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bode
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sukass · 4 years ago
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AmarElo
Eu sinto falta do sol.
Pouco a pouco os dias passam, pouco a pouco a vida avança e pouco a pouco não sei mais falar, não sei mais ser, não sei mais sentir.
Eu sei que eu sinto falta do sol.
Minha parede é amarela, eu escolhi o quarto que pega o sol da tarde, porque é mais quente, porque é mais amarelo, porque é o meu quarto. Em todas as fases, foi meu quarto. Antes dele eu só lembro de brincar de leão, que era amarelo, mas era no quarto da minha irmã.
Os momentos difíceis foram de noite, a roda infinita do tumbrl, Inglaterra, a implosão interna do desespero. Nada disso foi no amarelo. As alegrias foram. Sentar na secretaria pra conversar, esperar o ônibus perto da grade, deitar com ela depois do trabalho pra rir, deitar com ela depois do almoço pra cochilar, o braço em baixo na costela, assim não. 
Aqui tem sido frio, a cozinha não pega mais sol, o prédio de 3 milhões e meio barra tudo. Não achei que seria tão difícil sair, desmontar meu forte, me desmontar. 25 anos de uma extensão física de tudo que eu era, as pelúcias da minha avó que nunca foram doadas, porque eu choro pela morte dela até hoje. A vontade de nunca ter jogado nada, dado nada, porque a angústia de esquecer me consome, a angústia de ser esquecida talvez...a angústia de não ser vista como ela me via, na verdade.
Atualmente ser esquecida parece bom. Não quero ser lembrada assim, não quero ser vista assim. Eu sinto falta do sol. Sinto falta da vida; da beleza oculta e colateral que habita e significa a vida na sutileza do momento. Não gosto de dizer que é amor, mas talvez seja, outro tipo de amor. Prefiro outra palavra...cultivo? É aquele poder da terra, que é feminina, que uma noite de luar na montanha permeada pela menstruação proporciona. O Everest pode ser o topo do mundo, mas o que importa vem do centro da terra, núcleo como eu expliquei pros alunos esses dias.
Eu sinto falta do sol. Eu sinto falta da vida. Eu quase sinto falta de mim, mas eu sem isso quase não existo. Cada vez mais eu existo em menos espaços, com menos potência.
Eu existo na minha casa, mas não sei bem como, porque ela não é amarela. Ela não é amarela e madeira, ela não é minha mãe, meu pai, minha irmã e a Mel. Ela sou eu, uma eu sozinha, que imagina alguém me encostando quando deito pra dormir, uma eu que conversa com o vazio da cama porque não tenho mais minha parceirinha, uma eu sem cacarecos, sem memórias, sem vida. Eu perdi a beleza oculta. Cada vez mais.
Como construir um novo espaço? Como desistir de tentar recriar minha vida? Como voltar a sentir amarelo em uma casa que não tem mais sol? Como existir no mundo sem o eco das conexões? Do que é em si a beleza oculta e o núcleo da terra? Aceitar que sentir o calor do centro da terra ao lado delas, vivenciando fertilidade e potência ficou no passado. Que agora é subida no Everest, 60 dias de vai e volta, ciclos de aclimatação, frio, e o silêncio. Se tirar o oxigênio a gente morre. O mais difícil é a descida. Eu to cansada. Minha perna precisa mexer. Como processar tudo isso?
Como processar tudo isso?
Deus, você existe?
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sukass · 4 years ago
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O difícil é perder tudo que nos torna humanos, exceto a morte.
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sukass · 4 years ago
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Ammonite (2020)
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sukass · 4 years ago
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sukass · 4 years ago
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Wisława Szymborska
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sukass · 4 years ago
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O viver anda difícil. Difícil sair de mim e cada vez mais difícil continuar dentro. Cada vez o fundo é mais fundo. Nem sei se tem fundo...
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sukass · 4 years ago
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Call Me by Your Name (2017) dir. Luca Guadagnino
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sukass · 4 years ago
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Because it was you.
Because it was me.
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Call Me by Your Name (2017) dir. Luca Guadagnino
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sukass · 4 years ago
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sukass · 4 years ago
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Photoshoot - Portada People En Español (Dez 2020)
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sukass · 5 years ago
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sukass · 5 years ago
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sukass · 5 years ago
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sukass · 5 years ago
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Esse álbum me salvou e eu sou GRATA. 
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findingxfletcher: the s(ex) tapes // 9.18 // shot by my ex
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sukass · 5 years ago
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sukass · 5 years ago
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As vezes eu me sinto sem lugar.
Eu fiquei surpresa quando ele disse rindo que eu era romântica. Foi quase uma provocação, justo pra mim que era tão sabida, que já tinha feito tanta terapia. Romantismo era coisa de ilusão, de quem acreditava em comédia romântica de amor à primeira vista. Eu não era assim, meu amor tinha sido construído, um fundo sólido de parceria e amizade, mergulho tão grande, tão cedo, que virou mistura indiscriminada e a coisa desandou no encontro de nós mesmas.
Mas ao mesmo tempo quem me dizia isso era ele, a pessoa que me olhou fundo numa mureta de concreto. Ele entendia de dor como ninguém. Ele era poeta e eu perdi o poema que ele escreveu pra mim, meu celular quebrou e eu perdi. Só consigo lembrar da parte que dizia que a gente não podia durar, porque era amor intenso e verdadeiro e esse tipo não tem chance no mundo.
Com ele eu entendi que eu sou romântica mesmo...pra mim é esse tipo de amor que dura, é esse amor que deveria durar pra sempre. Todos os meus amores duram, pulsam dentro de mim num lugar muito seguro. E mesmo assim é esse eterno não lugar, essa memória.
Eu busco esse espaço de encontro transcendental, que significa nossa existência na potência do instante...o que me confunde é a contradição! Eu já vivi isso antes, com diferentes amores, olhar pro mundo em volta, se perceber viva, e pensar “é isso o sentido da vida”. Sentido não...é essa a potência da vida! Eu já senti isso!
Eu já senti isso mais de uma vez, amor em estado profundo, denso, que te puxa pro mais fundo da existência, que te preenche por inteiro porque te conecta com o todo. Mas todas as vezes ele passou...Esse mesmo amor; que me faz sentir tão parte integrante do mundo, que me muda, me revolve e me joga pra longe. Deixa de fazer sentido e aí vem o vazio, vem o não lugar, vem a necessidade de voltar a sentir essa sensação que não é idealizada, é memória vívida, memória física, e que me leva pra outra busca. É uma sensação que vem da boca do estômago, desce pra vagina, sobe pra garganta, atrás da coxa, ombros. Eu chamo isso de felicidade. É a dor mais prazerosa que tem. Não me assusta, me fascina, e eu mergulho nela por inteiro.
Eu li uma vez que sagitário é um signo propenso a vícios. Minha mãe sempre achou que eu fosse virar uma drogada. Eu não acho que ela tava errada. Ela só não entendeu que esse vício é minha virtude, minha intensidade, minha paixão, minha razão de viver. E minha droga é a própria vida, esses momentos raros, mas nem tanto, abundantes de essência, de sentido, físicos! Minha irmã um dia falou que eu era obsessiva, ela também não entende. Ele entendeu. Ele também disse isso, mas com poesia...”você é muito romântica”. Ele me via mais do que eu achava possível alguém me ver. A gente foi juntos até o inferno, e era lindo lá.
Eu gosto é desse tipo de gente, que entende a poesia da vida, a poesia do vício, a poesia da dor. Que entende que o inferno de ruim não tem nada, tem mesmo é a potência da vida, e que nele se fazem as maiores conexões...eu podia não terminar, porque a beleza da poesia é que tudo cabe nela, tudo é ela. Tudo cabe dentro de mim. Tudo não, mas esse sentimento que eu busco, esse lugar, é uma infinitude dentro da gente, um pedaço de universo. Tudo mudou depois que eu senti isso, em um dia de dezembro. A vida é infinita e densa e ela cabe nos menores pontinhos, igual as gotas de chuva que caíram em mim naquele dia.
É disso que eu sinto falta. Desde então eu não tomo mais chuva por medo de me resfriar com a friagem, e eu me resfrio mesmo...talvez seja maturidade. Faz tempo que eu procuro reviver esse todo, faz tempo que ele deixou de falar comigo, faz tanto tempo que ela me ressignificou por completo e que nem mais falamos sobre, justo nós que fomos uma só.
Eu sei o que eu busco, e eu sei que não está aqui. Eu sei que eu já tive, que é possível ter, e com todo meu eu acredito que tem muito mais por aí. Tem que ter, infinito é grande demais! O que eu não entendo é como o infinito pode ter fim...teve com todas elas, teve com ele...essa memória eu carrego viva em mim, será que isso conta como um “não fim”? O ruim da memória é que é construção individual, que perde a potência inerente, é resíduo de explosão.
Sigo buscando meu lugar. Sigo buscando me drogar. E sinto falta de vocês, da parte de mim que ficou com vocês pelo caminho e que tinha lugar. Que tinha potência. Da parte de mim que tinha sentido enquanto com vocês.
Eu não sei onde está meu sentido, não sei nem onde procurar, mas se eu não encontrar mais, que pelo menos eu possa viver nas memórias, nas suas memórias. Sobreviver sabendo que um dia eu soube a potência da vida, e que foi a coisa mais bonita que eu já vivi.
Mas como ele disse, eu sou romântica...eu acredito que o infinito ainda esteja por aí.
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sukass · 5 years ago
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As vezes eu esqueço o poder único que é se conectar com alguém pela arte. A confiança, a troca, a intimidade. Um amor puro e sincero. Construção subjetiva. Saudades.
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