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A Inconfidência Brasileira
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Semelhanças e dissemelhanças com a Inconfidência Mineira
A palavra "Inconfidência" significa "falta de fé ou de fidelidade, especialmente em relação ao Estado ou a um soberano". Portanto, os dois movimentos, o mineiro e o brasileiro, foram inconfidências.
Ocorrida há 235 anos, a Inconfidência Mineira tornou-se um exemplo de luta pela liberdade. Um dos participantes, Tiradentes, foi condenado à morte e executado em 21 de abril de 1792 no Rio de Janeiro. Para que servisse de exemplo para os brasileiros, foi esquartejado e ficou exposto à execração pública.
Contudo, a figura de Tiradentes seria recuperada pelo regime republicano que o transformou num mártir da liberdade. Inclusive, desde 1890, o dia 21 de abril, data da morte de Tiradentes, é feriado nacional, o Dia de Tiradentes, hoje considerado um herói nacional, mártir e patrono da nação brasileira. E o lema dos inconfidentes “Liberdade ainda que tardia” faz parte da bandeira do estado mineiro.
As semelhanças com os atos de 8 de janeiro de 2023 são muitas:
Havia um grande descontentamento com o governo.
As duas inconfidências foram contra governantes que agiam de forma autoritária e tendenciosa, compreensível para um Brasil ainda colônia de Portugal, mas inaceitável num regime democrático.
Ambos os planos dos inconfidentes foram frustrados por militares: - o mineiro pelo coronel Joaquim Silvério dos Reis, o tenente-coronel Basílio de Brito Malheiro do Lago e o mestre de campo (militar) Inácio Correia Pamplona, que procuraram o governador, Visconde de Barbacena, para delatar o movimento - o brasileiro porque o Exército Brasileiro virou as costas e os abandonou inclusive ajudando a prender milhares de participante das manifestações tanto nos quartéis como na praça dos 3 poderes.
Alguns presos foram libertados enquanto outros receberam as maiores penas possíveis para que servissem de exemplo para os brasileiros.
Mas, dissemelhanças também existem:
A Inconfidência Mineira foi uma revolta regional organizada e conduzida por um grupo de cidadãos mineiros, em sua maioria grandes proprietários, mineradores, padres e letrados, como Cláudio Manuel da Costa que, oriundo de família enriquecida na mineração, havia estudado em Coimbra e foi alto funcionário da administração colonial. Alvarenga Peixoto era minerador e latifundiário. Tomás Antônio Gonzaga, escritor e poeta, depois de estudos jurídicos na Europa, tornou-se ouvidor (juiz) em Vila Rica. Francisco de Paula Freire, tenente-coronel e comandante do Regimento dos Dragões (tropa militar de Minas Gerais), estava hierarquicamente logo abaixo do governador. Joaquim José da Silva Xavier, chamado de Tiradentes, era filho de um pequeno fazendeiro e ganhou a vida como militar, dentista, tropeiro e comerciante. Foi o mais popular entre os conspiradores e, embora não tenha sido o idealizador do movimento, teve papel importante na propagação das ideias revolucionárias junto à população.
Participaram da Inconfidência Brasileira cidadãos de todas as partes do país, todas as classes sociais e idades, muitos de idade avançada, aposentados, mães com crianças, portadores de deficiência, trabalhadores de vários setores, todos com um sentimento comum: a preocupação os rumos que o país estava tomando.
A Inconfidência mineira tinha uma liderança clara organizando e conduzindo.
A inconfidência Brasileira não tinha uma liderança específica, típico dos movimentos sociais do século XXI, que se espalham rapidamente pelas redes sociais na Internet.
A Inconfidência Mineira tinha objetivos claros: libertar Minas Gerais do jugo português e impedir a derrama, cobrança de impostos realizada à força.
A Inconfidência Brasileira não tinha objetivos tão claros. Depois de assistirem silenciosamente aos malabarismos jurídicos para libertar um condenado e permitir que se candidatasse, verem todos os pedidos de auditoria do resultado das eleições 2022 serem rejeitados e seus autores muitas vezes punidos, os inconfidentes passaram a exigir transparência na eleição mais nebulosa da história do país. Tendo sido negada a transparência e, sem ter a quem mais recorrer, pacífica e paulatinamente ocuparam a frente dos quartéis em várias cidades no país e, a seguir, a praça dos 3 poderes em Brasília.
Enquanto o processo contra os poucos inconfidentes mineiros capturados procurou respeitar o princípio do devido processo legal e durou três anos, o processo contra os  milhares de presos no dia 08 de janeiro não respeitou e as primeiras condenações ocorreram em menos de nove meses.
Na Inconfidência Mineira os governantes respondiam para a Coroa Portuguesa e a hierarquia era respeitada. Na Inconfidência Brasileira os poderes executivo e legislativo eram reféns do poder judiciário que seguia as ordens de um único integrante.
Não se sabe quanto tempo ainda irá levar, mas, num futuro não muito distante, os livros de história irão apontar quem foram os  verdadeiros “Joaquim Silvério dos Reis”, traidores da pátria, e quem foram os “Tiradentes”, defensores da democracia e da pátria. Talvez, a data de 8 de janeiro venha a ser comemorada como o Dia da Luta pela Democracia.
E, então, muitos se orgulharão de serem descendentes dos defensores da pátria enquanto outros, envergonhados, ocultarão sua descendência.
Quem viver verá.
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zemaribeiro · 5 years
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Festival apresentou resultados do projeto “Catadores de Direitos”
Festival apresentou resultados do projeto “Catadores de Direitos”
Sábado passado (26/10), no Festival Estadual “Nossos Talentos, Nossos Direitos”, crianças e adolescentes mostraram o que aprenderam em projeto realizado pela Cáritas no Maranhão
Foto: Elson Paiva
Foto: Elson Paiva
O time de Buritirana goleou um combinado de vários outros municípios maranhenses por 4×0. A partida durou meia hora. Caíque, de 11 anos, cursando o quinto ano, Luciano Jr., 10, também…
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rodadecuia · 2 years
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Meu All Star vai me levar pra onde você esta. Pode deixar, amor, me espera que vou chegar. Escute a melodia que canta  a tua campainha. Din-don!  Din-don! Este é o meu tom, tá batendo forte no coração. De All Star... De All Star... De All Star... Desatei os nós dos meus cardaços; vim limpo, cheiroso e  descomplicado. Não acredite mais nas tuas tristezas, vim aqui para pisá-las. Acredite em mim,oh, princesa! Saiba que eu amo o teu All Star surrado. Então deixa esta zona de desconforto. Vem agora sem demora, é bom ter você ao meu lado. De All Star... De All Star... De All Star... Tudo bem, sei que o teu caminhar  é complexamente exigente. Mesmo assim,  me enxerga! Eu estou bem na tua frente. Você  quer saber mais dos meus segredos. Ok,  meu bem. Mas tudo isto tem um preço. Não entendeu?  Chega aqui...... De All Star... De All Star... De All Star... Frases de amor só se dizem bem baixinho... Então se  liga,  sou este  pássaro que pousou no teu ninho. Tire  logo da caixa o teu lindo All Star azul; dê cor aos teus pés, serei o teu bombom de carinhos.  Calce  a beleza a tua vida e venha comigo.., porque lá fora tá uma tarde linda! Vamos curtir  na praça. De All Star.... De All Star.... De All Star... Te pagarei o mais puro algodão-doce, tão gostoso que vou provar teus lábios. Self linda  é o teu  sorriso! Veja o sol, já vai fugindo.... Mas ainda há tempo para os brinquedos. Amo ver o brilho destes teus cabelos; a gente gira, e eles  esvoaçando..... Sinto  que os nossos corações também não param, o  mundo todo pra nós agora  esta girando..... De All Star... De All Star... De All Star... Depois de toda diversão você ainda insiste. Nada a falar ,meu bem. Meu pisante  é liso. Pode acreditar,  não sou de costurar enredos Já não sei mais  pra onde foram as nossas meias? Mas  tudo bem,  gostoso é sentir teu corpo em mim fazendo abrigo. Sem All Star... Sem All Star... Sem All Star... __________________________________                                                                                                                                           Autor: (ChicosBandRabiscando) Poema letrado: All Star Credites:Photo by Alysa Bajenaru on Unsplash  https://www.instagram.com/p/CEzxjXBh4HB/?igshid=37hbb37gmqra
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alma-embriagada · 5 years
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...Todas essas fotografias estão sendo repassada na minha memoria como numa cena de filme hollywoodiano, e talvez você não se encha de paixão a me ver adormecido ao seu lado. Luís de camões soube retratar a violência dos amantes apaixonados. Shakespeare estava errado, o fim do amor não é a morte, mas a própria vida. Neruda já não me engana mais, teus olhos ainda me iludem. Bukowski uma vez disse que um verdadeiro poeta pode fazer a mais dura das almas chorarem, mas como vou te roubar lagrimas se seu coração já não bate no ritmo dos meus escritos... Garoto você assassinou todos os pardais do meu zoológico, e o pássaro azul que vive em meu peito chora de saudades tuas. Meus sentimentos jamais caberiam numa poesia, não sou tão bem letrado na poesia lírica, e por mais que todos falem o contrario eu preciso dizer que meu peito jamais sentiu tal conforto quanto quando se juntou ao teu. E eu ainda nos vejo correndo na chuva com aquela velha e sonora canção do bob Dylan. Minha alma de pseudopoeta ainda escreve sobre você nas entrelinhas de um texto bucólico, e você jamais poderá dizer que nunca foi amado. Para mim a vida tem cheiro de arruda e mingau de aveia. Encontramo-nos como quem nada quer. Você sentado naquele banco de praça com sua boina e seu óculo desfocado. Ama-me agora, pois o amanhã está demasiado longe. E eu bem que sei dessas coisas da vida, que a vida não cabe na pagina de um livro, o amor não é como eles retratam em suas câmeras cinematográficas, eu também sei dos homens que você amou depois de mim. Eu suspeito que talvez você seja o grande amor da minha vida, mas eu li Nietzsche recentemente e talvez tudo isso não passe de devaneios existenciais baseados no pesar da minha solidão cotidiana. Eu conheci e me encantei por outros pássaros, visitei outros jardins, eu conheci outros odores depois de tu, mas nada jamais me encantou desde que te vir pela primeira vez, teus olhos castanhos que se tornam caramelados a luz do sol. E por favor, me mandem para forca quando eu começar a falar dos teus lábios que me causam orgasmos em lugares que antes eram desconhecidos em meu próprio ser... -henry https://www.instagram.com/p/B9a4WzahHYZfTZiTOdl9OJzV6YwZPTy2XP9oJg0/?igshid=jo12tnubt9p9
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robsonjuniornarede · 5 years
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Resposta aos ORDS.
Carpe Diem.
04 de novembro de 2019.
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Depois de uma série de postagens do ORDS, em vários bairros incluindo a zona rural, recebi esta resposta da assessoria de comunicação da Prefeitura, que pode servir para que os ouvintes possam acompanhar as ações abaixo citadas.
– A Prefeitura de São Luís já asfaltou mais de 16km no *Vinhais*, abrangendo tanto o lado da Praça do Letrado quanto do…
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tamojuntocadu · 5 years
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Em tempos de correntezas odiosas, precisamos construir diques de coragem para que o mal seja contido. Há os que dirão muitas coisas sobre os que defendem Lula, aliás, está repleto de histórias na humanidade onde os que resistiram ao "irresistíveis" apedrejamentos, as insanas fogueiras, as prisões arbitrárias, as torturas escabrosas, as inquisições malignas, foram tachados, excluídos e considerados ultrajes. Foram ofendidos e humilhados. Por outro lado, há também vários relatos históricos e literários de que quando o turba diminui, a poeira baixa, a verdade aparece e a vergonha (dos que ainda não perderam o senso de justiça) começar a se tornar força de resistência, a roda gira pro outro lado, os injustiçados que resistiram à ignorância tem sua dignidade restituída, seu lugar de fala restituído, empoderado e com destaque. Nesses dias que virão (já estão vindo), o reconhecimento aos feitos humanos não serão dados aos que obtém troféus, condecorações e medalhas, por ter o melhor acerto num estande tiros... por desfilar com armas... por fazer arminhas com as mãos... por desrespeitar mulheres, os racistas, homofóbicos, aos que tem preconceito de classe, aos que odeiam educação... Nesses dias de um futuro próximo, o apreço pela inteligencia, pela educação e sabedoria, o respeito as diferenças, ao outro, pelos feitos humanitários que desejam a vida ao invés da morte, serão corretamente homenageados. Nesses dias, cada um da sua maneira, dos mais aos menos letrados, mas todos, que resistiram sabia e corajosamente à cultura de morte, sentirão em cada poro do seu corpo que a luta sempre vale a pena. POR ISSO EU DEFENDO LULA LIVRE... HOJE E SEMPRE! Amanhã é dia de Lula Livre ATO INTER-RELIGIOSO Pela justiça, democracia e liberdade para Lula. 📍Dia 28 de maio 📍às 17:00h 📍Praça Tancredo Neves, ao lado da Assembleia Legislativa de SC, em Florianópolis https://www.instagram.com/p/Bx-iRYBgjc7/?igshid=1hou9uru3lo5k
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brisa-ventania · 8 years
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A VIDA É SÓ ISSO.
Nada questiona,  Por que a vida é só isso.  Tudo amaldiçoa e agradeça,  Por que a vida é só isso.  Rasga a carne da tua alma,  Joga fora o que achar lá dentro,  Por que a vida é só isso.  Desfruta o sal da tempestade,  E o doce das ondas do mar,  Por que a vida é só isso.  Faça de conta que acredita  No amor e no ódio,  Por que a vida é só isso.  Retira do útero instante,  A eternidade do que nunca será,  Por que a vida é só isso.  Corra o olhar por tudo,  Sobrevoa o imaginário nada,  Por que a vida é só isso.  Deixa teu tempo na fila da feira,  Ajoelha para o patrão,  Por que a vida é só isso.  Forra teus dias, teu estômago,  De podridão e caviar,  Por que a vida é só isso.  Leia Pessoa, ou Piaget,  Planeja tua morte,  Por que a vida é só isso.  Passa madrugadas insones,  Sorva o sono dos injustos,  Por que a vida é só isso.  Vá ser doutor letrado,  Implora a tua dose de cicuta,  Por que a vida é só isso.  Casa por interesse, ou desinteresse,  Planta bananeira na praça,  Por que a vida é só isso.  Faça tudo, faça nada,  Aborta os filhos da tua loucura infértil,  Por que a vida é só isso.  Rasga o imaginário,  Agradeça teu estômago,  Por que a vida é só isso.  Retira a eternidade,  Implora a carne e o doce,  Por que a vida é só isso.  Faça os filhos da feira,  Vá ser bananeira do mar,  Por que a vida é só isso.  Ajoelha teus dias insones,  Joga fora o sal da tua loucura,  Por que a vida é só isso.  Corra para o patrão,  Questiona a tua dose,  Por que a vida é só isso.  Casa tua morte na praça,  Sobrevoa o sono, ou Piaget,  Por que a vida é só isso.  Faça de conta no amor infértil,  Deixa o que achar lá dentro,  Por que a vida é só isso.  Amaldiçoa o doutor da tua alma,  Leia o olhar do que nunca será,  Por que a vida é só isso.  Passa das ondas de cicuta, ou desinteresse,  Aborta madrugadas de podridão,  Por que a vida é só isso.  Desfruta, letrado dos injustos,  Teu tempo, por interesse e caviar,  Por que a vida é só isso.  Faça do útero, Pessoa na fila,  E planta no ódio da tempestade,  Por que a vida é só isso.  Planeja tudo que acredita,  Sorva nada por tudo.  Por que a vida é só isso.  Só isso.  Isso.  Só.  (E ainda acaba.)
Dora Brisa (Nara França) Poeta/Jornalista 28/02 Passo Fundo, RS
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nafiladopao · 6 years
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espremedores que transformam homens em suco
No ínicio da décade de 1970, houve no Brasil um número altíssimo de deslocamente humano, o que trouxe muitos migrandes do Nordeste para São Paulo. O filme O Homem que virou suco, de 1981, relata as dificuldades de Deraldo, um migrante nordestino em São Paulo.
O protagonista veio da Paraíba para São Paulo, para assim como muitos, tentar uma vida melhor na grande metrópole,  centro da industrialização. A diferença de Deraldo é que é um poeta e de sua poesia quer viver. Consciente do funcionamento do sistema, do qual tenta fugir ao máximo vendendo seus poemas na praça e não tendo um trabalho "regular", acaba sendo confundido com José Severino da Silva, um homem com a mesma cara que a sua, mas com nome e história diferentes, embora possuam a mesma origem, amos nordestinos. Severino veio do Ceará pra São Paulo, e ao receber uma medalha de funcionário do ano, assassina seu chefe com uma peixeira. A partir dessa história O Homem que virou Suco, escrito e dirigido por João Batista de Andrade aborda diversos assuntos, além da discriminação passada pelos nordestinos em terras paulistas, é uma denúncia de um sistema opressor contra as minorias, e sua sobrevivência.
Quando falamos do significado do trabalho dentro do capitalismo, entendemos que há uma prestação de serviço da parte do prestador de serviços para o empregador, esse numa escala social mais alta. Em sua grande maioria, o retorno dessa prestação de serviço não é proporcional ao trabalho que foi prestado. A premissa do trabalho dentro do capitalismo é o trabalho assalariado.
"Ou seja, duas classes devem obrigatoriamente (mas não unicamente) constituir as relações econômicas: a classe burguesa, que é proprietária dos meios de produção e a classe proletária, que nada possui além da própria força de trabalho para vender. A burguesia, por ser dona dos meios que facilitam/permitem a produção das mercadorias e também por possuir capital suficiente para ‘fazer andar o processo produtivo’, enxerga-se no total direito de comprar a força de trabalho do proletário, que aparece enquanto ‘sujeito livre’, uma vez que tem a liberdade para escolher para quem trabalhará, ou, em outras palavras, para quem, para sobreviver, deverá vender a sua força de trabalho"
"Quanto a grande quantidade de trabalhadores que para obter seus meios de sobrevivência adentram no cada vez menos crescente rol dos trabalhadores industriais, sofre aquilo que Marx chamou de alienação, ou seja, tais trabalhadores não se sentem responsáveis pela produção de determinado elemento, de determinado produto. Esse estranhamento por parte dos trabalhadores pelas mercadorias que eles mesmos produzem, numa dinâmica industrial, pode gerar um sentimento de frustração pela inacessibilidade e pelo não-desenvolvimento de suas potencialidades em sua atividade, já que seu trabalho não fornece subsídios para que o indivíduo que fez determinada mercadoria tenha acesso a ela. Por exemplo, se um trabalhador que executa suas atividades numa montadora de carros, montando peças de automóvel num modelo de produção difundido a partir do toyotismo, seu emprego não lhe pagará o suficiente para que esta pessoa possua um carro cujas partes foram feitas por este mesmo trabalhador. Além de, obviamente, este não conseguir identificar quais carros são compostos pelas peças que ele monta. Com isso, constata-se que não trabalha para si, mas para o grande industrial. Todavia, a manutenção da falsa ilusão de que o trabalhador é livre para escolher para quem trabalhar, acaba por criar a propagação de uma liberdade irreal, falsa: o trabalhador não é livre, mesmo tendo certa “mobilidade” quanto aos ambientes em que pode executar suas atividades, ele estará inserido num processo de alienação constante. Tal fato é bastante evidente na atual sociedade. A centralidade do trabalho na sociedade atual está situada num plano de constante competitividade e mecanização da produção. Esse fato não exclui a mão-de obra humana, mas isso gera um uso cada vez menor desta, que passa a ser mais criteriosamente selecionada. Aí está o cerne desta competitividade desigual, pois como ter qualificação se isso se torna cada vez mais inacessível, impossibilitado para o trabalhador? Esse e outros fatores problematiza crescentemente a complexidade e disparidade da relação entre a (nova) organização do trabalho e o capital." 1
Deraldo tem consciência dessa opressão, de como ela o esmaga, fazendo-o esquecer de suas raízes, até transforma-lo em suco. Um homem suco e massa, fruto da cultura de massa e da alienação.
“O Deraldo é um símbolo de resistência. Sempre fomos dominados pela cultura de fora do país. O objetivo da ditadura militar era criar identificação com a cultura dos Estados Unidos, para sermos apenas consumidores. Mas, no filme, o Deraldo resiste”. 2
Deraldo inevitavelmente é esmagado, mesmo sendo um sobrevivente dessa "adestração". Entende que é necessário "fazer parte" desse mercado de trabalho para sobreviver, principalmente depois de passar a ser confundido por Severino. Ele deixa de tentar vender suas poesias.  Acaba trabalhando primeiro em um a loja de verduras, mas desiste pois não aguenta o trabalho braçal; segue trabalhando em uma obra, mas não aguenta por muito tempo a exploração. E por fim, trabalha em uma casa de família, mas mais vez não aguenta por muito tempo a hierarquia em que está inserido. Deraldo definitivamente não se adequa ao modo de trabalho.
Severino da Silva, homem com quem Deraldo é confundido, é outra vítima, mesmo sendo um assassino ou fura-greve:
"É interessante que esse sósia não seja um admirável operário. Ele é um fura-greve, um delator, um traidor odiado pelos operários lutadores, um solitário na sua traição. De todos, é o mais oprimido e leva sua opressão até a loucura. Ele interioriza a ideologia do patrão, tal qual o trabalhador a que João Batista deu grande destaque em um de seus primeiros filmes - Liberdade de imprensa. Talvez, na obra de João Batista, esse seja o símbolo máximo da opressão. E é justamente esse traidor --- o oposto dos operários que vemos nos quatro breves planos --que Deraldo tem que carregar como uma cruz. Entre os dois, encontramos afinidades e oposições. Deraldo é uma artista da palavra, enquanto seu sócia não fala nunca (se estou bem lembrado). Os gestos do sósia louco ameaçando com sua peixeira inimigos imaginários lembram os gestos de Deraldo vestido de cangaceiro, no sonho, investindo a peixeira contra a roda de curiosos na rua." (BERNARDET, 2003, p. 271)
Deraldo tem que recorrer a trabalhos que não se adequa, assim como Severino, seus colegas de obra, e todos que fazem parte do proletáriado. Mas a diferença de Deraldo, é que é letrado, alfabetizado, intelectual e civilizado,  entende de seus direitos.
"Como poeta e intelectual, Deraldo está integrado no meio social de que é para que fala. É um intelectual do povo, o que diferencia dos intelectuais que se encontravam nos filmes do Cinema Novo na década de 60. A harmonia é perfeita na sequência do dormitório: ele é o letrado que lê e escreve cartas familiares para os operários analfabetos e essa é uma das poucas sequências em que não é agredido e não agride.
Por outro lado, Deraldo não está inserido na produção, como os outros operários do filme. Não pára em lugar algum. Além da de poeta, não tem capacitação específica. É solitário e solto." (BERNARDET, 2003, p. 271)
"Podemos dizer que Adorno foi um filósofo que conseguiu interpretar o mundo em que viveu, sem cair num pessimismo. Ele pôde vivenciar e apreender as amarras da ideologia vigente, encontrando dentro dela o próprio antídoto: a arte e a limitação da própria Indústria Cultural. Portanto, os remédios contra as imperfeições humanas estão inseridos na própria história da humanidade. É preciso que esses remédios cheguem a consciência de todos (a filosofia tem essa finalidade), pois, só assim, é que conseguiremos um mundo humano e sadio." 3
As palavras referidas a Adorno se assemelham a Deralvo e sua resistência.
"Humilhado e subjugado pela sociedade paulistana, Deraldo não se adapta a exploração do serviço braçal e decide então resgatar a história de Severino através da poesia de cordel, restabelecendo a sua própria identidade nordestina." 4
O segundo assunto que será aqui abordado, e também é tratado no filme, é a migração dos nordestinos para São Paulo. Diarimente, migrantes vindos principalmente do Nordeste também viram suco devido a esmagadora exploração. Além preconceito contra os nordestinos, é baseado na premissa de que se aqui não tem emprego nem para os que nasceram no estado, e dessa forma não tem sentido os nordestinos saírem de sua cidade para vir ocupar outra. Assim, são diariamente chamados de ignorantes, e neles é colocada a culpa de diversos problemas como o de superpopulação.
"Num audiovisual apresentado no canteiro de obras do metrô para os novos operários,Virgulino, o Lampião, um dos maiores símbolos de força e resistência do sertão, é chamado de palhaço, pirracento, ignorante e é humilhado pelos próprios companheiros, quando este vai trabalhar nas obras do metrô. Ele é expulso com cuspes na cara e volta para o norte como um derrotado. Antes de apresentar o audiovisual, o monitor de recrutamento enfatiza a pronúncia e explica o que é um au-dio-vi-su-al, e deixa claro que é para evitar problemas e que o mesmo será mostrado e discutido durante três dias. Deraldo que assiste seu mito ser execrado e humilhado, se vê como o próprio Lampião. Matar lampião para ele é matar a si próprio enquanto indivíduo. A todo momento a sociedade tenta destruir seus símbolos."
“A obra não é uma vaquejada” diz o mestre de obras. A entrada para o refeitório reproduz a entrada de um curral. Ao migrante é sempre lembrado a sua origem e a sua diferença, para que ele não tente reproduzir sua cultura e que simplesmente a esqueça. Deraldo um poeta popular, revoltase contra esta situação e se torna uma consciência crítica deste tratamento aos seus conterrâneos. O que fica claro quando Morin define que a “consciência que pretende realizar a sua plenitude cultural, e portanto derrubar a tirania dos senhores, mas também a consciência que, mais ou menos reconhecida no seio de uma civilização evoluída deseja a libertação das consciências ainda oprimidas e não tolera que haja homens que não sejam reconhecidos como homem” (1970, p.252) e ele completa “a diferenciação social e a luta de classes, exercem pressão sobre a consciência e o horror da morte” (1970, p.48). A sociedade quando se sobrepõe ao indivíduo elimina a consciência e o horror da morte, colocando-se acima das suas individualidades. Como o coronel do sertão que no filme é representado por um fazendeiro nordestino, só a ele é permitido o direito do horror da morte e a certeza da imortalidade. Em certo momento do filme, quando Deraldo lhe tira as botas, ele ironiza a situação do retirante: “Na Paraíba só não é rico quem não quer, o que falta no povo é cultura”. 4
Em umas das cenas iniciais, quando vende seus poemas na praça, um fiscal da prefeitura o aborda, pedindo documentação enquanto fala: "Ta pensando que isso aqui é Nordeste?"
"O engodo batizado de “milagre econômico”, no início da década de 1970, provocou um deslocamento humano impressionante no Brasil. Em seu trabalho acadêmico “Nas terras do Deus-dará - Nordestinos e suas redes sociais em São Paulo”, de 1998, Dulce Tourinho Baptista informa que os nordestinos representavam 27,8% do total de migrantes recebidos pelas terras paulistas em 1950. O índice saltou para impressionantes 49% em 1974.
Essa gigantesca mão-de-obra migrante incomodou os habitantes de São Paulo. “Os preconceitos habitualmente ficam exacerbados em situações de crises econômicas e sociais, quando a luta pela sobrevivência no mercado de trabalho se agudiza e se procura eliminar rivais e concorrentes”, comenta o psicanalista e escritor Sérgio Telles. Porém, nos últimos anos, o movimento tradicional de emigração tem diminuído no Nordeste. Segundo o estudo “Nova geoeconomia do emprego no Brasil”, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os estados do Ceará, Paraíba, Sergipe e Rio Grande do Norte receberam mais migrantes entre 1999 e 2004 do que enviaram para outras regiões." 5
O preconceito contra os nordestinos mostrado no filme, que foi feito nos anos 80, ainda é atual. Existe uma implicância contra esses migrantes mesmo quando estão em uma classe social mais alta. Houve uma diminuição dessa migração para São Paulo, mas um aumento de preconceito. O que acontece é uma ignorância sem fundamento, e essa implicância dificulta a vida de Deraldos e Serevinos todos os dias. Deraldos e Severinos que são vítimas de um sistema, tanto quanto nós, nascidos em São Paulo, Rio de Janeiro ou mesmo em outro país.
Referências:
1 - O HOMEM QUE VIROU SUCO: A SÍNTESE REESTRUTURADA DO TRABALHO.
MELO, Luciana Marinho de e SANTOS, Marcus Vinicius de Almeida Lins –
Universidade Federal de Alagoas.
Dísponível em:
<http:www.estudosdotrabalho.org/...trabalho.../Luciana_Melo_e_Marcus_Santos_o_homem_que_virou_suco_a_sintese_reestruturada_do_trabalho.pdf.>
Acesso em: 27.Nov. 2010.
2 - DUMOND, José em "A arte contra o espremedor" por PALHARES, Marcos.
Disponível em: <http://www.revistaforum.com.br/noticias/2009/04/09/a_arte_contra_o_espremedor/>
Acesso em: 29 Nov. 2010.
3 - SILVA, Daniel Ribeiro. Adorno e a Indústria Cultural.
Ano I - Nº 04 - Maio de 2002 - Quadrimestral - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178
Disponível em: <http://www.urutagua.uem.br//04fil_silva.htm>
Acesso em: 30 nov. 2010.
4 - MOURA, Hudson. O Exílio e a Morte Simbólica no cinema e na literatura popular dos Homens que Viraram Suco.
Disponível em: <www.bocc.uff.br/pag/moura-hudson-exilio-morte-simbolica.pdf>
Acesso: 30 Nov. 2010.
5 - MOURA, Hudson. O Exílio e a Morte Simbólica no cinema e na literatura popular dos Homens que Viraram Suco.
Disponível em: <www.bocc.uff.br/pag/moura-hudson-exilio-morte-simbolica.pdf>
Acesso: 30 Nov. 2010.
6 - Migração nordestina e preconceito em "A arte contra o espremedor" por PALHARES, Marcos.
Disponível em: <http://www.revistaforum.com.br/noticias/2009/04/09/a_arte_contra_o_espremedor/>
Acesso em: 29 Nov. 2010.
BERNARDET, Jean-Cleaude. Cineastas e Imagens do Povo. São Paulo: Cia das Letras: 2003.
de 2011, aula de crítica cinematográfica/UAM, Cinema e Roteiro.
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Banda Devassa - "Marina Julia" - Praça Marechal Mauricio Cardoso. Vídeo ...
Banda Devassa - Rio. (Cultura, Esporte e Lazer). 14 de Novembro - Dia Nacional da Alfabetização. ORIGEM: O dia 14 de novembro, foi escolhido como Dia Nacional da Alfabetização, no ano de 1966, em homenagem a data de criação do "Ministério da Educação e Cultura". E tinha como meta, mais importante, promover o ensino primário e, por fim, o analfabetismo. ALFABETIZAÇÃO: A "alfabetização" consiste no aprendizado do alfabeto e de sua utilização como código de comunicação. De um modo mais abrangente, a alfabetização é definida como um processo no qual o indivíduo constrói a gramática e em suas variações. Esse processo não se resume apenas na aquisição dessas habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do ato de ler, mas na capacidade de interpretar, compreender, criticar, "resignificar" e produzir conhecimento. A alfabetização envolve também o desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral. A alfabetização de um indivíduo promove sua socialização, já que possibilita o estabelecimento de novos tipos de trocas simbólicas com outros indivíduos, acesso a bens culturais e a facilidades oferecidas pelas instituições sociais. >>> "A alfabetização é um fator propulsor do exercício consciente da cidadania e do desenvolvimento da sociedade como um todo". LETRAMENTO: "Letramento" não é necessariamente o resultado de ensinar a ler e a escrever... "É o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita". Surge, então, um novo sentido para o adjetivo "letrado", que significava apenas “que, ou o que é versado em letras ou literatura; literato”, e que agora passa a caracterizar o indivíduo que, sabendo ler ou não, convive com as práticas de leitura e escrita. Por exemplo, quando um pai ler uma história para seu filho dormir, a criança está em um processo de "letramento", está convivendo com as práticas de leitura e escrita. Não se deve, portanto, restringir a caracterização de um indivíduo letrado ao que domina apenas a técnica de escrever (ser alfabetizado), mas sim aquele que utiliza a escrita e sabe "responder às exigências de leitura e escrita que a sociedade faz continuamente". LEITURA: O "aprendizado da leitura" é um momento importante na educação, que começa na alfabetização e se estende por toda educação básica. Consiste em garantir que o aluno consiga ler e compreender textos, em todo e qualquer nível de complexidade. Depois da fase inicial de alfabetização, faz-se necessária a prática da leitura e da interpretação de textos. Uma vez alfabetizado, é possível o indivíduo ampliar seu nível de leitura e de letramento, de forma a tornar-se um sujeito autônomo e consciente. Por outro lado, a alfabetização por si só não assegura o desenvolvimento do cidadão, como uma panaceia para todo e qualquer mal oriundo da falta do saber. ALGO SOBRE... "As crianças não precisam atingir uma certa idade e nem precisam de professores para começar a aprender. A partir do nascimento já são construtoras de conhecimento. Levantam problemas difíceis e abstratos e tratam por si próprias de descobrir respostas para elas. Estão construindo objetos complexos de conhecimento. E o sistema de escrita é um deles". >>> "As pessoas precisam compreender que alfabetizar é mais do que proporcionar a capacidade de ler e escrever. É a capacidade de se comunicar e de se expressar em diversos contextos, sendo um bom ouvinte, um bom leitor, um bom escritor e um bom orador. Acredito que se a educação atual brasileira receber o devido e necessário investimento oportunizando sua melhoria, a escola ganhará outra roupagem, o que faria da mesma um lugar destinado à real aprendizagem, rica em recursos, na qual os alunos pudessem construir seus conhecimentos segundo estilos individuais de aprendizagem; local onde aconteceria atividades pedagógicas inovadoras; onde seria desenvolvido no aluno a capacidade de pensar e expressar-se com clareza, solucionar problemas e tomar decisões com responsabilidade, ou seja, em prol de uma educação reflexiva e cidadã". (Banda Devassa).
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ELEIÇÃO: Reflexões sobre o bolsonarismo
 Venho insistentemente tentando compreender o fenômeno do bolsonarismo que se exasperou neste ano eleitoral e que penetrou nas mais variadas camadas socioeconômicas do Brasil. É deveras reducionista responder a esse movimento como simples antítese à generalizada corrupção desencadeada pelo PT nos governos Lula e Dilma. Por essa razão, ou seja, por não aceitar resposta óbvia e incompleta, procurando então uma conclusão mais elaborada, pesquisei noutros argumentos: na teoria política, na história, na sociologia, na psicologia comportamental e na psicanálise. Esse texto é, portanto, um exercício pessoal de reflexão sobre o bolsonarismo, que ao público aqui compartilho. Apenas exercito, muito respeitosamente, o meu direito constitucional de opinião.
Gostaria de pontuar algum marco temporal para esse fenômeno. Arrisco dizer que o afastamento da Presidenta Dilma, em agosto de 2016, ainda não configura essa referência de tempo. Naquele período, Bolsonaro era deputado federal de menor atuação no movimento do impeachment. Recordemos que o afastamento foi processado pelo Congresso Nacional em duas votações (Câmara dos Deputados e Senado Federal), a partir de denúncia encaminhada à mesa da Câmara (por Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal) e movimentado por Eduardo Cunha, então Presidente daquela Casa. O Supremo Tribunal Federal foi acionado diversas vezes, por todos os lados, e manteve o processo, dando-lhe rito competente. Instigadas pela FIESP e seu pato amarelo, as ruas foram tomadas pela classe média, verdadeiro sustentáculo da economia nacional. Ao fim e ao cabo, Dilma teve o mandato cassado pelo Senado. Michel Temer assumiria a Presidência da República. No rito de afastamento, de dezembro de 2015 a agosto de 2016, Bolsonaro apenas discursou e votou na Câmara, como os demais deputados favoráveis ao impeachment. Nada mais.
Nessa mesma época a operação Lava-Jato assumia relevante papel na estrutura política brasileira. Há dois anos de sua primeira fase, deflagrada em março de 2014 com as primeiras dentre centenas de prisões e apreensões, atingia uma espécie de clímax com as delações premiadas de altos executivos das maiores empreiteiras do país, capazes de alcançar especialmente o ex-Presidente Lula – e que culminou com sua notória prisão executória (sem que, no entanto, a ação penal tivesse transitado em julgado).
Como antes dito, afastada a Presidenta, tomou posse o até então vice-Presidente Michel Temer, cujo governo – que agora chega ao fim com o menor índice de popularidade da história do Brasil e com pouquíssimos avanços senão a verdadeiros retrocessos históricos, mormente no campo das garantias fundamentais e sociais – contribuiu para a formação dessa mentalidade de que tratarei adiante.
Em suma: corrupção nas entranhas do PT e dos governos Lula e Dilma; exposição de todo esse panorama a partir da midiatização dos processos (com transmissões “ao vivo” das sessões de julgamento do STF e do TRF/4ª); catástrofe do governo Temer… fatores primários que geraram clamor popular e demanda por “mudança” do cenário político nacional. O vigoroso deputado federal Jair Bolsonaro está atento a esse quadro e sugere uma pré-candidatura à Presidência da República pelo PSC. Mas nesse momento ainda não conhecemos o bolsonarismo, eis que está sendo gestado.
Em 2017 a cena eleitoral ganhou vigor. A condenação de Lula em primeira instância (julho de 2017) distribuiu ao mundo inteiro as primeiras capas dos mais relevantes jornais e serviu de mote para discursos carregados de satisfação: corrupto, ladrão, cadeia, comunismo, Cuba, Venezuela etc. eram as palavras-chave desses discursos. Outras condenações – e prisões – se somaram e se seguiram: José Dirceu, João Santana, João Vaccari, Renato Duque, Pedro Barusco, Marcelo Odebrecht, Eduardo Leite, Eduardo Cunha, Gim Argello, Pedro Corrêa, Luiz Argôlo, Rodrigo Rocha Loures etc. etc. A prisão de Lula, em abril de 2018, foi o grand finale daquele evento político de 2016. Até então apontado como favorito em todas as pesquisas eleitorais, seria impedido de concorrer por ocasião da “Lei da Ficha Limpa” (tanto pela prisão em si quanto pela condenação colegiada).
Não obstante, desde a tomada de poder por Michel Temer as especulações em torno dos nomes que disputariam as eleições de 2018 ecoavam nos corredores do Planalto. Os pequenos saíram na frente: fortes sinais desde logo prenunciavam a [eterna] candidatura de Eymael; Marina Silva retornava à cena – e dela saiu completamente derretida; o próprio Temer dividia com Meirelles a atenção do (P)MDB; no tucanato os nomes de sempre eram Aécio, Serra e Alckmin (destacando-se o último logo após o aparecimento dos demais nos autos da Lava Jato); Ciro Gomes pelo PDT corria e correu como terceira via; no PT, como dito, Lula era e sempre foi o nome elementar que, impedido pelo Judiciário (do piso ao teto), foi substituído por Haddad às vésperas do prazo de inscrição; ainda, Boulos; o emblemático Cabo Daciolo; Álvaro Dias; Amoêdo; Goulart; Vera; e Bolsonaro.
Vamos a este último, objeto de minha reflexão. Jair Messias Bolsonaro elegeu-se deputado federal pelo Rio de Janeiro em 1990, e desde então vem sendo reeleito. (Antes disso, havia servido o Exército Brasileiro por 11 anos, e atuado como vereador eleito no Rio de Janeiro por 2 anos.) Está em seu sétimo mandato na Câmara e, portanto, há 28 anos na Praça dos Três Poderes. Acompanhou os governos Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma e Temer. Ao todo, e nesse período de 28 anos como deputado, esteve filiado em 9 partidos políticos, aprovou 2 projetos de lei e 1 emenda constitucional.
A ele se vinculam os bolsonaristas de quem decorre o bolsonarismo. Insistindo no marco temporal desse fenômeno, cravo o ano de 2017, após as consagradas impressões de que o governo Temer ia mal. Da prisão de Lula em diante os ânimos se acirraram ainda mais. Redes sociais como as armas mais letais, além da faca de Adélio (aqui, as nossas sinceras homenagens e respeito ao candidato).
E quem são os bolsonaristas? Digo muito respeitosamente: é provável que nem eles mesmos saibam quem são, na essência. Moralistas (tem também os falsos moralistas), apoiam-se exclusivamente naquele slogan anticorrupção do PT. Sobra pouco além disso. Na economia, alguns (pouquíssimos) até compreendem o projeto liberal do candidato – e eu nem discuto, ao menos aqui, a orientação ideológica dos eleitores, pois essa divergência é salutar para a democracia e o desenvolvimento das nações –; outros (também poucos, e até mesmo letrados!) convocam o discurso punitivista que faz eco aos notórios programas policiais de TV (“bandido bom é bandido morto”) e às decisões da Lava Jato; e há, evidentemente, aqueles tomados por uma insanidade agressiva que usa a “onda bolsonarista” para realizar as suas catarses, os seus espelhamentos comportamentais.
Todavia, em geral, e eu insisto nisso, a concepção bolsonarista é, antes de tudo, “anti PT”. Segundo os mesmos, o velho PT corrupto dos governos Lula e Dilma, das pedaladas fiscais, o PT de José Dirceu, de José Genoíno, Mercadante e Palloci, o PT da Petrobras, da Odebrecht, da OAS, do Léo Pinheiro, do Cerveró, do triplex, do sítio, dos doleiros… O bolsonarismo é, antes de tudo, uma corrente contrária às práticas governamentais do PT nos anos 2002-2016. (Esquecem os bolsonaristas, no entanto, e propositadamente, todos os avanços sociais que o governo do PT conquistou nesse período; não é o caso de tratar disso aqui.)
Mas não termina assim. Um passo depois do discurso “anti PT” – e muito aquém da verdadeira compreensão econômica, jurídica e política do plano de governo de Bolsonaro – os bolsonaristas, notadamente inspirados em seu líder, invocam práticas questionáveis. Pelas mais correntes redes sociais – Facebook, Twitter e Whatsapp – líderes e seguidores avassalam propagandas discutíveis, senão falsificadas, nos mais variados temas políticos e sociais. Na pauta, declaradamente: preconceito, racismo, homofobia, misoginia, xenofobia, intolerância, autoritarismo, agressão, tortura, além de armamento, prisão, repressão…
Diante desse quadro, o meu principal questionamento é esse: o que leva alguém a seguir essa prática ou esse discurso? Há pelo menos duas dúzias de referências teóricas para fundamentar pretensas respostas. Vou apenas de Freud, Jung e Adorno para tentar responder.
Em 1921, Sigmund Freud publicou “Psicologia das massas e a análise do eu”. Não deixa de ser uma retomada da justificativa posta em “Totem e tabu” (1913), em consonância com a contribuição de Carl Gustav Jung – que publicaria “Arquétipos e inconsciente coletivo” em 1969. A essência da primeira obra aqui citada é relevantíssima para a minha problemática. Da psicologia individual à psicologia social (devidamente integradas), Freud explica que as relações sociais são internalizadas e toda a sua conjuntura reforça o ego (o “eu”) que se volta, novamente, à sociedade. Ou seja, o que faz a sociedade (reforçada), além do próprio sujeito, é o inconsciente, e este é retroalimentado pela sociedade a partir dos focos de liderança. (A antropologia chegou ao mesmo destino, embora por caminho diverso.) A influência do líder conduz à formação da psiqué e, por sua vez, da própria sociedade. Pelo seu fascínio, o líder constitui, assim, o “ideal do ego” (o “eu ideal”). O sugestionamento na hipnose – à qual Freud destaca 3 capítulos nessa obra – decreta processos simbólicos de conquista e manutenção desse fascínio, numa espiral contínua e centrífuga.
Já o inconsciente coletivo, essa “camada mais profunda da psiqué”, por sua vez, decorre de imagens herdadas de um passado ancestral. Isso é psicológico e mesmo físico (biológico, genético), e seus conteúdos estimulam um padrão previsível (e esperado) de comportamento pessoal. A ele se relacionam os arquétipos, protótipos ou modelos de ação gravados no inconsciente e capazes de formar a personalidade humana. Dentre inúmeras possibilidades de arquétipos, Jung declinou especial destaque para o arquétipo do herói: referência de personalidade para toda a humanidade, representante de um mundo melhor, mais agradável e encantador do que o mundo em que vivemos; o líder hipnotizante freudiano, a quem todos querem seguir e em quem todos se espelham.
Em suma – e sei que posso soar rude, mas não é intencional; é apenas a minha conclusão parcial –: os bolsonaristas estão hipnotizados coletivamente, e seguem o arquétipo do herói materializado no líder Bolsonaro rumo a um novo mundo, um mundo melhor.
Mais um texto, dentre inúmeros, que pode contribuir com a fundamentação dessas reflexões é o do Theodor W. Adorno, publicado em 1950, intitulado “A personalidade autoritária”. Nele, e também referenciando Freud (e Maurice Samuel e Otto Fenichel, dentre outros), o autor aborda o conceito antropológico de “homem autoritário”: o sujeito de uma combinação de ideias da sociedade industrial com crenças irracionais. “Ele é ao mesmo tempo esclarecido e supersticioso, orgulhoso de ser um individualista e sempre temeroso de não ser igual aos outros, ciumento de sua independência e inclinado a se submeter cegamente ao poder e à autoridade”. Assim, a ideologia assume papel central na configuração dessa autoridade e na distribuição desse conceito às massas de apoiadores (aqueles que seguem o líder). Estratégias ou táticas discursivas são levadas em conta para dizer, para negar, para alterar a realidade (fake news) ou mesmo para não-dizer (não comparecer ao debate, p. ex.).
A personalidade do homem autoritário, suas estratégias de confronto (e de não-confronto), o mito do herói ao qual ele está envolto, a consagração e apreensão do inconsciente coletivo, a hipnose coletiva de adoração do líder e a propagação de toda a sua mitologia (não por acaso nem por brincadeira os bolsonaristas chamam o líder de “mito”; é inconsciente revelado no ego, com forte prevalência do id – o instinto, o impulso, o “vilão”) formam, agora sim com maior consistência teórica, o produto “bolsonarismo”.
Bolsonarismo é adoração cega por um mito que promete o novo mundo, o paraíso na terra. É histeria coletiva (ou delírio coletivo) decorrente de hipnose coletiva. É passividade diante da conjuntura histórica. É, mais facilmente, e na prática, irresponsabilidade política.
A esperança – porque sempre há esperança – vem no sentido de que isso não durará muito. (Nos tempos atuais, nada dura muito.) Um movimento sem consistência como esse há de ser rapidamente esquecido, senão rejeitado pelos seus próprios partícipes. A hipnose termina num estalar de dedos.
  Fonte: Por André Peixoto de Souza - doutor em Direito pela UFPR e doutor em Educação pela UNICAMP, em Le Monde
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tupysuavy · 6 years
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autøfagø
carlos, o medíocre** **
caminhando no vale imundo
de lugar nenhum
para lugar nenhum
porto dos putos
por todos putos
porto das putas
por todas putas
carlos, o medíocre
coração de gasolina
covarde-arde
violador & traidor dos pensamentos
envelopando
inteligência
domesticada
pedacinho de establishment ambulante
com os diabos carlos seu bosta enrustido
a lucidez é cruel, chapa
dogma pré doença
enkarmada projetada esterilizada
sintetizada moeda di troca
espirito machine
ode à makinofagya jesus kristo
koka kola redo globo pacha mama
te odeio
            te amo
                        te quero
                                     te sinto
 te venero
              te vás mentirozo do caralho
vá roer unhas na estrada dos desejos engarrafados
perca-se ou morra
um dolar
dois dolar
treis dolar
quatro dolar
meu relógio tá acenando
sabe bicho tava andando na rua esses dias eis que eu trombo um anjo esquecido na esquina da ipiranga com a são joão eu tava atrás de bagunça mesmo tava levando o diabo juntinho comigo mas ele olhando de trás visão falcão tlgd o anjo ja tava na encruzilhada 8 anos / o cabra mata a companheira na frente dos filho o filho mais velho mata o pai mata ele mesmo a morte nao sente pena não pai o q sobrou é o anjo /
o anjo do fluxo
onde é que eu arrumo um loló
essa hora é flux tio ce vai apoiá o frete te levo lá pae
ta suave vou seguir
eu sou o anjo do fluxo pae nao roubo nao mato sigo no mangue das pedras prostitutas do coração di gasolina
véi a gnt foi na paz o diabo seguindo a gente o anjo manjava o centro qse melhor q vc q eu 8 anos na rua pai séloko chamando os nigeria de sissi passeando livremente na boca mais podre da cidade onde nao existem almas onde o capital é mais rei do que nunca segue reto sempre comigo nao pára nao nao fala com ngm passamos a praça tinha muita policia na redondeza pela paz no fluxo centenas dormindo ou delirando no chão passagem secreta o cheiro do combustível do diabo que ja tinha ficado pra trás meu skate debaixo do braço todxs oferencendo trocas mal-cheirosas eu me interesso muito eu resisto NÃO TINHA LOLÓ ainda bem meu chapa o diabo ainda vai se foder muito essa noite compro duas makonha y uma pedra pro anjo do fluxo professor da noite passeio por varios tipos de privilegios os desse tipo são como as entranhas do terceiro mundo se contorcendo na minha frente vomitando lagrimas de ferro esse tipo de privilegio ensina muita coisa pode crer no fluxo tem todas classes puta jogador de futebol economista empresario roqueiro pagodeiro bixa homofibico letrado analfabeto gravidas orfãos peles ossos dinheiro a.dor.a.dor
porto dos viciados
por todos viciados
porto dos desesperados
por todos desesperados
porto dos esquecidos
por todos esquecidos
todos entorpecidos
levo o diabo de volta pra casa
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brunoronald · 7 years
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Capitulo : Elegia
Um passeio na praça foi uma ótima decisão . O sol tão presente ,nuvens em pequenos grupos , vento vagaroso e pássaros cantando escondido por entre as sombras das arvores , os pombos menos tímidos e oportunistas , sempre no meio do caminho de alguém . A cor predominante na praça era o laranja vibrante da luz que incidia e anunciava o crepúsculo. Muitas pessoas correndo praticando cooper , escutando musicas com seus fones de ouvido , alguns com bonés e óculos escuros , outros de bicicleta , crianças cercando o pipoqueiro com suas moedas reluzentes. È, qualquer moeda em mão de criança é um tesouro completo . Os funcionários públicos , juntando as folhas que caiam em montinhos . Cachorros bem comportados alinhados aos passos dos seus donos.
Stefana - Quanto mais se pensa em Deus , mais esse mundo parece uma ilusão e quanto mais se pensa nesse mundo mais Deus parece ilusão.
Lenna - To tentando me desvencilhar dos flashs de memória do que aconteceu hoje . Parecia um pesadelo
Stefana - É , coisas muito boas ou muito más , fragilizam a nossa percepção de realidade.
Lenna - Já tinha visto uma coisa assim?
Stefana - Não. Acho que aquela fumaça era uma especie de energia negativa que tomou forma física. O mal não pode ser visto por pertencer a dimensão espiritual , só pode ser sentido , mas por algum motivo a energia se tornou perceptível naquele momento .
Lenna - Eu aspirei a fumaça , pode ter alguma consequência?
Stefana - Eu também aspirei...e espero que não. Vamos ter que visitar o Aurelius no Hospital
Lenna - Levar uma cesta de presente com alfajor , biscoitos caseiros , bombons de caramelo !
Stefana - Biscoitos caseiros , aqueles que a sua mãe faz na forma que tem formato de bichinhos ?
Lenna - É . Será que o Aurelius estava com câncer mesmo ou é invenção da Nina ?
Stefana - A intenção dela em falar isso, não era de nos informar mas de nos fazer sentir mal . Ela não pode ser tão baixa ao ponto de mentir sobre uma coisa dessas . Vamos comer pipoca !
Lenna - to sem nenhum tostão aqui comigo . Só tinha dinheiro para o lanche do intervalo
Stefana - Eu pago ! Consegui esse dinheiro de maneira sofrida e árdua ,afã, com o suor do meu corpo e a força dos meus braços.
Lenna - aham , quanto tempo demorou para convencer o seu pai a te dar esse dinheiro ?
Stefana - Dois dias ! Imagine pra convencer ela a me dar o dinheiro para o ingresso do show , prometi lavar a louça do almoço e janta durante um mês sem murmurar.
Lenna - Vai passar um mês sem fazer as unhas ?. Porque não vai ter esmalte que dure a essa tortura , vai ficar com os dedos todos descamados.
Stefana - Eu tenho luvas , tenho hidratantes , estou preparada para a guerra.
Andamos até o pipoqueiro . Tinha uma pequena fila de crianças excitadas esperando a sua vez de pegar o saquinho. O pipoqueiro tinha um dálmata que ficava amarrado no poste de luz ao lado do carrinho . O cheiro era muito bom , dava para escutar o milho explodindo e batendo na tampa da panela . Tinha três tipos de pipoca a normal , a doce e a de fabrica , aquelas que parecem isopor.
Lenna - Qual o nome dele ?
perguntou a Lenna ao pipoqueiro.
Pipoqueiro - É uma cachorra , se chama Greta.
Lenna - É linda . Tem quantos anos ?
Pipoqueiro - Tem três . Ela era de canil . Pode pegar nela é mansa , não morde e as vacinas estão em conformidade. Quando a paguei para adotar , não me avisaram que a Greta estava doente , ai foi um susto e tanto em casa , com ela vomitando e passando mal.
Lenna deu um abraço na cachorra , que respondeu com lambidas no pescoço. A calda balançava . Greta olhava para trás , para a coleira que a prendia e limitava seus movimentos. Ela queria subir em cima da da Lenna , ficou em pé se apoiando sob duas patas no chão. A fila da pipoca foi diminuindo e Stefana fez o pedido
Stefana- São duas pipocas grandes por favor, com manteiga!
Nos duas conversamos e comemos sentadas na grama . O trabalho dos poemas já era para amanhã , então escrevemos nossos textos em segredo uma da outra.
Capitulo : Elegia
Profª Fuentes - É hora das apresentações . Quem vai ser o primeiro a se habilitar para recitar o seu poema ? Vamos ver se alguém tem o espirito de Florbela Espanca encarnado ! garotas por favor , guardem as escovas e os espelhos aqui não é salão de beleza e garotos ai do fundão , cessem as agressões físicas aqui não é uma arena de gladiadores .
Alguns alunos ficaram retraídos nas cadeiras.
Profª Fuentes - Vocês estão muito apáticos , aconteceu alguma coisa ?.
Nina - A senhora não sabe ?. O professor Aurelius foi diagnosticado com câncer , passou mal enquanto dava aula . Eu fiz a minha poesia em homenagem a ele.
Profª Fuentes - Certo , foi um tanto desconcertante tomar conhecimento disso agora. Sua a atitude de homenagear o professor é louvável . Não , conheço Aurelius muito bem , nós mal nos encontramos na sala dos professores . Vá Nina ;
Nina , abriu seu caderno se levantou da mesa e foi para frente . Seus olhos começaram a lacrimejar . Lenna desconfiou se as eram lágrimas de verdade.
Nina - De sabedoria divina inquestionável instrutor que faz do ensino a sua sina prega com diligência e ardor a quem ainda tem uma mente a compor.
Tabaco , coadjuvante da sua alegria protagonista da sua agonia.
Um Viciado letrado cujo seu pulmão pela doença foi envenenado oculta pelas entranhas da geografia do seu corpo a Maligna se aproveitou e se propagou
Nicotina e a cafetina se encontram em qualquer esquina tão fácil é o aceso ao pecado por isso muitos estão a se esbaldar
A quem foi assombrar , que vida foi desmantelar Justo a do meu favorito professor
A maca de hospital é o que precede o caixão e o caixão e a bandeja de prata onde a morte se serve do sofrimento e da dor da alma que levou. Por isso vou rezar incessante até o presado enfermo sarar e da missa do sétimo dia o livrar .
A sala aplaudiu .
Profª Fuentes - Lindo e sombrio. Que talento ! Próximos ?.
Nós duas nos erguemos.
Lenna - Eu fiz o meu poema para Stefana e ela pra mim, vamos ler juntas.
Então de frente uma para outra , olhos nos olhos nós pronunciamos o que escrevemos , deu um nervosinho e um borborigmo , borboletas na barriga ! Movimentos involuntários e sorrisos de meia lua.
Lenna - Minha melhor amiga Stefana é italiana Romana como a deusa vénus Teu coração é uma fazenda que se cultiva os melhores sentimentos. Seus olhos verdes esmeraldeados para os garotos são um tormento Não a quem não possa se apaixonar por esse corpo curvilíneo, áureo e simétrico , para acompanhar o seu pique , só com energético. De física olímpica e profusa sapiência . Sua voz em mim é eloquente por isso não a conselho seu que eu não me atente
Stefana - No banco da igreja, enquanto o padre exercia seu ofício . Na capela pós celebração e no meu quarto antes de dormir, rezava , fazendo promessas ajoelhada , por medo do destino, as incertezas do futuro e magoas do passado. E também sempre rezei para encontrar um amor que durasse para sempre, fiz promessas sob o altar dos santos e testemunho dos anjos agarrada ao meu rosário sem cabular uma ave maria . O tempo é imperfeito , porque tem pressa e não sabe parar , atropela quem faz seu caminho com cautela. A preocupação empobrece a felicidade , tira a vitalidade e enruga a tez. Se houvesse alguém ao meu lado mais cedo teria logrado o almejado. Embevecida por ti amiga , portentosa ...
Nina - Parem de verborragia suas sapatões ! Desculpa professora , mas é muita falsidade pra mim.
Profª Fuentes - O que é isso Nina ?
Nina - Essa duas enrustidas em vez de se agarrarem logo , ficam fingindo que não são lésbicas porque tem medo de preconceito ! Vão se beijem logo.
Profª Fuentes - Nina , de novo vai começar um barraco ? já sabe né , vá para sala da diretoria !
Rubita - Nina , você tem problema mental ?.
Nina - Eu , só to dizendo o que é obvio , não viram as entrelinhas dos poemas das duas. ?
Stefana - Eu nem terminei de ler o meu.
Nina - E é melhor não ler ou vou vomitar .
Ruan - Que comece o Furdúncio !
Amy - Para de botar lenha na fogueira !
Profª Fuentes - Nina , vá agora , direto e sem balbuciar para a sala da diretoria é o ultimo aviso.
http://brunoronald.deviantart.com/ https://brunoronald.tumblr.com/
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Capitães da Areia
Escola literária: Modernismo (2ª fase)
Publicação: 1937
Narrador: 3ª pessoa do singular
Local da narrativa: Salvador - BA
Linguagem: Simples, coloquial
Contexto: Jorge Amado terminou de escrever a obra a bordo de um navio a caminho do México, durante uma viagem pela América Latina e Estados Unidos. Enquanto isso, no Brasil, Getúlio Vargas instituía o Estado Novo. Na volta ao país, em novembro de 1937, o escritor foi preso em Manaus pela polícia do novo regime. Não era a primeira vez: ele havia sido preso no ano anterior, acusado de participar da Intentona Comunista.      Capitães da Areia revelava-se então um livro profético: o escritor vivia história similar à do protagonista Pedro Bala, que acaba perseguido e detido por ter se tornado “militante proletário”. Quando publicado, o livro foi considerado subversivo e teve inúmeros exemplares apreendidos e queimados pela polícia em praça pública. Jorge Amado recebeu a notícia na cadeia.
Personagens
Sinopse: Nesta história crua e comovente, Jorge Amado narra a vida de um grupo de meninos pobres que moram num trapiche abandonado em Salvador. Os Capitães da Areia têm entre nove e dezesseis anos e vivem de golpes e pequenos furtos, aterrorizando a capital baiana.      Do valente líder Pedro Bala, com seu rosto atravessado por uma cicatriz de navalha, ao carola Pirulito, que reza todas as noites para purgar seus pecados; do sensato Professor, o único inteiramente letrado do grupo, ao sedutor Gato, aprendiz de cafetão, cada um desses meninos tem sua personalidade própria, sua concepção de mundo, seus sonhos modestos.       A má fama do grupo, no entanto, se espalha pela cidade. Contra eles se levantam os jornais, a polícia, o juizado de menores e as “famílias distintas”. Mas há também quem os ajude: o padre José Pedro, a mãe de santo Don’Aninha, o estivador João de Adão e o capoeirista Querido-de-Deus.      Os meninos crescem e encontram caminhos variados: marinheiro, artista, frade, gigolô, cangaceiro. O líder Pedro Bala decide lutar e assumir a tarefa de mudar o destino dos mais pobres.      Influenciada pela militância comunista do autor na época em que foi escrita, a narrativa de Capitães da Areia transcende a orientação política mais imediata. Divididas entre a inocência da infância e a crueza do universo adulto, as crianças têm de lidar com um cotidiano ao mesmo tempo livre e vulnerável, revelando um desamparo e uma fragilidade que, em muitos aspectos, permanecem atuais.
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*QUIZ*
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asweettangerine · 7 years
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Os olhos de Syd
Eu estou sentada em uma repartição. Boring. Mas, ouvindo música - música esta que me transporta para outro ambiente -, relembro de um homem muito simpático que me parou semana passada e merece este texto.
O metrô estava frio. Sempre está. Eu saí dele e fiquei esperando meu próximo transporte... a sina do mundo. Eis que enquanto esperava, um senhor sorri para mim e elogia meus cabelos. Syd tinha os dele brancos, e mencionou que não havia cores mais belas que as dos pássaros, me parabenizando pelos meus tons roxos. Fiquei feliz, até porque a intenção era ciano... mas não descoloriu bem, sabe, essas coisas. O roxo foi de última hora e... ficou bom! E mais ainda, me proporcionou falar com Syd.
Um senhor distinto, letrado até os dentes - e preenchia até o que lhe faltava da frente, por sinal -. Conhecedor de Ziraldo, Nelson Rodrigues, Milor Fernandes; esse último foi motivo de tranquilidade para ele quando eu disse que conhecia. Syd era um alguém, mas que após conversar me lembrou de Pink Floyd, Syd Barrett. Será que havia alguma semelhança?
O que fez Syd para estar ali? Naquela praça? Dormindo ali? Eu sinceramente não sei. Não tive tempo... e mesmo que tivesse, seria indelicadeza da minha parte.
O que Syd fez para estar ali? Era frio. Ele não tinha cobertas, mas suas palavras aqueceram meu coração como nenhuma roupa minha estava fazendo.
O que Syd fez para estar ali? Seja lá qual foram seus erros, se é que houveram, eu não o queria ali. Eu queria poder chamar o Syd, segurar sua mão e tirá-lo dali.
O que Syd fez para estar ali? E o que ele fez para ninguém notar sua presença?
São tantas rezas dentro das igrejas. Quantas pessoas neste minuto estão dizendo "amai o próximo como a ti mesmo"? Quantas dessas pessoas viram o Syd, mas não enxergaram o Syd?
Feliz daquele que tem olhos que vêem. Ouvi isso minha vida toda. Syd foi o momento de carinho mais genuíno daquele dia. Mais sincero. Foram 10 minutos comparado às 19 horas anteriores daquele dia que já haviam se passado. E eu poderia ter ficado ali. Nos 10 minutos. Falando sobre livros, música e a cor dos pássaros.
Syd enxerga o mundo. Mas o mundo não enxerga Syd.   
Frente a minha mesa dessa sala gigante, cheia de repartições, há uma janela. Nela há muito verde. E em meio dela estou procurando um pássaro colorido. Colorido igual aos meus cabelos. Porque, como Syd disse bem, não há cores mais lindas. Não mesmo. Nem palavras.
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livroseleitura · 7 years
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Crônica de Machado de Assis, de 15 de março de 1877
Mais dia menos dia, demito-me deste lugar. Um historiador de quinzena, que passa os dias no fundo de um gabinete escuro e solitário, que não vai às touradas, às câmaras, à Rua do Ouvidor, um historiador assim é um puro contador de histórias. 
E repare o leitor como a língua portuguesa é engenhosa. Um contador de histórias é justamente o contrário de um historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias. Por que essa diferença? Simples, leitor, nada mais simples. O historiador foi inventado por ti, homem culto, letrado, humanista; o contador de histórias foi inventado pelo povo, que nunca leu Tito Lívio, e entende que contar o que se passou é só fantasiar. 
O certo é que se eu quiser dar uma descrição verídica da tourada de domingo passado, não poderei, porque não a vi.  
Não sei se já disse alguma vez que prefiro comer o boi a vê-lo na praça.
Não sou homem de touradas; e se é preciso dizer tudo, detesto-as. Um amigo costuma dizer-me: 
— Mas já as viste? — Nunca! — E julgas do que nunca viste?
Respondo a este amigo, lógico mas inadvertido, que eu não preciso ver a guerra para detestá-la, que nunca fui ao xilindró, e todavia não o estimo. Há coisas que se prejulgam, e as touradas estão nesse caso. 
E querem saber por que detesto as touradas? Pensam que é por causa do homem? Ixe! é por causa do boi, unicamente do boi. Eu sou sócio (sentimentalmente falando) de todas as sociedades protetoras dos animais. O primeiro homem que se lembrou de criar uma sociedade protetora dos animais lavrou um grande tento em favor da humanidade; mostrou que este galo sem penas de Platão pode comer os outros galos seus colegas, mas não os quer afligir nem mortificar. Não digo que façamos nesta Corte uma sociedade protetora de animais; seria perder tempo. Em primeiro lugar, porque as ações não dariam dividendo, e ações que não dão dividendo... Em segundo lugar, haveria logo contra a sociedade uma confederação de carroceiros e brigadores de galos. Em último lugar, era ridículo. Pobre iniciador! Já estou a ver-lhe a cara larga e amarela, com que havia de ficar, quando visse o efeito da proposta! Pobre iniciador! Interessar-se por um burro! Naturalmente são primos? — Não; é uma maneira de chamar a atenção sobre si. — Há de ver que quer ser vereador da Câmara: está-se fazendo conhecido. — Um charlatão. 
Pobre iniciador!
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