Dia Mundial da Poesia | Conheça poesias que inspiraram músicas
No Dia Mundial da Poesia, selecionamos alguns artistas que transformaram poesia em músicas. Confira:
No Dia Mundial da Poesia, celebrado em 21 de março, mergulhamos no universo da música para explorar como as poesias influenciam e inspiram composições inesquecíveis. Das baladas melancólicas aos ritmos vibrantes, a junção entre poesia e música revela-se como uma fonte infinita de arte.
Por isso, elaboramos essa lista com músicas que inspiradas em versos poéticos, com artistas nacionais e…
Zé Ibarra deu à luz uma pequena obra-prima nos vão de escada do local onde viveu nos sofridos anos da pandemia. Desses instantes íntimos surgiu Marquês, 256, um disco que só tem beleza e prazer para nos dar.
Zé Ibarra deu à luz uma pequena obra-prima nos vão de escada do local onde viveu nos sofridos anos da pandemia. Desses instantes íntimos surgiu Marquês, 256, um disco que só tem beleza e prazer para nos dar.
Este texto terá, assim esperamos, algumas serventias. Servirá, em primeiríssima instância, como forma de dar a mão à palmatória por ser tardio. Muito tardio. Depois, e para não sermos…
Festa Literária Internacional do Sertão de Jequié: Celebração dos 80 Anos de Waly Salomão
A Festa Literária Internacional do Sertão de Jequié (Felisquié) vai celebrar os 80 anos de nascimento de Waly Salomão.
A homenagem tem como finalidade de incentivar os estudantes a conhecerem a vida e a obra de Waly Salomão.
Waly Salomão Dias, nasceu em Jequié/Bahia, em 1943 e faleceu no Rio de Janeiro, em 2003. Foi poeta, compositor, ator, produtor e agitador cultural.
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Encardido enigma,
nebulosa,
envelope vazio,
a primeira pessoa busca a divina perdição para si.
Eu, por exemplo, inteiramente perdido,
passei a confiar só em mim
e sou a pessoa menos digna de fidúcia
porque não sou uno, monolítico, inteiriço.
Uma cega labareda me guia
para onde a poesia em pane me chamusca.
Pensei ter pisado solo firme
quando descobri
no texto, What is Zen, de D.T. Suzuki
que a palavra inglesa elusive
poderia solidamente me definir de uma vez por todas.
Qual o quê
vou onde poesia e fogo se amalgamam.
Sou volátil, diáfano, evasivo.
Espesso dicionário de sinônimos?
Espesso dicionário de sinônimos?
Escapo que nem dorso de golfinho
que deixa a mão humana abanando
sem agarrar nada.
Arquimedes, quando em mim confio,
em que ponto me apoio?
Arquimedes, em que fio de prumo me baseio
para sagrar o trigo
e separá-lo do trivial joio?
Éter puro e leve e cru.
Um poço sem fundo.
Uma deriva sem rumo.
Uma meada sem fio.
Um fio sem prumo.
Uma balança sem fiel.
Um horizonte sem linha.
Uma linha sem horizonte.
Um nó que se desfaz.
Um pulo da ponte.
Um sem arrimo nem pé nem cabeça.
Um caso sem cura.
Um canário, um curió, na muda.
Um cenário que muda de figura.
A chama da metamorfose me captura.
Eu, um sabedor de que os pronomes pessoais
não passam de variáveis em uma equação.
Raspa de tacho sem tacho nem tampa.
Plenipotenciário de um eu sem eu.
Espesso dicionário de antônimos.
Espesso dicionário de sinônimos.
Espesso dicionário de antônimos.
Cresci sob um teto sossegado, meu sonho era um pequenino sonho meu.
Na ciência dos cuidados fui treinado.
Agora, entre meu ser e o ser alheio, a linha de fronteira se rompeu.
Todo dia o fantasma de Drummond me visita
Faz de minha ignorância um menino tímido
As esfinges evaporam em seus enigmas
A nostalgia floresce um sorriso pontual as quatro da tarde
O fantasma da Sylvia Plath vem para me lembrar
Que minhas palavras são mortas vivas,
Morrem sempre quando termino de escrevê-las
E revivem quando são lidas
O fantasma-fantasia de Ocean Vuong vens
Esbanjando que o dilema é pertencer a um céu da boca
O inferno são os itinerários do que meus olhos alcançam
A redenção é o momento que teu tato me acata
O fantasma do Piva derramará
Minhas vísceras no calçadão
Desviando-me dos muitos suspiros
Que deuses-cadelas emprenham
O fantasma de Augusto dos Anjos
Me tira uma dança antes de recriminar
Todos os abraços que recebo
Ao espreitar o veneno das traições
O fantasma em vida de Chuck Palahniuk
Pede que eu dê a ele minha malícia,
Minha inveja, minha corrupção
E meu corpo fatalmente degradado
O fantasma hermético de Waly Salomão
Me derruba nos olhos uma lua elétrica
Nada nos aterra, nada é santo
Eu não acreditarei mais em obsessões
O fantasma de Allen Ginsberg grita
O nome de seus rancores mais vis
Seus guardiões histéricos possuem
As engrenagens da máquina de jazz
Rock, novela, política, nudez: Gal Costa inspirou mulheres a serem livres
[Texto opinativo sobre Gal Costa para a coluna PENSADORAS para UOL Universa]
De todas as cantoras brasileiras com mais de 50 anos de carreira, Gal Costa talvez tenha sido a que mais se reinventou ao longo dos anos. Essa capacidade de redescobrir-se foi uma das características mais marcantes da baiana Maria da Graça Costa Pena Burgos, nascida em Salvador em 1945 e morta em São Paulo na última quarta-feira (9).
Ela aprendeu cedo a usar a voz como instrumento e levou esse talento às últimas consequências. Versátil, transitou por diversos gêneros musicais e rompeu com os próprios padrões –e o que esperavam dela. Para além da música, botou as cordas vocais e os quadris pra jogo, deixando claro que o corpo é também uma ferramenta de expressão da maior importância, gritando para o mundo as suas verdades mais profundas. Sim, uma mulher pode ser várias ao longo de uma vida, apesar de a sociedade estar sempre tentando nos dizer o contrário.
Vejamos alguns exemplos. Se no primeiro disco, “Domingo” (1967), que dividiu com Caetano Veloso, a artista de voz doce e tímida se revelou uma discípula fiel de João Gilberto, os álbuns gravados na sequência, principalmente entre 1969 e 1971, deixaram claro o seu potencial para a estridência do rock. Nessa fase, ao tomar certa distância da bossa nova, Gal gravou Roberto e Erasmo Carlos, aproximou a jovem guarda da tropicália e alcançou o equilíbrio perfeito entre berros e sussurros.
Em 1971, a cantora de 26 anos vestiu uma saia bem abaixo do umbigo e apresentou o show “Fa-tal – Gal a todo vapor”, em que explorava os agudos cantando “Eu não tenho nada, antes de você ser eu sou amor da cabeça aos pés”, enquanto a guitarra de Lanny Gordin pontuava os versos de Moraes Moreira e Luiz Galvão ao fundo em “Dê um rolê”. A apresentação dirigida pelo poeta Waly Salomão, que deu origem a um disco ao vivo, cultuado até hoje pelas gerações mais jovens, representa também o engajamento político da artista, ao se colocar como uma das porta-vozes da resistência à ditadura militar enquanto Caetano e Gilberto Gil seguiam exilados.
Anos mais tarde, em 1973, ela teve a capa do disco “Índia” censurada pela mesma ditadura. Quem, naquela época, teria coragem de publicar um close da virilha? Gal Costa, claro. Recentemente, a cantora voltou a se posicionar politicamente, criticando Bolsonaro e lamentando as consequências da pandemia.
No fim da década de 1970, a figura de Gal já estava consagrada e sua imagem de sensualidade espontânea já estava gravada no imaginário popular brasileiro. Em uma cena hoje antológica da novela “Dancin’ Days” (1978), de Gilberto Braga, a artista canta em uma festa na casa de Júlia, personagem de Sônia Braga na trama, com a cabeleira imensa solta no ar, os lábios vermelhos. Foi nessa época que surgiu “Gal tropical” (1979), em que ela usava o timbre claro e definido em faixas como a marchinha pop “Balancê”, e seguiu frequentando as trilhas de novelas globais, nem aí para a opinião dos puristas.
Em um de seus mais controversos espetáculos, em 1994, a cantora exibiu os seios no palco do Imperator, no Rio de Janeiro, ao cantar “Brasil”, de Cazuza, no show de lançamento de “O sorriso do gato de Alice”, dirigido por Gerald Thomas. Parte do público carioca recebeu mal a proposta e vaiou a artista, enquanto alguns veículos que publicaram fotos da cena foram criticados. Além do figurino inesperado, uma camisa larga que podia ser desabotoada com facilidade, o show começava com Gal engatinhando ao som de guitarras distorcidas, contrariando as expectativas de quem esperava a postura padronizada de uma diva da MPB.
De peito aberto, Gal avançou pelos anos sem medo de mostrar a voz que ganhou intensidade, e seguiu explorando gêneros como a música eletrônica e o funk carioca. Ao mesmo tempo doce e bárbara, ela segue nos inspirando e lembrando que, em 2022, ano que começou com a partida de Elza Soares e termina sem Gal Costa, apesar de tudo, é preciso estar atenta e forte.
O filme Meu nome é Gal, protagonizado pela atriz Sophie Charlotte, teve a estreia adiada para o dia 19 de outubro. Antes, a Cinebiografia de Gal Costa estava prevista para chegar aos cinemas no dia 21 de setembro. As informações são do g1.
A obra, idealizada e filmada quando a cantora ainda estava viva, é dirigida por Dandara Ferreira com Lô Politi, que assina o roteiro com Maíra Buhler, segundo o portal.
O elenco do filme inclui: Rodrigo Lelis (Caetano Veloso), Camila Márdila (Dedé Gadelha), Dan Ferreira (Gilberto Gil), Dandara Ferreira (Maria Bethânia), George Sauma – na pele do poeta, compositor e diretor Waly Salomão (1943– 2003) – e Luis Lobianco, como o empresário e produtor Guilherme Araújo (1936 – 2007).
Foto: Stella Carvalho / Divulgação
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Crônica do mundo Paralelo /Mercado (Por Hang Ferrero) — Luíz Müller Blog
Crônica do mundo Paralelo /Mercado (Por Hang Ferrero) — Luíz Müller Blog
uma bandeira acoberta um degredado en passant. bebe corote. marcha soldado cabeça de papel. visível grogue catarina do brazil in a pickle. ele bebe corote. o mercado pede pra beber pouco por conta do teto. cabeça oca. não vacinei porque tava viajando. cadê wally? saudade de waly, o salomão. este, bebia poesia nos mercados, feito eu. aqui, tem mercado e é a casa-manifesto das culturas…
A memória é uma ilha de edição - um qualquer
passante diz, em um estilo nonchalant,
e imediatamente apaga a tecla e também
o sentido do que queria dizer.
Esgotado o eu, resta o espanto do mundo não ser
levado junto de roldão.
Onde e como armazenar a cor de cada instante?
Que traço reter da translúcida aurora?
Incinerar o lenho seco das amizades esturricadas?
O perfume, acaso, daquela rosa desbotada?
A vida não é uma tela e jamais adquire
o significado estrito
que se deseja imprimir nela.
Tampouco é uma estória em que cada minúcia
encerra uma moral.
Ela é recheada de locais de desova, presuntos,
liquidações, queimas de arquivos, divisões de capturas,
apagamentos de trechos, sumiços de originais,
grupos de extermínios e fotogramas estourados.
Que importa se as cinzas restam frias
ou se ainda ardem quentes
se não é selecionada urna alguma adequada,
seja grega seja bárbara,
para depositá-las?
Antes que o amanhã desabe aqui,
ainda hoje será esquecido o que traz
a marca d'água d'hoje.
...
Hienas aguardam na tocaia da moita enquanto
os cães de fila do tempo fazem um arquipélago
de fiapos do terno da memória.
Ilhotas. Imagens em farrapos dos dias findos.
Numerosas crateras ozonais.
Os laços de família tornados lapsos.
Oco e cárie e cava e prótese,
assim o mundo vai parindo o defunto
de sua sinopse.
Sem nenhuma explosão final.
...
Nulla dies sine linea. Nenhum dia sem um traço.
Um, sem nome e com vontade aguada,
ergue este lema como uma barragem
anti-entropia.
E os dias sucedem-se e é firmada a intenção
de transmudar todo veneno e ferrugem
em pedaço do paraíso. Ou vice-versa.
Ao prazer do bel-prazer,
como quem aperta um botão da mesa
de uma ilha de edição
e um deus irrompe afinal para resgatar o humano fardo.