thearsonist2002 · 2 years ago
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querida carmilla,
você deve ter estranhado eu ter começado essa postagem de um jeito diferente, não é? achei que sempre iniciar com "querido amigo" ia acabar tornando esse blog repetitivo. além disso, várias coisas iguais juntas me deixam extremamente desorientada, e não quero ficar desorientada por aqui. resolvi usar esse nome, que tem a ver com o assunto de hoje.
bom, acontece que eu li um livro. vários, na realidade. para mim, é bastante difícil conseguir ler um livro de cada vez. geralmente, tenho dois ou três que estou lendo e, quando um fica chato, eu escolho outro. quando esse outro fica chato, eu pego o terceiro, e assim eu vou trocando de livro em livro até terminar um e adicionar outro. é como em uma roda com um beck infinito em que uma pessoa fica chapada de mais e sai, e aí outra pessoa entra no lugar dela e o beck continua rodando. isso faz sentido para você?
certo, vamos ao que interessa. a obra que me traz aqui hoje é Carmilla, de Sheridan La Fanu, escrita em 1872. 1872. pois é, não tinha twitter naquela época. é um livro bem pequeno, quase um conto, na verdade. consegui dar toda a minha atenção a ele e o terminei em poucos dias, o que teria envergonhado muitíssimo minha eu do passado, pois 150 páginas era brincadeira de criança quando eu tinha 14 anos e todo o tempo do mundo para enfiar o nariz em um livro.
Carmilla, por mais que tenha sido escrito quase dois séculos atrás, conseguiu me prender bastante. a escrita não é rebuscada ao ponto de tornar a obra cansativa, apesar de todos aqueles adjetivos e expressões que claramente não pertencem a esse século. a narrativa não se arrastou, como eu pensei que aconteceria logo no início da obra. o autor tomou o cuidado de apresentar a mocinha, Laura, e seu contexto de vida com bastante calma, o que, na minha opinião, me ajudou a não achá-la tão insuportável quanto as mocinhas românticas de livros antigos.
você sabia que, antes do Drácula, veio a Carmilla? esse livro foi o primeiro sobre vampiros a ser lançado! os vampiros desse livro são bem diferentes do Drácula, assim como o Drácula é bem diferente do Lestat, assim como o Lestat é bem diferente do Edward. é tudo uma questão de tempo e do que é atraente, eu acho. E Carmilla realmente é atraente, ou talvez eu só tenha um fraco por meninas de saúde mental instável e aparência de quem não come frutas, verduras e legumes e bebe ao menos oito copos de água por dia.
não quero contar sobre o livro em si, sobre a história, porque não acho que seja assim tão legal. já vimos sobre vampiros e sobre o que eles fazem, isso é batido. mas quero falar sobre os relacionamentos e metáforas que encontrei enquanto lia.
primeiramente, esse livro trouxe a tona um questionamento sobre como os homens enxergam as relações entre as mulheres. talvez eu esteja sendo estúpida e seja uma coisa da época, mas o afeto, a paixão, o sentimento de ansiar pelo amor correspondido... como um homem se atreve a descrever todas as vezes em que elas trocavam carinhos e beijinhos e andavam de mãos dadas e diziam estar apaixonadas e, ainda no mesmo capítulo, dizer que carmilla e laura eram amigas? amigas?! besties?!
"- Estou certa, Carmilla, de que você já se apaixonou. De que há um caso de amor acontecendo neste momento.
- Nunca me apaixonei por ninguém, e nunca hei de fazer isso - sussurrou perto de mim. - A não ser que seja por você."
honestamente? honestamente?! isso é o tipo de conversa que se tem com sua amiga?!
talvez Sheridan enxergasse as mulheres como criaturas delicadas e doces, por isso pensou que, obviamente, elas tratariam uma a outra com delicadeza e ternura. o fato é que, para mim, a relação delas de forma alguma era platônica. elas estavam apaixonadas, meritíssimo. talvez o lado romântico não tenha sido explorado por conta da época, mas ignorar toda a tensão e o sentimento entre as duas é loucura. gostaria de uma adaptação decente e que explorasse mais esse lado, mas sei que estaria pedindo demais. tudo o que as sáficas tocam está fadado a ser cancelado pelas plataformas de streaming.
um segundo elemento da obra me chamou a atenção, e aqui vamos tomar um rumo diferente nessa postagem. os vampiros de Carmilla são bem diferentes dos que estamos acostumados na cultura contemporânea. eles são obsessivos, ao ponto de que Sheridan descreve essa obsessão como o mais próximo que podem sentir de amor verdadeiro enquanto demônios. quando colocam os olhos em alguém e decidem que aquele será seu próximo alvo, são capazes de esperar até séculos para finalmente colocarem os dentes no pescoço das vítimas. outro ponto interessante é que as mortes não são imediatas, e sim levam semanas ou até meses até acontecerem. o vampiro atormenta sua presa em sonhos, enquanto dorme, esgueirando-se por sua cama e sugando sua energia vital até que a vítima fique tão fraca que não consiga mais viver. todas as noites.
bom, acontece que, para mim, essa metáfora (que Sheridan provavelmente não esperava ser uma metáfora para esse tipo de situação) serviu como uma luva em uma situação pela qual passei recentemente. tive, inclusive, um pesadelo com essa pessoa na noite de hoje. há uma diferença bem grande entre a minha situação e a de Laura: Carmilla tinha plena consciência do que estava fazendo e das consequências de seus atos. ela queria machucar Laura. e não foi o que aconteceu comigo, mas, às vezes, quando não tomamos cuidado com nossas palavras e ações, a única consequência possível é essa. isso me drenava também. muito. e eu nem precisei ser mordida e assombrada por semanas e semanas.
eu entendi como Laura se sentiu quando descobriu que a responsável por seu estado era Carmilla. eu também me senti daquele jeito quando percebi que aquela pessoa estava me fazendo mal. Laura se sentiu magoada, traída, confusa. como alguém que dizia que a amava, que a tratava com tanto carinho e delicadeza, poderia fazer tanto mal a ela? a pessoa a que me refiro obviamente não queria me machucar, mas eu também me senti um pouco dessa forma quando eu percebi que ela era um catalizador para os sentimentos ruins que eu vinha sentindo. doeu nela quando eu tive que dizer adeus, porque eu sei que ela não estava me machucando de propósito, mas também doeu em mim, porque ela sabia que eu estava em uma fase frágil e eu disse inúmeras vezes que algumas coisas que ela dizia e fazia me magoavam, mas ela não parou. achei que iria odiar Laura no começo do livro, mas acabou que temos bastante em comum, no fim das contas.
sinto muito por ter que finalizar isto em um tom tão depressivo. na verdade, não sinto, não. afinal, criei esse blog justamente para aprender a colocar em palavras o que penso. pretendo voltar aqui em breve, porque minha melhor amiga me recomendou um livro novo e está me mantendo na mira de uma Glock neste exato instante para que eu termine logo. viu só, Sheridan? isso é amizade feminina. não tem beijinho na testa nem passeio de mãos dadas na floresta nem trançar o cabelo uma da outra enquanto troca confissões de amor.
bom, é isso, por hoje! prometo que nos veremos em breve. até a próxima!
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thearsonist2002 · 2 years ago
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querido amigo,
acho que todo mundo já imaginou, uma hora ou outra, como seria ter a mãe como professora. eu estou um pouco fora dessa curva, porque isso realmente aconteceu, e não estou me referindo aos meses em que minha mãe foi professora substituta na minha escola quando eu tinha cinco anos. ela nem era substituta na minha sala nessa época, mas era legal pedir para ir ao banheiro e ficar no corredor, na ponta dos pés, espiando ela dar aula pela janelinha da porta. bom , o que eu quero dizer é que, apesar de ter lecionado na minha escola quando eu estava no ensino fundamental, minha mãe na verdade achou melhor me ensinar a ler e escrever em casa (e ignorar que esse era literalmente o planejamento de trabalho de um ano inteiro para a minha professora).
eu tinha uns quatro ou cinco quando aprendi a ler. ler de verdade, e não catar letras aqui e ali. quando se mora no interior, é difícil achar qualquer coisa, e não foi diferente quando meus pais decidiram que queriam comprar alguns livros para mim. já imaginou uma cidade onde não há uma única livraria? pois é, eu estava presa em um buraco desses! mas eles conseguiram dar um jeito, no fim das contas (compraram por encomenda em uma revista, como os antigos maias e astecas faziam).
o primeiro livro que eu li foi O Mágico de Oz. me lembro de ter achado chato, porque eu já sabia a história, mas tive que lê-lo umas três ou quatro vezes de novo, porque os livros novos que meus pais compravam demoravam um mês para chegar. tive a oportunidade de relê-lo recentemente, e devo admitir que não me lembrava de algumas coisas. será que meus pais compraram uma releitura da obra? tenho certeza de que não tinha todo o drama entre as bruxas na versão que eu li, o que é uma pena, porque eu era uma criança muito curiosa e teria adorado.
desde então, mantive certa constância nas minhas leituras, o que quer dizer que lia um livro inteiro em dois dias e depois tinha que esperar um mês inteiro até a revista de encomendas voltar e eu ter acesso a outro livro. é assim que as coisas funcionavam no interior antes da internet e da Amazon, sabia? minha mãe encomendava utensílios domésticos e cosméticos, meu pai encomendava produtos agrícolas e peças para as máquinas do sítio, e eu encomendava livros (e rezava para que valessem a pena a espera e a ansiedade).
as coisas ficaram mais simples nesse quesito desde que nos mudamos para a cidade grande. havia uma livraria no shopping perto de casa e, além disso, meu pai conseguia comprar livros pela internet e eu não precisava esperar uma volta de lua para eles chegarem. e foi então que eu entrei na minha fase de leitura que beirou um surto psicótico. os clássicos infanto-juvenis da época me pegaram pelo pescoço: Harry Potter, Percy Jackson e os Olimpianos, Jogos Vorazes e Os Heróis do Olimpo foram os grandes guias da minha vida entre os onze e os quinze anos. de verdade, todos os meus traços de personalidade na época tinha a ver com os personagens e a histórias. certo, para ser honesta, alguns ainda têm, mas não é minha culpa que eu seja a pura nata da lufa-lufa.
com isso, gostaria de desejar boas-vindas ao espaço que eu reservei para minhas críticas literárias. se você acessou o catálogo sobre filmes, então já sabe que elas serão, também, tão profundas quanto um pires e tão sensíveis quanto um cateter. bom, até mais!
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thearsonist2002 · 2 years ago
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querido amigo,
a maioria das pessoas não lembra do primeiro filme que assistiu. bom, eu lembro. ao menos, acho que lembro. Alice no País das Maravilhas, de 1951, da Disney. obviamente não preciso dizer que assisti ao filme em um aparelho de vídeo cassete dos anos 1990/2000, e não nos cinemas. minha mãe disse que eu era viciada naquele filme e que o assistia todos os dias, às vezes até mais de uma vez no dia.
meu pai passava a maior parte do tempo longe de casa quando eu era pequena, mas eu tinha um tio que sempre foi muito próximo. minha figura paterna, pode-se dizer. esse tio era, é e sempre foi o maior fã de cinema e televisão que eu conheço. ele sempre acompanha todos os lançamentos de filmes ou série, e sempre me liga perguntando se eu já assisti. não importa o gênero. "você já assistiu ao novo desenho da Família Addams?". "sabia que vão lançar uma sequência para A Órfã?". "o novo filme do Thor é horrível, mas você deveria assistir e tirar suas próprias conclusões". essa é uma das coisas que eu mais gosto nele. não importa o quão ruim, mal feito ou estúpido um filme pode ser, ele sempre diz que eu deveria assistir e formar minha própria opinião.
e eu faço isso. faço isso desde que me entendo por gente, na verdade. minha mãe e minha melhor amiga acham que eu sou meio louca por assistir a alguns filmes que "não tem pé nem cabeça", mas a verdade é que eu amo estar imersa em um universo que simplesmente vai se apagar quando o marcador terminar de percorrer aquela linha horizontal. e o melhor de tudo é que eu posso dar vida a esse universo de novo quando quiser, basta abrir o reprodutor de vídeo! talvez eu tenha algum tipo de complexo de Deus, mas isso não é relevante.
alguns filmes me deixam pensando por horas e dias. de memória, consigo me lembrar de Suspiria, de 2019, e Audition, de 1999. ambos tem uma atmosfera única e magnética, como um grande buraco negro. Suspiria, em especial, me deixou vidrada por umas boas horas com a cinematografia. não chegou a ganhar nenhum Oscar ou algo grande do gênero, mas acho a fotografia incrível, além do enredo e das atuação (Mia Goth, você sempre estará em meu coração). Audition, por outro lado, me teve pelo plot twist. às vezes ainda penso no andar do filme e de como as coisas escalaram rapidamente, de modo tão incrível que fui obrigada a deixar de lado dos valores anti-imperialistas e ler a obra em inglês, o único idioma que achei disponível.
há muitos filmes que marcaram minha alma, de um jeito ou de outro. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, Chloe, A Forma da Água, A Bruxa, A Criada, O Auto da Compadecida (minha mãe diz que eu a chamava para assistir a 'O Auto da Comparecida' quando eu era pequena), Atração Mortal, Nosferatu, Sociedade dos Poetas Mortos, Precisamos Falar sobre Kevin, Garota Infernal, O Farol, Cisne Negro e O Labirinto do Fauno são alguns dos meus favoritos. com esses dados amostrais, você provavelmente já percebeu duas coisas: enredos sombrios e Amanda Seyfried. uma mulher de gostos simples, não?
com isso, gostaria de dar boas-vindas à minha coleção de blablabás cinéfilos tão profundos quanto um pires e tão sensíveis quando um cateter. então, é isso! até a próxima.
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thearsonist2002 · 2 years ago
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querido amigo,
apresentações sempre me deixam com um tipo estranho de ansiedade, até mesmo as virtuais. é bobo e irracional, mas estou aprendendo a lidar com esse tipo de sentimento agora.
todo mundo começa essas coisas falando o nome, a idade, de onde veio, o que faz da vida, o que gosta de fazer. essas coisas não possuem muita relevância nesse espaço, eu acho. ao menos, não vejo sentido em falar sobre elas como se pudessem dizer algo concreto sobre mim.
há coisas mais legais e bem mais úteis, na verdade. meu mbti é infp (o que explica e resume todo esse blog, se você parar para pensar). já gostei de the pretty reckless e slipknot e avenged sevenfold, mas também já gostei de exo e loona e twice; atualmente, estou na minha fase taylor-mitski-lana, o que, eu espero, você já tenha percebido. minha casa é a lufa-lufa e o meu chalé é o de número 3, e grande parte da minha personalidade durante a adolescência se resumia a isso. não sei quais são meus livros ou músicas ou filmes ou séries favoritos, porque essas preferências convenientemente sempre coincidem com a última coisa que eu consumi.
dos tópicos que eu tentei evitar no começo da conversa, o último é o que nos traz aqui. é por isso que fiz essa conta. nos últimos tempos, surgiu uma vontade de comprar um diário para que eu pudesse escrever um pouquinho às vezes (o que é estranho, pois nunca cheguei a usar efetivamente nenhum dos meus diários; sempre me esquecia da existência deles). queria escrever sobre o que ouço, o que leio, o que assisto, o que consumo e que me tira da cama todos os dias, apesar dos pesares.
então, seja bem-vindo, seja você quem for. bem-vindo ao pedacinho da minha cabeça que eu tento impedir de ruir como uma criança que enfia um animalzinho sob o casaco em um dia de chuva. espero que aproveite a estadia (e isso serve para mim e para você).
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