chorando.
- Você tá chorando? - Ela perguntou desconfiada, ainda que já soubesse a resposta.
- Não. Não, não tô. - Por que desde quando Kim Taeyeon chorava? Ela ergueu a cabeça e lançou um olhar firme para Tiffany, e por misericórdia seu rosto estava seco. - Eu não tô chorando.
Entretanto, o rosto estava vermelho pela força dos dedos esfregados na pele. Tiffany pareceu assustada. - Taetae, o que você fez? - Ela caminhou em direção a loira e se ajoelhou no chão, ao lado dela. Uma mão foi parar instintivamente nas costas da loira.
- Nada. - E uma palavra nunca tinha soado tão verdadeiramente em seu ouvido. Eis aqui tudo o que ela tinha feito: Nada. Nada que pudesse evitar aquela invasão, nada para pegar o sujeito que tinha ousado entrar em sua casa e machucar sua mulher e sua filha. Nada. Heechul até mesmo tinha tirado isso dela: o poder de botar as mãos no indivíduo, de fazê-lo pagar amargamente por aquilo. Ela odiava se sentir impotente.
Nada definia como nenhuma outra palavra tudo o que tinha feito a respeito da situação. A dolorosa realização fez com que um soluço escapasse de seu peito. Ela abraçou as pernas novamente e enfrentou uma nova onda de choro, agora enterrando a cabeça entre os joelhos, já que fora pega mentindo.
Tiffany se sentou no chão, o corpo ainda estava dolorido, mas nada comparado à noite anterior, e a recente onda de adrenalina quase anulava qualquer incômodo que sentia. Ela levou uma mão nas costas da loira e acariciou, sabendo que Taeyeon dificilmente se abriria por vontade própria. - Hey, hey... - Ela murmurou enquanto desenhava círculos com a mão nas costas da mulher, esperando que o movimento a acalmasse. Mas como previsto...
- Volte para cama, Fany-ah. Você deveria estar dormindo. - Ela resmungou entre o choro.
Ela revirou os olhos. - E você também. Um travesseiro não é lá um belo jeito de substituir você na cama. - Tiffany ofereceu, esperando que Taeyeon continuasse falando.
- I-irene. - Taeyeon fez sua melhor oferta, sabendo que era uma opção segura e inegável. Irene poderia substituí-la por um tempo, não podia?
- Certo. Mas ainda assim eu preferia ter a companhia de vocês duas. - Ela concordou, ainda acariciando as costas da loira.
Taeyeon apenas balançou a cabeça em entendimento, mas não manifestou nenhuma reação fora isso. Tiffany continuou sentada ao seu lado, e esperou que ela chorasse tudo o que precisava. É claro que de alguma forma ela teria que desgastar tudo o que estava sentindo desde a noite anterior. E se Taeyeon não tinha armado uma cena, batido em alguém ou perdido a cabeça, Tiffany logo imaginou que isso fosse acontecer, uma hora ou outra.
Depois de minutos seguidos de silêncios e carícias, a morena passou as mãos na cintura da loira e segurou, mas Taeyeon se recusou a se endireitar.
- Taetae, fala comigo. - Tiffany pressionou.
- Você não precisa cuidar de mim. - Ela murmurou.
- Mais do que precisar, eu quero, Taetae. - A morena passou os braços em volta da cintura da mulher e beijou seu ombro, em seguida descansou a cabeça ali.
- Não mereço. Ele machucou você.
Tiffany franziu as sobrancelhas e a abraçou mais firme. - Tae, eu estou bem. Tá tudo bem. Vê? Nós estamos aqui, e estamos bem. - Ela murmurou perto do ouvido da loira.
- Não bem. - A respiração pesada quase abafou por completo as palavras.
- Nós vamos ficar bem. - Tiffany se corrigiu. - Mas nós ainda estamos aqui. - Ela se endireitou e mais uma vez tentou puxar Taeyeon para si. - Taetae, olha para mim. - Ela apertou a cintura da mulher num gesto que dizia que ela esperaria o quanto fosse necessário para poder olhar os olhos escuros.
Relutante e lentamente, Taeyeon se endireitou e virou o rosto para ela. Tiffany colocou uma mecha de cabelo claro atrás da orelha da detetive e limpou seu rosto molhado. - Eu tô aqui com você, vê? Nós estamos bem.
- E-ele machucou você. - Ela disse quando Tiffany tentou colocá-la num abraço completo, tensionando o corpo.
- Sim, ele machucou, mas não é nada que não possa sarar, Tae.
A loira abaixou a cabeça. - Ele atacou vocês e... e Irene, se ele tivesse levado ela...
Ela segurou a mão da detetive e esperou enquanto Taeyeon falava.
- e você, você sabe o que ele fez com a mãe dela, não de novo.
As palavras saiam cortadas por causa do choro e Tiffany quase não conseguiu encontrar eloquência ali. Mas então...
- O que eu faria se ele tivesse levado ela, e, e se ele tivesse... - Ela não terminou a frase, apenas o pensamento era perturbador.
- Tae, já passou e nada disso aconteceu. - Ela balançou a cabeça para reafirmar as palavras.
- Ele machucou você. Deveria ter sido eu. - A loira murmurou.
- O que? Não. Não deveria ter sido você. Taetae... Não tente converter o medo que você está sentindo em culpa. Não deveria ter sido você, você não poderia ter feito nada para ter evitado aquilo. - Tiffany acariciou as costas da mulher com as duas mãos agora, subindo e descendo carinhosamente. - Eu posso ser forte também, Taetae. Eu fiz isso por ela, e faria por você.
- Não. - A outra rebateu em teimosia. Ela jamais permitiria que Tiffany se arriscasse por ela.
- Sim. - E a voz da morena foi tão firme quanto a dela. - Eu faria. Você não teve culpa nenhuma no que aconteceu, e eu agi completamente consciente dos meus atos. Eu sabia que poderia me machucar e eu fiz mesmo assim. Eu fiz por ela, e eu faria por você, então não, Tae. Não era para ter sido você. Era para ter sido eu, do jeito que foi. Eu posso ser forte, Taetae. Me deixa ser forte também. - Ela beijou a bochecha da mulher e esperou para que as palavras fizessem efeito.
Finalmente, Taeyeon cedeu e descansou sua cabeça no ombro dela. A médica laçou sua cintura e beijou sua cabeça. Taeyeon soltou um suspiro trêmulo e Tiffany sentiu as lágrimas quentes caírem no seu colo. - Você só está assustada e é compreensível. Mas medo é diferente de culpa. E você não precisa se culpar por algo que não aconteceu, querida. Você entende? Isso é só medo. Você não falhou em nada.
- Fany-ah - Ela murmurou, se sentindo mais aliviada.
- Nós já sobrevivemos a coisas piores, Taetae.
A loira balançou a cabeça em sim no peito da outra. Ela ergueu o rosto para olhar para Tiffany. Os dedos brancos e finos deslizaram gentilmente pela sua bochecha e a morena entregou um beijo delicado nos seus lábios.
- Meu amor, volta para cama? Eu poderia dormir mais duas ou três horas, quem sabe. E seria tão mais agradável, mais seguro, se você estivesse lá. E você poderia dormir mais também. Hum?
Taeyeon concordou com a cabeça. - Okay. - A voz rouca arrepiou a pele de Tiffany.
- Tae... Ele não tirou nada de nós. E eu não vou permitir que ele tire o mínimo que seja. A começar por essa manhã. - Ela se inclinou e beijo os lábios de sua mulher de novo. - Eu estou te esperando na cama.
E Tiffany deixou-a no quarto, e Taeyeon soube que ela disse cada palavra sinceramente. O andar firme e a postura correta não davam brecha para qualquer hesitação. Sim, Tiffany era tão forte quanto ela.
...
Taeyeon acordou pela segunda vez para encontrar a cama vazia. Ela girou para o lado e ouviu com atenção o barulho vindo do andar de baixo. Irene e Tiffany conversando sobre alguma coisa que ela não podia identificar ao certo. Além disso, o som da televisão se misturava as vozes das duas. Ela preguiçosamente se levantou, escovou os dentes e nem se incomodou com o pijama. Ela checou no celular as horas: 10:46. Desde quando ela e Tiffany dormiam até tarde assim? Numa checada rápida no espelho, ela passou os dedos entre o cabelo e o jogou para trás, e só então deixou o quarto.
Quando checou na cozinha, o que viu a fez parar como uma estátua no lugar. Havia vários pratos espalhados pela mesa que estava coberta de farinha. Taeyeon franziu o cenho e buscou por Tiffany. A morena se virou no exato momento em que Taeyeon posou os olhos nela.
- Ahn... - Ela começou apontando para a mesa. - O que... está acontecendo aqui?
- Irene quis tentar panquecas. Vários formatos. - Tiffany deu de ombro.
Taeyeon estreitou os olhos. - Você tá fazendo algum experimento com a menina?
- Não! - E foi muito na defensiva, o que deixou Taeyeon ainda mais desconfiada. - Nós só... estamos cozinhando juntas. - Tiffany apontou para um prato com uma panqueca em formato de... cachorro? - Essa é feita com farinha integral. É muito mais saudável do que com farinha branca.
- Eu sabia! - Taeyeon apontou um dedo para ela e Tiffany, desarmada, deu de ombros e riu.
- Sem farinha branca! Farinha branca nããããooo é saudável! - Irene apareceu atrás de Taeyeon parecendo um tanto empolgada. A roupa estava coberta de farinha e a boca suja de chocolate. Chocolate?
- Irene, onde você pegou isso? - Tiffany se apressou para tirar o doce da mão dela, mas a menina se desviou e correu para as pernas de Taeyeon em proteção.
- Halmoni me deu e eu guardei, vou comer agora! - E ela estava decidida.
- Isso não é saudável. - Tiffany jogou as mãos para cima e deixou que elas caíssem ao lado do corpo. - Logo de manhã, isso não tem nutriente nenhum!
A menina apenas mordeu um pedaço do doce, não se importanto muito com as palavras. Taeyeon se virou e pegou-a pela cintura.
- Sabe o que é saudável? - Ela perguntou para a garotinha que fixou os olhos castanhos nos escuros dela. - Uma boa dose de risadas pela manhã.
E tão leve ela era, Taeyeon não teve nenhum problema em jogá-la para cima, o mais alto que pôde, apenas para pega-la em seus braços de novo. A menina gritou de alegria e Taeyeon repetiu o movimento mais uma vez, e quando a garotinha pousou em seus braços, ela a inclinou para trás, beijando seu rosto, pescoço e barriga. Irene riu a ponto de perder o ar, e Taeyeon acariciou sua barriga com medo de que ela não voltasse a respirar. Instantes depois, entretanto, a menina voltava a morder o chocolate enquanto balançava as pernas no colo da loira. Taeyeon andou até a geladeira e tirou alguns morangos de lá e entregou nas mãos da criança.
- Prince tá com fome. Você alimenta ele?
- Claro! - Ela disse feliz, já pulando para o chão.
Uma vez que a menina tinha sumido de vista, Taeyeon se voltou para Tiffany e abraçou-a pela cintura baixa. - Hey. Tudo certo? - Ela roubou um beijo da morena.
Tiffany acenou em sim com a cabeça e beijou os lábios da loira de novo. - Você? - Os olhos escuros estudaram o rosto de Taeyeon.
- Melhor. - A loira sorriu para ela. - De que isso se trata? - Ela inclinou a cabeça para a bagunça em cima da mesa.
- Mantendo as coisas normais. - Tiffany finalmente cedeu, dando de ombros.
- Como deve ser. - Taeyeon balançou a cabeça e enfim a soltou. Tiffany apertou levemente seu braço antes de perder o contato por completo. - Embora... Devo dizer que não é normal você acordar tão tarde assim.
Tiffany bateu com guardanapo no ombro de Taeyeon e a loira tentou de desviar do ataque, tarde demais.
- Para o teu governo, eu acordei uma hora antes de você, Tae! - Ela se defendeu.
- Para o teu governo, eu não tô reclamando de ter acordado mais tarde. - Taeyeon sorriu vitoriosa enquanto bebericava o café forte.
A morena sorriu para ela e logo voltou sua atenção para a massa que estava nas suas mãos. Ela a apertou levemente e repetidamente antes de falar. - Sunny ligou. - A voz era baixa e hesitante.
- O que ele disse? - Completamente desperta e café esquecido, Taeyeon tinha se aproximado dela de novo.
Tiffany pareceu hesitar por um tempo. Taeyeon colocou a mão nas costas da morena para apoiá-la, resistindo à tentação de pegar o celular e ligar imediatamente para a detetive.
- Eles não o encontraram ainda. Sunny disse que estão fazendo o possível... No mais, ele só queria nos checar.
A loira balançou a cabeça em sim, processando as palavras. Ela gostaria de estar fazendo alguma coisa, de estar nas ruas procurando por ele, pedindo depoimentos, mostrando o retrato-falado que fizeram do homem para que as pessoas pudessem identificá-lo. Ela queria estar na caça. Tiffany pareceu ler seus pensamentos, porque de repente ela sentiu a mão da morena sobre seu braço, e os olhos escuros e preocupados estudavam seu rosto.
- Taetae, por favor, não saia de casa. - E o pedido frágil quase quebrou seu coração. Ela não sairia. Tiffany e Irene eram mais importantes do que uma perseguição. - Eu não vou, Fany-ah. Heechul me colocou fora do caso, se lembra?
A morena balançou a cabeça. - Eu sei tão bem quanto você que isso não é motivo suficiente para lhe segurar aqui.
- Vocês são. Eu não vou deixar vocês. Ok? - Ela acariciou o rosto da morena e Tiffany se jogou nos seus braços, apertando os braços com força em torno de seu corpo.
O dia correu relativamente bem. Na parte da tarde, algumas horas depois do almoço, Taeyeon e Tiffany levaram Irene ao cinema para ver uma animação, e embora o programa parecesse o mais inofensivo possível, Tiffany voltara para a casa com o casaco ensopado de refrigerante e Taeyeon, com pedaços de pipoca no cabelo. As mãos grudentas da menina, que tinha comido um saquinho de M&Ms, agarravam o pescoço da morena da sala do cinema até o carro, e depois do carro até entrar em casa - porque agora Irene se recusava a andar no chão, na presença de muitas pessoas. Apesar de toda a sujeira, ouvir a risada da garotinha tinha compensado qualquer pequeno dano.
Quando chegaram em casa, Nawoon estava esperando por elas com o jantar praticamente pronto.
- Omma? - Taeyeon olhou escandalizada para a cozinha. Eram apenas cinco e meia da tarde, ninguém comeria tão cedo.
- Vocês só precisam esquentar mais tarde! - Ela disse indignada, pegando Irene no colo e beijando-a, depois colocando-a no chão e se aproximando das duas mulheres. - Tiffany, querida, você está bem? Taeyeon não teve a decência de me ligar! - Ela deu um tapa no ombro da loira.
- Nós estamos bem, Nawoon. - Tiffany disse gentilmente, agradecida pela preocupação da mulher. A mais velha inclinou e abraçou com cuidado a morena.
- E quanto a mim? - Taeyeon ergueu as mãos como se querendo explicação.
- Você?! Vaso ruim não quebra fácil, eu já entendi como funcionam as coisas com você! - Nawoon disse irritada com Taeyeon. Por algum motivo ela continuava implicante com ela. - Mas eu estava preocupada. Só que sabia que você não estava aqui quando... - Ela encolheu os ombros.
Taeyeon tinha entendido. - Okay, omma. Vamos... mudar de assunto.
- Eu já estou de saída, Taeyeon. Só dei uma passada para checar vocês com meus próprios olhos. Você sabe, da próxima vez... Um telefonema não custa nada!
- Ok, ok, omma. - Ela dispensou as palavras com um aceno de mão e Nawoon se retirou logo em seguida. Taeyeon revirou os olhos.
Lado positivo: a janta já estava preparada.
- Eu vou dar um jeito no meu casaco. - Tiffany anunciou para a morena antes de se retirar da sala.
Taeyeon se jogou no sofá e ouviu Irene conversando com Prince e Ginger em algum canto da casa. Apesar do dia ter sido leve, ela se sentia cansada. É claro que os efeitos da noite anterior não iriam sumir de um dia para o outro, e é claro, que apesar de ter prometido para Tiffany que não se envolveria na perseguição do invasor, ela não conseguia deixar de pensar no assunto. Ainda assim, ela tinha que se esforçar e parar de se perguntar em que pé andavam as coisas. Ela estava considerando ligar para Sunny mais tarde, apenas para perguntar, inocentemente, se eles haviam conseguido algo. Apenas para saber se eles tinham encontrado o homem. Ela não estaria quebrando a promessa que fizera para Tiffany, estaria? Claro que não. Era algo que a própria morena gostaria de saber.
Ela foi tirada de seu devaneio quando Irene voltou para a sala com Ginger a seus pés, escalou o sofá e se sentou ao seu lado.
- Ei tartaruga.
- Nós podemos ir ao cinema amanhã de novo? - Ela perguntou enquanto juntava os joelhos no peito.
- Você quer assistir o mesmo filme outra vez? - Taeyeon franziu o cenho.
Irene pareceu horrorizada e olhou para Taeyeon como se ela fosse louca. - Não! Eu quero ver aquele outro, do robô gordo!
Taeyeon riu. - Por mim tudo bem, mas você deveria perguntar para Fany. Eu não sei se ela aguentaria outro banho de refrigerante.
- Aquele tigre gigante me assustou! - Ela se defendeu, levantando-se no sofá. - Raaaaaaaaw. -Ela fez garras com as mãos imitando o animal. Taeyeon riu e a pegou no colo, enchendo a bochecha vermelha de beijos.
- Era um leão, Irene. Um leão. - A voz de Tiffany veio de trás das duas. A menina se virou para ela, ainda no colo de Taeyeon e imitou o gesto de novo.
- Raaaawwwww. Maior leão de todos!
- E inofensivo. - Taeyeon a lembrou. A menina fez um bico para ela.
- Assustador. - Ela disse, tirando o tênis e deixando-o no chão. Ela ficou em pé no sofá de novo e caminhou até a extremidade para falar com Tiffany - que agora estava na mesa, alcançando uma maça para comer.
- Mommy? - Ela chamou e Tiffany se virou imediatamente para ela. Ela nunca se cansava de escutar a menina chamando-a daquele jeito.
- Sim, querida?
- Você pode comprar um leão?
Tiffany riu. - Para que você quer um leão, Irene? Achei que você tivesse medo. - Ela se aproximou e se sentou ao lado de Taeyeon, e a menina se ajoelhou ao se lado.
- Todo mundo tem. - Ela pontuou com a inteligência afiada que tinha.
De acordo com o raciocínio de Tiffany, aquilo só poderia significar uma coisa: com um leão dentro de casa, ninguém ousaria entrar ali. Taeyeon pareceu ter pensado a mesma coisa, porque as duas trocaram um olhar preocupado.
Taeyeon se levantou e pegou a menina no colo. - Sim, nós podemos ter um leão. Ouvi dizer que tem um circo aqui perto, quem sabe não fechamos um negócio? Além do mais, eles estão cobrando muito barato. Apenas uma tartaruga! Nós podemos vender o Prince, não podemos, Fany-ah?
Irene pegou ar em uma arfada, escandalizada. - Nunca! - Ela disse.
- Bom, tartarugas e leões são corajosos e fortes, igualmente. É uma troca justa.
- É verdade? - A menina pareceu em dúvida.
- Claro! Você não sabia?
Irene inclinou a cabeça para olhar para Tiffany, querendo confirmação. A morena balançou a cabeça em sim.
- Nada feito. Meu Prince não sai daqui! - Ela disse decidida. Taeyeon beijou sua bochecha e a devolveu no sofá. No mesmo instante, a campainha tocou.
Taeyeon arrastou os pés preguiçosamente até a porte e a abriu. Hyoyeon, a assistente social estava do lado de fora.
- Boa tarde, Kim.
...
Tiffany se levantou e olhou preocupada para a mulher. No mesmo instante, Taeyeon gesticulou para que ela entrasse, um tanto quanto nervosa.
- É só uma visita de rotina. - Ela disse antes de qualquer coisa, notando a preocupação estampada no rosto das mulheres. - Vocês vão receber algumas, já que agora possuem a guarda da menina. Ainda que não oficialmente. Ouvi dizer que logo toda a documentação estará pronta.
Taeyeon trocou um olhar com Tiffany. O que estava acontecendo?
- Por favor, sente-se. - Tiffany mencionou o lugar no sofá, lembrando-se da boa educação que lhe fora dada. Ela esperou que a mulher se sentar para tomar um lugar em seguida. Ao fazê-lo, a loira se dobrou para recolheu o tênis da menina que estava perto do sofá, tirando-o do meio do caminho. Depois, pegou das mãos de Hyoyeon um dos bichinhos de pelúcia de Irene que havia sido abandonado no sofá.
- Ouvi sobre o ataque ontem. Apenas gostaria de saber... Como vocês estão indo. E como Irene está indo. - Ela colocou a mão nas pernas delicadamente.
As mulheres trocaram um olhar. Tiffany agarrou a manta decorada com coelhinhos e flores de Irene, a manta que ela sempre deixava ali para cobrir a menina quando ela dormisse no sofá. Irene estava em todo lugar da casa, Tiffany agora notara. Na sala, com a manta, os sapatos e os bichinhos. Na cozinha com os copos de plásticos e os desenhos na geladeira. Em seu quarto, o pijama pequeno e customizado dobrado em cima da cama. Ela estava em qualquer lugar na casa... menos ali. Onde estava a menina?
Tiffany virou o pescoço para Taeyeon. Onde ela estava? Ela estava no sofá um minuto atrás.
- Nós estamos... lidando com isso. Bem, de maneira geral.
Tiffany ignorou as palavras de Taeyeon e se levantou.
- Eu posso vê-la? - A assistente perguntou, estranhando a atitude de Tiffany.
- Fany? - Taeyeon a chamou.
- Ela estava aqui agora mesmo. Irene? - Ela chamou, contornando o sofá.
Com o coração disparado, ainda mais se sentindo pressionada pela presença da mulher, Taeyeon levantou-se rapidamente. - Irene? - Ela chamou e olhou para Tiffany. Com uma troca de olhares, o tipo de conversa que só elas entendiam, Taeyeon se encaminhou para o andar de cima e deixou Tiffany em baixo, com a outra mulher.
- Irene! - Taeyeon chamou pela criança, sentindo o coração bater tão forte no peito a ponto de doer. - Cadê você? - Ela procurou no primeiro quarto de cima. Nenhum sinal da menina. Era tarde e o sol invadia a casa de uma maneira acolhedora, quente, mas os raios passaram totalmente despercebidos diante de sua preocupação.
- Irene? - Ela tentou de novo enquanto empurrava a porta do banheiro. Então ela parou um minuto para pensar. Em que lugar ela se escondia quando criança? Que lugar lhe oferecia proteção? Instintivamente ela avançou corredor adentro e parou em frente a porta do quarto da garotinha. É claro. A menina estava escondida em baixo da cama, ela soube no momento em que viu a pequena manta rosa se mexer lá em baixo. A detetive se ajoelhou no chão, apoiou os braços e olhou para verificar. Sim, ela estava lá, a manta cobrindo todo o corpo, exceto os pés calçados com meias coloridas.
- Querida, o que você tá fazendo aí? - Ela se deitou de barriga no chão. A menina tinha o rosto coberto pela manta e assim que soube que tinha sido encontrada, ficou o mais imóvel possível. - Irene? - Taeyeon tentou de novo. - O que aconteceu? Por que você tá se escondendo?
- Medo. - A resposta veio tão fraca que Taeyeon quase não ouviu.
A detetive sentiu o coração se apertar. Ela conseguia ouvir a respiração irregular da menina. Ela estava chorando? - De quê, tartaruga?
- Não quero que me levem de novo. - Ela murmurou baixo, ainda sem se mexer.
E Taeyeon podia entender seu medo, podia se sufocar com sua angústia. Como explicar para uma criança coisas complicadas que só adultos são capazes de criar e de quase nunca resolver? De que adiantaria ela dizer que ninguém iria levá-la dali, se os fatos diziam o contrário? Se a menos de um dia alguém tinha agredido Tiffany em sua frente para levá-la? Se Hyoyeon estava agora em sua casa - mesmo que não fosse para tirá-la dali, o que a menina tinha aprendido da primeira vez era que, quando a mulher aparecia, ela ia embora.
A loira suspirou e, agora deitada de costas no chão, cruzou as mãos sobre barriga. - Eu sei que você tá com medo e... Irene, sabe de uma coisa? Quando eu era pequena e ficava assustada, minha mãe cantava uma música para mim. - Ela virou a cabeça para o lado. - Você... eu posso cantar para você?
Pequenas mãos agarraram a borda da manta, mas a cabeça ainda estaeva coberta. - Ok. - A menina disse, finalmente.
Taeyeon estreitou os olhos enquanto se lembrava do começo da letra. Depois de encher o pulmão de ar, começou a cantar a música um tanto quanto antiga. A voz doce e suave preencheu o quarto, vibrando suavemente no ar. - I’ve been thinking about all the times you told me, you’re so full of doubt, you just can’t let it be, but I know... If you keep on comin’ back for more, then I’ll keep on tryin’, I’ll keep on trying...
E de repente tinha sido o suficiente para que a menina empurrasse a coberta para baixo e virasse o pequeno rosto para Taeyeon. Os olhos grandes estavam intensos, carregados de admiração, um resquício de medo e... algo que Taeyeon não sabia identificar. Eles estavam tão fixos no dela que por um instante tudo o que a loira desejou é que permanecessem assim, que a conexão nunca se quebrasse. Inconscientemente ela estendeu a mão e, para sua surpresa, Irene estendeu a dela também. As pontas dos dedos se tocaram levemente. Taeyeon apenas acariciou. Ela não precisava segurá-la, não precisa prendê-la. Irene era livre, e ela esperaria até que a menina se sentisse confortável e segura o suficiente para abandonar seus medos.
Quando a criança segurou com firmeza dois dedos de sua mão, ela continuou cantando. - And I’ve been drinking now, just a little too much, and I don’t know how I can get in touch with you... Now there’s only one thing for me to do, that’s to keep on tryin’ to get home to you.
E na parte em que dizia que ela andava bebendo, uma careta arrancou uma risadinha da menina.
- Cerveja? - A menina perguntou.
- Pode apostar. Me nego a tomar aquele vinagre que sua mom chama de vinho. - Ela revirou os olhos e a menina riu baixinho. - Não conta para ela que eu disse isso. - Taeyeon acrescentou, brincalhona.
- Continua cantando? - Os olhos escuros piscaram para ela e a menina segurou seus dedos, agora com as duas mãos. Ela se arrastou para mais perto da loira e, agora ao alcance, Taeyeon deslizou o dorso da mão nas bochechas rosadas dela. A melodia preencheu o quarto mais uma vez.
- And I feel so satisfied when I can see you smile, I want to confide in, all that is true so I’ll keep on tryin’, I’m through with lying, just like the sun above, I’ll come shinin’ through...
- Vem aqui? - Taeyeon perguntou para ela, sem realmente esperar que ela fosse ceder. Entretanto, Irene se arrastou para fora, e a confiança que a garotinha demonstrava ter nela lhe preencheu com o mais puro e verdadeiro sentimento de alegria. Ela esticou o braço e a menina apoiou a cabeça no seu ombro, os olhos nunca deixaram de estudar o rosto da loira. Taeyeon cantou mais um trecho da música enquanto sentia a perna da menina pousar na sua barriga, o pequeno pé apoiado no osso do quadril.
- Oh, yes I’ll keep on tryin’, I’m tired of cryin’, I got to find a way to get on home to you... I’ve been thinkin’ about all the times you held me, I never heard you shout the flow of energy was so fine... Now I think I’ll lay it on the line, and keep on trying to get home to you.
E logo depois da última palavra a loira beijou a cabeça de Irene. Aquela menina... Pequena e corajosa, cheia de energia e carinhosa. Taeyeon a amava e compreendia e compartilhava aquele medo da menina. O medo de perdê-la, de nunca mais vê-la. Irene passara a ser sua fraqueza e, numa lógica onde só quem ama consegue entender, ser sua fortaleza. Tiffany tinha razão, ela sempre tinha. O medo era justificável, ter ficado tão assustada era justificável. E era justamente aquilo que a colocava de pé, que a mantinha firme e determinada: a ameaça de perder aquela pequena criança que se enroscava nela durante a noite, na sala, enquanto assistia um documentário aleatório e dormia tão tranquilamente em seu colo, confiando seu sono na pessoa - na mãe - que agora Taeyeon era; os pequenos pezinhos pressionados contra suas costas no meio da noite quando a menina escapava para seu quarto; a pequena e fofa mão segurando a sua com força nos lugares lotados; os olhos de Tiffany sorrindo para ela toda vez que tinha Irene dormindo no colo, e o jeito que a criança ria numa risada igual a de Tiffany. Sim, seria estranho se ela não temesse perder isso tudo, todos os pequenos detalhes que ela amava.
- Irene? - Ela chamou e a menina olhou para cima, encontrando seu olhar. - Hyoyeon não veio levar você. Na verdade, ela veio ver como você está. Ela quer que você fique com a gente, e tá tomando conta disso. Entende?
- De verdade? - A menina perguntou de sobrancelhas erguidas.
- De verdade. Juro. Ela é nossa amiga.
- Desculpa. - A menina disse baixinho, caindo o olhar para baixo.
- Quer saber? Eu fico com medo também, às vezes.
Os olhos escuros se arregalaram e olharam de volta para ela. - Oh! É mesmo?
- É sim. - Taeyeon deu de ombros.
- Eu achei que gente grande nunca ficasse com medo. - As mãos apoiaram nos ombros da loira, enquanto Irene a estudava com curiosidade.
- Pff! Besteira... Todo mundo fica com medo, até mesmo eu!
A menina inclinou a cabeça por um segundo, enquanto pensava em algo e Taeyeon quis desesperadamente beijar sua bochecha.
- Você quer que eu cante para você? Quando você ficar com medo? - A menina perguntou encarando-a.
Taeyeon queria ter gravado aquilo. Queria que sua memória funcionasse como uma câmera de vídeo, com as funções de reproduzir a cena quantas vezes ela desejasse. Ela queria rever aquele rosto cheio de bondade e amor, os olhos tão intensos quanto o mar e os lábios vermelhos desenhando as palavras numa oferta tão honesta e generosa que apenas uma criança pode fazer.
- É claro. Eu adoraria, tartaruga.
A menina sorriu para ela e seus olhos se fecharam, na mais absoluta fofura.
- Nós podemos voltar lá em baixo? Quem sabe você poderia dar um oi para Hyoyeon?
Ela pareceu ainda insegura. - Não me solta?
- De jeito nenhum.
- Tá bom, então.
Taeyeon se levantou e carregou a menina no colo até o andar de baixo. É claro que Tiffany só se encontrava calma como estava porque certamente ela havia escutado a conversa entre as duas. Talvez até mesmo Hyoyeon tivesse ouvido. Taeyeon não se importou, nem se sentiu incomodada. Quando ela parou a alguns passos da assistente, Irene olhou para ela e ela balançou a cabeça em sim, e depois...
- Oi. - A menina disse tímida, e olhou de novo para Taeyeon que sorriu em aprovação.
- Olá, Irene. Como você está? - Ela sorriu gentilmente para a menina.
- Bem. - Ainda tímida, mas agora mais confiante. Taeyeon ainda estava segurando-a.
- Ouvi dizer que você foi ao cinema hoje? Tiffany me disse.
A morena balançou a cabeça para ela, num sorriso tranquilo.
- Fui. Vi um leão, muito, muito grande! - Ela abriu os braços em exagero e a assistente riu pela primeira vez no dia. Pela primeira vez que Taeyeon se lembrava, na verdade.
- Oh! Você gosta de leões?
- Prefiro tartarugas. - Ela disse, cedendo à conversa pouco a pouco.
- Realmente, elas são mais confiáveis. Você não acha?
Ela acenou com a cabeça. Depois, ela mordeu os lábios em pensamento e apertou os braços em torno do pescoço de Taeyeon. - Você não vai me levar, não é? - E embora a voz tivesse sido baixa, a pergunta veio cheia de coragem.
Tiffany mordeu os lábios e trocou um olhar com Taeyeon.
- Não, Irene. Eu não... Eu não levo as crianças para longe de suas famílias. É meu trabalho garantir que essas crianças encontrem uma família boa, legal. Uma família que irá cuidar bem delas. Você entende?
- Nós cuidamos bem, uma das outras. - Ela ofereceu como recurso de defesa.
- Eu sei. Eu sei, e eu não vou levar você comigo para outra família. Até onde sei, agora Tiffany e Taeyeon são suas ommas, e é meu dever garantir que vocês estejam bem.
A menina mordeu os dedos e olhou para Taeyeon e Tiffany. - Nós estamos bem...? - Foi meio pergunta, meio afirmação.
- Nós estamos bem. - Tiffany garantiu à ela.
- Bem! - Irene concordou e sorriu.
- Ótimo! Nós podemos ser amigas agora? Você não precisa ter medo de mim.
Mais uma vez, a menina olhou para Tiffany e Taeyeon em busca de orientação, e apenas concordou com a ideia quando as duas lhe deram um sinal positivo.
- Sim, nós podemos. - E, um tanto quanto incerta, ela estendeu a mão para a mulher. Hyoyeon tomou a pequena mão babada da criança na sua, sem se importar, e chacoalhou levemente. Ela sorriu para Irene e a menina sorriu para ela, mas quando as mãos se soltaram, ela abraçou o pescoço de Taeyeon outra vez.
- Fany? - Taeyeon chamou a mulher e entregou Irene em seus braços. Ela sinalizou com a cabeça e a morena pediu licença ao se retirar com a criança.
- Vamos encontrar Prince? - A morena perguntou para a menina que se virou rapidamente outra vez para Taeyeon.
- Omma? - Ela esticou os braços.
- Tudo bem, querida, nós só vamos conversar. - Taeyeon garantiu e a menina se virou para Tiffany.
- Prince, Prince, Prince! - Ela apontou para o outro canto da sala e Tiffany suspirou, esperando que a conversa não fosse algo pesado a soar no ouvido da criança.
- Eu sinto muito que vocês tenham passado por isso. E não queria ser um incômodo nesse momento frágil. - A mulher se virou para Taeyeon.
- Irene está assustada, mas nós estamos trabalhando nisso. - Ela disse honestamente e viu um sorriso brotar nos lábios da mulher. Ela esperou que não fosse um para ridicularizá-la. Ela sabia que a mulher tinha ouvido ela cantar para a menina.
- Eu vejo que vocês estão se saindo muito bem. E que ela confia completamente em vocês. Isso me deixa realmente tranquila, detetive. Tem sido um tanto quanto complicado encontrar famílias assim, e... Sinto muito que tudo tenha sido tão turbulento da primeira vez que precisei levá-la.
Taeyeon suspirou. - Era só o seu trabalho, Hyoyeon. E qual é, me chame de Taeyeon.
- Meu trabalho, de fato. Eu sei que o sistema pode ser lento e não funcional, Taeyeon, mas eu faço o melhor que posso para as crianças que acabam nas minhas mãos.
- Eu sei que sim.
- Ótimo. Como eu disse, eu só vim checar vocês. É uma visita de rotina e... Nós sabemos que o que aconteceu não está de forma alguma relacionado a vocês como mães. Eu espero que prendam logo quem é que tenha feito isso.
- Eu também. Para falar a verdade, não estar nesse caso está me consumindo, mas... - Ela encolheu os ombros e olhou para Tiffany e Irene. - É mais importante eu ficar por perto delas.
- Eu compreendo. Como você deve saber, nós vamos precisar registrar isso, mas quero enfatizar, mais uma vez, que o que aconteceu não agrava em nada o processo de adoção de vocês.
- Obrigada, nós... - Ela abaixou a cabeça. Ela só estava feliz de a visita não significar nada grave. De Irene ter perdido pelo menos parte do medo que sentia da mulher. - Só... Obrigada.
- Não por isso. Preciso ir agora, outros casos e outras crianças.
Taeyeon balançou a cabeça e indicou a saída. Ao cruzar a sala, ela acenou para Irene e perguntou educadamente. - Tudo bem se eu voltar outro dia?
Mais uma vez, Irene buscou pela orientação das duas mulheres e só depois confirmou com a cabeça.
- Ok. - Ela disse e acenou um adeus para a mulher.
E logo Hyoyeon havia ido embora. Em seguida, Irene estava novamente no sofá, as meias coloridas dançando de um lado para outro enquanto ela esperava por Tiffany e Taeyeon lhe fazer companhia, para assistir o que quer que estivesse passando na tv, antes de jantarem juntas. E, aos poucos o dia anterior ia se tornando cada vez mais longe. Com o passar das horas. Com o acréscimo de gestos gentis. Com a melodia de mais cedo que passava uma vez e novamente pela cabeça das três.
2 notes
·
View notes
Text
Capítulo Vinte e sete
Fúria.
Qualquer pessoa que olhasse para Kim agora, pensaria em uma só palavra. Kim era a fúria em pessoa, pronta para atacar quem é que entrasse em seu caminho. Pronta para despedaçar, esganar, apertar gargantas.
Quando Taeyeon andava daquele jeito - sobrancelhas juntas, o olhar animalesco nos olhos, os punhos cerrados, passadas determinadas - arrancava diversas reações: inveja dos homens que faltavam tamanha confiança; medo da parte dos que eram culpados; admiração daqueles que aspiravam ser como ela. E respeito de todos suficientemente ajuizados para saberem com quem estavam se metendo. E é por isso que nenhum policial ou técnico entrou em seu caminho quando ela pisou duro dentro de sua casa. É por isso que alguns deles se sentiram ignorados: ela estava concentrada demais em seu objetivo para notar qualquer coisa ou alguém durante sua passagem. E eles até se sentiram aliviados, porque ninguém queria explicar a essa mulher a razão de ela ter sido a última a saber de um ataque na própria casa. E no estado em que ela estava - visivelmente abalada, bufando de raiva - ninguém queria se meter em seu caminho, ninguém queria ser repreendido por ela.
Ela subiu a escada a passos duros, firmes, e se os policiais ali prestassem bem atenção, eles jurariam que os degraus estremeciam em cada passada. Mas de novo, ninguém se atrevia a observá-la. E isso porque eles ainda não tinham ouvido sua voz nesse estado. Todos colegas de trabalho sabiam como ela era grave, mas poucos deles haviam presenciado Taeyeon em estado de fúria, de ódio puro. A voz soava como trovão, e abaixava até mesmo as cabeças mais ousadas.
A loira continuava em seu caminho, e nada impedia seu progresso, nem mesmo uma mão que tentou segurá-la nesse ponto. Ela estava quase alcançando a porta do escritório, onde o ataque tinha ocorrido, e agora que tudo parecia mais próximo e real ela sentiu o nível de ansiedade aumentando.
- Taeyeon, ela tá bem. - Ela ouviu a voz de alguém atrás de si. Sunny. Era Sunny? Ela dispensou o comentário com uma mão. Não, não era o comentário, era um braço tentando segurá-la.
- Taeyeon! - Ela chamou de volta e agora Sooyoung estava na entrada da porta. Nos seus olhos negros um misto de preocupação e simpatia. Taeyeon engoliu seco. Era assim tão ruim? Tiffany tinha se machucado muito? Ele estava agindo assim porque ela parecia tão determinada a matar alguém quanto sentia vontade?
- Nenhum passo a mais, Kim. – A mais alta colocou as mãos na frente do corpo impedindo a passagem dela, e Taeyeon virou o pescoço de uma maneira desafiadora e deu um passo à frente. Ela iria passar por aquela porta.
- Sooyoung, não! - Elas ouviram Tiffany gritar do outro lado do quarto quando a mulher segurou a loira pelos braços, impedindo-a de avançar.
Taeyeon queria chegar até Tiffany. Ela mal podia ver a mulher dali. E a voz da morena só aumentou o desejo de vê-la, de checá-la com seus próprios olhos - com suas próprias mãos.
- Cai fora. - Ela ordenou para Sooyoung num rosnado, mas a mulher sabia melhor. Ela não deixaria a parceira entrar.
- Ela é evidência, Taeyeon. Você odiaria destruir evidência.
- O caralho! - Ela vociferou. - Ela é minha mulher, Sooyoung! - Ela socou o batente da porta, mas Sooyoung nem se mexeu.
- Tae, para! - Tiffany ordenou numa voz frágil, o que a enfureceu mais ainda.
- E ela é minha amiga, Kim. - Ela rebateu endurecendo a voz enquanto apontava o dedo para loira, inclinando o corpo para frente, ameaçador.
- Sooyoung... - Ela estava prestes a fazer uma ameaça quando a outra a fez primeiro.
- Você força a entrada, eu forço você no chão. E eu tô falando sério. - Ela lançou um olhar afiado. - Agora se você se acalmar... Se você se acalmar, Taeyeon... Eu deixo você entrar. Mas você não vai chegar perto. Você me ouviu?
Taeyeon odiava ser mandada. Ela sempre estava no controle e ela simplesmente odiava alguém tomando conta de uma situação, dizendo o que ela podia ou não fazer. Ela mudou o peso de um pé para o outro e abaixou a cabeça, não num gesto de submissão, mas num gesto que indicava que ela estava pronta para atacar.
- Se você destruir evidência a gente não pega o cara. - Ela disse numa voz mais suave, os olhos quase implorando pela sanidade da amiga. - Qual é, Taeyeon, você sabe como funciona.
Ela tentou bisbilhotar por cima do ombro de Sooyoung, mas pelo que lhe pareceu, Tiffany estava em uma parte fora do alcance da visão. Ela considerou a proposta da mulher.
- Ok. - Ela disse, finalmente sucumbindo à necessidade de encontrar Tiffany, deixando de lado o orgulho. - Ok.
Sooyoung concordou com a cabeça e deu passagem. Taeyeon, numa olhada rápida, contou cinco policiais ali. O quarto não estava necessariamente bagunçado, mas algumas coisas estavam fora do lugar, caídas ao chão. Taeyeon andou devagar e tomou cuidado para não pisar no que poderia ser evidência. Ela virou o corpo e os olhos encontraram Yoona, ajoelhada no chão de frente ao armário de... Tiffany. A mulher estava sentada no chão, costas coladas ao móvel, prestes a chorar. Sangue escorria de um pequeno corte na testa. Ao seu lado estava Irene, sentada também, olhando para Tiffany enquanto a morena acariciava seu rosto com a mão direita. Ela murmurava algo para a menina que parecia tão assustada quanto ela.
O coração da detetive acelerou consideravelmente e ela deu um passo para frente na tentativa de alcançá-las, mas Sooyoung segurou-lhe o braço e com o puxão ela pisou para trás.
- Sem tocá-la. – A mais nova lembrou.
A raiva dos olhos da detetive cedeu lugar ao desamparo. Ela se perguntava quão ruim era a situação, o quanto Tiffany estava machucada, o quanto Irene estava machucada. Ela deu as costas para Sooyoung mais uma vez e se virou para encontrar o olhar de sua mulher.
- Fany - Ela murmurou quando a médica encontrou seus olhos com os dela.
- Taetae, não. - Ela disse, a voz carregada. Tiffany balançou a cabeça em negativo sinalizando para que ela não se aproximasse, mas os olhos estavam pedindo por suas mãos.
Taeyeon não sabia quão ferida ela estava. Era só um corte na cabeça? Por que Yoona estava segurando sua mão? Estava coletando evidências? Por que Tiffany estava sentada no chão? Enquanto um turbilhão de perguntas inundava sua mente, Irene a estudava de olhos arregalados. A detetive se deu conta de que a menina estava assustada - possivelmente até mesmo com ela - e a convidou com as mãos.
- Ei, querida, vem aqui. - Ela se agachou e estendeu os braços.
Os lábios de Irene se curvaram para baixo e ela começou a chorar antes mesmo de se levantar. Taeyeon recolheu a menina nos seus braços e a levantou do chão. Ela era tão leve que era como se tivesse levantando um ursinho de pelúcia.
- Omma! - Ela choramingou e escondeu o rosto no pescoço da mulher e um choro infantil alcançou seu ouvido. Os braços de Taeyeon se apertaram em torno dela e ela beijou a cabeça da pequena. O medo e a fragilidade do choro emanando da menina a deixou desconcertada.
- Tá tudo bem, Irene. Ninguém vai machucar você, tartaruga. Eu te protejo, você tá segura comigo, ok? - Taeyeon sussurrava no ouvido dela enquanto as mãos da menina apertavam com força sua blusa.
- Pa-pa-pa-pa-pa... - A menina tentava falar, mas as palavras eram engolidas pelo choro.
- Shh... a Pany tá bem, vê? Você também tá bem. Eu sinto muito, Irene, mas vocês estão bem agora. - Ela beijou a cabeça da menina e acariciou suas costas, tentando conforta-la.
Taeyeon queria chorar. Não era justo que a menina passasse por mais isso. Não era justo que ela sofresse qualquer outro dano depois de tudo o que já tinha sofrido. Alguém ia pagar caro por ter assustado sua garotinha, por tê-la deixado tão amedrontada. Se ao menos ela tivesse conseguido evitar o ataque, se ao menos ela estivesse estado lá, Irene não estaria assim, Tiffany não estaria machucada. O ódio tinha voltado novamente, mas dessa vez era contra ela mesma. Poderia ter sido pior, ela repetia para si mesma numa tentativa de se acalmar, de aliviar a culpa que sentia.
Tiffany tinha pedido para ela ficar em casa, na noite anterior. Se ela não fosse tão teimosa, se ela tivesse atendido ao pedido da mulher, ela poderia ter evitado isso. Ela poderia ter protegido as duas. Mas é claro, ela tinha teimado em se enfiar em um caso que não era dela. Ela tinha saído de casa confiante de que ela ficaria bem, mas não havia ocorrido à ela que talvez Tiffany e Irene não ficassem. Como ela poderia prever uma invasão, de qualquer jeito? Ela simplesmente não podia, mas a culpa começa a se multiplicar dentro de si. Ela deveria ter ficado. E porque ela não tinha, Tiffany e Irene estavam feridas.
Tiffany. Agora ela tinha que segurar Tiffany em seus braços.
Ela colocou uma mão na cintura enquanto a outra suportava o peso de Irene e começou a andar de um lado para o outro, observando enquanto Yoona limpava os ferimentos da mulher. A morena observava Taeyeon com a mesma intensidade que a loira à ela. A troca de olhares, diferente de outras vezes, não era uma comunicação silenciosa. Era tensão. Era o espaço entre uma ação finalizada e a outra esperando permissão para acontecer. Era a inquietação vibrando do corpo de Taeyeon. Era a necessidade de Tiffany pelos braços da detetive em seu corpo para espantar o medo. Medo. Há quanto tempo Tiffany não usava essa palavra?
Os olhos castanhos estavam marejados agora, e a médica fez uma careta quando sentiu Yoona limpar o ferimento do rosto. Ela queria que Tiffany contasse o que tinha acontecido, mas ao mesmo tempo não queria expor a médica aos outros policiais. Por que eles ainda estavam ali, a propósito? Eles já não tinham catalogado o necessário? Eles estavam querendo mais o que? Presenciar Irene chorando em seu colo, Tiffany debilitada no chão? Por que não estavam atrás de quem tinha feito isso com ela? Por que estavam ali assistindo a falha que cometera em não proteger sua família?
Tiffany a encarou mais uma vez, o olhar agora preocupado, intenso. Quando uma lágrima finalmente caiu dos olhos da mulher, Taeyeon apertou os dentes para manter o controle. Ainda assim, o quarto pareceu pequeno e abafado demais para a loira. Ela queria gritar. Queria bater em alguém. Queria todo mundo fora dali.
- Fora. Todo mundo fora! - Ela ordenou. Aquela era sua mulher. Era a Médica Legista do Departamento de Polícia de Seoul. Ela não era uma vítima, ela não era... - Fora! - Ela gritou agora, porque todo mundo tinha parado para encará-la e ninguém se mexia.
Sooyoung revirou os olhos. Ela sinalizou com as mãos pedindo para que os policiais saíssem. - Yoona, você fica. - Ela pediu para a mulher. Taeyeon concordou com a cabeça. Irene, ainda em seu colo, já não chorava mais. O corpo pequeno e delicado pesava em seu peito, e Taeyeon acariciou e beijo a cabeça da menina que agora estava apoiada em seu ombro.
Yoona recolhia o material de baixo das unhas da morena. Delicadamente. Taeyeon parou em frente a Tiffany e os olhos negros pousaram nos olhos amedrontados da morena.
- Ele te machucou? Além do que posso ver, quero dizer. - A voz saiu rouca, como se recusasse a se manifestar.
- Meu braço, minhas costas. - Tiffany murmurou.
- Yoona? - Taeyeon se amaldiçoou. Como se Tiffany não fosse capaz de se diagnosticar.
- É apenas uma torção, nada grave. E um hematoma nas costas, na parte inferior da caixa torácica. Vai ficar dolorido por alguns dias... - Ela nem se virou para responder.
Tiffany confirmou com a cabeça. Yoona levantou cuidadosamente o braço machucado de sua chefe e o apoiou em seu joelho para pegar amostra da outra mão. - É o último procedimento. - Ela disse mais para Taeyeon, do que para Tiffany.
A morena deixou que ela terminasse o trabalho, observando o quão delicadamente Yoona segurava sua mão, numa demonstração de respeito e simpatia. Depois de recolher amostra do último dedo, a médica mais jovem colocou o braço de Tiffany de volta à barriga da mulher.
- Obrigada, Yoona. - Ela disse, a voz soando mais firme agora.
- Não por isso, Dra. Hwang. - Ela parou antes de se levantar. - Você gostaria que eu imobilizasse seu braço?
- Não, muito obrigada. Não acho que seja necessário.
Yoona concordou com a cabeça e se levantou, um minuto depois Taeyeon estava agachada em frente de Tiffany. Ela tentou se balancear enquanto colocava Irene em pé, no meio de suas pernas.
- Oh, Deus. - Ela disse colocando as mãos no rosto da mulher. - Fany, eu sinto muito, querida.
Lágrimas finalmente começaram a cair incontrolavelmente de seus olhos. – T-Tae, ele queria I-Irene, oh Deus. - Ela chorava, por medo, por alívio, por estar viva.
- Ho-homem mau! - A criança choramingou para Taeyeon. - Machucou Fany! - Ela apontou para a mulher que agora estava com os olhos arregalados.
- Não, Irene, não. - Tiffany tentou acalmá-la, ainda que estivesse machucada. - Já passou, olha só. Eu estou bem.
- Minha Fany! - Ela disse furiosa, indignada, encarando Taeyeon como se exigisse que a loira fizesse alguma coisa. Os olhos expressavam raiva e medo, uma mistura perigosa até mesmo para uma criança.
- Sabe de uma coisa? Eu vou meter o pé na bunda dele. - Taeyeon disse séria, e Tiffany revirou os olhos com o vocabulário.
- E na cara! - A menina exclamou irritada.
- Pode apostar.
- Taeyeon, isso é altamente inapropriado. - Tiffany interveio.
A loira só deu de ombros, não se importando.
- Mommy. - A menina pulou para frente e abraçou a morena cuidadosamente porque Tiffany tinha pedido para que não a tocasse enquanto Yoona estivesse ali, prometendo que depois ela a pegaria no colo. Depois ela se afastou olhando para ela preocupada. Ela colocou o dedo indicador perto do curativo na testa e perguntou, - Dói?
Tiffany balançou a cabeça em sim. - Sim, mas não é nada grave.
A menina se inclinou e beijou levemente por cima da gaze - Melhor?
Os olhos de Tiffany se encheram de lágrimas mais uma vez. A sensibilidade de uma criança. Tiffany faria tudo de novo se fosse para mantê-la ali, simplesmente para presenciar o momento de tamanha doçura. - Muito, muito melhor, minha tartaruguinha.
Irene sorriu para ela, orgulhosa de si mesma e olhou para Taeyeon que lhe deu um sorriso de aprovação.
- O que aconteceu, Pany-ah? - Taeyeon tombou os joelhos no chão e acariciou o rosto da mulher com o polegar. Tiffany se inclinou ao toque.
- Eu ouvi vidro se quebrando, achei que fosse Irene, mas o barulho tinha vindo de baixo e nós estávamos aqui. E... - Ela tomou fôlego, tentando se lembrar dos acontecimentos na sequência. - E eu não sabia o que era. Não sabia se era você, ou se - se era outra pessoa. Mas eu sabia que havia algo de errado, Tae. E tudo o que eu consegui pensar foi em esconder Irene e... - Ela deu de ombros. Ela não tinha pensado em se proteger, ela só pensou em salvar a menina. - Eu mandei uma mensagem para Sooyoung, porque ela tinha sido meu contato mais recente. E depois... depois ele entrou aqui e... - A voz estremeceu. Ela se arrepiou com a lembrança do homem, maior do que ela, ameaçador.
- Tá tudo bem, querida. - Taeyeon acariciou o rosto dela. - O que aconteceu depois?
- Ele queria Irene. Deixou bem claro desde o começo que só queria ela, mas quando eu recusei entregá-la, ele...
- Ele avançou para cima de você? - Taeyeon juntou as sobrancelhas em ódio.
- Minha Fany! - Irene disse indignada. - Eu bati nele. - Ela virou os olhos afiados para Taeyeon.>
A loira olhou com incredulidade para Tiffany, que confirmou com a cabeça. A morena puxou a menina para cima de suas pernas e a abraçou, o gesto custou uma pontada de dor, mas a lembrança e o medo de perder a menina ainda ardia em sua pele, e só o corpo dela em seus braços acalmava-a e trazia conforto.
- Ela saiu, Taetae. Ela saiu e eu achei... - Ela respirou fundo e fechou os olhos para conter novas lágrimas.
- Fany, eu sinto muito. Vocês não deveriam ter passado por isso.
A morena balançou a cabeça e continuou. - Ele me é familiar, Tae. Eu sei que já o vi em algum lugar, mas eu não consigo lembrar aonde.
- Tudo bem. Você deu a descrição para Sooyoung, certo? - Tiffany confirmou com a cabeça. - Nós vamos achar ele. Ele vai pagar por isso, Fany. Agora vamos levantar você daqui, ok?
A médica concordou com a cabeça e moveu Irene do seu colo. Ela estava imóvel por minutos, e para ser sincera ela não tinha muito certeza se queria se movimentar. Ela não tinha tentado antes e se perguntava quais seriam os danos, aonde sentiria dor primeiro. E o quanto doeria.
Familiarizada com o tipo de situação, Taeyeon ajustou o peso nos pés e esperou que a morena passasse os braços em torno do seu pescoço. Ela segurou firme na cintura da mulher e a ajudou a se levantar, fazendo a maior parte do esforço. Uma vez em pé, Tiffany juntou seu corpo com o da detetive e a segurou pelo que lhe pareceu vários minutos. O corpo estava terrivelmente dolorido, o hematoma nas costas queimava em dor a cada movimento de respiração, e ela quis chorar sem saber ao certo se era de dor, se era porque ainda estava assustada ou se, simplesmente, era porque Taeyeon estava segurando-a nos braços e ela finalmente parecia estar salva.
- Eu sei como é. - Ela murmurou entre lágrima perto do ouvido de Taeyeon.
- O que, querida? - Taeyeon acariciou seu quadril, temendo correr as mãos nas costas da mulher.
- O que você faz, querer proteger as pessoas, eu sei como se sente. Eu entendo.
Taeyeon se afastou e segurou o rosto de Tiffany com as mãos. – Pany-ah, você foi extremamente corajosa. Vocês duas foram. Mas eu não quero, nunca mais, que você tenha que fazer isso de novo.
Taeyeon não tinha entendido, então ela esclareceu. - Eu tenho orgulho de você, Taetae, porque... porque precisa de muita coragem e altruísmo para fazer isso.
E os olhos lacrimejados de Tiffany piscaram para ela, logo quando Taeyeon pensou que não podia amar mais aquela mulher. Ela estava tão enganada. Como Tiffany conseguia fazer isso? Mesmo nos momentos mais frágeis, como ela conseguia fazer Taeyeon se apaixonar mais e mais? A loira segurou seu rosto com carinho e beijou os lábios macios.
- E um pouco de loucura, Fany-ah. E uma arma, definitivamente uma arma. - A loira beijou a bochecha da mulher.
- Eu gostaria... de me deitar um pouco. - A morena disse, se sentindo fraca e dolorida para continuar em pé.
- Certo, vamos levar você para o quarto. Devagar, ok? - Ela disse enquanto passava a mão na cintura baixa da morena. Tiffany estendeu a mão para segurar a de Irene e as duas cruzaram o lugar lentamente, atravessaram o corredor - ainda com alguns policiais - e finalmente alcançaram o quarto das duas. Taeyeon a ajudou a se deitar na cama e Tiffany fechou os olhos em agonia quando o peso do corpo pressionou as costas. Dor, dor, dor. Instintivamente, ela se virou de lado na cama, levando a mão ao rosto.
- Fany, você precisa ir num médico. - Taeyeon disse quase apavorada.
- Eu sou médica, Taetae. Eu preciso de Ibuprofeno. Você pode pegar para mim? - Ela pediu educadamente.
- É claro, claro. Eu volto num minuto. - Taeyeon ergueu a criança e a depositou na cama ao lado de Tiffany. Ela não queria que ninguém mais tivesse algum contato com elas. Ninguém precisava ficar encarando, ninguém precisava perguntar “e agora?” e, acima de tudo, elas não precisavam de ninguém criando uma situação constrangedora. Era o suficiente. Taeyeon caminhou para fora do quarto e fechou a porta e pela brecha que ia diminuindo até sumir, ela viu Irene se ajeitando ao lado de Tiffany. A loira andou o suficiente para sair da frente da porta e se encostou na parede.
O dia tinha acontecido do avesso. Era ela que, supostamente, deveria ter corrido algum tipo de risco. Ela jamais imaginara que naquele dia ao sair de casa estava deixando Tiffany e Irene expostas ao perigo. Teoricamente elas deveriam estar seguras na própria casa. Quando Taeyeon recebeu o telefonema de Sunny ela achou que tinha entendido errado. Logo a compreensão foi seguida pelo medo e raiva, o primeiro servindo de pavio para o segundo. Ela imaginou que quanto antes visse as duas e as checasse com os próprios olhos, o turbilhão de sentimentos dentro de si fosse se acalmar. Sim, talvez tivesse se acalmado, mas para quê, afinal de contas? Apenas para ceder espaço à agonia de encontrar sua mulher machucada e jogada ao chão, à culpa de não ter sido ela ao se colocar entre o invasor e ela, mas sim a garotinha de apenas seis anos?
Taeyeon escondeu o rosto nas mãos e esperou até que a mente parasse de gritar. Os dedos tremiam levemente e ela se esforçou para não chorar. Ela ainda tinha algo a fazer, Tiffany estava esperando de volta por ela. Ela respirou fundo e caminhou em direção às escadas. Lá em baixo ela encontrou Sooyoung e Sunny discutindo algo em murmúrios. Ela decidiu ignorar por enquanto e pegou um copo de água na cozinha e a cartela de comprimidos que Tiffany guardava numa das gavetas do armário. Se sentindo um tanto quanto fracassada e irritada, ela caminhou em direção as mulheres.
- Quem quer que seja, eu quero... - Ela começou, mas Sunny já estava balançando a cabeça em não.
- De jeito nenhum. Isso é pessoal e você tá fora do caso. Você sabe como funciona.
Taeyeon ficou de queixo caído. - Caso você não tenha percebido, Soonkyu, essa é minha casa e nesse momento eu tô levando remédio para minha mulher que tá lá em cima porque alguém a atacou. Sob o teto da nossa casa. Não me venha dizer que isso não diz respeito a mim. - Ela apontou um dedo para a mulher e não se importou nenhum pouco com o tom.
A mais baixa trocou olhar com Sooyoung e balançou a cabeça novamente. - Sinto muito, não foi minha decisão. Heechul quer você fora, e a não ser que você queria ser suspensa... É melhor você obedecer.
A detetive apertou os dentes e fechou a cara. Ela iria falar com Heechul na manhã seguinte. Ela iria dizer que ela, mais do que ninguém, deveria participar daquilo.
- Eu quero esse desgraçado atrás das grades. E Sunny, Deus o ajude se eu colocar as mãos nele primeiro do que vocês.
Ela se virou e saiu a passos duros. As duas mulheres se entreolharam e elas sabiam que não tinha sido uma ameaça. Não tinha, tão pouco, sido uma chantagem para que não a tirassem do caso. Aquela era apenas uma faceta de Taeyeon se mostrando: Taeyeon, a mulher de Tiffany. E todos sabiam muito bem como a loira funcionava quando se tratava da proteção da médica. Taeyeon iria caçá-lo como um gato caça um rato e a única vantagem que eles tinham é que, primeiro, ela já não tinha mais acesso a meios - vídeos e depoimentos - que elas tinham agora. E segundo, elas sabiam que ela não deixaria Tiffany até ter certeza de que ela estaria bem.
- Sooyoung, você sabe como ela é. Coloque mais homens trabalhando nisso antes que...
- Deixa comigo. Eu sei.
Sooyoung deu um tapinha do ombro da mulher antes de sair. Sunny andou até a janela da sala - a janela quebrada - e se ajoelhou para pegar Ginger no colo. O cachorrinho dormia profundamente, possivelmente drogada pelo invasor.
...
Taeyeon ajudou Tiffany a se sentar, apenas para ingerir o remédio, e depois a se deitar novamente. A expressão de dor no rosto de Tiffany se refletiu no rosto de Taeyeon quando a loira finalmente se afastou depois de aninhá-la na cama. A loira trouxe a coberta até os seus ombros, se agachou no chão e segurou a mão de Tiffany com as suas.
- Eu vou ligar para Minho, para ele me ajudar com a janela quebrada. Que tal se você dormir um pouquinho enquanto isso? - A voz suave não combinava nem um pouco com o nervosismo que sentia.
- Eles se foram? - A morena perguntou.
Taeyeon balançou a cabeça em sim. - Todos eles, exceto Sunny e Sooyoung. Colocaram patrulhas perto de casa também. - A loira acariciou o rosto da morena, os olhos castanhos apagados pelo cansaço, pelo medo. – Fany-ah, vocês estão a salvo agora. Ninguém vai machucar vocês, nem... Nem levar você. Ouviu Irene? - Ela ergueu os olhos para a menina que estava sentada na cama, parecendo tão pequena e frágil como nunca.
- Tá. - A palavra curta soou distante no ar.
O olhar dela caiu para Tiffany de novo. A morena balançou a cabeça em entendimento. Taeyeon inclinou para beijar sua bochecha e acariciou sua cabeça.
- Eu volto para checar vocês.
Taeyeon não tinha realmente paciência para trabalhar com vidros e janelas. Então, em vez de ajudar - ou atrapalhar, nesse caso – o amigo, ela simplesmente observava. Enquanto ele trabalhava para consertar a janela estragada, ela esperava em pé, os braços cruzados sobre o peito, o olhar fixo em algum ponto da parede. Um tornado de emoções rodopiava dentro de si, mas a maioria dizia respeito a sentimentos de raiva, culpa, preocupação e... vingança. Ela sabia que deveria reconsiderar a última palavra... deveria substituí-la por “justiça”, mas no exato momento, para ser honesta, tudo o que ela queria ela colocar as mãos em cima do responsável pelo ataque, e o que quer que fosse acontecer em seguida não poderia ser classificada, em nenhuma jurisdição, como justiça.
Atormentada pelos próprios pensamentos, pelo desejo de causar mal a quem tinha causado mal à sua família, ela balançou a cabeça e se dirigiu para o quarto, afim de checar a mulher e a criança. Pela porta entreaberta os olhos capturaram a única imagem capaz de lhe desarmar: Tiffany encolhida na cama, Irene aninhada em seus braços. Fazia trinta minutos desde a última vez que a detetive deixara o quarto e agora a morena dormia profundamente, e Irene parecia também perdida em seus sonhos. A menina tinha uma mão na boca, e a outra mão segurava a mão de Tiffany que estava em sua barriga. Em outros dias, a cena parecia doce, digna de uma foto - Taeyeon já tinha várias no celular - mas hoje tinha sido amargurada pela agressão de alguém. Se elas estavam ali deitadas, era apenas porque Tiffany estava machucada e precisava do descanso.
O pensamento fez a garganta se fechar e lágrimas ameaçarem a cair. Entretanto, ela não iria chorar. Ela não tinha nenhum direito de chorar considerando que ela não tinha sido ferida, que ela não tinha sido aterrorizada. Nenhuma mão tinha sido apertada no pescoço dela, então ela não iria chorar.
Ainda que alguma mão invisível estivesse lhe apertando a garganta.
...
Sufocando. Ela estava sufocando e o ar pelo qual lutava para respirar parecia cada vez mais raro-efeito. Ela tentou mais uma vez com força, mas em vez de ar, o que apareceu em sua garganta foi... o que era aquilo? Ela não conseguia definir com precisão. A textura era grossa, fria, como uma corda. Mas estava vivo, ela sabia porque a coisa se apertava em seu pescoço com força, pouco a pouco, tirando inclusive sua capacidade de gritar por ajuda. Ela deslizou os dedos pela coisa. Era vermelha, ela não conseguia ver, mas mesmo assim ela sabia que era vermelha. Os dedos estudaram a textura e... Aquelas coisas eram escamas?! Sim, eram escamas! Seria uma cobra? Um lagarto? Ela tentou gritar quando dentes afiados surgiram em sua frente, a boca aberta dando o bote.
Tiffany se sentou na cama e numa arfada pegou todo o ar que precisava. Imediatamente após, ela apertou os dentes ao som de um gemido de dor. Tinha sido um sonho, apenas um sonho terrível com... Coisas rastejantes. Agora seu corpo vibrava dolorosamente por causa do esforço da respiração pesada, um preço a se pegar pelo tão desejado ar. Instantes depois Taeyeon estava se sentando na cama, colocando uma mão em sua nuca.
- Hey... - A loira sussurrou não querendo assustá-la ainda mais.
- Tá tudo bem. - Tiffany disse, apertando levemente a coxa de Taeyeon. - Tudo bem, foi só um pesadelo.
A detetive suspirou fundo. Ela sabia como era passar por um trauma e ter esse tipo de sonho. - Vem aqui comigo. Deixa-me cuidar de você. - Ela abriu o braço enquanto se deitava e Tiffany não hesitou por um minuto.
- Sonhos ajudam a diluir o trauma, - Ela começou enquanto descansava a cabeça no ombro da loira, como se tentando se justificar - é o jeito do cérebro lidar com isso. Pode acontecer algumas vezes, até que...
- Até que o trauma seja superado. - Taeyeon concluiu. Ela afastou o cabelo do rosto da mulher e beijou sua cabeça.
- Exatamente. - Tiffany apertou a mão na cintura da detetive.
- Quer me contar?
- Era só... alguma coisa apertando meu pescoço. Me enforcando. - Ela murmurou.
- Oh, Fany. Sinto muito... - E ela sentia. Mais uma consequência do ataque na tarde anterior, um adicional que Tiffany estava pagando pelo seu descuido. De qualquer forma, agora nem adiantava mais se culpar - se cobrar - Tiffany precisava de seus cuidados, e não de resmungos. Ela acariciou a linha do rosto da loira com o polegar e encostou o nariz na cabeça dela. - O que eu posso fazer? - Ela perguntou em voz baixa, na mais honesta sinceridade, porque nesse momento ela já não sabia o que poderia fazer - se poderia fazer. Ela se sentia tão impotente agora, como se o acontecimento do dia anterior tivesse apontado um dedo para sua mais nova falha: não ser capaz de proteger sua família. E se sua armadura tinha sido rachada, de que ela serviria?
A morena ergueu a cabeça para estudar o rosto da mulher e, tão costumeiramente, fez o pedido mais singelo. - Só me segura, e eu sei que você vai estar aqui.
E embora as palavras tenham quase quebrado seu ser em pedaços, Taeyeon apertou Tiffany num abraço, ciente de que seus braços - aqueles que sempre a acolheram e cuidaram - poderiam agora lhe causar dor. - Eu tô aqui. - E eu deveria ter estado antes. Ninguém deveria ter machucado você. Deus, o que me aconteceria se tivessem matado você? A loira correu a mão pela cintura da mulher, os dedos deslizando pela caixa torácica. Ela conseguia sentir os ossos sob os seus dedos, a pele quente e macia. Tiffany parecia tão pequena sob sua mão, e Taeyeon odiou a sensação que a invadiu quando ela se lembrou que aquele corpo, pequeno e magro, tinha se atrevido a enfrentar um com o dobro do tamanho. - Eu tô aqui. - Ela repetiu de novo, como se pudesse de alguma forma regressar no tempo, como se as palavras fossem a chave para desfazer e reescrever a cena inteira. Ela deveria ter estado lá, e ela deveria ter protegido Tiffany, e Irene. Ela era a forte.
Com um suspiro ela apertou os dentes e dispensou, mais uma vez, as lágrimas. Ela era forte e não iria chorar.
2 notes
·
View notes
Text
Capítulo Vinte e seis
- Irene! - Tiffany chamou do quarto. A menina se recusava a tirar o pijama de tartaruga. Ela pulava cheia de energia em cima da cama e já era quase uma da tarde. – Irene, por favor. Taeyeon logo vai sair e... - Nada. Ela não conseguia fazer nenhum acordo com a menina. Cansada, ela se virou e saiu do quarto e deixou que a criança continuasse pulando lá. A verdade é que ela estava nervosa. Ela odiava quando Taeyeon precisava fazer esse tipo de coisa. O caso nem era dela. Yuri podia lidar com esse tipo de situação. A mais nova poderia, perfeitamente, entrar disfarçada num lugar e recolher informações sem problema nenhum. Tiffany entendia que era irmã dela, era sua cunhada, mas a perspectiva de Taeyeon metida, mais uma vez, em missões assim... Ela não conseguia se lembrar de uma que não tinha envolvido armas disparadas e policiais feridos.
Ela seria apenas o reforço, caso desse algo errado. Mas e se algo desse errado? Uma pequena briga tinha acontecido entre elas na noite anterior por causa do assunto. Taeyeon entendia o lado dela, mas não desistiu da ideia. E Tiffany, é claro, como ela podia exigir que Taeyeon não fosse? Era o que ela fazia, afinal de contas. Então foi a médica que cedeu. Foi ela quem encerrou a discussão e disse que apenas estava amedrontada. E foram os braços de Taeyeon que a abraçou lhe oferecendo certo conforto.
Mas ela ainda se sentia incomodada. Talvez ela estivesse reagindo demais àquilo. Mas não... Ela sabia que não era em relação apenas àquilo. O fato do caso da mãe de Irene estar aberto a incomodava. O que agravava seu incômodo - e ela preferia nem pensar nisso - é que o homem que tinha sequestrado a menina tinha sido morto dentro do presídio. Ninguém sabia o porquê, ainda. Taeyeon apostava que era por causa do risco de ele vender informações sobre a máfia para a qual trabalhava. Tiffany se arrepiava toda vez que se lembrava disso. Algo despertava dentro de si, deixando-a em alerta. Desde que o homem fora levado ao seu necrotério - ela escalou Yoona para fazer a autópsia - ela havia ficado amedrontada. As suspeitas não se confirmavam e ela sentia que algo muito maior estava acontecendo - estava para acontecer.
Taeyeon também estava em alerta, mas as investigações, o interrogatório com o assassino responsável não levava a nada, senão à uma briga entre presidiários. As testemunhas relatavam isso, e nada mais. E como eles poderiam dizer o contrário? A loira tentava tranquilizar Tiffany e depois de alguns dias a médica pareceu mais relaxada. Entretanto, algo dentro de si dizia que alguma coisa estava errada.
Alguma coisa iria acontecer. Tiffany não acreditava em sexto sentido, mas dessa vez ela tinha acertado em cheio.
- Vai ficar tudo bem, Fany-ah. Eu já fiz isso várias vezes, se lembra? - Taeyeon acariciou os braços da morena depois de ter prendido a arma na cintura.
- Eu sei. - Ela suspirou e ajeitou a blusa da loira enquanto se lembrava da bomba que explodiu antes de Taeyeon alcançar o lugar, e dos tiros que a obrigaram a se esconder atrás de carros, de paredes. Ela tinha ficado bem. Ela esperava que a sorte se repetisse de novo e de novo, em cada vez necessária. - Eu sei. - Ela repetiu. - Se cuida. Se cuida e não se mete... Tae não se meta em confusão, ok? - Ela piscou os olhos para a loira.
- Fany, eu nunca me meto em confusão. - Ela encolheu os ombros.
A morena tombou a cabeça para o lado como se dissesse “sério?”.
- Eu prometo que vou me cuidar. É algo costumeiro, Fany-ah. Nada vai dar errado, ok? O que pode dar errado?
O que pode dar errado, era a pergunta que Taeyeon sempre fazia quando tinha um trabalho pesado. A médica não tinha tido nenhuma experiência bem-sucedida nessa área. Ainda assim ela se esforçou. - Não importa o que aconteça, eu quero você de volta para mim.
- Sim, senhora. Às oito da noite? - Taeyeon sorriu aquele sorriso malandro e Tiffany lhe deu um tapa no braço.
- É melhor você voltar inteira.
- SE você me deixar sair inteira! - Ela disse enquanto esfregava o braço.
Tiffany colocou as mãos na cintura e apertou os olhos, e depois balançou a cabeça.
- Hey, Fany-ah. Eu amo você. Não se preocupa, qual é... Logo tô de volta, ok?
- Uhum. - Ela disse enquanto Taeyeon beijava seu lábios.
A loira direcionou para a menina que estava grudada nas pernas de Tiffany. - Tartaruga! Sua missão é cuidar de sua mommy. Entendido?
A menina se aproximou e colocou a mão na testa, em posição de “sentido”. - Sim, senhora.
E Taeyeon riu e a pegou no colo - ainda vestida com o pijama - e lhe encheu de beijos. - Eu amo você, tartaruguinha. E eu volto logo. - Mais um beijo na bochecha.
- Eu amo você. - A menina respondeu e abraçou seu pescoço.
Depois da despedida Taeyeon entregou a menina no colo de Tiffany e lhe deu mais um beijo nos lábios. - Eu volto. - Ela sorriu e se foi.
Tiffany só fechou a porta quando viu o carro desaparecer pela rua, e Irene apertou as pernas na sua cintura. Ela suspirou, se virou e trancou a porta. Com a menina finalmente em seus braços, ela viu uma vantagem.
- Agora, - Ela disse - nós vamos tirar você desse pijama.
- Nããããooo. - Ela protestou e tentou se soltar, se contorcendo no colo da mulher, mas riu à medida que Tiffany beijava sua barriga e segurava-a pela cintura.
...
O relógio marcava 14:55. Tiffany esfregou os olhos depois de terminar de ler o relatório sobre o último exame feito em uma das vítimas que estavam no necrotério. Ela pegou o celular e digitou uma mensagem para Sooyoung, dizendo que a toxina era realmente veneno, um difícil de ser identificado, a não ser por meio de exames clínicos. Portanto, de acordo com os resultados finais, o homem tinha sido assassinado. Mais um caso para uma semana corrida.
A morena descansou as costas na cadeira e olhou para o relógio mais uma vez. 15:06. O que era isso? A hora estava voando? Ela ainda tinha dois relatórios enviados por Yoona para ler, e determinada a acabar antes do jantar, a morena abriu a nova pasta no email. Ela se perguntou o que Irene estaria fazendo agora, já que estava tão quieta havia vários minutos. Como se em resposta à sua pergunta, ela ouviu um vidro se quebrar no andar de baixo.
Irene já tinha quebrado um copo, um prato e uma xícara, tudo nessa semana. Ela se perguntou o que seria dessa vez. A fruteira em cima de mesa? Ela suspirou fundo. Ela não se importava com as coisas, apenas se preocupava com o vidro cortando a menina.
- Irene. - Ela chamou alto demais e inclinou a cabeça esperando pela resposta. Ela estava se levantando quando a menina apareceu na porta.
- Sim? - Ela parecia completamente inocente.
Tiffany franziu o cenho. - Você não estava lá em baixo?
- Não. - Ela ergueu a mão segurando um morango. - Prince.
Oh. Oh. Tiffany se levantou rapidamente. - Você quebrou alguma coisa? - Ela se apressou em dizer que não tinha problema.
- Não, eu só estava...
Tiffany sentiu o corpo gelar. Algo tinha se quebrado lá em baixo. Ela não estava enganada. Ela juntou a menina nos braços e colocou o dedo indicador nos lábios em sinal de silêncio. Irene obedeceu, já parecendo assustada. Tiffany escutou atentamente. Ginger não estava latindo. Isso era um bom sinal, não era? Mas Tiffany se lembrou de invasores que jogam pedaços de carne com calmantes para os animais, e a apreensão a acertou em cheio de novo.
Alguém tinha invadido sua casa. Havia uma escada e um corredor a serem vencidos para que a pessoa chegasse nelas. Ela fechou a porta sem fazer barulho, se apressou e pegou o celular, rapidamente abriu as mensagens e desesperadamente selecionou a primeira pessoa da lista - a última que tinha encaminhado uma mensagem minutos antes. Sooyoung.
O coração batia rapidamente no seu peito, e as mãos tremiam.
Invasão. Ajuda. AGORA!
Foi o que ela conseguiu digitar. Ela devolveu o celular em cima da mesa e pegou Irene e, apavorada, se perguntou o que iria fazer para proteger a menina.
Proteja a menina. Você precisa proteger Irene. Tiffany, pense! Os olhos pousaram no armário e ele era a única solução possível.
- Irene - Ela sussurrou enquanto abria uma porta. Felizmente Tiffany era organizada e havia espaço de sobra para colocar a criança ali dentro. - Você não pode fazer nenhum barulho. Você não pode sair daqui. Não importa o quê, não saia daqui. Você me ouviu? - Ela segurou o rosto da menina entre as mãos.
A menina balançou a cabeça em sim, apavorada. Os lábios se curvaram para baixo e os olhos estavam arregalados de medo.
- Querida, - Tiffany disse com a voz calma, o máximo que pôde, de qualquer jeito - não chore. Vai ficar tudo bem, okay? Você só precisa ficar aqui. Eu cuido disso.
- Mommy. - Ela murmurou segurando firme no punho da morena.
- Eu amo você. - Tiffany beijou a testa da menina. - Eu amo você. Não saia daqui, me prometa Irene.
- Eu amo você, eu amo você. - Ela dizia e Tiffany sabia que era “fique aqui comigo”, porque Irene puxava o punho da outra para si.
- Querida, eu venho buscar você. - Ela se soltou e fechou a porta do armário. Rápido o suficiente em sua pressa. Lento o suficiente para ver os olhos assustados de Irene implorando por ela.
Sooyoung, leia logo a mensagem, por favor. O pensamento cruzou sua cabeça enquanto ela voltava para sua mesa. O que ela poderia fazer? Talvez devesse ir para outro quarto... Talvez despistasse, quem quer que fosse, de Irene. Se suas pernas ao menos ajudassem. Ela parou para escutar, e para sua aflição a casa permanecia silenciosa demais. E se ela estivesse enganada? E se ela tivesse assustado a menina sem necessidade? Ginger não estava latindo porque...
E se fosse Taeyeon?
Mas ela sabia que não era, porque Taeyeon sempre a chamava quando chegava em casa e não a encontrava no andar de baixo. Bem, talvez tenha sido a janela do vizinho...
A quem ela queria enganar?
Ela se sentou na cadeira porque mais um minuto e ela cederia ao peso das pernas. Ela esperou. Ela sabia que iria acontecer e dali de cima, do andar onde se encontrava, não havia escape. Sooyoung, eu estou contando com você. Ela olhou para o celular que estava imóvel. Irene obedecia e continuava em silêncio dentro do armário. Ela encarava o móvel que ficava bem na frente da mesa em que estava. A porta ficava à sua direita.
Boa menina, Irene. Não sai daí. Por favor, querida, não saia daí.
E então ela ouviu. O medo havia se concretizado em passos no corredor. Ela sentiu o corpo enfraquecer. Ela queria chorar. Gritar por ajuda. Mas quem a ajudaria nesse ponto? Quem a salvaria?
Não saia, Irene. Por favor minha garotinha, não faça barulho.
Ela apertou os olhos com força. O que ela iria fazer?
A porta se abriu lentamente, e ela prendeu a respiração e sentiu o sangue sumir de seu rosto quando a figura de um homem se materializava na passagem da porta.
Ela se levantou trêmula da cadeira, descobrindo que podia ficar em pé. Mais do que isso, ela descobriu uma faísca de fúria crescendo no peito.
- Quem é você? E o que você quer? - Ela perguntou com a voz rouca - trêmula - e apertou os dentes.
O homem deu um passo para frente, colocou as mãos no bolso da calça e sorriu. Um sorriso malicioso. Irônico. - Eu acho que nós dois sabemos o que eu quero, doutora.
Ele sabe quem eu sou, Tiffany pensou. Mas nessa altura, quem não sabia? Em quantas revistas ela tinha saído por causa de seus artigos? Em quantos jornais ela contara seu rosto estampado, ao lado de Taeyeon ou não. Ela havia se tornado uma figura pública, assim como Taeyeon. Os habitantes de Seoul, os conectados diariamente à televisão e as manchetes sabiam.
Quando Tiffany correu os olhos pelo rosto do homem, algo estalou dentro de si. Ele era familiar. Ela já o tinha visto. Mas aonde? Ela deu um passo atrás, de modo que ficou entre a outra extremidade da mesa e ele. - Não faço ideia. - Ela insistiu. Sooyoung, por favor.
- Deixa eu clarear sua mente confusa, doutora. - Ele fez um sinal com a mão, se referindo à casa. - Você não vive aqui? Com a sua detetive e uma certa garotinha? - Ele sorriu ironicamente.
Uma certa garotinha. Ela estava certa, ele queria Irene. Ela resistiu à urgência de olhar para o armário. Não denuncie o esconderijo dela! Tiffany balançou a cabeça em negativo.
- Não tem ninguém aqui. Apenas eu. Minha mulher já está a caminho de casa e se você sair antes... Eu não presto queixa. - Um fiasco, Tiffany. Uma tentativa ridícula de acordo. Entretanto, o que importava para ela era o tempo... porque ela estava contando com Sooyoung, porque ela estava esperando desesperadamente que ela e Sunny abordassem de surpresa aquele homem.
- Acho que você sabe tão bem quanto eu que isso não é verdade. - Ele deu um passo à frente e Tiffany se sentiu ameaçada, encurralada.
Ela não recuou. Ela podia ser forte também. Ela faria o que fosse preciso para proteger Irene. E com uma pontada de dor, ela se deu conta de que era assim que Taeyeon se sentia todas as vezes que colocava a sua vida na frente da de outra pessoa, em proteção. Era assim que Taeyeon se sentia quando se colocava na frente de Tiffany em situações de perigo para protegê-la. Era isso que significava se doar por outra pessoa. Tiffany entendia agora, e ela sentia tanto orgulho de Taeyeon nesse momento. Sua brava e corajosa Taetae. A realização lhe deu coragem, força. Ela ergueu a cabeça e endureceu o rosto.
- Acho que você sabe tão bem quanto eu que você não vai conseguir o que quer. - A voz soou firme, diferente de antes.
O homem deu alguns passos à frente e parou a um metro de Tiffany. Ela notou, com um tremor, que ela tinha que erguer a cabeça para poder encará-lo. Ele era muito mais forte, sem dúvidas. Ela era menor, mais magra e fraca. Ela lutaria se fosse preciso, mas por quanto tempo aguentaria?
- Você não tem ideia de onde tá se enfiando. - A voz grave e ameaçadora arranhou os ouvidos, mas ela permanecia firme.
- E você sabe aonde eu posso te meter? - Ela ameaçou de volta, e talvez fosse porque ela era casada com Taeyeon, uma detetive, talvez porque seu pai - biológico - fosse um chefe de máfia, mas a ameaça tinha soada tão verdadeira ao deixar seus lábios.
- Docinho. - O homem avançou e segurou seu rosto com força, com uma única mão. - Você me entrega a menina, e eu não machuco você.
Tiffany estava assustada. Ela sabia que tinha começado e ela não sabia como iria terminar. A mão pressionava de forma dolorida e ela segurou o punho do homem com força. Mesmo em desvantagem, mesmo sendo menor... - Nunca. - Ela não cedeu. Em vez disso, ela levantou uma mão e com toda força que conseguiu juntar tapeou o rosto do homem. As unhas desceram com força na pele do rosto dele.
Ele a soltou imediatamente com um empurrão, e desorientada ela bateu a cabeça em uma... no que tinha sido? Na quina de alguma escultura que estava na estante? Sim, porque agora ela estava espatifada no chão. Sua testa estava cortada, ela sabia.
Irritado, o homem avançou para ela novamente, e sem tempo de se recuperar, mas ainda assim não retrocedendo, ela não facilitou em nada. Um braço forte a prendeu na parede oposta, o impacto expulsou o ar dos pulmões e ela mal conseguia respirar. Ele pressionou seu corpo contra o dela, o suficiente para neutralizar qualquer movimento, mas o forte o bastante para enfraquecê-la.
- Me deixa ser bem claro, docinho. Seu QI é bem alto, não é? Acho que você vai entender. Você me entrega a menina, e eu não machuco você. Você continua com isso, e sua mulher vai chorar sobre seu corpo.
Tiffany pensou em Taeyeon. A detetive jamais cederia. Ela não entregaria Irene também. Ela balançou a cabeça em negativo, e a falta de ar nos pulmões dificultava cada movimento. Ela murmurou alguma coisa inaudível, e ele sorriu.
- Quer tentar de novo, bonequinha?
Ela balançou a cabeça e olhou para baixo. Ele desapertou o corpo dela, rindo uma risada sombria. Ela pegou uma golfada de ar e murmurou de novo.
- Nós cuidamos uma das outras. - Ela disse mais para ela do que para ele. Ela nunca soube se foram as palavras, ela se perguntou durante um bom tempo o que teria acontecido se ela jamais tivesse dito, porque logo em seguida...
- NÃO MACHUCA MINHA FANY! - A voz de Irene preencheu todo o quarto, furiosa, indignada. Algo atingiu as costas do homem e se partiu em mil cacos no chão.
Irene tinha saído do armário. Irene tinha tacado algo nele. Irene estava tentando proteger Tiffany.
- Não! - Tiffany gritou desesperada, desconsolada. Por que Irene tinha saído? Ele iria pegar a menina, ele iria levá-la para Deus sabe aonde e ela jamais iria vê-la novamente. - Não! - E de novo, porque ela tinha sido atingida por mil facadas e o corpo doía terrivelmente. E lágrimas quentes escapavam de seus olhos. Toda força fora extraída de seu corpo. Todo controle de suas emoções tinha se dissolvido em medo.
Ela viu o sorriso maligno se formando no rosto do homem. Ela viu quando ele lançou um olhar vitorioso para ela que tinha sido derrotada. Ela notou, entre seu imenso desespero, o descuidado dele. Ela agiu por impulso. Chutou o meio de suas pernas com toda força que lhe restava - que ela nem sabia se era muita. Pego de surpresa, o chute lhe causou imensa dor e Tiffany se desviou para chegar até Irene. Ela empurrou o homem para ganhar tempo e se apressou em direção a menina.
Proteja Irene. Corra, Tiffany, corra!
Ela esticou os braços para alcançá-la e Irene fez o mesmo, mas no momento em que seus dedos se tocaram, o homem ergueu Tiffany do chão, pela cintura.
- Não! - Ela gritou de novo, e naquele momento qualquer esperança tinha sido substituída pelo mais puro terror. Ela tentou se soltar, mas foi em vão. Ele a virou com força - com força – e jogou seu corpo magro contra o armário. A dor ecoou pelo corpo inteiro e sua visão escureceu por uns instantes. As costelas tinham atingido com força o armário de madeira... a maçaneta da porta. Ela soltou um gemido de dor e o corpo despencou no chão. O movimento causou uma nova onda de dor e ela trincou os dentes para abafar o som que estava prestes a sair de sua boca, mas em vão. Deus.
Ela esticou um braço para Irene, porque a menina ainda estava fora de alcance. - CORRA! - Ela gritou, o pulmão queimando em protesto. Para seu horror, a menina correu.
Em sua direção.
- Não... - Ela murmurou quando Irene a abraçou. Ela estava machucada. As costas doíam insuportavelmente, seu braço doía e ela não tinha certeza do motivo. Irene abraçou seu pescoço e depois passou os braços em sua cabeça, como se em proteção.
- Irene, não... - Tiffany passou um braço em volta do corpo da menina e chorou. Ela havia perdido a batalha. Ela não se importaria em ser encontrada morta ali. Mas Irene... Ela não conseguiria viver sabendo que a menina tinha sido levada às suas custas. O que aconteceria com ela? Seria vendida? Seria abusada? Seria morta, torturada?
- Não. - Ela murmurou de novo e apertou o braço com força na cintura da criança.
- Mo-mo-mo-mommy. - A menina respirava fundo e choramingava, mas mantinha o abraço firme, se negando soltá-la. Protegendo-a.
E a sequência de eventos ocorreu tão rápida quanto a anterior.
Alguém havia arrombado a porta do andar de baixo. Por um minuto os três ficaram confusos com o barulho, até que...
- Tiffany? - A voz de Sooyoung soou alta e insegura.
- Sooyoung! - Ela gritou do quarto e viu o rosto do homem de contorcer em confusão. Ele avançou para agarrar Irene mas Tiffany a abraçou com força. - Não! - E agora ela estava furiosa. - SOOYOUNG! - Ela gritou mais alto e ignorou a dor nos pulmões. Esse homem estava enrascado. Sem chances, ele seria preso. Taeyeon o esfolaria se tivesse a chance.
Ou Tiffany pensou. Quando os passos se tornaram altos na escada, ele fez sua escolha. Andou apressado até a janela, a abriu e sem hesitar... pulou. Os arbustos amorteceram a queda e de alguma forma ele conseguiu fugir.
- Tiffany! - Sooyoung entrou de arma na mão e ela apontou para a janela. - Merda! – A mais alta se voltou para ela. - Ele fugiu!
- Loiro, - Ela disse enquanto Irene sentava em suas pernas - alto, c-com uma tatuagem no braço. Arranhei o rosto dele. - A médica disse rapidamente e Sunny que tinha entrado logo em seguida já estava passando o alerta para as patrulhas.
- Meu Deus, Tiffany. - Sooyoung se ajoelhou na frente da mulher. - Você tá machucada. - Não era uma pergunta. Ele apoiou a mão no joelho da morena enquanto ligava para Yoona. - Im, preciso de você na casa de Tiffany e Taeyeon. Agora. Traga um kit de primeiros socorros. - E ele desligou.
Irene chorava assustada no colo da mulher, e Tiffany tinha os braços em volta da menina. Ela apoiou seu queixo na cabeça pequena da criança e sussurrou qualquer conforto para ela, e somente minutos depois, quando Irene parou de soluçar, é que ela se dirigiu à Sooyoung.
- Ela tentou... Ela tentou me proteger, Sooyoung. - Ela engoliu o nó na garganta. - Eu disse para ela ficar no-no armário e, Deus... ela saiu porque achou que podia me proteger.
- Tiffany, vocês estão bem, ok? Ela tá bem. E nós vamos pegar ele. Eu prometo. - Ele apertou levemente o joelha da mulher, sabendo tão bem quanto ela que de agora em diante ela seria tratada como vítima. Yoona viria para recolher evidências.
- Sooyoung, você pode segurar ela? Ela não... Ele não encostou nela. - Tiffany pediu depois de beijar a cabeça de Irene.
- É claro. – A mais alta tentou segurar a menina, mas ela se encolheu.
- Irene, querida. Tudo bem. Você pode ir com a Soo? Você lembra dela, certo?
A menina balançou a cabeça em sim.
- Você foi tão corajosa, Irene. Você quase me matou do coração, mas você foi tão corajosa. Sooyoung é minha amiga, e sua amiga, e agora você não precisa se preocupar. Certo?
Os olhos castanhos encontraram os escuros dela. - Certo. - A menina murmurou e enxugou o rosto.
- Isso, ótimo. Eu amo você, tartaruguinha. - E Tiffany beijou a testa da menina.
Sooyoung a recolheu em seu colo e se sentou ao lado de Tiffany.
A morena respirou aliviada, livre da pressão do corpo da criança contra seu corpo dolorido. Agora com a mente mais calma, ela pensou em Taeyeon. A detetive iria armar uma cena, ela tinha certeza. Ela ouviu dois carros de patrulha para perto de sua casa. Tratariam aquele lugar como uma cena de crime. Tiffany odiava ser a pessoa que ela via todos os dias no trabalho - a pessoa desamparada, assustada, machucada. Ela fechou os olhos e desejou que Taeyeon estivesse ali com ela.
- Sooyoun, - A morena disse e as duas cabeças viraram para ela – Taeyeon não sabe. - E ela viu a cabeça da mulher balançando em entendimento.
- Vou avisar...
- Não. - Tiffany disse e balançou a cabeça. - Sunny. Ela sabe lidar com a fúria dela.
E Sooyoung não se sentiu nenhum pouco ofendida - era a mais pura verdade. Depois de Tiffany, a única pessoa capaz de acalmar a Kim era a Lee.
- Certo. Eu vou dizer para ela. - Sooyoung se levantou com a menina ainda no colo.
- Mommy. - A menina murmurou e apontou para Tiffany.
- Você se senta do meu lado, querida? - Tiffany perguntou esperançosa. Ela sabia que de qualquer forma a criança não ficaria longe dela.
- Sim. - A garotinha respondeu.
Sooyoung a colocou no chão e fez um gesto com a cabeça para Tiffany antes de sair. Ele parou na passagem da porta e conversava em voz baixa com Sunny. A mulher mais velha balançou a cabeça em afirmativo e colocou o celular na orelha. No mesmo instante que ela sumiu, alguns policiais entraram no quarto. Yoona foi a última a entrar e Tiffany se sentiu tão bem por ter a outra mulher perto de si - alguém amigável - que seus olhos se enxeram de lágrimas.
- Dra. Hwang. - Yoona disse, o tom preocupado não passou despercebido. - Eu sinto muito. - Ela olhou para Irene e ofereceu o sorriso mais gentil que conseguiu no momento. - Oi, Irene. - E a menina mordeu o dedo e olhou curiosa para ela.
Tiffany balançou a cabeça e a mulher tomou a mão da morena entre as suas, agora já com as luvas. Ela esperou um tempo em silêncio, o tempo que Tiffany precisava para entender que ela estava do seu lado, que ela realmente sentia muito, que ela se importava com Tiffany.
- Pronta? - A mulher perguntou dando o controle da situação para a morena.
Ela achou que jamais estaria pronta, agora que Yoona estava ali para começar o processo o ataque se tornava ainda mais real, e soava tão assustador quanto o momento da ação. Não, ela nunca estaria pronta, mas ela balançou a cabeça em sim, de qualquer forma.
1 note
·
View note
Text
Capítulo Vinte e cinco
O dia estava amanhecendo preguiçosamente, pela janela ela podia ver o azul escuro se dissipando nos raios da manhã, revelando um céu azul turquesa no processo. O vento frio soprou lá fora, levantando as últimas folhas secas do chão. Taeyeon rolou na cama e cuidadosamente colocou Tiffany em seus braços. A morena ainda dormia profundamente e o sono não tinha sido perturbado pelo movimento. Era algo costumeiro; levantar a cabeça devagar, apoiar em seu peito e depois virar o corpo da outra em sua direção. Taeyeon já tinha feito tantas vezes que o gesto era quase automático, e Tiffany muitas vezes colaborava em estado de sono mais leve, voltando a dormir tranquilamente em seguida.
A noite anterior tinha sido uma de comemoração, e Taeyeon não pôde deixar de comparar o contraste dos últimos meses. Todo sofrimento dela e de Tiffany em relação ao bebê, e depois somado à situação de Irene, e logo, em tão pouco tempo, a mudança que ela trazia. Os sorrisos matutinos, o companheirismo, o corpo fofo e quente da criança em seus braços. O rosto de Tiffany se iluminando quando Irene corria em sua direção. Fazia agora, um mês que a menina estava com elas. A tempestade tinha definitivamente passado, e o sol brilhava forte e caloroso.
O contato com o advogado horas antes do jantar, na noite anterior, tinha colocado o maior sorriso no rosto de Tiffany. Irene seria delas, agora era certo. Levaria mais um mês, no máximo dois, para a legalização dos documentos. Taeyeon sentiu pele primeira vez um dos benefícios de carregar o sobrenome “Hwang”. O juiz era um velho amigo do pai de Tiffany, e embora não tivessem tido contato durantes anos, ele havia ficado mais do que feliz em prestar um favor. É claro que isso só foi possível porque ambas tinham tudo o que precisavam para adotar uma criança: lar seguro, estabilidade financeira, família bem-estruturada. O sobrenome veio, na verdade, como uma garantia no processo de adoção.
Em poucas horas um grande jantar tinha sido preparado por Nawoon, e mesmo Irene que não entendia completamente o que elas estavam festejando - por que ela não poderia morar ali se não tivesse um pedaço de papel? - parecia satisfeita demais com a casa cheia. Uma ligação de Tiffany para a mãe, para agradecer o apoio dos pais, tinha deixado a menina ainda mais feliz. Em uma semana Yonghee estaria de volta, e Irene mal podia se conter de felicidade e empolgação.
- Halmoni! - Ela gritou da sala para a mulher que estava na cozinha. - Grandma chega semana que vem! - E todos voltaram o rosto para ela. Nenhuma delas - Yuri, Sunny e nem Sooyoung - tinham ouvido a menina chamar Nawoon de avó. A primeira vez tinha chocado Taeyeon também, mas conhecendo bem sua mãe, ela simplesmente revirou os olhos e riu em seguida. Agora a loira parecia orgulhosa demais estudando os rostos surpresos por causa de Irene, e Nawoon estava vívida pela cena. Por um minuto a garotinha pareceu tímida com todos os rostos encarando-a, mas tão logo ela encontrou o olhar de Tiffany - os olhos castanhos brilhando para ela - ela ergueu os braços e correu na direção da mulher, pulando em seu colo.
- Maravilhoso! - Nawoon exclamou para a menina de onde estava
- Isso não é ótimo? - Tiffany perguntou, arrumando a blusa da garotinha que tinha se levantado quando a segurou no ar.
- Mal posso esperar! - Ela abraçou a mulher. - Quanto tempo é uma semana?
Tiffany riu, divertida - São sete dias, Irene. O que significa que ela chega no próximo domingo.
- Passa logo? - A menina perguntou, ainda desorientada no tempo.
- Bem... - Tiffany deu de ombros. - Imagino que sim.
E então toda a comoção tinha se passado, e o jantar foi regado de risadas, e gestos singelos entre Taeyeon e Tiffany, e gargalhadas de Irene. No final todos estavam no sofá assistindo um filme, e a criança dormia sossegada nos braços de Taeyeon. Tinha sido uma noite leve, feliz e que havia deixado seus resquícios de doçura para ser lembrada na manhã seguinte - pelo resto da vida.
Como se num presságio, Irene abriu a porta do quarto e colocou a cabeça para dentro. Quando Taeyeon acenou com a mão, a menina contornou a cama e foi ao seu encontro. Ela escalou o colchão e Taeyeon a colocou de baixo do cobertor, e logo em seguida beijou sua cabeça.
- Bom dia, tartaruga. - Ela murmurou silenciosamente, já que tinha Tiffany encostada em seu peito.
- Dia. - A menina respondeu e sorriu para ela, devolvendo o beijo na bochecha. Depois ela se inclinou e beijou carinhosamente a bochecha da médica. De sobrancelhas franzidas, ela olhou intrigada de Tiffany, que dormia, para Taeyeon. - Muito cedo? - Ela inclinou a cabeça se referindo à morena.
- Muito vinho. - Taeyeon murmurou de volta e riu, tentando não chacoalhar, em vão, o peito.
- Vinho dá sono? - Ela perguntou para esclarecer enquanto se deitava de novo, apoiando a barriga ao lado do corpo de Taeyeon.
- Oh, sim. Bastante. - Ela abraçou a menina que apoiou a cabeça em seu ombro. Parecia ser tão certo ter as duas ali, enroscadas nela.
- Mais meia hora? - A menina murmurou, porque era sempre o que elas falavam para ela quando não queriam levantar logo tão cedo, “mais meia hora, Irene”, o que significava que ela tinha que, ou dormir, ou ficar em silêncio ali com elas.
- Sim, querida, meia hora. - Taeyeon acariciou seu corpo.
Irene descansou sua mão no rosto de Tiffany, e a morena instintivamente lançou o braço por cima de Taeyeon e apertou um abraço nas duas figuras, respirando fundo. Taeyeon reconhecia quão confortável era aquela situação, quão promissora aquela manhã estava sendo desde as promessas da noite passada. Era um novo dia, fresco, carregado por uma sensação de plenitude vinda de uma fonte que Taeyeon soube imediatamente identificar. Brotava da combinação de Tiffany em sua vida, vivendo e correspondendo o amor que a loira sentia por ela, e da chegada e estadia de Irene em seus corações. Não havia mais ameaças, Irene ficaria, e o incômodo da dúvida tinha sido varrido para fora na noite anterior. A menina era delas, e Taeyeon sentiu os olhos se encherem de água com o pensamento. Se Tiffany não estivesse dormindo, ela teria gritado de felicidade. Em vez disso, ela optou por beijar a cabeça de cada uma demoradamente. Sim, aquilo estava tão certo. Era tudo o que ela precisava: sua família dentro de seus braços, num encaixe que parecia ter sido meticulosamente talhado.
O corpo de Tiffany se juntava no dela numa combinação perfeita, do mesmo modo que o corpo pequeno de Irene se ajustava. Uma do lado esquerdo, a menor do direito. Elas eram como um quebra-cabeça mutável, onde as curvaturas e esquinas das peças se dobravam e estendiam, contraiam, de acordo com a necessidade da mudança de cada uma. Sempre mudando, sempre se adaptando - sempre conectadas.
De forma impecável e ideal.
...
O caso da mãe de Irene ainda permanecia aberto, e era uma pasta que Taeyeon jamais colocaria numa caixa de arquivo morto enquanto não o encerrasse. Por outro lado, o corpo da mulher tinha sido dispensado para o sepultamento depois de recolhido todas evidências possíveis. Mais uma semana tinha se passado desde o telefonema com o advogado, e Tiffany decidiu, junto com Taeyeon, que elas seriam responsáveis pelo velório da mulher. Era uma forma de honrar a memória da mãe da criança, que agora também era filha delas, e zelar pelo bem da própria menina.
Elas explicaram para Irene o que iria acontecer no dia anterior. A menina ouviu atentamente, com olhos estudiosos e marejados, mas ela não chorou. O caixão estava lacrado, pronto para ser abaixado, e ela não chorou. Ela não chorou quando jogou uma última rosa em cima dele e sussurrou “eu sinto tua falta” e viu a flor pousar levemente, respeitosamente lá em cima. De algum modo, mesmo para sua mente ainda infantil de criança, ela sabia que sua mãe estava em paz. Ela sentiria falta dela, para todo o sempre, mas agora já não era tão dolorido porquê...
- Ela vai estar aqui sempre, Irene. - Taeyeon disse enquanto acariciava seu rosto. Ela estava aninhada nos braços de Tiffany, e a loira estava logo ao lado. - Ela vai estar sempre aqui. - Taeyeon pressionou o indicador no peito da menina, em cima do coração - E ela pode te ouvir não importa aonde você esteja. Entende?
Irene balançou a cabeça em sim.
- E ela sempre vai cuidar de você. - Taeyeon sorriu gentilmente para ela.
- E de vocês, porque vocês são minhas e cuidam de mim. - E tinha sido tão firme e confiante que Taeyeon acreditou que sim, que agora de algum modo elas tinham a benção e a proteção de Bora para continuar com Irene. Tiffany abraçou a menina sem dizer uma palavra, não confiando na própria voz, e lançou um olhar marejado para Taeyeon.
Irene era capaz de fazer algo bonito das coisas mais tristes - da sua própria tristeza, da tristeza de Taeyeon e Tiffany. Ela era empenhada o suficiente para consertar a si mesma, e de quebra as duas mulheres.
Taeyeon balançou a cabeça em afirmativo para Tiffany e sinalizou para que elas retornassem, já que agora só restavam elas ali. Tiffany se virou para fazer o caminho até o carro, e Taeyeon, antes de segui-la colocou as mãos no bolso e encarou a lápide recém colocada.
Obrigada, Bora. Por mandar Irene para Tiffany, para mim. Por guiar nossos caminhos de volta uma à outra. Ela tem sido nosso raio de sol, e nos dias tempestuosos só basta olhar naqueles olhos azuis para saber que o céu... Deus, o céu existe. Eu sinto muito que isso tenha acontecido a você, e eu prometo que Irene será amada e cuidada da forma mais completa possível. Quer dizer, nós já a amamos tanto. Ela é pequena, ela é tão pequena - Taeyeon riu sozinha, balançando a cabeça enquanto se lembrava da menina se enroscando nela naquela mesma manhã, enquanto Tiffany tentava acordá-la - e mesmo assim, tem um espírito tão grande. Isso me faz pensar que ela só é extraordinária porque você foi uma ótima mãe para ela. E você vai continuar sendo, Bora. Nós não vamos deixar que ela te esqueça. Fique em paz, e...
Taeyeon suspirou fundo e olhou para trás. Tiffany tinha parado na distância, esperando por ela. O vento frio balançava o cabelo moreno e Irene balançava as pernas no colo de sua mulher. Ela sorriu e se virou de novo.
Nós também temos uma garotinha aí em cima. Um bebê, na verdade. Talvez se... se você puder dar uma olhada nela para gente?
Ela revirou os olhos. Desde quando tinha se tornado tão emocional? Se ela demorasse mais um minuto Tiffany ficaria impaciente e Irene irritada. Yonghee estava esperando no carro por um longo tempo agora, e talvez não fosse educado de sua parte deixá-la na espera. De qualquer forma, emocional ou não, ela sorriu e piscou os olhos uma última vez para a lápide antes de se virar e partir.
- Taeyeon! - Irene a chamou e esticou os braços, inclinando o corpo para frente. A loira a pegou no colo e beijou a bochecha fofa e vermelhinha por causa do frio. Em seguida, Irene apoiou a mão no seu peito e olhou com o cenho franzido em pensamento para ela, e então...
- Nós cuidamos uma da outra.
Taeyeon balançou a cabeça em sim, concentrada, e olhou para Tiffany. A morena deu de ombros, não tendo ideia de onde e porque a menina dissera isso.
- Certo, tartaruga. - Ela confirmou com a cabeça. - Nós cuidamos uma da outra.
E então ela não chorou porque sua mãe estava ali - em seu coração - e Tiffany estava ao seu lado, e Taeyeon a segurava forte num abraço. E a presença de todas elas era tão forte, tão real, que Irene sorriu para elas - para as três - e suspirou fundo ao olhar para o céu azul em cima de suas cabeças.
- Nós podemos ir para casa? - Ela balançou as pernas na cintura da loira.
- É claro. - Taeyeon disse e estendeu a mão para segurar na de Tiffany. - Vamos para casa. - Porquê de algum jeito a vida tinha se encarregado de juntar os fios soltos para continuar tecendo outras histórias.
...
Tiffany escutou o grito vindo da sala. Ela sentiu um calafrio percorrer o corpo a deixando em estado de alerta. Ela não tinha ideia do que poderia ser o motivo da menina ter gritado daquele jeito e, apressada, ela se virou rapidamente, fechando a geladeira e caminhando em direção ao som. Ela nem alcançou seu destino, descobrindo logo o motivo do barulho.
Irene bateu de novo as mãos no chão e gritou um “ah” mais curto dessa vez, e Ginger abaixou a parte dianteira do corpo no chão, a parte traseira inclinada com um rabo se movendo alegremente de um lado para outro. Depois das mãos da garotinha acertarem o carpete, o cachorrinho latiu uma vez em alegria e saiu correndo pela sala. Ele completou uma volta e parou em frente da menina de novo que agora ria desesperadamente. Irene inclinou o corpo para trás, e as mãos apoiadas no joelho estavam contraídas, assim como a barriga pelo esforço da risada. E depois de rir o suficiente, ela fez de novo: gritou, bateu as mãos no chão e observou enquanto Gingger disparava em torno da sala mais uma vez, e logo sem seguida parava em sua frente. Agora o cachorrinho batia as patas dianteiras no chão, como se pedindo por mais.
Tiffany se encostou na parede e observou a cena, se deliciando com a simplicidade e graça da menina. Um sorriso brincou em seus lábios quando a criança estendeu a mão para Ginger, que a lambeu abaixando as orelhas de forma que pareceu à Tiffany um agradecimento. Ele se afastou de novo, dando espaço para Irene e quando a menina insistiu na brincadeira, o cachorrinho correu mais uma vez, agora pulando no sofá, no chão e contornando a sala. Quando ela voltou, bateu as patas no peito de Irene e a garotinha inclinou a cabeça para trás, a gargalhada chacoalhando o corpo inteiro.
Tiffany se descobriu rindo também. Ela levou a mão na boca para abafar o som quando Ginger pulou em Irene de novo, e a criança rolou de costas para o chão e protestou com “Gingeeeeeeeeeeer”, esticando bem a vogal, levando as mãos ao rosto quando recebeu lambidas ali. E mais uma vez, rapidamente recuperada de uma crise de riso, Irene se levantou e Ginger já esperava por ela de novo, pulando de um lado para outro como se dissesse “você não me pega”.
Os olhos da menina se fecharam com o sorriso sapeca, e incansável, as mãos atingiram o chão depois de um curto grito, o animal correu furiosamente pela sala e a gargalhada encheu o ar. Ginger latiu. Tiffany riu e chacoalhou os ombros. E então aconteceu.
Os olhos castanhos da menina encontraram a mulher do outro lado da sala, quase escondida pelo ângulo da visão, e Irene inclinou sua cabeça para vê-la melhor. Tiffany se aproximou, agora que já tinha sido pega, de qualquer forma. Sorridente, ainda entre risadas e com Ginger a sua espera, a menina apontou para o animal e ergueu as sobrancelhas numa expressão de puro divertimento.
- Omma, olha! - Ela disse empolgada. Ela levantou as mãos no ar e o movimento parou por ali, logo quando ela percebeu o erro.
Tiffany também congelou, e ela só soube que não tinha se transformado numa estátua - como na história que lera para Irene na noite anterior - porque escutava seu coração bater fortemente em seu ouvido. Ela não tinha escutado errado, tinha sido alto e claro. E Irene parecia culpada demais, agora mordendo um dedo e encarando-a com seus grandes olhos castanhos, como se a espera de uma reprimenda.
- Oh. - A morena finamente conseguiu dizer, entendendo que o silêncio era a deixa para dizer o que quer que fosse. Mas antes de qualquer coisa, ela sorriu. Ela sorriu porque Irene não tinha ideia do quanto ela parecia adorável com aquele olhar de “estou encrencada”, e porque a menina tinha a chamado de mamãe. Era estranho porque Tiffany não esperava por isso, pelo menos não por agora - mas com certeza futuramente - e era doce pelo mesmo motivo. Bem, a quem ela queria enganar? Ela estava extremamente feliz. Ela amava a menina. Amava como sua cabeça descansava em seu ombro antes de dormir, como Irene corria de encontro a ela depois de um dia de trabalho, abraçando-a pelas pernas fortemente, amava seus bicos e suas caras feias para os legumes, amava os costumes que a menina tinha aprendido com Taeyeon - o jeito que dizia as palavras separadamente quando irritada, e o jeito carinhoso nas manhãs - amava tê-la enroscada na cintura quando estava cansada demais para andar durante os passeios, sua inteligência e o modo como observava o mundo à sua volta. E amava ser responsável por ela; Tiffany era a mãe dela. E agora ela estava sendo reconhecida como tal.
Sorrindo, ela dobrou os joelhos no chão e esticou as mãos para alcançar a menina. - Você pode me chamar de omma, você sabe... - Ela colocou uma mecha de cabelo escuro atrás da orelha de Irene. - Se você quiser, é claro, e se você achar que soa bem. - Ela encolheu os ombros. A menina parecia em conflito e ela pensou no que poderia ser. - Eu sei que você tem sua omma, mas...
- Halmoni disse que posso ter três. - Irene concluiu sabiamente.
Tiffany ergueu as sobrancelhas em surpresa. É claro que Nawoon sabia aproveitar uma oportunidade como ninguém, e é claro que a terceira mãe seria Taeyeon. - Oh, ela disse?
- Disse. - Ela apertou os olhos. - Isso pode? - Ela acreditava em Nawoon, mas precisava da confirmação de Tiffany.
- Sim, Nawoon tem razão. - Ela confirmou. - Irene, você se lembra daqueles papéis de que falávamos antes?
- Lembro, sim. - Ela balançou a cabeça em afirmativo.
- Certo. Aqueles papéis... Bem, eles garantem que você irá ficar comigo e com Taeyeon. E que nós somos as responsáveis por você agora, como... ommas.
- Para sempre?
Tiffany quase riu com a inocência da menina. Ela parecia mais preocupada com a promessa de eternidade do que com o título que aquilo acarretava.
- Sim, você vai ser nossa garotinha para sempre.
- Você é omma, Fany. - Ela disse, tímida. - Só pode ser. Você faz todas as coisas de omma.
Tiffany sorriu enquanto sentia os olhos encherem de lágrimas. - Oh, é mesmo? - Ela apoiou as mãos nos joelhos.
A menina imitou a mulher e se ajoelhou no chão também, mordendo os lábios. - Minha omma me colocava na cama e me contava histórias, me levava para passear com ela em qualquer lugar e... assistia desenhos comigo. E brincava comigo. E me obrigava a comer ervilhas. - Ela franziu o rosto em desgosto. - Mas me comprava sorvete também. E desenhava comigo! - Ela disse empolgada e depois olhou para Tiffany pensativa de novo. - Isso são coisas que todas ommas fazem, não são?
- Bem... - Tiffany mediu as palavras. Sua mãe realmente não tinha feito muito dessas coisas com ela, mas aquele era o parâmetro de comparação de Irene. – Sim. - Ela concordou - É isso que ommas fazem.
Irene deu de ombros, provando seu ponto. - Então você é uma. E Taeyeon também. E são minhas, não são?
São minhas, não são? Tiffany repetiu a última frase na cabeça e sorriu. Irene era possessiva e a morena se perguntou como ela reagiria com a notícia de ter um irmão, ou irmã. - Sim, Irene. Nós somos suas ommas agora. Para sempre. - Ela adicionou porque se lembrou que isso parecia ser tão importante para a criança.
A menina sorriu e pulou no colo de Tiffany, que a segurou e beijou sua bochecha quantas vezes achou necessário. - Três ommas! - A menina riu nos braços e Tiffany e jogou a cabeça para cima para olhá-la. - Isso significa que vou poder comer sorvete duas vezes! - Ela disse pensativa e Tiffany riu.
- Não, não mesmo. A quantidade de sorvete permanece igual. Boa tentativa. - Tiffany riu e se sentou no chão, segurando a criança em seus braços.
- Caramba, achei que ia colar.
E o comentário fez a morena rir mais ainda. Era uma frase tão típica de Taeyeon que o coração se inflou de um jeito singular, e algo quente e macio dentro de si a fez sorrir. Tiffany se perguntou como tinha sido possível viver sem Irene e Taeyeon antes. Aquela menina podia não ter vindo de nenhuma delas, mas estava se tornando claramente uma cópia da loira. No humor, nas falas, no jeito com as pessoas. E Tiffany Hwang, aquela que era filha de sua mãe, jamais sentaria no chão de uma sala - nem quando pequena, quem dirá agora grande - e mesmo isso Irene tinha conseguido mudar.
- Fany, como você vai saber que eu estou falando com você e não com a Taeyeon? – A menina perguntou com um semblante confuso no rosto. Ela não havia pensado nisso antes, ter duas mães significava chamar as duas igualmente, mas isso confundia a cabeça da mais nova.
Tiffany segurou o riso, ela queria apertar muito as bochechas de Irene naquele momento. – Você pode me chamar de ‘mom’. – A morena respondeu com um eye-smile.
- Mom?
- É assim que as ommas são chamadas de onde eu venho. – A menina abriu a boca em ‘O’ como se tivesse solucionado um mistério em sua mente.
- Então você é minha mom e Taeyeon é minha omma. – Os olhos castanhos brilhavam para Tiffany.
- Isso mesmo, meu amor. E quer saber? Vamos nos arrumar e esperar Taeyeon chegar, e então nós podemos ir no parque.
Irene piscou os olhos para ela.
- Naquele parque. - E ela ergueu as sobrancelhas de um jeito sugestivo e Irene agarrou seus ombros em empolgação.
- Você tá falando sério? - Ela se levantou, ainda se segurando na mulher.
- Sim.
E a menina levantou os braços e saiu correndo pela casa, gritando. Tiffany a perseguiria por cinco minutos até conseguir alcança-la, mas tudo bem. Era tudo o que ela sempre quis, afinal.
...
- Pipoca, pipoca, pipoca! - A menina repetia incansavelmente enquanto Taeyeon entregava o saco de pipoca para ela. Ela já tinha andado em todos os brinquedos que sua idade permitia. A pequena montanha-russa para crianças - mas que parecia terrivelmente alta para ela, a xícara que rodava e só rodava durante alguns minutos, os carrinhos bate-bate - ok, não era de criança, mas como Taeyeon iria naquilo sem a desculpa de ser para Irene?, o trem fantasma que não era nada assustador, mas que deixou Irene em estado catatônico depois do primeiro minuto que saiu de lá, e que logo foi recuperado pela roda-gigante que era realmente alta, e que entregou uma Irene saltitante e feliz de volta ao chão.
Faziam duas horas que ela estavam ali, andando, rindo e conversando. Era domingo, mais uma vez, e agora todas as tardes desse dia eram preenchidas com atividades fora de casa. Até enquanto o inverno permitisse, pelo menos. Agora que Irene caminhava com um braço segurando o saco e a outra mão ocupada, cheia de pipoca, o cuidado tinha que ser redobrado. As duas mulheres caminhavam lado a lado, cuidando da direção que a menina tomava. Ela andava distraída, realmente concentrada na pipoca que estava comendo.
Pipoca, aliás, que Tiffany achava ser inapropriada depois de dois picolés, um refrigerante e meio cachorro-quente (Taeyeon comeu a outra metade). Tudo isso, em duas horas. Toda essa comida entre as voltas nos brinquedos. Mas era domingo, e Irene parecia feliz demais ali, e era difícil de argumentar enquanto Taeyeon sorria para ela daquele jeito que a desarmava. Não era justo, as duas se unindo contra ela. E porque era domingo, porque era o dia que estava destinado à diversão (o que incluí permissão para comer coisas deliciosas e gordurosas, Fany-ah!, disse Taeyeon) ela não iria se aborrecer com isso.
A loira apontou uma árvore grande, perto do local aonde estavam passando, e Tiffany alcançou Irene com os braços e indicou o lugar para ela. As três se sentaram lá em baixo, descansando as pernas depois de andarem por tanto tempo. Irene sentou no meio das pernas de Taeyeon e apoiou as costas em sua barriga. A loira beijou sua cabeça e roubou uma pipoca do saquinho.
- Fome? - Ela ofereceu para Tiffany, que revirou os olhos em reprovação.
- Não, obrigada. - Ela se encostou na árvore e observou a roda-gigante, funcionando ao longe.
- Irene, você sabe que Tiffany tem medo de fantasmas? Por isso ela não quis ir no trem com você. - Ela mastigou a pipoca, enquanto tentava suprimir um sorriso.
- Isso não é verdade! - A morena se defendeu, endireitando a coluna. - Fantasmas não existem, Taeyeon, você sabe disso, logo não existe razão para temê-los.
A menina trocou um olhar significativo com Taeyeon - um gesto que ela tinha aprendido com a loira - e as duas riram em seguida. Tiffany caía tão facilmente nas provocações das duas. Ela revirou os olhos, mas acabou rindo também.
- Acabou a pipoca. - A menina anunciou, embora continuasse a pressionar o dedo e lamber o sal que havia sobrado lá de dentro.
- Lixo no lixo, tartaruga. - A loira disse enquanto apontava para uma lata, a direita e não muito distante delas.
- Ok. - Irene se levantou, andou até lá e arremessou o saquinho de papel - que havia transformado numa bola - direto na lata. Ela ergueu as mãos em comemoração, procurando o olhar de Taeyeon e a loira sorriu para ela, e acenou com a mão para que voltasse. Determinada a seguir sua direção, Irene apressou o passo e ignorou o resto em sua volta.
E trombou com um guarda local. Taeyeon estava pronta para se levantar e resgatá-la, quando Tiffany segurou seu braço, impedindo-a de fazê-lo. Ela estava perto demais, não havia necessidade. As duas observavam enquanto Irene se endireitava e olhava para cima, para o rosto do homem.
- Desculpa, não te vi. - Os dois disseram em uníssono.
Ela mordeu o lábio e sorriu. - Tudo bem, não foi nada.
O policial, gentil, sorriu também e se curvou um pouco para baixo. - Você não se perdeu de seus pais, se perdeu?
- Não, minhas ommas estão logo ali. - Ela apontou para as mulheres que sorriram para ela. - Minha omma é policial igual você.
- É mesmo? - Ele parecia mais divertido do que interessado.
- É. E minha outra mom é médica.
As duas mulheres se entreolharam e sorriram orgulhosas. Era a primeira vez que a menina tinha apresentado elas como suas mães.
- Legal! Você tem duas heroínas, então.
- Três. - Ela disse rapidamente.
- Três? - Ele pareceu intrigado.
- Três, mas é uma longa história e eu preciso ir. Adeus! - Ela balançou a mão e saiu apressada em direção as mulheres, logo depois que o guarda acenou também. Quando ela parou, mais uma vez em frente das duas, os lábios se transformaram num círculo. – Ooooooh - Ela disse encantada. - Carrossel! Posso ir? - Ela apontou para o brinquedo atrás de Taeyeon.
- O que você quiser. - A loira deu de ombros e Tiffany já estava se levantando.
Mãos pequenas nas mãos de suas mães. Elas caminharam até o brinquedo e esperaram na fila, até a vez da menina. Irene dava pequenos pulinhos até que Taeyeon a ajudou a subir num dos cavalos.
- Unicórnios! - A menina a corrigiu, ainda mais empolgada.
- Não solta. - Taeyeon a instruiu.
- Não vou. - Ela prometeu. Mas não cumpriu completamente. A cada volta que ela completava, ela erguia uma mão e gritava para Taeyeon “Ommaaaaaaa”, e ria loucamente.
E Taeyeon nunca sorriu com tanta vontade. Os olhos negros brilharam e a mão ergueu em sua própria vontade para acenar para a garotinha. Sim, a garotinha dela. Sua filha.
E de novo. “Mooooooom.” E Taeyeon riu, e Irene chamava tanta atenção com sua gargalhada que algumas pessoas olhavam para ela, e depois para Taeyeon e Tiffany. As duas estavam em êxtase. Bem, as três estavam, mas Irene não tinha ideia daquilo que estava causando nas mulheres. Tiffany tinha tirado uma foto com o celular, e tinha ficado cômica. A menina com um braço estendido, a boca aberta em risada e os olhos espremidos. Um retrato da felicidade.
Quando a volta acabou, a menina correu para elas e abraçou a perna de Taeyeon. - Isso foi tão divertido! Você viu, você viu? - Ela perguntou para Tiffany. A mulher balançou a cabeça em sim, e tomou sua mão.
- É claro que eu vi. Você quer ir em outro brinquedo?
- Sim, sim, sim! - Ela saiu saltitante na frente das duas, tentando decidir qual seria o próximo brinquedo. De repente ela parou e pareceu cansada demais.
- Irene? - Tiffany chamou, parando também. - O que foi, querida?
E a menina deu um passo à frente e se curvou, e vomitou tudo o que tinha comido na última hora.
- Oh, não. - Tiffany murmurou e colocou a mão nas costas da criança que tossia. - Oh, Irene... - Ela lamentou, sabendo que depois disso viria...
O choro. A menina abriu a boca, completamente entristecida e chateada, e chorou dolorosamente porque estava tão feliz até então, e aquilo deveria durar.
- Comida e brinquedos? Acho que não foi uma boa combinação. - Taeyeon disse olhando para Tiffany, arrependida. A morena balançou a cabeça com uma expressão de “eu te avisei”.
A médica se curvou e segurou a cintura da menina para pegá-la no colo, mas o esforço do choro lhe causou ânsia, mais uma vez. Tiffany esperou até que ela terminasse e limpou a boca da criança com a pequena blusa que segurava nas mãos. - Tá tudo bem, querida. Você não está realmente doente.
- Mommy. - Irene choramingou e ergueu os braços para Tiffany. Fim da festa.
- Tá tudo bem. - A morena a ergueu do chão e beijou sua cabeça.
Irene se aninhou em seus braços. - O unicórnio. - Ela insistiu entre o choro. Aparentemente era divertido demais para ser posto de lado.
- Outro dia, meu amor. Outro dia você volta. - Tiffany disse acariciando suas costas.
- O-o-omma. - Ela esticou o braço para Taeyeon, implorando, mas dessa vez nem mesmo a loira podia ficar de seu lado. A criança parecia esgotada, e não era apenas por causa do episódio do enjoo. Elas já estavam lá há muito tempo agora, e ela só tinha seis anos. Tinha sido o suficiente - um pouco demais - e já era hora mesmo de voltar para casa e dormir um pouco. Sim, era disso que a menina precisava agora: descanso.
- Sinto muito, tartaruga. Hora de voltar para casa.
E a menina curvou os lábios para baixo e os olhos castanhos se encheram de lágrimas. Se Taeyeon não a conhecesse tão bem... Mas imediatamente ela identificou o começo da irritação que a garotinha sentia quando estava cansada demais. Os sinais estavam se mostrando. O choro, a cara feia. Ela sabia. Ela sabia tão bem quanto Tiffany sabia, porque aquela garotinha... Aquela garotinha era filha delas.
2 notes
·
View notes
Text
Capítulo Vinte e quatro
O jeito como os fios de cabelo de Tiffany deslizavam por seus dedos, lentamente. Finos, macios, um pouco mais claro por causa do sol nascente. A forma como sua mão cicatrizada descia e subia sobre o peito da morena, constante e regularmente, enquanto a médica respirava tranquilamente o ar novo da manhã. O modo como a cabeça dela se inclinava involuntariamente para o seu lado, como se Taeyeon tivesse uma força invisível que a atraísse, mesmo em sono profundo. O momento silencioso trazia paz. Era como se ela estivesse em uma bolha, deslocada da realidade, do mundo.
A loira segurou a mão de sua mulher e correu o polegar pela aliança. Tiffany era dela. Bem, não era dela, porque Tiffany não era nenhuma propriedade; ela simplesmente escolhera passar o resto da vida ao seu lado. E às vezes Taeyeon nem acreditava na sorte que tinha. Ela não viu nada daquilo acontecendo: não se viu apaixonar por Tiffany, não notou em que momento passou a aceitar sem brigas o sentimento, não notou, tão pouco, que Tiffany estava apaixonada por ela também. Por isso, quando a médica tinha pedido aquele beijo - o que as uniu para sempre - Taeyeon tinha ficado surpresa. Afinal, quais eram as chances de Tiffany estar na dela? Aparentemente, Taeyeon era uma ótima detetive quando não se tratava de sua vida pessoal. De uma forma ou de outra ela ficara maravilhada quando as duas decidiram assumir o namoro. Era um passo grande, algo que significava que a relação das duas estava tomando um rumo sério. Mas nada a tinha deixado tão feliz até aquela manhã...
Elas já estavam juntas por sete meses. Oficialmente juntas. É verdade que muitas coisas permaneciam iguais: os encontros, a estadia dela na casa de Tiffany, os gestos e toques de antes, os olhares e os sorrisos. Assumir aquilo que sentiam pela outra tinha adicionado uma nova coisa ao meio dessas: sexo. E depois de meses juntas, Taeyeon se sentia completamente à vontade com a morena. Naquela noite Tiffany tinha sugerido algo novo: strap-on. Taeyeon pareceu hesitar a princípio, mas no fundo a ideia a excitava, principalmente quando se lembrou de que aquilo era via para outras posições. É claro, tudo tinha sido um tanto quanto desajeitado e cuidadoso da primeira vez, sobretudo por causa do medo de machucar Tiffany. Mas Taeyeon aprendia rápido, e o fato de não irem trabalhar no dia seguinte implicava numa noite longa e cheia de amor - e desejo.
Taeyeon conhecia aquele corpo. Conhecia tão bem como a palma de sua mão, cada curva, cada pico, cada ponto sensível. Ela poderia ter Tiffany implorando por ela, mas em vez disso, ela preferia oferecer. Ela estava viciada na mulher, em seu cheiro, em seu gosto, em sua voz. E como qualquer outra droga, ela sempre queria por mais. O strap-on naquela noite tinha elevado o sexo a outro nível, e Taeyeon queria repetir as ações, as sensações, os movimentos.
Foi no ponto onde a madrugada se transformava em dia, durante o terceiro ato, que Taeyeon se deu conta de que aquilo que começaram era um círculo vicioso, interminável. Seu corpo estava cansado em um ponto que consideraria minimamente dolorido, mas ela precisava fazer aquilo mais uma vez. O corpo quente e também cansado de Tiffany estava guardado entre seus braços, e ela beijou sua nuca com carinho, tirando-a do sono leve em que se encontrava. Nenhuma palavra foi dita. A morena entendeu a demanda de Taeyeon e deitou de barriga para baixo na cama.
Taeyeon sorriu em malícia com a posição sugestiva de Tiffany. Ela deslizou os lábios da nuca para as costas da mulher, uma mão seguindo o movimento, traçando padrões com os dedos que queimavam a pele. A pele branca da morena estava marcada. Taeyeon a tinha arranhado das outras vezes? Ela não se lembrava, mas as marcas rosadas estavam lá e ela não conseguia imaginar de que outra forma elas tinham ido parar ali, senão pela força de seus próprios dedos. Ela depositou beijos seguindo a linha da coluna e parou a centímetros de seu quadril. Ela plantou um beijo demorado ali, no mesmo momento em que sua mão deslizou para parte interna das pernas. Tiffany inclinou o quadril para cima, permitindo que a mão de Taeyeon alcançasse sem dificuldade o destino final.
Ela gemeu em antecipação quando sentiu a mão da loira tocar-lhe o sexo, mas em provocação Taeyeon estava correndo os dedos entre os lábios, para cima e para baixo, como se espalhando o líquido que começava a se acumular ali, mais uma vez. Quando a morena tentou se virar, Taeyeon a manteve no lugar com uma única mão pressionada nas costas, e Tiffany gemeu em surpresa e prazer quando dedos a penetraram. Ela apertou o lençol com as mãos e respirou fundo. A loira estava provocando, os dedos deslizando para frente e para trás num ritmo lento demais para o gosto de Tiffany, e ela não conseguia evitar de se contorcer, pedindo por mais. Quando dedos abandonaram seu corpo, Tiffany sentiu uma falta terrível de Taeyeon, mas o sentimento logo foi substituído por uma onda de excitação quando, depois de plantar novos beijos em suas costas, a voz da loira soou roucamente em seu ouvido.
- De joelhos. - Taeyeon disse e lhe beijou a nuca antes de ela mesma se ajoelhar entre as pernas de Tiffany.
Obediente, a médica ajoelhou-se e arfou quando a loira passou as mãos pela sua barriga, obrigando-a a endireitar a postura. Tiffany encostou-se no peito da mulher e recebeu cada beijo colocado no seu pescoço, e virou o rosto apenas o suficiente para beijar os lábios da loira. Um gemido ecoou na boca de Taeyeon quando ela apertou seus seios, e os lábios da detetive voltaram a descer pelo seu pescoço, por uma busca minuciosa por pele não tocada, por curvas não exploradas.
Um arrepio correu por suas costas quando a mão quente da loira pousou ali, pressionando-a sugestivamente para frente. As mãos da morena apoiaram no macio da cama e o seu rosto se voltou para Taeyeon. Os olhares se cruzaram e Tiffany mordeu os lábios em excitação e apreensão. Elas nunca tinham feito desse jeito, ela estaria mais exposta do que nunca. Entretanto, sua confiança em Taeyeon era maior. Os olhos escuros como a noite emitiam desejo, e também um tipo sereno de amor. Aquela mulher tomaria conta dela. Ela piscou os olhos para dispensar a hesitação e sorriu para Taeyeon - um sorriso maroto, permissivo. Quando a detetive segurou sua cintura, ela empurrou o quadril para trás, provocativa.
Taeyeon mordeu o lábio e apertou os dedos na cintura da morena. Os dedos de uma mão só, já que a outra agora estava inadvertidamente pressionando contra o sexo inchado da morena. Tiffany gemeu baixo e fechou os olhos. Ela dançou o quadril na mão de Taeyeon, porque afinal de contas ela também sabia provocar, e o gemido vindo da outra mulher - rouco, carregado de excitação - só fez aumentar a umidade entre as pernas.
E Taeyeon soube que era a deixa. A loira sentia o coração bater acelerado no peito e o meio das pernas queimar. Em várias ocasiões, antes de se envolver com Tiffany, ela havia se perguntado como a morena era na cama. Em tão poucas ela se permitira imaginar tendo relações com a mulher, mas em nenhuma delas ela se imaginou usando um strap-on. Penetrando-a por trás.
Era excitante. Era algo ousado que ela não tinha cogitado antes, e se ela não estivesse tão excitada teria, quem sabe, ficado surpresa com a própria iniciativa. Mas agora tudo o que ela conseguia focar era em Tiffany em sua frente, dobrada de joelhos, respirando fundo e esperando...
Até que a espera tinha sido interrompida, e a interrupção fora anunciada por um gemido de prazer, de surpresa. Tiffany apertou o lençol com as mãos enquanto sentia Taeyeon preenchendo seu sexo, e o simples ato disparou uma onda de prazer que percorreu em abundância pelo seu corpo. Os músculos se tencionaram por vontade própria, e o ar foi expulso de seus pulmões em formato de alívio quando a voz rouca de Taeyeon ecoou em seu ouvido.
- Tae. - A voz era grave e cheia de pedidos.
A loira esperou tempo suficiente para que o sexo de Tiffany se acostumasse e apenas depois começou a mexer o corpo lentamente para frente e para trás. Os músculos ardiam em protesto à quantidade de exercícios repetidos durante a noite, mas a queimação se transformava em prazer. A sensação era avassaladora, despertava sentidos e sensações em lugares que Taeyeon jamais tinha conhecido antes. A mistura de poder, de prazer, de dominância era apenas medida pelo lembrete de que se ela perdesse a cabeça, Tiffany sairia machucada. Ainda assim, a sensação era poderosa demais, lançava pulsos de prazer em cada investida, e a mistura de gemidos - seus e de Tiffany - combinados com a sensação da tira do strap-on roçando em seu clitóris e pressionando a cada encontro com o corpo de Tiffany, sobrecarregava Taeyeon com aquele tipo de energia que deve ser aliviada, que só pode ser aliviada através de um orgasmo.
A dança dos corpos era ritmada e seguia como se tivesse sido ensaiada, e o corpo de Tiffany se balançava para frente e para trás, comandado pelo corpo de Taeyeon, enquanto as mãos da loira se certificavam de mantê-las próximas, conectadas. Tiffany se rendeu a sensação causada por algo que mal podia processar. Poderia ser o gesto possessivo da loira que segurava com força seu corpo, poderia ser a voz rouca brotando da garganta, poderia ser o fato de Taeyeon estar, literal e metaforicamente, completando-a. Em cada vez que seus corpos se encontravam, em cada vez que o som da voz da loira corria pelo seu corpo. Taeyeon em seus pensamentos, Taeyeon em tudo que ela sentia. Em corpo, em mente. A loira segurava tão possessivamente, fortemente seu corpo que Tiffany tinha certeza que deixaria marcas ali. E ela já não tinha deixado de qualquer forma? Em suas costas, em corpo? O cheiro de Taeyeon em sua pele, o gosto da loira em sua boca. Taeyeon completamente dentro de si, Taeyeon por toda parte do seu corpo, em cada milímetro de sua pele. Taeyeon, Tae, Taetae.
Tiffany gemeu, tentando não ceder à energia poderosa que ameaçava dominar seu corpo, e o som de sua voz só fez eclodir com força imensa e incontrolável o orgasmo que Taeyeon sabia, não demoraria muito a acontecer. Seu corpo tremeu e a sensação só fez estimular movimentos mais rápidos, sedentos, e num último instante de controle a loira jogou a cabeça para trás enquanto cerrava os dentes e se entregava ao domínio da sensação. O único som que escapou de sua boca, um gemido rouco e longo, quase gutural, foi o último est��mulo que Tiffany precisava.
O próprio quadril se remexeu pela busca de prazer enquanto Taeyeon havia por uns instantes sido paralisada e Tiffany protestou em exigência chamando por seu nome. Ainda não completamente recuperada a loira voltou a investir contra a mulher, suas mãos buscando furiosamente pelo quadril, cintura da morena. Não demorou muito. O corpo da mulher tremeu sob seu toque, suas mãos, e os gemidos de Tiffany eram a mais viciante melodia e Taeyeon queria mais e tinha meios para consegui-los. Mesmo após o choque principal, o som baixo continuava soando incessantemente enquanto Taeyeon movia o quadril lentamente, até parar por completo. A loira se curvou para frente e beijou as costas da morena, e Taeyeon endireitou a postura e se afastou com cuidado dela.
Cansada, Tiffany repousou o corpo na cama e esticou as pernas entre as de Taeyeon. A loira apoiou as mãos no colchão e beijou sua nuca, duas, três vezes, sem pressa. Ambas respiravam pesado, e Tiffany tinha os olhos fechados e a boca entre aberta, ainda numa expressão de prazer. Taeyeon sorriu em malícia. Aquela mulher... Ela poderia fazer isso todas as noites, sem se cansar. Ela poderia tê-la ali, ajoelhada em sua frente, quando quisesse. E Tiffany parecia agora esgotada, mas era por causa dela. Taeyeon se sentia poderosa, e ainda que fosse apenas pelo motivo de Tiffany permiti-la - ela jamais tomaria a mulher assim sem consentimento - ainda assim a sensação tava lá.
A loira se livrou das tirar do strap-on e enquanto o fazia Tiffany havia se virado para observá-la. A língua umedeceu os lábios secos por causa da respiração forte e pesada de antes, e ela esticou a mão como se convidando Taeyeon de volta ao seus cuidados. A loira simplesmente se inclinou para frente e sentiu os braços delicados abraçando seu corpo. Ela amava como Tiffany a abraçava depois do sexo. Ela amava o modo como a morena conseguia dividir com ela o mesmo ato, ora em amor, ora em sexo. E como o coração batia forte e ainda assim tão macio em seu peito.
Ela segurou o rosto da morena e beijou os lábios vermelhos que pareciam tão macios nos seus com amor. Ela amava Tiffany, e seus toques, e suas cores, e seus sabores. O seu cheiro doce, o cheiro da excitação misturado com seu perfume. Os olhos castanhos que ficavam negros quando carregados de intensidade - como agora.
A loira riu e sua voz soou rouca ao próprio ouvido. - Deus... Strap-on: melhor ideia de todos os tempos.
Tiffany riu em resposta e os olhos se fecharam em uma meia lua. - Não sei se Deus aprova isso. - Ela rebateu.
- Eu certamente aprovo. - Ela roubou um beijo da morena. - Você... Caramba, você é maravilhosa, Fany-ah.
- Você não fica muito atrás. - Ela riu em seguida.
- Oh, é mesmo? Bom saber. - Taeyeon apertou o corpo da morena e beijou sua bochecha e roçou o nariz em seu rosto num gesto carinhoso.
Tiffany se limitou a rir, sentindo o corpo pesado com o cansaço. Ela manteve os olhos fechados enquanto sentia os lábios de Taeyeon roçar de vez em quando em sua pele, no seu pescoço, em seu peito. Era o reconhecimento que a loira fazia sempre, distribuindo beijos aqui e ali antes de ninar Tiffany para o sono.
A loira se remexeu na cama e se afastou o suficiente para estudar a morena. Ela memorizou cada traço do rosto, as curvas dos lábios, os movimentos sutis dos olhos e sobrancelhas.
Tiffany sorriu em retorno e fechou os olhos quando mais uma vez, serena e em paz. Os olhos desceram pelo pescoço da morena e Taeyeon se atentou à linha fina e branca ali. A cicatriz que Siwon deixara no pescoço da morena era quase invisível, e ela estava se apagando cada vez mais e mais, assim como as memórias assustadoras que tantas vezes agarravam sua garganta como uma mão gelada, sufocante. Taeyeon deslizou o dedo ali e no momento em que a mulher virou o pescoço, como se tentando se safar da recordação, ela soube que era melhor recuar. As vezes a detetive ainda se sentia culpada por tê-la colocado em risco tantas vezes. O trabalho de Tiffany não estava diretamente relacionado com seu, e toda e cada vez que a morena sugeria ir em campo com ela, ela se lembrava da lâmina fina em seu pescoço, e não podia deixar de querer protegê-la. O risco que Tiffany corria por estar com ela tinha que ser compensado com proteção em dobro. O lugar onde estava agora, ali em seus braços, parecia perfeitamente seguro e ideal para mantê-la segura. Taeyeon jamais poderia deixar que ela se fosse, jamais permitiria que, sob sua proteção, algo de ruim acontecesse a ela - ela cuidaria de seu corpo, de seu espírito. Taeyeon sabia como fazê-la feliz. Ela se inclinou e beijou os lábios da morena, que pressionou os dela em resposta ainda de olhos fechados, e quando a morena se afastou para estudar seu rosto, ela viu as sobrancelhas da mulher se arquearem levemente, como se perguntasse o que vinha em seguida.
Taeyeon sorriu. Ela amava esses momentos de intimidade e calmaria com Tiffany. Eles eram tão sagrados e singulares que seria absolutamente irreverente de sua parte se não prestasse atenção neles. Os momentos que eram só dela, os gestos sutis que eram só dela e que só ela conhecia. O jeito como a morena respirava agora, cansada, e roçava os pés em sua canela era sinônimo de resistência ao sono que estava sentindo. Ela ficaria acordada até que Taeyeon a recolhesse nos braços, ou a abraçasse por trás e dissesse para dormir. E qual era o jeito mais rápido de fazê-la se entregar ao sono? Acariciar seu cabelo, especialmente com os dedos enroscados perto do couro cabeludo, se mexendo em qualquer ritmo lento. O jeito de recuperá-la de um pesadelo? Colocar o ouvido no peito da loira, assim as batidas a lembrariam de que Taeyeon era real, e o sonho não. Convencê-la de que precisava ficar em casa enquanto corria uma febre de quase quarenta graus? Ameaçar trocar os sapatos de caixa, ou simplesmente dizer que irá jogá-las fora (tinha funcionado uma única vez em que a médica ficara doente). Esses e tantos outros detalhes que só a morena sabia. E como ela não poderia notá-los?
Além disso, é claro, havia as pequenas coisas que somente Tiffany sabia sobre ela. A dor nas mãos em dias frios que era combatia com massagens. A mania de esfregá-las uma na outra em situações de estresse, algo que Tiffany a ajudava a reverter com conversas e carinhos. O modo como Tiffany a fazia se sentir segura em noites de pesadelos - algo que quase não acontecia mais - sem se sentir fraca e dependente. A confiança que Tiffany depositava nela quando se tratava de cuidar de seu corpo; Taeyeon se sentia tão poderosa nesses momentos. O fato de Tiffany adorar enfiar folhas verdes e frutas em sua alimentação, sempre insistindo num estilo de vida mais saudável, mas não se importando muito quando Taeyeon decidia comprar uma pizza ou apenas comer um lanche - porque ela sabia que Taeyeon amava as porcarias que comia. As vezes que Tiffany roubava suas batatas fritas, mas por pura implicância ela decidia provocá-la dizendo que se quisesse comer batatas fritas, que pedisse pelas próprias. A verdade é que Taeyeon adorava quando Tiffany roubava sua comida. Era ridículo, mas ela via o gesto como algo que casais faziam, e ela estava feliz com o lembrete de que aquela mulher era seu par. De alguma forma Tiffany sabia disso também, porque ela sempre esperava Taeyeon pedir por elas, ou pela sobremesa, por qualquer coisa que pudesse furtar em seguida.
Ela amava Tiffany, tinha amado desde muito tempo, e entendia naquele momento que não havia razão alguma para viver sem ela. Ela precisava da morena na sua vida. Das lições diárias tiradas de algum livro de história, biologia, de documentários da televisão. Do seu cheiro que invadia seu nariz todas as manhãs, do abraço macio e reconfortante, do seu gosto em sua boca.
A loira plantou um beijo leve em seu pescoço e outro em seu peito. Ela estava prestes a se deitar de lado e puxar Tiffany para si, quando sua atenção foi pega por uma pinta que havia no corpo da morena.
Taeyeon traçou o caminho até ela e passou o dedo como se testando se fosse verdade. Sim, estava ali e era realmente aquilo. Ela estava impressionada.
Tiffany se remexeu e segurou a nuca da loira. - Oh! - Ela sentiu um dedo pressionando de leve sua pele. - Fany... Esse é um coração!
A morena abriu os olhos e olhou para o peito, o lado direito sustentando o dedo de Taeyeon. Ela conferiu o formato e concordou com a cabeça, com sono demais para elaborar uma frase que fosse.
- Esse é meu também, Pany-ah? - Ela perguntou tímida, mas com um sorriso bobo nos lábios.
O olhar escuro da loira era tão intenso que por um minuto Tiffany só soube da existência dela. Ela balançou a cabeça em sim e os lábios se desenharam a curta palavra. - Os dois são teu, Taetae. E eu sou tua também. - Ela disse em seguida, enquanto sua mão acariciava gentilmente a bochecha da detetive. Ela assistiu enquanto a loira, parecendo encantada demais, apoiou os braços na cama e segurou com carinho seu rosto. Sua expressão era impagável, e tudo o que Tiffany conseguia identificar era amor e adoração.
Ali estava, o futuro que queria diante dos seus olhos. A mulher que parecia ter saído de seus sonhos mais secretos, deitada nua em baixo de seu corpo. A chance de concretizar algo que era abstrato. Não, de simbolizar algo que era abstrato, grande demais para ser interpretado ou compreendido de maneira completa.
- Casa comigo. - As palavras saíram dos lábios sem serem medidas, vindo do lugar mais profundo e sincero do seu peito.
- O que? - Tiffany parecia bem acordada agora, impressionada e pega de surpresa.
- Casa comigo, Pany-ah. - Ela repetiu, sem medo de receber um não. - Eu não tenho dois corações, tenho apenas um, mas ele é completamente seu e eu posso amar você mais do que amo a mim mesma.
- Taetae... - Tiffany sussurrou e a voz carregada sinalizava apenas emoção.
- É sério, Fany-ah. Casa comigo, porque eu amo você e não vejo motivo para não colocar uma aliança no teu dedo. Aliás tudo o que eu consigo pensar é nisso: que você use uma aliança para que os olhares indevidos sejam desviados, porque no momento em que eles encontrarem com o anel eles vão saber que você é amada e respeitada por alguém, por mim.
- Oh... - Tiffany arfou diante das palavras, e ela não soube se era o sono que a impedia elaborar algo coerente ou a intensidade do que estava sentindo no peito.
- E porque eu quero te dar algo mais substancial nessa relação -
- Taetae, nada é mais palpável do que você aqui. - Ela disse e apertou os braços em torno da mulher.
Taeyeon sorriu para ela e continuou falando. - Eu quero te dar uma família. Em termos de lei, Fany, eu quero que você seja uma Kim-Hwang, ou Hwang-Kim, você escolhe. E se você quiser um bebê, quer dizer, eu sei que você quer, desde que resgatamos aquele recém-nascido eu soube... Se você quiser, eu fico mais do que contente de repartir a maternidade com você. Eu quero te fazer feliz, Fany-ah. Eu posso te fazer feliz, não posso? - Era como se fosse uma dúvida, mas ela já sabia a resposta.
- É claro que pode, Taetae. Você já me faz feliz, todos os dias. - Ela beijou os lábios da loira e as lágrimas caíram dos olhos sem consentimento.
- E é o que eu quero continuar fazendo o resto da vida, Pany-ah, porque você também me faz feliz. Casa comigo?
- Sim, é claro que sim. - Ela segurou o rosto da mulher e a beijou com ternura. Ela não estava esperando por isso. Nenhuma delas tinha tocado no assunto desde aquela noite no colchão, e parecia fazer um século desde então. Tiffany estava extremamente feliz. O pedido de Taeyeon, ela concluíra, tinha a ver com a disposição da loira lhe oferecer tudo o que podia. Taeyeon sabia que não precisava colocar uma aliança no dedo dela para ter todas essas coisas que mencionara, mas ainda assim, colocar um anel em seu dedo tinha sido cotado porque, afinal de contas, fazia parte de uma tradição, assim como um primeiro encontro. Além do mais, era o modo de selar o compromisso com um futuro em comum com a pessoa que ela devotadamente amava. Tiffany quebrou o beijo em busca de ar, e o sorriso que estava estampado no seu rosto jamais iria se apagar. Ela apertou os braços em Taeyeon e quando falou, seus lábios roçaram no da loira.
- E a minha escolha é Kim-Hwang. - Ela entregou um novo beijo nos lábios sorridentes de sua futura esposa.
...
- Tae! Nós vamos nos atrasar, anda logo! - Tiffany apressou a mulher que estava carregando algumas sacolas. O céu estava nublado, a chuva estava ameaçando cair a qualquer momento e Tiffany não podia deixar de estar nervosa. Aquele seria o dia em que sua família, a família de Taeyeon e amigos delas saberiam que elas iriam se casar. Ela sempre ficava nervosa em situações onde ficava exposta. Ela sabia que aqueles eram seus amigos e sua própria família, mas o nervosismo simplesmente não podia abandoná-la. Elas tinham escolhidos os trajes corretos? Elas tinham reservado mesas suficientes? Todos chegariam em ponto?
Irritada pela demora da loira, uma arfada de impaciência escapou-lhe dos lábios, e ela bateu um pé no chão no mesmo tempo que um pingo de chuva atingiu-lhe o rosto.
- Taeyeon, nós não temos o dia todo! - Ela insistiu em apressar a loira.
Ela não conseguia entender como a detetive estava tão calma e tranquila diante daquilo. Ou era apenas ela que estava ansiosa demais?
- Fany. Você tem que se acalmar. Sério. - Taeyeon apontou um dedo para e depois abriu a mão no sinal universal de “pare”. - Vai dar tudo certo, querida. - Ela suavizou a voz porque, caramba, ela entendia aquela ansiedade toda. Ela estava morrendo por dentro, mas não se permitia perder o controle. Alguém tinha que manter a cabeça no lugar. Como um sinal - negativo ou positivo? - a chuva de verão começou a cair pesadamente.
Tiffany curvou os braços para frente num apelo silencioso para que a natureza colaborasse com aquele dia. As gotas grossas e frias batiam contra sua pele, e ela sentiu o arrepio percorrer o corpo. O dia estava sendo tão estressante. O atraso no trânsito, a demora no aeroporto para pegar a mãe e o pai, o almoço que tinha sido cancelado por causa de todos atrasos, a queimação que ela estava sentindo no estômago por causa da ansiedade. Tiffany suspirou, sentindo o peso do dia nos ombros, o peso da chuva que tinha aparecido para acrescentar mais um ponto negativo no dia. Ela estava considerando entrar em casa e se trancar no banheiro por uns minutos e chorar. O problema é que, para isso, ela teria que passar por todas as pessoas que estavam ali: seus pais, Nawoon, Yuri e até mesmo uma namorada qualquer da cunhada. Talvez ela nem conseguisse segurar o nó na garganta antes mesmo de cruzar a sala. Por outro lado, se ela começasse a chorar ali talvez ninguém perceberia, nem mesmo Taeyeon, considerando que a chuva estava encharcando seu rosto.
Ela olhou para Taeyeon, na esperança de que pudesse encontrar algum consolo, de entender o método que a loira estava utilizando para manter a calma e copiá-lo efetivamente. Para sua surpresa, a mulher estava sorrindo abertamente. O cabelo colado no rosto pela água parecia contraditoriamente enfatizar o traço de felicidade. Por que ela estava tão feliz assim, toda molhada pela chuva? Como se escutando seus pensamentos, Taeyeon ergueu um dedo para cima e apontou para o céu, se aproximando de Tiffany.
- Hey! Olha lá. É um arco-íris! - Ela disse empolgada e os olhos da legista acompanharam a direção para onde o dedo estava apontado. Um belo arco-íris, grande, de cores fortes e definidas estava ali enfeitando o céu. Tiffany admirou sua beleza antes que ela se perdesse na imensidão cinzenta. Era de fato encantador, e ela sentiu os próprios lábios se curvando num sorriso, se rendendo à raridade do fenômeno e interpretando a aparição como um bom sinal. O nó na garganta de repente estava desfeito, e as mãos de Taeyeon em sua cintura lhe mandaram um arrepio espinha abaixo. Ela se virou para a loira e piscou os olhos carregados de pingos de chuva para ela.
- É extraordinário! - Ela sorriu e olhou mais uma vez para o arco-íris.
- A nossa noite também vai ser, Fany-ah. Vai dar tudo certo. Tá bom? - Taeyeon se inclinou e beijou os lábios da morena, e a voz tão segura de Taeyeon tinha lhe grudado no corpo, em sua mente, e de repente ela tinha recebido uma garantia.
- Okay. - Tiffany sorriu nos lábios da Taeyeon. E então ela pensou na chuva, no arco-íris e nos lábios da mulher. Um beijo na chuva, testemunhado por um dos fenômenos mais belos da natureza, nos lábios da mulher que ela amava. Tiffany beijou Taeyeon apaixonadamente sentindo o contraste frio das gotas de chuva que massageavam seu corpo e as mãos quentes de Taeyeon lhe acariciando a cintura e as costas.
A perspectiva tinha acabado de mudar. O dia começara tumultuoso, duvidoso e infavorável, entretanto, agora parecia estar se invertendo de posição: promissor pela companhia e palavras de sua namorada, surpreendente pelo presente colorido pintado no céu, e clemente, como se fosse agora configurado para reverter a metade anterior em dádivas.
...
O nervosismo de Tiffany poderia ter sido facilmente descartado se ela soube que aqueles sorrisos e brindes estariam aguardando por elas. As taças levantadas em suas direções mandaram borboletas em seu estômago, e o sorriso caloroso de Taeyeon provocava um imenso em seus lábios como resposta. A família e os amigos próximos aprovavam a união - é claro, eles não tinham motivos para não fazê-lo - e até mesmo o pai de Tiffany havia colocado a médica num abraço, de modo a parecer como o último antes de entregá-la a Taeyeon. Não era como se precisasse dizê-lo, mas no final da noite o homem havia segurado o ombro da detetive para lhe dizer que esperava que Taeyeon continuasse fazendo Tiffany feliz do mesmo jeito que estava agora. A detetive sorriu e fez sua promessa - se lembrando que seu pai biológico tinha dito a mesma coisa, mas que havia soado muito mais ameaçador.
Depois do jantar elas haviam deixado o restaurante para uma volta nas margens do Seoul Forest. Taeyeon não queria adentrar muito no parque - não por causa do perigo, porque ainda era cedo e muitas pessoas andavam por lá, mas justamente porque queria um momento mais íntimo com Tiffany. E era por isso que estava nervosa. Elas estavam passando sobre a ponte agora e as águas negras do lago lá em baixo estavam margeadas pela aquarela de tons amarelos, verdes e brancos. As luzes dos postes coloriam o lago, atrevendo-se a se lançarem acima da escuridão. Tiffany falava alguma coisa sobre os pássaros que migravam para lá naquela época do ano, mas dessa vez, diferente de todas as outras, Taeyeon não estava escutando.
- ... e quando o clima já não está mais favorável para reprodução, as aves sentem necessidade de migrar. É uma questão de sobrevivência, e acontece sempre na troca de estação. - A morena afirmava veementemente.
Taeyeon suspirou lentamente e parou em cima da ponte, se encostando na barra de segurança.
- O Puffinus griseus é a ave que mais voa no mundo. - Ela adicionou rapidamente, prevendo que Taeyeon iria interrompê-la logo, mas achando que o fato merecia ser citado.
- São as estações. - Taeyeon franziu o cenho enquanto pensava.
Tiffany pareceu confusa. - Sim...? Eles migram por causa das estações.
- Não, Fany. - A loira segurou a mão da morena junto ao seu peito.
Tiffany inclinou a cabeça como sempre fazia quando não entendia algo. - Perdão?
- São as estações. Os pássaros vão embora nas estações porque eles não enfrentam invernos rigorosos.
- Eu acabei de dizer isso, Taetae. - Tiffany sorriu docemente.
Taeyeon concordou com a cabeça, mas Tiffany não pôde deixar de notar o olhar distante, perdido em pensamento. Algo disparou dentro de si.
- Taetae, o que aconteceu? - Ela apertou a mão da loira levemente.
- Quando você me conheceu... Era verão. Mas tudo parecia cinza e sombrio para mim, como nos invernos. Até minhas mãos eram geladas. - Ela adicionou a última frase quase num sussurro.
- Tae, você passou por um trauma terrível. - A morena acariciou com o polegar o dorso da mão da outra.
- Você não sabe, Fany, o que é sentir frio. O frio da lâmina ultrapassando sua mão, e o frio que o medo traz antecipando a morte. E nem... Você não sabe o que é sentir frio no verão, em dias quentes. O gelo daquele bisturi afiado tinha sido sugado para dentro do meu corpo e nunca iria embora. E Deus, eu jamais quero que você saiba.
- Tae... - Tiffany sussurrou agora, vendo o olhar escurecido e intenso da mulher perdido em algum ponto que não os seus olhos. Por que a conversa tinha se tornado tão sombria?
- Não, escuta. - A loira a cortou. - Foi horrível, e eu me sentia congelada por dentro. Eu me afastei de todas as pessoas e tentei ignorar a sensação por tanto tempo. Não, na verdade eu tentei aturar por tanto tempo, a ponto de eu parecer fria com as pessoas porque, você sabe...
- Você não queria parecer frágil. - Tiffany concluiu.
- Isso. E você veio com seu sorriso e, você foi até meio intrometida, sabia? - A loira apertou os olhos, mas quando Tiffany riu, ela riu também. - Para minha sorte. - Ela adicionou em seguida. - E tudo começou a ficar bem de novo, até que ficou ruim quando você se aproximou demais...
- Você quer dizer até que você se fechou demais.
- Caramba, mulher, será que eu posso concluir?
Tiffany deu de ombros, sorrindo.
- E, - Taeyeon continuou levantando um dedo para não ser mais interrompida - foi quando eu entendi que eu só estava ficando bem porquê... bem, porque eu tinha você. Eu sempre prezei nossa amizade, Fany-ah, do mesmo jeito que ainda prezo, porque eu sempre soube que você... era você quem iluminava meus dias, foi você quem trouxe luz de volta à minha vida. - Taeyeon mordeu os lábios. Ela estava colocando as palavras no lugar certo?
Tiffany sorriu e os olhos castanhos brilharam. Ela plantou um beijo nos lábios de Taeyeon. - Você também ilumina os meus.
Taeyeon balançou a cabeça e continuou. - O que eu quero dizer... É que você ficou. Você chegou no meu inverno e decidiu ficar mesmo assim. Você conheceu o pior de mim e depois o meu melhor, e não recuou. E como se não bastasse, como se já não tivesse sido o suficiente você estar lá, você trouxe o calor de volta. Quer dizer, a quem eu quero enganar, Fany-ah? Você é meu sol. Você reina em todos os meus dias, nas quatro estações, nas minhas estações. E você nunca vai embora. Você se recusa a partir nos dias gelados e cinzentos, e de alguma forma você os torna quentes, no mínimo suportáveis, apenas com sua presença.
- Tae, isso é... - A morena passou a língua nos lábios, e piscou os olhos. - Eu não fui a única responsável. Você também... Fomos nós duas. Nós não desistimos, lembra?
A loira sorriu. É claro que Tiffany iria dividir o crédito - e talvez ela tivesse razão, foi uma luta em conjunto. E aproveitando das palavras da médica... - Exato, nós não desistimos. E o que quero te dizer é justamente isso: eu também luto por você, e com você. E eu também quero ser seu sol, e quero ficar nos seus invernos. Eu quero aquecer seus dias frios e... E quero te trazes flores nas primaveras. E contar os vaga-lumes com você nos verões. E observar as estrelas nas noites de outono, quando o céu fica límpido. Mas eu quero principalmente ficar. Diferente dos pássaros que migram, eu quero ficar, do mesmo modo que você ficou comigo eu quero ficar com você. - Ela parou por um momento e estudou os olhos agora marejados de Tiffany.
- As estações são um círculo, - Ela desenhou um círculo invisível no ar - elas sempre mudam, mas nunca são interrompidas. É um ciclo eterno de mudança.
A morena concordou com a cabeça, os olhos atentos em Taeyeon.
- Eu quero saber, Tiffany... Se esse pode ser o nosso ciclo. Se você pode continuar sendo meu eterno sol, e se eu posso ser o seu. O quero saber Fany... - Ela apoiou os dois joelhos no chão e segurou as mãos da morena.
- Você casa comigo? - A loira sorriu quando Tiffany levou uma mão na boca - emocionada pelas palavras e pelo gesto.
O gesto, por si, não tinha sido algo relacionado ao cavalheirismo. Estava diretamente ligado à humildade de Taeyeon, ao pedido singelo e sincero que clamava por algo generoso. Nobre.
Eu posso ser seu sol? Eu posso ficar ao seu lado? Um cargo de extrema importância, mas que Taeyeon já estava executando tão bem.
Tiffany estava dividida entre agarrar as palavras que estavam viajando para fora de sua mente e tentar dizer para Taeyeon que ela já era seu sol também ou simplesmente dizer seu sim. Ela encontrou uma terceira opção: se ajoelhar, também, em frente à loira. Tiffany não estava acima de Taeyeon nessa relação, as duas dividiam o mesmo patamar, e se ajoelhando ali, na mesma altura que ela, ficava entendido que sim, Taeyeon podia ficar ao lado dela - ao lado, jamais em num nível inferior.
- Oh, Taetae, eu já disse que sim! - Ela segurou o rosto da loira e deu um beijo demorado nos lábios, e quando se afastou ambas estavam sorrindo.
Taeyeon levantou uma mão segurando uma pequena caixa preta. - Agora eu tenho o anel. - Ela levantou a aliança no nível dos olhos de Tiffany.
A morena abriu os olhos em espanto. Era uma aliança extremamente cara. - Taetae... Essa... É linda! E cara, Tae.
- Eu posso tomar isso como um sim? - A loira apertou os olhos.
- Pela terceira vez, sim! - Tiffany disse e esticou a mão para Taeyeon que logo deslizou o anel pelo dedo dela.
- Para você sempre o melhor, Fany-ah. - Ela deslizou o dedo sobre a aliança de Tiffany e a morena imitou o gesto com o polegar - um gesto que faria muitas vezes daquele dia em diante.
- E é claro, aqui está meu par! - Ela mostrou a aliança idêntica à da mulher e a entregou a Tiffany quando a morena a tomou dos dedos.
- Eu posso continuar iluminando seus dias? - Tiffany perguntou, segurando a mão da loira.
- Não é assim que funciona, Fany-ah. Eu já fiz o pedido. - E quando ela levou a mão para frente, Tiffany recolheu a dela em desafio.
Taeyeon revirou os olhos. - É claro que pode, Fany. Nada me faria mais feliz. - E um minuto depois a médica havia deslizado o anel em seu dedo.
Elas se beijaram de novo, e ao longe escutaram alguém assobiar em aprovação. Uma sorriu no lábio da outra, e segundos depois, outro alguém assobiou do outro lado enquanto duas ou três pessoas ao longe batiam palmas. Taeyeon sentiu o rosto corar, mas Tiffany não pareceu se importar nenhum pouco com a plateia. Elas estavam felizes, e a noite quente de verão carregava uma brisa leve que correu entre os corpos das mulheres ajoelhadas na ponte, onde haviam assumido um compromisso que suportaria as trocas de estações e se fortaleceria naquele ciclo infinito de mudanças.
2 notes
·
View notes
Text
Capítulo Vinte e Três
Mudança. Era a palavra que Tiffany escolheu para definir esse específico momento de sua vida. Nenhuma outra caberia melhor para essa nova fase. Ela estava mudando, Taeyeon estava mudando. E Irene estava mudando. Isso a assustava ao mesmo tempo que a empolgava. Às vezes ela se perguntava se seria capaz, se os desafios alguma hora acabariam, se ela estava tomando as decisões corretas. Tantas coisas estavam diferentes desde que a menina chegara para ficar.
Começando pelo mais sútil e singelo momento das manhãs. Ela tinha contado sete vezes que Irene entrara no seu quarto pela manhã, escalando a cama e se deitando entre ela e Taeyeon, geralmente se enganchando numa ou noutra, o que significava que Irene já estava com elas por oito dias. Ela por vezes acordava com o calor do corpo da criança ao seu lado, outras vezes com os dedos de Irene dançando no seu peito, ou no rosto, traçando desenhos invisíveis e abstratos. Quando ainda era muito cedo - mesmo para Tiffany - ela se virava na cama, abraçava a criança e dormia de novo. E Irene dormia também, ou pelo menos ficava imóvel o suficiente para Tiffany voltar a dormir tranquilamente. Outras vezes a morena acordava e encontrava a menina deitada em cima de Taeyeon, a cabeça virada para o lado, o cabelo escuro da criança se misturando no da loira. Era gracioso e harmonioso o jeito como elas tinham suas semelhanças, e isso alegrava Tiffany. Nessas manhãs ela ficava dividida entre a tentação de beijar as duas até acordá-las ou simplesmente a pacificidade de ficar apreciando a cena.
É claro que as manhãs não seguiam tão calmas assim. Ao contrário de Irene que sempre parecia disposta na primeira parte do dia, Taeyeon continuava tão preguiçosa como antes. Acordar cedo era torturante para a morena, mas não podendo fugir da rotina, a alternativa continuava sendo a mesma de antes: acordar mal-humorada. Agora com a presença de Irene, a irritação matinal tinha diminuído para quase nada, no máximo para um resmungado de palavras antes mesmo de abrir os olhos, e depois ela experimentava a transição da rotina anterior para a nova, o que lhe trazia um sorriso bobo nos lábios. Irene era doce, esperta e sensível. Os dedos brincando com seu cabelo loiro, enquanto ela esperava pacientemente por Taeyeon acordar e se levantar, a deixava desarmada. As vezes Irene murmurava algumas palavras para ela, do mesmo jeito que ela fazia para a garotinha antes de colocá-la para dormir. Certa manhã, quando a menina dormia encolhida na cama entre ela e Tiffany, Taeyeon acordou com o murmúrio choroso da criança enquanto tinha um pesadelo. Ela a recolheu nos braços e sussurrou confortos, e quando a menina abriu os olhos ainda imersa em sono, sorriu disse seu nome. Taeyeon se sentiu uma heroína - o tipo que mesmo o departamento de Seoul não podia fazê-la se sentir. Irene tinha voltado a dormir em paz em seus braços, sabendo que estava protegida de qualquer pesadelo que fosse a assombrar.
Não, elas não eram mais acordadas pelo soar frio e distante do alarme despertador. Em contraponto, pelo menos nessa semana, nenhuma delas tinha sido acordada com o calor das mãos da outra. Não que importasse, por agora. Ainda que tivessem privacidade, elas não o fariam - Tiffany estava no período menstrual, o que significava que para qualquer tentativa de Taeyeon, ela receberia não. Em relação ao futuro, elas descobririam um jeito de como lidar com isso. Nesse momento tudo o que queriam era aproveitar a companhia de Irene. Uma coisa de cada vez, tudo em seu tempo.
E tempo era o que elas precisavam aprender a manipular. Ainda não tinham decidido pela escola da menina, o que resultava em Irene em casa o dia todo. Tiffany e Taeyeon trocavam os horários no trabalho, e quando não podiam se fazer ausente, Yonghee se oferecia para cuidar dela. Irene - surpreendentemente - gostava de ficar com ela. A artista lhe ensinava formas educacionais de pintar desenhos. Alguns só com pontinhos, outros só com linhas, cores claras, cores escuras. Recortes e montagens com papel. Tiffany ficou surpresa quando Irene lhe entregou um gatinho feito com caixa de leite, recortes e pinturas. Ela colocou a nova escultura na sala, deixando à mostra para quem quisesse ver. Quando Yonghee voltou para os Estados Unidos, três dias atrás, Irene passou a parte da manhã chorando, porque aparentemente sua gramma ficaria um longo mês distante dela. Quando Tiffany não entendeu a palavra, ela se viu obrigada a perguntar de novo.
- O que você quis dizer, Irene?
- Gramma! Minha gramma demora pra voltar! - Ela dizia inconsolavelmente, chorando.
Tiffany arregalou os olhos diante da realização. - Você quer dizer grandma?
- É. - Ela dizia enquanto limpava os olhos.
Tiffany olhou para Taeyeon, um nó se fazendo na garganta. A loira sabia pouco inglês, mas conhecia a palavra.
- Você sabe o que isso significa? - Ela perguntou ansiosa - e um pouco feliz, é verdade. O que Yonghee estava pensando, afinal de contas?
- Amiga mais velha? - Irene disse incerta, como se não tivesse pensado muito nas palavras de Yonghee antes.
- Certo. - Taeyeon confirmou ao seu lado, porque Tiffany não sabia mentir e porque ela tinha quase certeza de que se abrisse a boca, lhe escaparia um soluço e não palavras.
Tiffany tinha ficado surpresa com a cumplicidade e o afeto da mãe com Irene. Nunca havia lhe passado pela cabeça, ainda mais nessa situação, de que Yonghee diria para Irene que ela era sua avó. Bem, ela era a avó da menina agora, mas nada ainda estava claro. Talvez seja por isso que a mulher tinha dito a palavra em inglês, e conotado um novo significado para a menina. Desde que nada tinha sido estabelecido e desde que ela não tinha pedido permissão a Tiffany e Taeyeon, aparentemente ficara contente em ter a menina chamando-a de grandma, satisfeita em apenas ouvir Irene chamando-a assim, mesmo que não soubesse o real significado. O que só aumentara sua vontade de chorar - porque estava comovida, não triste - com a atitude da mãe. A necessidade de ligar para a mulher tinha sido substituída pela necessidade de acalmar Irene. O fato de vê-la tão abalada pela partida da artista deixara Tiffany preocupada e de coração partido. Ver Irene chorando - ela descobriu - lhe causava dor física. Então ela tinha dedicado toda a parte da manhã para ela, procurando distraí-la com passeios, e Taeyeon tinha jogado basquete e baseball com ela durante a tarde. Taeyeon a colocou para dormir as quatro da tarde, e mandou mensagem para Tiffany dizendo que talvez, tudo aquilo fosse o resultado de uma noite mal dormida. Ao contrário do que se esperava, a menina tinha acordado uma hora depois, parecendo mais miserável do que antes. Quando Tiffany retornou para casa, a ligação para a mãe foi adiantada. Depois de trocar algumas palavras com a mulher, longe de Irene, a morena passou o telefone para a criança. Tiffany nunca soube o que Yonghee disse, mas Irene pareceu significativamente melhor depois de falar com ela.
Há duas noites atrás, elas receberam Eunseo e Minji em sua casa. Tiffany sentia gratidão pelas palavras da mulher, e considerando a mudança de Eunseo em relação a posição que Tiffany ocupava em sua vida, a médica tinha decidido por criar um laço mais forte com ela também. Irene não ficou surpresa ao saber que Tiffany tinha uma irmã mais nova, mas ficou perplexa ao descobrir que ela tinha duas mães. Ela tinha explicado para a menina num vocabulário adequado para sua idade que ela tinha crescido na barriga de Eunseo, mas que quem cuidara dela tinha sido Yonghee, e por isso ela tinha duas mães. Irene observou e assimilou, em completo choque, como Eunseo e Tiffany se pareciam fisicamente, e ficou encantada com a companhia agradável de Minji. A jovem tinha arrancado várias risadas dela, e no final da - sua - noite a garotinha tinha presenteado sua nova amiga com um desenho das duas. Taeyeon tinha colocado a criança na cama quando os primeiros sinais de sono apareceram e depois descera novamente para se reintegrar à conversa entre as mulheres. Eunseo estava definitivamente feliz por Tiffany, e Minji dobrara e guardara o desenho da menina em sua bolsa. A mãe biológica de Tiffany ofereceu a elas qualquer ajuda que pudesse dar no processo de adoção, e Minji se ofereceu para cuidar da menina quando precisassem, principalmente nos finais de semana em que estava livre. As duas não poderiam ficar mais comovida com a atitude vinda delas, e a promessa de proximidade daquela parte da família tinha encerrado a noite da melhor forma possível.
É claro que nem tudo eram flores. É claro que Irene tinha os momentos ruins e os de birra. Na tarde anterior, quando completou uma semana ali, a menina começou a chorar, do nada, simplesmente porque Prince tinha comido um pedaço da banana que ela tinha oferecido para ele. Ela não queria uma fruta nova, não queria abandonar aquela, e não queria, principalmente, que Taeyeon chegasse perto dela. Irritada depois de ser recusada várias vezes, a loira deixou que ela chorasse por um longo tempo, e Irene grudou os pés no chão e ficou em pé durante vinte minutos, brigando com Ginger quando o cachorrinho tentava lamber a mão, resmungando para Prince que tinha aceitado sua oferta, e chorando simplesmente porque... ninguém sabia. Em certo ponto Taeyeon começou a rir, porque a situação era ridícula demais. Determinada, ela andou em direção a menina, pegou-a no colo e segurou com força quando Irene tentou se soltar. Hora de encerrar a sessão choro. Ela se sentou no sofá com a menina no colo, segurando como se fosse um bebe, e descansou seu pequeno corpo em suas pernas.
- Ok, tartaruga. Já chega. Qual é o problema? - Ela perguntou e a menina ergueu a banana para ela, que agora já estava amassada, abrindo a boca e chorando mais.
Taeyeon suspirou. - Você não pode simplesmente aceitar outra?
Um abano de cabeça, lágrimas novas escorrendo. - Ok, ok... Vamos jogar essa fora?
- Não! - Ela disse furiosa.
Taeyeon franziu o cenho, a fruta estava praticamente escorrendo pela mão da menina. - Ok... - Ela tentou de novo. - E se a gente colocar ali em cima da mesa? Só enquanto a gente conversa? Depois você pode pegar de novo.
A menina fez um bico e depois de pensar concordou com a cabeça. Ela mesma se levantou e colocou a banana lá, e depois se virou para Taeyeon, ainda com um bico, parecendo magoada. Se Taeyeon soubesse que era só birra, ela teria rido da cara da menina, mas ela parecia realmente chateada agora. A loira esticou os braços e, surpresa, ela esperou enquanto Irene se aconchegava na mesma posição de antes.
- Sinto muito que Prince tenha comido sua banana. - Ela disse e viu os lábios da criança tremerem. - Da próxima vez fica longe dele, ok?
- Ok. - Ela disse entre uma nova onda de choro.
Taeyeon começou a balançar o corpo para frente e para trás, levemente, enquanto falava com ela. - Ele é um esquisito.
- N-n-não. - Ela defendera o animal.
- Não? Ok. Ele não é esquisito. - Vai entender.
- M-m-meu Prince.
- Sim, Irene, ele é seu Prince. Ele gosta de você. - Taeyeon a balançou no colo, esperando que o movimento a acalmasse.
A menina apontou para a banana na mesa e murmurou. - Aca-cabou.
Taeyeon suspirou. - Nós temos mais... - A frase morreu no meio da sentença. Não tinha sentido ficar discutindo sobre uma banana, o motivo tinha que ser outro. - Irene, querida... O que... Por que você tá tão triste? Não é só pela banana, é?
A menina fungou e encolheu os pés no colo da loira. Taeyeon acariciou seu rosto, limpando as lágrimas da bochecha. Agora ela olhava atentamente para Taeyeon enquanto mordia os dedos da mão. Os dedos sujos de banana. A mulher fez uma careta e tentou afastar a mão da boca, mas a menina desviou-se e fechou a cara. Ela desistiu, não era uma boa ideia contraria-la agora. Pelo menos ela tinha parado de chorar.
- Eu tô aqui tartaruga. - Ela sussurrou enquanto embalava ela. - Eu tô aqui com você.
E Irene ergueu os olhos para ela, inocentes e vulneráveis. Agradecidos. A menina encostou a cabeça em seu ombro ainda encarando ela, e Taeyeon não deixou de notar a mudança de comportamento depois das palavras. Ela abraçou Irene com força e beijou sua testa. A menina fechou os olhos conforme os minutos se passaram e Taeyeon nem tentou colocá-la na cama - ou ali mesmo no sofá - para dormir. Irene deslizou a mão por sua blusa, deixando um rastro melado de banana ali e segurou o tecido na mão com força.
Bem-vinda à vida doméstica, Taeyeon pensou enquanto franzia o cenho. Ela mesma se deitou no sofá e aconchegou a criança numa nova posição antes que ela dormisse de vez.
O resto da noite tinha se passado consideravelmente bem, até o momento em que Tiffany tinha chamado as duas para a mesa na hora do jantar. Irene comera apenas o que foi obrigada e até certo ponto. A cenoura em cubinhos tinha ficado amontoada no canto do prato junto com as ervilhas, e a garotinha parecia cansada demais, mesmo para levantar a colher. Quando Tiffany se conformou de que ela não comeria mais, disse que ela poderia voltar à sala para assistir desenhos. Concordando levemente de cabeça baixa, Irene deslizou para fora da cadeira, e ignorando a presença de Ginger aos seus pés, tropeçou na cachorrinha e caiu no chão, batendo a cabeça na perna da mesa. O grito de dor foi curto e alto, e tirou Tiffany da cadeira no mesmo instante. Entretanto, tinha sido o único som a escapar da boca da menina, que agora estava aberta na mais escandalizada expressão, uma mão pressionando um ponto da cabeça. Tiffany segurou sua cintura afim de levantá-la, mas sentiu o sangue congelar quando entendeu o que estava acontecendo: Irene não estava respirando.
Apavorada, ela juntou a menina nos braços e procurou o olhar de Taeyeon. O que ela deveria fazer? Ela sentiu sua própria respiração ficar pesada ao passo de que a menina continuava sem ar.
- Fany, - Taeyeon disse com toda calma - se você se apavorar, ela vai se apavorar.
A morena fez que sim com a cabeça e se controlou, colocou uma mão no peito da criança e pediu com calma. - Irene, querida, você pode respirar para mim?
Os olhos castanhos encararam os dela, mas fora isso, nenhuma mudança. Tiffany abraçou a criança, segurou sua nuca e tentou de novo. - Tá tudo bem, Irene, não foi nada demais. Você me deixa conferir seu cabeça, querida?
Finalmente o choro apareceu de novo, e Tiffany fechou os olhos em alívio. Um choro que não durou quase nada. Enquanto Taeyeon retirava a mesa, a médica tinha se sentado com Irene no sofá, massageando a cabeça da criança à procura de algo, mas nada tinha encontrado ali. A menina tinha os braços dobrados na frente do corpo, e mastigava os dedos da mão em seu jeito infantil, e parecia esgotada para quem tinha acabado de acordar. Será que ela estava ficando doente? Tiffany sabia que não tinha sido uma boa ideia Taeyeon oferecer sorvete para ela nesse tempo frio. Ela encostou a mão na testa da menina, mas a temperatura estava como deveria estar. Tiffany suspirou e acariciou suas costas.
- Parece que você teve um dia ruim hoje. - Ela falou baixinho e acolheu Irene em seus braços, que agora tinha se encostado nela.
A menina suspirou e murmurou um único som, em concordância às palavras de Tiffany.
- Vou te levar para você escovar seus dentes e dormir, assim amanhã chega mais rápido e você vai acordar melhor. O que você acha?
Os olhos piscaram para ela, mas a menina não disse nada. Tiffany tomou o silêncio como consentimento e se levantou com ela no colo. Ela observou enquanto Irene escovava os dentes com paciência e lançava olhares a ela pelo espelho. Algo tinha dado muito errado para a menina nesse dia, e ela não sabia o que era. Se Taeyeon não tivesse contado sobre o episódio da banana, ela diria que o choro ao tombo era totalmente normal, mas Irene não parecia nem mesmo ser esse tipo de criança.
Depois de descer do banquinho - um que tinha sido designado para ficar no banheiro, justamente para a garota alcançar a pia sem problemas - Tiffany andou para dentro do quarto de novo e puxou o edredom. Irene parou ao seu lado e segurou na barra de sua blusa.
- O que foi, garotinha? - A morena encostou a mão em suas costas e Irene se encostou na perna dela. - Pronta para dormir? - Tiffany insistiu de novo, mas a menina não disse nada. Aflita, Tiffany se ajoelhou no chão para ficar na mesma altura que ela e colocou uma mecha de cabelo escuro atrás de sua orelha. - Irene, você tem algo para me dizer? O que está acontecendo? - E o apelo em sua voz deve ter sido tão grande que a menina finalmente falou.
- Dói. - Ela suspirou.
Tiffany arregalou os olhos. Ela tinha perdido algo enquanto vasculhava a procura de hematomas na cabeça da garota? - Dói aonde?
- Dói, dói, dói! - Ela disse irritada porque Tiffany não a compreendia e começou a chorar de novo. - Tu-tudo dói!
- Shhh... Não vai doer mais amanhã, Irene. - Ela recolheu mais uma vez a menina nos braços e a levantou. O choro era tão dolorido que Tiffany sentia o coração pesando ao ouvir o som. Ela não sabia o que era pior: o fato de Irene estar chorando assim ou de ela não estar sendo capaz de ajudar.
- Pa-pa-pa-pa... - A menina dizia entre o choro, e o apelo deixava Tiffany fraca.
- Aqui, Irene. Sua Tippany. Eu prometo que vai passar, minha tartaruguinha. - Ela dizia enquanto sua mão acariciava gentilmente as costas da criança.
Levou tempo para que Irene parasse de chorar. Custou energia para que Tiffany colocasse a menina em seu pijama de tartaruga. Tão logo a morena fechou o último botão do pijama Irene jogou seus braços em torno de seu pescoço e resistiu quando a morena tentou deitá-la na cama. Ela soluçou quando Tiffany tentou soltá-la de si, e a ameaça de uma nova onda de choro a fez desistir da ideia. Irene queria sua companhia, estava claro. Ela se deitou na cama com a menina apoiada em seu peito, e somente quando ela imergiu num sono profundo foi que a médica a acomodou gentilmente na cama, cobrindo-a com o edredom e com beijos.
- Amanhã você vai estar melhor. - Ela disse em voz baixa, esperando que fosse verdade.
Ela e Taeyeon não demoraram muito para ir para cama também. O trabalho era exaustivo, e ter uma criança em casa adicionava carga extra de trabalho no dia. Tiffany estava preocupada com Irene, mas Taeyeon tinha quase certeza de que tinha sido apenas um dia difícil para ela, aparentemente sem razão nenhuma. Crianças eram assim, não eram? Dias bons e dias ruins. A preocupação foi cedendo lugar ao sono enquanto o carinho de Taeyeon em seu cabelo a ninava preguiçosamente para a escuridão tranquila dos sonhos. Tiffany dormiu nos braços da mulher, protegida e aquecida da noite fria. Quando acordou, o quarto estava começando a se iluminar junto com o céu lá fora, mas o sol ainda não tinha aparecido. Tiffany se virou para o lado para se encontrar com Taeyeon bem próxima a ela. Era cedo, muito cedo. A loira ainda dormia tranquilamente, a respiração igualada e calma. Tiffany levou a mão para o cabelo com leves ondulações de Taeyeon e acariciou-lhe os cachos. Ela era linda sob a luz fraca da manhã - sob qualquer luz, realmente - e poucas foram as vezes que Tiffany resistiu à tentação de tocá-la; mesmo antes de começarem a namorar os gestos eram sutis e inofensivos, mas que levaram Tiffany ao êxtase. Agora que não havia barreiras, Tiffany se sentia livre para fazê-lo quando sentisse vontade. Ela aproximou seu corpo da loira e passou uma mão no seu quadril, apertando seu corpo contra o dela, em possessão. Taeyeon era dela e durante sete dias seus corpos passaram tempo demais longe um do outro. A morena percorreu o contorno do quadril, da cintura e parou sua mão no ombro de Taeyeon, e sem resistir à tentação ela beijou seu pescoço e seu colo. A loira se remexeu levemente, e Tiffany segurou as costas dela para mantê-la perto de si.
Ela precisava sentir o calor de Taeyeon. Cuidadosa, ela conferiu a porta do quarto: fechada. Não havia nenhuma chance de Irene entrar sem ser percebida. E as chances dela aparecer nessa hora eram baixas. Era cedo demais e ela parecia exausta na noite anterior. Confiante agora, Tiffany voltou sua atenção para a loira e deslizou a mão por dentro de sua blusa. A pele quente queimou em seus dedos, mas era uma sensação mais do que bem recebida. Seus dedos se encontraram com o seio firme da detetive e acariciaram, e depois ela apertou sua mão ali, arrancando de Taeyeon um suspiro. A loira jogou a mão no quadril de Tiffany e pressionou inconscientemente seu centro contra a coxa da morena. Oh sim. Ela pretendia chegar lá, mas antes ela tinha muito a explorar. Ela virou Taeyeon na cama e os dedos ligeiros começaram a levantar a blusa da mulher, e foi aqui que Taeyeon acordou.
- Fany-ah, muito cedo. - Ela murmurou, mas não mostrou resistência nenhuma quando a morena ergueu sua blusa acima do peito.
Tiffany respondeu beijando sua barriga, deslizando sua mão pela cintura e seios, se deliciando com cada parte que não tocava pelo que lhe parecia uma eternidade. Quando os lábios úmidos de Tiffany encontraram um mamilo endurecido de Taeyeon, a loira se contorceu e soltou um gemido. Tiffany rapidamente levou uma mão à sua boca para abafar o som.
- Sem barulho. - Ela repreendeu, mas a boca de volta sugando seu seio tornava uma tarefa muito difícil de ser cumprida.
- Pany-ah - Ela sussurou enquanto a outra mordiscava seu seio. - Sem provocar.
A morena sorriu maliciosamente sabendo exatamente o que Taeyeon queria dizer, mas optando ainda por sugar seu outro seio. Ela sentiu os dedos de Taeyeon prendendo seu cabelo e a pressão do corpo da mulher contra sua boca. Ela sugou com força, prendendo o mamilo entre seu dente gentilmente e soltando em seguida. Taeyeon arqueou as costas e mordeu os lábios para suprimir o som prestes a escapar de sua garganta.
- Fany, sem provocar! - Ela disse de novo, e de qualquer jeito Tiffany queria estar dentro dela agora. E sua mão deslizou facilmente por dentro da calcinha da loira, e como Taeyeon havia pedido, ela não provocou. Os dedos percorreram o caminho que já sabiam de cor, e molhados e determinados penetraram Taeyeon de uma só vez. Ela gemeu e Tiffany mais uma vez a repreendeu. - Eu disse sem barulho, Taetae. - E a morena pressionou seus lábios nos dela enquanto seus dedos investiam com força dentro da loira.
Taeyeon precisava da sensação de Tiffany dentro de si. Ela precisava de seus dedos e do seu calor e de sua língua. Ela precisava do alívio. Ela precisava de seu corpo se contorcendo, como estava agora, sob o corpo da morena. – Pany-ah - ela murmurou pedindo por mais força, por agilidade. Por mais um dígito. Ela viu um sorriso se formar no rosto da morena e sentir dedos abandonando seu corpo, só para ser preenchida com mais. As costas arquearam novamente, e Tiffany, sem piedade, sugou novamente seu seio, enquanto movimentava os dedos ritmicamente dentro de si, mandando ondas e ondas de prazer pelo corpo inteiro.
- Não resista, Taetae. - A morena sussurrou para ela, beijando-lhe o queixo. - Eu posso te dar mais, mais tarde. - E ela pressionou a palma da mão no clitóris inchado da loira, e Taeyeon sentiu o corpo tremer deliciosamente, enquanto sucumbia ao poder dos dedos da loira dentro de si.
- Oh! - Ela exclamou e Tiffany riu em malícia, adorando a sensação do corpo trêmulo de Taeyeon embaixo do seu. E ela adorava ser a pessoa que, depois de fazê-la atingir um orgasmo com força, cuidava de Taeyeon enquanto ela se recompunha. E era por isso que ela agora estava juntando Taeyeon em seus braços, deslizando suas mãos nas costas suadas e definidas da mulher, como se recolocando e firmando cada pedaço de Taeyeon em si, como se provasse a existência dela e do ato que tinha experimentado.
Taeyeon ainda respirava fundo quando descansou a cabeça no ombro de Tiffany. Ela sentiu a morena abaixando sua blusa e abraçando-a com carinho, firme o suficiente para se sentir protegida e amada. Taeyeon plantou um beijo no pescoço dela e murmurou seu nome.
- Durma, meu amor. - Ela escutou a voz doce de Tiffany invadir seu ouvido, e o convite para dormir naquele colo parecia irresistivelmente aconchegante, inegável. Ela fechou os olhos e obedeceu.
Quando Tiffany acordou pela segunda vez, ela sentiu os dedos de Taeyeon mexendo em seu cabelo preguiçosamente. Ela só teve certeza de que a mulher estava acordada quando inclinou a cabeça para ver melhor seu rosto e Taeyeon sorriu e pressionou seus lábios em seu pescoço.
- Dia. - A voz rouca da loira arrepiou sua pele.
- Bom dia. - Tiffany acariciou sua cabeça e beijou sua testa.
Era o dia de folga de Tiffany e Taeyeon só trabalharia na parte da tarde, o que significava que as duas podiam ficar na cama até mais tarde. A médica sorriu ao se lembrar disso, e fechou os olhos quando Taeyeon beijou novamente seu pescoço, carinhosamente, enquanto acariciava sua cintura. Ela suspirou em satisfação e correu as mãos nas costas da loira.
- Eu estava sentindo falta disso. - A morena apertou os dedos na cintura de sua mulher e a puxou para cima de si.
Taeyeon riu e pressionou seus lábios nos lábios que ela amava tanto. - Eu sinto tua falta sempre que você tá longe. - Ela disse em tom de competição, entregou beijos rápidos nos lábios, bochecha e pescoço da morena.
Tiffany riu e apertou os braços em volta da mulher. - Quem diria que a detetive Kim pudesse ser tão... melosa?
- Eu não sou melosa, Fany. - Ela ergueu uma sobrancelha.
- Não? - A morena imitou o gesto, arqueando a própria.
- Às vezes? - Ela espremeu os olhos.
Tiffany inclinou a cabeça de um modo sugestivo.
- Ok, ok. Mas será que você não conta pra ninguém? Você sabe, eu tenho uma reputação de insensível e durona para manter.
Tiffany riu e beijou seu queixo. - Na verdade, eu fico muito feliz de ser a única a conhecer esse lado. Eu guardo segredo.
- Quem é a melosa agora? - Taeyeon apertou os ombros da loira e abriu um sorriso em vitória.
- Você é muito competitiva, Tae, francamente! - Tiffany revirou os olhos.
Taeyeon apertou os olhos em pensamento. - Qual é o problema com os adjetivos hoje?
A morena abriu um sorriso malicioso e puxou Taeyeon para perto de si pela nuca, apenas para sussurrar em seu ouvido. - Se você quiser eu posso falar sobre... outras coisas.
- Oh... Eu ficaria muito feliz, Dra. Hwang.
- Você se importa? - A voz era sedutora, e Tiffany percebeu a tensão correndo pelo corpo da loira.
Taeyeon balançou a cabeça, dando permissão para que ela seguisse em frente.
Tiffany deu um beijo no ouvido da mulher, e começou. - Ontem eu estava no laboratório e recolhi amostras de larvas de borboletas e fiz um milk shake delas, para recolher as fezes e o conteúdo estomacal para determinar o local da morte do cadáver.
Taeyeon afastou o rosto e olhou em completo horror para Tiffany. Não era isso que ela estava esperando ouvir. Não mesmo. A risada da morena invadiu seu ouvido e ela franziu o cenho, não achando nada engraçado a princípio.
- Isso é completamente nojento, Fany-ah! - Ela exclamou, ainda escandalizada.
A morena apenas ria, chacoalhando todo o corpo, divertida com a expressão de choque no rosto da loira. Ela não tinha resistido. Ela tinha enganado Taeyeon, e a loira geralmente era tão esperta para cair em suas brincadeiras. Ela riu ainda mais.
- Não é engraçado, Fany. - Taeyeon se afastou agora, fingindo - muito bem - estar irritada.
- Me desculpa! - A morena laçou sua cintura com as pernas e a puxou de volta para si. - Você deveria ter visto tua expressão, quer dizer...
Taeyeon revirou os olhos, mas em seguida sorriu para ela. - Quem diria que você pudesse... bem, fazer piadas. Piadas boas, Fany. - Ela adicionou quando a morena foi se defender.
Tiffany espremeu os olhos e deu um tapa no ombro dela.
- O que? Foi um elogio! - Ela se defendeu e beijou os lábios da morena. - Eu preciso tomar um banho. E embora eu queira ficar o dia todo aqui com você... Algo me diz que logo nós vamos ter companhia. - Ela suspirou.
- Irene não apareceu por aqui hoje. - Tiffany franziu o cenho. Taeyeon estava certa. Na verdade, considerando a hora, Irene já deveria ter aparecido antes.
- Não... Talvez ainda esteja dormindo, quer dizer... Ontem foi um dia pesado pra ela. - Ela disse enquanto se sentava na cama e Tiffany se levantava junto.
- Eu vou checar. - Mas antes de sair ela segurou Taeyeon pelo braço e roubou um último beijo - que foi devidamente correspondido.
A médica abriu a porta do quarto da garotinha lentamente. A pequena forma estava deitada na cama em posição fetal, e foi somente quando a morena andou alguns passos para dentro que ela percebeu que Irene estava acordada.
- Hey, bom dia. - Ela sussurrou, ainda familiarizada com o silêncio da manhã.
- Hey. - Irene disse de volta, a voz rouca por causa do sono.
Tiffany se sentou na cama e acariciou sua bochecha. - Senti tua falta hoje de manhã. - Ela ofereceu, esperando que Irene dissesse alguma coisa. Tinha sido incomum que, depois de dias seguidos, a menina não aparecesse no quarto dela.
Em resposta, ela simplesmente levou a mão na boca e mordeu os dedos - um hábito que vinha fazendo muito ultimamente.
Tiffany suspirou quando nenhuma resposta veio. - Que tal se a gente for fazer café juntas? Tae vai gostar. - Ela tentou de novo.
Irene concordou com a cabeça e se levantou da cama. A mão pequena passou pela mão de Tiffany e ela olhou para cima, como se esperando algum comando. Quando elas saíram do quarto, Tiffany notou o jeito incerto da garota andar, tão diferente do dia que ela a tinha conhecido. Algo estava errado. Alguma coisa estava incomodando Irene e ela não tinha a menor ideia do que era. O silêncio da garota só piorava sua preocupação, e ela se sentia culpada por não poder adivinhar o que ela estava sentindo.
A parte da manhã tinha sido calma. Tiffany optara por ler um livro enquanto Irene assistia desenhos - a cabeça da menina apoiada em seu colo recebia hora ou outra carícias da morena. No meio do período Taeyeon convidara a menina para socar o saco de areia com ela. Irene concordou sem muito ânimo, e desistiu da brincadeira quando as luvas, que eram grandes demais para ela, começaram a incomodar. Ela simplesmente sentou-se no chão e ficou observando a loira bater repetidamente até sentir os braços doerem. Taeyeon disse que compraria luvas novas para ela, no tamanho adequado, e Irene sorriu educadamente. A loira teve que admitir que Tiffany estava certa, algo estava errado com a menina, em outros dias ela teria se mostrado no mínimo animada.
Taeyeon sentou-se do lado dela no chão e começou a tirar as luvas. Ela sorriu para a menina e estava prestes a perguntar o que havia de errado quando o celular tocou. Ela esticou o corpo e atendeu a ligação, e com uma careta murmurou um xingamento. Alguém tinha sido assassinado. Ela teria que ir até o local do crime, o que significava que Tiffany também teria que estar lá, o que significava consequentemente que ela teria que ligar para sua mãe para cuidar de Irene.
Nawoon chegou minutos depois, exatamente quando Tiffany apareceu no andar de baixo avisando Taeyeon que estava pronta. As duas mulheres deram um beijo de despedida na criança e deixaram a casa. Num último olhar, Taeyeon observou Irene e Nawoon na sala, antes de partir para o trabalho. Se a loira depositasse um pouco mais de fé em sua mãe, teria logo sabido que seria ela quem descobriria o problema de Irene.
Como uma boa cozinheira coreana, Nawoon se apressou para a cozinha para preparar uma refeição que seria consumida a noite. Ela passou uma hora fazendo massa fresca da rámen, e quando finalmente terminou, sentiu necessidade de conversar um pouco mais com Irene. Ela caminhou o quintal, onde a menina estava, e correu ao seu encontro quando a viu olhando para a bola que estava no chão, chorando silenciosamente.
- Irene? - Ela chamou, os olhos arregalados. - Você se machucou? - Ela perguntou aflita.
A criança balançou a cabeça em não.
- O que houve, querida? - Ela se aproximou e se abaixou no nível da menina.
Irene fez um bico e abriu a boca para dizer algo, mas um soluço escapou pelos seus lábios. Mais do que depressa Nawoon segurou sua pequena cintura e a levantou no colo. Ela tinha cuidado de duas crianças incontroláveis, incansáveis e extremamente diferentes uma da outra. Ela saberia o que fazer.
- Você tá triste, não tá? - Ela perguntou o óbvio, mas era a melhor forma de começar a conversa.
- É. - Ela disse entre o choro.
- Hum... Eu tô triste também. - Ela confidenciou para Irene e a menina a olhou curiosa. A isca tinha funcionado.
- Por que? - Ela perguntou baixo.
- Argh! Você vê? Você tem um apelido legal, eu não tenho nenhum. Isso me deixa triste. - Nawoon franziu o cenho, fingindo estar chateada.
- Oh. - Irene imitou o gesto, aparentemente analisando a situação.
- E você, por que está triste? - Nawoon perguntou casualmente.
A menina fez um bico de novo e olhou para baixo. - Agora eu não tenho nenhuma. - Ela disse magoada.
- Não tem nenhuma o quê, querida?
- Omma! - Ela jogou os braços para cima como se fosse tão óbvio. - Taeyeon tem uma, você, e Tiffany tem duas! E eu não, minha mãe foi embora!
Nawoon limpou as lágrimas que estavam caindo no rosto da criança. Tinha sido tão fácil. - Irene... Você ainda tem uma omma, ela só não tá aqui pessoalmente, sabe?
A garota mordeu um dedo enquanto pensava. - Queria ela de volta, e meu Boo. - O bico estava lá outra vez, e se não fosse tão triste, ela pareceria adorável.
- O que é um Boo, querida?
- Meu Boo!
- Não tenho ideia do que isso possa ser. - Nawoon se desculpou.
- Um fantasma. De pelúcia. - Ela acrescentou a última parte como se para não chocar Nawoon.
- Oh, entendo.
- Eu tenho a Miyoung, mas ainda sinto falta dele.
- É claro que sim. E também sente falta da tua omma...
A menina balançou a cabeça em concordância. - É...
Nawoon pensou por uns segundos no que poderia fazer para que a menina se sentisse bem. Talvez se...
- Irene, você acha que Taeyeon e Tiffany dariam boas ommas? - Ela perguntou soando não muito interessada.
- Aham, sim. - Ela deu de ombros e se remexeu no colo da mulher, parecendo interessada.
Nawoon sorriu. - Sabe o que é? Você tem razão, Tiffany tem duas ommas.
- Ela tem! - Irene parecia indignada, principalmente pelo fato de ela considerar como se não tivesse nenhuma.
- Eu tô aqui pensando... Por que você não as pega para você? - Ela sugeriu inocentemente.
- O que?
- Você sabe, como ommas. - Nawoon fez curvou os lábios para baixo, como se esperando uma reação positiva à proposta.
- Mas você disse que eu tenho omma, mas que ela não tá aqui. - Ela franziu o cenho, confusa.
- É claro que tem! - Nawoon pareceu escandalizada. - Eu não disse que não tinha, só estou dizendo que talvez você queira ter mais duas.
A menina abaixou os olhos enquanto pensava. A proposta parecia realmente muito boa, mas...
- Você acha que minha omma vai ficar triste? - E pareceu tão frágil que Nawoon queria abraçá-la.
- Claro que não. - Ela afirmou. - Você não tá substituindo, está só acrescentando. Yonghee ou Eunseo parecem triste por dividirem Tiffany? - Ela ergueu uma sobrancelha.
- Não parecem, não. - Ela disse naturalmente, e diante de sua percepção era verdade.
- Pois é! Três ommas parece um número bom. O que você me diz?
- Eu posso fazer isso? - Ela perguntou, incerta.
- Mas é claro! - Nawoon riu e balançou a cabeça em positivo.
Irene apertou os olhos para ela. - Omma Bora. - Ela murmurou o nome da mãe enquanto contava um dedo. – Tiffany e Taeyeon. - Ela juntou mais dois dedos a conta. Depois ela contou a sequência em sua cabeça. Taeyeon tinha uma mãe. Tiffany tinha duas. Ela teria três. Fazia sentido do jeito que sua mente organizava logicamente a sequência.
- Três é um número bom. - Ela sorriu para Nawoon. - Dá pra ser.
- Bom, parece que você saiu ganhando! Três ommas! Quem teria tanta sorte? - Nawoon riu, mesmo que por um lado fosse tão triste a dor pela qual a menina passou - estava passando. Elas, Taeyeon e Tiffany, podiam transformar isso em algo bom, e Nawoon também queria colaborar com a recuperação da garotinha.
- Ainda sinto falta dela. - Irene disse, se referindo a “primeira” mãe.
- Eu sei que sente, querida, mas não se esqueça: você tem sua omma, aqui. - Ela apontou para o coração da garotinha e bateu com o dedo de leve ali. - E agora tem mais duas aqui, nessa casa. - Ela sorriu e os olhos de Irene brilharam para ela.
A menina balançou a cabeça em sim, ainda refletindo sobre as palavras de Nawoon. De repente, como se lembrasse de algo, ela jogou a cabeça para o lado - do mesmo jeito que Tiffany fazia e perguntou - Do que você gosta?
- O que? - Nawoon estava perdida.
- Taeyeon me chama de tartaruga porque gosto de tartarugas. - Ela deu de ombro, simples assim.
Nawoon abriu um sorriso em vitória. - Halmoni. - Ela disse a palavra em coreano para avó. Se Yonghee podia, por que ela não poderia?
- O que é uma halmoni? - Irene pareceu intrigada.
- Bem, vou deixar que você descubra com o tempo. E você não pode perguntar para ninguém, eu sei que você é esperta e vai descobrir sozinha.
- Oh! - Ela pareceu indignada, mas não insistiu. - Você quer que eu te chame de halmoni, seu apelido?
- Eu adoraria! - Nawoon soou verdadeiramente feliz.
- Tá bom. Halmoni. - E Irene sorriu mostrando os dentes, contente em resolver o problema da mulher, da mesma forma que Nawoon tinha ajudado ela a resolver o seu.
A menina limpou os últimos vestígios de lágrimas do rosto, Nawoon sorriu e a abraçou. Sua neta, definitivamente. As coisas estavam finalmente mudando ao seu redor: Taeyeon e Tiffany tinham agora uma filha - não era oficial, mas Nawoon sabia, como toda mãe sabe, que era só uma questão de tempo para que o juiz decidisse a favor das duas - e ela tinha sua neta.
Algumas mudanças eram sutis e iriam acontecer pouco a pouco, como Irene compreender que as duas mulheres iriam bancar o papel de sua mãe, e Taeyeon e Tiffany compreenderem, por sua vez, que se preocupar com o bem-estar de uma criança era absolutamente o efeito colateral de ser mãe. Ao mesmo passo, outras mudanças não eram mascaradas: a marca de mão suja na parede, a caneca de leite em cima da mesa da sala, a meia jogada no sofá e os lápis espalhados pelo chão. Era só prestar um pouco de atenção: sinais de que a chegada de Irene naquela casa, naquelas vidas, implicava que todas elas estavam submetidas à transformação e ao aprendizado. Era novo, um tanto desafiador e assustador, outro tanto prazeroso. E soava de uma forma singular, tão promissor.
2 notes
·
View notes