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crescer.

o que é crescer?

pra mim, crescer foi perceber que ciclos se encerram, que lugares antes chamados de casa, hoje são só lugares desconhecidos, perdidos dentro da memória do que um dia foram. crescer foi entender, foi aceitar e seguir em frente, mas sempre ouvir a voz da minha versão criança se perguntando o porquê de não ser amada, o porquê de não ser suficiente. crescer foi aceitar que eu sou suficiente. não. crescer foi perceber que eu preciso ser suficiente, mesmo quando eu não sou, porque nada nessa vida para, nem a faculdade, nem o trabalho, nem os amigos, nem a família, nem o tempo. crescer foi perceber que eu preciso seguir, mesmo quando eu não tenho forças pra seguir. crescer foi sentir que não importa o quanto eu busque uma casa, o quanto eu deseje e sinta a necessidade disso, talvez eu nunca mais encontre. crescer foi precisar de um abraço, querer ouvir um "vai ficar tudo bem", e não ter nenhum dos dois, mas mesmo assim ouvir a minha criança interior gritando e chamando por alguém, pedindo pra que alguém a ajude ou que a conforte pelo menos. crescer foi perceber que eu estou sozinha, foi entender que talvez eu não seja boa em manter relações interpessoais e que eu vá ficar sozinha pro resto do tempo que eu tenho. crescer foi perceber que eu não tenho expectativas pra mim, que apesar de tentar me agarrar em sonhos, não sei se tenho força o suficiente pra conquistar ou mesmo se realmente sonho esses sonhos. crescer foi querer alguém do meu lado, mas entender que eu estou sozinha, não importa o quanto eu tente não estar sozinha.

Mari.

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Adeus Gab.

Fazem pouco mais de três anos desde que eu entrei na faculdade e, às vezes, me pego pensando no tanto que mudou nesses anos. Claro que três anos não são pouca coisa, mas eu honestamente não esperava viver tanto assim.

Às vezes, me pego pensando em você também, às vezes uma pura curiosidade de como você está, se tem passado bem e se é feliz, às vezes percebendo que não era pra sermos. Hoje, eu sou feliz. Genuinamente. Tenho alguém que me ama o tanto que você jamais poderia me amar, alguém que faz por mim tudo aquilo que, um dia, eu fiz por você. Hoje, faço por ele. Temos nossas dificuldades, claro, mas mesmo assim, ele sempre me faz sentir especial, de todas as formas possíveis.

Ele começou a ler Crepúsculo por mim, acredita? Ele não é muito dado a leitura, na verdade, prefere mais audiobook como você; mas mesmo assim, ele se dispôs a conhecer porque eu to sempre falando sobre. Inclusive, toda vez que eu faço um wallpaper novo, ele gosta de ver também; ele também quer ouvir as músicas que estou ouvindo no momento e também gosta de me ouvir falar sobre os podcasts que eu ouço, sabe?

Ele é bem mais compreensivo do que eu fui contigo, e também faz questão de dizer o quanto eu sou linda a cada momento, mesmo quando eu claramente não estou bonita. Ele gosta de reafirmar pra mim que sente minha falta, que foi nos lugares que fomos juntos, que gostaria de me levar pra sair mais vezes. Inclusive, ele sempre fala que não vê a hora de me apresentar pessoalmente pros amigos dele - sim, pessoalmente, porque ele já me apresentou por fotos e audios. Ele faz questão de estar presente, mesmo cansado. Ele faz por mim o que eu fiz por você.

Apesar das dores e dos traumas, eu sou grata à sua passagem na minha vida, hoje eu sei valorizar esse homem que a vida colocou no meu caminho. E eu sei que, hoje, eu posso fazer tudo o que eu fiz por você e muito mais, mas dessa vez, por ele. Por esse homem menino que aprende a me amar a cada momento e que me ensina sobre a vida mais do que consegue imaginar.

Com ele, eu me vejo levando uma vida a dois, uma vida tranquila, feliz e amorosa - porque é assim estar com ele. Encontrei paz e reciprocidade, ele é tudo o que eu desejei que você fosse. Mas de novo, sou grata por você não ter sido, não seríamos felizes. Eu não seria feliz da mesma forma que sou.

Hoje eu vejo que não era pra sermos. Jamais seríamos. Mas eu desejo que você seja feliz, que encontre alguém que te ame da mesma forma que eu encontrei alguém que me ama do jeito que ele me ama (e que eu o amo também).

Mari.

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Las de la última fila

Assistir a série da netflix Garotas do Fundão (título em português) me fez refletir sobre muitas coisas.

A série original tem a proposta de apresentar a história de cinco amigas que resolvem fazer uma viagem, regada à desejos malucos, quando uma delas descobre um câncer.

Não vou dizer que chorei, porque seria mentira, mas me trouxe uma reflexão sobre mim mesma, quantas coisas eu deixei de fazer, deixei de falar, de usar, de comer e escutar, quantas vontades eu me neguei por medo? Ou por tabu? Pela sociedade? Hoje, três anos depois de descobrir a minha bissexualidade, ainda é difícil de aceitar, de me respeitar, de me amar.

Assistir a série me trouxe diferentes tipos de solidão sabe? Me vi desejando uma amizade daquele jeito - tão firme e forte, mesmo com o tempo e com os obstáculos, um amor como aquele, uma força como aquela... talvez a amizade tenha sido o que mais pesou, mudar pra uma cidade totalmente nova e desconhecida, ficar longe de tudo e de todos, ter a responsabilidade de assumir e resolver todos os problemas que surgem, precisar redescobrir as amizades e, de certa forma, a mim também, tem sido muito pesado e exaustivo, todas as minhas decisões são postas em cheque, diariamente, por mim mesma.

Não que alguém aponte ou algo, eu mesma faço esse papel. Tem sido bem difícil na verdade, e assistir Garotas do Fundão só escancarou isso pra mim: me reconheci um pouquinho em cada uma das meninas, em cada parte das suas dificuldades. À Alma, em sua ansiedade e necessidade de fuga, à Leo, em sua revolta, à Carol, em sua postura defensiva e habilidade de sempre reverter a culpa pra si, à Olga em sua busca por liberdade que se tornou a sua própria prisão e, por fim, à Sara, em seu medo de errar. Cada uma delas, é como se fosse um pilar de tudo o que tem regido a minha vida, de tudo o que existe em mim -- e isso me assusta. Muito.

E me traz solidão também.

Hoje, particularmente, o peso da vida se tornou demais pra sustentar sozinha. São em momentos assim que eu desejo jogar tudo pro alto e voltar pra casa, mesmo que, de algum jeito, eu não tenha mais uma casa. Sinto muita falta das minhas amizades, da minha rotina em que tudo era mais simples, as pessoas realmente importantes pra mim estavam presentes na minha rotina e talvez, só talvez, eu fosse mais feliz naquela época.

Talvez eu realmente termine sozinha, como me disseram recentemente, talvez eu não sirva pra lidar com relações sociais. Sinto muita falta de ter um lar, de saber que sempre posso voltar pra lá, seja lá onde for ou pra onde eu for.

Mas talvez, também, seja só um momento. Não sei dizer agora. Talvez tudo isso passe e eu perceba que foi apenas um delírio da madrugada e que, não eu não estou sozinha.

No fim das contas, isto também passará. Seja lá o que for isto.

Mari.

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One does not know anything, what little we know we know together. citiesandsketches

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Resposta do Luar.

A música soava baixinho naquela madrugada levemente abafada. O coração da pequena menina doía por diversos motivos, tantos que ela mal sabia por onde começar a resolver.

Sua respiração estava entrecortada, as lágrimas escorriam pelo rosto, molhando o travesseiro. Na garganta, palavras entaladas lhe consumiam a voz. Tudo aquilo que desejou falar para os outros estava ali, fresco em sua memória, na ponta da língua.

A pequena garota estava tão cansada! O desânimo havia contaminado tudo em sua vida, nem mesmo olhar para a Lua e conversar com o corpo celeste ─ ato rotineiro em sua vida ─ lhe trazia paz. Tudo se tornou uma enorme bagunça e ela sequer sabia por onde deveria começar a arrumar ─ sequer sabia se queria arrumar e não apenas abandonar tudo.

O corpo da menina tremia pelo choro, seus pensamentos tumultuosos lhe diziam todo tipo de coisa, às vezes eram abafados pela mensagem da música, mas no fim, o choro e a dor predominavam em seu coração.

Claro que ela sabia que tudo aquilo era momentâneo (seu lado racional ainda quebrava um galho no final), mas é que, no momento, parecia o fim do mundo, de tudo. Ali, naquele segundo, tudo o que a menina mais desejava era que sua existência nunca tivesse acontecido. Nem mesmo a morte ela desejava.

Naquele mísero segundo respirar parecia um fardo enorme que ela não conseguia carregar.

Naquele mísero segundo memórias lhe pesavam não só os pensamentos, mas o corpo inteiro, e o peso era tal, que se mover era difícil.

Naquele mísero segundo ela desejou ter coragem pra fazer qualquer coisa que a livrasse daquele momento.

Mas no fim das contas, após incontáveis segundos e desejos não atendidos, ela adormeceu.

Imersa no próprio subconsciente, a pequena menina não viu que, lá do alto, o próprio céu começou a chorar baixinho. Primeiro de um jeito tímido, depois num ritmo constante, tal qual as lágrimas da garota, como se a Lua compreendesse o que ela sentia e dissesse que tudo iria ficar bem, que se fosse ela a estar no lugar da morena, ela iria esperar, iria respirar fundo e fazer o seu melhor naquele momento.

Mari.

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carta alternativa n° 1

por favor, eu pedi tanto: me fala o que aconteceu. me conte, onde eu errei? o problema, no final, sou eu mesmo? de novo? de novo.

eu pedi tanto para me dizer, qualquer incômodo, qualquer insatisfação. escolhestes o caminho árduo; sumiste como se nunca nem tivesse estado aqui.

mas estou cansada - destruída, destruindo - de me perguntar: o que eu fiz de errado? a tua ida, definitiva, me dá as respostas, mas que ainda fecho os olhos para não enxergá-las: quem foi, foi tu. eu fiquei. quem está errada - no fundo, eu sei - não sou eu: és tu.

29 de novembro de 2021.

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Agora, eu só queria poder consertar aquilo que parece que não tá dando pra ser consertado. Usar uma borracha gigante pra apagar da memória o motivo pelo qual o buraco no meu peito se encontra agora mais vazio. Queria poder fechar o olho em paz, sem repassar na minha cabeça aquela situação, sem sentir que de alguma forma a culpa foi minha por não ter sido suficiente, mesmo dando o melhor de mim.

— Waiting for spring.

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você perdeu tanta coisa

você tinha que ver a forma como meus olhos brilhavam e meu sorriso saltava para fora sempre que falava de você.

// ryan lucas

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Eu ainda o amo. Sinto falta dele todos os dias, é inevitável não me machucar ao lembrar de nós dois. Não seria nada justo mentir e dizer que todo aquele sentimento se foi. Mas uma coisa preciso admitir, nesses meses eu amadureci e entendi muito sobre aquele nosso amor. Entendo agora que as coisas nunca voltaram a ser como antes, e sei que de certa forma foi melhor assim. Deixei que se fosse, mas parte de você ficou presa aqui no meu coração. Eu te amei de uma forma que nem eu mesma consigo compreender, esse sentimento foi mais forte que eu mesma. Te deixei ir pois sabia que por mais machucada que eu estivesse, te fazer ficar seria ainda mais cruel com nós dois. Eu esperei demais de você e esse foi um erro enorme. Esperar de alguém algo que não podemos controlar. Confesso que tem machucado bastante, os primeiros meses foram praticamente insuportáveis. Por fora sorrisos e por dentro lágrimas que se recusavam a secar, lutei contra a vontade de voltar atrás com minha decisão. Foi me machucando tantas vezes que entendi que o nosso “para sempre” durou pouco tempo. Meu coração se partiu, mas no fim percebi que poderia viver sem você.

prosificada.

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nós merecemos permanência e importância

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Única.

Eu lembro de ler Lua Nova (o segundo livro da saga Crepúsculo sabe?), em meados de 2012, e achar que o sofrimento da Bella ─ quando o Edward foi embora ─ era um pouco exagerado. Talvez porque eu não tinha me apaixonado de verdade até aquele momento ou simplesmente porque eu me isolava de relações sociais de forma natural, todo aquele amontoado de dor que ela sentia era confuso e estranho pra mim. E é engraçado porque eu não me lembro de sentir isso com o sofrimento de nenhum outro personagem que eu conheci.

Veja bem, eu sempre fui aquela garota tímida, que morava super longe da escola e não tinha tantas amigas assim ─ e isso se devia ao fato de eu afastar (sem perceber) as pessoas de mim. Logo, a leitura era o meu refúgio (e continua sendo até hoje), era o lugar que eu sentia que era meu, onde mil coisas diferentes aconteciam 'comigo' e sempre terminava bem de alguma forma.

Eu li muitos livros. Provavelmente mais do que eu consigo me lembrar. Mas nenhum me deixou essa sensação de desconforto como Lua Nova.

Quer dizer, não era bem um desconforto, mas uma estranheza sem medida, eu lembro de pensar "mas porque infernos essa garota só não segue em frente? porque ela tem que ficar remoendo e sentindo falta de alguém que foi embora por escolha própria? porque ela não pode só esquecer o Edward e ficar com o Jake, que claramente gosta dela?" e eu genuinamente não entendia porque a Bella fazia de tudo só pra se sentir mai próxima de alguém que foi embora. No entanto, refletindo esses dias, eu entendi a Bella e todo o seu sofrimento.

Os últimos meses têm sido bem complicados pra mim, eu vivo num misto de 'nunca mais quero te ver' com 'eu sinto tanto a sua falta, só queria que você me chamasse de solzinho de novo', e isso é desgastante porque consome toda a minha energia diária e disposição. Às vezes eu só quero ouvir sem parar aquela música da AnaVitória pra te sentir mais pertinho, mas outras vezes eu não quero nem citar o seu nome ─ porque dói falar de você.

Lembrar que um dia você preencheu toda a minha rotina é doloroso.

Lembrar de você é doloroso.

E o pior de tudo é que eu sinto tua falta, às vezes de uma forma tão intensa que até nos meus sonhos você aparece. E vou te dizer, se você aparecesse na minha frente agora, eu provavelmente te abraçaria e pediria pra você ficar, pra não sumir mais, te diria que o teu silêncio dói, que você faz falta, que eu ainda não terminei aquela série que eu comecei a ver contigo porque ainda tenho esperanças de você voltar, eu te diria que não importa quantas vezes você quebre o meu coração, contanto que você esteja comigo, tudo vai ficar bem no final, te diria que eu ainda quero conhecer todos os lugares da cidade que você mencionou contigo, diria também tudo o que eu sinto por você, quantas vezes você quisesse ouvir. Eu falaria milhares de palavras, milhares de vezes, sem parar, se isso significasse o seu retorno.

Mas eu sei que nada disso te importaria, você não é do tipo que sente falta quando você vai embora né meu bem? Inclusive, eu não consigo chamar mais ninguém assim sabia? Você era o meu bem, era a única que eu queria que sonhasse comigo e que sentisse a minha falta, era a única que eu atenderia às 3 da manhã se você precisasse. Você foi única pra mim, de inúmeras formas diferentes, mas ainda assim, única.

Hoje eu sou a Bella de Lua Nova, uma garota que se apaixonou e que teve o coração partido, que sente falta de alguém que foi embora por escolha própria (na verdade acho que a Bella teve mais sorte do que eu, o Edward realmente gostava dela e ainda explicou o porquê de ir embora, você só sumiu da minha vida). Mas, diferente da Bella que teve um final feliz junto de quem ela gostava, eu não vou ter.

Mari.

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torcendo secretamente pra ti não ter enviado aquela música pra mais ninguém.

torcendo mais secretamente ainda pra ti também estar sentindo isso no estômago.

k.

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Transbordar.

A noite de primavera já havia caído na cidade de brilhantes luzes que decoravam a paisagem. Assim como muitos, a pequena mulher já estava em casa há algumas horas.

O dia tinha sido deveras exaustivo, como se a cada passo que ela dava um novo problema fazia questão de surgir em seu caminho. Ligações, reuniões, relatórios, atrasos de entrega, tudo parecia ter dado errado naquele dia. As costas da pobre menina doíam a cada pequeno movimento e sua cabeça parecia querer sair de seu corpo por vontade própria e buscar pela paz que tanto ansiava.

A casa estava silenciosa quando ela chegara, apenas o zunido da cidade podia ser ouvido. Acendeu as luzes, retirou os saltos e o terno, soltou os cabelos e se dirigiu para a varanda, pegando uma garrafa de vinho e uma taça no processo.

Era uma sexta-feira, então talvez fosse por isso que ela estava tão exausta ─ sua rotina não era nada amistosa com o descanso no fim das contas. Mas após um longo tempo de reflexão ela percebeu, como num estalo, que o cansaço era por se sentir sozinha. Não o tipo de solidão que a gente sente quando não há ninguém por perto, mas sim a solidão por não se ter tempo pra si, por não se reconhecer mais, por não se aproveitar mais.

Claro que pra que ela aprendesse a gostar de si própria foi um processo árduo, com muitas decepções e corações quebrados no caminho, mas ela aprendeu. Depois de olhar realmente para si, decorar cada cicatriz e admirá-las, de se entender e de sentir compaixão e simpatia por si mesma, ela se amou.

Ela simplesmente se amou como nunca havia feito em todos os seus anos de vida.

Mas depois de experimentar todo esse amor próprio durante merecidas férias ─ muitas semanas que se acumularam ao longo de anos, diga-se de passagem ─ do trabalho, ela retomou a rotina. E agora sentia falta de si mesma. Percebendo esse fato, resolveu aproveitar a noite de sexta para se cuidar e colocar essa saudade de si para fora.

Depois que tudo estava pronto, ela retirou o restante de suas roupas e prendeu seu cabelo no alto de uma forma desleixada. Então ela afundou o seu corpo na banheira caprichosamente preparada. Deve-se ressaltar que ela realmente elaborou aquele banho: além dos sais de banho que tinham um cheiro suave, a luz do lustre foi substituída por velas que deixaram o ambiente mais íntimo, algumas das flores favoritas da moça também decoravam a espuma, a cortina que cobria a enorme janela fora aberta e diversos petiscos foram preparados para acompanhar o vinho que ela estava tomando anteriormente. Além disso, uma das suas playlists favoritas estava tocando baixinho, embalando aquela noite de lua cheia primaveril.

Com pouco mais da metade seu corpo submerso, sua mente viajou para muito longe. Sua versão mais nova de si mesma estaria com inveja neste momento, mas também estaria satisfeita por perceber que ela havia conseguido se tornar tudo o que ela almejava. A luta para melhorar a si própria tinha sido árdua e dolorosa, mas valeu a pena como nenhuma outra conquista valeria.

Aquela menina insegura, nervosa e tímida, aquela mesma menina que era ansiosa para não decepcionar ninguém, aquela mesma que sempre se culpava pelos erros dos outros e que assumia responsabilidades que sequer eram dela, aquela mesma que não tinha voz pra expor seus pensamentos e desejos, aquela mesma que acreditava mais no potencial e merecimento dos outros do que em si própria, aquela mesma versão sua mais jovem ficara pra trás. Deixada nos tempos passados, mas nunca esquecida.

A sua versão atual jamais se esqueceria de como ela tinha sido. Foram dias difíceis, mais complicados do que sua vida era atualmente. Eram tempos dolorosos, com pequenos intervalos de paz em sua cabeça e coração, recheados de lágrimas e cobertos de ansiedade e decepção. Ela não se permitiria ser assim mais. Nunca mais.

Ali, com os dedos um pouco enrugadinhos por causa do contato prolongado com a água, ela prometeu de novo a si mesma que continuaria em busca da mulher que ela queria ser: uma mulher que se amava, que sentia orgulho de quem ela era e de sua história.

Uma mulher que poderia apenas ser transbordada, nunca completada.

Mari.

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É  preciso ter a consciência de que certas coisas já não valem mais o seu esforço e tentar deixar para trás todas as coisas que poderiam ter sido mas não foram.

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Vaga lembrança.

Os dias tem sido difíceis sabe? Eu meio que perdi as contas de quanto tempo faz que você tem me ignorado, talvez dois ou três meses eu acho. Eu tentei muito te manter por perto, tentei te dar um gelo pra ver se você se importava, tentei conversar, tentei me afastar, tentei te contar o que acontecia, tentei até mesmo fazer algo junto contigo. Mas a cada vez que eu tentava, eu só recebia o silêncio. Nada além dele.

Eu sinto tanto a tua falta garota, de um jeito insuportável e inconsciente. Eu sei que já decidi ir embora e te esquecer, mas tudo me lembra você. Aquela série que eu comecei a ver por ti, aquele livro que eu comecei a ler com você, desenhos, imagens, frases, filmes, músicas, tudo me lembra você e eu to tão cansada de me sentir assim!

Eu apaguei aquelas fotos que eu tirei de você enquanto você estava distraída. Cada uma que eu apaguei doeu de um jeito diferente, de uma forma tão unicamente dolorida que, no final, eu estava chorando. Apaguei também aquele aplicativo que eu usava só por você ─ não tem mais sentido mantê-lo se você não faz parte mais da minha vida. Também parei de ouvir Anavitória e Ana Gabriela, as músicas delas me fazem chorar sem pausa por um longo período por que cada palavra me lembra você.

Eu não sei em que ponto eu te perdi, em que momento você ficou tão indiferente a mim que simplesmente foi embora, sem sequer me avisar o que estava errado. Quanto mais eu penso nisso, mais eu tento achar uma explicação pra você ter ido assim, e a cada minuto eu sinto a saudade me sufocar (e a culpa também).

Tenho estado cansada sabe? Eu penso em você a todo momento, não importa o que eu faça, você sempre esta ali, me dizendo de novo as coisas bonitas que você jurou que eram verdade, que eram reais, os sentimentos que você dizia ter, o teu toque, o teu sorriso, a tua voz, a tua risada, o teu olhar, tudo em você está ali, a um segundo dos meus pensamentos, vinte e quatro horas por dia.

Eu só queria te esquecer, te deixar ir embora dessa forma tão fácil que você foi, apagar todas as minhas lembranças e te tratar como desconhecida ─ porque é isso que você merece de mim. Talvez eu esteja falando isso tudo porque estou magoada, não tenho certeza. No momento eu só quero te arrancar de dentro de mim, matar essa saudade infernal e te esquecer pra sempre.

Apesar de tudo isso, o cansaço de ficar te esperando é muito grande, afinal foi pouco menos de 1 ano e 6 meses que eu corro atrás de você. Mas acho que realmente chegou o momento de ir embora ─ pela minha saúde emocional mesmo, não por você ─ sem olhar pra trás. Eu tenho esperança de que um dia, quando escutar teu nome, eu não sinta nada além de uma vaga lembrança de que um dia, eu já te conheci.

Mari.

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