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(sem tĂtulo)
se eu te pedisse com jeitinho, vocĂȘ deixaria eu segurar a sua mĂŁo? passar a ponta dos dedos pela pele, contar quantas veias eu conseguisse contar, memorizar o formato que vocĂȘ gosta de cortar a unha e fingir que sei ler seu futuro, pela palma da sua mĂŁo?
se eu te pedisse com jeitinho, vocĂȘ me seguraria? e me envolveria nos braços, com as mĂŁos espalmadas nas minhas costas, enquanto eu faço cafunĂ© no seu cabelo e ficamos assim atĂ© ficar tudo bem?
se eu te pedisse com jeitinho, vocĂȘ deixaria eu tocar no seu rosto? pentear seu cabelo para trĂĄs da orelha, esfregar o dedĂŁo nas suas bochechas e te olhar de pertinho, como se eu tivesse o mundo nas mĂŁos?
se eu te pedisse com jeitinho, vocĂȘ me envolvia pela cintura? tirava sarro da circunferĂȘncia, sentia minha pele entre a palma, amassava a gordura com o dedĂŁo e dizia que me adora?
Luiza Manchon.
#escrita#literatura#escritor#escritora#poema#literatura brasileira#romĂąntico#romance#poesia#escrita criativa
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meu sabor favorito
Naquela madrugada, em que eu fui na cozinha assaltar a geladeira, tomar um sorvete numa noite quente de setembro, atĂpica e enfiei a mĂŁo na gaveta de colheres, mas me cortei em todas as juntas dos dedos porque estava repleta de facas. NinguĂ©m te ensina como nĂŁo ser a pessoa favorita da sua pessoa favorita e como Ă© ruim a sensação de tomar sopa com garfo e faca, sem nem ter pĂŁo pra comer de acompanhamento. Ă como ter um quintal pra varrer com um arado de ferro que raspa no chĂŁo e causa aquele som insuportavelmente alto, mas que Ă© tudo que vocĂȘ tem e o mĂĄximo que vai ter. Tomando sorvete com faca, lambendo direto da serra, napolitano de creme, chocolate e sangue; garota, nunca te ensinaram que nĂŁo se coloca navalha na lĂngua?
Luiza Manchon.
#escrita#literatura#escritor#escritora#poema#poesia#escritura#literatura brasileira#triste#drama#dramĂĄtico#capenga#chĂŽcho#episĂłdio depressivo de merda
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e me parece que, dessa vez, o rouxinol nĂŁo pĂŽde afiar seu bico
Um dia, quando fiquei preso no trĂąnsito eu percebi que todas as mĂșsicas do rĂĄdio do carro me fazem lembrar de vocĂȘ. E me intrigou aquela vez que fui ao cinema e, enquanto mascava pipoca, pensei que sĂł faltava uma garrafa de vinho e vocĂȘ. Tive de parar na rua e olhar, perplexo, para meu reflexo na vitrine no momento em que vi um livro e pensei em levar para vocĂȘ. Mas nada se compara Ă conformação cruel que senti parado na rua enquanto via vocĂȘ escolhendo ele e nĂŁo a mim.
Agora, ao invĂ©s de relembrar vocĂȘ eu estou fadado a reviver cada momento que gostaria que acontecesse, vĂĄrias e vĂĄrias vezes na minha cabeça e que nunca achei que merecesse ter. Repito o caminho atĂ© a sua casa, vou na sua cafeteria preferida, almoço seu prato favorito e, de sobremesa, pego aquele doce que vocĂȘ gosta. Meu sangue ferve de Ăłdio toda vez que me lembro das vezes em que pude aproveitĂĄ-lo mas que pensei: Ă© inefĂĄvel; vamos nos encontrar outra vez.
Luiza Manchon.
#escrita#literatura#escritor#escritora#poema#poesia#escritura#literatura brasileira#romance#romĂąntico#triste#drama#inspirado em good omens
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"Carta de aniversĂĄrio para 12 anos atrĂĄs."
querida luiza de nove anos,
vocĂȘ nunca imaginou que faria algo assim. vocĂȘ ainda vai ter 13 anos e vai escrever uma carta para a sua futura eu de 20 e poucos anos que, infelizmente, vai ter jogado ela fora hĂĄ muito tempo. mas vocĂȘ vai se lembrar de ter escrito que esperava que estivesse muito feliz, morando sozinha, com um namorado que fosse seu prĂncipe encantado e que fosse uma escritora publicada.
esses anos vĂŁo ser difĂceis. vocĂȘ deve estar animada e chateada ao mesmo tempo. vocĂȘ nĂŁo escolheu escrever para essa idade Ă toa; vocĂȘ sĂł tem nove anos e acabou de trocar de escola, mudou com seus pais pra um apartamento novo. ao mesmo tempo que a ideia de morar em um lugar tĂŁo legal e tĂŁo grande Ă© incrĂvel, que ver seus pais felizes Ă© maravilhoso, vocĂȘ estĂĄ de coração partido pela vida que vocĂȘ deixou para trĂĄs.
vocĂȘ tem medo de muita coisa. medo de que seus antigos amigos nĂŁo te queiram mais; medo de nĂŁo fazer novos amigos; medo da puberdade; medo do escuro; medo de ficar sozinha... e mesmo com todo esse medo, tudo isso vai ser superado. eu sinto muito, mas hoje em dia todos aqueles amigos que vocĂȘ tinha medo de perder, se foram; alguns por conta prĂłpria, outros vocĂȘ mesma escolheu ir. vocĂȘ fez muitos amigos novos e amigos muito queridos, alguns deles que vocĂȘ espera levar para a vida toda. vocĂȘ vai sobreviver a todas as vezes em que chorar porque menstruou na escola e sujou a calça de sangue (a dica Ă© ĂĄgua oxigenada, querida!). vocĂȘ vai descobrir que o escuro Ă© silencioso, calmo e amigĂĄvel. e o medo de ficar sozinha se tornarĂĄ um apreço pela solidĂŁo e o aprendizado de valorizar os momentos em que nĂŁo estamos sĂł.
a puberdade vai ser cruel. eu mentiria se dissesse que, mesmo depois de todos esses anos, vocĂȘ nĂŁo fica triste quando se olha no espelho. vocĂȘ ainda tem suas encrencas com os seus braços gorduchos, as panturrilhas salientes e as coxas que nunca tiveram um vĂŁo entre si. com 15 anos, vocĂȘ infelizmente vai aprender a nĂŁo almoçar e vai emagrecer quase 10 quilos em trĂȘs meses. com 19 anos, vocĂȘ aprenderĂĄ a contar calorias. com 21 vocĂȘ ainda tem espinhas, seu nariz ainda Ă© daquele jeito que vocĂȘ nĂŁo gosta, seus dentes estĂŁo ainda mais tortos e seu cabelo ainda nunca parece bom o suficiente.
seus pais vĂŁo se separar. e vai ser o inferno. vocĂȘ vai viver com eles em pĂ© de guerra por anos que parecerĂŁo a eternidade, atĂ© o momento em que eles consigam finalmente vender o apartamento. vocĂȘ vai brigar com a sua mĂŁe, porque vocĂȘ vai querer morar com o seu pai. vocĂȘ vai voltar a morar com a sua mĂŁe. e depois voltar a morar com o seu pai. e em todas essas ocasiĂ”es vocĂȘ vai odiar eles por diversos motivos diferentes. mas, vai chegar um momento em que vocĂȘ vai aprender que, por mais que eles sejam seus pais, eles tambĂ©m sĂŁo pessoas. vocĂȘ vai engolir que as pessoas erram. e vocĂȘ vai escolher continuar ao lado dessas pessoas porque as ama, independentemente do mal que elas fizeram. vocĂȘ vai valorizar o bom, vai amar o bom. nĂŁo vai esquecer o mal. mas, vai perdoar. do mesmo jeito que sua mĂŁe te perdoou por deixĂĄ-la pĂłs divĂłrcio e seu pai te perdoou por todas as vezes que vocĂȘ mentiu que nĂŁo estava tendo comportamentos nada suspeitos para um adolescente. vocĂȘ vai encontrar o equilĂbrio com eles e eles com vocĂȘ. e vocĂȘ vai amĂĄ-los como nunca pensou que seria capaz de amar.
seus avĂłs vĂŁo envelhecer. sua avĂł vai desenvolver demĂȘncia e seu avĂŽ vai se amargurar com isso. e vai doer. vai doer para caralho. vocĂȘ vai querer fugir, mas nĂŁo tem para onde correr. vocĂȘ vai assistir aquela senhora que cuidou de vocĂȘ desde o nascimento se resumir a alguĂ©m que acorda, come, tem a fralda trocada e Ă© posta para dormir. vocĂȘ vai ver seu avĂŽ, tĂŁo cheio de energia, aos poucos ir diminuindo. e vocĂȘ vai lembrar de como ele parecia tĂŁo imponente e tĂŁo grande e seu coração vai partir em mil pedaços quando perceber que ele, agora, parece um bibelĂŽ. e vocĂȘ vai querer voltar no tempo e aproveitar de novo o tanto que vocĂȘ aproveitou quando era mais nova. vocĂȘ vai ter medo de que eles nĂŁo vejam vocĂȘ se formar na sua faculdade. vocĂȘ vai ter medo de nunca ter apresentado um alguĂ©m pra eles. vocĂȘ vai ter medo de que eles morram lembrando de vocĂȘ como aquela garotinha e vocĂȘ sempre vai se emocionar quando alguĂ©m falar sobre demĂȘncia ou alzheimer.
vocĂȘ vai descobrir que nĂŁo importa quantas vezes vocĂȘ tente, vocĂȘ nunca vai ser a melhor para os outros. vocĂȘ vai escrever assiduamente por dias, desenvolver mais de 100 histĂłrias, escrever mais de 1000 capĂtulos, ter mais de 10000 pĂĄginas em arquivos .docx no seu computador. e vocĂȘ vai passar meses sem escrever. talvez um ano, dois. vocĂȘ vai ter medo de escrever. vocĂȘ vai implorar para seu corpo escrever, mas ele vai estar paralisado em ansiedade. vocĂȘ vai tentar escrever nĂŁo um, nem dois, nem trĂȘs livros. vocĂȘ vai tentar escrever cinco livros, estagnar no quinto e passar trĂȘs anos desenvolvendo ele, para chegar ao ponto de estar o escrevendo pela terceira vez porque ele nĂŁo estava bom o suficiente antes. vocĂȘ vai escrever mais de 150 poesias e vai jogar metade delas no lixo. vocĂȘ vai odiar suas poesias. vocĂȘ vai amar suas poesias. vocĂȘ vai se sentir ĂłrfĂŁ de si mesma e pensar que se jogou fora. atĂ© o momento em que vocĂȘ se reencontrar. atĂ© o dia que vocĂȘ se perdoar por ter demorado quase dez anos para finalmente pĂŽr a cara a tapa e se lançar na vida como escritora, por mais que vocĂȘ vĂĄ sentir vergonha de se chamar assim. vocĂȘ vai publicar textos e eles serĂŁo ignorados. vocĂȘ vai criar mundos e universos que nĂŁo serĂŁo devidamente apreciados. mas, vocĂȘ vai entender que basta que vocĂȘ goste deles e que eles te façam feliz. e quando vocĂȘ entender isso, todos eles vĂŁo fluir e vocĂȘ vai perceber que vocĂȘ finalmente consegue voar nos seus sonhos. vocĂȘ vai voltar a escrever. lentamente, mas vai. vocĂȘ vai amar escrever. vocĂȘ vai chorar pelos seus prĂłprios textos depois de mais de cinco anos achando todos eles sem sal, sem açĂșcar, sem pimenta. e vocĂȘ vai se apaixonar pela sua criatividade. e quando isso acontecer, vocĂȘ vai perceber que cada vez mais surgirĂŁo pessoas que enxergam isso em vocĂȘ, tambĂ©m. e vai ser agradĂĄvel.
vocĂȘ vai entrar em depressĂŁo profunda duas vezes. vocĂȘ vai tentar se matar trĂȘs vezes. vocĂȘ vai odiar a vida, sentir dor ao respirar, sentir medo de abrir os olhos no dia seguinte e perceber que estĂĄ acordada. vocĂȘ vai querer gritar, mas nada vai sair. vocĂȘ vai negligenciar. vocĂȘ vai fechar os olhos para a verdade. vocĂȘ vai ser vĂtima. vai se encrostar na cama. vai demorar anos para finalmente conseguir começar a unir forças. e quando passar, vocĂȘ vai apreciar o silĂȘncio. vocĂȘ vai passar horas olhando o cĂ©u azul e escutando os pĂĄssaros. vocĂȘ vai dar risada porque se sentiu feliz com o cheiro de um produto de limpeza. vocĂȘ vai ansiar o dia seguinte e o prĂłximo. vocĂȘ vai querer fazer tantas coisas que nĂŁo vai nem sobrar tempo. e entĂŁo vocĂȘ vai cair de novo. vocĂȘ vai cair mais fundo. vocĂȘ vai sentir desespero quando perceber que marcou data e hora para dizer adeus. vocĂȘ vai se odiar por nĂŁo valorizar as chances que tem. vocĂȘ vai desejar que qualquer um pudesse ter a vida que vocĂȘ tem, menos vocĂȘ. e, mais uma vez, isso vai passar. vocĂȘ nĂŁo vai mais sentir medo de ficar deprimida novamente algum dia, porque vocĂȘ vai aprender a se reerguer em 1/3 do tempo que vocĂȘ demorou na Ășltima vez. vocĂȘ vai finalmente ver como vocĂȘ Ă© uma guerreira. vocĂȘ vai olhar a força que vocĂȘ tem e vocĂȘ vai se amar por isso. vocĂȘ vai amar ela por ter tido esperança de te trazer de volta. e vocĂȘ vai prometer sempre estender a mĂŁo pra ela quando ela precisar ser forte mais uma vez.
seu mundo vai cair por terra quando vocĂȘ aprender que as coisas nĂŁo sĂŁo sempre como vocĂȘ queria que fossem. vocĂȘ vai aprender que as frustraçÔes sĂŁo tĂŁo valiosas quanto as realizaçÔes. vocĂȘ vai aceitar que nem vocĂȘ, nem o mundo ao seu redor precisa ser perfeito. vocĂȘ vai aprender a montar as coisas do jeito que vocĂȘ quer, mas da forma como elas podem ser montadas. vai aprender que a bola encaixa no cĂrculo e o cubo, no quadrado, mas que eles nĂŁo necessariamente precisam ser da mesma cor que o brinquedo original de fĂĄbrica. vocĂȘ vai aprender a caber e a nĂŁo caber. vai aprender a pedir e a receber. vai aprender a esperar, esperar, esperar e aceitar se nĂŁo receber nada em troca. vocĂȘ vai correr quando tiver de andar e andar quando tiver de correr, mas tambĂ©m vai caminhar quando precisar caminhar e pular quando precisar pular. vocĂȘ vai descobrir que a perfeição nĂŁo estĂĄ no ser perfeito, mas sim no poder ser perfeito e, consequentemente, poder ser falho. e mesmo nessas falhas, vai aprender a enxergar beleza.
vocĂȘ vai amar. vocĂȘ vai amar pra caramba e vai ser amada. e vocĂȘ tambĂ©m nĂŁo vai amar o suficiente e vai ser pouco amada. vocĂȘ vai odiar amar e vai amar amar. e seu coração serĂĄ partido tantas vezes, mas tantas vezes que vocĂȘ vai desejar que ele nĂŁo existisse. vai demorar, mas vocĂȘ vai aprender que o prĂncipe encantado nĂŁo existe. vocĂȘ vai perder muita gente por culpa do amor, mas vai perceber que nĂŁo escreve do mesmo jeito quando nĂŁo estĂĄ apaixonada. vocĂȘ vai encontrar o que realmente Ă© amar no lugar em que vocĂȘ menos esperava. e vocĂȘ vai amar. profunda e meticulosamente, vocĂȘ vai amar. vocĂȘ vai perceber que amar de verdade nĂŁo Ă© sĂł querer ser amada. vocĂȘ vai descobrir que a dor de nĂŁo ser amada de volta nĂŁo chega aos pĂ©s da dor de vocĂȘ amar e nĂŁo poder dar esse amor. vocĂȘ vai perceber que amar nĂŁo Ă© simplesmente estar com alguĂ©m que te ama de volta, mas que amar Ă© vocĂȘ encontrar alguĂ©m que faça com que vocĂȘ aprecie dividir. vocĂȘ vai aceitar seus sentimentos e nĂŁo vai ter vergonha de dĂĄ-los aos outros. vocĂȘ vai amar alguĂ©m simplesmente porque vocĂȘ quer amar. e amar vai deixar de ser aquele peso assustador, passando a se tornar uma vela que ilumina o canto daquele quarto confortĂĄvel dentro do seu ser. vai demorar, mas vocĂȘ vai aprender a deixar que te amem por ser somente quem vocĂȘ Ă©. vocĂȘ vai perder grandes amores por nĂŁo ter se achado digna de amor, mas vai descobrir que Ă©. e vocĂȘ vai continuar sem alguĂ©m por tanto, mas tanto tempo que vocĂȘ vai se sentir sĂł e carente. mas vocĂȘ vai aguentar. porque vocĂȘ vai decidir que a ti nĂŁo basta desejar ou se apaixonar: vocĂȘ sĂł aprendeu a amar. e vocĂȘ aguardarĂĄ o momento em que finalmente poderĂĄ canalizar todo esse amor.
prestes a fazer 21 anos, vocĂȘ vai sentir como se estivesse fazendo 30. vocĂȘ vai se odiar por todo o tempo que sente que perdeu, mas vai respirar fundo e vai se perdoar. vocĂȘ vai aprender a se amar. vocĂȘ vai descobrir que a maior loucura que se pode fazer, por amor, Ă© perdoar. e vocĂȘ vai se abraçar. vocĂȘ vai ficar ao seu lado e vai segurar sua mĂŁo como ninguĂ©m foi capaz de fazer. vocĂȘ vai perceber que desperdiçou muito tempo procurando na vida o que vocĂȘ sempre teve, mas nunca valorizou: vocĂȘ. e vocĂȘ vai se permitir se apaixonar perdidamente por vocĂȘ, a valorizar cada momento em que passamos juntas. vai abraçar cada parte de vocĂȘ, que hĂĄ dentro de vocĂȘ, cada idade que vocĂȘ teve e cada faceta, cada sentimento, atĂ© mesmo os piores. vocĂȘ vai se permitir errar. vai se permitir esquecer. vai se permitir viver e serĂĄ incrĂvel.
acima de tudo, vocĂȘ vai meditar. vocĂȘ vai sorrir ao perceber que aprendeu muito, mas que ainda hĂĄ muito a aprender. vocĂȘ vai se animar ao perceber que, por mais irritante que seja nĂŁo conseguir as coisas da forma exata e no tempo que vocĂȘ gostaria, vocĂȘ ainda Ă© capaz. e vocĂȘ vai se acolher mesmo nos dias em que a vida faça o menor sentido. vocĂȘ vai ser falha e, ainda assim, vai ser tĂŁo completa que vai se assustar. vocĂȘ vai ser vocĂȘ. e vai se amar por ser vocĂȘ. e vai se odiar por ser vocĂȘ. e mesmo quando odiar, vocĂȘ vai aceitar que estĂĄ tudo bem ter dias assim. momentos assim. vivĂȘncias assim.
luiza, tudo que vocĂȘ aprendeu durante todos esses anos veio de ensinamentos carregados de dor e muito sofrimento. vocĂȘ nĂŁo precisava ter passado por isso e eu sinto muito, muito mesmo por toda a dor que vocĂȘ sentiu. mas vocĂȘ nĂŁo vai conseguir negar o fato de que, hoje, vocĂȘ sĂł Ă© capaz de ser tĂŁo leve e feliz assim, porque um dia carregou o peso da tristeza que viver pode trazer. e no dia em que vocĂȘ perceber que nĂŁo tem mais medo do seu lado falho, ruim, infeliz, irritado, socialmente desajustado e malvado, vocĂȘ vai ser muito, muito feliz.
atĂ© lĂĄ, o que eu posso te prometer Ă© que vocĂȘ vai ver o quanto vocĂȘ pode ser forte. e o quanto vocĂȘ ainda poderĂĄ ser forte e admirĂĄvel.
vocĂȘ ainda nĂŁo consegue aceitar isso, mas eu amo vocĂȘ. e vou carregĂĄ-la comigo, no meu peito, para todo o sempre, luiza de nove anos. assim como, em um futuro talvez breve, talvez distante, eu serei carregada por uma luiza mais velha. mais sĂĄbia. mais experiente. mais falha. mais humana. mais luiza.
feliz aniversĂĄrio.
Luiza Manchon.
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o sentido Ă© que nĂŁo faz sentido e por isso que Ă© gostoso assim
Se vocĂȘ me lançar um blues, eu te devolvo um pagode; sua rĂ©plica Ă© um jazz, entĂŁo eu mando rock. VocĂȘ grita Ăłpera e eu sussurro bossa-nova, ao passo que o Ăłleo beija a ĂĄgua. Berra bem baixinho no meu ouvido que eu te bato com carinho e nĂłs dois fingimos que nada aconteceu. Se tua boca Ă© um tĂșmulo, meu ouvido Ă© pinico e do zĂper dos meus lĂĄbios sĂł vocĂȘ sabe abrir a fechadura.
Ontem concordamos em cinco versos por frase e eu escrevi assim como prometi. EntĂŁo, fecha os olhos e escuta o toque quente da mĂŁo gelada que, acanhada, tenta desesperadamente tocar a sua.
Luiza Manchon.
#poesia#poema#escrita#escritura#escritor#escritora#literatura brasileira#literatura#romĂąntico#romance
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"Carta de amor que eu amassei e joguei no lixo."
eu sempre quis te contar sobre os sentimentos que entalei em minha garganta durante tanto tempo, pelos motivos mais diversos. retirar meu coração do peito, o colocar sobre a mesa e o fatiar em pedaços, manuseando com o garfo para te mostrar aquilo que mora no meu Ăąmago. se vocĂȘ pudesse ver 1% do que eu vejo em vocĂȘ, acabaria parando nos jornais por se tornar a versĂŁo contemporĂąnea do mito de narciso. vocĂȘ implodiria de amores por si mesmo e perceberia que nem mesmo habitar seu prĂłprio ser seria o suficiente para aguentar todo esse amor.
eu sempre quis pegar tua mĂŁo pra mim. segurĂĄ-la contra o rosto e amassar a bochecha nela atĂ© que o calor do meu corpo se igualasse ao seu. eu beijaria a ponta dos teus dedos, um por um, e ainda assim nĂŁo me contentaria: teria de afundar a boca na tua palma e beijar cada traço que nela tenha, como um devoto honra seu Ădolo, para enfim abraçå-la rente ao peito e suspirar de paixĂŁo.
eu sempre quis perder os dedos entre teus cabelos, sentir o cheiro fresco de shampoo. emaranhar-me neles atĂ© que eu soubesse nomear um a um, sem sequer hesitar. dar-te um colo para se aninhar enquanto tenta afastar a insĂŽnia, cantando baixinho junto a um cafunĂ© para te acalmar. e eu velaria seu sono, acordando de meia em meia hora somente para me assegurar de que vocĂȘ estĂĄ tendo o descanso que merece. eu roubaria todos os seus pesadelos e os vivenciaria em looping, ao ponto de que dormir fosse uma tortura, somente para poder te livrar. e, mesmo assim, sentiria-me a mais sortuda mulher por poder dividir a cama com vocĂȘ.
eu sempre quis te abraçar forte. manter-te em meus braços por tempo demais, passando do que Ă© socialmente aceitĂĄvel. mas tambĂ©m me deleitaria com o mĂsero segundo que eu pudesse tĂȘ-lo tĂŁo perto de mim, porque eu estaria segurando nĂŁo somente meu mundo, porque o que mais me encanta em vocĂȘ Ă© a sua complexidade enquanto existĂȘncia; eu estaria segurando todo o meu universo, perdida em puro ĂȘxtase ao poder vislumbrar cada minĂșscula e insignificante poeira cĂłsmica, que eu faria questĂŁo de exaltar atĂ© que vocĂȘ entendesse que tudo sobre vocĂȘ Ă© passĂvel de adoração.
eu sempre quis que vocĂȘ soubesse que cada momento que passo ao teu lado, Ă© visto como uma dĂĄdiva e apreciado como um evento. e que mesmo os episĂłdios mais nebulosos me sĂŁo percebidos com valor. porque amar vocĂȘ Ă© entender que sua essĂȘncia complexa nĂŁo Ă© boa, nem mĂĄ, Ă© apenas vocĂȘ. e amar vocĂȘ todo dia Ă© uma escolha. Ă© escolher depositar carinho em algo que me faz feliz. Ă© amar vocĂȘ simplesmente porque faz sentido. porque Ă© vocĂȘ. e nĂŁo teria outro sentimento que eu pudesse direcionar a vocĂȘ a nĂŁo ser esse.
Luiza Manchon.
#poesia#escrita#literatura#escritor#poema#escritora#escritura#literatura brasileira#romance#romĂąntico#carta de amor#amor#paixĂŁo
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"A lĂłgica por trĂĄs do sentido de um divĂłrcio."
Ela chega atrasada na cafeteria, mas ele estĂĄ lĂĄ, esperando por ela. NĂŁo parece surpreso quando nota que o atraso dela foi de exatos 15 minutos. Pelo contrĂĄrio: ele a observa com aquela mesma careta de sempre, entediado, conforme a assiste pendurando a bolsa na cadeira, tirando o sobretudo, o cachecol...
Enquanto ela estå cheia de tralha, ele só trouxe sua carteira, o celular, as chaves e um caderno de bolso com uma caneta. Tudo cabe em seu bolso. Mas ela precisa da bolsa, de uma ecobag para carregar algo extra e, bastasse tudo isso, ainda precisa carregar nas mãos as peças de roupa que ela usa de forma exagerada, como se fizesse, assim, tão frio. Não faz: ele só estå de camisa e blusa de lã. Mas, ela sempre foi friorenta.
â VocĂȘ nĂŁo imagina o trĂąnsito que eu peguei vindo pra cĂĄ. â Ă a primeira coisa que ela fala, assim que consegue, finalmente, se sentar.
Ele observa de forma silenciosa conforme ela tira as chaves e o celular do bolso, os deixando sobre a mesa. Mais tralha.
â Depende. VocĂȘ pegou o caminho mais longo?
â Obviamente.
Ele não se surpreende, mas também não fica contente com o que ouve.
â Esse caminho sempre te faz atrasar 15 minutos.
â Eu sei. Mas, o trĂąnsito que eu pego naquela ponte, me deixa ver a vista bonita do parque que fica embaixo. E eu gosto muito da vista bonita do parque que fica embaixo.
â EntĂŁo, saia 15 minutos mais cedo.
â NĂŁo Ă© como seu eu planejasse passar pelo caminho mais longo toda vez. Eu sempre acho que vou pelo caminho mais curto, mas quando chega a hora...
â Se vocĂȘ percebe que isso sempre se repete, por que ainda insiste?
Ela faz bico. Estica o braço sobre a mesa e rouba o cardĂĄpio do lado dele, o puxando para si. Quando abre, ela passa os olhos por todas as opçÔes possĂveis. Suspira, boba, quando se lembra das vezes em que tomou cappuccino ali. Ou daquele dia em que provou o chocolate quente. Do quentinho que sentiu no peito quando provou cafĂ© preto com brownie. E da satisfação de tomar um suco de melancia com um sanduĂche integral.
â VocĂȘ jĂĄ pediu? â Ela questiona, sem o olhar.
â NĂŁo. â Ele responde, simples. Tira o Ăłculos do rosto e passa a limpar a lente em um guardanapo. â Imaginei que vocĂȘ iria atrasar, entĂŁo esperei pra pedir quando vocĂȘ chegasse.
â Se vocĂȘ jĂĄ espera o meu atraso, por que ainda tenta me convencer de nĂŁo me atrasar? â Ela ri, jogando o jogo dele. â Por que vocĂȘ nĂŁo marca 15 minutos antes do horĂĄrio que gostaria de me encontrar?
â Dessa vez, quem chamou foi vocĂȘ.
â Ah, Ă© verdade. Tinha me esquecido. â Ela vira a pĂĄgina do cardĂĄpio mais uma vez. â O que vocĂȘ vai pedir?
â Suco de laranja e pĂŁo de queijo.
â E desde quando vocĂȘ gosta de pĂŁo de queijo?
â Eu nĂŁo gosto. Mas, vocĂȘ vai pedir alguma coisa exĂłtica, que vocĂȘ nĂŁo vai gostar, e eu vou ter que comer. E vocĂȘ vai ficar com o meu pĂŁo de queijo, como sempre. â Ele gesticula, em seguida pĂ”e o Ăłculos no rosto. â Simples assim.
â Eu nĂŁo peço nada exĂłtico. â Enfim, ela fecha o cardĂĄpio, o apoiando sobre a mesa. Sua expressĂŁo Ă© ofendida. â Meu gosto Ă© impecĂĄvel. Ă sĂł que o seu pĂŁo de queijo sempre parece tĂŁo delicioso...
â EntĂŁo, peça logo um pĂŁo de queijo, que tal?
â NĂŁo Ă© a mesma coisa.
â Como nĂŁo? Eu nĂŁo consigo entender.
â Ă claro que nĂŁo consegue... â Ela apoia o queixo na mĂŁo, desviando o olhar para a garçonete, que se aproxima. Ă possĂvel ler o apelido âCharlieâ em seu crachĂĄ. â OlĂĄ, tudo bem? Eu vou querer um cappuccino de brigadeiro com leite desnatado... E acrĂ©scimo de chantili, por favor. Junto de um pĂŁo na chapa.
â Claro, moça... â Charlie anota em seu bloquinho. â E o senhor?
â Um suco de laranja, um pĂŁo de queijo e um brigadeiro.
â Certo. Vou trazer.
Ela se ajeita em seu lugar. Enfia o cachecol na bolsa, pega o sobretudo â que estava pendurado em sua cadeira â e o usa para cobrir as coxas. Ele nĂŁo entende por que ela usa quatro, cinco casacos diferentes se no final usarĂĄ saia com uma meia-calça felpuda por dentro. E porque raios ela teima em usar aquela bota de salto, sendo que ela sempre reclama que odeia dirigir com ela, porque pega no calcanhar quando vai pisar na embreagem.
â Bom, vamos ao que interessa? â Ele joga suas cartas na mesa.
â Tudo bem. Quem começa dessa vez?
â VocĂȘ. Hoje Ă© par.
â Como assim... âhoje Ă© parâ? â Ela repete, confusa.
â Ă a 24ÂȘ vez que estamos vindo ao cafĂ© pra conversar sobre o divĂłrcio. Na primeira vez, quem falou, fui eu. Na segunda, vocĂȘ. EntĂŁo, em todas as vezes pares, foi vocĂȘ quem teve a primeira palavra. â Ele explica, lĂłgico.
â Ah, sim. â Ela murmura, sem interesse. â Eu nunca tinha percebido isso. Na verdade, eu sĂł estava falando quando tinha vontade de falar... E, nas vezes que vocĂȘ começava, eu sĂł aceitava e ouvia o que vocĂȘ tinha a dizer.
â VocĂȘ nunca planejou fazer isso em ordem, entĂŁo?
â NĂŁo. â Ela franze o cenho. Quando observa a expressĂŁo desapontada dele, ela fica inquieta na cadeira, incomodada. â Ătimo. Eu nem tive tempo de pensar em um dos motivos pro nosso divĂłrcio e vocĂȘ jĂĄ me dĂĄ um.
â Hm.
â Ă estĂșpido da sua parte fazer isso. Estamos falando sobre um divĂłrcio, afinal, e ainda assim vocĂȘ quer achar lĂłgica nas coisas. Por isso que eu jĂĄ desisti de tentar resolver a nossa relação. NĂŁo importa quantas vezes eu queira procurar um pouquinho de calor vindo de vocĂȘ, vocĂȘ Ă© frio como uma geladeira.
â JĂĄ eu, acho estĂșpido vocĂȘ nĂŁo querer achar ordem em algo. De que adianta nĂłs dois berrarmos o que guardamos aqui dentro, se nenhum dos dois ouvir o que o outro tem pra falar? Se tiver uma ordem, vocĂȘ vai me ouvir e eu vou te ouvir. Mas, vocĂȘ nĂŁo entende isso. â Ele ri nasalado, irĂŽnico. â E Ă© por isso que eu jĂĄ desisti de tentar resolver a nossa relação.
â NĂŁo seja um babaca. Tentar controlar sentimentos Ă© coisa de babaca.
â Um relacionamento nĂŁo Ă© sĂł feito de sentimentos. Relacionamento Ă© compromisso. De que adianta vocĂȘ sentir tudo, se vocĂȘ nĂŁo sabe colocar em palavras pra mim que me ama?
â E do que adianta vocĂȘ colocar em palavras o quanto me ama, se vocĂȘ age como uma pedra?
Os dois se pulverizam com o olhar. Charlie traz ambos os pedidos, os deixa sobre a mesa e o casal agradece. Em pausa de sua discussão, ela pega uma colher e då uma colherada um pedaço do chantili, o trazendo até a boca. Ele ajeita o brigadeiro no centro, o pão de queijo na direita e o suco na esquerda, bem próximo, para que ele tome de canudinho.
â Eu sĂł queria que vocĂȘ fosse um pouco mais racional, Ă s vezes. â Ele murmura, observando conforme ela troca seu prato, com o pĂŁo de queijo, pelo prato dela, com o pĂŁo na chapa; Ă© o favorito dele. â Isso, por exemplo. Por que vocĂȘ simplesmente nĂŁo pega a droga do pĂŁo de queijo pra vocĂȘ, ao invĂ©s de me obrigar a comer o que quer que vocĂȘ esteja a fim de pedir?
â VocĂȘ quer comparar nosso relacionamento com um pedido em uma cafeteria? â Ela arqueia a sobrancelha. EstĂĄ com a parte de cima do lĂĄbio suja de chantili.
â Ă um paralelo. NĂŁo faz a menor lĂłgica vocĂȘ agir desse jeito. Assim como nĂŁo faz a menor lĂłgica vocĂȘ me dizer que nĂŁo quer insistir na nossa relação, sendo que vocĂȘ sĂł usa cĂlios postiços quando quer flertar.
O rosto dela fica avermelhado. Ele não sabe dizer se é de vergonha ou de raiva, mas ela bem sabe que é os dois. A moça apanha um guardanapo e o usa para limpar o bigodinho de chantili, resmungando no processo:
â E qual o sentido de vocĂȘ esfregar isso na minha cara? Te faz se sentir melhor, por acaso?
â Ă uma constatação.
â Sim. Mas, o cĂ©u ser azul Ă© uma constatação e nem por isso toda vez que vocĂȘ o vĂȘ, vocĂȘ diz em voz alta que o cĂ©u Ă© azul. â Ela resmunga, fazendo uma pequena pausa para comer um pedacinho de pĂŁo de queijo. â VocĂȘ que nĂŁo faz sentido. Se vocĂȘ reclama tanto que eu vou roubar seu pĂŁo de queijo, que vocĂȘ nem gosta, por que vocĂȘ continua pedindo?
â Porque eu sei o que vai acontecer.
â Pois, eu acho diferente. â Ela gesticula, apontando a unha vermelha na direção dele conforme continua: â Eu acho que vocĂȘ pede o pĂŁo de queijo de propĂłsito. Porque vocĂȘ quer me agradar. E porque vocĂȘ sabe que eu nĂŁo quero comer um pĂŁo de queijo; eu quero comer o seu pĂŁo de queijo. E ainda assim, vocĂȘ olha pra mim e diz que nĂŁo quer ter mais nada comigo.
â NĂŁo tem lĂłgica. â Ele nega. â NĂŁo faz sentido eu fazer algo assim, sĂł porque eu quero te agradar.
â Ă claro que faz. â Ela ri, dando de ombros. â Veja, eu fiz a mesma coisa que vocĂȘ, agora, e vocĂȘ nem reparou. Eu pedi pĂŁo na chapa, que vocĂȘ gosta, porque nĂłs Ăamos trocar de prato.
Ele franze o cenho. Parece abismado.
â NĂŁo. NĂŁo faz o menor sentido. Bastava eu pedir um pĂŁo na chapa e vocĂȘ pedir um pĂŁo de queijo. Qual Ă© a diferença de vocĂȘ ou eu pedirmos, se no fim vamos comer a mesma coisa?
â Viu? Ă por isso que estamos nos divorciando. â Ela lambe a colher, depois de misturar o chantili ao cappuccino que, na opiniĂŁo dele, Ă© rococĂł demais. â Porque vocĂȘ nĂŁo entende que o amor estĂĄ nas entrelinhas. O amor nĂŁo precisa ser Ăłbvio, nĂŁo precisa ser uma âconstataçãoâ.
Ao finalizar seu suco de laranja, ele pondera bem quais palavras irĂĄ usar em seguida, para enfim poder degustar de seu pĂŁo na chapa.
â Eu discordo. O amor nĂŁo tem de estar nas entrelinhas, pelo contrĂĄrio. Do que adianta vocĂȘ fazer algo pensando em mim, se vocĂȘ nĂŁo me avisa? Pra mim, o mais lĂłgico era que vocĂȘ nĂŁo queria se esforçar e pensar em pedir algo, jĂĄ que vocĂȘ iria comer meu pĂŁo de queijo. Mas, vocĂȘ vira pra mim e diz que pediu o meu favorito, porque irĂamos trocar. Como vocĂȘ quer que eu perceba isso, se vocĂȘ nĂŁo me afirma?
â Porque tem coisas que nĂŁo precisam ser reafirmadas. â Ela gesticula, simples. â Se vocĂȘ sabe que eu amo vocĂȘ, por que Ă© difĂcil entender que faço coisas pensando... em vocĂȘ?
Ele para por alguns instantes... Olha para cima, pÔe a mão no queixo. Enquanto mastiga seu pão, ele arqueia rapidamente as sobrancelhas, com os olhos um pouquinho mais abertos, antes de admitir:
â Ă, isso tem lĂłgica.
â Viu? â Ela abre um sorriso. Se sente vitoriosa. â Agora, me diz: vocĂȘ realmente sĂł pede o pĂŁo de queijo porque se acostumou comigo roubando seus pĂŁes de queijo, ou vocĂȘ faz isso porque, aĂ dentro, vocĂȘ quer me agradar?
â Seria mais lĂłgico eu simplesmente pedir o pĂŁo de queijo pra vocĂȘ.
â E vocĂȘ pediu. Assim como eu pedi o pĂŁo na chapa. SĂł que nĂłs pedimos no nosso nome e depois trocamos. â Ela mexe a colher no ar, fazendo uma volta. â A sua lĂłgica sempre tem que ser horizontal ou vertical? Ela nĂŁo pode ter um formato de, sei lĂĄ, uma rasura?
â Uma lĂłgica rasurada poderia ser facilmente transformada em uma lĂłgica horizontal ou vertical. â Ele afirma, convicto. â Ao invĂ©s de fazermos toda essa volta, faz muito mais sentido que eu simplesmente peça por nĂłs dois e, no final, te diga que pedi pĂŁo de queijo porque vocĂȘ gosta.
â Ă verdade, isso seria bem mais fĂĄcil. â Ela tem de admitir, embora nĂŁo goste muito. â Mas, no final, o resultado nĂŁo foi o mesmo?
â Foi.
â EntĂŁo, pra que usar uma lĂłgica tĂŁo objetiva todas as vezes? â Ela dĂĄ de ombros. â Por que nĂŁo complicar as coisas? Dar profundidade a elas. Complexidade. Emoção.
â VocĂȘ diz isso, mas sempre se dispĂ”e a sentar comigo e conversar de forma extremamente objetiva sobre a nossa relação. â Ele argumenta, se endireitando na cadeira. â Deixa claro o que vocĂȘ acha que estĂĄ âentrelinhasâ e sĂł assim que conseguimos, realmente, nos entender.
â Concordo, mas sĂł em partes. â Ela ressalta. â Ă verdade que conseguimos entender algumas coisas de um jeito melhor quando elas estĂŁo estampadas na nossa cara. Mas, tem outras que nĂłs simplesmente pescamos no ar... sentimos.
â Tipo o que, por exemplo?
â Tipo o fato de que vocĂȘ reparou que eu estou de cĂlios postiços e lembrou que eu uso eles quando quero flertar.
â UĂ©, Ă© uma afirmação, uma verdade. VocĂȘ, de fato, estĂĄ de cĂlios postiços. E vocĂȘ, de fato, usa eles quando quer flertar.
â Eu sei, mas por que vocĂȘ acha que vocĂȘ reparou nisso? Ou por que vocĂȘ acha que ainda se lembra de como eu gosto de flertar, se estamos nos divorciando? â Ela o encurrala com suas perguntas certeiras. â Porque vocĂȘ se importa.
â Ă claro que eu me importo. VocĂȘ fez parte da minha vida. VocĂȘ foi importante.
â NĂŁo. Quem foi importante, a gente lembra das memĂłrias. A gente nĂŁo pede pĂŁo de queijo no cafĂ© da tarde, fala dos cĂlios postiços e tampouco fica olhando o jeito que ela se veste. Isso a gente faz com quem Ă© importante. Isso a gente faz com quem a gente ama.
â Eu nĂŁo fiquei olhando o jeito que vocĂȘ se veste.
â Os olhos nĂŁo mentem, querido.
Ele respira fundo.
â Se vocĂȘ estĂĄ dizendo que tudo isso Ă© verdade, que eu realmente ainda amo vocĂȘ por fazer tudo isso... Por que vocĂȘ diz que eu sĂł falo que te amo? Que nĂŁo demonstro meu amor, se vocĂȘ estĂĄ âpescando no arâ?
â Porque Ă© o que eu sinto... sobre como eu acho que vocĂȘ se sente. â Ela afirma, limpando as mĂŁos com o guardanapo. â Eu quero que vocĂȘ me ame, entĂŁo sinto que vocĂȘ faz esse tipo de coisa porque me ama. Mas, vocĂȘ nĂŁo me dĂĄ a certeza. Porque vocĂȘ estĂĄ ocupado demais querendo achar lĂłgica em tudo... e nĂŁo aceita que o amor nĂŁo tem lĂłgica.
â O amor tem lĂłgica, sim.
â Pois bem: me explique a lĂłgica do amor, Einstein.
â Eu amo quando vocĂȘ usa o apelido que eu te disse que gostava. Amo quando vocĂȘ faz biquinho quando Ă© contrariada e amo como vocĂȘ simplesmente nĂŁo consegue ficar fisicamente parada enquanto estamos discutindo. Eu amo vĂĄrios detalhes sobre vocĂȘ, entĂŁo nada mais lĂłgico que o tanto de detalhes que eu amo em vocĂȘ, façam com que eu ame vocĂȘ por inteira.
Ela cora e, dessa vez, os dois entram no consenso de que foi por paixĂŁo.
â Mas, por que vocĂȘ gosta desses pequenos detalhes em mim, e nĂŁo em outras pessoas? JĂĄ parou pra pensar nisso?
Terminado o café, os dois se erguem. Embora não faça lógica, ele insiste em levar a bolsa dela, por mais que ela tenha toda a capacidade de segurar. Não faz muito sentido, mas, quando eles vão se afastando da mesa, em direção ao caixa, ela faz questão de ajeitar a cadeira por ele, que por vezes esquece de o fazer.
â Porque Ă© vocĂȘ.
â E por que sou eu?
Os dois ficam em silĂȘncio. Ă lĂłgico que ele pague por ela, porque o salĂĄrio dele Ă© maior que o dela e tem razĂŁo por trĂĄs dele gastar aquele dinheiro. Assim como faz sentido que ela se apoie nele para abaixar e amarrar o cadarço da bota, simplesmente por querer tocĂĄ-lo e sentir que o tem mais perto de si.
â NĂŁo sei dizer.
â EstĂĄ vendo? â Ela se ergue novamente, aproveitando para apanhar a chave do carro. â NĂŁo tem lĂłgica... Mas, faz sentido.
â Mas, vocĂȘ admite que eu amar os pequenos detalhes em vocĂȘ fazer com que eu ame vocĂȘ, tem muito mais lĂłgica do que sentido, nĂŁo admite?
â Sim, eu admito.
Os dois se olham por alguns segundos, em silĂȘncio, na porta da cafeteria.
â VocĂȘ quer carona? â Ela quebra o silĂȘncio.
â Qual o sentido por trĂĄs dessa carona?
Ela abre um sorriso.
â Me diz a lĂłgica, primeiro.
â Bom... Ă lĂłgico que vocĂȘ queira me dar carona. Porque minha casa fica no caminho entre a cafeteria e a sua casa. E estĂĄ frio, se vocĂȘ nĂŁo me der carona eu vou pegar metrĂŽ e posso resfriar.
â Sim, vocĂȘ tem razĂŁo. Ă o mais lĂłgico a se fazer... â Ela se vira em direção ao carro, seguindo atĂ© o celta prateado. â O sentido estĂĄ em eu me importar com vocĂȘ. Eu me importo que vocĂȘ se resfrie. E tambĂ©m gostaria de passar mais tempo com vocĂȘ.
Ele abre a porta de trĂĄs. Deixa a bolsa dela e ela aproveita para deixar sua ecobag. Ela estĂĄ escorada, de lado, o olhando conforme ele fecha a porta e se escora igualmente. Ele com as mĂŁos nos bolsos, ela com os braços cruzados. Ela o olha como se fosse seu tudo, mas ele nĂŁo consegue perceber isso tĂŁo bem. E ele nĂŁo vĂȘ lĂłgica na sua vida sem ela, mas ela nĂŁo consegue compreender isso por completo.
â Sabe o que eu acho que faz sentido e lĂłgica, querida?
â Hm?
â Se nĂłs desistĂssemos dessa ideia imbecil de divĂłrcio. Porque nĂŁo faz sentido. E nĂŁo tem a menor lĂłgica.
â Ă, acho que vocĂȘ tem um ponto... â Ela abre um sorriso, se aproximando. â AlĂ©m disso, nĂłs nĂŁo podemos simplesmente ficar levando o Ego de lĂĄ pra cĂĄ. O gato vai ficar maluco se tiver que se mudar mais uma vez, sabe?
â Ă, vocĂȘ estĂĄ certa. Faz sentido.
Cérebro e Coração se beijam.
Luiza Manchon.
#prosa#escrita#escritura#escritor#escritora#literatura#literatura brasileira#romance#romĂąntico#plot twist
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melodia infinita
Toque para mim. Toque a canção que toca em seu coração, que ecoa em sua mente, que transparece em teus dedos, que faz com que feches os olhos e murmure, baixinho, o ritmo. Sente-se ao pé do piano e apenas saia daà quando eu me derramar em lågrimas; se canse apenas quando a emoção encostar em meus dedos, ecoar em minha mente, tocar meu coração e se fixar em minha alma. Do contrårio, não pare.
Continue assim. Com os olhos fechados, os lĂĄbios entreabertos, os dedos deslizando, por entre o branco e preto, e o pĂ©, vez ou outra, tamborilando no chĂŁo. Mantenha-se focado na mĂșsica, assim nĂŁo perceberĂĄs que jĂĄ me emocionei muito antes da primeira nota. ContinuarĂĄs tocando, sem parar, enquanto choro baixinho, com minha prĂłpria trilha sonora, para minhas prĂłprias lĂĄgrimas.
Toque para meu coração. Permita-me sentar ao seu lado e admirar de perto tua mĂșsica. Deixe que eu acompanhe com os olhos, que morda meus lĂĄbios para evitar soluços, que me cegue com minhas lĂĄgrimas incessantes. Continue assim. Tocando minha alma como se fosse seu piano, fazendo com que cada nota seja uma batida de meu coração, cada murmĂșrio minha respiração, e cada movimento com o pĂ©, uma piscada.
Faça-me, meu amor. Transforma-me em uma mĂșsica que nunca termine, que seja frenĂ©tica ou lenta, com um som Ășnico, um ritmo perfeito. Pois, sua jĂĄ sou; sĂł basta tocar.
Luiza Manchon.
#poesia#poema#escrita#escritura#escritor#escritora#literatura#literatura brasileira#piano#declaração de amor#apaixonado#apaixonar#apaixonante#amor#mĂșsico#eu tenho um penhasco por mĂșsicos
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sete de julho
TĂȘ-la em meu jardim Ă© como ter um anel de diamante em meio a outros mil anĂ©is. TĂȘ-la em minha vida Ă© como uma brisa de verĂŁo, que lhe dĂĄ uma sensação de conforto e te abraça, livrando-te do incĂŽmodo que o calor pode trazer. Apenas nĂŁo sei como Ă©, para ela, ter-se em meu jardim, lĂĄ no centro, seguindo o Sol como o belo girassol que ela Ă©.
Independentemente disso, ela permanece. Por obrigação? Não tenho ideia. Mas ela permanece, mesmo que tenha a chance de ir. Continua ali nos dias que esqueço de regå-la, continua ali nos dias que não apareço para caminhar pelo jardim. Ela continua ali, disposta para seguir o Sol e se mostrar radiante para mim.
Ela cuida de mim mais do que eu cuido dela. E nĂŁo Ă© por ausĂȘncia de tentativas, Ă© apenas porque sou mais dependente dela do que ela Ă© dependente de mim. TĂȘ-la aqui Ă© como ter um abraço de mĂŁe num dia frio de inverno, apĂłs cair e ralar o joelho, brincando de pega-pega com os colegas. TĂȘ-la aqui Ă© como ter uma rede na praia, onde eu possa descansar e encontrar um momento de paz frente Ă maresia.
Apenas nĂŁo sei se ela, um dia, irĂĄ me perdoar por cada gota que esqueci de derramar, cada passo que preferi nĂŁo dar, cada sorriso que em meus lĂĄbios nĂŁo apareceu. Independentemente disso, eu a amo. E tĂȘ-la aqui, Ă© saber que ela tambĂ©m.
(para maria. um dos vĂĄrios, para maria).
Luiza Manchon.
#poesia#poema#escrita#escritura#escritor#escritora#literatura#literatura brasileira#saudade#amor#carinho#girassol
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"Com quantas garrafas de vidro eu consigo fazer uma escada que me leve atĂ© vocĂȘ?"
Uma vez, eu soube que vocĂȘ amava garrafas de vidro. Daquelas gordinhas, as pouco maiores que uma mĂŁo, com o vidro cristalino e bem limpinhas, tendo uma tampa prateada de rosquear como fechadura. Pensei em lhe comprar uma, entĂŁo. E eu comprei, mas nunca tive coragem de lhe entregar, jĂĄ que eu nunca pude te entregar.
Aos poucos fui esquecendo. Esquecendo que aquele pequeno sĂmbolo da minha fraqueza estava protegido atrĂĄs das portas de madeira de um armĂĄrio velho da cozinha. Mas me lembrei: vocĂȘ gosta de garrafas de vidro. Comprei uma garrafa de vidro para vocĂȘ, mas eu jĂĄ tinha comprado outra antes. Agora, eu tinha uma somatĂłria de duas garrafas de vidro para vocĂȘ. E isso foi se sucedendo. Duas, trĂȘs, quatro, vinte.
Eram tantas garrafas. Eu completei as duas estantes do armĂĄrio que sĂł sabia ranger, alinhando-as todas. Com o tempo, eu percebi que eu nĂŁo me esquecia. Eu queria te comprar todas as garrafas de vidro existentes no mundo, lhe entregar todas e receber um sorriso. Eu queria apenas isso. As garrafas prendiam-se em meu coração conforme os dias passavam. JĂĄ nĂŁo cabiam mais. Depois de um mĂȘs as colecionando, eu apenas me sentia cada vez mais vazio e culpado. Eu queria tanto...
OlhĂĄ-las, vazias, era como olhar para mim mesmo. Era perda de tempo, nĂŁo adiantava de nada, e apenas me frustrava cada vez mais. Vinte garrafas de vidro vazias.
Decidi que iria enchĂȘ-las com o que me desse na telha. EnchĂȘ-las de sentimentos, assim como eu mesmo me sentia repleto deles. Uma delas enchi de conchinhas. A outra joguei terra fresca. Mais uma, enchi de folhas laranjas de um outono solitĂĄrio. Eram tantas coisas diferentes, tantos sentimentos diferentes em meu peito. Eu as enchi todas, deixando-as todas coloridas e bem cuidadas, limpas e cheirosas.
Mas faltava uma.
Claro que me tomou muito tempo colher pĂ©talas de flores para encher 750ml de vazio das garrafas. Entretanto, nenhuma demorou tanto quanto a Ășltima. A Ășltima, eu enchi de lĂĄgrimas. Das mais felizes atĂ© as mais tristes. As enchi com cada gota que escorreu de meus olhos, seja qual fosse a razĂŁo, deixando que aquela se tornasse a mistura de todas, de todos os sentimentos presos no meu peito.
Mesclei as bolinhas de gude com os pedaços de papel rasgado e transformei tudo em lågrimas, fiz com que cada uma delas se tornasse uma gota de sangue e aquele armårio gasto virasse meu coração tão gasto ainda.
Eu realmente nĂŁo me importaria caso vocĂȘ resolvesse abrir cada uma delas. Libertar o algodĂŁo sujo de corante, ou deixar que as plumas brancas voassem pelo ar. Mas, por favor, eu te imploro... Jamais beba minhas lĂĄgrimas.
Luiza Manchon.
#prosa#escrita#escritura#escritor#escritora#literatura#literatura brasileira#sentimentos#melancĂłlico#melancolia
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ensaio sobre buquĂȘs de flores e capachos de porta
Hoje lhe endereço um buquĂȘ. Repleto das flores que vocĂȘ gosta, mas com outras que te faça sentir vontade de gostar. AmanhĂŁ lhe endereço outro. Colorido, com o objetivo de te fazer sorrir. Perfumado o suficiente para que faça com que vocĂȘ cheire, diariamente, as flores. Depois de amanhĂŁ, lhe endereço mais um!
NĂŁo importa como esse chegarĂĄ a vocĂȘ. Ele vai chegar, eu prometo que vai. E com eles, mandarei meus mais profundos sentimentos. Para sempre, lhe endereço meu amor.
Sendo assim, no dia seguinte ao meu Ășltimo buquĂȘ, abra a porta e olhe bem ao pĂ© do tapete da entrada; os sentimentos sĂŁo abstratos, mas estarĂŁo extremamente palpĂĄveis lĂĄ, ao pĂ© do tapete da entrada, assim como as flores que, diariamente, lhe enderecei.
Luiza Manchon.
#poesia#poema#escrita#escritura#escritor#escritora#literatura#literatura brasileira#romance#romùntico#declaração#amor
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a receita da entrega
Abandonei-me. Hoje, abandonei meu corpo, minha mente, meus olhos, minha boca, meu nariz e minhas orelhas. Abandonei-me e apenas foquei em meu coração. Foquei-me. Hoje, foquei-me em meu coração, meus sentimentos, minhas batidas cardĂacas, meu sangue, minhas veias e artĂ©rias. Abandonei-me e foquei-me em meus sentimentos.
Necessitei-me. Hoje, necessitei de mim, logo apĂłs abandonar-me. Meu corpo, minha mente, meus olhos, minha boca, meu nariz, minhas orelhas, meu coração, meus sentimentos, minhas batidas cardĂacas, meu sangue, minhas veias, minhas artĂ©rias e minha alma. Abandonei-me, foquei-me e necessitei de vocĂȘ.
Pedi-lo. Hoje, pedi com todas as forças por ti. O que eu abandonei, o que eu foquei, o que eu necessitei... Tudo pediu por ti, trabalhando em um conjunto falho, para que lhe trouxesse para mim. Chorei. Hoje, permiti que lågrimas escorressem após pedir-lhe. Elas escorreram de meus olhos abandonados, por minhas bochechas abandonadas, até alcançar meu peito e fazer meu coração focado doer até, finalmente, ferir minha alma.
Feri-me. Hoje, após abandonar-me, focar-me, necessitar-me, pedir-lhe e chorar, percebi que eu apenas feria a mim mesma e à minha alma. Abandonar-me-ei. Amanhã, após o que passei hoje, ei de abandonar meu coração e minha mente mais uma vez. Ademais, não ouvirei meu peito oco e minha cabeça vazia chorando para que fiquem completos; chorando por ti.
Roguei-lhe: Não me abandones. Foques em mim. Necessite-me. Peça por mim. Seque minhas lågrimas. Cure-me. Não me deixes. Amo-te. Por fim, lembrei-me de que lhe amo. Após abandonar-me, focar-me, necessitar-me, pedir por ti, chorar, ferir-me e abandonar-me outra vez. Hoje, eu me descontrolei, mais uma vez.
Controla-me.
Luiza Manchon.
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vocĂȘ parece preferir cafĂ© com açĂșcar
Ăs vezes, em tardes assim, eu me pergunto como seria se as gotas gentis conhecessem as amargas, se o cristalino se fundisse ao preto. Pela janela, a chuva escorre como lĂĄgrimas tĂmidas em uma bochecha avermelhada.
Por entre meus dedos, cobertos pela blusa de lã, o café se remexe como um terremoto toda vez que o ponho sobre a mesa. A fumaça sobe linda, e some no ar como lågrimas desaparecem da face de alguém.
Chove frio. E aqui dentro estå quente, meu café estå quente, minhas mãos estão quentes. E sempre que encosto as pontas dos dedos no vidro sutilmente embaçado, eu sinto o choque térmico atingindo-me. O gentil é tão frio, e o rude tão quente.
Talvez, se os lĂquidos se misturassem, ocorresse uma reação harmoniosa. Ficaria nem frio nem quente, nem gentil nem rude. Por enquanto, fico a me perguntar: serĂĄ que algum dia a tua chuva vai respingar na espuma do meu cafĂ©?
Luiza Manchon.
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me vĂȘ uma porção de coraçãozinho, por favor?
Quando eu te dei meu coração, vocĂȘ nĂŁo soube o que fazer. SĂł sabia que era precioso e, por ser precioso, vocĂȘ pensou em esconder.
EntĂŁo, vocĂȘ engoliu meu coração; me triturou com seus dentes, me engoliu em seco, me deixou afogar no suco gĂĄstrico. Deixou seu corpo se aproveitar de todos os nutrientes sĂł para depois descartar o que sobrou, porque vocĂȘ nĂŁo viu mais nenhum valor energĂ©tico nas minhas calorias.
Luiza Manchon.
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vinte e dois de abril de dois mil e vinte e dois
Ăs vezes eu queria ser dessas garotas que todo mundo quer. Que sĂŁo cortejadas e que tem gente fazendo fila por um pingo de atenção. Ando me sentindo tĂŁo desinteressante, borocoxĂŽ... segunda opção. Sabe, aquelas pessoas que sempre sĂŁo as madrinhas, nunca as noivas? Sei que sou jovem demais para reclamar e inexperiente demais para sentir falta de algo assim, mas sinto.
Sonho acordada com o dia em que alguém vai fazer alguma loucura de amor por mim. Que eu vou poder relaxar e ter certeza de que a pessoa me quer, não ficar na insegurança. Queria que, assim que me vissem, pegassem na minha mão e me cumprimentassem com um beijo nas costas dela. Acho que jå estå na hora de eu ser tratada como uma princesa. Né?
Luiza Manchon.
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vocĂȘ queria uma vilĂŁ? eu lhe entrego a melhor que eu puder montar
NĂŁo quero soar rude; vocĂȘ parece do tipo de cara legal que Ă© chegado na famĂlia e faz doação todo final de mĂȘs. Ouvi por aĂ que sua mĂŁe disse que eu era um bom partido e que ela adoraria ter uma nora como eu. Mas, nĂŁo se engane: vou te dar esse conselho porque vocĂȘ parece do tipo de cara legal que chora com filme de animação e curte mĂșsica clĂĄssica ou jazz...
Eu vou te seduzir com sorrisos, dedilhar sua alma com a ponta das unhas, assombrar seus sonhos e aparecer casualmente com aquele batom que vocĂȘ gosta. Eu sou cruel, uma viĂșva negra; vou jantar seu coração enquanto bebo suas lĂĄgrimas em uma taça de champanhe. Como uma sereia, vou te encantar com palavras doces te segurar pelo rosto como nenhuma te segurou antes e te afogar sem dĂł, assistindo vocĂȘ se debatendo com um sorriso no rosto enquanto rasgo suas bochechas com as unhas carmim.
NĂŁo quero me gabar, longe de mim, mas por onde eu vou, Ă© impossĂvel controlar: eu devoro almas indefesas com minha paixĂŁo ardente.
Luiza Manchon.
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se vocĂȘ fechar os olhos, eu posso beijar cada cĂlios seu
Fecha os olhos e segura minha mão, deixa eu cantar bossa-nova ao pé do seu ouvido e te conduzir pela cintura no salão do meu coração. Entrelaça os dedos nos meus: se solta, encosta em mim e deixa o peso cair sobre o meu corpo. Nós dois espatifando no chão explodindo em brilhos carmim.
Olha para mim e, uma Ășltima vez, me veja nua mesmo com meu casaco mais grosso; quebre as paredes da minha insegurança e me coma como a cereja do bolo do seu sabor favorito. Deixa eu amar vocĂȘ uma Ășltima vez como nĂŁo tive a chance de amar â como tive medo de amar. Deixa eu mostrar pra vocĂȘ como me moldar como argila porque eu sou toda sua...
(eu espero que isso seja um adeus.)
Luiza Manchon.
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