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fragmentos de um jovem coração. escrito por arthur oliveira.
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btrrdys · 7 months ago
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retas não paralelas (ou uma simplificação da teoria do caos) // 02/11/2024
imagine uma folha de papel.
agora, imagine um universo. um universo em que suas particularidades permitam que essa mesma folha fosse infinita. imagine também duas canetas. canetas também, com tinta infinita. neste universo, existirá também duas mãos, inertes. conscientes de que seu único destino é rabiscar sobre o nosso papel imaginário. as mãos, segurando uma caneta cada, começa a desenhar. ela traça exatamente, duas linhas retas paralelas entre si. o que significa, que num plano cartesiano, por exemplo, essas linhas jamais se encontrariam. elas não possuiriam nenhum ponto em comum. se manteriam invariáveis em relação ao tempo. imóveis. impessoais. impossíveis. nunca. elas nunca se encontrarão. nunca.
agora imagine um universo paralelo a este.
imagine as mesmas condições: uma folha infinita, canetas infinitas e mãos obedientes. mas agora, numa tentativa de experimentar um outro resultado, imagine que uma das linhas tenha seu coeficiente angular alterado em zero vírgula um grau. uma alteração, convenhamos, imperceptível a olho nu. uma alteração independente ao plano cartesiano, à contagem dos segundos, ao espaço-tempo. uma alteração inteiramente aleatória.
nesse plano, considerando as condições impostas ao nosso experimento, haveria algo diferente.
em algum momento indeterminado, não sei onde, como ou porque, mas em algum momento, as retas, um dia, se cruzariam. deixariam de ser paralelas e se tornariam, concorrentes. num mínimo instante, haveria um único ponto de intersecção. num curto período de gozo e magia, haveria uma confraternização de algarismos. uma falha nos códigos da simulação externa. um evento que não foi antevisto. um disparate frenético em uma escala galáctica. o mundo já não seria mais o mesmo. e a colisão das nossas linhas seria, pela primeira vez, o documento dos resultados caóticos.
assim, como a treze bilhões de anos, partículas luminosas e enérgicas que ferviam na escuridão do além, se colidiram num cataclismo cósmico, nomeado hoje como big bang.
assim, como o chicxulub, asteroide ancestral que a sessenta e seis milhões de anos, se chocou com a superfície de yucatán, no méxico, que dizimou a vida dos dinossauros.
assim como a chuva encontra o solo.
assim como o sol encontra nossas bochechas.
assim como eu, que encontrou você.
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btrrdys · 9 months ago
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bodas de porcelana // 26/08/2024
encaro este bloco de notas como se fosse o céu escuro de uma praia. apago as palavras que ficaram mais ou menos como se estivesse apagando os meus sentimentos. vícios meus que não desaparecem. coisas que fazem eu, eu.
eu, figura que passo a vida tentando descobrir quem é, o que faz, o que quer fazer. tenho a ligeira sensação de que morrerei a qualquer segundo. e quando acontecer, serei enterrado, com a cabeça cheia de questões. questões impossíveis de serem respondidas por um eu que se anula pois acha que está incomodando demais ao rir muito alto. por um eu que incomoda demais, propositalmente, por não aguentar mais conversar com estranhos. um eu que acorda cedo demais e que dorme tarde demais. um eu que nunca está satisfeito com o próprio corpo mas que nunca para de postá-lo nas redes sociais. um eu que nos ambientes profissionais, nunca está atento o suficiente mas que presta atenção nos mínimos detalhes, quando repara na paisagem na janela do carro. um eu, incapaz. mergulhado em ilusões cinematográficas. em mentiras que os nossos pais nos contam quando crianças.
o que eu queria mesmo, era um sambinha na pedra do sal. esquecer que a vida acontece e me esquecer na noite. lembrar que a vida é efêmera, que temos pouco tempo no mundo e qualquer obrigação é mero capricho do capitalismo. dançar descompassadamente o samba bravo e violento do rio de janeiro. morrer no cemitério dos desiludidos.
eu vejo tanta coisa acontecer. eu penso muito, eu romantizo demais, mais do que eu deveria. eu gosto de pensar que isso um dia me salve. me salvar de mim mesmo. me fazer constatar o óbvio: não se completa vinte anos todos os dias.
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btrrdys · 9 months ago
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125 DECIBÉIS // 29/06/2024
as pálpebras começam a tremer. meu coração erra alguns passos e eu me preocupo. o peso de uma bigorna se instala no meu peito. meus tímpanos já não aguentam mais.
sinto um mau presságio. é como se eu estivesse amaldiçoado por uma bruxa. marcado com sangue impuro. é como se todas as mentiras fossem verdades.
vislumbro um delírio de futuro que parece impossível demais para o meu bico. as banalidades cotidianas se tornam um tormento diante o inferno de chamas que se descortina sobre os meus olhos. que polui o ar que eu respiro. que faz arder a minha caixa toráxica. que faz meu cabelo cair no banho. que me faz chorar de madrugada.
meus sonhos são altruístas demais e eu imagino as coisas mais lindas do mundo. mas vocês me odeiam. odeiam a minha paz, o meu juízo de valores. odeiam o meu corpo, minha identidade, o fato de que não quero mais me prender as vozes. eu preciso escapar delas. eu tenho horror á tudo que elas representam. desprezo tudo que elas me ensinaram. quero me distanciar de tudo que elas me lembram. eu odeio as vozes. eu tinha medo, mas agora, sinto raiva delas. eu quero exterminá-las.
essa cidade é nauseante, andar por essas ruas me dá vontade de vomitar e voltar para casa é o meu karma existencial. mas eu vou me vingar. se há justiça, se há um deus por aí, não importa, eu hei de me vingar.
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btrrdys · 9 months ago
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quantidades // 25/06/2024
eu comecei a escrever esse texto só pra tentar quantificar o quanto eu te amo.
mas eu descobri que não tem como.
eu tentei, eu juro que tentei.
mas não existe figura de linguagem que descreva fielmente os devaneios que só você me proporciona.
não existe calculdora capaz de processar os dados dos sentimentos que perpassam minha cabeça ao lembrar de um beijo seu.
não existe, nunca ouvi falar de nenhum filme, foto, tintas, monografia, rabisco, performance, letra de música, vídeos curtos, poema, novela, nada, que expresse tão bem o quanto você me faz feliz com as suas piadas tão bobas. tão bobas como eu.
não existem números na matemática que quantifiquem o quanto eu te amo.
porque pra quantificar o quanto eu te amo, eu teria que fazer conta. eu teria que calcular as razões, as proporções, regra de três. teria que solucionar o delta de uma bhaskara, quem sabe, eu aprenderia a resolver um logaritmo, seja lá o que isso seja.
pra quantificar o quanto eu te amo, pra botar no papel, em número, gênero e grau, exigiria um time de especialistas graduados, renomados com carreiras brilhantes, dispostos a passar meses, embuídos em laboratórios, só pra entender as reações químicas, biológicas, fisiológicas, psicológicas, lógicas que explodem dentro de mim quando eu sinto o seu abraço.
se eu te amasse pra sempre, será que deus me daria o dom da imortalidade?
se eu passar aí na sua casa hoje, sua mãe faz aquele bolinho de cenoura que eu gosto?
se é pra descobrir o quanto eu te amo, que seja hoje e que seja agora, passa aqui mais tarde que eu te mostro a conclusão da minha pesquisa.
eu não vou te amar pra sempre. isso porque nem eu, nem você somos imortais.
então que seja bom. que seja bom enquanto estivermos aqui.
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btrrdys · 1 year ago
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lua cheia // 25/04/2024
já são três da manhã. faz dez graus e o sereno cai sob as minhas têmperas. o vento cala a minha boca.
andando sem rumo por essas ruas tão minhas. de touca e com uma blusa pesada, caminho solenemente, como se estivesse num parque, em busca de algo pra comer. minhas pernas ardem mas não tem muita importância. vou com as mãos no bolso, para que eu consiga me esquentar um pouquinho. subo ladeiras e passarelas. passo por lugares meio perigosos. essas vielas não são confiáveis. mas eu tenho um fone de ouvido, então, tudo vai ficar bem. e ele é o meu melhor amigo, eu o uso como se fosse um artigo religioso. dez, quinze, vinte minutos de caminhada. nós ainda nem começamos. é estranho lidar com a vida, porque sempre há algo pronto pra acontecer que atrapalha o nosso cotidiano. esta obra de sei lá o quê interminável bloqueia o acesso do ponto de ônibus e é mais difícil pegá-los porque agora eles só param lá na frente. é possível que eu já tenho perdido o que me deixa dentro do terminal. vou ter que descer na dutra mesmo. é foda, porque do terminal tenho que pegar mais um até o aeroporto. mazelas diárias do capitalismo. olha lá, o 711 passa e eu quase não pego. deu tudo certo. rodovias, pequenas luzes, há gente trabalhando. a madrugada é inóspita, me deixa inseguro. ao descer do ônibus, caminho mais dez minutos e estou no terminal. mas eu saio correndo, pois o 331 já está quase saindo. se eu tivesse pegado o 813 talvez não teria acontecido isso. ele está rodando, eu corro um pouco mais e logo desisto, descrente. mas deus é fiel, e o ônibus para e as portas se abrem. dou uma outra micro corrida e agradeço o motorista. infelizmente, não tive a sorte de achar um lugar pra sentar pois o último a entrar não é uma posição de privilégio.
rodovias, rodovias e mais rodovias. eu já estou cansado dessa merda. trinta minutos se passaram ou algo do tipo e novamente, desço da lata de sardinha. estou semi-atrasado, então é melhor correr. me troco rapidamente no banheiro do aeroporto. encho minha garrafa e guardo o meu celular nos armários. parto então, para o raio-x e não dá nada. só assim, consigo entrar no meu ambiente de trabalho. o pátio é gigantesco e há muita movimentação de tratores, viaturas, caminhões, e outros equipamentos. tem gente trabalhando, gente embarcando. muito barulho e muita coisa acontecendo. sigo o meu destino até o contâiner da 109. do raio-x até lá, são uns dez minutos também no passo lento.
e finalmente consigo me preocupar com algo maior que tudo isso. lá está ela.
pomposa, debochada. o satélite natural mais lindo que se tem por conta. a lua se destaca tanto por sua beleza que parece um adesivo colado no céu. ela escorre na fumaça da neblina e seu brilho perolado reflete o espírito de bom trabalhador que há em mim. minha fiel escudeira, vigilante dos perdidos e amante dos solitários. e mesmo com um destino fixo, o meu olho só tem uma dona. os barulhos da operação, antes ensurdecedores, agora se abafam. lembro que o vento existe e ele congela a minha face. mas a lua me derrete. eu sou um apaixonado. um bobo que não se contenta com superficialidade. e enquanto a vida acontece, a lua se torna meu passatempo favorito enquanto sua luz se mantém intacta até, pelo menos, ás seis da manhã.
chego na 109 e bato meu ponto. é hora de começar a trabalhar.
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btrrdys · 1 year ago
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fuck romance movies // 13/05/2024
ugh, this movie sucks.
why am i even here? when did i sign up for this?
the cheap melodramatic violin strings. the poor acting, the lack of creativity to build something at least watchable. the thought that we could be spending our time in any other activity. the things i do for this lady. i mean, i also made her watch the whole scream franchise, which was also a torture for her, but this is out of the discussion right now.
it is beautiful, of course, it's a love story. but why the necessity of every thing being so corny and clingy and cliche. i feel like i'm being too harsh onto it but also it's very hard to, like, not being. there is a part of my brain that is saying "oh, it's a mid junkie flick, just enjoy it and you're fine" but the other part is yelling "get out of this seat immediately!"
maybe i should enjoy it a litlle bit. at least, try it. maybe not being such a hard heartless bitch and try to understand why this is cool for everyone, because, man, this room is fully seated. and they're watching. every move, every silly joke, every plot twist. i guess that's all cinema is about, right? if it makes you feel good, and feel cozy about yourself…. i don't know, more the time goes by, more i'm accepting this messy character development (which is almost none).
and finally, the big kiss.
i can feel the sound wave that this big and important orchestra created for this stupid ass movie. it shakes the theater and everyone here is kinda falling in love for this boring heterossexual white paper teeth couple. even myself.
and strangely, a tear sheds out of my eye. not because i'm emotionally studded by this shitty script. or this shitty acting. or this shitty lines.
but because, everytime a scene pans out to the another one, i picturize her on my mind. and maybe, that could've been us.
and now i'm stuck. with this sin in form of a woman, and i, the sinner. proudly.
and with this stupid ass movie. god, i hate this movie.
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btrrdys · 1 year ago
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cerejeiras // 23/04/2024
desisto.
eu não aguento mais. eu não irei suportar um segundo sequer. longe do seu corpo. do seu cheiro. é impressionante como o desejo de saber como é cada curva sua me consome, me ferve por dentro. chega a ser cruel saber que você existe e que eu não estou fazendo nada. apenas fantasio sobre o peso do seu corpo sob o meu. é a única coisa que eu faço ultimamente. talvez eu devesse me ocupar mais. ler mais, treinar mais. mas não seria eu, se eu não adiasse coisas importantes da minha vida por motivos tolos. tolos como eu. há um bosque crescendo nas minhas entranhas. cerejeiras que se entrelaçam nas minhas véias e artérias. é primavera mesmo aos plenos dezesseis graus. tenho frio mas também nunca estive tão quente. talvez eu apague essa porcaria. acho que seria interessante que você seja um conceito só meu. e que vivesse apenas nas minhas memórias e não na tela do meu celular.
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btrrdys · 1 year ago
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paradoxos intermináveis que permeiam o espaço-tempo // 19/03/2024
já é quase abril. mas mesmo assim, o calor intenso não se desfaz. e eu, derreto nos meus lençóis.
derreto como as asas de ícaro, iludido pela própria vaidade.
derreto porque sou um desvairado, que tem pensamentos pecaminosos mesmo numa casa religiosa e de bons costumes.
derreto porque, nas noites de verão, me transmuto em um animal faminto que só pensa em estraçalhar pedaços de carne crua.
derreto como uma casquinha de sorvete no sol de roma. que se acaba na ponta da sua língua. que lambuza cada um de seus dedos.
a lua se coloca feroz na calada. silenciosa, como um gatuno. e o seu brilho carrega em si uma sórdida verdade. a revelação dos pecados. a malícia dos homens. a consumação dos rituais. e que meu espírito seja livre o quanto o meu corpo físico durar. que nossas vidas se entrelacem assim como foi escrito. e que se deus existe, que ele nos reúna novamente. e que eu desconte todo o meu ódio em você. e que eu deposite todo o meu amor em você. que nós viremos um só, os representantes morais da dualidade. do bem e do mal. do yin e do yang. que nosso toque seja tão sublime quanto um soco na costela. tão ardente como a guerra no inverno soviético.
e que nossas dicotomias sejam eternas como nossos destinos.
mas se nem o céu e o sol, potentes e magníficos como são, serão eternos, como nós, tão pequenos e humildes, podemos ser?
e na verdade, eu prometo tanto mas pra esse questionamento eu não tenho resposta. esse é o mistério da esfinge. a pergunta de um milhão de dólares. a pergunta que só você, olhando no meu olho, vai me responder.
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btrrdys · 1 year ago
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tsurus // 01/03/2024
dizem que sonhos movem o mundo. e se movem mesmo, porque continuo aqui?
busco e busco pela paisagem perfeita enquanto perco de vista, o oceano azul e vivo que descorre na frente dos meus olhos.
sou na verdade, um passáro de papel. que quando voa, chora por suas dobras serem pesadas demais.
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btrrdys · 1 year ago
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amianto // 08/03/2024
[aviso: pode conter assuntos delicados referentes à depressão, saúde mental e pensamentos suicidas. procure ajuda, você não está sozinho(a)(e).]
avenida paulista, 20:37
as luzes da cidade cegam isabela. as luzes dos carros. dos postes. das câmeras. dos celulares. dos helicópteros. é lua nova e não há uma estrela sequer. a brisa gélida da noite congela o pouco de suas lágrimas. isa sempre fora doce, uma amiga para todo ombro. a mais feliz e tagarela de onde quer que estivesse. parceira, sempre o centro das atenções. bom, hoje mais do que nunca. mas pelos motivos errados. há gente olhando, muita gente olhando. policiais, bombeiros, jornalistas, estudantes, completos desconhecidos. todos olham para cima. todos olham para isabela. ansiando pelo próximo passo. tentando fazer com que ela saia dali. tentando fazer com que ela desista. mas isabela era teimosa e não desistia de nada. ao menos, de quase nada.
isabela põe um pé para frente do prédio. ela bambeia, quase como se quisesse que o vento a derrubasse na avenida. há em sua frente, uma decisão. o último sim. o último pensamento. o último fio de vida. sua cabeça, cheia de d��vidas e remédios, processa a última imagem. incerta, ela titubeia. e recua. dá dois passos para trás e toma conta da loucura que estava prestes a fazer. suas pernas enfraquecem. o peito dói e tudo gira. ela cambaleia para frente, confusa. suas mãos se seguram e forçam o concreto da mureta. sua visão desfoca. tudo perde o sentido. sua mãe não está aqui. e a realização da consciência a toma, como um caminhão que passa por cima de um cachorro. o choro vem mais alto, carregado por um desespero estridente. e em menos de dez segundos, isabela perde o controle de tudo. ela corre em direção ao céu, sobe na mureta, arregala os olhos, estufa o peito e abre os braços.
isabela observa a cena de longe. uma mulher põe as mãos nos seus ombros. ela vira e olha no fundo dos seus olhos. outra lágrima desce. a boca seca. uma voz irrompe o silêncio.
- o quê é que você está fazendo, minha filha?
isa demora a responder.
- não teve jeito... não tinha mais jeito...
a mulher, cabisbaixa, pensa. ela não diz mais nada. o frio as corta como lâminas e seus cabelos se esvoaçam no terraço. ela murmura.
- eu não tenho condições de fazer nenhuma escolha agora. mas, filha, você tem certeza disso?
o olho de isabela incha. as tempestades dentro de sua mente emergem num lamento seco.
- não. - e põe se a chorar.
- isabela! e como você faz uma coisa dessa? abandonar tudo?! o que é isso, minha filha?
a menina se vira e e aponta um dedo na cara da mulher.
- olha aqui, você não veio aqui pra me dar sermão, né? - suas emoções transbordam, explodem, transpassam pelo rosto vermelho da jovem.
- claro que não, minha filha, mas... - ela perde as palavras - mas... você precisa lutar, entende? você não pode largar tudo assim sem mais nem menos!
- lutar? você tem noção do quanto eu lutei? eu tô cansada, mãe! eu tô exausta, eu só quero acabar com isso!
- isa! você não pode desistir de tudo assim, por conta de uma... fatalidade!
- você não tem nenhuma noção do que tá falando!
- tenho sim! não fala assim que eu sei que tenho! mais do que você, inclusive!
- você tem noção do que eu passei? do que eu enfrentei, sem você?!
- minha filha, entende uma coisa. a vida é assim! as coisas acontecem... por puro acaso! - ela diz, escolhendo as palavras - só depende da gente, como que... a gente vai lidar com as situações...
isa dá uma risada sarcástica e cerra os dentes.
- então é isso. a culpa é minha?
- não! não, não, filha, de jei... maneira nenhuma! a culpa é... da vida! - a mãe dá um passo para trás e respira - eu não tô dizendo que é fácil. pelo contrário, demanda muita força. resiliência, coragem, resistência. até imprudência, se você for ver. mas a gente tem que lutar, entende? quem que vai vencer? você? ou esses sentimentos de merda que inibiram a menina tão doce, tão alegre, tão sorridente que você sempre foi?
a voz da mãe embarga e ela também se embota à chorar.
- eu não tenho porquê mais... - a filha se envergonha num choro ainda mais sofrido - eu só tô cansada. cansada de trabalhar, cansada de... viver...
a mãe não se contém ao ver sua própria filha se matar, pouco a pouco, lágrima a lágrima. ela novamente corta o ar com palavras secas demais.
- isabela. você tem um namorado que te ama mais do que tudo. - isa se afunda mais em seu próprio colo - uma família incrível, amigos que estão ali pra você o tempo todo e que com certeza vão te fazer uma rede de apoio muito forte. mas você, filha, - ela segura as maçãs do rosto da menina - tem que lutar. todos os dias. e agora mais do que nunca. - isa arregala os olhos novamente. ela limpa como pode as suas lágrimas - quem que vai vencer, isabela? quem vai vencer?
isabela volta a realidade. um filme de sua curta vida rebobina em segundos. ela lembra de tudo. de sua infância. da escola. do primeiro emprego. do dia que perdeu sua mãe. do tempo que a vida ficou cinza.
isabela se bambeia para frente. são paulo se põe na frente da tevê para acompanhar o caso da menina que quer se matar no meio da paulista. isa engole seco. já não tem mais volta. ela olha para baixo. a decisão está tomada.
isabela salta da mureta como se fora um saco de arroz. os transeuntes, os representantes das emissoras, os socorristas urram mas é em vão. foi tudo muito rápido e a queda não durou nem quinze segundos. mas para isabela, foi diferente. era como se tivesse passado uma hora inteira. seu corpo corta a resistência do ar, a gravidade e qualquer norma física que se tem conhecimento. sua figura risca o céu de sp, num momento histórico, que não será esquecido facilmente.
isabela pousa, destrambelhada, num inflável gigantesco montado pela equipe de resgate. o colchão gigantesco de ar, a engole e ela emerge, chorando copiosamente, como uma criança. o corpo de bombeiros tentam conter os danos, mas a menina não possui um arranhão sequer. rafa, em absoluto desespero, quebra todas as correntes montadas pelas autoridades e corre em direção de sua amada.
- amor! o que é isso?! - ele cobre isabela com o abraço mais reconfortante do mundo. isabela só consegue gritar um pedido de desculpas. rafa só consegue que está tudo bem. agora está tudo bem.
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btrrdys · 1 year ago
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sobrevivendo no inferno // 22/02/2024
ei.
psiu.
acorda.
são quatro da manhã. e você está na ruas de gru city. onde o mundo passa por aqui. e onde só eu fico.
é certo que nenhum guarulhense que se preze usa esse termo, de fato. mas ele parece correto num contexto de uma cidade que se preocupa mais com um bando de desconhecidos do que com seus próprios habitantes.
saio de casa, cara amarrada. dezenove e contando, e essa marra não diz nada.
garoa na cara, promessas de amor. subo a passarela, cheio de rancor. linha 813, podia ser pior. tudo indo bem, mas podia ser melhor. sonhador. guerreiro de fé como jorge. tipo um samurai, que do fio da espada, não foge. quem pode, pode. quem não pode, se sacode. é cada historinha, mano, vê se não fode.
é de chorar, todo mundo preso nas correntes. parece o fim, o tormento de almas quentes. sangue fervente. na mente do infeliz. lugar propício do mal mas escapo por um triz. e não me trisca, não me encosta, não me rela. as coisas ficam feias na favela. e eu rasgo a terra crua, descendo essas vielas. saco tudo, me entrego, só não me jogue na cela.
e esse jogo segue andando, tipo um livro de história. eles não tão nem aí, não querem ouvir a minha oratória. dias de luta, dias de glória. é só assim que chega a nossa hora, a hora da vitória. segue o baile, nada passa. ralando enquanto esses bacanas acham graça. tô cansado de ordem de patrão, qualquer eu dia eu apareço na televisão. mas que seja atuando num papel legal, e não numa matéria de um jornal policial. morto. caído. vítima dessa política fatal.
enrolado nessa teia. uma verdade e meia. sangue preto escorrendo da minha veia. logo eu, romântico e jovial, tem quem queira. hoje eu quero pé na areia, sem economizar. mas tô aqui, revoltado com o sistema. de cara feia, pronto pra atacar. e com uma certeza constante de que deus me odeia.
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btrrdys · 1 year ago
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essências // 27/01/2024
porra, tudo é tão bom.
apago e apago essas letrinhas porque não sei o que dizer. isso porque a sua imagem é tão, mas tão linda, que eu fico tonto. eu fico mareado, minhas pernas bambeiam e eu não sei o que fazer. perco o rumo, largo tudo, viro réu
para poder viver uma vida inteira nos seus braços. no seu abraço que é tão gostoso. que me prendam, que me cancelem, que me joguem aos cães.
posso morrer sete vezes, mas na oitava eu volto maior. e com mais vontade te ficar contigo e de te assumir pra quem quiser ouvir. é crime amar? é crime pensar no teu corpo em mim desde o primeiro lampejo de manhã até o último grilo da madrugada?
e quantas madrugadas. noites de lua cheia, que eu sozinho, fantasiei como um louco, lembrando da sua boca, dos seu lábios, de você inteiro na palma da minha mão.
entro em delírios e eu só quero uma desculpa para poder te ver de novo. e de te beijar de novo. e de embaraçar seus cabelos nos meus. de ter você inteiro. a luz do meu quarto fica turva, não vejo mais nada.
o ar cheira a baunilha.
minha mente te pinta nu, com morangos e amoras nesta mesma cama. tudo isso é romântico demais pra nós dois, mas eu quero que essas inibições de merda se fodam. escrevo agora com raiva, porque não tenho você aqui, agora. tudo é tão urgente. e alucino com a sua língua sabor canela, tão ardida, tão vermelha.
é engraçado, pois eu nunca me imaginaria numa posição como esta. escrever estes absurdos que jurei nunca escrever. mas infelizmente, senti coisas que jurei nunca sentir. e esta paixão exala a pimenta. cravos. sinto gosto de mel na boca. e o universo explode dentro da minha barriga, meus olhos se reviram. sinto um arrepio na pele. é quase possível sentir, fisicamente, sua mão na minha nuca. sua voz tão rouca no meu ouvido. sua barba tão áspera no meu pescoço. tudo é tão bom, tão tão bom que parece mentira.
apago e apago estas letrinhas mas no fundo, sei exatamente o que quero dizer. te amo. e espero que você me ame assim também.
saudades.
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btrrdys · 1 year ago
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cinco segundos de liberdade // 17/01/2024
a liberdade é a fita de um filme nunca dantes visto.
está muito quente.
o calor deste deserto arde como se estivesse queimando no inferno. há dunas e dunas de um mistério tão cálido como o sol. dunas de uma areia tão pesada quanto meus devaneios. não há cactos. oásis. palmeiras. pirâmides. uma mísera gota de água. não há nada. apenas o céu, areia e esta via. e eu.
o asfalto borbulha como se fosse uma fatia de queijo. tudo está derretendo. o céu desaba lentamente, e o surrealismo mais contundente se põe na frente dos meus olhos.
vamos em alta velocidade. em direção constante, aos mais dourados raios de luz. como uma mariposa em volta de uma lâmpada. estou louco. perco a sanidade, pouco a pouco, neste volante. o vento me corta a quase 180 km/h e este calhambeque vermelho fora de época parece o estampido de um revólver de tão rápido. me abre um sorriso grande. vozes estranhas querem que eu aperte o freio e volte para casa. para a mesma cidade de sempre. para o mesmo bairro, o mesmo mercadinho. a mesma gente. só que eu nunca fui de viver de mesmices. eu, que sempre quis mais. do tipo, que sempre tenta escolher um restaurante diferente do habitual. do que cansa demais dos amigos. do que quer viver em todos os lugares do mundo. que quer beijar todos os homens do mundo. que quer provar todos as caipirinhas do mundo.
eu não podia voltar. eu não posso me trair desta forma.
as gargalhadas involuntárias tomam conta de mim. uma lágrima me percorre a bochecha. é o fim da tormenta. o fim de tudo que é ruim. e eu mereço um fim grandioso. de repente, violinistas surgem da terra e tocam a mais bela de suas partituras. a mais estridente. a mais poderosa. suas notas anunciam o maior dos espetáculos. os violinistas não se bastam e da areia emerge uma orquestra inteira. é retumbante. é clássico. é o drama mais perfeito de shakespeare. a reviravolta mais novelesca desde avenida brasil. os instrumentos tocam sozinhos e formam uma melodia épica. nem os gregos poderiam escrever esta odisseia. não tiro o pé deste acelerador por nada, a não ser que uma parede de concreto bloqueie esta estrada. vejo flashbacks de uma vida inteira. me vejo no colo da minha mãe. me vejo sofrendo na escola, por ser o mais afeminado dos meninos. me vejo sendo o mais tonto das festas. limpo minhas lágrimas e acelero mais que nunca. só tenho um destino. apenas um. que se abre na minha frente.
um penhasco se desenha ali mesmo. só há ele e eu. o encaro como se meus olhos fossem de vidro. a música fica mais intensa. o coral é ensurdecedor. um crente acreditaria que se tratava das trombetas do apocalipse. mas era eu. apenas eu.
e antes que eu consiga pensar algo, o solo acaba sob meus pés.
o calhambeque agora voa, como uma águia, nem que seja por cinco segundos. cinco segundos de liberdade. é maravilhoso. a brisa do vento exala a laranjas frescas. e eu nunca estivera tão bonito.
e por um momento, pensei que este carro planaria. e que viajaria toda a cordilheira dos andes com ele.
mas a gravidade é o golpe de realidade mais seco que eu poderia receber.
despenco. em queda livre, como uma bigorna.
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btrrdys · 2 years ago
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o céu que mora em mim // 11/10/2023
a rua segue molhada. o céu, tão cinza, me traz uma paz pontual. o ponteiro dos relógios marcam, são seis horas da tarde.
ando e ando por essas ruas, como se fossem minhas. procurando um pão, um suco, um doce ou um devaneio qualquer. é por isso que eu amo os domingos. a paz de não ter nada a fazer, a tensão de saber que amanhã o calendário continua, fervoroso como sempre.
carolinas e vanderléias. é uma infinidade de guloseimas. a padaria do bairro ficou muito chique depois desta tal reforma. pago com sofrimento e pesar no coração, pois cada centavo equivale a um pedaço de história que se vai no débito. eu penso demais. penso absurdos. penso demasiadamente. ás vezes queria um pouco de silêncio e vazio no meu cérebro, ele é muito barulhento. sempre maquinando uma bobeira sem sentido. é como se estivesse ficando insano. pouco a pouco, segundo a segundo.
mas tudo fica bem, quando a chuva cai. e ela cai!
é o seu destino, está escrito. assim como deus desenhou. como provou, o ciclo da água. pedaços de céu que desabam, repentinamente, sob os meus cabelos. eu quero me banhar dessa vida toda que recai na minha testa. quero sentir tudo que tenho pra sentir. e eu sinto tudo tão intensamente, tão na minha frente. uma lágrima cai nas minhas bochechas. um piano toca na minha cabeça.
de forma definitiva, eu descubro a minha casa. o lugar que eu sempre fui, que eu mais amei ser. brincando nas constelações e conspirações que eu invento mas que não sei desinventar.
de forma definitiva, há um céu que mora em mim, e a tempestade só começou.
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btrrdys · 2 years ago
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mas a vida não vem com tutoriais // 12/09/2023
eu não sei ser eu.
eu nunca soube. sempre fui esse balaio de mais ou menos. mais ou menos inteligente. mais ou menos bonito. um poço de sentimentos bipolares. essa confusão em forma física e psicológica, que não consegue administrar o básico de relações humanas, pois não consegue formular frases sem parecer um motor engastalhado ou simplesmente, um completo imbecil.
um verbete vivo do adjetivo "desengonçado". alguém que você olha e pensa que talvez precise de ajuda. que não desenvolve bem suas linhas de raciocínio mas que mesmo assim tem algo a falar, uma opinião que ninguém perguntou.
é lindo pensar que ainda tenho uma vida inteira pela frente e que terei muito tempo para errar mais mil vezes, mas ao olhar no espelho e perceber que se passaram dezenove anos que eu sustento o personagem mais besta de hollywood, dá um certo orgulho. carregando nas costas, o peso de uma pessoa minimamente interessante. e pelo que me contam por aí, os outros tantos anos de vida que vem aí, não serão tão diferentes.
bem, que pena.
eu tento ser o mais descolado possível mas só pelo fato de utilizar "descolado" como uma palavra séria, faz um contra-ponto gigantesco contra mim mesmo. e minha argumentação nunca é boa o suficiente.
as flechas que lanço no horizonte são bumerangues disfarçados por mim. e as balas que disparo são feitas de açúcar. as metáforas que elaboro são preguiçosas e burras e eu sou feito de dúvidas. perguntas que me comem vivo, que me vomitam por pura ânsia. desesperos descabidos. angústias ancestrais. ansiedade. depressão. tdah. coisas banais do século vinte e um.
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btrrdys · 2 years ago
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cinco da tarde // 16/08/2023
acho que acordei cedo demais. nenhum humano bom merece este tormento.
é desumano como nosso sistema econômico nos maltrata, dia após dia, nos mantendo reféns de uma cultura consumista que prioriza, só e somente, o lucro de grandes corporações, sucateando a minha sanidade mental e física. e o dinheiro e a propaganda vai ditando as nossas relações sociais como um sargento manda em seus soldados.
mas eu sei que no final do dia, eu vou pegar o primeiro ônibus que passar (e pensar que hoje tive sorte, pois ele veio mais rápido que o comum). meu celular informa, são cinco e pouco e está na hora do sol ir embora. mas o sol é leonino e ele não parte sem deixar um aviso.
é o laranja mais lindo que já presenciei. e ele colore meu rosto tão graciosamente que sonho com um mundo justo, aonde não exista hierarquias e pirâmides sociais.
eu me despreocupo tão rápido ao ser atingido pelo astro-rei. emicida tinha razão quando disse que o amor é amarelo. e eu vou chegar em casa, tomar o melhor banho que tenho direito, pois pago minhas contas e sou um cidadão brasileiro, honrado e orguhoso.
na verdade, eu reclamo demais. pois há gente que não tem esse privilégio. me cabe então, falar por todos que não tem voz.
a revolução será tão quente como o sol. tão justo quanto deve ser.
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btrrdys · 2 years ago
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caçapava, dezembro de 2018 // 10/08/2023
a luz amarelada do sol bate na minha cara e eu percebo que estou mais amassado que nunca. estamos amontoados no chão e eu percebi que você usou a falta de espaço como argumento, apenas para dormir do meu lado.
fomos dormir tarde, coisa que não estou acostumado. essa olheira não é algo que eu deveria me orgulhar. somos poucos mas somos muitos. há uma folia pendente no ar e uma brisa forte sopra toda e qualquer insegurança. eu amo estar aqui. eu pertenço a vocês.
tirando nossos colchões do azulejo frio e guardando nossas roupas de cama, eu tento te desenhar mas sai um fiasco. você é melhor nisso do que eu. seus cachos me desmontam e seu sorriso é covarde demais pro meu gosto. nossos amigos confirmam, mas só a gente insiste em negar. e como eu me arrependo de ter negado.
andando por essas ruas, a altitude é tão baixa. eu venho da cidade, tenho um espírito urbano. mas a roça me acalma de uma maneira inexplicável.
somos quatro mas no carro só cabe três. e eu vou ter que ir no seu colo. é tão errado a maneira que você se empolga mas me parece tão certo. na viagem de volta, eu vou me jogar nesta rodovia, pode ter certeza.
a pracinha é tão acolhedora. há senhores e senhoras jogando papo fora e a vida parece tão fácil. eu não quero voltar deste transe. somos incríveis e a nossa amizade é eterna. adornados pelas pérolas e pedras mais baratas do camelô, nossos corações queimam e rasgam qualquer brecha de um tempo ruim. cada memória construída é um deleite. como é bom ser feliz.
e o manto da lua nos consome pra sempre. formamos uma matilha que nunca dormiu. entre risadas e jogos de tabuleiros, eu vejo a sua mão na minha. e o mundo para, meu coração erra um passo. e eu finjo que estou dormindo.
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