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#euvoucontar
eu-vou-contar · 5 years
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 “Eu queria pedir a você que não escrevesse a minha história. Na verdade eu não vou gravar, é só isso que eu vou te contar. Eu sou uma escritora, eu escrevi a minha história e eu queria pedir a você que lesse. Lesse do jeito que eu escrevi, por favor.
 Era meio-dia e ela ainda dormia, sonhando talvez, ela se arruma para sair a procurar um emprego, o cheiro do café acorda ela, estira seus braços, sua coluna e boceja. A cama ainda a convida para ficar nela, seu corpo lhe era estranho já faziam dias, sai da cama pra fazer xixi, tomar banho, ir pra faculdade, não era um dia a mais, sentia seu corpo alheio.
 No ônibus, tinha a sensação que todos a olhavam. Na sala de aula, alguém falou de corpos e ela teve que sair, não entendia por que e nem pra que, mas ela tinha que sair e saiu. De volta pra casa, escreveu uma mensagem no seu celular, mas não teve coragem de marcar o “enviar” nesse momento, decidiu dormir, acordou depois de uma hora e enviou a mensagem: “Passa na farmácia, por favor”. Ele sem entender, mas entendendo, respondeu: “Tudo bem, farmácia?”. Ela não conseguiu dizer mais nada, mas ele comprou na farmácia o que tinha que ser comprado.
 Aconteceu, estava acontecendo. Não, a gente cuidava daquilo, não era possível, não! Ela já sabia, seu corpo sabia, não! No passar dos dias sentiu como todo o mundo era dono do seu corpo, menos ela. Ela sentia que doía, doíam seus peitos, doía sentir, doía a dor. Seu corpo não lhe pertencia mais, ela precisava recuperá-lo.
Olhares e discursos misturados com a culpa e as dores, se impregnavam naquele corpo que ela rejeitava. Ela resistia. Tomar a sua vida nas mãos estava sendo caro, ouvir o pastor da igreja do bairro, no domingo, lhe dava raiva, alimentava a culpa que resistia a sentir.
Uma mala e muito medo. Coragem. Viajaram. Na sua terra, achou o calor feminino que precisava, mulheres e irmãs que não conhecia, num abraço de ventres, úteros, bucetas, trompas de falópio, ovários, almas que experimentaram o que ela sentiu. Chegar a certa calma. Ouvir seu idioma a fazia se sentir mais segura, mas não estava em casa. Sentia vontade de ligar pra sua mãe, de ouvir a voz de seu pai, de abraçar suas irmãs.
Decidiu escrever uma mensagem para seu pai enquanto estava na farmácia: “Saudades, papai. Tem uma pergunta que me aperta no peito: tem alguma coisa que se eu fizesse nesta vida você deixasse de me amar?”. Ela se preparava pra esperar um longo tempo por que seu pai trabalhava muito e costumava demorar a responder as mensagens, mas dessa vez foi instantâneo. “Nããão! Meu amor, você é o amor da minha vida, lembra os abraços de seu papai agora. A senhorita está bem?”. Ela suspirou chorando, entre sensações de alívio e ansiedade. Precisava  daquelas palavras de seu pai.
Ele pagava o medicamento* enquanto falava pra ela que deviam comprar frutas e água antes de ir pro hotel. Um abraço apertado numa calçada de San Telmo dava calor ao frio de outono e inaugurava o passo seguinte. Só ela e ele naquela cumplicidade, burlando o destino, sendo clandestinos. Pagaram o melhor hotel que puderam e fizeram amor.
Procedimento estudado, hospitais e endereços, pessoas de confiança sabendo, chega o momento. Enquanto rolava um filme, as dores dominavam o seu corpo. Ligações e palavras a acolhiam. O frio da sua terra convidava a ficar entre cobertores enquanto sentia dores desconhecidas pra ela até então. Dores que não só pertenciam ao corpo. Senão aqueles que vinham da culpa, da clandestinidade, dos medos das mais variadas formas. Medos que nunca antes tinha sentido. Imagens das mais variadas cores invadiam os seus pensamentos, roubavam a sua vontade indeterminada e complexa.
 Aconteceu. Estava acontecendo. Era intenso. No passar das horas, sentia como seu corpo voltava pra ela, recuperava seu corpo aos poucos. Em cumplicidade com sua intuição, tinha a sensação de felicidade. Consegui, nós conseguimos! Intenso. Se antes ela sentia sua vida imprópria, agora se sentia transformada, atravessada, afetada e dona. Comeu churrasco e doce de leite, foram pra um show de tango. Dança, movimento, vida.
 Ouvir seu corpo, dar vida pra ele foi o que fez crescida por aquela vivência. Intuição indômita que guia. Experiência intensa que marca, faz parar, tomar a vida nas mãos, resistir, seguir adiante. Avião e inspiração. Voltando para o lugar que tinha escolhido para morar um ciclo de sua vida. Aquele mesmo lugar em que quase a encarceraram quando procuravam a farmácia onde comprara o medicamento, ela se sentiu inspirada para falar sobre o insuportável. Inspiração que veio daquela experiência que a empurrava a produzir pensamentos sobre. Era o seu presente agindo.
 Era quinta e tinha aula. Escrita de si. Viver e escrever. Ela não está preocupada por produzir um livro ou uma escrita de dissertação. Ela está ocupada em escrever. Ela sente que tem que escrever. Ela precisa escrever. Sente que a experiência não cessa de lhe convidar para escrever. Ela lê um livro antes de dormir e se depara com um trecho: “Nada sabemos de um corpo enquanto não saibamos o que ele pode”. Reflexiva porém com muito sono, vai dormir sorrindo, sem saber exatamente o porquê. Ela nunca mais foi a mesma.
 Nova vida, novo dia. E era meio-dia e ela ainda dormia.”
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* Segundo a Organização Mundial de Saúde, o aborto com medicamentos é seguro. A combinação mais recomendada é de misoprostol e mifepristone. O misprostol é conhecido no Brasil como citotec. No Brasil, os serviços de aborto legal não usam mifepristone e o procedimento é feito apenas com misoprostol. A OMS considera que as doses seguras são, para até 12 semanas de atraso menstrual, 800 microgramas de misoprostol. O remédio pode ser usado embaixo da língua ou introduzido na vagina. Uma mulher pode usar até três doses do medicamento em 12 horas. Se na primeira dose, a mulher não sangrar, a segunda dose pode ser 3 horas após a primeira.ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Abortamento seguro: orientação técnica e de políticas para sistemas de saúde. 2ª edição. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/70914/7/9789248548437_por.pdf
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anemonaestudio · 7 years
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Eu Vou Contar, 52 histórias de aborto. Instituto Anis de Bioética.
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deborafolego · 7 years
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Chá do Raul 💙 #vemcuervinho #cuervomãe #cuervofilho #elevaisaberseuapelido #euvoucontar #doshowdoForfunpravida (at Santo André, Brazil)
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ecologiadigital · 7 years
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Rebeca Mendes "soon found the #EuVouContar (I Will Tell) blog — part of a campaign by @anis_bioetica to let Brazilians anonymously share their stories of having illegal abortions. That led her to lawyers who hatched a novel legal strategy." https://t.co/UlLHKjFCFi
— Jose Murilo (@josemurilo) December 11, 2017
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analuizarios · 9 years
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Só pra constar, eu não te amo. #bailedefavela #naomebateLucas #tuéfeio #euvoucontar (em Senador Alexandre Costa, Brazil)
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eu-vou-contar · 5 years
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"Já faz uns 15 anos essa história. Eu tinha 13 anos, o meu namorado era um pouco mais velho do que eu, eu acho que ele tinha uns 18 anos, eu não tô certa da idade dele, ele era o meu primeiro namorado. A minha menstruação era muito irregular, eu acho que era ainda da minha juventude, eu tinha acabado de ficar moça, né? Quando eu soube que estava grávida, ele já conseguiu o remédio, era o Cytotec*, e me deu, me deu e falou como usar. E eu fiz exatamente como ele orientou. Já na madrugada que eu fiz o uso, comecei a passar muito mal, mas era muito mal mesmo, não é exagero, eu vomitava e sangrava sem parar. Eu ia ao banheiro muitas vezes e já tava, sabe, quase perdendo a consciência, eu não tava sabendo muito bem o que tava acontecendo. 
 Ele foi me ver pela manhã e eu estava ainda pior, em nenhum momento nós dois cogitamos que era a hora ou que seria bom ir a um hospital, ele foi pra escola e eu fiquei em casa. Fiquei em casa sozinha, a minha mãe trabalhava como doméstica, ela saía muito cedo. Eu fui piorando durante o dia e de tarde eu fui a pé na escola dele, fui sozinha, saí de casa e fui a pé, eu precisava de ajuda, eu precisava de alguém para ir comigo ao hospital. Eu cheguei na escola, falei com ele, eu não me lembro mais a razão, mas ele não pôde ir comigo, eu tive que ir sozinha. Eu fui da escola até o pronto-socorro andando, parando, eu sentava no meio-fio, eu achava que eu ia desmaiar, eu já tava sangrando muito e foi assim que eu cheguei no pronto-socorro. 
 Já no hospital, eles já vieram logo dizendo que aquilo era um aborto provocado, que eles sabiam tudo e que a culpa era minha, que não gostavam de mulher que faz aborto. Lembra bem, eu tinha 13 anos, não gostavam de mulher que faz aborto, que era tudo bem feito, que a culpa era minha e que eles não podiam fazer nada por mim, eles não deram um remédio pra dor e me mandaram de volta pra casa. Eu voltei pra casa sangrando, perdendo os restos que ainda tavam dentro de mim, né? Abortando mesmo. Eu pensei que eu ia morrer, porque eu sangrava,  sangrava e eu nunca tinha ido ao médico, eu não sabia que era aquilo que eu ia receber de atendimento. Eu nunca tinha ido no ginecologista e a primeira vez que eu fui ao ginecologista, eu já tinha 20 anos, quando eu engravidei da minha primeira filha."  
* Segundo a Organização Mundial de Saúde, o aborto com medicamentos é seguro. A combinação mais recomendada é de misoprostol e mifepristone. O misprostol é conhecido no Brasil como citotec. No Brasil, os serviços de aborto legal não usam mifepristone e o procedimento é feito apenas com misoprostol. A OMS considera que as doses seguras são, para até 12 semanas de atraso menstrual, 800 microgramas de misoprostol. O remédio pode ser usado embaixo da língua ou introduzido na vagina. Uma mulher pode usar até três doses do medicamento em 12 horas. Se na primeira dose, a mulher não sangrar, a segunda dose pode ser 3 horas após a primeira.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Abortamento seguro: orientação técnica e de políticas para sistemas de saúde. 2ª edição. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/70914/7/9789248548437_por.pdf
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eu-vou-contar · 5 years
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“Eu tenho duas histórias de aborto, imagino que algumas pessoas já vão ouvir e dizer “duas!” Eu não sei se nenhuma outra mulher passou por aqui e contou pra você mais de uma história, ou se eu sou a única em toda essa campanha que vai contar a você duas histórias. É, foram duas histórias, eu vou contar só uma hoje e vou te explicar por que que vou contar só uma. Eu sou filha de uma família de classe média, tive acesso à informação, tinha acesso a cuidado, eu sabia o que uma menina jovem podia saber sobre proteção, sobre sexualidade.
Eu tava me iniciando na vida sexual, tava nas minhas primeiras relações, não era a primeira ainda e ele usava camisinha, né? E a camisinha estourou, mas ele não me falou na hora. E assim que eu soube que tava grávida, que eu fiz o exame e eu soube, procurei um grupo de informações para adolescentes e sexualidade que tinha na minha cidade, era um grupo super bacana e eu fui lá e contei a verdade, foi até com ele, com o meu namorado na época. E elas me orientaram, elas me disseram que era ilegal, mas que eu podia ter escolhas e inclusive me indicaram onde que eu poderia ter acesso ao aborto com um médico.
Eu fui nesse médico, ele era um sujeito super grosseiro, ele foi super duro comigo e eu não me lembro qual era a idade gestacional que eu tava, mas ele foi taxativo, ele disse: “se você não voltar amanhã, eu não vou fazer mais”. Eu saí dali muito assustada e resolvi que eu tinha que contar pra minha mãe, a minha mãe trabalhava, eu fui ao consultório dela, fui com o meu namorado, nós contamos tudo a ela. A minha família não era muito simpática a esse namoro, então a minha mãe disse que à noite conversaria comigo em casa. Ela me abraçou, ela me acolheu, ela disse pra eu me acalmar e, quando ela chegou em casa, disse que ok, a decisão era minha, ela iria me apoiar em qualquer decisão, mas primeiro ela queria que eu fosse ao ginecologista da família, no que ela confiava. E ele era um homem muito conservador, né? Imagina aquela época, ele era muito conservador, mas me surpreendeu, porque ele disse: “olha, eu não faço, mas eu sei aonde você pode conseguir o remédio* e eu posso orientar você por telefone”.
O meu namorado foi aonde ele disse que vendia o remédio, era uma feira, comprou, eu ingeri e coloquei alguns e sempre acompanhada pelo médico pelo telefone. Passaram uns dias e nada aconteceu, nós tínhamos uma pequena viagem, eu e a minha família, e durante a viagem de carro, eu comecei a perder sangue, eram coágulos imensos, que eles assim, faziam uma poça no carro, eu sujei o carro inteiro. A minha família me levou pro médico conhecido da família, que me receitou chás, a minha família se reuniu com ele num canto, eu não me lembro, não ouvi o que eles conversaram, eles só disseram que tava tudo bem, que eu fosse no outro dia no médico que já vinha me acompanhando. Eu fui nele, ele fez uma ultrassonografia e viu que tava tudo limpo no meu útero, eu não precisei nem fazer uma curetagem.
Logo depois eu terminei esse relacionamento, era um namoro de adolescência, eu tive, eu preciso dizer, eu tive o apoio dele, tive o apoio da minha mãe. Só depois que tudo passou, foi que a minha mãe me chamou pra conversar e disse que ela era contra o aborto, que ela jamais faria um aborto, mas que ela como minha mãe, ela iria me apoiar na decisão que eu achasse que era melhor pra mim. Eu fiquei pensando muito sobre isso, como é ser uma mãe assim, ser uma mãe capaz de apoiar uma filha em decisões, mesmo sendo adolescente, diferentes das que ela acredita e sem julgar naquele momento, né? Ela não me impôs o que ela pensava e é por isso que quando eu passei pela segunda experiência de aborto, eu resolvi que eu ia resolver totalmente sozinha, e foi isso que eu fiz. E eu nunca contei a ela, porque eu não ia impor a ela, novamente, a minha decisão.”
* Segundo a Organização Mundial de Saúde, o aborto com medicamentos é seguro. A combinação mais recomendada é de misoprostol e mifepristone. O misprostol é conhecido no Brasil como citotec. No Brasil, os serviços de aborto legal não usam mifepristone e o procedimento é feito apenas com misoprostol. A OMS considera que as doses seguras são, para até 12 semanas de atraso menstrual, 800 microgramas de misoprostol. O remédio pode ser usado embaixo da língua ou introduzido na vagina. Uma mulher pode usar até três doses do medicamento em 12 horas. Se na primeira dose, a mulher não sangrar, a segunda dose pode ser 3 horas após a primeira.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Abortamento seguro: orientação técnica e de políticas para sistemas de saúde. 2ª edição. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/70914/7/9789248548437_por.pdf
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eu-vou-contar · 7 years
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Esta é Rebeca Mendes. Ela é uma mulher comum: trabalhadora e estudante, tem 30 anos e dois filhos, um de nove e outro de seis anos. Como tantas outras mulheres brasileiras, Rebeca é a responsável pelo sustento de sua casa, da qual cuida com pouco mais do que um salário mínimo. Rebeca é mãe dedicada, amorosa e cuidadosa. Separada de seu ex-marido e pai das crianças, Rebeca decidiu trocar de método contraceptivo e para isso buscou o SUS. Da injeção hormonal para o DIU, o serviço de saúde exigiu exames e mais de dois meses de espera. No intervalo, desprotegida e sem recomendação de outro método, engravidou de um único encontro com seu ex-companheiro. A gravidez foi notícia de tristeza e desespero para os planos e sustento da família. Rebeca está em sofrimento e sabe que não pode seguir adiante e ter mais um filho.
Rebeca quer falar à Ministra Rosa Weber. Sua história foi contada em petição entregue ontem, 22 de novembro, ao Supremo Tribunal Federal, para reforçar o pedido de urgência de decisão na ADPF 442. Protocolada em março, a ADPF pede que nenhuma mulher seja presa ou enfrente riscos à sua saúde e à sua vida por fazer um aborto até a 12ª semana de gestação.
Ao longo das últimas semanas, a Anis tem trazido histórias anônimas de mulheres que fizeram aborto há mais de 8 anos na campanha #EuVouContar. Hoje, é Rebeca quem atravessa o medo do estigma e do julgamento para dizer publicamente que ela é o rosto dessa urgência: “eu não quero morrer, eu quero ser mãe de meus dois filhos”.
Assista e leia sua carta:
“Meu nome é Rebeca tenho 30 anos, sou mãe de dois meninos. Thomas de 9 anos e Felipe de 6 anos.  Antes de me julgar, Ministra Rosa Weber, peço que me escute, pois não é fácil, mas tentarei descrever o motivo do meu atual sofrimento.
Na terça-feira, dia 14/11, eu descobri que estou grávida. Minha menstruação, até então, estava atrasada apenas 10 dias. O que isso significa pra mim naquele momento? Bom, senti um grande abismo se abrindo e me sugando cada vez mais para baixo. Desde então, eu já não sei o que significa dormir, comer, estudar, enfim, tudo o que faço tranquilamente e quando não estou fazendo “nada”, eu estou chorando. Fico imaginando as possibilidades, e a longo prazo se eu estivesse vivendo outra realidade, o mínimo diferente que fosse, eu não estaria escolhendo fazer um aborto. O que tentarei fazer aqui é um relato verdadeiro do que está acontecendo neste momento e mais ainda, tentarei ser o mais racional possível.
Como já disse, sou mãe de dois meninos lindos e mesmo o pai pagando a pensão alimentícia para os meninos e morando muito perto de nós, ainda assim, me considero uma mãe que também faz o papel de pai. O lema dessa pessoa que se considera pai dos mais filhos é: “eu já pago pensão”. Isso é o que eu escuto basicamente, em qualquer situação, desde chegar da faculdade às 23 horas e perceber que um deles está com febre alta e ligar e pedir que nos leve até o hospital, pois ele tem carro e eu não, e a resposta que eu tenho é: “Eu não pago pensão? Chama o Uber e leva você”. Dentre outros absurdos que não vem ao caso.
Mas o que isso tem a ver com a atual gestação? Infelizmente, o pai dos meus dois filhos é responsável também por essa gestação. Quando eu conto esse detalhe, geralmente as pessoas riem da situação. Mas não sabem como é ter um relacionamento saudável e sem remorsos, sendo uma mãe solteira. Mesmo assim, estamos separados há 3 anos, e essa foi a única aproximação amorosa que tivemos. Mas ainda assim não é esse o motivo que me leva a decisão de interromper essa gestação.
Já adianto aqui, são dois motivos que me levam a essa decisão. O principal deles é que em fevereiro para ser mais exata, no dia 11/02/2018 eu serei uma mulher desempregada. Tenho um contrato de trabalho temporário no IBGE, e nessa data ele se encerra sem a possibilidade de renovação. Serei então uma mãe de dois filhos desempregada e grávida. Se já é difícil para uma mulher com filhos pequenos trabalhar em nosso país, é impossível uma mulher grávida conseguir um trabalho para qualquer atividade que seja. Seremos três pessoas passando necessidades, não conseguindo pagar meu aluguel sem ter dinheiro para comprar comida e com toda essa dificuldade ainda terei um bebê a caminho. Esse é um cenário que a longo prazo não tenho perspectiva de melhora.
O outro motivo que tenho é que estou cursando o quinto semestre do curso de Direito, curso este onde eu possuo uma bolsa integral pelo PROUNI e é o passaporte da minha família para uma vida melhor. Continuar com essa gestação significa também interromper por prazo indeterminado a conclusão desse sonho. Não sou uma mulher irresponsável, estava trocando de uso de um contraceptivo por outro. Como não possuo convênio médico, todo procedimento é feito pelo SUS, onde todo e qualquer procedimento é moroso.
Moro na cidade de São Paulo e, pra ser sincera, eu poderia ter ido até a Praça da Sé com R$ 700,00 reais e comprar o tal do “Citotec” e ter tomado na minha casa e acabado com tudo isso. Diante dessa possibilidade pesquisei o funcionamento e as consequências deste ato. Me entenda, eu nunca estive nessa posição e os relatos que vi foram mais que suficientes para descartar essa possibilidade. O medo do procedimento não funcionar e acarretar má-formação ou o remédio causar uma hemorragia causando a minha morte e, ser levada para um hospital e chegando lá ser levada para delegacia. Não quero ser presa e muito menos morrer. Não parece ser justo comigo. Não estou grávida de 4 ou 5 meses, estou grávida de dias apenas.”
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bonbonwb-blog · 13 years
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Happy Birthday *----* or Feliz Cumpleaños.
haha Thank you very much :)
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