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ribacaima · 1 month
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Viadal: - Fotos para mais tarde recordar.
Parte III - Pela Serra da Freita.
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Sobre esta romaria ver a VC nº 617 de 15 de Fevereiro e 1997.
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Romeiros de Viadal, reconhecendo-se em primeiro plano o tio Vigário e o Matos madeireiro.
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Neste local verificou-se grande atividade de mineração do volfrâmio durante a II Guerra Mundial, que ainda hoje são recordadas por toda a serrania, como se induz da quadra seguinte recolhida, em Viadal, pela Sandra Lopes:
Adeus ó rio de Frades/Adeus ó Vale da Sardeira./Tu foste a mãe dos pobres,/Que lhe encheste a carteira.
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Habitação que, parece, é conhecida pela casa do brasileiro.
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Sobre a construção desta capela no Curro dos Lobos e outra no Chão do Monte, junto a Vilar, ver a VC nº 616 de 1 de Fevereiro de 1997.
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ribacaima · 2 months
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Viadal: - Fotos para mais tarde recordar.
Parte II.
A Terra de Cambra em Fotos.
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Localizava-se na actual Rua Eça de Queiroz, no lado esquerdo de quem sobe.
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O antigo brasão do concelho de Macieira de Cambra seria idêntico a este. (in, VC nº 610 de 1 de Novembro de 1996 e 10 de Maio de 2004).
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Sobre esta romaria ver também a VC nº 617 de 15 de Fevereiro e 1997.
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Sobre Albino Filipe Pereira ver a VC nº  580 de 15 de Julho de 1995.
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Sobre a Evolução da Indústria no Concelho de Cambra ver a VC nº 513 de 1 de Setembro de 1992 e sgts. Idem, a VC nº 522 de 15 Janeiro de 1993 sobre a fábrica de Santa Cruz.
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ribacaima · 2 months
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Viadal: - Fotos para mais tarde recordar.
Parte 1.
Rebuscando nos meus arquivos fotográficos, dou a conhecer fotos alusivas às gentes de Viadal e aldeias em redor, algumas com mais de cinquenta anos. Inclui também o património edificado e paisagístico; algum, entretanto, já desaparecido ou modificado.
Julho de 2024
Manuel de Almeida
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Local: - Igreja Paroquial.
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A lenda refere que em Vilar - sítios da Óssia ou na Raposeira, abaixo da estrada - terá havido um mosteiro ou convento em honra de Santa Marinha. (in, Voz de Cambra nº 549 de 15 de Março de 1994 e sgts.)
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ribacaima · 10 months
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PRAGANÇA: - Memórias de Duas Habitantes.
Prólogo.
Em trabalhos anteriores debruçamo-nos, essencialmente, sobre as festividades de Pragança, no Montejunto.
Temos ainda em nossa posse excertos de entrevistas que fomos fazendo, ao longo dos anos, a duas habitantes da aldeia, já falecidas, e que, dotadas de excelentes memórias, nos transmitiram partes das suas vivências. Foram elas: - D. Sofia Pintéus e D. Maria esposa, que foi, do ti Chico Garcia.
Assim, abaixo publicamos excertos daquilo que temos em arquivo, bem como diversas fotografias da aldeia e do vivenciar das suas laboriosas gentes.
2.Excertos das Entrevistas.
- D. Sofia Pintéus.
Já em tempos demos a conhecer, na Voz de Cambra nº 603 de 1 de Julho de 1996, excertos da entrevista que lhe fizemos em 1991, ano em que tinha comemorado, a 20 de Março, o seu 100º aniversário e que aqui resumimos:
. Teve 5 filhos: - 4 rapazes e 1 rapariga, 8 netos e alguns bisnetos.
. Os seus irmãos, que nasceram com a diferença de 2 anos uns dos outros, eram nove. Comiam sempre uma sardinha para dois.
. Vestia-se, penteava e lavava todos os dias.
. Apanhou muitos cestos de cerejas. Não havia quem fosse mais desembaraçada do que ela.
. Dantes, o sapateiro vinha a casa. Aconteceu estar lá e ela ter tido um dos filhos nesse dia. Não tinha outra companhia, nessa altura.
. Casou com 24 anos. O noivo tinha 27. Era 20 e tal de Setembro. O marido quando morreu ia fazer 80 anos. Faleceu a 6 de Agosto e ia fazer os 80 a 3 de Setembro.
. Disse-nos que lhe tinha nascido um dente aos 70 anos, mas que se gastou porque comia as maçãs com ele. Durou 15 anos. Teve muitas dores para ele nascer, contou-nos.
. O irmão mais velho casou em Cabanas de Torres. Era moleiro e tinha mais freguesia do que os outros, por isso foi morto, junto a uma ribeira lá para os lados da Ota. Foi alguém que assistiu ao crime é que deu o alerta. Isto aconteceu, deve haver aí uns 68 anos, ou seja cerca de 1913.
. Deu-nos o seguinte conselho:
“Se o trabalho matasse, eu nunca teria chegado aos cem anos, pois passei uma vida de privações, quando era nova e para criar os meus filhos”.
 . Ensinou-nos a seguinte oração:                      
“Bendito é, e louvado seja o nosso Jesus, e a sagrada Assunção. Levai meu Jesus a minha alma convosco e a glória do meu coração”.                                                    
Também a D. Maria, sua vizinha, contou-nos que:
“Certo dia ela foi ao dentista, que lhe extraiu, em primeiro lugar, o   dente que estava bom, em vez do que tinha a cárie. Resultado, a D. Sofia Pintéus regressou a casa com menos dois”.
- Entrevista à D. Maria, esposa do ti Chico Garcia, ano de 1995.
Por razões de parentesco, fomos visita regular em casa da D. Maria e do ti Chico e da sua descendência, já várias vezes referidos. Dotada de excelente memória e sabedora do nosso interesse pelas tradições dos habitantes da aldeia, findas as lides caseiras, tinha sempre algo para nos contar. 
Assim, abaixo transcrevemos o que temos anotado no nosso caderno de apontamentos, sobretudo as récitas e cânticos da povoação, aquando da sua mocidade e vida de adulta.
Admitindo que as récitas possam estar incompletas, pois tudo foi ditado sem qualquer apoio escrito, disse-nos:
. Versos a Nossa Senhora e ao Santo António.     
                        I
Nossa Senhora faz meia,
Com linha feita de luz.
O novelo é a lua cheia,
E as meias são pr’a Jesus.
           II
Ó Santo António, Santo António,
Meu santinho quebra bilhas.
Livra sempre do demónio,
Estas tuas queridas filhas.
            III
Tocai guitarras, harmónios,
Cantai sempre raparigas.
Pois o Santo António,
Gosta muito de cantigas.
               IV
Santo António, por ser santo,
Também teve os seus amores.
Quando os santos namoricam,
Que fará os pecadores.
. Outras Quadras.
    I
Este ladrão novo,
É muito gaiato.
Passa pelas moças,
Penica-lhe no fato.
                 II
Penica-lhe no fato,
Se sim, senhora não.
Rapaz que é ligeiro,
Furta que é ladrão.
                  III
Tornas a furtar,
Porque tens ocasião.
Já cá vai roubado,
Já cá vai na mão.
            IV
Agora fica, fica,
Não sejas pavão.
Já cá vai a prenda,
Do meu coração.
Agora fica, fica,
Não sejas pavão.
. Da água.
            I
Anda cá se queres água,
Que os meus olhos ta darão.
Ela é pouca, mas é boa,
Da raiz do coração.
. Rola ó pombo.
Disposição: - Rapazes de um lado e raparigas do outro pegando nas respetivas mãos*. Sem música. A dada altura, rodopiavam e ficavam de costas uns para os outros.
                I
Rola, rola ó pombo,
Por essa casa abaixo.
Rola, rola ó pombo,
Por essa casa acima.
Tenho um navio no Porto,
Voltado pr’a Coimbra.
         II
Voltado pr’a Coimbra,
Voltado pr’o Cartaxo.
Se você diz que rola ó pombo,
Rola por essa casa abaixo.
. Récita: - O Milagre de Santo António.
  Nota: - A D. Maria descreveu tudo, o que se segue, baseada na sua memória. Não tinha qualquer apontamento junto dela.
Entravam:  - Padre e Rosinha;
                                   e
                    . Santo António e Rosinha.
A INICIAR: - Estribilho.
Ó Santo António, ouve lá esta,
Vamos pr’a festa,
Que é tão rija e valente.
Dá-nos dinheiro,
Mais um noivo bem decente.
Ó Santo António, Santo António,
Meu santinho quebra bilhas.
Livra sempre do demónio,
Estas tuas queridas filhas.
Tocai guitarras, harmónios,
Cantem sempre raparigas.
Pois o nosso Santo António,
Gosta muito de cantigas.
EM CENA - PARTE I
. Padre: - Viva lá sua Rosinha.
. Rosinha: - Adeus, Sr Prior.
. Padre: - Vais encher a tua bilhazinha, de noite, só, sem temor?
. Rosinha: - Minha avó, ceguinha,
         Não me pode acompanhar.
         Enquanto não volto,
         Fica por mim a orar.
. Padre: - É bem triste o seu fadário,
                 Nas contas do seu rosário,
                 Vai encontrando alegria.
 . Rosinha:  - A Deus e à Virgem Maria não se farta de rezar.
. Padre: - É digna de se louvar.
. Rosinha: - Agora, sr Prior, seus olhos já não vertem pranto.
. Padre. – Podes crer, remédio santo.
. Rosinha: - Adeus, sr Prior.
. Padre: - Adeus querida Rosinha.
      Vai para casa ligeireza,
      Pr’a tua avó sossegar.
      Até breve meu anjo.
. Rosinha: - Salve-o Deus, sr Prior.
ENTRETANTO, ROSINHA CANTA NA FONTE.
            Enquanto dançam ligeiras,
            As raparigas no monte.
            Entre canções bem fagueiras,
            Eu encho a bilha na fonte.
            EM CENA – PARTE II
. Stº António: - Folgo em ver-te lindo anjinho!
                          Tua voz tão maviosa,
             É simples rosmaninho,
             Singela como uma rosa.
. Rosinha:  - Tais palavras não mereço,
                        Mas, Sr muito agradeço.
                        - Quem sois vós, anjo ou demónio?
. Stº António: - Não temas, pois tens aqui o Stº António.
. Rosinha: - Será possível, meu Deus!
. Stº António: - Não descreias, minha filha.
Nota: - Entretanto, Rosinha, quis certificar-se que ele era o Santo e pediu-lhe que lhe partisse a bilha.
. Rosinha: - Para matar receios meus, quebra e cura a minha bilha.
. Stº António: - Quebra a bilha.
. Rosinha: - Chora.
. Stº António: - Conserta a bilha, mostrando-a inteira, diz:
   “Satisfiz a tua vontade. Eis a bilha, enxuga o pranto”.
. Rosinha:  - Sim, acredito, é verdade! És António um grande santo.
. Stº António: - Adeus, vou pr’ó céu.
. Rosinha: - Eu não posso desistir, acredita, santo meu.
. Stº António: - O que que queres tu pedir?
. Rosinha: - Stº António, por Jesus,
         Atende e de mim tem dó.
         Faz o milagre e dá luz,
                    Aos olhos da minha avó.
Nota: - Neste momento Stº António sai de cena e entra a avó.
                        EM CENA – PARTE III
. Avó: - Os teus rogos, meu amor, escutou-os o bom senhor.
. Rosinha: - Querida avó do coração.
. Avó: - Eu não sei o que hei de dizer, momentos que Deus consagra, estes em que te volto a ver.
. Rosinha, de joelhos: - Querida avó do coração,
                                         Nós agora com fervor.
                                         Ao bom Deus Nosso Senhor,
                                         Oremos com devoção.
. Avó, de joelhos: - Oremos, minha netinha, àquele que está na cruz.
. Rosinha: - Demos graças, avozinha,
                    Em preces muito sentidas,
         Ao meigo e doce Jesus.
                                               CORO
            Stº António tão bondoso,
            Defende todos do mal.
            És o Santo milagroso,
            Das terras de Portugal.
            Mocidade andai pr’a frente,
            Esta noite aproveitai.
            Nos bailaricos contente,
            Ao Stº António cantai.
                                               FIM.
Nota Geral: - Está conforme os nossos apontamentos. Como a informante,  entretanto, faleceu, não foi possível corrigir eventuais desvios ao relatado.
3 – Pragança nas lembranças da D. Maria.
. O ti António na Abrigada.
O ti António, peixeiro de Pragança, ia a Peniche comprar o pescado, fazendo a venda do mesmo nas aldeias do Montejunto, inclusive do outro lado da serra, na Abrigada. Devido ao mau estado dos caminhos, o burro, por vezes, desequilibrava-se e caía nos buracos, estragando-lhe as sardinhas.
Depois de passar a Abrigada, atingindo um ponto alto, antes das Estribeiras – localidade ali perto – o burro começava a zurrar, avisando da chegada do comerciante. Não era preciso mais publicidade. Logo, as habitantes passavam palavra umas às outras: - “Aí vem o burro do ti António, vamos às sardinhas”. E lá, o ti António, fazia boa venda e o burro tinha ração reforçada, consta.
. O ti António no Bombarral.
Certo dia, vindo com uma carroça carregada de mercadoria, ao atravessar o Bombarral, o ti António verifica que tinham deitado a igreja abaixo e que os “santinhos” estavam espalhados no meio da estrada.
Acontece que os populares, que lá estavam, incentivaram-no a que passasse com a carripana por cima das imagens sagradas, ao que ele respondeu: - “Não passo com a carroça por cima de santos, nem que me matem”.
Dito isto, retrocedeu e foi por outro caminho, embora mais longo, até que atingiu Pragança e deixou para a posteridade esta “estória”.
Nota: - É provável que este acontecimento se tenha verificado aquando da implantação da República. Então, a igreja foi incendiada e teve de ser demolida. Ver a Guerra Religiosa na I República. Consta o Bombarral.
. Outra curiosidade.
O pai da D. Maria, embora sendo analfabeto, tinha um comércio, dito venda, em que, seguindo o hábito da época, vendia “fiado”, isto é, a crédito.
Como tinha uma excelente memória, logo que a mulher chegava dos seus afazeres dava-lhe conta do ocorrido e ela procedia ao seu registo em livro apropriado, já que escrevinhava o suficiente.
Nota: - A D. Maria e o marido, o ti Chico, também tinham taberna/comércio. Provavelmente seria a mesma, facto que, lamentavelmente, não averiguamos.
4. Memórias do ti Carlos, mais conhecido pelas alcunhas de Teco ou Sr Dr.
. O ti Carlos.
Embora natural de Cabanas de Torres, viveu muitos anos em Pragança; tendo tido casa de comércio, junto ao quartel. Era visita habitual e companheiro do ti Chico Garcia, com quem conversávamos habitualmente.
Em 1991, com a idade de 64 anos, foi nosso cicerone à deslocação que fizemos aos poços e tabuleiros da neve, lá em cima na serra, e que descrevemos em trabalho publicado na Voz de Cambra nº 601 de 1 de Junho de 1996 e sgts.
As suas recordações.
Dos diálogos tidos com ele, anotamos o seguinte:
. Nos primeiros anos de comerciante vinha a Lisboa vender “fetos reais”. A mistura destes, com folha de nogueira fervida dá uma infusão que serve de champô para a caspa.
. A estrada para Pragança tinha sido aberta há 62 anos, portanto em 1929. Foi no ano que nasceu o irmão mais novo. Tinha ele 2 anos.
. Quando havia neve tocavam a corneta e os de Pragança vinham ajudar. Tinha nevado em 1945. Há 46 anos, disse.
. O transporte para Lisboa era feito até Vila Franca com muares e depois por comboio.
. Nas festas havia lutas com os rapazes da povoação do Vilar. Estes “pensavam que eram os donos da freguesia”, disse-nos.
5. Pragança Bonita. Moda Cantada.
                 I
Pragança ó terra airosa,
És tu quem não tem rival.
És a terra mais formosa,
Do concelho do Cadaval.
Tens uma linda paisagem,
Que se estende até ao mar.
E uma bela mocidade,
Que pr’a todos sabe rir e bailar.
                    REFRÃO -Repete.
            Pragança bonita,
            Tão bonita és.
           Tens a bela serra,
            Beijando os teus pés.
                    II
Se um dia fores à serra,
Lá respiras ar puro e leve.
E não te esqueças de ir ver,
O grande poço da neve.
Se subires mais um bocado,
Estás no alto do S. João.
E ao lado Nossa Senhora a quem,
Temos muita devoção.
(autor desconhecido)   
6. Versos das Modas do Rancho Infantil. Ano de 1980.
Temos na nossa posse um caderno datilografado, com as modas cantadas e dançadas pelo Rancho Infantil de Pragança. Pensamos que haja por lá, sobretudo na sede da Banda Filarmónica, outras cópias.
Este grupo etnográfico estava em atividade na década de oitenta do século XX. Era seu grande entusiasta, entre ouros, o ti Cipriano Nunes, genro da D. Maria e nosso estimado familiar. Já não está entre nós.  
Dado ser extenso, deixamos aqui somente os títulos das modas e uma ou outra quadra.
. Padeirinha, Eu Fui ao Mar à Laranja, Água Leva o Regadinho, Vira de Quatro;
  Coradinha, Passarinho da Ribeira e Ladrão;
 . Vira dos Namorados.
            “Que vira tão lindo/ Pr’a gente dançar/
             Ao som deste vira/ Eu sei namorar”.
                        (...)
. Namoro,
                        (....)
            “Tu dizes que não me queres/ Ai amor tens muita razão.
              Como é que tu hás de querer/ Ai aquilo que não te dão”.
. Chapéu Preto, Rebola a Bola, Fandanguinho, Vira Novo e Verde Gaio.
. Bailarico. - Repete.
              O ranchinho de Pragança,
              A dançar o bailarico,
              Somos todos pequeninos,
              Eu parado é que não fico”.
                        (....)
FIM
Queluz, Novembro de 2023
Manuel de Almeida, também dito ‘ti Manel’.
................
* Também nós, em jovem, costumávamos brincar com as moças pegando-lhes nas mãos, balançando os braços, cantando:
“Assim se amassa, assim se peneira.
Assim se amassa o pão da masseira”.
Dito isto, virávamo-nos de costas, retomando de seguida o mesmo ritual. Ainda, hoje, praticamos com as nossas netas, mais pequenas, esta brincadeira, que adoram. Temos, contudo, de dar uma volta à casa com elas deitadas nas nossas costas. - E esta?
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O saudoso ti Chico, à esquerda.
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O ti Chico atrás de boné. Foto cedida pela família.
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Por volta de 1980 encontrava-se em plena atividade. Era local de muito convívio e vizinhança. Falta a frondosa parreira de saborosas uvas americanas.
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Nesta casa ou noutra idêntica, teve Junot o seu quartel, aquando das invasões francesas.
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ribacaima · 10 months
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A FESTA A SANTO ANTÓNIO EM PRAGANÇA. ANO DE 1997.
. Prólogo:
Em trabalho anterior, debruçamo-nos sobre a Festa de N. S. das Neves no Montejunto, organizada desde sempre pelos moradores de Pragança. Dada a nossa ligação afetiva à aldeia, assistimos também em 1997: a) À festa em honra de Santo António, em Junho; b) No final do ano, à comemoração dos 115 anos da fundação da Banda Filarmónica. c) Homenagem no cemitério aos dirigentes, sócios e músicos da Banda, já falecidos. Aqui deixamos três breves relatos, sobre tais acontecimentos, ilustrados com fotografias da nossa autoria.
A Festa em Honra de Santo António, Padroeiro da Aldeia. Ano de 1997.
A meio da tarde de 13 de Junho saiu da capela a procissão, presidida pelo reverendo padre Leandro, em honra do padroeiro, à qual assistimos. Acompanhada por Banda de Música, percorreu as ruas da parte baixa da aldeia com muita pompa, visível no aparatoso pálio, andores floridos e estandartes. Faziam parte préstito os moradores locais e seus familiares; sendo que praticamente não se viam forasteiros a não ser dos lugares circunvizinhos. A destacar, por ser diferente, um altar de rua e bastante solenidade. À noite, houve animação musical, que não descrevemos, por não termos estado presentes.
PRAGANÇA, e os 115 anos da sua FILARMÓNICA.
Foi em ambiente festivo que se comemorou, no ano de 1997, em Pragança o 115º aniversário da Sociedade Filarmónica 1º Dezembro. Com efeito, foi a 1 de Dezembro do já longínquo ano de 1882 que, na aprazível povoação, localizada na encosta da Serra de Montejunto se fundou uma colectividade com o mesmo nome. Associação esta que desenvolve actividades no âmbito da cultura e recreio e sustenta, desde então, uma Banda de Música, orgulho dos Pragancinos e, porque não dizê-lo, das gentes do concelho do Cadaval. Nestes 115 anos a Banda tem sido a grande embaixadora da terra e do concelho, daí que as autoridades presentes à efeméride não lhe tenham regateado elogios e formulado votos para que se mantenha, se não poder ser mais, pelos menos outros tantos anos. Desejo este a que também nos associamos. Sendo a Banda uma das razões de ser da Colectividade, foi a pensar no transporte dos seus músicos que a Direcção adquiriu, por subscrição pública e outros donativos, uma carrinha. Veículo este que, depois de benzido pelo Rev. Padre Leandro, entrou ao serviço. Estiveram presentes à cerimónia várias individualidades, nomeadamente o Sr. Vice-Governador Civil do Distrito de Lisboa, Presidente da Câmara Municipal, Vereadores e Presidente da Junta de Freguesia de Lamas, entre outras. Finda a solenidade, chegou ao local a Banda do Círculo de Cultura Musical Bombarrelense, dirigida pelo maestro João Menezes. Feitas as apresentações musicais da praxe, aí pelas 13 horas foi servido, no salão da coletividade um almoço às individualidades presentes, corpos gerentes, sócios, população e convidados. Cerca das 15 horas e após os discursos alusivos à efeméride, em que todos os oradores estimularam a Direcção a continuar com tão importante obra, coube ao Sr. Vice-Governador Civil a gostosa tarefa de cortar o bolo de aniversário e abrir o champagne. Seguidamente, para gaudio da assistência, as duas Bandas, executando trechos dos seus reportórios, deram um concerto; tendo sido entusiasticamente aplaudidas.
Outras Comemorações em 1 de Dezembro de 1997.
Não se ficaram por aqui as comemorações. Da parte da manhã tinha sido rezada missa na capela local, a que assistiu grande parte população da aldeia, seguida de romagem ao cemitério. Aí, após uma breve cerimónia religiosa, foi depositada uma coroa de flores em memória dos sócios, dirigentes e músicos já falecidos. Queluz, Novembro de 2023. Manuel de Almeida. Anexo: - Várias fotos.
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ribacaima · 11 months
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O CULTO A NOSSA SENHORA DAS NEVES NA SERRA DO MONTEJUNTO.
(Apontamento histórico).
Manuel de Almeida, Universidade de Ensino Sénior de Queluz.
 (In, - Newsletter Viver Sénior..nº 15. O que Nós Sabemos – Março de 2023
Idem, Ribacaima.Tumblr e Facebook em Outubro de 2023).
1.Prólogo.
Referem vários historiadores que a explosão do culto cristão de Maria se deu após o Concílio de Éfeso, ano 431 d.c. Foi nesse Conclave que os Padres da Igreja procuraram estabelecer a verdadeira doutrina sobre a pessoa e a natureza de Jesus Cristo (1). Concluíram aí, sob a influência do discurso de S. Cirilo de Alexandria, que, se Jesus é Deus e homem numa só pessoa, então Maria é a Mãe de Deus.
            Terá o Concílio terminado com a primeira procissão de velas em honra de Maria de que há memória. Cerca de 435 d.c. ter-lhe-á sido erigida em Roma a primeira Basílica que, reza a lenda, teve origem numa promessa.
            Com efeito, havia em Roma, ao tempo do Imperador Constâncio, um casal de nobres que não podia ter filhos. Certo dia, cada um de per si, avistou Nossa Senhora que, dirigindo-se-lhes, manifestou a vontade de ser a sua herdeira. Concordaram, logo, em satisfazer o pedido; restando-lhes, porém, a dúvida onde erigir o templo. 
Contudo, ao acordarem na manhã seguinte e ao olharem para o monte Esquilino notaram que estava cheio de neve, apesar de se estar em pleno estio. Concluíram, de imediato, que esse era o local indicado e erigiram aí o Santuário em sua honra, com o nome de Nossa Senhora das Neves (2). É, por isso, que a 5 de Agosto se celebra esta festividade um pouco por todo o lado, incluindo em vários pontos de Portugal, nomeadamente em Cepelos, Vale de Cambra e Pragança no Montejunto, concelho do Cadaval.
Tanto num lado como no outro, as razões apontadas para o culto a Nossa Senhora das Neves prendem-se com o facto de ter nevado a 5 de Agosto o que, a ter acontecido, terá causado espanto, por ser pouco usual em tal altura do ano.
2. O culto de Nossa Senhora das Neves, no Montejunto.
            A mãe de Jesus, será venerada, no alto da serra do Montejunto, desde 1217/1218, tempo do rei D. Afonso II, já que, então, o frade português Soeiro Gomes, funda aí um convento e uma ermida em invocação de Nossa Senhora das Neves (3), cenóbio este que foi o primeiro da Ordem Dominicana em Portugal e de que ainda restam as suas ruínas, contíguas à atual capela.
            Da romaria e local conhecem-se descrições do século XVI/XVII. Uma é da autoria de Frei Agostinho de Santa Maria que, na sua obra Santuário Mariano, a refere, bem como a de Nossa Senhora do Carril, na vizinha freguesia do Vilar (4). A outra, deve-se à pena de Fr. Luís de Sousa, ano de 1623, de que deixamos alguns excertos, retirados da obra acima citada.
            “A duas legoas e meia de Alanquer contra o Norte se levanta a serra que hoje chamão de Monte junto. A maior antiguidade lhe chamou Monte Sacro, e também Monte Tagro, nome que com pouca diferença se conserva ainda hoje no lugar de Tagarro ahi visinho”.
            Depois de descrever a aspereza da serrania e se ter atingido as lagoas, na meia encosta, diz-nos que mais acima “se acha huma ermida a que a devoção dos vizinhos deu nome de Nossa Senhora das Neves. A casa he pequena e baixa, mas pero deserto de boa fabrica. Tem de fora seu recebimento ou alpendre cuberto e dentro divisão de Capella e divisão de Igreja, com seu arco em meio, tudo cerrado de abobada. Fora do arco, e das grades que o cerrão, tem seus altarinhos, como he costume de huma e outra parte. No altar da Capella se vê um retabolo com huma imagem de Nossa Senhora, e outros santos, tudo pintura moderna”.
            Já então o convento, tal como hoje, estava em ruínas. Os frades ter-se-ão deslocado, em data que não foi possível apurar, para Monteirás, junto a Santarém.
            Mais tarde, em 1758, a Memória Paroquial de Lamas também se lhe refere, bem como ao Santo António em Pragança, Nossa Senhora da Luz, nas proximidades desta aldeia; N. Senhora da Fortaleza em D. Durão e S. Vicente, no campo, entre Rocha Fortes e Póvoa.
3. A romaria nos tempos modernos.
É, pode dizer-se, nos dias de hoje, a maior manifestação religiosa cristã do concelho do Cadaval, atraindo romeiros extra município e com alguma vivacidade das romarias do norte de Portugal. Sabe-se que ainda em meados do século XX deambulavam pelo arraial tocadores de gaitas de foles, cenário que já não se verificava em 1995, em que só se vislumbrou um sexagenário a tocar uma harmónica de beiços (5).
Organizada pelos moradores de Pragança, aldeia que se localiza no sopé da serra, a romaria inclui uma parte religiosa e outra profana. A primeira com missa, seguida de procissão na forma costumeira e, a segunda, cá mais abaixo, junto ao antigo quartel, onde se vende um pouco de tudo e a população convive.
Ao fim do dia, em Pragança, é nomeada a nova juíza para a festa seguinte e em que o pendão lhe é entregue, acompanhado pela centenária Banda de Pragança. Ato este de grande simbolismo, a que assiste a maioria dos moradores da aldeia, como o podemos constatar em 1995.
 4. Lenda de Nossa Senhora das Neves no Montejunto.
Refere-nos a lenda que “uma família constituída por pai, mãe e um filho ainda criança subiram a serra para apanharem alguma lenha para cozinhar alimentos e também para se aquecerem. Passado algum tempo surgiu um intenso nevoeiro e os pais, entretidos na recolha da lenha deixaram de ver o filho, perdendo-se este na imensa floresta.
Muito aflitos começaram a procurar a criança sem, no entanto, a encontrarem. Além do nevoeiro começou a cair a noite e a esperança de a avistarem era cada vez menos, talvez até porque a serra era habitada por animais ferozes e constituída por buracos profundos, fazendo aumentar cada vez mais uma forte angústia. Entretanto o dia começou a nascer e com ele um sol radiante e nem sequer se fazia notar a presença do nevoeiro que tanto os atormentou.
Surpreendentemente ali mesmo ao pé dos pais surge a criança com um ar feliz chamando por eles. Com ar de espanto, puderam perguntar-lhe onde esteve, pois andavam aflitos na procura, ao que a criança respondeu:  - “Sabem estive junto duma senhora que tinha um menino ao colo e na outra mão uma Maçã (Nossa Senhora das Neves)” (6).
5. O Culto a Santo António e Nossa Senhora da Luz em Pragança.
            Como acima referido, em 1758, já se prestava culto ao Santo António, padroeiro da aldeia de Pragança, com festa apropriada, nos tempos presentes, em 13 de Junho. Então, era mencionada uma ermida em honra de Nossa Senhora da Luz, no sítio do mesmo nome, à saída para a Correeira, construída com os tijolos dos fornos que existiram no Juncal, ali ao lado, e que, entretanto, desapareceu. Outros vestígios arqueológicos aí foram encontrados, em inícios do século XX, num terreno adquirido por um brasileiro torna viagem, chamado António Berthodo, morador então em Lamas. (7)
            A festa do ano de 1997 não atraiu forasteiros, para além de alguns residentes dos lugares contíguos. Já à procissão, presidida pelo reverendo padre Leandro, acompanhada pela centenária Banda do lugar, percorreu várias artérias da localidade a que a população assistiu com grandes manifestações de fé, nomeadamente com crianças vestidas de anjinhos e um ou outro altar de rua, junto ao trajeto. Animado foi o arraial noturno.
6. Tradições religiosas de Pragança.
Fazendo menção à religiosidade dos Pragancinos e fé no seu padroeiro, aqui deixamos um responso e uma oração, cuja recolha (8) fizemos cerca do ano 2000:
6.1.  Responso a Santo António
(Quando se quer encontrar algo que se perdeu, basta rezar, sem enganos:
“Santo António a altos montes subiu, encontrou Nossa Senhora, três coisas, Lhe pediu:
. O perdido fosse achado,
. O roubado ressurgiu.
. Milagroso Stº António ‘disparai’ aquele perdido,
Pela alma do nosso pai, da nossa mãe, dos nossos padrinho e madrinha, Stº António disparai esse perdido”.
 (Rezar Pai Nosso e Avé Maria).
 
 
6.2. Oração à Maria Pequena.
“Imperadora dos anjos.
Ó minha rica madrinha,
Ó que bela tão preciosa,
Ó que ouro tão bem empregado,
Se dá neste Sacrário.
Abre-se esse sacrário,
Correm-se essas cortinas.
Quero ver o Senhor,
Coisa é fé,
Coisa é o ensino.
Já o Sacrário está aberto,
Já o Senhor lá está dentro,
Já se pode adorar,
O Divino Santíssimo Sacramento”.
UNIQUE, Outubro de 2022.
Manuel de Almeida, dito ti Manel.
Bibliografia:
– Dias, Geraldo J. A. Coelho – ARQUÉTIPO DO CULTO MARIANO EM TERRAS DE AROUCA – in, Revista Rurália, Arouca, 1990.
 - PIMENTEL, Alberto – HISTÓRIA DO CULTO DE NOSSA SENHORA EM PORTUGAL, Livraria Editora Guimarães, pág. 183.
 - MELO, António Oliveira e outros – O CONCELHO DE ALENQUER, SUBSÍDIOS PARA UM ROTEIRO DE ARTE E ETNOGRAFIA – Volume 3. Ano de 1986, pág. 42 e 43.
 - SANTA MARIA,Frei Agostinho, - SANTUÁRIO MARIANO - Volume I, Ano de 1607, pág. 214.
 - Tendo o autor destas linhas assistido à romaria no ano de 1995, dela deixou relato escrito, ilustrado com fotos, que pode ser consultado na Voz de Cambra nº 600 e sgts de Maio de 1996. O seu título é: - "Pragança, Aldeia no Montejunto".
 - In, https://montejunto.pt/. Ano de 2022.
 - Archeólogo Português, volume X, ano 1905.
– Recolha junto da D. Maria, esposa que foi do Ti Chico Garcia.
Fotos:
. Procissão e festa de N.S. das Neves no alto do Montejunto. Ano de 1995.
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ribacaima · 1 year
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LUTEMBO, TERRA BUNDA.
PARTE III
A POPULAÇÃO DO LUTEMBO VISTA PELOS OLHOS DE UM EXPATRIADO. ANO DE 1974.
 Introdução.
Em 1974 o Lutembo compreendia 4 quimbos, ali agrupados, cujo nome lamentavelmente não anotamos. Tinha por isso, 4 (quatro) sobas. Três eram homens: - Sapato, Tetá e Ribango. O cargo restante era ocupado por uma mulher, a Muétepa, como antes referido.
Embora sem qualquer apoio estatístico (1), estimamos que os residentes não ultrapassariam as cinco centenas de pessoas; sendo muitas delas crianças e jovens, que frequentavam a escola lá existente, como algumas fotografias o documentam.
À data do nosso embarque a 11 de Setembro de 1973, com destino a Angola, sentava-se ao nosso lado um imberbe serrano, nativo da Suíça Portuguesa, e que se apresentou como sendo Von Almitz; talvez descendente de algum austríaco que se perdeu por aquelas bandas, aquando das invasões francesas.
Entabulada conversa, logo verificamos que, para além da origem, tínhamos mais coisas em comum, sobretudo no que se referia ao grande interesse pelo conhecimento das tradições de outros povos. A expectativa em relação aos africanos era enorme, está bom de ver.
Chegados ao Lutembo, as horas de ócio, nossas e dele, eram passadas, lendo, estudando e observando os pacíficos Bundas, povo étnico local.
De quando em vez, víamo-lo a rabiscar numas folhas de papel azul, com linhas, mas nem lhe prestávamos muita atenção; já que tal era comum à maioria dos soldados antes da redação final dos aerogramas a expedir para os familiares e conversadas na então dita metrópole.
Certo dia de Setembro ou Outubro de 1974, ao regressarmos do passeio habitual pela sanzala, em que tinha havido um ritual de fertilidade, em virtude de uma das esposas, do nosso guia, não engravidar; vimo-lo, mais uma vez, a escrevinhar, uns versos, mas de forma muito concentrada.
Gracejando, perguntamos-lhe se toda aquela literatura, que estava a redigir, era para a sua embeiçada, a Lurdes, a enviar pelo correio do dia seguinte. Desta vez nem corou, como era seu costume. Rindo, disse-nos:
            “Tenho andado, de há uns tempos a esta parte, a observar os Bundas e a passar para o papel o modo de viver simples desta gente, o que inclui a cerimónia de hoje, de que tiraste fotografias. Acho que as quadras estão muito imperfeitas quanto à métrica, que rima vai havendo alguma, parece. - Queres ver o que escrevi?”
- Sim, quero! Mostra lá?
Sendo nós o Escritas, com máquina de escrever distribuída, logo nos prontificamos para as datilografar, o que fizemos e aqui divulgamos.
Os Bundas do Lutembo pela pena de Von Almitz. Ano de 1974.
                                            I
                        Deste povo ainda não falei,
                        Com ele também aprendi.
                        Seus costumes deixam-me estupefacto,
                        Tão diferentes, daqueles aonde cresci.
                                               II
                        Seu período histórico ainda é antigo,
                        Sua maneira de proceder original.
                        Como se casam, como vivem,
                        Até a ida para o seio da terra é tradicional.
                                               III
                        A poligamia existe,
                        A mulher é comprada.
                        Também objetos pessoais levam,
                        Quando descem à última morada.
                                               IV
                        Suas danças me encantam,
                        Por terem origem antiquada.
                        Noites inteiras há batuque,
                        Só se calam, já quando é alvorada.
                                               V
                        Pena tenho de os não entender,
                        Mais lhes queria perguntar.
                        Conto o que viram os meus olhos,
                        Daquilo que não aprendi, fico a lamentar.
                                             VI
                        As mulheres vestem roupas longas,
                        Cores garridas são o seu ideal.
                        “Panos” lhe chamam,
                        Como o seu viver é sensacional.
                                               VII
                     O amanhã não os preocupa,
                        A mandioca dá a terra.
                        A casa é rústica,
                        Uma única preocupação: - a guerra.
                                               VIII
                        O homem foge do trabalho,
                        A mulher trata da casa (2).
                        Ele, sempre cansado,
                        Ela, a cuidar da filharada.
                                               IX
                        Às costas ela transporta o filho,
                        Até a pisar a mandioca lá fica instalado.
                        Vai à fonte, vai à loja,
                        Da mamã, ele nunca é separado.
                                               X
                        Connosco muito têm aprendido,
                        Mas, também, se têm prejudicado.
                        A compra do sexo é um exemplo,
                        Isto foi um nosso legado.
Von Almitz ainda se debruçou sobre o clima, nomeadamente os  vendavais e trovoadas, do seguinte modo:
Noites tenebrosas havia,
De chuva e vento a soprar.
O céu todo rugia,
Parecia que ia desabar.
A despedida.
Decorridas cinco décadas, damos por findas as observações e pesquisas feitas sobre a população do Lutembo e aqui vertidas para o papel pelo Escritas, que residiu então na localidade.
Dedicamos, por último, este trabalho aos adjuntos, para a loiça, Pedro e Karias e seus familiares; abraçando-os em qualquer que seja o local em que se encontrem ou repousem.
Queluz, 11 de Setembro de 2023.
Manuel de Almeida
(também dito Escritas e Von Almitz).                             
APONTAMENTOS:
– Na mesma altura os militares, ali aquartelados, rondavam os 160 e os Flechas seriam uns 30, parece.
– Deve entender-se palhota.
-  Para além das lides domésticas, as mulheres também tratavam das lavras. Os homens dedicavam-se mais à caça, pesca, artesanato e atividades militares. Idem, trabalho doméstico assalariado.
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Este garoto era, por sua vez, o adjunto do Karias ou seja o que lavava a loiça.
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Estátua do Cristo Rei colocada como Marco Geodésico Central de Angola, nas proximidades de Camacupa/General Machado. Parece que terá sido, entretanto, substituída por outra.
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ribacaima · 1 year
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LUTEMBO, Terra Bunda.
PARTE II
RESENHA DA ATIVIDADE MILITAR NA POVOAÇÃO DO LUTEMBO, NO LESTE DE ANGOLA.
Breve Enquadramento Histórico.
Com a gesta dos Descobrimentos, Portugal deu início no século XV a uma expansão marítima que levou os marinheiros portugueses aos quatro cantos do Mundo.
Tentando solidificar a sua influência, Portugal, sob orientação régia, começou por fundar feitorias ao longo das costas dos mares que ia controlando, nomeadamente em África, Brasil, Costa do Indico, tendo tocado mesmo as Molucas ou terra das especiarias.
Por falta de gente, a penetração no interior dos territórios, que ia descobrindo, era muito escassa. Por questões militares a exceção era o norte de África e em Goa, no subcontinente indiano.
Gradualmente, foi nomeando governadores e/ou concessionando terras, ditas feitorias, nomeadamente nas ilhas atlânticas, Brasil, ilha de Moçambique e em Goa.
Dada a importância dos negócios, nomeadamente com o desvio das rotas marítimas para o atlântico, as outras potências europeias cedo se lançaram também no descobrimento de novas terras e sua ocupação, pela força, incluindo algumas de que Portugal tinha como sendo suas.
Com o passar do tempo e o crescimento do comércio triangular, as novas entidades territoriais começaram a almejar a independência das potências europeias, nomeadamente nas Américas e perda do Brasil, em relação a Portugal em 1822.
Perdida a joia da coroa, o país vira-se para África, com particular destaque para Angola que, como antes referido, só vem a conhecer as suas fronteiras definitivas entre 1912 e 1914. Passa a ter como vizinho o Império Britânico, então o verdadeiro dono de África.
Decorridas as I e II Guerras Mundiais, alguns países europeus começam a equacionar em dar independências a muitos dos seus territórios, processo em curso em inícios da década de sessenta do século XX.
Talvez por razões históricas, Portugal entende que deve manter as suas colónias, dando-se começo, em 1961, à Guerra Colonial, em cujo ciclo final havíamos de vir a participar, por termos sido chamados a prestar serviço militar obrigatório, entre 1973 e 1975, no Lutembo, no leste de Angola, sito nas terras ditas do “fim do mundo”.
Na esperança de podermos ser úteis, a quem nos vier a ler, aqui deixamos, sem sermos exaustivos, uma breve síntese das unidades militares que deambularam, por Angola, com estadia, por algum tempo, no Lutembo e de que possuímos apontamentos.
Período de 1966 a 1973.
. Companhias de Caçadores 1720 e 1721 – Bat. Caç. 1920, com origem em Abrantes (1). Entre Julho de 1967 e Agosto 1969.
A C. Caç 1721 tinha um destacamento no Lutembo. Houve à entrada da povoação uma emboscada em que foram mortos dois soldados, que seguiam num Unimog. (2)
A Voz do Pastor, jornal da Diocese do Porto, de 18 de Novembro de 1967, refere que houve uma emboscada entre o Lutembo e o Luvuei. Parece que sem vítimas.
Já no período de 28/2 e 3 Março de 1968, diz que as "nossas forças causaram mortos e apreenderam material num golpe de mão a sueste de Lutembo (2 mortos); num assalto a um acampamento a sueste de Gago Coutinho (12 mortos)": Mais refere que: “as nossas forças sofreram 1 morto e 9 feridos (2 da PSP)”.
. C. Caç. 2596 e/ou 2597 do B. Caç. 2886, com origem no RI 1, na Amadora. Entre Outubro de 1969 e 3 Novembro de 1971.
Teve elementos seus destacados no Lutembo, que é descrito do seguinte modo:
“Como órgão de apoio de fogo dispôs o Bat. do PelMort 2061. Havia destacamentos em Mussuma, Sessa, LUTEMBO, Sebe e Chiúme”. (in, extrato escrito que temos no nosso espólio e documentação do Batalhão).
. CART 2731, com elementos mobilizados na ilha da Madeira. Entre Abril de 1970 e Junho de 1972.
Dois acontecimentos trágicos ocorreram durante a sua estadia no Lutembo:
a) Foi aqui que “faleceu o soldado Manuel da Conceição Pestana, em 20 de Janeiro de 1971, abatido por um guerrilheiro inimigo, que estava preso, mas conseguiu apoderar-se da G3 (espingarda automática) do nosso camarada, matando-o a tiro e suicidando-se seguidamente”. b) Também, nesta localidade, “o furriel miliciano Otílio Pinguinha Caliço sofreu ferimentos muito graves provocados pelo rebentamento do detonador de uma granada de mão, que obrigaram à sua evacuação para a Metrópole, terminando prematuramente a sua comissão de serviço”. (3)
Esta Companhia capturou ao IN vário equipamento militar. Ver foto.
. C.CAÇ. 3370, com origem no BC 10, Chaves. Entre Maio de 1971 e Abril de 1973.
Teve elementos seus destacados no Lutembo, conforme emblema/crachá o ilustra, em anexo.
Foi substituída pela CART 3514, Panteras Negras.
. C.CAÇ. 3483, do B.Caç. 3870, com origem no BC 10, Chaves. Entre Janeiro de 1972 e Abril de 1973.
Teve elementos seus destacados no Lutembo, de acordo com o emblema/crachá, em anexo.
. C.CAÇ. 3369, com origem no BII 18, Ponta Delgada. Entre Maio de 1971 e Abril de 1973.
Teve elementos seus destacados no Lutembo, conforme emblema/crachá o ilustra, em anexo. Era o 1º G. Combate.
Em 18 de Agosto de 1971, o Destacamento do Lutembo é atacado por um grupo de cerca de 120 elementos do IN. Não houve mortos nos nossos militares. Foi abatido, sim, um chefe do inimigo e feita captura de vário material de guerra. (4)
Não se ficam por aqui os ataques ao Luembo, bem como os diversos relatos em que tais datas eles ocorreram. Um artigo de Benjamim Formigo, in, Revista do Expresso, datado de 25 de Junho de 1994, com o título – Histórias Secretas da Guerra Colonial, pág. 59, menciona um outro, a esta Companhia, feito pelo MPLA, em 3 de Janeiro de 1973 fazendo cair rockets, sobre “os homens do Lutembo com uma violência inusitada. Os homens eram maçaricos inexperientes e desnortearam-se. Também, não era fácil reagir àquele potencial de fogo”, diz, em entrevista, o alferes Jorge Galvão da 37ª Companhia dos Comandos Portugueses, que esteve envolvido na perseguição ao IN.
Mais se diz no artigo que: a) A companhia atacada era açoriana e recém-chegada; b) Foi na sua perseguição ao IN, feita pela tropa portuguesa, que foi abatido um helicóptero e morto o seu piloto, cujo nome não é indicado.
Temos aqui, parece, dois relatos verdadeiros, mas ocorridos em datas diferentes e, ao que julgamos saber, em Janeiro de 1973, já não era a Companhia Açoriana que estava no Lutembo, por ter rodado em abril de 1972 para Benza no norte de Angola. Eram sim elementos das CARTs 3538 e 3514, conforme mais abaixo se documenta.
. CART 3514 - Panteras Negras - com origem no RAL 3 em Évora. Entre Abril de 1972 e Julho de 1974.
Sede em Luanguinga e destacamento no Lutembo, entre outros. Davam proteção à TECNIL. Em Maio de 1973 ficaram adidos ao BART 6320, colocado em Gago Coutinho. Estiveram 27 meses no Leste.
Sofreram duas baixas, sendo uma delas no Lutembo, por afogamento (5). Tratou-se do 1º cabo Ernesto da Silva Gomes, natural de Vermoim na Maia, em 7 de Maio de 1972.
Esta Companhia foi substituída pela C. Cav. 3517. (in, Internet)
. C. CAV 3517 - com origem no RC 3 em Estremoz. Entre Março de 1972 e Abril ou Julho de 1974.
Com sede no Luvuei, teve elementos seus destacados no Lutembo, conforme emblema/crachá o documenta, em anexo. Tratava-se do 4º pelotão. Dessa guarnição fazia parte um seu militar, que diz o seguinte:
“Estive no Luvuei e Lutembo de Abril 72 a Outubro 73, daqui fomos para o Caxito”.
Na publicação, que estamos a seguir, também são referidos os ataques ao Lutembo e Luvuei (6); verificando-se algumas divergências de pormenor, nomeadamente à noite de natal.
Também aí é dito que: . Tal assalto, se deu na noite de 4 de Janeiro de 1973, por 95 elementos do MPLA. . É na perseguição ao MPLA que é abatido o helicóptero e morto capitão Piloto Aviador, Custódio Santana, natural de Vendas Novas. (in, Facebook). . Na perseguição, os Comandos atacam, já na Zâmbia e por engano, uma coluna do exército deste país. . A base do MPLA era em Cassanhinga.
Em inícios de Novembro de 1973, foi substituída pela 1ª CART/BART 6321 e deslocada para o Caxito. (in, C. Manhã de 27 Fevereiro de 2011 e outros).
. CART 3538, integrante do BART 3881- Os Grifos - e origem no RAP 2, em Vila Nova de Gaia. Entre 1972 e 1974.
Inicialmente, esta Companhia, com sede em Luanguinga e a C. Cav. 3517, com o comando no Luvuei, tinham no Lutembo um pelotão cada; tendo a primeira, mais tarde, assumido o total do Quartel, até à chegada da 3ª CART/BART 6321, em finais de Setembro de 1973.
Graças a informações prestadas por elementos da CART 3538, que muito agradecemos, confirma-se o ataque ao Quartel, com rockets, em inícios de Janeiro de 1973; sendo que o da noite Natal de 1972, não terá sido mais do que um boato lançado pela rádio do MPLA e que era escutada por toda Angola.
Aqui se deixa um relato de quem vivenciou o ataque de Janeiro de 1973:
“Sim, também tenho para mim que foi a 3 de Janeiro e segundo os especialistas, mísseis e canhão sem recuo, lembro-me muito bem de vermos sair do outro lado do rio as granadas ainda incandescentes, era lusco-fusco e dava para ver, também me lembro (se lembro) o tempo infindável deitado na barreira desde o sair até ouvir o rebentar, na esperança que não fosse junto a nós”. (In, página da CART, no Facebook).
Podemos confirmar que, ao nosso tempo, ainda tropeçávamos, no recinto, em estilhados e armações dos projéteis descarregados sobre os soldados lá aquartelados.
A CART 3538 sofreu a morte de um militar em 7 de Julho de 1972 e uma evacuação por rebentamento de uma mina, num domingo de Páscoa. Já a 3ª CART/BART 6321 não teve baixas por morte, felizmente.
Período de Setembro de 1973 a Março de 1975.
A 3ª CART/BART 6321 chega ao Lutembo em finais de Setembro de 1973, como antes referido. Instalada em tendas de lona, ditas barracas, logo começa a fazer o patrulhamento da vasta zona que lhe era adjacente. Esta ia da povoação, situada na margem direita do rio, até à fronteira com a Zâmbia, alguns quilómetros lá para diante.
Integravam a unidade militar uns 160 homens; sendo cerca de quarenta do recrutamento local, oriundos do Lubango, quartel de Sá da Bandeira.
Tendo a Companhia cinco pelotões, dois estavam, por norma, em atividade operacional no exterior. Acompanhados por guias locais, exerciam missões de vigilância e deteção de trilhos na mata. Regressados, era elaborado, pelo oficial responsável pela operação, um relatório que depois de visado pelo comandante da Companhia era enviado às entidades militares competentes, nomeadamente ao Batalhão, com sede no Lucusse.
Toda esta azáfama, aliás similar a outras companhias militares, encontra-se profusamente descrita em recente trabalho da autoria de Manuel Isidro Pereira (7), dito LACRAU, e soldado operacional da 2ª Companhia. O seu título é: - MEMÓRIAS QUE NUNCA SE APAGAM. Ano de 2021.
Os restantes três pelotões estavam afetos às tarefas diárias da unidade, das quais se incluíam a apanha de lenha para cozinhar os alimentos, a captação de água no rio para abastecimento do pessoal, manutenção dos equipamentos, nomeadamente do parque auto, apoio administrativo e de comunicações, entre outras. Nada de especial, portanto.
Por o considerarmos com interesse, abaixo deixamos descritos, de forma resumida, alguns acontecimentos de índole militar ocorridos no lapso de tempo em análise.
. ATAQUE, PELO MPLA, Á 42ª COMPANHIA DE COMANDOS.
Aquando da chegada da 3ª CART/BART 6321 ao Lutembo era intensa, pode dizer-se, a atividade militar na zona. Com frequência apareciam, ao amanhecer, helicópteros a transportar tropas especiais que iam efetuar operações na mata. Eram essencialmente dirigidas para os guerrilheiros do MPLA – fação Chipenda - viemos a sabê-lo, mais tarde.
É no desenrolar desta contenda, iniciada em princípios de Janeiro, desse ano, com o assalto pelo MPLA ao quartel do Luvuei e posterior abate de um helicóptero português e morte do seu piloto, capitão Custódio Janeiro Santana, nas redondezas do Lutembo, que deve ser entendido um outro ataque efetuado pela mesma força nacionalista, em 15 de Novembro de 1973, no sítio da Casa Branca, entre o Luvuei e o Lutembo, à 42ª Companhia de Comandos, seus perseguidores. (8)
Refira-se que o ataque só se deu depois de ter passado, antes, duas outras colunas: - uma de abastecimentos (MVL) e outra de tropas paraquedistas. Não será de admirar, por isso, que a morte de cinco militares (9) se tenha devido “ao excesso de velocidade em que seguiam as viaturas, ao descuido em que vinham os soldados e ao não cumprimento dos regulamentos que impunham que a arma devia vir sempre engatilhada”.
Certo é que os cadáveres foram recolhidos pelos militares da 3ª CART/BART 6321 e depois transportados para o quartel de Gago Coutinho, para serem repatriados e entregues às famílias.
. ATAQUE PELO MPLA A MADEIREIROS.
Acontecimento que então muito nos afetou, por o acharmos despropositado, foi o ataque, por guerrilheiros do MPLA, a uma equipa de madeireiros nas imediações do Lutembo.
Com efeito, em 24 de Janeiro de 1974 chegou a notícia que haviam sido mortos 8 (oito) madeireiros e os seus camiões incendiados. Sendo civis, tal ato pareceu-nos injusto e desnecessário. Como desconhecíamos a ligação destes trabalhadores ao fornecimento de víveres à UNITA, só muitos anos depois é que viemos a encontrar alguma explicação para o sucedido.
Mesmo a esta distância, continuamos sem entender esta barbárie. Podiam tê-los feito prisioneiros e incendiavam de seguida os veículos. Contudo, os trabalhadores, cujos nomes não anotamos, repousam, em campa rasa, no cemitério local, ali muito perto do Quartel. Provavelmente nem seriam da povoação.
Foi com grande pesar que assistimos ao seu funeral, acompanhado de outros militares e da população civil. Por ser diferente daquilo que estávamos acostumados, ainda hoje retemos na nossa memória as peças de roupa, nomeadamente sapatos, pregadas aos caixões e cujo significado, lamentavelmente, não averiguamos.
Vagueando entre as campas, também era usual haver pratos junto das mesmas onde era depositada de tempos a tempos comida, destinada a alimentar, supomos, os seus espíritos.
Para além das fotos de um camião calcinado, em anexo publicamos um PDF do panfleto deixado, junto dos cadáveres, pelos guerrilheiros do MPLA e que temos no nosso espólio.
O terreno e camiões também foram armadilhados, tendo-se verificado alguns feridos ligeiros, aquando da sua remoção. (10)
. OUTROS INCIDENTES DE CARIZ MILITAR.
Apesar da estrada Luso a Gago Coutinho já estar asfaltada e desmatada, para aí uns cinquenta metros de cada lado, era frequente haver ofensivas pelas forças nacionalistas que operavam na zona, a quem nela circulava, como dito.
Por norma, os abastecimentos às Companhias militares e aos comerciantes estabelecidos, nas povoações, era feito às terça feiras sob escolta militar, denominada MVL. (11) Por isso, não era aconselhável transitar sozinho na mencionada via. Não obstante, às vezes passava um outro veículo civil que, por qualquer razão, infringia as regras.
Sabe-se que, em tão grande trajeto, terão sido mortos vários soldados e civis, mas não estamos suficientemente documentados sobre este assunto. Caso diferente é Isidro Pereira que também relata um acidente ocorrido no quartel, com uma arma de fogo (G-3), e em que ficou ferido um soldado condutor da nossa unidade militar. (12)
Também nas bermas da estrada e picadas eram colocadas minas anticarro, que, pisadas, danificavam os veículos, alguns da 3ª CART/BART 6321, sem mortos felizmente. (13)
. 1º ENCONTRO AMISTOSO COM O MPLA.
Foi no Lutembo que se deu o primeiro encontro amistoso, a 24 ou 25 de Agosto de 1974, entre as tropas portuguesas e os guerrilheiros do MPLA. Seriam entre 16 e 18. A esta efeméride, refere-se o Jornal Expresso de 5 de Outubro de 1974, ilustrado com foto, mas sem mencionar o local da sua captação.
Na qualidade de leitor regular, desde 1973, do referido Semanário e por termos presenciado o Encontro, logo identificamos o soldado português do 2º Pelotão da 3ª CAR/BART 6321, nosso colega. O seu nome é José Manuel Bernardo Silva, dito Pequenitote. O outro é o guerrilheiro mais velho do MPLA, a combater no Leste de Angola, confessou. (14)
Tudo aponta que a foto tenha sido enviada ao Expresso por João Manuel Bernardes Relvas, furriel miliciano, do 2º Pelotão e que recebia lá então o Jornal. Já não está entre nós.
. A MORTE TRÁGICA DO EX-FURRIEL MILICIANO, JOÃO RELVAS, ENQUANTO MILITANTE DA ORA – ORGANIZAÇÃO REVOLUCIONÁRIA ARMADA. ANO DE 1986.
Ao tempo da nossa prestação do serviço militar obrigatório, o furriel miliciano, João Relvas seria dos mais politizados e parece que, já nessa altura, opositor do regime. Assim o define Isidro Pereira, dito Lacrau, e seu subordinado direto, na obra antes referida.
Já depois do 25 de Abril de 1974, tendo vindo de férias à metrópole, quando regressa, chega empolgado com a revolução e, numa atitude altruísta, oferece relógios aos seus soldados angolanos. (15)
Como dito, já recebia o Jornal Expresso, então considerado da oposição. Não espanta que, após a desmobilização, em Março de 1975, tenha aderido a “movimentos da extrema esquerda” em Portugal, ao serviço dos quais vai perder a vida aos trinta e cinco anos de idade.
Embora com pouco suporte documental sobre a sua atividade política, certo é que na madrugada de 14 de Julho de 1986, ao manusear explosivos, na residência dos pais à Avenida dos Estados Unidos da América nº 105 em Lisboa, vem a falecer, com outro membro, ao serviço da ORA – Organização Revolucionária Armada que esteve particularmente ativa nesse ano, colocando bombas em diversos locais, inclusive em Hotéis do Algarve.
Esta morte trágica foi noticiada pela imprensa escrita da altura, nomeadamente pelo Diário de Lisboa que temos vindo a seguir. Já era, contudo, do nosso conhecimento o seu falecimento. (16)
Também o Jornal Expresso, de 19 de Julho de 1986, dá ampla ênfase ao acontecimento, do seguinte modo: . Os falecidos chamavam-se José Manuel Moreira Relvas, filho dum coronel do exército; sendo o outro Victor Manuel dos Santos Pereira, sem mais indicações. . Eram militantes da ORA – Organização Revolucionária Armada. . Já a Polícia Judiciária refere, em comunicado, que um se chamava João Relvas e o outro Victor Pereira e eram militantes das FP-25 e do PRP-BR. . O Jornal insere foto da varanda do edifício toda danificada, na Avenida Estados Unidos da América, em Lisboa.
. 1º ENCONTRO AMISTOSO COM A UNITA.
Também se deu uns dias antes no Lutembo. Eram em maior número e não se apresentaram tão bem fardados.
. A PIDE E OS FLECHAS DO LUTEMBO.
À chegada da 3ª CART/BART 6321 ao Lutembo, existia aí uma delegação da PIDE/DGS composta por dois elementos desta Corporação, de origem europeia, e que, por vezes, circulavam pelo Quartel, provavelmente em serviço ou visitas de cortesia.
Embora desconhecendo os seus nomes, pensamos que constam de duas fotografias de convívios havidos na localidade em 1973 ou 1974, com militares da 3ª CART. Aqueles, dirigiam/comandavam o Grupo de Flechas com sede na localidade e que tinham: . Autonomia operacional, ao que julgamos saber. . Quimbo/sanzala própria, onde viviam com as suas esposas e filhos, conforme o costume dos Bundas. Como tinham ordenado fixo, era-lhes fácil pagar os respetivos dotes. Nesta data, não nos é possível adiantar mais informação sobre esta força paramilitar.
Na sua obra, diz-nos Isidro Pereira que no Quemba, outra localidade nas imediações da Linha do Caminho de Ferro de Benguela, também havia uma delegação da PIDE/DGS, com 3 elementos.
Dado que na altura Angola já caminhava para a independência, os mesmos viram-se desamparados e passaram a almoçar com os soldados do 2º pelotão da 3ª CART/BART 6321, aí destacados, por volta de Fevereiro de 1975. (Vol. II, pág. 371).
. A PARTIDA DA 3ªCART/BART 6321 DO LUTEMBO.
Aí por meados de Novembro de 1974 começou a ouvir-se falar que a 3ª CART/BART 6321 ia ser deslocada para outra região de Angola, mas não se sabia para onde.
Em inícios de Dezembro ficou a saber-se que a mesma iria para o centro de Angola, mais propriamente para General Machado, dito Kamakupa, pequena cidade, junto ao Caminho de Ferro de Benguela e outras localidades em seu redor, nomeadamente Munhango e Quemba.
No dia da entrada da Companhia no Quartel, foi com espanto que vimos instalados numa vivenda da mesma rua, ali mesmo ao lado, uns soldados devidamente fardados e com sentinelas na porta principal. Ultrapassada a surpresa, viemos a saber que eram da FNLA. Metida conversa, verificamos que não se expressavam minimamente em português, mas sim em francês. Demonstravam ser disciplinados, mas pouco mais sabemos da sua estadia na localidade.
Certo é que, mais tarde, houve aqui um comício da UNITA, com a presença de Jonas Savimbi, e com grande adesão da população nativa. Curioso foi vermos os soldados deste movimento, deficientemente ataviados, usando uns cacetes grandes para disciplinar a população.
Como na altura estava em voga a minissaia, as jovens nativas também aderiram à moda, está bom de ver. Só que, conservadores, os militares ou militantes do movimento, repreendiam-nas, dando-lhes cacetadas, exigindo o traje tradicional.
Soubemos, mais tarde, que aquando da partida do Quartel, da 3ª CART/BART 6321, houve luta entre o MPLA e a UNITA pela posse das instalações, desconhecendo-se, no entanto, quem foi o movimento vencedor. Era já o prenuncio da guerra civil, como veio a acontecer.
Uns dois dias depois, já a Companhia se encontrava no Grafanil, nos arredores de Luanda, e daí a uma semana desembarcava, a 8 de Março de 1975, em Figo Maduro, em Lisboa; dando-se por finda a sua atividade militar.
. O B. CAÇ 4910/74, COM ORIGEM NA MADEIRA, E O LUTEMBO.
São soldados deste Batalhão, parece que da 2ª Companhia, que foram ocupar, por alguns meses, os Quarteis do Lutembo e Luvuei. No dizer de José Manuel Coelho, político madeirense, aí se mantiveram até 15 de Fevereiro de 1975.
Foram estes, tudo o leva a crer, os últimos militares portugueses a estarem presentes, nas referidas povoações, situadas na Terra dos Bundas.
Posteriormente, a 2ª Companhia foi colocada em Luanda onde vivenciou as agruras do início da guerra civil angolana e a fuga dos colonos para Portugal. (in, Breves Histórias do Batalhão 4910/74 em Missão na R.M.Angola, nos anos de 1974/1975 – Internet).
. SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DO BART 6321/73 EM ANGOLA.
Querendo documentarmo-nos melhor sobre a atividade militar do Batalhão, do qual fizemos parte, contactamos, por escrito, o Arquivo Geral do Exército que, depois de identificar os comandantes das diversas unidades, nos informou:
“O BART foi colocado no subsector de Lucusse, no sector do Moxico, na ZML, onde rendeu o BART 3881, tendo assumido a responsabilidade do ZA em 17Set73. O dispositivo foi o seguinte: Comando e CCS em Lucusse, a 1ª CART em Luvuei, a 2ª CART em Cassamba, a 3ª CART em Lutembo e com o reforço da CCaç 1101/RI 20 (GN) em Lungué-Bungo e de 5 grupos de GE. No subsector, o In utilizava uma pequena área junto a Cassanhinga, na fronteira com a Zâmbia, e uma pequena zona nas nascentes do rio Luanguinga; manifestava-se por implantação de minas no itinerário principal Luso-Gago Coutinho e raros ataques, emboscadas ou flagelações a povoados. Das operações realizadas, merecem menção as denominadas ‘Mónica’ ‘Mónica 52’, e ‘Mónica 64’, ´Máquina’ e ´Mérito´. Registe-se um forte ataque do In a uma coluna de Comandos na estrada Luvuei-Lutembo, em Nov 73, que causou às NT pesadas baixas. A partir de 21Set74, cessaram, oficialmente, as hostilidades no subsector, mantendo o BART uma atividade constante de patrulhamento e reconhecimento, a fim de manter a ordem pública e a segurança das populações. Em 04Dez74, o BART foi substituído no subsector de Lucusse pela 1ª Caç/BCaç 4910/74, a qual ocupou com os seus pelotões as áreas das companhias do BART. O BART deslocou-se então para a área do Lobito-Benguela, onde se instalaram o Comando e CCS no Lobito e a 2ª CART em Benguela, enquanto a 1ª CART ocupou Nhareia e a 3ª CART se deslocou para General Machado, ambos no sector do Bié. Em 27 e 28Fev75, O BART foi substituído pela CCaç 4746/73 no Lobito e pela CCav 8440/74 em Benguela, então integradas no recém-criado Comando Operacional Lobito-Benguela (COPLO BENG) tendo seguido para Luanda para embarcar”. (in, Informação prestada pelo Arquivo Geral do Exército, em Julho de 2023, na nossa posse, e que muito agradecemos).
. BELMONTE, DITA SILVA PORTO, TRÊS CURIOSIDADES.
Na primeira parte deste trabalho, deixamos uma descrição do Lutembo, cerca de 1847, pela pena de Silva Porto. Este comerciante é considerado o fundador da localidade, com o seu nome, capital do Bié; por aqui se ter fixado e deixado numerosa prole.
Julgamos, no entanto, ser menos conhecido do público, em geral, que antes, a terra se designava de Belmonte, devido à amenidade do clima, para um europeu.
Também nós, aquando da estadia em Camacupa, por aqui deambulamos em serviço ou por questões de estudo (17), durante alguns dias. Vivia-se, então, num tempo de euforia, com toda a gente a pedir igualdade, até no vinho que era vendido um pouco por toda Angola: - um era designado de “lote” e o outro era o “especial”, com preços diferenciados, está bom de ver.
Certo é que, num edifício, tipo armazém, junto da estação do Caminho de Ferro de Silva Porto, que ficava um pouco longe do centro urbano principal, alguém com sentido de igualdade se atreveu a reivindicar: - “queremos 'uma' só vinho”. Dito doutro modo, por interpretação deste escriba: - Porquê haver diferenciação, se todos somos filhos de Deus?
A outra, no mesmo local, evidenciava o desejo de independência e apontava para a saída dos brancos de Angola, que dizia: - “Os brancos vão partir”, ao que alguém que, supomos, ser europeu, escreveu por baixo, noutra letra: - “Os c*rnos aos pretos”. Infelizmente, todos perderam nesta contenda, sabê-lo cinquenta anos depois.
A terceira novidade tem características históricas, relacionadas com a Primeira Guerra Mundial. Estava-se no auge do conflito e a mobilização de soldados chega a Cepelos, freguesia situada nas faldas da Serra da Freita e donde nós também somos originários.
Um desses magalas chamava-se Adelino Tavares Russo que assenta praça em 18 de abril de 1917, no Regimento de Infantaria 24 em Aveiro. Feita a instrução militar é encaminhado para Lisboa, onde embarca para Angola em finais de Dezembro desse ano.
Em 15 de janeiro de 1918 desembarca em Luanda. Dias depois, vai novamente de barco até ao Lobito e, daqui, de comboio até Benguela, onde permaneceu um mês, à espera que o Quartel do Bié-Belmonte estivesse concluído, para o receber e demais guarnição. Entretanto, a maioria dos soldados apanham paludismo.
No dia 20 de Fevereiro de 1918, apanha o comboio, já existente, até Huambo, mais tarde denominado de Nova Lisboa e término, então, da linha do Caminho de Ferro de Benguela.
Do Huambo ao Bié a “viagem foi feita a pé, em marcha lenta, de arma a tiracolo e mochila às costas”. Tavares Russo e os colegas caminhavam na cauda da caravana dos carros “boeres”, puxados a duas juntas de bois, que transportavam produtos alimentares, medicamentos, material de guerra, fardamentos, entre outras utilidades.
À falta de provisões, a caravana ia-se alimentando com o abate dos bois que puxavam os carros; tendo a viagem durado 6 dias. Ele e os demais companheiros, caminhavam das 6 às 12 e das 13 às 17 horas.
Por aqui, Belmonte, os soldados estiveram 20 meses, sem serem guarnecidos ou fardados. Vejamos, pela sua pena, como era o Quartel:
“dois compridos barracões, construídos de pau a pique, chapeados a barro e cobertos a capim, de amplas entradas para uma melhor renovação de ar e poupança de trabalho em abrir e fechar as portas”.
Para dormitório “uma confortável tarimba a todo o comprimento de cada um dos lados dos barracões, com um macio colchão confecionado de material igual ao que servia de cobertura ao respetivo prédio – capim.
Duas mantas para cada dois militares, uma servindo de lençol, outra de cobertor. Os capotes de cabeceira – constituíam o valioso conjunto de roupa do luxuoso quarto, onde eu e os meus colegas descansamos e dormimos, durante vinte longos meses”.
Como já tinha a 3ª classe, tirada na Escola de Vilar (18), é chamado para colaborar na secretaria, tal como este amanuense, décadas mais tarde.
Não se ficam por aqui as agruras do Cambrense: . Regressa, de navio, a 17 de Janeiro e chega a Lisboa a 16 de Fevereiro de 1920; sendo que o barco era dos alemães, por lhes ter sido apreendido e com quem Portugal estava em contenda, com batalhas travadas no sul de Angola.
. Não são abastecidos em Dacar – colónia francesa do Senegal – por não haver dinheiro para pagar os alimentos. Por isso passaram: - “a comer exclusivamente bolacha velha carunchosa e sopa de ervilha bichosa, com os respetivos bichinhos nadando mortos à superfície do comer, para melhor despertar o apetite”.
Depois dos contratempos narrados, a cereja no topo do bolo estava à espera, dos dois terços dos soldados que regressaram, no Cais do Sodré em Lisboa, aquando do desembarque: - É-lhes fornecido fardamento novo, ainda a bordo, e são recebidos por uma Banda de Música. Queriam era comida, diz-nos Tavares Russo (19), nos seus escritos.
Salvaguardadas as devidas distâncias no tempo, também nós, 55 anos depois, regressados daquelas paragens, vestidos à civil, nos vimos abandonados pela hierarquia em Figo Maduro, numa madrugada fria de Março de 1975.
Três dias depois da nossa chegada, dá-se o 11 de Março e, tal como no Lutembo, foi com espanto que vimos, nessa manhã, os helicópteros a voar em círculo sobre o Rossio e os aviões militares em voo rasante sobre o Terreiro do Paço e rio Tejo, em Lisboa. E esta?
. A ADMINISTRAÇÃO CIVIL DO LUTEMBO. ANO DE 1973/74.
Tinha o Lutembo, do lado direito da estrada, sentido Gago Coutinho, e nas proximidades do Quartel, um edifício, tipo vivenda, mas que sobressaia dos outros e das cubatas por ser telhado e ter escrito, em cima, o nome da localidade. Era o Posto Administrativo, viemos a sabê-lo, mais tarde. Eram aqui tratados os assuntos de natureza civil, nomeadamente os registos de nascimento, óbito, entre outros.
Era chefiado pelo Sr Adelino Correia da Silva. Este, por vezes, vinha ao quartel em visita de trabalho ou cortesia, junto do Comando da Companhia. Graças à gentileza dos seus filhos Fernando e Ezequiel, então residentes temporários na povoação, publicaremos duas fotografias, onde ele consta, entre outras pessoas, com o seu filho mais novo.
Em termos administrativos, o Posto do Lutembo pertencia ao Distrito do Moxico, Circunscrição dos Bundas. (20) À noite, a residência era guardada por sipaios do Lutembo, usando ainda a velhinha espingarda Mauser.
Havia também na localidade:
. Escola primária, com muitos alunos de ambos os sexos, e que ardeu, aquando da nossa estadia. Foi, entretanto, construída uma nova, com a colaboração da 3ª CART/BART 6321, cuja foto foi publicada na Parte 1. . Posto de enfermagem, com enfermeiro residente. . Estabelecimento comercial onde a população e soldados se abasteciam. Estes últimos iam, sobretudo, em busca da cerveja; só que quando ela faltava no Quartel também o comerciante já a não tinha. Solução: - Beber água do rio Lutembo. . Uns dois alfaiates que trabalhavam, sentados no chão, com umas máquinas de costura antigas, movidas manualmente. Confecionavam, sobretudo, calções para os tropas. . Pelo menos um ferreiro tradicional, que manufaturava uns facalhões grandes que alguns soldados levavam consigo para a mata. Lamentavelmente não fotografamos os artesãos, aqui referidos.
. AS PONTES DO RIO LUTEMBO.
Eram três as pontes que atravessavam o rio Lutembo. A primeira, na estrada asfaltada, suportada por muros em cimento armado, era em vigas de madeira e tabuado, mas de grande robustez para aguentar o peso dos camiões e das Berliettes. O tabuleiro não era em cimento, supõe-se, por, em caso de sabotagem, ser mais fácil a sua reparação. O inimigo chegou a colocar, lá perto, na berma da estrada minas anticarro, tendo danificado alguns camiões.
A segunda, mais rudimentar, era também em madeira, no enfiamento do quartel e com ligação a uma pequena pista de aviação, onde aterravam avionetas. Sempre que tal acontecia, mesmo com o correio, era montado um esquema armado de proteção. Tinha sido dali perto, na orla da mata, que os rocketes haviam sido lançados, sobre o Quartel, em Agosto de 1971 e Janeiro de 1973, como acima referido.
A terceira, só em madeira e estreita, ficava entre as duas, já referidas e nas proximidades do fontanário, recém-construído. Era essencialmente utilizada pela população local, no deslocamento para as lavras, caça e mata contígua. Era junto a esta que as mulheres, todas nuas, e crianças tomavam banho e, portanto, a preferida da rapaziada magala. Costuma dizer-se que “à terra onde fores ter, faz como vires fazer”. Ora, vontade não faltava aos soldados. Só a que a cultura delas, em relação ao corpo, era bem diferente dos europeus, ali despejados.
Pensando que estavam protegidos pelos salgueiros, dos rios portugueses, ou pelos chaparros do Guadiana, donde a maioria eram oriundos, punham-se a rastejar no meio do capim, qual campo de trigo no Alentejo, a espreitarem as jovens, aqui ditas de “cafecas”. Só que, entusiasmados, descontrolavam-se, faziam barulho e denunciavam a sua presença.
As mulheres, surpresas, gritavam e todas corriam para a margem a cobrirem os corpos, com os seus longos panos coloridos. Engraçado é que quando por ali passava, na ponte, um adulto nativo, a calma entre elas era total. Outras gentes e outros costumes, está bom de ver. Queluz, Agosto de 2023. M. Almeida Ex-Escritas.
ANOTAÇÕES: (1) – In, Facebook e nas “Planuras do Moxico”. (2) – Idem, Planuras do Moxico III. (3) – In, História da Companhia no Facebook e crachá. (4) – In, História do B. Cav. 2902, jornal Xeque Mate e Herberto Terra no Facebook. (5) – In, Escrito na Pedra, Facebook. (6) - In, Leste de Angola, Janeiro de 1973/Página dos Comandos e Facebook. (7) – PEREIRA, Manuel Isidro. Edição de autor, 2 volumes. Trata-se de uma impressionante História de Vida, com ênfase na experiência militar do autor, aquando da sua estadia no Lutembo, e de outros factos particulares da sua vivência, desde a infância até aos dias de hoje. Foi com grande contentamento que assistimos ao seu lançamento, em recente Encontro dos ex-militares da 3ª CART/BART 6321 e seus familiares. (8) – Há bastante literatura sobre esta contenda, nomeadamente na página oficial dos Comandos Portugueses e dos Paraquedistas, entre outras.
Para além dos 5 mortos (4 comandos e um fuzileiro especial do DFE 6) são referidos 15 feridos graves.
Idem, Cronologia da Guerra Colonial, naquilo que respeita aos mortos.
Isidro Pereira também se debruça sobre esta temática entre as pág. 241 e 246 do Vol. I, do seu trabalho de 2021. (9) - Por nós referido no manuscrito, Lutembo, Terra Bunda, datado de Maio de 1984, pág. 38. (10) – PEREIRA, Manuel Isidro - também se refere a este nefasto acontecimento, Vol. I, pág. 322 e sgts. (11) - Idem, Vol. I, pág. 380; - MVL (12) – Idem, Vol. II, pág. 83. Tiro pé (13) - Idem, Vol. I, pág. 314 e Vol. II, pág. 299. BERLIET e outras. (14) – Idem, Vol. II, pág. 285. Este autor também tem foto com o guerrilheiro (15) – Era o comandante da secção do Isidro Pereira, dito LACRAU. É abundantemente referido na sua obra, Volume II, pág. 66, 129, 292 e 325. (16) – Era filho do tenente coronel na reserva, Miranda Relvas que na altura não se encontrava na residência, por motivo de férias. O jornal identifica o furriel pelo nome de José Manuel Miranda Relvas, o que é diferente daquele que consta das listagens da 3ª CART/BART 6321, na nossa posse, em que aparece como sendo: - JOÃO MANUEL BERNARDES RELVAS. A imprensa da época também não é unânime na patente do pai. - A este assunto, também se refere a Wikipédia, in Forças Populares 25 de Abril, de forma incipiente. - Podemos adiantar que, aí pelos anos de 1977/78, o ex-furriel Relvas trabalhava num supermercado na Amadora, aonde várias vezes nos cumprimentamos e, parece, noutro, na Avenida Almirante Reis em Lisboa ou nas suas proximidades. O da Amadora ficava no lado direito da Rua - 27 de Junho - frente à Escola Primária, que ia dar ao Posto Médico. (17) – Foi aqui, no liceu Silva Cunha, que obtivemos, em inícios de 1975, o diploma referente aos 9 anos de escolaridade. - Também, descritas no manuscrito da nossa autoria, datado de 1984, com o título: Lutembo, Terra Bunda, premiado, na altura, em Jogos Florais. Pág. 80. Relativamente às reivindicações políticas, lamentamos, hoje, não as termos fotografado. (18) – in, Trabalho da nossa autoria, com o título: - BREVE HISTORIAL DE ALGUMAS ESCOLAS PRIMÁRIAS DA SERRA. ANO DE 1935, publicado na Voz de Cambra, da 1ª quinzena de Fevereiro de 2014 e sgts. (19) – TAVARES RUSSSO, Adelino – in, Jornal de Cambra, edições de Dezembro de 1983 e Janeiro de 1984. (20) - VALÉRIO, Nuno. - Divisões administrativas do Império Colonial Português. ISEG. Ano de 2021. PDF
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O Escritas, à esquerda, também consta da foto.
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Atente-se na marmita que era usada, aquando das refeições.
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Inspecionando o local por militares da 3ª CART/BART 6321.
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Foto gentilmente cedida pelos filhos do Sr Administrador: - Fernando e Ezequiel.
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Idem, com o seu filho mais novo.
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1º/S Cabos: - Tavares, Tino, Escritas, Carlos Cortes – de costas – e, pensa-se, o furriel João Relvas.
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Local do ataque à 42ª Companhia de Comandos, próximo da Casa Branca.
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Durante a 1ª G. Mundial, Adelino Tavares Russo, de Cambra, prestou aqui serviço militar obrigatório.
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Crachás das Unidades que tiveram militares no Lutembo.
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Idem, pág. 2
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Lutembo: - Panfleto deixado pelo MPLA no local do ataque. Janeiro de 1974.
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Panfleto, pág. 2.
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ribacaima · 1 year
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Lutembo, Terra Bunda.
Parte 1.
. PRÓLOGO.
No cumprimento do serviço militar obrigatório, vão ser atingidos, dentro de alguns meses, cinquenta anos sobre a data em que fomos mobilizados, para Angola, integrados na 3ª CART/BART 6321, com origem no RAL 3, em Évora.
Embarcados em Figo Maduro, na noite de 11 de Setembro de 1973, chegamos a Luanda umas quantas horas depois, em manhã soalheira. Vista lá de cima, a cidade pareceu-nos aprazível, rodeada de oceano azul e terra plana de cor ocre.
De seguida, fomos mandados entrar em camiões que nos largaram, cerca de uma hora depois, num campo militar, dos arredores de Luanda, denominado de Grafanil e que, até então, desconhecíamos existir.
Estava, porém, muito longe o nosso destino final, que só soubemos onde era, cerca de uma semana depois, quando saltamos, mais uma vez, da caixa aberta de camiões civis para pisar o chão do Lutembo, nas terras do fim do mundo, no leste de Angola ou nos Cus de Judas, como lhes chamou Lobo Antunes, eminente escritor, que também por lá mourejou.
Desta aventura e do modo como vimos Angola, durante o tempo que mediou entre a data acima referida e 8 de Março de 1975, já nos debruçamos em relato por nós redigido, em 1984, e que mereceu a boa atenção do júri em jogos florais (1), desse ano.
2. LUTEMBO, ONTEM E HOJE.
Nos últimos anos, temos tentado documentar-nos melhor sobre o Lutembo, tendo algumas novidades para dar, nomeadamente:
. Já há relato do local, feito por sertanejos, por volta de 1847. O soba, chamado Kabitta, era dos rijos. Só autorizou, ao contrário de outros, que atravessassem os seus domínios depois de pago pesado tributo. À entrada da povoação tinha afixado um aviso que não precisava de tradução: - Caveiras dos seus inimigos espetadas em paus. Quem é que não entendia a mensagem? Era, tudo o indica, homem de palavra; pois terá honrado os compromissos que firmara com os comerciantes.
. Então, a libata/quimbo estava situada na margem esquerda do rio. Parece que, por questões de segurança, mudava de local com alguma frequência.
. A delimitação de fronteiras de Angola, que aliás dividiu os Bundas, é muito mais tardia. Ocorreu entre 1912 e 1914 e nela participou, entre outros, Gago Coutinho que, anos depois, se haveria de notabilizar como aviador, na travessia do Atlântico Sul, entre Lisboa e o Brasil. Até 1975 a vila sede dos Bundas, situada a uns 70 Kms do Lutembo, tinha o seu nome. Nos tempos presentes denomina-se de Lumbala-Nguimbo.
. Ao tempo da estadia da 3ª CART/BART 6321, entre Outubro de 1973 e Janeiro de 1975, o Lutembo compreendia 4 quimbos, ali agrupados, cujo nome lamentavelmente não anotamos. Tinha por isso, 4 (quatro) sobas. Três eram homens: - Sapato, Tetá e Ribango. O cargo restante era ocupado por uma mulher, a Muétepa.
. Em 1974, a povoação, que se estendia ao longo da estrada asfaltada, na margem direita do rio, tinha para além do quartel da Companhia acima referida, a Administração Civil, em edifício colonial próprio, delegação da PIDE/DGS, Agrupamento de Flechas, escola (2), em instalações rudimentares, e enfermeiro permanente. A assistência religiosa cristã era prestada pelo capelão militar sempre que este se deslocava ao quartel. Assistimos lá a uma missa rezada na escola antiga (3) em que nos deliciamos com os cânticos em língua bunda.
. Atendendo ao apoio dado aos guerrilheiros, quer do MPLA quer da UNITA, cujas bases se situavam na Zâmbia, o Lutembo foi fustigado com vários ataques dos nacionalistas. O destaque vai para o derrube de um helicóptero em inícios de Janeiro de 1973, vários mortos e feridos antes da chegada da 3ª CART/BART 6321 e, durante a permanência desta, a morte na zona de 5 soldados e vários feridos da 42ª Companhia de Comandos em 15 de Novembro de 1973 e, em Janeiro de 1974, o assassinato, pelo MPLA, de vários madeireiros e que repousam no Lutembo. Temos no nosso espólio o panfleto deixado pelos atacantes e que publicaremos, para memória futura.
. Também o primeiro encontro amigável entre o MPLA e a tropa portuguesa, neste caso a 3ª CART/BART 6321, que presenciamos, verificou-se no Lutembo e de que o semanário Expresso de 5 de Outubro de 1974, deu realce, mas sem mencionar o local. No recorte, a publicar, serão identificados os dois protagonistas visíveis na fotografia. Uns dias depois seria a vez da UNITA, que também tinha bases na zona.
. Reconhecidos, queremos prestar uma singela homenagem aos habitantes autóctones do Lutembo, por terem sido muito amistosos para connosco e nos terem oferecido, algumas vezes, ovos para as patuscadas, aqui ditos de mawulo, apesar dos seus parcos recursos alimentares. Bem hajam, sobretudo os parentes do Pedro, familiar de soba, e do Karias, seu primo, cuja foto deixaremos, também, para a posterioridade.
. Por fim, saudamos os nossos companheiros de estadia no Lutembo, com especial destaque para os do recrutamento local, oriundos do quartel de Sá da Bandeira, hoje chamado Lubango. Alguns deles, de quem deixamos de ter notícias, são reconheciveis nas fotografias que publicaremos.
3.  A EXPEDIÇÃO AO LESTE DE ANGOLA, ANO DE 1847.
Sem sermos exaustivos, comecemos então pelo relato que nos deixou, em 1847, Silva Porto, sertanejo do Bié, então residente em Belmonte.
A viagem, de que nos ocuparemos, iniciou-se em Belmonte. Foi efetuada por Francisco Monteiro da Fonseca e Joaquim Mariano, caixeiros de Silva Porto, entre 26 de Novembro de 1847 e 22 de Janeiro de 1848, quando atingiram o rio Riambeje, que supomos seria o Zambeze.
3.1. MUENE GAMBO, MULHER SOBA.
Depois de calcorrearem várias povoações, cujas descrições nos são dadas, os sertanejos atingem a 24 de Dezembro o quilombo de Muene Gambo, mulher soba e já nas imediações do Lutembo. Atente-se na descrição que nos é feita da sua pessoa, a páginas 328 do relato:
“Fomos levar o tributo de passagem à Dona da terra, a qual nos fez presente de uma cabra, e quindas de farinha de massango, e depois de algum tempo de conversação, nos retirámos ao quilombo. Esta mulher conta para mais de sessenta anos de idade, sendo mãe de treze filhos, seis do sexo masculino, e sete do sexo feminino; em geral governando estados de maior e menor consideração. É bastante espirituosa e desembaraçada nas suas maneiras, e quando fosse pessoa de civilização, em virtude da sua posição social, poder-se-ia reputar feliz pela sua fecundidade, contudo, na condição bárbara da sua carreira, e dada a circunstância de viajantes na sua terra os contos favoritos na ocasião em que se apresenta são, das ações de maior ou menor particularidade da sua vida, e trazer para a arena a sua numerosa prole nos respetivos governos dos seus domínios”.
3.2. O SOBA KABITA E O LUTEMBO (4), ANO DE 1847.
Três dias depois a caravana atinge os limites do Lutembo, que nos é descrito da seguinte maneira:
“27 de Dezembro. Continuámos a viagem, e fomos fazer quilombo próximo à libata grande de Lutembo, margem esquerda do rio do mesmo nome, e limite do domínio da raça Ganguella, tribo Bunda. Caminho plano, abundante de arvoredo de toda a espécie, abundante de riachos, terreno fértil, arenoso, de diversas configurações. De noite mandámos deitar bando a fim de se passar alguns dias no local, para o povo da caravana se refazer de mantimento para a viagem.
28 de Dezembro. Fomos levar o tributo de passagem ao soba Cabitta, que advertido da nossa visita, encontrámos na praça grande da povoação à nossa espera. Trajava panos de baeta encarnada, casaco de chita, na cabeça um penacho encarnado, e pendente do ombro esquerdo um enorme mucuale. De uma parte macotas, e da outra povo. Depois de tomarmos assentos, não obstante o modo glacial com que fomos recebidos, passámos ato contínuo à exposição dos motivos que nos conduziam à sua presença; deixar duas pessoas no país à compra de cera e marfim, com o intuito de nos facilitar passagem para a terra do Lui; e a demora de alguns dias no local para nos refazermos de mantimento. Desenrolámos e passámos ao exame do presente que constava de vinte peças ou cento e sessenta côvados de fazenda sortida, um barril de pólvora, uma arma, um casaco de chita, missangas, sal e tabaco. Finalmente o valor de três escravos ou três dentes grandes de elefante, e por seu turno chegando a vez das duas pessoas que ficavam estabelecidas, pondo patente os géneros no valor de um escravo; de sua ordem foram enrolados e mandados guardar todos esses objetos, respondendo então que: relativamente aos hóspedes que ficavam na sua terra nada tinha a dizer, visto ser essa a cláusula já estabelecida, enquanto que aos que passavam avante, seguiam para país de riqueza, e por esse motivo queria segundo presente para a passagem requerida. Retirámo-nos a fim de tratar da segunda exigência, que efetuamos em proporção dos haveres de cada indivíduo, e ficámos aguardando o dia seguinte para a sua entrega.
29 de Dezembro. Fomos levar o segundo presente tributo de passagem ao soba Cabitta que, encontrámos no mesmo local, e com o cerimonial da véspera, e tomando assentos, fomos saudados pelos macotas assistentes, e depois pela sua pessoa, passando então à narrativa da primeira recepção, do ato da reclamação e finalmente fazendo patente os objetos que lhe diziam respeito; ficávamos esperando a solução de tal negócio, já de si um tanto enfastiento. Recebendo e mandando arrecadar, respondeu que, ficando satisfeito da nossa maneira de proceder, tínhamos o caminho desembaraçado, cumprindo-lhe a ele fazer outro tanto, a fim de que não tivéssemos motivos de queixa contra a sua pessoa. Foi reproduzido este curto exórdio por cada um dos macotas assistentes, seguindo-se o aplaudir e ungir-se as partes como já dissemos. E indício de mau agouro para hóspedes, quando a raça de que nos estamos ocupando, a do Luvar e Lunda, de quem adoptou o hábito, não põem em prática tal preceito, e o que efetivamente não tinha ontem realizado o chefe de Lutembo. No entretanto, seria loucura da sua parte pensar em meios hostis contra nós, porque não seria bem sucedido na empresa. Terminada a audiência, retirámos ao quilombo.
30 de Dezembro. Apresentou-se o soba Cabitta no quilombo a fazer-nos presente de duas cabras, galinhas, quindas de farinha de massango e cabaças de mingundo, e não obstante a grosseria e usura connosco praticada, não deixámos de fazer a competente retribuição, a fim de não ficarmos em débito com este chefe turbulento, e se assim o alcunhamos, é pela circunstância do seu carácter irritável, procurando de ordinário indispor-se com viajantes, e não conceder tréguas ao povo do Cutti e Cuando, bem assim ao povo limítrofe da terra de Luvar, de primeira ordem, mas que não obstante têm de lhe tolerar os excessos, uns por outros anos, pretendendo invadir qualquer dos seus domínios.
31 de Dezembro. Lutembo é terra de segunda ordem, e, a sua libata grande, bastante povoada, mas em virtude das superstições da raça Ganguella, é rara a sua permanência num lugar além do espaço de três anos. E como acabámos de dizer limita aqui o domínio da tribo Bunda que é numerosa, e mesclada com a Bambueira, Luchiaje e do Luvar. Geralmente falando a homofagia é um dos seus vícios predominantes, e não obstante o horror do sangue, o homicídio torna-se outro vício inerente ao seu carácter, bem assim a indústria, trajes, artes e agricultura.
1.° de Janeiro de 1848. Entre esta tribo as únicas povoações amuradas são as libatas grandes, encontrando-se a cada passo os crânios humanos. Os celeiros que se avistam de longe, e que servem de enceleirar as maçarocas de massango, servem-lhe igualmente de cozinha, visto que debaixo têm o espaço necessário para o efeito. As casas são mesquinhas, mas a partir de Muatamjamba para aqui, tornam-se usuais, não excedem dez pés de comprimento, e a mesma medida de largura, sendo feitas de pau-a-pique como o geral; a madeira não excede cinco pés de altura, e a cobertura de madeira de pequena grossura é fabricada no solo em proporção da mesma casa coberta de colmo, e posta em cima por três ou quatro pessoas. Uns usam barrá-las sobrepondo o barro em bolas por causa da nenhuma consistência, mas a maior parte ou por ociosidade ou por se não querer dar a tal incómodo, usam passar em roda pela parte de fora uma grande esteira de caniço ou de palha especial aquática, que serve a abranger o pau-a-pique, e resguardar o proprietário das intempéries do tempo. O fogo a bem dizer é aí aturado.
2 de Janeiro. Pelas dez horas da manhã seguiu o povo da caravana para a caça, recolhendo às três horas da tarde com uma malanca e alguns veados; destes fizemos presente de um ao soba Cabitta que, na ocasião se achava no quilombo, visto que geralmente entre esta raça a aparição de qualquer manada de animais silvestres, qualificam-na de sua manada de bois, pertencendo ao chefe de qualquer domínio a maior porção de cada peça.
3 de Janeiro. Em virtude de havermos comprado o mantimento suficiente para a viagem, hoje principiámos de pôr em ordem as nossas mercadorias para a viagem. Os comestíveis afluíram em abundância por preços excessivamente cómodos, e por este lado nada mais temos a desejar, ficando por consequência reservadas para amanhã as nossas despedidas ao chefe da terra de Lutembo.
4 de Janeiro. Apresentámo-nos na libata grande, fazendo ver ao soba Cabitta o fim da nossa visita, tendo por objeto a retirada da caravana amanhã, e a recomendação sobre os nossos companheiros que ficavam. Respondendo que ficava ciente e que enquanto a estes não haveria novidade. Retirámos ao quilombo, e de noite mandámos deitar bando para a viagem no dia seguinte.
3.3.  O FIM DA VIAGEM.
5 de Janeiro. Continuámos a viagem, passámos o rio Lutembo a vau, de dez braças de largo, leito de argila e areia, direção do noroeste para sueste, com a nascente no domínio de Muene Canunga e afluente do rio Lungué-Bungo. Prosseguimos a marcha e, fomos fazer quilombo nos matos, lugar denominado Camochitto. Caminho plano, abundante de arvoredo de toda a espécie, abundante de riachos, terreno fértil, arenoso, de diversas configurações”.
E, assim, sem incidentes dignos de nota, a viagem prosseguiu até atingir o rio Riambeje a 21 de Janeiro de 1848. No Lutembo, ficaram a residir um ou dois representantes de Silva Porto, tendo os negócios corrido de feição para as duas partes, parece.
Queluz, Abril de 2023 Manuel de Almeida, dito Escritas.
ANOTAÇÕES: (1) - Organizados pelo INATEL e USL/CGTP/IN. -  Trata-se de um texto datilografado, a carecer de revisão, com o título de:          “Lutembo Terra Bunda”. Aí, onde se lê “palanca” deve ler-se “pacaça”, entre outras gralhas que serão corrigidas, a seu tempo. (2) – A 3ª CART/BART 6321 construiu uma nova, visível em fotografia que abaixo publicaremos. (3)   - Observável na foto do quartel, à esquerda, no meio das árvores. Próximo ficava o jango, ou seja o local amplo e coberto de capim em que a população autóctone se reunia para deliberar sobre os assuntos inter-comunitários. (4) –  SANTOS, MARIA EMÍLIA MADEIRA - VIAGENS E APONTAMENTOS DE UM PORTUENSE EM ÁFRICA. DIÁRIO DE ANTÓNIO FRANCISCO FERREIRA DA SILVA PORTO - BIBLIOTECA GERAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA.COIMBRA. Ano de 1986. Volume I, pág. 328 e sgts.
NOTA GERAL: - Refere-se que esta obra é extensa e inclui muitas anotações que elucidam sobre a terminologia usada e nomes das terras visitadas, mas que não constam das páginas que transcrevemos sobre o Lutembo. Aconselha-se, assim, o leitor, mais interessado, a que consulte tão importante escrito no original.
(CONTINUA)
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A secretaria da Companhia localizava-se na primeira porta, à esquerda, do primeiro pavilhão.
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Foto cedida pelo Pereira, ao meio, de arma ao ombro.
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Na foto, soldados da 3ª CART/BART 6321 que foram recolher os corpos das vitimas.
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O Escritas é o penúltimo, de pé, junto ao massagista.
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Miguel, Costinha, Barroso, Tavares e Escritas.
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A foto foi tirada no dia em que o Karias e os outros miúdos circuncidados foram entregues às suas famílias.
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Lutembo: - Helicóptero abatido pelos nacionalistas em 5 de Janeiro de 1973, com morte do piloto. Foto retirada da Internet.
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1º/s Cabos Especialistas: - Tino, Miguel, Luís/Licas e Escritas.
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O Escritas é o último, à direita, na fila do meio. O Sr Comandante, que nos honrou com a sua presença, é o 3º, de pé, na mesma fila.
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ribacaima · 2 years
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Viadal: - Celebrações da Páscoa.
Mais algumas fotos alusivas às comemorações da Páscoa em Viadal, ano de 2009.
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Sítio das Carreiras.
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No mesmo local.
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Casa da tia Lurdes Almeida. A almofada destina-se a uso da cruz, enquanto a comitiva cumprimenta os donos da casa e seus familiares.
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Vindos dos Cestes. Ao fundo, a casa/palheiro já é pertença de Carvalheda, na margem direita do rio Caima.
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O Baltazar em ação.
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ribacaima · 2 years
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VIADAL: - Fotos Alusivas às Celebrações da Páscoa.
Nota de Apresentação.
Dentro do calendário litúrgico cristão, há duas festividades que, pelo seu simbolismo, muito prezamos: - a Páscoa e o Natal.
A primeira era, ao tempo da nossa infância, a época festiva mais importante, não tanto pelos presentes (1), mas pelo que representava pelo convívio parental, festa da aldeia em honra de Nossa Senhora da Ouvida e especialmente pela Visita Pascal.
Apesar de expatriados, sempre que nos tem sido possível, temo-nos associado com júbilo a estas festividades. Delas já fizemos relatos que, em tempos idos, publicamos no Jornal “A Voz de Cambra”, com particular ênfase no nº 649 de 1 de Julho de 1998. Aí descrevemos (2) o modo como vivemos, em 1996, a “Visita Pascal” aos lugares da parte alta da freguesia de Cepelos, nas faldas da Serra da Freita. Ilustramos o trabalho com várias fotos tiradas na Póvoa dos Chões, Viadal, Tabaçó e Vilar, entretanto já divulgadas no nosso blogue, Ribacaim.tumblr.com, cujo título é: - A Visita Pascal em Terras de Riba-Caima.
Temos, contudo, arquivadas mais fotos, que aqui damos como reproduzidas, algumas alusivas a outros anos, nomeadamente a 2003, 2007 e 2009. Nalgumas também fomos fotografados.
Sobre o Natal, ver os nossos contos: O Tição de Natal e “O Azevinho da Serra da Freita”, trabalho este premiado em concurso organizado, em 2020, pela Biblioteca (3) Lúcio Craveiro da Silva em Braga.
Queluz, Março de 2023.
Manuel de Almeida.                  
NOTAS:
- Recebíamos sempre da nossa saudosa madrinha um pano de popelina para fazer uma camisa. Vide o conto:  O Tesouro da Fonte de Gatão, na parte que se refere às fidalgas de Macieira.
- Também no mesmo quinzenário, edição nº 665 de 15 de Março de 1999, publicamos um artigo idêntico com o título: - “A Visita Pascal em Lamosa”. Trata-se de um relato comparativo, por nós vivido em 1992, nesta localidade, do concelho de Sernancelhe, próxima do Santuário da Lapa.
– Publicado, com outros, in, Antologia de Contos de Natal: - 2013 – 2020.
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O Baltazar Quintal esperando a ordem para lançar o foguete. Ao fundo e à direita a malha urbana de S. João da Madeira e Ovar.
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Sítio das Carreiras, casa do tio Manel.
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Ao centro, o dono da casa e os manos Manel e Alberto.
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No caminho, junto à casa do tio Alberto.
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O tio Manel tem tudo pronto para receber os visitantes. É só entrar.
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Comitiva e acompanhantes. (continua)
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ribacaima · 2 years
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A CASA DA COMARCA DE OLIVEIRA DE AZEMÉIS EM LISBOA. Apontamento histórico.
. PRÓLOGO.
No seguimento das pesquisas que nos propusemos fazer sobre os primórdios da aldeia de Viadal, na Serra da Freita, fomos recolhendo dados históricos sobre outras localidades, nomeadamente do distrito de Aveiro. Disso fomos fazendo apontamentos.
Vivendo nós, há várias décadas, na zona da grande Lisboa, só tardiamente é que tomamos conhecimento da existência de uma associação cultural ligada às terras de Santa Maria, denominada de Casa da Comarca de Oliveira de Azeméis, com sede na capital.
Podiam ser seus sócios os naturais dos concelhos de S. João da Madeira, Oliveira de Azeméis e Vale de Cambra, provavelmente, entre outros.
 
. DAS CASAS REGIONAIS, COMARCÃS E CONCELHIAS.
  Começadas a criar (1) em finais do século XIX e primeiras décadas do século XX eram grandes polos de convívio, podemo-lo constatar, entre os naturais das respetivas regiões abrangentes, seus familiares e amigos. Organizavam, sobretudo, almoços e bailes muito animados, para gáudio da juventude de então. Hoje, estão em manifesto declínio tendo a maioria encerrado, caso daquela em que nos debruçaremos a seguir.
 
. A CASA DA COMARCA DE OLIVEIRA DE AZEMÉIS EM LISBOA.
 Iniciou oficialmente (2) a sua atividade em 1952 e encerrou por volta de 1983/84, estando ainda de pé o edifício onde teve, nos últimos anos da sua existência, a sua sede, conforme as fotografias, que anexamos, o documentam.
 
. UM POUCO MAIS DE HISTÓRIA.
De acordo com o Jornal de Cambra de 1951 – data não anotada – a sua primeira sede foi na Rua Almeida e Sousa nº 29, r/c esquerdo, em Campo de Ourique em Lisboa. Ficava, supomos, junto ao famoso Jardim da Parada; sendo que o prédio terá sido demolido, já que o atual é de construção mais recente. Mudou em 1952 para a Rua Luiz Derouet nº 9-A, no mesmo Bairro e julgamos muito próximo da Padaria do Povo, onde esteve sediada nos últimos anos da sua existência.
 
. UMA SURPRESA AGRADÁVEL.
Por razões de índole pessoal, fomos assistir, em 2016, a uma atividade recreativa na Padaria do Povo, edifício emblemático de Campo de Ourique, na já mencionada Rua Luiz Derouet.
No decorrer do evento, fomos alertados por um familiar, que nos sabe interessados por estas temáticas, para a existência de uma sala em que constava uma inscrição alusiva a Vale de Cambra.
Foi com agradável surpresa que vimos identificada a placa onde teve sede a Casa da Comarca de Oliveira de Azeméis. Logo a fotografamos e aqui deixamos para quem possa vir a interessar.
Por falta de interlocutor válido, não nos foi possível indagar mais sobre a atividade da Casa da Comarca de Oliveira de Azeméis em Campo de Ourique.
 
. DOS ASSOCIADOS PROEMINENTES.
Sem acesso às atas da direção, ficamo-nos pelos nossos apontamentos. Sabe-se, contudo, que um dos sócios de destaque foi Albino dos Reis, homem forte do Estado Novo. É provável, embora com pouco suporte documental, que o ilustre escritor Ferreira de Castro, de campo político oposto, também o tenha sido. Na verdade, é por iniciativa da Casa da Comarca de Oliveira de Azeméis que, em 1966, é instituído um prémio literário (3) com o seu nome a atribuir a dois alunos da 4ª classe (rapaz e rapariga) da escola primária da sua terra natal, ou seja, Ossela.
Dada a importância política de alguns dos seus sócios, eram aqui organizadas conferências. Numa delas foi orador Manuel Henriques Gonçalves (4) em 30 de Julho de 1957 e, mais tarde, em 1967, prestada homenagem (5) ao professor António Luís Gomes.
 
. ALBINO DOS REIS (6). Biografia breve.
. Nascimento: 07/10/1888 em Loureiro, Oliveira de Azeméis. Falecimento: 14/05/1983 — Loureiro.
. Filiação: Frederico Albino Soares Pinto dos Reis e Maria da Silva Pereira Marques.
- Cargos mais importantes:
. Presidente do Supremo Tribunal Administrativo. Mandato(s): 1919 e 1923 a 1926.
. Ministro do Interior, no primeiro governo liderado por António de Oliveira Salazar, cargo do qual pede a demissão em Julho de 1933.
. Presidente da Assembleia Nacional entre 1945 e 1961.
. Presidente, por duas vezes, da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis.
. Durante vários anos Presidente da Assembleia-Geral da Casa da Comarca de Oliveira de Azeméis em Lisboa.
Queluz, Fevereiro de 2023.
Manuel de Almeida.
 
APONTAMENTOS:
(1)  – Casa de Trás-os-Montes (1905), das Beiras (1915), Minho e Alentejo em 1923, entre muitas outras.
(2)  - PT/SGMAI/GCLSB/H-B/001/00417 - Governo Civil do Distrito de Lisboa.
(3)   – Portaria n.º 22403, de 29 de Dezembro. Publicação:  - Diário do Governo n.º 301/1966, Série I de 1966-12-29, páginas 2343 – 2344. Emissor: Ministério da Educação Nacional - 2.ª Repartição - 2.ª Secção Data de Publicação: 1966-12-29
(4)   Manuel Henriques Gonçalves, licenciou-se em direito em 1951. Seu pai era Custódio Henriques Gonçalves de Cartim, Vale de Cambra. (in, JC nº 599 de 30/7 de 1951).
Biografia, mais detalhada pode ser encontrada no Noticias de Cambra nº 1 de 15.3.93, que se resume:
. Iniciou a carreira no antigo Secretariado de Propaganda Nacional, onde foi chefe de redação.
. Delegado do Governo junto da Companhia de Caminhos de Ferro Nacional e Rádio Marconi.
. Chefe de Gabinete do Ministro das Comunicações.
. Presidente da Junta Central dos Portos.
. Várias Missões no Ultramar.
Livros:
. Regionalismo e Turismo.
. Jornadas na Guiné (1955)
. Jornadas em África.
. Roteiro do Ultramar (1958), entre outros.
Deu conferências na Casa da Comarca de Oliveira de Azeméis em Lisboa.  In JC nº 743 de 30/7/1957.
 -   Noticiário da RTP de 18 de Junho de 1967. Embora, sem som, a sala estava repleta de personagens; sendo algumas senhoras, que não conseguimos identificar.
(6)  – in, Arquivo Municipal de Oliveira de Azeméis. Primeira República/Presidentes de Câmara.
Anexo: - 3 fotos.
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Proximidades do Quartel de Campo de Ourique em Lisboa
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Interior da Padaria do Povo. Campo de Ourique em Lisboa.
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ribacaima · 2 years
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O CULTO A NOSSA SENHORA DAS CANDEIAS EM CAMBRA. Apontamento Histórico.
Por: - Manuel de Almeida.
. PRÓLOGO. Todos os anos a 2 de Fevereiro a Igreja Católica homenageia Nossa Senhora das Candeias, também conhecida da Luz, Candelária ou da Purificação. Teve o seu começo na festa da apresentação do Menino Jesus no Templo e da purificação de Nossa Senhora, quarenta dias após o seu nascimento. De acordo com a tradição mosaica, as parturientes, após darem à luz, ficavam impuras, devendo inibir-se de visitar o Templo até quarenta dias após o parto; nessa data, deviam apresentar-se diante do sumo-sacerdote, a fim de apresentar o seu sacrifício (um cordeiro e duas pombas ou duas rolas) e assim purificar-se. Desta forma, José e Maria apresentaram-se diante de Simeão para cumprir o seu dever, e este, depois de lhes ter revelado maravilhas acerca do filho que ali lhe traziam, ter-lhes-ia dito: «Agora, Senhor, deixa partir o vosso servo em paz, conforme a Vossa Palavra. Pois os meus olhos viram a Vossa salvação que preparastes diante dos olhos das nações: Luz para aclarar os gentios, e glória de Israel, vosso povo» (Lucas, 2, 29-33). Com base na festa da Apresentação de Jesus / Purificação da Virgem, nasceu a festa de Nossa Senhora da Purificação.
. INVOCAÇÃO E EXPANSÃO DO CULTO. Nossa Senhora das Candeias era tradicionalmente invocada pelos cegos (como afirma o Padre António Vieira no seu Sermão do Nascimento da Mãe de Deus: «Perguntai aos cegos para que nasce esta celestial Menina, dir-vos-ão que nasce para Senhora das Candeias [...]»), e tornou-se particularmente cultuada em Portugal a partir do início do século XV; segundo a tradição, deve-se a um português, Pedro Martins, muito devoto de Nossa Senhora, que descobriu uma imagem da Mãe de Deus por entre uma estranha luz, no sítio de Carnide, no termo de Lisboa. Aí se fundou de imediato um convento e igreja a ela dedicada, que conheceu grande incremento devido à ação protetora dos devotos D. Maria, filha de D. Manuel I e sua terceira esposa, D. Leonor de Áustria. A partir daí, a devoção à Senhora das Candeias cresceu, e com a expansão do Império Português, também se dilatou pelas regiões colonizadas, com especial destaque para o Brasil. (1).
. A DEVOÇÃO EM CAMBRA. Pelo menos desde o século XIII que a freguesia de Vila Chã é de invocação a Nossa Senhora (2), ou seja, de Santa Maria de Villa Cham. Não nos foi possível, no entanto, documentar sobre a data em que terá começado a procissão das velas no local. Tudo aponta que terá sido após o século XVIII, quando já então a padroeira era designada de Nossa Senhora da Purificação, na Memória Paroquial de 1758 e Inquérito do Bispado de Aveiro (3), ano de 1775. Certo é que, nas décadas de cinquenta e sessenta do século findo, todos os anos, em inícios de Fevereiro, à noite, logo que se começasse a ouvir o lançamento de foguetes em Vila Chã, lá em baixo no vale - sinal de inícios da procissão das velas - todos os moradores das aldeias da Freita acendiam às suas janelas velas ou lamparinas e os combros, das leiras contíguas, enchiam-se de fogueiras a homenagear a “santinha das Candeias”. Junto destas, às vezes, também se rezava, sobretudo as mulheres, o terço e outras orações, que já esquecemos. O mesmo se passava nos outros lugares do Riba Caima, mesmo naqueles em que não se via o vale de Cambra, nomeadamente Carvalheda e Paço do Mato. Toda a preparação das fogueiras começava na tarde desse dia, do seguinte modo: 1. Nesse tempo os pinheiros eram resinados e deles escorria, muitas vezes, resina dos vasos para cima da caruma, aqui chamada de agulhas, e fetos que por ali abundavam. 2. Como então nada se perdia, os miúdos eram encarregues de ir arranjar lenha para a fogueira dos seus pais, sendo dada prioridade às agulhas com resina (4), que ardiam com muita facilidade. 3. Acesas as fogueiras por toda a serrania, era coisa bonita de se ver, até que se deixasse de ouvir o estrondo dos foguetes, sinal do fim da procissão.
A tradição ainda se mantinha, como o podemos observar em Viadal, em 2006, mas agora sem o brilho, daqueles tempos. Vidé fotografias. Inquirido, relativamente à pouca movimentação verificada, nesse ano, em Viadal, um morador, com cerca de sessenta anos, disse-nos que as causas se prendiam com: a) Alteração do dia da procissão em Vila Chã para o fim de semana imediato. b) Ter diminuído a população jovem; sendo os rapazes os maiores entusiastas das fogueiras. c) A televisão ter vindo ocupar o espaço noturno das famílias.
Regressando, a 2006, também constatamos que as ruas da cidade de Vale de Cambra, por onde passou a procissão entre a Igreja Matriz e a Capela de Santo António, se encontravam iluminadas com velas colocadas no chão, ao longo do trajeto, em particular junto ao Quartel dos Bombeiros. Apesar de termos visitado o local após o fim das cerimónias religiosas, ainda vislumbramos algumas velas acesas em alguns apartamentos da cidade, sinal de haver quem ainda quisesse homenagear, à moda antiga, a Nossa Senhora das Candeias de Vila Chã.
. O CULTO A S. BRÁS. Também é padroeiro da freguesia de Vila Chã, S. Brás, com festa conjunta com a Nossa Senhora das Candeias, já que o dia da sua invocação é a 3 de Fevereiro. Este santo, de origem Arménia, terá sido encontrado por caçadores entre animais ferozes com os quais se criara e vivia em grande familiaridade. Integrado na Civilização, foi bispo de Sebaste (Arménia) e terá morrido em 316 d.c., durante as perseguições feitas aos cristãos por Diocleciano. É o santo protetor, por excelência, contra as doenças da garganta. (5) Dada a sua familiaridade com os animais, aqui deixamos uma recolha feita por nós em Viadal, cerca de 1984, e em que S. Brás é interveniente a talhar - curar por meio de reza – “o bicharoco”.
. TALHAR O BICHAROCO. (6) . Preparativos: - Talha-se com uma faca a benzer o paciente ou animal.
. Reza: - “Eu que corto, cólo, cabeça, raba e o corpo todo. Quando Deus era estudante, nenhum destes males ia avante. Nos mesmos estudos, ficou S. Brás, todos os males irão para trás. Em louvor dos Senhores S. Pedro, S. Paulo e Apóstolo Senhor S. Tiago que estes males todos aqui sequem e mais não lavrem. Pelo poder de Deus e da Virgem Maria, tudo sararia. Pai Nosso com Avé Maria”.
. PROVÉRBIO MUITO EM USO EM VIADAL, NOS ANOS CINQUENTA DO SÉCULO QUE FINDOU: "se a Nossa Senhora das Candeias estiver a rir, está o Inverno para vir; se estiver a chorar, está o Inverno a passar". Ou seja, se o tempo estiver de sol no Dia da Senhora das Candeias, o inverno vem aí, mas se chover nesse dia, o inverno está a acabar.
. EFEITOS DO TERRAMOTO DE 1 DE NOVEMBRO DE 1755, NA IGREJA DE VILA CHÃ. Após o sismo de 1755 foram feitos inquéritos pelas autoridades eclesiásticas às freguesias no sentido de se averiguar os estragos sofridos. Na Voz de Cambra nº 568 de 15 de Janeiro de 1995, publicamos as Memórias Paroquiais do concelho de Cambra, incluindo a de Vila Chã.(7)
Por se referir à Igreja Matriz, aqui deixamos um pequeno extrato do que foi referido pelo prior Manuel Sampaio: - “ (...) a Igreja corre do Norte para o Sul para onde tem a porta principal e só caiu uma bola de uma pirâmide da Igreja que como era delgada cobrou a ponta que levou consigo a bola que caiu para a parte do nascente as da torre sendo muito mais alta não tem nenhum perigo a cruz da empena da Igreja se atravessaram os braços da cruz .A Senhora do pillar que está no trono da tribuna se virou alguma coisa para a parte do nascente e não houve ruínas algumas nesta freguesia suposto haver edifícios altos”.
Naquela data a freguesia tinha 569 pessoas dos quais eram varões 268 e 301 mulheres, diz-se no texto.
Queluz, Janeiro de 2023. M. Almeida
BIBLIOGRAFIA: (1) In, ACADEMIA MARIAL. INTERNET e outros sites, com idêntico conteúdo. Janeiro de 2023. (2) MARQUES, Maria Clara de Paiva Vide  - Património Religioso de Vila Chã, Subsídios para um Inventário – Ano de 2008, pág. 17. . Idem, em artigo da nossa autoria, na V.C. de 1 de Agosto de 1994, com o título: - As Inquirições Reais no Séc. XIII. . Idem, A Freguesia de Vila Chã, por PINHO, Adriano Correia, in VC nº 785 de 25/62004. (3) Por nós integralmente publicado na V.C de 15 de Abril de 1995. Idem as demais freguesias do concelho que transitaram para o Bispado de Aveiro, bem como Ossela e Carregosa. (4) As agulhas, pulverizadas com a resina, formavam uma massa compacta que, cortada em bocados, dava para acender mais do que uma fogueira, durante um certo período de tempo e a que se ia adicionando gravetos e pequenos pedaços de madeira seca. (5) – In, OS SANTOS NA IGREJA MATRIZ DE VILA CHÃ. Brochura editada pela Comissão de Festas em 2006. Pág. 9. . Temos na nossa posse uma outra brochura com o título: - Os Pastores de Vila Chã (1907 a 2005), com a biografia dos respetivos párocos da freguesia. . Idem, Programa das Festas de 1991,1993, 1995 e 2023. (6) In, Monografia de Viadal – texto datilografado da nossa autoria – Ano de 1986, pág. 161. (7) Sobre o estado da Igreja e atividade religiosa da freguesia poderá ter interesse também conhecer o Inquérito da Diocese do Porto - Anos de 1922/23 – por nós publicado na Voz de Cambra nº 591 de 1 de Janeiro de 1996. Inclui as restantes freguesias de Cambra; exceto Arões e Junqueira por pertencerem ao bispado de Viseu.
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Igreja de Vila Chã: - Bonito altar barroco, restaurado em 2005.
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Viadal: - Fogueira aquando da procissão de Nossa Senhora das Candeias. Ano de 2006.
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Cidade de Vale de Cambra, junto aos Bombeiros. Ano de 2006.
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Viadal: - Velas acesas à janela, no sítio do Alqueve. Ano de 2006.
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Igreja de Vila Chã: - Nossa Senhora com o Menino. Será a imagem primitiva?
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Vila Chã cerca de 1964. Bilhete Postal endereçado da Pensão Suíça.
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Espólio do autor: - Verso do B. P. endereçado da P. Suíça, em 1964. Há mais um, datado de 1965, com o Dólmen da Cerqueira.
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Brasão de Vila Chã. Dos símbolos mais significativos, atente-se ao da candeia.
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Programa das Festas de Nossa Senhora das Candeias. In, Voz de Cambra, ano de 1991.
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Internet. Ano de 2023. 
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ribacaima · 2 years
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NOITE DE NATAL. Pensamentos.
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Altares e Presépio de Viadal. Ano de 2017.
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Presépio de Viadal, no lado oposto ao local atual. Ano de 1994.
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Azevinho na Raposeira, Vilar, Serra da Feita. Ano de 2021.
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Árvore de Natal em Torres Vedras. Ano de 2019.
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ribacaima · 2 years
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FOTOS DE SUCURSAIS, EM LISBOA, DE FIRMAS COM SEDE EM VALE DE CAMBRA.
No jornal A Voz de Cambra nº 513 de 1 de Setembro de 1992, iniciamos a publicação de vários artigos em que descrevemos a "Evolução da Indústria no Concelho de Vale de Cambra". Tempos depois, na edição de 25 de Dezembro de 2010 e sgts, debruçamo-nos sobre as suas sucursais, em Lisboa, com destaque para as firmas Martins-Rebello e Lacto Lusa, entre outras. Ilustravam os ditos trabalhos várias fotografias, da nossa autoria, que aqui voltamos a reproduzir. Como, ao longo dos anos, os referidos espaços comerciais foram sendo modificados, aqui deixamos mais algumas fotos, na esperança que possam vir a ser úteis aos jovens estudantes, nomeadamente do ISCTE e ISCSP, que se venham a interessar por estas matérias.
Dezembro de 2022
Manuel de Almeida
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Manteigaria União na P. Figueira em Lisboa. Pormenor no teto.
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P. Figueira. Interior da loja, já com outra atividade.
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P. Figueira. Panorâmica geral dos frescos do belo teto.
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Manteigaria União no Largo Camões em Lisboa, após restauro e com outra atividade. Ano de 2007.
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P. Figueira. Exterior da loja. Ano de 1995.
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Local do armazém da Lacto Lusa, à Rua D. João V, em Lisboa. Já com outra atividade comercial em 2011.
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Autocarro da firma CAIMA, no Campo das Cebolas em Lisboa. Ano de 1995.
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Escritório da CAIMA no Campo das Cebolas em Lisboa.
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Placa identificativa da ARSOPI à Avenida Gago Coutinho em Lisboa. Ano de 2009.
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Manteigaria União, já sem atividade, no Largo Camões em Lisboa. Ano de 1995.
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Em busca do passado da firma Martins e Rebello em Lisboa.
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Ilustração no taipal de proteção às obras de restauro do prédio na P. da Figueira em Lisboa. Ano de 2021.
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Pinheiro Manso em Vale de Cambra. Foto de divulgação, já com algumas décadas.
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Rua das Gáveas no Bairro Alto em Lisboa: - Provável local dos escritórios do Martins e Rebello.
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ribacaima · 2 years
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Fábrica NALDA: - História de mais um prato decorativo.
Por: - Manuel de Almeida (In, VC das 1ª e 2ª quinzenas de Novembro de 2011).
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Verso do prato NALDA, com o nº 117, adquirido nas proximidades da Ericeira.
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ribacaima · 2 years
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UM GALINHEIRO EM VIADAL, CERCA DE 1960.
. Prólogo.
Até à década de cinquenta do século que findou as aldeias da Serra da Freita, viviam, pode dizer-se, com os costumes e valores do século XIX. Contudo, com o rasgar das estradas, a chegada da luz em finais de 1965, a emigração e a guerra colonial, um mundo diferente começou a emergir. Fazendo foco na freguesia de Cepelos, constata-se que, com a ligação por asfalto do Porto a Viseu, com passagem pelo sítio da Pontinha, os viajantes foram deslocados para esta via, com o abandono da milenar “estrada romana” por Manhouce e planalto da Freita.
Talvez imbuídos, primeiro, pelas ideias do Estado Novo e depois pela dinâmica do padre Correia, vêm-se instalar na Pontinha duas serrações, posto de leite, forja, alguns estabelecimentos comerciais e uma feira mensal, chamada dos 16. Esta, aí por volta de 1954.
Das casas comerciais destacavam-se a padaria, duas lojas de bebidas e bens alimentícios, chamadas de vendas, e outra de comes e bebes (1), sobretudo aos dias de feira e fins de semana. Era proprietário ou arrendatário desta António Fernandes, também dito de Matos, natural de Carvalhal do Chão, casado com a tia Lina e residente em Viadal. Era empreendedor o tio Matos, já que também negociava em madeira, vendia nas festas das aldeias, os famosos pirolitos e, mais importante de tudo, fundou um galinheiro com fins comerciais, que, julgo, terá sido o primeiro na freguesia, senão mesmo na Serra da Freita. Disseminou também a plantação de eucaliptos, árvores estas de que existiam poucos exemplares, embora de grande porte em Viadal e Vilar. Uma era da nossa família no sítio do Chão do Moinho e umas duas ou três à entrada de Vilar, antes de se chegar ao Rio. Estas duas últimas atividades – aviários e plantio de eucaliptos - vieram a revelar-se bastante rendosas nas décadas seguintes, como é sabido.
Era o tio António ainda agricultor, mas desta atividade são-lhe conhecidos poucos atributos, já que era tarefa quase exclusiva da sua esposa, a tia Lina. A esta, cabia-lhe ainda cuidar dos filhos (2), Manuel Augusto, Camilo, José e Adão.
. A localização do galinheiro.
Naquele tempo, pelos caminhos das aldeias deambulavam muitas galinhas - vigiadas pelos altaneiros galos - que passavam o tempo a depenicar aqui e acolá e a esgaravatar o chão em busca de bicharada. Por vezes, punham os ovos por ali, sobretudo onde houvesse ervas secas altas e alguns arbustos, para tristeza das donas e gáudio da garotada. Engraçado era ver os pintos atrás das mães, também a depenicar e a encherem o papo com a bicheza e até pequenos vidros. À noite, recolhiam às capoeiras, que raposas era coisa que não faltava por aquelas bandas. Viadal não fugia à regra.
Sabedor destes desmandos dos galináceos, não terá sido por acaso que o tio Matos foi erigir, cerca de 1960, o seu galinheiro fora da aldeia, na ribeira, abaixo da Bouça do Outeiro, ali onde o caminho faz uma curva, na Cavada Velha, mais ou menos a meio do trajeto que levava ao rio Caima no Pisão. Tinha então na sua residência uma chocadeira, para a reprodução dos pintos.
A estrutura em tabuado, mas com telhado, tinha uma parte para os franguitos e outra mais ampla onde estavam as poedeiras, que eram alimentadas com regularidade. Havia, porém, alturas em que o dono ou os seus familiares abriam as portas e as aves vinham depenicar cá para fora, tal como as suas congéneres do lugar. Só que, mantendo a tradição, as galinhas não conheciam as regras e descuidavam-se pondo os ovos por ali, incluindo nas cavadas (3) dos vizinhos, que fronteiras não era com elas. Como o sítio era ermo, à noite e mesmo de dia, as manhosas raposas não despegavam dali e, de quando em vez, lá ficava o proprietário sem mais uma ou duas.
Apesar de todos estes dissabores, o tio Matos lá ia ganhando para as despesas, com a venda dos ovos na feira da Gândara e a outros clientes fixos. Assim foi durante alguns anos, até que abandonado o galinheiro para ali ficou, sozinho, no meio dos eucaliptos que foram crescendo em seu redor, como é visível nas fotos ilustrativas, datadas de 2005.
.A “estória” do “desvio” dos ovos.
Como referido, quem tinha propriedades por perto se encontrava os ovos, nomeadamente a rapaziada, escusado será dizer que os traziam para casa, senão mesmo os bebiam por lá, fazendo-lhes um buraquinho de cada lado, prática muito corrente então. Conhecedor destas peripécias, por as ter ouvido contar, um neto do tio António Matos, o Marco, em cavaqueira recente com este escriba, que lhe deu conta da existência das fotos, perguntou:
“- O tio Manel também roubava os ovos ao meu avô? 
- Não era preciso, Marco. As galinhas é que eram finas – espertas - e me conheciam e aos outros vizinhos”, respondi.
Obtendo uma risada do Marco, continuei dizendo: - “Talvez não saibas, mas a cavada ao lado do galinheiro era do meu avô paterno. Logo, se lá apareciam os ovos havia que dar-lhes destino apropriado, está bom de ver. Olha que o teu pai, garanto eu, também fazia sociedade nas tainadas - patuscadas - em casa do tio Aristides, que bem conheceste. Deixa lá, vou compensar-te, mostrando-te as fotografias”.
Como o prometido é devido, aqui se deixam as fotos do primeiro galinheiro, com fins comerciais, que existiu na Serra da Freita, estou em crer.
SERAFIM SANTOS DE FUNÇÃO, OUTRO EMPREENDEDOR.
Já que o Marco gosta de saber coisas dos tempos passados do lugar de Viadal, aqui se dá nota de mais um empreendimento que existiu, pela mesma altura, ali muito perto do galinheiro, no sítio do Moinho de Carvalheda e que julgo pouco conhecido. Tem, mais uma vez, como personagem central um agricultor, comerciante e madeireiro chamado Serafim Fernandes dos Santos, meu tio materno.
Nascido em Vilar, mas casado e residente (4) em Função, à beira da estrada principal e da que leva ao santuário de Nossa Senhora do Desterro, também se dedicava à compra e venda de madeira. Acontece que, naquela altura, a estrada em Cepelos só chegava a Gatão e em Roge findava junto à sua venda em Função. Tendo adquirido madeira na margem esquerda do rio Caima, ou seja, na ribeira de Viadal, teve uma ideia genial e que pôs em prática.
Amarrado num penedo, existente na cavada do tio Américo, um pouco à frente da presa dos Toretes e abaixo da quelha do Moinho de Carvalheda, fixou um cabo em aço que transpôs para a margem direita, fixando-o, sensivelmente à mesma altura, lá em cima, junto às leiras.
Transportados os toros por carros de bois ou ao ombro, pelos homens contratados, eram depositados, junto ao embarcadouro, chamo-lhe assim. Amarrados com duas ou três cordas espaçadas, eram pendurados numas outras tantas roldanas presas ao cabo e empurrados sobre o Caima. Era fácil esta primeira fase, já que até à curvatura do cabo a carga ia embalada. Mais ou menos a meio do trajeto parava e ficava para ali a baloiçar. Pouco depois, os trabalhadores, que estavam da outra banda, acionavam um maquinismo que enrolava uma corda presa à carga e, a custo, a madeira lá chegava ao lado de Função.
Esteve algum tempo em atividade esta modalidade engenhosa de transporte de madeira entre um lado e outro das escarpas do Caima, só que um belo dia chegou a triste notícia. O cabo tinha-se partido ou mesmo sido cortado, como se ouvia dizer à boca pequena, mas de que desconheço as conclusões. Do lado de Viadal, talvez ainda por lá esteja o pedregulho com as marcas da fixação. Situava-se muito próximo da parede da cavada que foi do tio Fernandes, meu pai.
Novembro de 2022.
Tio Manel
ANOTAÇÔES
– Situava-se na estrada para Gatão, frente à escola, visível na fotografia da feira dos 16, datada, parece, de 1968. Era a terceira a contar de cima. A título de comparação, publica-se uma foto, do mesmo local, datada de 5 de Agosto de 2001. Trata-se da procissão em honra de Nossa Senhora das Neves. Foi dia de comunhão solene.
 – O Manuel Augusto, que foi madeireiro, e o Camilo já são falecidos. A ascendência materna de António Fernandes de Matos consta, muito resumidamente, nos anexos à Monografia de Viadal, texto dactilografado, da minha autoria, Genealogia dos Fernandes. Era irmão de Manuel e do saudoso Sr Adão Tavares, agricultor, cantador e poeta popular, que viveu em Carvalhal do Chão.
 - Courelas de pastagem de gado e obtenção de lenha, delimitadas por parede/muro de fácil transposição.
- A casa em granito ainda lá está. Aqui viveram os seus filhos, nomeadamente o saudoso António, que também se dedicou à compra e venda de madeira, entre outras atividades. A ascendência de Serafim dos Santos pode ser consultada num trabalho, por mim redigido, intitulado O Tabelião da Serra.
FOTOS: - Galinheiro, Feira dos 16 em Cepelos, Procissão na Pontinha, bem como do Marco e tio Manel.
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Galinheiro em Viadal na Cavada Velha
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Galinheiro, visto de outro ângulo.
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Galinheiro, mais uma foto. Ano de 2005.
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Bouça do Outeiro. Ano de 2005.
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Feira dos 16 na Pontinha, Cepelos. Cerca de 1968.
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Procissão na Pontinha. Ano de 2001.
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Marco e tio Manel em dia de confraternização. Ano de 2022.
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Ver acima publicidade ao estabelecimento de Serafim Santos de Função, em finais da década de 40 do século que findou. (in, A. Martins Ferreira - Vale de Cambra).
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