Text
Um Brasil neogótico
Um manifesto pelo patrimônio

“De tudo o que a catedral possuía, o que mais o tornava feliz eram os sinos. Acariciava-os, amava-os, falava-lhes e compreendia-os. Tinha ternura por todos eles, embora tivessem tirado sua audição.”
Infelizmente ontem, 15 de abril de 2019, a catedral de Notre Dame sofreu um incêndio que destruiu boa parte de sua edificação, por “sorte” se é que podemos falar assim, a estrutura está intacta e as duas torres principais também. O descaso com o patrimônio não é uma exclusividade de países sub-desenvolvidos como a gente facilmente julga, infelizmente esse parece ser o perfil da sociedade moderna como um todo.
O Archdaily Brasil já escrevia a respeito em 2017 sobre as condições precárias da catedral: https://www.archdaily.com.br/br/881493/iconica-e-reverenciada-a-catedral-de-notre-dame-de-paris-tem-futuro-incerto
A catedral parisiense, construída entre os anos de 1163 e 1345, é a principal referência da arquitetura gótica e ganhou notoriedade na literatura de Victor Hugo, que através de “O corcunda de Notre Dame” fez praticamente um manifesto para a manutenção da igreja e que a mesma não fosse demolida como pensava-se na época.
O Archdaily Brasil também fez esse artigo incrível sobre a importância do romance de Victor Hugo para a valorização da arquitetura gótica: https://www.archdaily.com.br/br/879093/como-um-romance-salvou-a-notre-dame-e-mudou-a-percepcao-da-arquitetura-gotica
Refletindo sobre a importância da catedral não só na Europa, eu resolvi fazer essa lista com indicações das principais referências de arquitetura gótica no Brasil. Só pra lembrar que por se tratar de obras que foram feitas muito tempo depois da época em que o estilo gótico foi difundido na Europa, então podemos chamá-las de “neogóticas” ou “ecléticas”, estilo mais difundido no Brasil, que conta não apenas com as características do estilo gótico, como muitos outros.
1- Catedral da Sé (São Paulo-SP)

Provavelmente a catedral com referência gótica mais conhecida do Brasil. Construída no Marco Zero da capital paulista, no Centro da cidade, a catedral com estilo eclético começou a ser erguida em 1913 e demorou 40 anos para ser concluída. O projeto é do alemão Maximilian Emil Hehl. É o quarto maior templo neogótico do mundo e desde 2016 é tombada pelo CONDEPHAAT.
2- Catedral de Santos (Santos-SP)

A mais antiga da cidade, a catedral começou a ser construída em 1909 e foi concluída 100% em 1967, apesar de estar aberta para a sociedade desde 1924. O projeto também é de Maximilian Emil Hehl. Desde 2014 é tombada pelo CONDEPASA.
3- Catedral Nossa Senhora da Boa Viagem (Belo Horizonte-MG)

Localizado numa região que desde o século XVIII é destinada para construções religiosas, a catedral foi construída entre os anos de 1913 e 1932. O projeto é do mineiro Luís Signorelli. Desde 1977 é tombada pelo IEPHA.
4- Catedral Metropolitana de Fortaleza (Fortaleza-CE)

Localizada na Praça da Sé, Centro Histórico de Fortaleza, a catedral começou a ser construída em 1938 e finalizada em 1978. O projeto é do francês George Maunier. Infelizmente não achei dado algum sobre ela tombamento nos órgãos oficiais.
5- Catedral Metropolitana de Vitória (Vitória-ES)

Localizada na Cidade Alta de Vitória, a catedral começou a ser construída em 1920 e só for concluída nos anos 70. O projeto é do paisagista e desenhista capixaba Paulo Motta. Desde 1984 é tombada pelo Conselho Estadual de Cultura.
6- Catedral de São Pedro de Alcântara (Petrópolis-RJ)

Localizada em frente ao Palácio Imperial, a catedral teve sua primeira formulação no Plano de Urbanização de Petrópolis de 1843, mas efetivamente começou a ser construída apenas em 1884 e concluída em 1925. O projeto é do baiano Francisco Caminhoá. Dom Pedro II está sepultado na catedral e desde 1964 é tombada pelo IPHAN.
Essas são as principais catedrais brasileiras com referência no estilo gótico e conhecê-las nos faz absorver um pouco mais da nossa história e de como moldamos os estilos a nossa maneira.
Em 2018 sofremos uma perda inestimável com o Museu Nacional e o investimento em cultura cada vez mais escasso, ameaça todo esse patrimônio que possuímos em nosso território.

Eu criei esse manifesto em apelo às nossas autoridades que parecem ignorar o patrimônio cultural e também para que possamos cada vez mais frequentar esses espaços que são como pequenos fragmentos de nossa história.
#brasil#paris#gotico#neogotico#gotic#neogotic#notre dame#patrimonio#weritage#museunacional#sp#rj#mg#es#ce
4 notes
·
View notes
Text
O Rio de Janeiro continua – sem saneamento básico – lindo
Um manifesto de uma urbanista em apoio aos cariocas

Não precisa ser PhD em saneamento básico para compreender através da topografia do Rio de Janeiro que a cidade necessita de uma drenagem urbana que comporte o volume de água contribuinte.
Uma das grandes ineficiências do nosso sistema de políticas públicas é a corrupção e a análise do que seria ou não uma prioridade e, isso se acentua principalmente em grandes metrópoles brasileiras, como o caso de São Paulo e Rio de Janeiro, por mais incrível que isso pareça já que ambas as cidades têm os maiores PIBs do Brasil.
No ano de 2019 parece que a conta dessa ineficiência chegou e me parece um pouco desonesto culpar a natureza por isso. O Rio de Janeiro sofreu com diversas enchentes que resultaram até em vítimas fatais, somando 6 mortes em fevereiro e 3 mortes ontem (09/04/2019), fora as mais de 200 árvores caídas, os intermináveis desmoronamentos da ciclovia Tim Maia (a culpa é da onda?), pessoas que perderam seus veículos, imóveis, favelas desbarrancadas e com risco de desabamentos constantes. Inclusive a receita da cidade sofre grandes prejuízos por ter que paralisar os seus principais serviços em função desse caos.
Segundo informação do Trata Brasil (2018), a cidade do Rio de Janeiro enfrenta grandes problemas ambientais, principalmente com relação ao saneamento básico. O índice de abastecimento de água tratada cumpre a demanda, somando 99,16% ao longo do território, já o índice de coleta de esgoto não abrange nem a metade, somando apenas 43,23%. A drenagem se mostra ainda mais ineficiente, já que a parte urbana da cidade encontra-se em cota mais baixa que as encostas que são povoadas por grandes trechos de favelas e tem grande contribuição de bacia para desaguar no mar.
Tratando de questões mais burocráticas, como o repasse de verbas para solucionar essa ineficiência no saneamento básico, segundo dados do Rio Transparente (2019), os R$ 8.297.106,09 repassados para empreiteiras contratadas para o serviço de drenagem quitaram apenas faturas de serviços prestados em 2018, não autorizando novas despesas entre janeiro e abril de 2019. Ou seja, R$ 0,00 de investimento em drenagem urbana em 2019.
Segundo o programa de Controle de Enchentes da prefeitura, no ano de 2019 foram investidos R$ 208.000,00 para apenas desobstruir bueiros. E a falta de investimentos não para nas questões de saneamento básico, já que os recursos referentes a obras de contenção de encostas também são de R$ 0,00 em 2019.
Direitos constitucionais estão sendo negligenciados no Rio de Janeiro e como técnicos da área devemos cobrar posicionamento não apenas de nossos representantes políticos, mas também de órgãos competentes à questão de Engenharia e Arquitetura (alô alô CREA e CAU, aquele abraço!) que se mostram cada vez mais ineficientes na fiscalização de nossas cidades.
Nossos direitos estão indo por água abaixo, assim como nossas cidades.
#urbanismo#engenharia#drenagem#riodejaneiro#rj#urban#arq#arquitetura#architecture#engineering#saneamento
0 notes
Text
Cidades incoerentes
O caso de Dubai
Dubai apresenta ao mundo a imagem de uma cidade moderna, onde o absurdo e o inimaginável se concretizam. (LUIZ GUSTAVO SOBRAL FERNANDES)

Em 1971 Dubai, juntamente com Abu Dhabi, a capital, e outros cinco emirados formaram os Emirados Árabes Unidos após a retirada do protetorado britânico do Golfo Pérsico.
Dubai é uma cidade propaganda, frequentemente entitulada de Cidade Jardim do deserto, patrocinada pelo império do petróleo, onde o principal polo turístico encontra-se na região dos grandes edifícios conhecidos mundialmente por sua arquitetura contemporânea e com recursos avançados com respeito a refrigeração e captação de recursos hídricos.
A extravagância de Dubai não se limita apenas nos recursos utilizados em suas construções, ela também coleciona títulos como “o prédio mais alto do mundo”, Burj Khalifa, “o hotel mais luxuoso do mundo”, Burj Al Arab, o arquipélago em formato de mapa mundi, as ilhas Palm, e os altos prédios espelhados que formam um dos skylines mais famosos do mundo.
Em contrapartida e distante da Dubai contemporânea e “garota propaganda”, encontra-se a região de Dubai Creek, onde localiza-se a área portuária que é composta por pequenas edificações e ruelas, maquiadas por calçadas padronizadas e algumas construções a margem do rio.
A grande incoerência de Dubai não é uma novidade em questões urbanísticas retratadas em outras grandes metrópoles do mundo, já que essa região que funciona como uma periferia da cidade é segregada do restante, porém retrata fielmente a arquitetura de uma cidade do Oriente Médio.
Recorrente em outras cidades, a “periferia” de Dubai tem edifícios justapostos e sem recuos, infra-estrutura precária, falta de planejamento espacial, aglomerações de conjuntos habitacionais e ruas sem manutenção com relação a limpeza e sem qualquer planejamento urbano. Uma das grandes problemáticas dessas regiões é a xenofobia entranhada numa estrutura de sociedade onde a periferia é a morada de muitos imigrantes que preenchem as vagas de sub-empregos, sendo em sua maioria indianos, filipinos e outras nacionalidades asiáticas que possuem economia de terceiro mundo.

“A Dubai que você nunca imaginou” (foto tirada por Farhad Berahman)
Somado a região segregada de Dubai Creek, mais um problema urbanístico que a cidade sofre é por sua localização em região desértica que aumenta significativamente a temperatura, impedindo a permanência das pessoas em áreas ao ar livre, optando por áreas refrigeradas mecanicamente, o que prejudica a ideia de uma cidade onde a população se aproprie dos espaços públicos ou da rua.
Dubai tornou-se um destino de luxo no Oriente Médio, uma referência arquitetônica, mas que passa muito longe de índices positivos de urbanismo. O planejamento da cidade não se preocupa com a relação das pessoas com a cidade, tendo um modelo que segue a problemática de cidades como Los Angeles que dão prioridade para automóveis, invés de dar prioridade ao pedestre. Parte dessa problemática influencia diretamente nas relações sociais entre os indivíduos que habitam o local, pois a apropriação da rua não apenas melhora aspectos de segurança, como também a qualidade de vida.



“A expansão urbanística de Dubai nos últimos 20 anos” (por Urban-hub)
#dubai#emiradosarabes#urbanismo#urban#arquitetura#architecture#arquitectura#middle east#orientemedio#urbanhub#farhadberahman
0 notes
Text
Arq*cine
Uma beleza fantástica
Criar um jardim começa com um interesse e logo se torna obsessão de uma vida. Pode-se acabar conquistado sem aviso prévio, simplesmente por pisar nele. (UMA BELEZA FANTÁSTICA, 2016)

Há algum tempo eu tento conciliar de alguma forma a minha profissão com uma de minhas paixões: o cinema. Afinal de contas, quem não gosta de cinema?
Depois que cursei Arquitetura e Urbanismo minhas percepções do meu entorno modificaram e qualquer coisa que eu faça eu tento relacionar de alguma forma com o que estudei durante esses - exaustivos - cinco anos e cinema é um deles, inclusive já vi diversos artigos relacionados que focam principalmente na obra de Tim Burton com o estilo gótico e o Expressionismo alemão, a perspectiva simétrica da obra de Kubric e Wes Anderson e os diversos conceitos na criação de mundos da ficção científica. Não que esse assunto não seja interessante, mas deixa para uma próxima…
Olhando todas essas referências, eu percebi que o paisagismo nem sempre é abordado em artigos que relacionam a sétima arte com a arquitetura, mas ele é sempre presente em grandes clássicos e despretensiosamente eu cheguei até um filme que conforme citado por Nina Galdina em seu blog Nasty Galdina, é uma versão inglesa de Amélie Poulain: Uma beleza fantástica (This beautiful fantastic)
O filme conta a história de Bella Brown, órfã criada em um orfanato até tornar-se uma adulta que sofre com transtorno obsessivo compulsivo e que sonha em ser escritora de livros infantis, mas passa seus dias chegando atrasada em seu trabalho em uma biblioteca. Apesar de fazer parte da construção do enredo esse não é o foco principal, Bella se vê em uma grande confusão quando precisa arrumar o jardim de sua casa em um mês senão será despejada. Vale lembrar que a jovem tem um estranho pavor de plantas, algo que carrega desde a infância. Seu vizinho, Alfie, um senhor rabugento e solitário que passa a vida cuidando de seu jardim pessoal depois de algumas discussões - que não cabem aqui, senão seria um spoiler - a ajuda a resolver esse grande problema.
O que eu gostaria de complementar a respeito dessa história é o quanto a natureza é capaz de transformar as nossas vidas, seja em questões sustentáveis capazes de melhorar o meio ambiente ou quanto eles trazem cor - literalmente - ao nosso habitat que em muitos casos são preenchidos por concretos. Talvez essa seja a maior metáfora do filme, um jardim que trouxe cor para dois solitários.
Uma das coisas interessantes do filme e que remetem a arquitetura (além de várias referências na biblioteca), é que a jovem Bella possui um talento para a arte e ela mesma faz uma planta de seu jardim e como ela poderia estruturá-lo com o auxílio de seu vizinho.
Pequenas amostras de plantas em nosso habitat podem ser considerados como jardins, ou mini jardins e às vezes aquele pequeno vasinho de suculenta pode ser essa cor que falta em seu ambiente. Cuidar de plantas é terapêutico e essa energização no ambiente é uma das principais recomendações do feng shui.
A arquitetura não se faz somente de concreto e aço, essa harmonização com o meio ambiente é uma das coisas que complementam e dão o toque de vida em nossas obras. Afinal de contas a maior inspiração dos arquitetos sempre foi a natureza.
Parafraseando o filme e sobre o dia mundial da água, comemorado em 22 de março:
Em alguns países eles dão festas quando começa a chover, mas aqui nós só nos apressamos e procuramos abrigo. A moeda mais importante do mundo. Contudo, em nossa terra agradável e verde, onde nós pegamos tanto, só vemos a chuva como algo que estraga os penteados caros e enriquece os motoristas de táxi.
Vamos criar jardins para usarmos com consciência e com primor o nosso recurso mais precioso: a água.
#paisagismo#arquitetura#cinema#arq#arquitectura#architecture#umabelezafantastica#thisbeautifulfantastic#agua#water
1 note
·
View note
Text
Por uma cidade livre!
As barreiras da segregação

A arquitetura como construir portas de abrir; ou como construir o aberto; construir; não como ilhar ou prender, nem construir como fechar secretos; construir portas abertas, em portas; casas exclusivamente portas e teto. O arquiteto: o que abre para o homem (tudo se sanearia desde casas abertas) portas por-onde, jamais portas-contra; por onde, livres: ar luz razão certa. Até que, tantos livres o amedrontando, renegou dar a viver no claro e aberto. Onde vãos de abrir, ele foi amurando opacos de fechar; onde vidro, concreto; até refechar o homem: na capela útero, com confortos de matriz, outra vez feto. (MELO NETO, 2008)
O significado de muro no dicionário se limita a: obra de alvenaria, adobe, taipa, tijolo, etc., destinada a cercar um recinto, proteger um povoado ou cidade, ou separar um lugar de outro. Defesa, proteção, auxílio, segurança.
Eu poderia começar com uma pergunta: segurança para quem?
Já dizia Jacobs em seu memorável “Morte e vida de grandes cidades”, as ruas ficam mais seguras quando estão vigiadas por mais olhos, precisamente das pessoas que estão circulando naquele determinado local e não algum tipo de segurança profissional. Isso pode ser resumidamente entitulado de vigilância natural, sem que grandes barreiras a impeçam de observar.
Mas o meu grande questionamento a respeito da tal “segurança utópica” é sobre o verdadeiro motivo para esse isolamento. E novamente eu pergunto: isolamento de quem?
Natália Garcia no blog Cidade para Pessoas chegou a uma conclusão interessante sobre o assunto, quando você abre uma edificação, exemplo mais citado no texto, você deixa o local com mais pessoas, o que também resulta numa maior diversidade. Sabiamente proferido em: “[…] a questão é que um muro não te separa só de quem pode te fazer mal. Ele te isola em um lugar seguro, onde só entra quem você permite, e te protege de tudo o que é diferente. E conviver com gente cada vez mais igual te deixa menos tolerante ao que é diferente.”.
Muros nos transformam em pessoas menos tolerantes e não faltam exemplos pelo mundo que elucidem isso. Fronteiras, colônias, fortalezas, tantas barreiras que só incentivam cada vez mais conflitos e segregações de pessoas que de alguma forma estão em busca de qualidade de vida. Sim, estou relacionando diretamente essa temática a refugiados, imigrantes e qualquer que seja o termo adequado para quem está tentando sobreviver.
Pensar que uma barreira física, equivalente a um elemento arquitetônico, pode ser uma maneira de segregar e ampliar índices de desigualdade social é sair completamente da bolha do portfólio de projetos ornamentados e elitizados que há anos inunda a profissão de um arquiteto. Também somos urbanistas e esse tipo de raciocínio é o mínimo que se espera de um planejador de cidades.
Essa é uma série de desabafos, preferi esse termo que textos em si, onde eu vou expor minhas opiniões baseada em exemplos pelo mundo do quanto as barreiras físicas são prejudiciais para o desenvolvimento social das cidades e dos seres humanos que ali residem
0 notes
Text
Por mais mulheres na Construção Civil

Ainda hoje a desigualdade de gênero afasta as mulheres da ciência, do mercado de trabalho e da política. Os números de violência aumentam de maneira avassaladora e constantemente suas lutas são caladas.
Hoje no Brasil, segundo dados do Ministério do Trabalho, apenas 10% dos cargos qualificados tecnicamente da área da construção civil é composto por mulheres. Maior disparidade em relação a todas as atividades avaliadas, que reflete principalmente em jornadas duplas, salários desiguais e assédios de colaboradores. Em relação há treze anos (2006), essa proporção aumentou em 3%. Um dado frustrante para um país onde as mulheres são quantitativamente a maioria.
Em contramão a esses dados, o IBGE afirma que os cargos operacionais de obra estão sendo ocupados por mulheres num aumento de 120% em relação a 2017 e 2018, sendo explicado principalmente pelo desemprego ocasionado com a lei das domésticas e a crise econômica do país em 2015.
Em questões acadêmicas há um aumento significativo no ingresso de mulheres nas profissões do setor, sendo mais de 30% no curso de Engenharia Civil e 60% no curso de Arquitetura e Urbanismo e segundo a UNICAMP (2019), as mulheres têm maior percentual de conclusão dos cursos e com uma taxa menor de evasão, o que configura numa maior precisão na prática profissional e maior foco na execução das tarefas.
No dia 8 de março e todo o resto do ano, fica a reflexão sobre como todos nós que somos da Construção Civil podemos tentar de alguma forma mudar essa realidade. Todas as mulheres merecem respeito e igualdade. Valorizar e incentivar todas as garotas a serem engenheiras, arquitetas, operadoras de obra e tantos outros cargos relacionados é uma das principais alternativas para fazermos do Brasil um país menos desigual.
Possuímos competência, qualificação e apesar de historicamente não termos as mesmas oportunidades que os homens, cada vez mais nossa participação no mercado será efetiva.
É um caminho sem volta… o mundo é nosso, garotas! Feliz dia!
#woman#mujeres#mulheres#diainternacionaldamulher#womanday#march 08#arquitectura#arquitetura#architecture#engenharia#engineering
0 notes
Text
Arquitetura e a Luta de Gêneros

Há tempos eu me pergunto, como mulher e arquiteta e urbanista, qual será o meu papel para contribuir de alguma forma com a evolução da arquitetura no mundo, se focar em uma visão mais ampla. É fato concebido que mulheres vêm ganhando destaque em papéis profissionais pelo mundo, o que não quer dizer que temos salários equiparados aos salários recebidos por profissionais masculinos. Há alguns meses venho acompanhando publicações sobre a discussão de gênero na arquitetura e sobre algumas estatísticas consideráveis e bem desagradáveis sobre o papel das arquitetas. O termo “desagradáveis” não é direcionado para o trabalho brilhante dessas profissionais no meio e nem sobre o posicionamento de arquitetas no mercado de trabalho, mas da famosa exclusão que ocorre em diversas áreas profissionais por termos o descrédito de simplesmente sermos mulheres. Segundo a pesquisa do SICCAU entre 2012 e 2013, somos quase 51 mil arquitetas no Brasil contra 33 mil arquitetos. Representamos 61% dos profissionais da área, mas continuamos recebendo menos salários e tendo menos reconhecimento no mercado. Uma estatística em particular foi a que mais me desagradou, o fato de que em 37 anos de Prêmio Pritzker, apenas duas mulheres conseguiram ganha-lo. Zaha Hadid em 2004 e Kazuyo Sejima em 2010. Um fato sobre o Prêmio Pritzker que causa ainda mais revolta é a injustiça que Denise Scott Brown sofreu ao não ganhar o prêmio junto de seu parceiro Robert Charles Venturi em 1991, mesmo contribuindo e fazendo parte de todo o conjunto da obra do arquiteto. Fato este fez com que Denise não comparecesse à cerimônia como forma de protesto e nos desse de presente uma célebre frase sobre a luta de gêneros na profissão: "Não expulse sua consciência feminista". É possível citar uma lista infindável de arquitetos que obtiveram sucesso e reconhecimento de mídia, sendo conhecidos até mesmo por pessoas que não estejam ligadas à área. É possível também citar uma lista de arquitetas que chegaram nesse patamar, mas indiscutivelmente esse número é bem menor. Não somos menos competentes que nossos companheiros de profissão, pelo contrário, alguns estudos indicam que a mulher tem mais precisão e cuidado ao fazer um trabalho o que mostra que estamos menos suscetíveis ao erro que eles, mas o fato de termos que lutar incansavelmente para sermos reconhecidas possa nos levar a certa rendição, como nossas ancestrais que tanto sofreram para obter o direito de votar, de estudar, de serem livres. E tantas desistiram. Devemos aproveitar essa onda de empoderamento feminino, do encorajamento das minorias que se faz presente nos dias atuais, para não nos rendermos. Sophya Hayden Bennett não se rendeu quando se tornou a primeira mulher a obter um diploma de arquitetura, Lina BoBardi não se rendeu ao criar projetos geniais e que depois de tantos anos ilustra livros e inspira tantos aspirantes da profissão. Até pessoas que não são da área, com certeza já elogiaram o genial e articulado prédio do SESC Pompeia, a sexta melhor construção do mundo segundo o jornal britânico The Guardian. Já se deparou com a solidificação e a harmonia da paisagem urbana, que jamais teriam formas e princípios tão presentes se não fosse o trabalho de Rosa Kliass e sua contribuição para o quadro do Paisagismo no Brasil. Recentemente em reportagem da BBC Brasil, Lais Modelli aponta Lina e Rosa como peças fundamentais na construção do desenho de paisagem da cidade de São Paulo, em conjunto com a arte abstrata de Tomie Ohtake, artista plástica imigrante, mãe e a musa inspiradora dos trabalhos de seu filho e um dos arquitetos mais reconhecidos do país atualmente, Rui Ohtake. E não podemos esquecer de Charlotte Perriand que provou a Le Corbusier, quando ansiava em ter uma chance no mercado da arquitetura, que não estamos aqui apenas para bordar almofadas, mas para nos tornarmos grandes projetistas de mobiliários e para darmos um caráter mais humano à racionalidade do Modernismo. Somos uma minoria em termos de voz, mas somos a maioria em termos de números e ansiamos pelo reconhecimento que temos direito por questões humanitárias. Hoje, de certa maneira temos uma voz mais ativa na sociedade e podemos brigar por nossos direitos e ir atrás de muito mais. É preciso mais debates sobre a questão de gênero na nossa profissão, assim como em todas as outras áreas profissionais e sociais. É preciso coragem, acima de tudo, para ter destaque em um meio machista que nos engole, mas que nos faz lutar pelo reconhecimento que por muitos anos nos foi tirado.
#architecture#arquitetura#arquitectura#arquitetas#genero#igualdadedegenero#igualdaddegenero#urbanismo#equality of opportunity
4 notes
·
View notes