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jefsevero · 2 years

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A Vida é Espatódea

A vida é como um sonho que parece tão real, mas que, ao mesmo tempo, é fugidio e escapa entre nossos dedos quando tentamos agarrá-la. É como se estivéssemos perseguindo algo que não podemos alcançar, algo que está sempre além do nosso alcance. Às vezes, tentamos segurar a vida com todas as nossas forças, mas ela escapa como a água que escorre pelos nossos dedos. Porém, talvez essa sensação de que a vida é um sonho seja uma lembrança de que tudo é passageiro e transitório.

Crescer é estranho, uma mistura de euforia e angústia. É como se estivesse perdendo algo enquanto ganha algo ao mesmo tempo. A vida muda tão rápido e a gente parece não estar preparado para acompanhar o ritmo.

Às vezes, bate uma vontade de partir, de sair pelo mundo sem destino, sem olhar para trás. Fugir da rotina, dos problemas, de tudo. Mas aí a realidade nos puxa de volta, lembrando que não podemos fugir para sempre. E a angústia volta a tomar conta.

Quando olho para trás, parece que foi ontem que eu era apenas uma criança, sem preocupações, sem medos. Agora, tudo é tão diferente, tão complexo. As decisões que eu tenho que tomar, as responsabilidades que eu tenho que assumir, tudo isso me assusta.

Mas, por mais que às vezes eu queira voltar no tempo, sei que é impossível. O tempo não espera por ninguém, ele flui como um rio que nunca para, levando consigo tudo o que toca. Cada segundo é como um grão de areia que escorre pelas mãos, impossível de segurar. Não há como lutar contra o tempo, é uma força maior que tudo e todos. E assim, enquanto minha alma peregrina, sou envolvido pelo véu do tempo, pela incerteza do futuro e pela memória do passado.

Ainda me recordo das tardes de verão da minha infância, quando a luz do sol brilhava intensamente sobre a cidade, iluminando as ruas de um brilho dourado. Nesses dias, eu costumava passar horas brincando no quintal de casa, imaginando aventuras fantásticas em mundos imaginários. Às vezes, eu ficava ali até o sol se pôr, quando o céu se tingia de vermelho e laranja, como as flores da espatódea que ficava no jardim ao lado.

Aquela árvore sempre me fascinou. Suas flores alaranjadas eram tão vibrantes que pareciam brilhar sob a luz do sol poente. Eu costumava me sentar embaixo dela e admirar a beleza da natureza, sentindo uma paz indescritível. Às vezes, eu até mesmo me perdia em devaneios, imaginando que aqueles momentos durariam para sempre. As lembranças da infância me envolvem como um véu de saudade e nostalgia. Recordo-me de como costumava ser fácil encontrar alegria nas coisas mais simples, como o pôr do sol em uma tarde quente de verão. Lembro-me daquela espatódea alta e majestosa, cujas flores laranjas brilhavam no sol poente, como fogo ardente.

Mas agora, enquanto olho pela janela, vejo apenas a escuridão que a noite traz. A vida, como uma brisa passageira, trouxe consigo uma angústia persistente. Por vezes, sinto-me como se estivesse perdido em um labirinto, sem saber o caminho de volta para casa. A vontade de partir cresce dentro de mim, como uma semente que germina na terra fértil. Talvez a mudança seja a resposta para aliviar essa sensação de desespero. Mas a incerteza do futuro é como um peso em meus ombros, e a sensação de deixar tudo para trás me deixa com um vazio no peito. Sinto que estou perdendo as forças, assim como a árvore de espatódea perde suas flores no outono. As lembranças da minha infância, dos dias felizes sob a sombra daquela árvore, parecem distantes, quase irreais. O tempo passou tão rápido, e com ele vieram as responsabilidades e as angústias da vida adulta.

Lembro-me de como eu costumava subir na árvore, sentindo a brisa suave no rosto e admirando o espetáculo das flores laranjas reluzindo ao pôr do sol. Mas agora, sinto-me preso em um mundo cinza, onde as cores se misturam em uma monotonia sem fim. Talvez eu esteja perdendo a esperança, a vontade de lutar contra a maré da vida. Sinto-me cansado e exausto, como se tivesse corrido uma maratona sem fim. Queria encontrar a força para me levantar, para recuperar a energia que perdi ao longo dos anos.

Se a árvore de espatódea falasse, ela contaria histórias de tempos idos, quando suas folhas eram verdes e viçosas, e suas flores laranjas reluziam ao pôr do sol. Ela testemunhou muitas coisas ao longo dos anos, desde o tempo em que era apenas uma semente até agora, quando suas raízes são profundas e suas folhas são escassas. Ela viu crianças brincando em seus galhos, rindo e gritando de alegria. Ela sentiu as mãos dos amantes se entrelaçando em seu tronco, jurando amor eterno. Ela foi uma testemunha silenciosa de tantos momentos felizes e tristes, mas agora, está morrendo lentamente.

Ainda me lembro do dia da tempestade. O céu estava escuro e pesado, as nuvens carregadas anunciavam a chegada da chuva. Eu me encontrava no quintal, olhando para a árvore de espatódea, que balançava violentamente com o vento forte. As flores laranjas já não reluziam tanto quanto antes, mas ainda assim, a árvore mantinha a sua majestade. De repente, um raio cortou o céu e iluminou a árvore, que sacudiu ainda mais forte. Fiquei com medo e corri para dentro de casa, mas a imagem da árvore lutando contra a tempestade ficou gravada na minha mente. Depois que a tempestade passou, fui verificar a árvore de espatódea e descobri que um dos seus galhos havia quebrado. Fiquei triste por ela, mas admirado por sua resistência.

Depois da tempestade, a árvore de espatódea não foi mais a mesma. Suas flores laranjas já não brilhavam com a mesma intensidade, e seus galhos pareciam mais frágeis, como se tivessem perdido sua força diante da força dos ventos e da chuva. Eu, que costumava me sentar debaixo daquela árvore e sentir sua sombra fresca, agora me via desolado ao ver sua aparência debilitada.

Era como se a tempestade tivesse levado não só suas flores e folhas, mas também um pouco da sua essência, do seu espírito. A árvore, que antes parecia ser imponente e resistente, agora me transmitia uma sensação de vulnerabilidade, como se pudesse cair a qualquer momento.

Mas apesar de sua aparência debilitada, a árvore ainda era capaz de me transmitir algo de especial. Mesmo que suas flores já não brilhassem com a mesma intensidade, ainda era possível sentir sua presença marcante, como se ela fosse uma testemunha silenciosa de tudo o que acontecia à sua volta.

Eu me lembro tão claramente daqueles dias, da tempestade que trouxe consigo a mudança. Eu já não era mais uma criança e minha vida estava prestes a mudar drasticamente. Aquela árvore de espatódea era como um presságio silencioso do que estava por vir.

As flores laranjas que antes reluziam ao pôr do sol agora pareciam sombras apagadas de sua antiga glória. A árvore estava morrendo lentamente, mas com uma certeza irrefutável. E eu também estava morrendo um pouco por dentro, com medo do que viria a seguir. A tempestade que levou parte da árvore foi o ponto de virada, o momento em que tudo mudou. Depois daquele dia, a árvore não foi mais a mesma, mas eu também não fui. Eu estava prestes a começar uma nova fase da minha vida, mas ao mesmo tempo, estava com medo e me sentia angustiado.

Lembro-me da sensação de incerteza que pairava no ar, de não saber o que o futuro me reservava. E a árvore, que antes era uma presença reconfortante e constante em minha vida, agora era um lembrete constante da impermanência e da transitoriedade de todas as coisas. Eu sabia que logo iria partir, deixar para trás a casa e a árvore que faziam parte da minha vida desde que me lembro. O tempo estava passando rápido demais e eu estava perdendo as forças para lidar com a mudança. Se a árvore de espatódea falasse, ela também diria que sabia que eu estava prestes a partir e que sentia a minha tristeza.

Os dias foram passando e as mudanças vieram. Eu cresci, amadureci, e as memórias da minha adolescência se tornaram mais vívidas. Lembro-me de como era difícil lidar com a pressão de crescer, de encontrar meu lugar no mundo. A mudança de casa, a escola nova, os novos amigos - tudo parecia tão assustador. Eu queria partir, fugir, mas ao mesmo tempo eu sabia que precisava enfrentar esses desafios para crescer. Foi nessa época que descobri a música, que se tornou um refúgio para mim. Eu passava horas com meu fone de ouvido, mergulhando em novos sons e letras que expressavam exatamente o que eu sentia.

Às vezes, eu me sentia tão sozinho, mesmo cercado de pessoas. Como se ninguém realmente me entendesse, como se eu estivesse perdido em meus próprios pensamentos e emoções. E assim, os dias foram passando, as estações mudando, e eu continuei a crescer e a mudar. Mas, mesmo agora, olhando para trás, sinto uma saudade daqueles dias. Uma saudade do tempo em que tudo era novo e emocionante, mesmo quando era assustador.

Depois de alguns anos, decidi revisitar o lugar onde passei minha infância. Fui caminhando pela rua, tentando reconhecer as casas e os prédios familiares que marcaram minha memória. Quando finalmente cheguei à casa onde cresci, notei algo diferente. A árvore que costumava ficar em frente à minha casa não estava mais lá.

Eu não conseguia acreditar que aquela árvore majestosa e vibrante havia desaparecido. Era como se uma parte do meu passado tivesse sido arrancada de mim. Fiquei parado ali, olhando para o espaço vazio onde a árvore costumava estar, sentindo uma tristeza profunda e melancólica. Enquanto eu olhava para o espaço vazio onde a espatódea costumava estar, comecei a me lembrar dos momentos em que costumava me sentar sob sua sombra, e olhava para as flores laranjas reluzentes. Aquela árvore era um símbolo de muitas coisas para mim - do meu passado, da minha infância, da minha família. Ela se foi, assim como as memórias que ela carregava consigo. Mas eu ainda consigo sentir a presença dela, mesmo que de forma vaga e distante. Ela era como uma extensão da minha própria existência, uma árvore imponente e majestosa que parecia guardar todos os segredos do universo em suas flores laranjas.

Eu me pergunto se a ela sabia que sua vida seria breve, que ela iria florescer por apenas alguns anos e depois desaparecer, deixando apenas uma lembrança. Talvez ela soubesse, e por isso tenha vivido tão intensamente, exalando sua beleza e perfume por todo o bairro. Agora, olhando para trás, sinto uma conexão profunda com a espatódea. É como se suas flores laranjas reluzentes e sua morte silenciosa fossem um lembrete constante de que tudo tem um propósito e que a vida é uma jornada cheia de altos e baixos.

Mesmo agora, quando olho para o céu noturno, vejo as estrelas brilhando como as flores da espatódea. E quando sinto as brisas suaves da noite, sinto como se a árvore estivesse sussurrando palavras de conforto e sabedoria. Pois embora possa não estar mais fisicamente presente, a Espatódea continua a viver em minha memória e em meu coração, como um símbolo de propósito e perseverança. Sinto flores da Espatódea brotarem em mim, como se eu também fosse uma extensão daquela árvore que um dia reluziu suas flores laranjas. É como se eu pudesse sentir sua presença mesmo que ela não esteja mais lá, como se a beleza e a vitalidade que ela representou ainda estivessem presentes em minha alma.

Sei que sou espatódea. Talvez seja esse o meu destino: nascer, crescer, florescer e morrer. Mas enquanto a vida correr em minhas veias, farei o meu melhor para ser belo e exuberante, para oferecer sombra e refúgio a quem precisar. E ainda que meu tempo seja limitado, quero deixar minha marca neste mundo, quero ser lembrado como uma árvore que embelezou a paisagem e inspirou sonhos. Porque mesmo que eu não dure para sempre, minhas flores continuarão a brotar em outros lugares, em outras vidas, trazendo um pouco da minha beleza e sabedoria para o mundo. E mesmo que um dia eu me vá, serei eterno na memória daqueles que se encantaram com a minha gentileza e que guardaram um pouco de mim em seus corações. Então sim, sei que sou espatódea.

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