Janelas: a transição entre o individual e a cidade. Projeto das alunas do curso de Jornalismo da PUC-SP, baseado no filme "Medianeras". O objetivo do projeto é entender a relação das pessoas com a cidade de São Paulo. Contribua com imagens e sugestões: [email protected]
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Testemunha
O azul do céu encanta As nuvens nos presenteiam Uma paisagem de calmaria E logo abaixo toda a cidade
Casas, carros e prédios Pessoas e muita movimentação A vida não para A cidade não para
Apesar de toda dicotomia Apesar de todo antagonismo A vista agrada Aliás, essa diversidade é que chama atenção
Paradas, aproveitando a luz, testemunhamos Não há para onde ir, mas a janela é o refúgio E não há nada mais interessante Do que observar toda essa dinâmica
Trata-se de uma conversa indireta Entre calmaria e agitação Entre almas e concreto Daqui da janela o assunto parece fascinante
Observamos O que muitas vezes intriga Também é capaz de agradar Basta estar realmente disposto a enxergar
Por: Giovana Costa
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O projeto “Através da Cidade” consiste no entendimento entre o individual e a cidade, através das janelas. Como as pessoas se relacionam com a cidade de São Paulo? O trabalho surgiu em março de 2017, na aula de Narrativas Jornalísticas voltada para Transmídia, na PUC-SP. Este é um projeto criado por: Adriana Vieira, Barbara Bastos, Gabriela Fogaça, Giovana Costa, Ingrid Duarte e Maria Victória Gonzalez. Siga-nos nas redes sociais! - Instagram: https://www.instagram.com/atravesdaci… - Spotify: playlist “Através da Cidade”.
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Ela olha a horta do lado de fora com tristeza, sente saudades de quando podia sair e cuidar de seu jardim. Tudo culpa da idade, 85 anos não era pouco e, apesar de ela agradecer por ainda poder ver seus filhos, netos e bisnetos, ela queria também sair e cuidar da sua horta. O médico não deu previsão de quando ela poderia voltar à sua rotina, ela sentia saudades do movimento da rua, de cuidar do seu destino sem depender de ninguém. Mas agora só de cadeiras de rodas. A cuidadora até tentou cuidar dos vasos de flores e do jardim, mas ela não levava jeito, só continuava por dó. Era triste ser a pessoa de quem sentem pena, houve uma época em que ela podia passar o dia inteiro ajoelhada nos ladrilhos e não sentir nenhuma dor, mas agora nem em pé ela não conseguia ficar, tudo doía, o tempo todo. Seus filhos não tinham tempo. Seus netos também não. Ela passava a maior parte do dia em silêncio, na janela, observando o tempo e o movimento da cidade. A cidade onde ela nasceu e pretende morrer, mora lá desde que se casou com seu falecido marido, há 60 anos. A vista já mudou muito, mas os sentimentos não mudam nunca.
Por: Barbara Bastos
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A janela da minha vida
Sempre vi na janela uma figura de paz, é o local que recorro quando quero me desconectar do mundo real. É lá que reflito durante horas às soluções para minhas frustrações, lógico que muitas vezes fico sem respostas, mas a paisagem que vejo acalanta meu coração e me renova.
É através da janela que vejo a cidade e consigo me separar da pressão/pressa que é viver, sinto que ainda sou uma menininha de oito anos, que nem sabia o que era viver na afobação. É lá, observando tudo, que também me imagino quando estiver no auge dos meus oitenta anos, acordando toda feliz e realizada com a vida enérgica que pretendo levar.
Nos dias frios, o vento gelado que chega parece ser tudo que preciso para refrescar minhas ideias e trazer inspiração. Em dias de sol, adoro olhar pelas grades o efeito que a luz natural representa, é como Caetano fala “luz do sol, em vida, em força, em luz”. À noite, deixo minha emoção quando vejo alguma estrela e penso na saudade que sinto das pessoas que foram para outras dimensões, é uma forma que encontrei de sempre me despedir.
Naquela janelinha, parece que todo o mal e ressentimento saem do meu corpo e tudo que retorna é o amor, a sensibilidade e a gratidão. E a janela da sua vida te transforma de alguma forma?
Por Ingrid Duarte
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Da janela do avião eu te vi pela primeira vez em três anos.
Eu não sabia que ao te deixar perderia uma parte da minha identidade. Não sabia que a saudade machucaria e que as crises durariam três dias seguidos. Durante esses três dias, eu fiz o possível para me envolver com e de você. A dor não passou; só a tua presença podia me curar.
Ainda assim, ainda bem que te deixei. Afinal, se tivéssemos ficado todo esse tempo juntos, talvez eu nunca teria percebido que você é parte de mim, parte de quem eu sou. Me doeram os comentários maldosos e irônicos sobre a nossa volta. Eu ria, mas mal sabiam as pessoas que havia me apaixonado novamente.
Hoje não penso em te deixar, como tanto quis alguns anos atrás. A vida que um dia eu quis hoje foi reclamada por outra pessoa, que vive muito feliz. Mas não me arrependo. Me dividi em três: a Gabriela antes de você, sem você e com você. Antes porque embora juntos, nunca te apreciei como deveria. E agora, temos tanto para fazer; milhares de coisas para descobrir e lutas para lutar.
Em ti me refiz.
Por Gabriela Fogaça
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Cinza ou verde?
Eu fico ali, esperando alguém chegar para contemplar a minha vista. Através das minhas grades é possível enxergas tantas árvores, plantas, flores, e muito, muito verde. É possível também viver sem nunca enjoar de olhar pra tudo aqui. Eu nunca enjoo.
Pois é, acho que o mundo foi dominado por lugares cinzas e a visão que eu ofereço já está ultrapassada. Por dias penso que ninguém nunca vai chegar.
A rotina é muito corrida e não temos tempo para admirar o que a natureza nos cedeu de forma tão sincera.
Mas é aí que eles chegam: Pessoas cansadas do estresse da cidade enchem os olhos de felicidade ao sentir o ar puro daqui. Minha existência faz sentido ao vê-los me olhando com um ar de paz.
Crianças correndo para lá e para cá. Adultos conversando e rindo, como se aqui fosse o melhor lugar do mundo, o lugar onde eles esquecem o que se passa na cidade grande, o real sentido de felicidade.
Passam alguns dias apreciando tudo, olhando através de mim o melhor que tenho a oferecer.. e depois? Vão embora sem se despedir.
E eu fico aqui torcendo pra que eles voltem, com aquele sorriso que só eu posso proporcionar.
Pois é, meu futuro está fadado à solidão. Ah, será que as pessoas preferem lugares mais cinzas?
Por: Adriana Vieira
#janelas#medianeras#pucsp#convergencia#projeto#atravesdacidade#interiordesp#sorocaba#transmidia#foratemer#adrianagrande#drikavieira#conto
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O projeto “Através da Cidade” consiste no entendimento entre o individual e a cidade, através das janelas. Como as pessoas se relacionam com a cidade de São Paulo? O trabalho surgiu em março de 2017, na aula de Narrativas Jornalísticas voltada para Transmídia, na PUC-SP. Este é um projeto criado por: Adriana Vieira, Barbara Bastos, Gabriela Fogaça, Giovana Costa, Ingrid Duarte e Maria Victória Gonzalez. Siga-nos nas redes sociais! - Instagram: https://www.instagram.com/atravesdaci… - Spotify: playlist “Através da Cidade”.
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Mapa panorâmico de onde as fotos das janelas foram tiradas.
https://www.instagram.com/atravesdacidade/
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O nascer do Sol que dizia muito
Hoje acordei bem cedo, como de costume. Seis da manhã precisamente. Repasso na minha cabeça tudo o que preciso fazer durante o dia, todas as tarefas que preciso concluir ou dar início. Ainda de pijama, vou até a cozinha tomar meu café da manhã, atravesso a sala e me deparo com um nascer do sol mais bonito do que o comum. Numa manhã normal eu levo uns dez minutos para tomar meu leite com achocolatado, que esquento no micro-ondas, enquanto checo as redes sociais no celular. Mas não era uma manhã igual as outras. Enquanto eu olhava as notícias no celular, as lágrimas escorriam no meu rosto. Fiquei assustada por não encontrar, entre dezenas de notícias trágicas, sequer uma informação boa, uma informação que me fizesse sair de casa com esperança. Olhei pela janela, que merecia um olhar alegre por me proporcionar a vista daquele nascer do sol colorido e feliz, mas me senti estranha. Me senti egoísta. Egoísta por agradecer pouco. Egoísta por não fazer o suficiente pelas pessoas e pelo mundo. Parei por alguns instantes, já atrasada para a aula, e pensei ‘’e agora, o que eu faço?’’. Senti um aperto gigantesco no peito, o coração desesperado, e algo naquele amanhecer me disse que eu posso e preciso fazer mais pelas pessoas, apenas dedicando meu tempo para ouvir aquelas que estão perto de mim e para orar para aquelas que estão longe, do outro lado do mundo talvez. As pessoas precisam umas das outras. Meu coração se acalmou, o céu já estava completamente claro e os minutos passavam mais rápido do que o normal. Decidi não perder mais tempo e me jogar de cabeça naquele dia que começava. Mesmo atrasada segui minha rotina de sempre, mas com um sentimento, com um objetivo e com uma tarefa a mais dentre as várias, que eu repasso na minha cabeça quando acordo, que preciso realizar diariamente: me dedicar às pessoas e servir ao mundo.
Por: Maria Victória Gonzalez
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Talvez...
Todas os dias, Tom vem me visitar. Ele paira sobre mim e fica observando tudo o que está acontecendo ao nosso redor. Tom é um bichano muito inteligente, enquanto ele olha o movimento, parece estar de vigia protegendo sua casa, sua família. Aqui do alto tudo parece mais calmo, a impressão é de controle. Quando a família se encontra em alerta contra os possíveis perigos da cidade, simplesmente fecham meus vidros e me cobrem com o tecido suave da cortina.
Daqui do alto eu consigo ver tudo. Vejo as pessoas, a paisagem, o céu, a grama e o asfalto. Cada detalhe da cidade, cada curva das calçadas, cada trecho iluminado pela luz suave das 16h da tarde. As pessoas é que não parecem me notar muito, é raro que olhem através de mim, geralmente estão de olho é na tela da pequena caixinha preta que têm nas mãos o tempo todo, estão sempre deslizando seus vidros com a ponta dos dedos. A caixinha parece mais segura do que eu. Olhar através do vidro da caixinha parece menos arriscado do que observar o que há através do meu vidro.
Eu e Tom sabemos que o receio que a família sente nem sempre é proporcional a tudo o que realmente acontece aqui fora. Mas nós também sabemos que apesar de toda a beleza e toda praticidade que a cidade possui, ela causa as mais variadas sensações devido toda a movimentação. As pessoas estão sempre alertas, preocupadas e atentas. Talvez não seja pra tanto, mas não custa remediar. Talvez as pessoas precisem de um respiro, ou quem sabe precisem encarar menos a caixinha preta, talvez precisem de uma palavra de apoio ou simplesmente apenas passar mais tempo comigo, observando, assim como Tom faz todas os dias.
Por: Giovana Costa
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O projeto "Através da Cidade" consiste no entendimento entre o individual e a cidade, através das janelas. Como as pessoas se relacionam com a cidade de São Paulo? O trabalho surgiu em março de 2017, na aula de Narrativas Jornalísticas voltada para Transmídia, na PUC-SP. Este é um projeto criado por: Adriana Vieira, Barbara Bastos, Gabriela Fogaça, Giovana Costa, Ingrid Duarte e Maria Victória Gonzalez. Siga-nos nas redes sociais! - Instagram: https://www.instagram.com/atravesdaci... - Spotify: playlist "Através da Cidade".
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A arte de ser feliz Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia tirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Por: Cecília Meireles
#projeto#transmidia#medianeras#convergencia#pucsp#janelas#sp#brazil#conto#Cecília Meireles#barbarabastos#atravesdacidade
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Onde anda João
18horas João não falha, ele sempre vem Me abre e fica observando Sempre imagina... O que as outras janelas guardam?
Sábado O dia todo João olha esperando sua filha Sempre imagina “Hoje ela chega”, mas não aparece
Domingo 21horas João não falha, ele sempre vem Todo feliz, dando tchau Para as netas
Passou semanas João não veio mais Mas ele não falha
Passou cinco anos João ainda não veio Mas ele não falha
Por onde anda João? Ele ainda é meu amigo? Só sei que ele não falha
Por: Ingrid Duarte
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Através da Cidade #2
O projeto "Através da Cidade" consiste no entendimento entre o individual e a cidade, através das janelas. Como as pessoas se relacionam com a cidade de São Paulo? O trabalho surgiu em março de 2017, na aula de Narrativas Jornalísticas voltada para Transmídia, na PUC-SP. Este é um projeto criado por: Adriana Vieira, Barbara Bastos, Gabriela Fogaça, Giovana Costa, Ingrid Duarte e Maria Victória Gonzalez. Siga-nos nas redes sociais!!
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Ele colocou a cadeira ao lado de sua cama e sentado nela abraçava o corpo do filho ainda quente, chorando descontroladamente e se perguntando o que havia feito de errado.
Foi a primeira vez que o vi chorar e a segunda que vi um corpo morto. A primeira vez tinha sido no enterro do avô da minha amiga, primeiro velório que fui, aos 22 anos. Mal sabia eu que dali a três semanas iria em outro. A diferença é que dessa vez o sangue do defunto corria em minhas veias.
O quarto do meu tio era escuro e tinha uma pequena janela que dava para as escadas da entrada principal do sobrado de quatro andares. Conhecia esse quarto muito bem, pois havia dormido nele quando criança. Nessa época, dormiam eu, meus irmãos e meus pais amontoados em colchões no chão. Lembro-me de acordar várias noites com a calça azul do pijama molhada de xixi. O banheiro ao lado do quarto que um dia pertencera a nós cinco tornou-se do meu tio.
Seu quarto era sujo e todos os seus pertences estavam empoeirados. O banheiro fedia e o vaso sanitário ainda continha fezes. Me aproximei do corpo e seu rosto estava em paz. Meu tio, que faleceu repentinamente de um infarto enquanto dormia – embora estivesse em um grave estado de saúde – não deixou muito para trás. Após dois casamentos infelizes e o abandono da única filha, caiu em depressão e não conseguiu abandonar o álcool, trilhando o caminho da sua morte.
Trilhando o caminho da sua morte.
Posso parar aqui em pensar em alguns questionamentos que surgiram quando meu pai, acudindo minha mãe, contou-me que meu tio havia falecido. Era um domingo ensolarado e estávamos em casa preparando o almoço porque iríamos receber a família do meu pai. O celular da minha mãe tocou e era o meu outro tio, dizendo que o irmão mais velho deles não suportara a noite.
O almoço foi cancelado. Fomos correndo para a casa dos meus avós, onde meu tio morava; os médicos estavam lá. Subi para ver minha avó e meu avô, que tiveram o desgosto de enterrar seu segundo filho. Um amigo de infância do meu tio morto estava lá, tentando consolar o meu avô que mal conseguia respirar. Minha avó, com os olhos inchados e vermelhos, não falava. Só perguntava por seu lencinho para assoar o nariz.
Naquele momento, fui à cozinha. Recebi a ligação de uma tia que ia ao almoço, querendo detalhes. O choro não me deixou responder, só pedia para ela conversar com meu pai. E então me veio, como veio para todos nós: a morte dele poderia ter sido prevenida? Que pergunta cruel de se fazer. Alguém poderia carregar a culpa? Lembro-me do meu tio – o segundo irmão – chorando no velório, dizendo que se tivesse chegado 15 minutos antes, talvez a vida pudesse ter sido poupada. Essa frase se baseava simplesmente no corpo ainda quente; não há resposta para essa afirmação.
Talvez os 15 minutos de antecedência não fariam diferença. Ainda assim, porque a família e os três irmãos que ele tinha – minha mãe, minha tia e meu tio – não o internaram? Porque o contato, embora estivéssemos juntos quase sempre, não foi maior?
O meu irmão que de Minas Gerais não veio para o enterro chorou no telefone. Porque os sobrinhos – incluindo eu – não se esforçaram mais para desenvolver o bom relacionamento que temos com todos os outros tios e as outras tias?
É assustador dar vida a esses pensamentos. Quando eles estão dentro de nós, parece que por alguns segundos, não são reais, são intocáveis; no entanto, a partir do momento em que permitimos que eles tomem forma, não podemos mais guardá-los. Estão lá, materializados para todo mundo ver.
Carrego memórias vívidas de meu tio Altimar. Lembro dele me ensinando o tipo de caligrafia mais bonita e das vezes que trouxera salgadinho ou pão doce para mim e meus irmãos. Lembro quando ele ainda andava direito e se comunicava sem problemas. Três dias antes de morrer, o vi. Não imaginava que seria a última vez. Ele mal conseguia falar por causa de sua saúde; era a primeira vez que o via tão mal.
Ele não queria ir à uma clínica de reabilitação. Deveríamos ter insistido? Ele falava que não bebia mais, mas sabíamos que não era verdade. Naquele domingo fatídico, amigos entravam e saíam, chorando desoladamente. Conheci sua filha, minha prima. Busquei-a no aeroporto e deixei que dormisse em minha cama. Ela e o pai não se viam há 18 anos.
A morte foi um choque.
Sem dinheiro para nada, pagamos sua passagem de Ipatinga para São Paulo. Se não teve a oportunidade de vê-lo vivo, que tivesse a oportunidade de olhá-lo uma última vez.
Ele foi filho, irmão, pai e amigo.
Ao meu avô que hoje está destruído por dentro: tenho a pretensão de afirmar que você não fez nada de errado. O seu filho já estava morto muito antes de morrer.
Sua vida foi triste. Eu não sabia da existência de metade de seus amigos, até sua morte. Em seu quarto, achei o álbum de fotos do seu segundo casamento e uma foto de sua filha na adolescência. Sob sua mesa, brinquedos meus e dos meus irmãos encontravam-se empoeirados. Era como se ele estivesse tentando se agarrar ao que sobrara através daqueles objetos e daquelas memórias; como se isso o confortasse nas noites frias.
Se é algum alívio, parece que a morte foi rápida e não muito dolorosa.
Agora, dobramos suas roupas, juntamos sua coleção de fitas – do amante do sertanejo e da música internacional, um desesperançoso romântico – e jogamos fora o que não presta mais. Limpamos o quarto e pintamos as paredes brancas com a cor amarela.
Por fim, abrimos a janela. Só assim a luz pode entrar.
Por: Gabriela Fogaça
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Através da Cidade #1
O projeto "Através da Cidade" consiste no entendimento entre o individual e a cidade, através das janelas. Como as pessoas se relacionam com a cidade de São Paulo? O trabalho surgiu em março de 2017, na aula de Narrativas Jornalísticas voltada para Transmídia, na PUC-SP. Este é um projeto criado por: Adriana Vieira, Barbara Bastos, Gabriela Fogaça, Giovana Costa, Ingrid Duarte e Maria Victória Gonzalez.
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