Hoje, também os carros dançam.
As casas movem-se levemente.
E eu — que mudei de casa e de roupa, de cidade e de cama, de palavras...
Eu, que mudei de música e de carro, de saudade, de quarto...
Eu — que mudei de computador e de rua, de eternidade e de paisagem, de abraço e de clima...
Eu — que mudei de língua e de lágrimas, de deus e de caderno, de crenças e de céu...
Eu — que mudei de lume, que mudei de medos...
Eu — que mudei de planos, de lençóis, de secretária...
Eu — que mudei de óculos e de rumo, de amigos, de xampu, de rituais e de supermercado...
Eu — que mudei de tudo que em quase nada mudou, mudei de dentro de mim para dentro de ti, meu amor.
Filipa Leal
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Filipa Leal - Entrevista de Emprego
"Entrevista de Emprego", Filipa Leal
Desculpe, tem toda a razão, não pensei que fosse um aspecto impeditivo,prejudicial ao nosso relacionamento, claro, claro, ao nosso relacionamentoprofissional, tem toda a razão, devo ter cuidado com as palavras, sim,e o senhor, o senhor gosta de palavras, não, mas tem ao menos cuidado com elas,e de mulheres, o senhor gosta de mulheres, pergunto, trata-as com respeito,o senhor sabe pontuar uma…
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Nesta brisa quase suave
de plantas já anoitecidas
quase te toco entre as regas,
e entristeço.
A tua ausência é tão real
como os vastos campos de girassóis
secos, envelhecidos, quase mortos.
Alugo a voz e a expressão
a par de todos os espaços
deste lugar que se inicia.
Tudo isto é simples:
tenho o coração desarrumado.
Vem.
Filipa Leal
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A terceira abordagem à monarquia portuguesa: os filhos predilectos do Mestre de Avis, a Ínclita Geração
Com o início duma nova dinastia, surgiram novos herdeiros, novas façanhas e novas formas de exercer o poder, ou seja, o engrandecimento de toda uma nação a nível educativo, económico e político.
Esta nova dinastia ficou conhecida como a dinastia de Avis, inaugurada por D. João I de Portugal, também conhecido como "o Mestre de Avis". Os seus descendentes com D. Filipa de Lencastre foram também catalogados, por Luís Vaz de Camões, como "a Ínclita Geração".
É nesta publicação que iremos percorrer o contexto histórico desta geração de herdeiros monárquicos.
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Seguindo uma ordem cronológica, os seus descendentes desenvolveram-se da seguinte forma:
Branca de Portugal e Afonso de Portugal:
Os seus dois primeiros filhos, conhecidos como Branca de Portugal (nome proveniente da mãe de D. Filipa, esposa de D. João I de Portugal) e Afonso de Portugal (nome em homenagem ao primeiro rei português, D. Afonso I).
Morreram com 1 ano e 10 anos de idade, respetivamente. De resto, não existem registos das suas curtas vidas pelo que não pertenceram à Ínclita Geração.
Duarte I de Portugal:
Décimo primeiro rei de Portugal e apelidado de "o Eloquente", é o filho que acolhe a "Ínclita Geração" portuguesa. Também, o seu nome é uma homenagem ao seu bisavô materno, o Rei Eduardo III de Inglaterra.
A sua alcunha, o Eloquente, deve-se ao seu incrível conhecimento literário e cultural, que lhe conferiu a qualidade de ser tão culto e eloquente ao ponto de escrever as suas próprias histórias como o "Leal Conselheiro" (1438) e o "Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela" (1438).
Além disso, no seu reinado, deu continuidade à vontade e aos feitos que o seu pai, D. João I, iniciou: a expansão marítima e a conquista de territórios africanos. Assim, foram os primeiros a passar o Cabo Bojador no Norte de África, o que alargou o território que cada vez mais conheciam.
Pedro, 1.º Duque de Coimbra:
O Infante D. Pedro de Portugal, quarto filho do rei D. João I, foi o primeiro a receber um ducado na monarquia portuguesa, o Ducado de Coimbra. Recebeu o nome do antigo rei e do seu avô paterno, D. Pedro I de Portugal "o Justiceiro".
Tinha um grande interesse por assuntos internacionais e era conhecido por viajar muito por questões sociais, políticas, económicas e culturais. Por isso, foi apelidado de “Infante das Sete Partidas”.
Destacou-se também no domínio da literatura, sendo um tradutor de obras do latim para o português, tornando-se assim um precursor da sua língua. E no campo da monarquia, foi regente durante 9 anos durante o reinado do seu sobrinho, o décimo segundo rei de Portugal, D. Afonso V, no qual se concentrou em manter um equilíbrio económico entre as diferentes classes sociais do país.
Henrique, Duque de Viseu:
Foi o quinto filho da união de D. João I de Portugal e D. Filipa de Lencastre, conhecido como “Henrique, O Navegador”. Diz-se que o seu nome foi dado em homenagem ao seu tio materno, o Rei Henrique IV de Inglaterra. Foi-lhe também atribuído o segundo ducado criado em Portugal, o Ducado de Viseu.
A sua alcunha deve-se ao fato de ter incentivado a expansão territorial de Portugal por via marítima, o que levou os portugueses a conhecerem e reconhecerem as Ilhas Canárias, as costas africanas, as ilhas da Madeira e dos Açores, e até Cabo Verde, onde também promoveu vários tipos de comércio extraídos destas ilhas.
Isabel de Portugal, Duquesa da Borgonha:
Foi a sexta filha da união de D. João I de Portugal e D. Filipa de Lencastre, e recebeu o seu ducado graças ao seu casamento com Filipe III, Duque de Borgonha. Além disso, o seu nome é uma homenagem à Rainha Santa de Portugal.
Embora não seja explicitamente nomeada ou reconhecida como parte da "Ínclita Geração", é célebre por ser uma mulher muito culta que, em muitas ocasiões, atuou diplomaticamente em substituição do seu marido, Filipe III.
João, Infante de Portugal:
O infante João de Portugal era o sétimo filho dos reis D. João I de Portugal e D. Filipa de Lencastre. O seu nome é uma clara homenagem ao seu pai.
A sua vida não foi rigorosamente registada, no entanto, sabe-se que foi o terceiro Condestável de Portugal no reinado de Afonso V. Além disso, casou com a sua sobrinha D. Isabel de Bragança, união da qual nasceu uma das próximas rainhas de Castela, D. Isabel de Portugal, rainha de Castela e Leão.
Fernando, o Infante Santo:
O infante D. Fernando de Portugal foi o oitavo e último filho dos reis D. João I de Portugal e D. Filipa de Lencastre. O seu nome é uma homenagem ao seu tio e rei D. Fernando I de Portugal, “o Formoso”.
Foi educado de forma muito religiosa, pois considerava-se uma criança muito doente, pelo que durante a sua adolescência e idade adulta era conhecido por ser um homem muito religioso, ganhando assim a alcunha de “o Infante Santo”.
Na política, acompanhou uma expedição a Marrocos com o seu irmão D. Henrique, cujo objetivo era alcançar a cidade de Tânger. No entanto, a expedição terminou mal quando os mouros os atacaram em protesto contra a tomada de Ceuta e os portugueses deixaram o Infante D. Fernando como oferta em troca.
Assim, o infante D. Fernando foi aprisionado durante mais de 5 anos em Fez, uma cidade de Marrocos, onde faleceu.
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A relação da Ínclita Geração, mais do que um laço de sangue, é um laço de homenagem e honra a toda uma monarquia portuguesa, como podemos ver nos nomes referenciados.
É também um laço de poder que se liga aos seus antepassados mais poderosos, como a Rainha Santa e D. Pedro I de Portugal, e por sua vez, ao futuro português, que veremos em breve na literatura e na cultura.
Por isso, na próxima publicação, apresentaremos a obra literária que nos dá a conhecer estes herdeiros, Os Lusíadas, bem como o seu autor, Luís Vaz de Camões.
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Glossário
Ducado: atribuição dada a um fidalgo ou fidalga a quem pertencerá a propriedade desse nome.
Regente: governante temporário quando o rei ou a rainha não podem cumprir a sua presença e os seus deveres no Estado.
Condestável: chefe da milícia e das forças policiais numa monarquia, portanto, era normalmente o braço direito do rei ou da rainha.
Troca: substituir uma coisa por outra.
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Referências bibliográficas
Cruz, P. (2015). Marinha de Guerra Portuguesa: A Ínclita geração - Século XV. Marinha de Guerra Portuguesa. https://marinhadeguerraportuguesa.blogspot.com/2015/04/a-inclita-geracao-seculo-xv.html
Ogatoalfarrabista. (2015). Ínclita Geração. https://ogatoalfarrabista.wordpress.com/tag/inclita-geracao/
Nuno, M. (2011). História de Portugal Exposta Por Nuno Manuel Martins Pereira, Ínclita Geração. https://nunopeb.wordpress.com/2011/06/30/inclita-geracao/
Sousa, N. (2016). História - A Ínclita Geração. https://prezi.com/jgr1p_mniqnf/historia-a-inclita-geracao/
RTP Arquivos. (1995). Ínclita Geração. https://arquivos.rtp.pt/conteudos/inclita-geracao/
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“Alguns ficaram com as minhas partes
piores. Isto é como a divisão do frango
em família numerosa. Faltam coxas para todos.
Isto é como a aprendizagem da generosidade:
o peito ou o pescoço ou as asas. Lá em casa,
fazíamos de conta que preferíamos outra coisa
e dávamos as partes melhores aos irmãos.
Não sei o que isso dirá de mim e dos meus irmãos.
Sei que eu e os meus irmãos tivemos sempre
uns dos outros as partes melhores.
Parece-me justo e valioso. Parece-me informação
digna de CV ou de Wikipédia. Isto devia dar empregos.
Isto devia ser o primeiro dado de uma biografia:
“dava a parte melhor do frango aos seus irmãos”.
E depois apaixonamo-nos. Complica-se a divsião do frango
quando há coxas para todos: para dois.
Difícil haver tanta coxa. Difícil não ser preciso dividir.
Difícil ver cada vez menos os irmãos, que provariam à mesa
sermos nós ainda a criança generosa. E que se houvesse
menos frango ou mais gente, ofereceríamos a parte melhor.
Alguns ficaram com minhas partes piores.
Os que não amei, não gostavam de me ver comer frango.
Comiam ossos e deram cabo de mim. Ainda me telefonam.
Os que amei iam comigo à churrasqueira, pediam molho picante
à parte (sempre tive medo de perder o ar) e batatas fritas na hora.
Um dia, nunca mais me quiseram ver.
Apenas pelos meus irmãos soube dividir-me.
Apenas eles ficaram para lá da refeição.
Não quero com isto justificar-me. Entendo.
Parti bem o frango mas parti sempre mal.
Só que às vezes lamento ninguém ter esperado
que eu crescesse. É natural.
Em tempo de aviários, ninguém espera isso de um frango.”
[Filipa Leal, A Divisão do Frango (Ossos, plasticina, 2017)]
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Epidemia
De pequeña, le decían
-¡Mira las mariposas!
y ella se sentía culpable
porque no había reparado en eso
sin que se lo dijeran.
Pero cuando miraba para el cielo
a propósito, buscando
un improbable batir de alas
(o la sombra suspensa)
ni un ave sin forma.
¡Tengo que estar atenta!
pensaba, con los ojos llenos de propósitos
muy abiertos. Y nada:
ni un temblor.
Ahora, se encerraba en su cuarto
con el miedo a una palabra
extraña. Curiosamente,
le decían lo mismo
-¡Mira las mariposas!
pero ahora como si le dijeran:
ten cuidado.
• Filipa Leal
De La ciudad líquida y otras texturas
Sequitur, 2010; traducción de Luis González Platón
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