Acabei de ler o livro Canção dos Ossos agora. Achei muito bom, diferente das minhas últimas leituras. A reviravolta no final me deixou de queixo caído, o mesmo fez uma cena anterior que me lembrou da "doença hanahaki". Foi uma leitura ótima, a única coisa que pesou foram os erros que a revisão deixou passar. Isso é algo que me desagrada muito, afetou minha imersão e, querendo ou não, deixa um gostinho amargo com relação à editora e à autora.
Enfim, leiam mais yuri. E yuri tóxico também pode ser bacana.
Não apanhámos os dias mais solarengos no início de Junho, mas não demos a visita como perdida. Bem pelo contrário: Guimarães é uma cidade magnífica, com um centro histórico charmoso e muito bem recuperado, recantos encantadores, e uma vista absolutamente imperdível da Penha (vale bem a pena o passeio de teleférico). Calhou ainda termos ficado num dos raros AirBnb que se mantém fiéis ao conceito original da plataforma: alugueres de curta duração de um quarto na casa onde os anfitriões residem (longe portanto da voragem predatória de aquisição de imóveis para aluguer e da gentrificação inevitável dos centros das cidades). O que talvez até não fosse relevante, mas no caso foi: a nossa anfitriã foi impecável, e para além da conversa e das muitas sugestões que nos deu, ainda nos indicou um percurso pela cidade da sua autoria, com narração em áudio, recuperando histórias dos vários locais por onde se passava. Uma iniciativa mesmo muito gira, que acrescentou imenso à nossa descoberta da cidade-berço.
"Toda vez que esbarrava com a vida real, ele a rechaçava. Agora experimentava uma sensação semelhante à de alguém que atravessa com tranquilidade uma ponte sobre um precipício e de repente se
dá conta de que a ponte foi desmontada e que em seu lugar há
uma voragem. A voragem era a vida real; a ponte, aquela vida artificial que levava."
Intróito ao Abismo Gélido de Nortúndria Em meio à vastidão gelada de Nortúndria, na região conhecida como Cume da Voragem, encontra-se um local de veneração e intriga: a Abóbada de Arcavon. Este foi um lugar construído com o propósito de ocultar e proteger segredos que transcendem até mesmo as lendas dos mais antigos habitantes de Azeroth. A história que envolve essa abóbada é tecida com fios ...
é pela forma que você recua que eu abro meu corpo aceito as farpas do mundo me coloco onde eu nem saberia estar se fosse de caso pensado porque quando eu disse que a literatura era uma forma de voragem você pediu cuidado você pediu cuidado quando era pra mais ter pedido que eu me jogasse você continua recuando enquanto a dor me alcança os ossos e não há como parar um corpo aberto não me peça cuidado seja meu aço e avance não é com covardia que as coisas acabam
O Paradigma da Proteção: Análise Profunda do Projeto para Motoristas de Aplicativos sob o Governo Lula
Na voragem das mudanças no cenário laboral, o governo Lula apresenta uma proposta de lei visando proteger os motoristas de aplicativos. No entanto, uma análise minuciosa revela que, embora contenha aspectos positivos, a iniciativa ainda deixa a desejar no que tange à salvaguarda efetiva dos direitos dos trabalhadores.
Pontos Positivos e Desafios Inexplorados
O projeto destaca-se ao estabelecer…
Dois descrentes do amor, navegantes solitários em mares de ilusão, nos encontramos aqui, despidos não apenas de roupas, mas de expectativas e promessas. De relacionamentos desfeitos emergimos, onde o "felizes para sempre" se desfez em cinzas ao menor sopro da realidade.
Confessei minha crença inabalável no poder do amor, apenas para ser confrontada por seu riso sábio, como se soubesse há séculos que o amor, por si só, não é suficiente para nos sustentar. E assim, compartilhamos a dor da descoberta tardia, dançando ao ritmo de corações partidos.
Em meio às sombras de nossos passados, ousamos nos entregar às marés inconstantes da paixão e da emoção. Envolvidos em conversas profundas, nos afogamos em lençóis amassados, marcados pelo furor de nossos encontros.
Te prometo o calor das emoções intensas, os arrepios da adrenalina compartilhada, enquanto buscas a tua própria jornada. Mas sei que sou incapaz de te oferecer o amor que anseias, tão rápido quanto desejarias, ou talvez nunca.
E quando estiveres imerso na voragem do que posso te conceder, partirás, pois reconhecerás que aqui, entre os destroços das nossas almas, não há o amor que buscas. Não há mudança para a calma que anseias, nem mesmo para mim mesma, pois estou mergulhada em meu próprio caos.
Sei que será difícil partir, pois a adrenalina é um vício que te faz sentir vivo, mesmo que destrua a tua alma. Mas quando perceberes que aqui não há o amor que procuras, partirás em busca de algo que talvez nunca encontres, assim como eu, imersa no caos que me consome.
No âmago da minha essência, anseio pela inebriante sensação da dor, contudo, não é um afeto puro, pois tenho residido perpetuamente na voragem do caos, sendo a serenidade uma quimera inalcançável. Incapaz de me desvencilhar das agonias do pretérito, as cicatrizes se entrelaçam na trama intricada do meu ser.
Adoro entregar-me a névoas ascendentes, que entorpecem a minha dor, a agonia que se recusa a soltar-se, transcende do mental para o físico, uma alquimia de sofrimento. Como escapar deste labirinto de desespero? As paredes sombrias da minha existência ecoam lamentações ancestrais, clamando por uma redenção que se desvanece nas sombras de uma mente imersa na tormenta.
Com esta tira tão simples, publicada faz hoje 38 anos, Bill Watterson dava início a uma das mais icónicas tiras de jornal, que continua a ser descoberta por novos leitores. Deixo abaixo um texto que publiquei em Julho, a propósito do aniversário de Watterson:
Não houve na segunda metade dos anos oitenta e nos anos noventa uma tira de jornal tão popular como Calvin & Hobbes - e é bem possível que tenha sido o último grande sucesso de um formato que praticamente desapareceu das páginas dos jornais. No seu auge, as pranchas escritas e ilustradas por Watterson eram publicadas em milhares de jornais por todo o mundo; e a popularidade persistiu para lá do fim das tiras, em 1995, e para lá dos próprios jornais, também eles em declínio - os livros continuam a vender-se, e as histórias daquele miúdo irrequieto e do seu tigre sarcástico continuam a cativar leitores novos e antigos.
Não há muita gente que, como Watterson, tenha abdicado com tal desapego de largos milhões de dólares como ele abdicou. Isto não é hipérbole: se tivesse continuado a desenhar, e sobretudo se tivesse cedido ao licenciamento e ao merchandising, teria garantido uma fortuna com séries de desenhos animados, filmes, inúmeros brinquedos, publicidade e, sei lá, atracções em parques temáticos. E hoje Calvin & Hobbes seria mais uma marca, mais um franchise, mais uma "propriedade intelectual" reduzida a mero "conteúdo" (a mercantilização da expressão artística nos tempos das redes sociais é uma tragédia pouco falada), esvaziada de significado ou simbolismo. Watterson sabia-o bem - viu isso com os Peanuts de Schulz ou com o Garfield de Davis. E sabendo-o bem, optou pela via mais difícil: ainda no activo, lutou pela expansão do formato da tira de jornal, lutou ferozmente para manter os direitos sobre as personagens que criou e para evitar que elas fossem morrer fora das suas pranchas; e, no auge da sua carreira e da sua popularidade, decidiu parar. "Creio que fiz tudo o que podia fazer dentro dos limites de prazos diários e vinhetas pequenas", disse na sua nota de despedida em Novembro de 1995. A última tira de Calvin & Hobbes seria publicada a 31 de Dezembro desse ano.
Na prática, não existe merchandising de Calvin & Hobbes, ou pelo menos não nos formatos mais habituais. Há um manual escolar intitulado Teaching with Calvin and Hobbes (hoje um objecto de colecção), dois calendários feitos ainda nos anos 80, e uma t-shirt de uma exposição de banda desenhada no Museu Smithsonian. Ficaram os livros, que são o que de facto interessa: das várias colectâneas de banda desenhada em formatos de bolso a livros maiores, até à magnífica edição completa em três grossos volumes de capa dura, que pesa 10kg e é um pequeno luxo. Calvin & Hobbes não se dispersaram na voragem do consumo - resistem no seu formato original, impresas, palpáveis, reais. Há fãs de Snoopy e de Garfield que nunca leram ou lerão uma tira de Schulz ou Davis - o que, note-se, em si não tem mal algum. Mas todos os fãs de Calvin & Hobbes leram as tiras de Watterson, maravilharam-se com os seus desenhos e as suas palavras, encantaram-se com a sua espantosa imaginação. E isso deve-se tanto aos seus méritos artísticos, que são enormes, como à defesa acérrima que fez da sua obra.
Daqui por algumas décadas, quando Watterson já cá não estiver, a sua obra reverterá enfim para o domínio público - e estarão então abertas as portas para a mercantilização das suas personagens. Haverá então os brinquedos, os desenhos animados, os filmes, tudo e mais um par de botas. Eu, como Watterson, já cá não estarei para conhecer essa realidade - do meu tempo levarei as tiras maravilhosas que começaram a ser ilustradas no ano em que nasci, que descobri ainda em miúdo, e que continuarei a reler ao longo da vida. Ou seja, levarei o que de facto importa. Que Bill Watterson ainda celebre muitos aniversários, e que todos nós continuemos a maravilhar-nos com a sua imaginação.
carvão sobre papelc. Maio/2023
Terra queimada de sol, Rasgada de suor, Tingida de dor
Secada pela voragem do lucroEm olivais sem alma, aldeias de estufas sufocantes, montes vazio de vidaAs promessas de Abril estão esquecidasOs que lá labutamsão,muito deles,do outro lado do mundo
Neles, também, o anseio de Liberdade…Terra e Liberdade!
Jul/2023
Sobre o dorso possante do cavalo
Banhado pela luz do sol nascente
Eu penetrei o atalho, na floresta.
Tudo era força ali, tudo era força
Força ascencional da natureza.
A luz que em torvelinhos despenhava
Sobre a coma verdíssima da mata
Pelos claros das árvores entrava
E desenhava a terra de arabescos.
Na vertigem suprema do galope
Pelos ouvidos, doces, perpassavam
Cantos selvagens de aves indolentes.
A branda aragem que do azul descia
E nas folhas das árvores brincava
Trazia à boca um gosto saboroso
De folha verde e nova e seiva bruta.
Vertiginosamente eu caminhava
Bêbado da frescura da montanha
Bebendo o ar estranguladamente.
Às vezes, a mão firme apaziguava
O impulso ardente do animal fogoso
Para ouvir de mais perto o canto suave
De alguma ave de plumagem rica
E após, soltando as rédeas ao cavalo
Ia de novo loucamente à brida.
De repente parei. Longe, bem longe
Um ruído indeciso, informe ainda
Vinha às vezes, trazido pelo vento.
Apenas branda aragem perpassava
E pelo azul do céu, nenhuma nuvem.
Que seria? De novo caminhando
Mais distinto escutava o estranho ruído
Como que o ronco baixo e surdo e cavo
De um gigante de lenda adormecido.
A cachoeira, Senhor! A cachoeira!
Era ela. Meu Deus, que majestade!
Desmontei. Sobre a borda da montanha
Vendo a água lançando-se em peitadas
Em contorções, em doidos torvelinhos
Sobre o rio dormente e marulhoso
Eu tive a estranha sensação da morte.
Em cima o rio vinha espumejante
Apertado entre as pedras pardacentas
Rápido e se sacudindo em branca espuma.
De repente era o vácuo embaixo, o nada
A queda célere e desamparada
A vertigem do abismo, o horror supremo
A água caindo, apavorada, cega
Como querendo se agarrar nas pedras
Mas caindo, caindo, na voragem
E toda se estilhaçando, espumecente.
Lá fiquei longo tempo sobre a rocha
Ouvindo o grande grito que subia
Cheio, eu também, de gritos interiores.
Lá fiquei, só Deus sabe quanto tempo
Sufocando no peito o sofrimento
Caudal de dor atroz e inapagável
Bem mais forte e selvagem do que a outra.
Feita ela toda da desesperança
De não poder sentir a natureza
Com o espírito em Deus que a fez tão bela.
Quando voltei, já vinha o sol mais alto
E alta vinha a tristeza no meu peito.
Eu caminhei. De novo veio o vento
Os pássaros cantaram novamente
De novo o aroma rude da floresta
De novo o vento. Mas eu nada via.
Eu era um ser qualquer que ali andava
Que vinha para o ponto de onde viera
Sem sentido, sem luz, sem esperança
Sobre o dorso cansado de um cavalo.