idkjustwondering

[idkjustwondering]

Estou com intoxicação palavrar. O estômago entalado de palavras não ditas, que de tanto se acumularem, perfura meus órgãos.

No começo, a dor é surda. Uma pontada aleatória ali, outra aqui, até que se torna mais frequente e intensa. E de tanto se intensificar, eu não resisto.

Sinto elas recuando de seus buracos, subindo dolorosamente pela garganta e caindo no chão a minha frente. E outra. E mais outras. O sangue é mais inofensivo para mim que a bile parafraseada.

As organizo na minha frente, formando centenas de frases e nomes, e nenhum parece certo. Quando sinto outra perfuração, entendo o porquê.

Elas nunca saem de uma vez. Se alojam ali, me matando aos poucos enquanto eu me recuso a vomitá-las completamente.

[idkjustwondering]

Eu nunca deixei a mesa das crianças.

Vejo desconhecidos conhecidos, gente que não me conhece, mas conhece. Sento a mesa deles.

E eu nunca deixei a mesa das crianças.

Porque ele se incomoda tanto com dois homens juntos? Será que a namorada dele não o satisfaz?

E eu nunca deixei a mesa das crianças.

Luzes que brilham demais, crianças que gritam muito estridentemente, sapatos que raspam no chão. Porque meu pai mastiga tão alto? O olhar dele me incomoda. Sei o que ele pensa de mim, e não quero ouvir.

E eu nunca deixei a mesa das crianças.

Quero gritar, mas apenas fico sentada. Eu deveria falar alguma coisa? Não consigo olhar para eles, e eles não olham para mim. Eu não existo.

E eu nunca deixei a mesa das crianças.

Sapatona. Me grite sapatona, mas não me olhe com esse olhar julgador, como se minha existência te ofendesse. Só quero viver. Sapatona. Sabia que eu passei na UnB? Não importa, sou sapatona.

E eu nunca deixei a mesa das crianças

Crianças correm ao meu redor, elas também me ignoram. Já fui uma delas. Agora, sou nada.

E eu nunca deixei a mesa das crianças.

E eu nunca deixei a mesa das crianças.

Me deixe sair da mesa das crianças.

Só quero viver.

Sapatona.

[idkjustwondering]

are we still friends? - tyler, the creator.

Te olhar me lembra sábados nublados com noventa por cento de probabilidade de uma chuva que nunca cai. Lembra o leite quente que eu faço porque quero me sentir uma garota americana branca em um dia nevoso, fingindo ser algo que nunca serei. Te olhar me lembra de tudo que eu tive vontade de fazer, mas não fiz, apenas imaginei. Te olhar me faz fantasiar.

Fantasiar sobre um futuro onde os poemas que eu escrevo não sejam sobre você, mas para você. Te olhar me faz desejar que minha ideia sua passe a ser real.

Te olhar me faz desejar tão intensamente por algo que eu sei que não deveria desejar. Algo que eu não preciso, mas quero. Algo que quero porque não preciso.

Te olhar faz eu me arrepender de não saber a diferença dos porquê's, porque conhecimento é poder, e eu me sinto tudo menos poderosa quando te olho. Te olhar me faz entender o porquê de homens irem para guerras, mesmo sabendo que é tudo culpa do capitalismo e dos detentores do poder, eu ainda sinto que iria para a guerra por você.

Exceto que eu não te olho, porque você não existe. E, novamente, eu desejo.