feitodesal
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feito de sal
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poemas dramáticos e fora de ordeminstagram: @tthaynass
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feitodesal · 1 year ago
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Buraco do Coelho
Escrever é quase uma reação involuntária, como respirar. Da mesma forma, se eu não escrever, eu morro? Talvez. Não fisicamente, mas quem sou eu sem escrever? Não sei. A escrita sempre achou um caminho para me encontrar, mesmo quando eu mal sabia escrever. Se olho para trás, sempre a vejo comigo. Em meus diários, em versos rabiscados em qualquer canto, em cartas, depois, em poemas e, enfim, em histórias inventadas. Escrever, para mim, sempre teve a ver com sentimentos, com criar. Quem sabe, com inventar uma realidade. Por mais triste que um texto seja, escrever sempre torna tudo bonito. Por pensar assim, tive dificuldade de entender o Simbolismo quando lia um poema de Augusto dos Anjos. "Usam palavras feias, não poéticas", minha professora explicou. "Mas toda palavra é poética" pensei, em voz alta. "'Escarro', é?" ela perguntou de volta. "Não", admiti. Mas por quê, mesmo assim, "O beijo, amigo, é a véspera do escarro" ainda soa tão bem? Escrever sempre torna tudo bonito. Às vezes, escrever também pode ser doloroso, por isso, percebo que estou me escondendo de vez em quando — o quanto posso, é claro, já que trabalho com isso. Mas as palavras sempre voltam para mim. Talvez, mais do que sentimento, escrever sempre teve a ver com dor, com tristeza. Foi e ainda é minha rota de fuga, meu Buraco do Coelho. Meu jeito de consertar as coisas. Quem sabe, também, tenha a ver com essa minha mania de tentar — e falhar — controlar tudo. Não sei. Só sei que, nesse mundo feito de sal, às vezes, escrevo para que pare de arder.
- Thayná Santos
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feitodesal · 2 years ago
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Eu desconheço qualquer outra versão de mim
São décadas de medo e submissão
Décadas dizendo "sim" quando gostaria de gritar: não
Fazendo uma cara boa, concordando e sorrindo porque é o que esperam
E eu não posso decepcionar ninguém além de mim
Tudo o que escondi está vindo a tona
Eu não sinto nada
Até sentir que não tem ar suficiente para mim
Areia sob meus pés, escuto as ondas arrebentarem
Mas as paredes estão se fechando
E nenhum remédio é forte demais para me tirar daqui
Eu tenho medo de ficar só
Mas eu já me sinto só há tanto tempo
Eu tenho medo de não acordar
Mas quando acordo, quero voltar para a cama
Eu tenho medo, vou explodir
E nenhum remédio é forte demais para me tirar daqui
Quero, quero, quero te tocar
Mas meus dedos estão sujos de sangue
Não consigo ver minhas feridas manchando tua pele
Eu conto mentiras, eu fico em silêncio, sei que você vai desistir
Todo mundo já desistiu até aqui
Desculpe, eu não consegui focar
Eu não consegui ficar
Eu sei, eu falei que eu queria
Mas não consigo lidar
Tenho que sair, tenho que fugir
E nenhum remédio é forte demais para me tirar daqui
Eu queria sentir, mas meu peito está se esmagando
Não acredito no que eu sinto, minha mente está gritando
Não consigo, não consigo sair daqui
- Thayna Santos
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feitodesal · 3 years ago
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Se eu sair de casa sem pensar tanto a respeito
Se eu mudar a cor do meu cabelo para algo que seja normal
Se eu sorrir ao invés de revirar os olhos
Se eu parar de me sentir culpada
Se os gatilhos não engatilharem mais
Se um dia, de repente, eu nunca mais me sentir um estranho no ninho
Eu vou amar a vida?
Eu vou amar a vida?
Se eu me levantar com o sol sem ter que me convencer do porquê
Se meu trabalho não me esvaziar, me secar
Se o vazio que tento a todo custo preencher, de repente, não existir mais
Eu vou amar a vida?
Se minha cabeça, um dia, silenciar
Se eu sentir mais que pensar
Eu vou amar a porra da vida?
Eu vou?
Se de repente, eu não me odiar
Se eu não tiver medo
De me expor, de rejeição, de ser amada
Eu vou amar a porra da vida?
Se eu mudar de ideia e acreditar que eu pertenço
Se o silêncio não me soar mais tão atraente
Se o fim não for meu maior sonho
Eu vou a amar a vida?
Porque eu acho que não
- Thayná Santos
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feitodesal · 3 years ago
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17h17, você
Sempre me lembro
Da janela do ônibus, o Cemitério Paquetá
Deveria ter deixado ali, todo dia, um pouco de ti
Agora, o relógio me chama diariamente mesmo sem uma rotina que justifique
Mesmo tendo passado tanto tempo daquela mania de olhar o celular, coincidentemente, sempre no mesmo horário
"Tem alguém pensando em você" diz a sabedoria popular
Irônico, eu diria, já que sou eu quem lembra
Roxo, o que sinto
Percebi sem querer, sem por quê
Que é sobre você
Mas não significa nada
Além da espera de ver desbotar
Olhando assim, o tempo todo
Será que consigo notar?
Na primeira vez que senti, fui salva
E na segunda, também
Talvez seja apenas esse o seu enredo para mim
Porque antes da terceira, eu salvei a mim mesma
-
Thayná Santos
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feitodesal · 3 years ago
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Eu gosto de liberdade Mas com você, nunca me senti livre
Eu tenho todas as cores Mas com você, tudo era branco Como um hospício
Eu sempre gostei de mostrar minhas garras, minha língua afiada Mas com você, era mais fácil mentir Por isso, as perdi
Eu odeio insistência Mas ouvia você fazer um milhão de vezes a mesma pergunta, Forçando meus limites, Me obrigando a riscar o chão com giz repetidas vezes
Eu odeio insistência Mas com você, era obrigada a responder de novo e de novo e de novo
Eu sempre fui muito boa em dizer não Mas de repetente, ficar calada se tornou minha melhor reação E não era o suficiente Nem o sim, Nem o não, Nem o silêncio. Não tinha resposta certa
A voz que questiona meus desejos, Soa como a tua E em muitas das minhas sombras, reconheço tua silhueta
Já cheguei a pensar o que seria de mim sem você Hoje, penso quem eu teria sido se não fosse você (Tão mais eu)
Você, longe Tudo está no lugar Eu sempre soube que sou melhor sem você Só não sabia o que me fazia voltar
Agora, já não espero mais pelo que você poderia ser Aceitei o que você é E você não é para mim
- Thayná Santos
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feitodesal · 3 years ago
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𝗲𝘂, 𝗼𝗰𝗲𝗮𝗻𝗼, 𝗲 𝘃𝗼𝗰𝗲̂ (𝗼 𝗺𝗲𝗹𝗵𝗼𝗿 𝗽𝗼𝗲𝗺𝗮 𝗾𝘂𝗲 𝗮𝗹𝗴𝘂𝗲́𝗺 𝗷𝗮́ 𝗳𝗲𝘇 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝘃𝗼𝗰𝗲̂)
Eu engano bem Alguém fecha a janela pro meu cabelo não bagunçar  Mas você sabe que eu gosto mesmo é de sentir o vento no rosto Eu sou um oceano inteiro e você não tem medo de mergulhar fundo E cada vez mais fundo Em meio a tanta gente que só molha os pés Porque na primeira ressaca, eu assusto Eu também correria para longe de mim, se pudesse Mas não você, você fica Por algum motivo que eu ainda não entendo bem
Sinto que a gente não tem fim Há mais um metro infinito de profundidade para alcançar A gente vai passando etapas como se tivesse tirando uma peça de roupa Temos sempre um pouco mais de pele para descobrir Você se lembra da forma que tem meu queixo e eu não sei por que fico surpresa Não consigo olhar outras pessoas porque você fez alto o padrão de como é me sentir amada
E eu odeio como isso parece piegas Mas você disse "já passamos dessa fase, flor" E eu acredito porque não há nada que falte em nós
Até de longe você me toca e me acorda e há fogo por toda parte A gente é tanto, mas nada define Gosto de me ver através dos seus olhos, não os feche de novo Quando você está perto, minha música desperta E é doce o som da nossa canção.
Thayná Santos
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feitodesal · 3 years ago
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Não passa
Toma espaço
Cria uma forma cada vez mais tangível
Me olha, de repente, entre as sombras
E sorri, maldosa
Por trás das lembranças
Inclina a cabeça,  capciosa
Desaguo Encarando seus olhos ardilosos
Chego acreditar  que posso estrangulá-la entre meus dedos
Mas esvanece como um suspiro
.
Vem ganhando um rosto dolorosamente familiar
Enquanto o tempo me faz esquecer do teu
Eu escuto teus passos no corredor
Mas já não tenho certeza se soam iguais
E nem a convicção de que você não vem me impede de te esperar
Eu olho em volta procurando por algo
Você
Mas só encontro tua ausência sempre presente
As coisas ainda têm teu nome, ainda são tuas
O que eu faço com essa sombra tão concreta?
Eu esqueço você ou finjo que não me lembro em todas as mil vezes que me lembro?
Não passa
Essa saudade
Cada vez mais corpulenta
Toma espaço
Não passa
Fica
Faz morada
Estende a cama
Põe a mesa
Ocupa o lugar que você deixou
Mas ela não parece nada com você
Thayná Santos
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feitodesal · 3 years ago
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Esgotaram-se as palavras
Como uma torneira que
Pinga, pinga, pinga
Até secar
Findaram-se os caminhos
Há semanas, ando em círculo
Como alguém que não sabe onde quer chegar
E eu não sei
— sei, até você
Como alguém que não conhece a saída
Por que não há
— há e não a vejo
Só não cessam essas histórias
Criadas, narradas
Pela minha mente obcecada
Monólogos intermináveis
Que me drenam
Deixei a cargo do sr. Tempo
Que está atrasado
Passa, passa, passa
E não o leva
— é você quem tem que sair
ou eu que devo ir?
Mais um vez, eu fiz tudo certo
E não há controle
Porque não existe certo
A espera me esmaga
Mas não quanto eu gostaria
Quisera eu
Diminuir, diminuir, diminuir
Até não existir
Em volta, as cores não fazem sentido
As formas não me dizem nada
Mas continuam vindo sobre mim
Em uma quantidade maior do que posso aguentar
— mas eu aguento
Penso em uma rota de fuga
Um túnel subterrâneo
Esgotos
Para ir embora como um lagartixa que deixa a calda para trás
Mais fácil que transmutar o amor
É empurrá-lo para a linha tênue que o separa do ódio
Eu disse a você que seria mais fácil
Enquanto não decido
Aguardo o sr. Tempo
Que já passa da hora
Thayná santos
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feitodesal · 3 years ago
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vi seu filme e acho que ele não é mais seu
eu lembrei que me esqueci de você eu percebi que tenho te perdido te deixado para trás
os CDs, as músicas, os versos tudo tem novas cores nenhuma delas é a sua
se queimamos em vermelho ardente até nos tornarmos cinzas pouco a pouco, elas se vão com o vento com o tempo à minha frente, tenho azul-infinito e um milhão de novas cores para pintar minha memória
demos dois passos para trás agora, podemos ir em frente
se brigar com você nunca teve resposta certa é porque eu não sabia qual era a pergunta suas dúvidas abafaram minha certeza você não sabia quem eu era, eu fui me esquecendo de quem eu sou fui acreditando no que, supostamente, deveria ser acreditando que eu era errada, insuficiente, inadequada que tudo meu que não lhe convinha, era defeito
mas quanto mais eu me vejo mais eu sei que não sou quem você queria que eu fosse e não quero ser perceber isso foi como tirar o curativo e ver que não tem machucado, era só você que me convencia que doía
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feitodesal · 3 years ago
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Lancei meu livro! Arremedo de Mim
O processo foi longo, mas eu concluí. Escrever é encarar a si mesmo — despido, do avesso, cru. Também, é curar-se. Mesmo quando se trata de ficção, como é o caso do meu livro. Com uma felicidade indescritível e transbordando litros, venho compartilhar o capítulo mais importante da minha vida — profissional e pessoal: Arremedo de Mim está disponível em pré-venda na Amazon. Meu livro, gente!
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Sinopse
Quando terminou o Ensino Médio, Isabela finalmente conseguiu sair da odiosa Santo Hades, cidade onde cresceu. Mas depois de nove anos morando em Santos, seu melhor amigo de infância aparece direto do Rio de Janeiro para despertar todas as memórias ruins que ela sufocou durante esse tempo.
Desde a chegada de Fercho, Isabela começa uma conturbada jornada de autoconhecimento, encarando seus monstros debaixo da cama e tentando lidar com traumas que a perseguiram pela maior parte da sua vida.
"Fercho não era o problema, nunca foi. Pelo contrário, Fercho sempre foi a solução. Fercho era a tranquilidade de fumar um cigarro à noite antes de dormir, ou o otimismo depois de tomar a quantidade suficiente de álcool. Ou mesmo a sensação indubitável de pertencer a um lugar.”
"No entanto, [...] ele está associado a coisas que eu não podia conviver, superar, esquecer, ignorar."
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feitodesal · 4 years ago
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nada tão permanente quanto tua ausência
nenhum barulho é tão alto quanto o silêncio dos teus passos que não te trazem mais para casa
não há mais você
e sobrou tanto de você
em volta
na minha memória
nas suas roupas, seu celular
nas suas fotos intermináveis agora finitas
é alivio e é dor olhar para você
o cachorro espera você chegar
que vontade de ligar para você
o buraco de uma despedida que nunca aconteceu
a xícara que você deixou fora do lugar
suja, que eu ainda não lavei
e os chinelos no meio do caminho, em que sempre tropeço. mas nem isso eu tiro do lugar. agora, com quem vou brigar?
eu não consigo aceitar
porque não parece certo
aceitar é perder você duas vezes
é concordar
é te apagar
é esquecer
é me acostumar com tua ausência permanente
e eu não quero me acostumar
eu ainda estou esperando ouvir o barulho da chave na porta
mesmo que seu chaveiro ainda esteja em cima da mesa, como você deixou
e a blusa largada, usada, que eu sei, nunca vou ter coragem de lavar
o que é que vou fazer quando teu cheiro for embora?
teu celular ainda toca, chamando por você
assim como eu
espera você responder, assim como eu
mas o que me restam
são caixas vazias para eu preencher com tudo que restou de você, mas em que não te encontro mais
e me resta
um amanhã
com café
sem  você
- thayná santos
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feitodesal · 4 years ago
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faz tempo, mas voltei a encarar os cacos
eu tinha fechado os olhos e, como mágica, eles sumiram
mas pisei em um pedaço e agora meu pé sangra não consigo mais parar de olhar para tudo isso sem sentir dor
e ver seu rosto refletido em cada pedaço de vidro estilhaçado
estou fazendo de novo
tornando isso maior do que é
subindo mais alto do que onde há ar
para cair com mais força contra o chão
coberto de cacos de vidro
com seu eu rosto refletido
era para ser bom
mas eu estou estragando tudo, não estou? 
de propósito, rasgo a pele com os estilhaços
só para ver sangrar
mesmo assim, não sei o que escondo por baixo
o que há dentro
eu tinha fechado os olhos na hora certa
o que é que me fez abri-los agora?
quanto tempo mais para me tornar insensível de novo?
um ano, dois
quantos dos teus silêncios preciso ouvir para desistir de novo? 
eu tinha fechado os olhos na hora certa
mas fingir não me sarou de você
- thayná santos
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feitodesal · 4 years ago
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Você não gosta porque sou vento
Passo e bagunço teus grãos
Vou e volto sem despedidas, sem saudações
Como se nunca tivesse ido embora
Porque,
na verdade,
Nunca cheguei
Nunca fiquei
Nunca parti
Não estou; sou
Não importa o lugar
A distância 
Meu coração é só meu
Se é que existe algum
Você escuta a minha risada
E tem medo, chama de ventania
As árvores sedem, você teme
Eu chamo de liberdade
Você não gosta porque sou vento
Arranco tuas raízes
E eu
não tenho raízes
Você
Tem medo porque não entende
Como é ser livre assim
Se apavora com a ideia de me perder
Já tentou guardar o vento?
É difícil para você aprender,
Mas
Nunca fui tua
- thayná santos
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feitodesal · 4 years ago
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r e s s a c a
Como uma ressaca que traz de volta coisas esquecidas no passado
Assim é você
Surgindo de repetente e trazendo sentimentos tão bem guardados no fundo
do mar da minha memória
E tão fugaz vai embora
Como se não tivesse sido tão intenso
Como se não tivesse me deixado diferente do que era antes de você
Aparecer
Inundar
tudo à minha volta
E ir embora
Eu, assim como a areia molhada que as ondas deixam para traz
E o vento cuida de secá-las
Espero que o vento seque de mim teu desamor
E me leve à baía dos braços que saibam de mim
Mas enquanto o vento passa como brisa e apenas acalma a falta que você deixou
Eu fico aqui, à beira mar, esperando mais uma ressaca
E que tua onda mais uma vez me encharque
Mas que dessa vez fique, como o mar que o tempo sobre o tempo faz da areia seu lugar
Não
Eu não quero a baía de outros braços
Quero que você saiba de mim
E dia após dia, noite após noite, te espero
E minha companhia é tua ausência
Tão presente, tão presente
Fico à mercê da lua cheia que sobe tua maré e me dá algo de ti para me embriagar com tão pouco
Enquanto tua ressaca não te faz tomar o teu lugar
Eu
- thayná santos
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feitodesal · 5 years ago
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ainda tô com unhas-cor-de-ano-novo
o esmalte não descascou
e encaro minha tentativa ridícula de ter alegria
assim, tenho em mim as tristezas de muitas ondas atrás que não descascaram também
mas as alegrias, essas, parece que se vão mais rápido como areia no chuveiro da praia
e sinto falta de acordar para viver como sinto falta da maresia
coisas que não se fabrica, só se encontra
sob meus pés, a frieza do concreto
cheiro de folha e madeira queimada, lixo
para o que é que me levanto se não tem o mar para ouvir e ver e o seu cheiro e o quente da areia que o vento sopra entre meus dedos
e corro do calor aproveitando cada queimadura na sola dos pés
para mergulhar no sal de cura
então, acordo
e, de novo, o concreto frio sob minha pele, dentro do meu pulmão
caminho entre a selva de pedra sem qualquer horizonte à frente
sem mar, sem saída
o céu cinza e não azul
olho para dentro de novo, durmo, sonho
desejo a maresia
seu toque quente, depois, molhado, me curando
então, acordo
e não há vida
só um rebobinar em tons de cinza
seco,
sufocante
- thayná santos
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feitodesal · 5 years ago
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ansiedade
eu achei que todo mundo sentisse medo antes de sair de casa, afinal, existem mais possibilidades de coisas darem errado do que eu sou capaz de contar
antes de dormir, também achei normal ficar rolando na cama, cair num sonho sem sentido e acordar como se tivesse feito vigília
mesmo que o motivo seja simples, como sair pra comprar xampu no dia seguinte
ou mesmo quando o motivo não está lá na frente, mas nas lembranças que rodam repetidamente como uma playlist
ah, então, nem todo mundo acorda com a mandíbula doendo porque, inconscientemente, passou a noite pressionando os dentes como se todo seu medo estivesse entre eles? 
achei que por trás de qualquer expressão houvesse secas lágrimas de não sei por quê
sabe, chorar de desespero-medo-dúvida-excesso- quando-é--muito-mas-você-não-sabe-do-que. não? achei que soubesse
achei que todo mundo soubesse
achei que a vida fosse assim
colorida
com cem por cento de saturação
até fazer os olhos lacrimejarem 
que cheirasse doce
como a porra de um perfume de trezentos reais dentro do ônibus, tão doce que faz seu estômago embrulhar , tão valiosa mesmo quando não faz sentido ser
que fosse como um trio elétrico dentro da sua cabeça que nenhuma outra música é capaz de abafar
alto até fazer sua cabeça doer
mas doi por isso ou por ter tentado matar os medos com os dentes?
ou por ter passado a noite acordada dentro dos sonhos?
achei que todo mundo sentisse assim
- thayná santos
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feitodesal · 5 years ago
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nota de texto 126
estava quente. hoje, parece que todos os dias foram quentes. mas é impossível um ano inteiro de sábados ensolarados. 
eu sinto o cheiro daqueles dias: salgado, úmido, seco, mofado, sufocante. também sinto meus olhos arderem - era muito cedo. e eu sempre tinha insônia na noite anterior. ansiedade, sim, mas ninguém era mentalmente são naquele ambiente pilhado.
sinto a calça apertando minhas pernas, e até hoje fico me perguntando por que usava. o sutiã afundando nos neus ombros. calor, calor, calor. o all star apertando meus dedos enquanto eu andava, parava, abordava alguma pessoa, às vezes era ignorada, andava. 
minha bolsa pesada, não lembro por quê. só lembro do saco de bolinho de chuva amanhecido que eu levava dentro. 
angústia. cada passo me deixava mais perto de um destino que eu não queria. o pé doendo não incomodava tanto quanto o peito sufocado. "por quê?", eu ficava me perguntando entre uma abordagem e outra. não sei, até hoje não sei. 
tirava da bolsa um bloco de anotações para escrever em uma caligrafia que eu não conseguiria entender quando precisasse. "não use objetos infantis", tinham dito assim como disseram "melhor não usar gravador", eu me rebeleva com uma caneta da Pucca pendurada no pescoço, mas não facilitando minha vida gravando uma resposta. deve ser isso que chamam de rebelde sem causa - apenas burrice.
depois de inventar assuntos, torcer para não ser humilhada, ir atrás de pessoas que não importavam e nem se importavam, eu voltava com os pés doendo, a marca do Sol na pele e a nuca pingando suor. "cara de jornalista", disse o filha da puta. e ainda corrigiu errado minha gramática. 
- thayná santos
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