Entretenimento, consumo e publicidade: Uma breve história sobre como as emoções se tornaram mercadorias
Eloisa Oliveira, Carolina da Silva, Geovanna de Souza Pedra, Luana Facchini
21 dezembro 2022
Por que as pessoas vão ao cinema? Aos parques de diversão? Você já se perguntou o que te leva a procurar por um entretenimento que te faça sair do conforto, como, por exemplo, os filmes de ação ou de romance que mostram brigas, mortes, paixões avassaladoras — mas que possuem um final feliz —, assim como montanhas-russas que causam vertigem e frios na barriga, mas você tem a certeza de que o carrinho vai parar em segurança no final dos trilhos?
Muitos diriam que gostam desse tipo de entretenimento por conta dos sentimentos atribuídos a essas esferas do divertimento, que os tiram da sua realidade por alguns momentos. Essa resposta tem uma relação interessante com a criação do cinema e das montanhas-russas, que datam do final do século XIX e início do século XX, sendo criações conhecidas por revolucionar o modo como o ser humano se entretém. Tal assunto foi estudado mais profundamente pelo escritor e historiador brasileiro Nicolau Sevcenko, em seu livro “A corrida para o século XXI: O looping da montanha-russa”.
Os irmãos franceses August e Louis Lumière, considerados os inventores do cinema.
O surgimento da Indústria do Entretenimento
Entre as décadas de 1880 e 1890, quando a sociedade ainda estava vivendo o auge da Segunda Revolução Industrial, surgiram respectivamente a montanha-russa e o cinema, graças ao desenvolvimento da eletricidade. Em sua obra, Sevcenko afirma que, se a alta sociedade estava acostumada com formas de se entreter tradicionalmente, como por meio das óperas, teatros e salões de arte, agora surge uma nova forma de lazer que compete com essa, voltada principalmente para a população em massa que saíram das zonas rurais para viverem nas grandes metrópoles, a fim de trabalharem como operários em grandes fábricas industriais.
O surgimento de grandes empreendimentos, como o Steeplechase Park (nos EUA), em 1897, um parque que associava em um mesmo ambiente vários cinemas e uma enorme montanha-russa, ofereceu aos trabalhadores uma diversão barata que se tornou comum em seus fins de semana. Desse modo, segundo o autor, estabelecimentos comerciais como esse chegavam a receber milhares de pessoas toda semana, o que levou a indústria a ter o seu crescimento e fortuna abastados, à base da exploração do vício das massas pelas emoções baratas, proporcionando um entretenimento cheio de vertigens e sensações de euforia para o maior público possível, pelo menor preço.
Além disso, segundo o escritor francês Guy Debord, em seu livro “A sociedade do espetáculo” — citado pela autor Nicolau Sevcenko —, a indústria do entretenimento se esforça por compensar o extremo empobrecimento da vida social, cultural e emocional da classe operária, fazendo as pessoas celebrarem permanentemente as mercadorias, saudadas como espetáculo. Tal qual, a indústria cinematográfica, especialmente a norte-americana, permaneceu — e permanece, na atualidade — continuamente influenciando a visão de mundo das pessoas, visto que essas se espelham nos astros de cinema, almejando a vida dos personagens nos grandes telões e consumindo tudo aquilo que é implicitamente anunciado nos filmes por meio da representação de produtos consumidos pelos atores, como por exemplo, um personagem tomando uma Coca-Cola, utilizando roupas e sapatos de marcas como a Nike ou até mesmo o celular que possuem.
Centenas de pessoas esperando na entrada do Steeplechase Park. 1904, New York City, EUA.
Consumo e publicidade na contemporaneidade
Algo como um hedonismo cultural foi observado pelo editor da revista Vanity Fair, de Nova York — citado na obra de Sevcenko —, isto é, um estado de espírito tomava conta da civilização industrial de “uma crescente devoção ao prazer, à felicidade, à dança, ao esporte, às delícias do país, ao riso e à todas as formas de alegria”. Similarmente, na atualidade, evidencia-se também uma busca pelo prazer e satisfação pessoal, na qual o consumo e a publicidade estão intrinsecamente ligados a tal busca.
Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, defende a ideia de que as relações sociais são baseadas no consumo, isto é, a humanidade vive em uma sociedade do consumo reforçada pela força e alcance das redes sociais. Em tempos modernos, nos quais o meio virtual tem maior dominação mundial, o consumismo é fortalecido ainda mais, principalmente devido à publicidade e da facilidade no ato de comprar online — defende o professor e doutor em direito civil Felipe Comarela Milanez, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
As redes sociais possuem um alcance mundial espantoso, facilitando a propagação de produtos e bens materiais. Segundo dados coletados pela World Internet Stats, 70% dos brasileiros que possuem acesso às redes sociais afirmam ter uma conta no Instagram, sendo que 48% afirmam já terem comprado algum produto que conheceram através da rede. Tal qual, outras mídias sociais como o Tik Tok e plataformas como o YouTube também são grandes influenciadoras no mercado, conforme outros dados apresentados na imagem abaixo.
Assim como antigamente o cinema fazia sucesso e influenciava o modo como as pessoas consumiam, atualmente, os serviços de streaming (a tecnologia de transmissão de conteúdo online que permite assistir filmes e séries, e até mesmo ouvir músicas) fazem o trabalho, apesar de o cinema ainda ser muito popular e influente.
A Netflix, por exemplo, plataforma pioneira e líder no mercado (citada na imagem acima), possui um impacto massivo no mercado ao ponto de provocar mudanças no modo como a mercadoria é percebida pelos consumidores. Os streamings possuem uma entrega de conteúdo e publicidade muito maior do que a da indústria cinematográfica durante a civilização industrial, usufruindo de áreas do marketing para influenciar os telespectadores a consumir certos produtos.
O “Marketing Indireto” ou “Marketing Invisível”, muito utilizado na indústria, é uma forma sutil de divulgação de mercadorias, visto que o produto é apresentado discretamente em um conteúdo, no caso, apresentado em filmes, séries e vídeos. Desse modo, o consumidor não percebe a propaganda que está sendo feita, por isso não sabe que é influenciado. Com a era da informação, essa publicidade presente na indústria cinematográfica é ainda mais divulgada com a existência das redes sociais, por exemplo, os vídeos curtos no TikTok que propagam os conteúdos de streaming e consequentemente seus produtos.
Em vista disso, o consumo e a publicidade na contemporaneidade estão correlacionados com os avanços tecnológicos da nossa era, permitindo que as pessoas consumam aquilo que as satisfaz e as trazem felicidade momentânea, colaborando com a busca do ser humano por prazer através do consumo de mercadorias.
2 notes
·
View notes
Compra de leite cru pela indústria alcança 5,83 bilhões de litros no 2º trimestre
Segundo o IBGE, o volume representa um aumento de 0,8% em relação ao mesmo período do ano passado
A compra de leite cru por estabelecimentos que atuam sob algum tipo de inspeção sanitária foi de 5,83 bilhões de litros no segundo trimestre deste ano. O volume adquirido é equivalente a um aumento de 0,8% em relação ao segundo trimestre de 2023 e decréscimo de 6,2% em comparação com o trimestre imediatamente anterior. É o que mostram os resultados da Estatísticas da Produção Pecuária para o…
0 notes
Fotônica: impulsionando a economia com luz e inovação
A Fotônica, a ciência que estuda e manipula a luz, está transformando diversos setores da economia, impulsionando o crescimento e a inovação. As tecnologias fotônicas estão sendo utilizadas em áreas como telecomunicações, saúde, indústria e energia, criando novas oportunidades de negócios e impulsionando o desenvolvimento econômico.
Impacto econômico da fotônica:
Telecomunicações: A Fotônica está impulsionando a revolução da internet de alta velocidade, com tecnologias como a fibra óptica e a comunicação óptica de alta velocidade, que permitem a transmissão de dados a velocidades incrivelmente rápidas. Essa evolução nas telecomunicações está impulsionando o crescimento de setores como e-commerce, streaming de vídeo e serviços em nuvem.
Saúde: A Fotônica está revolucionando o diagnóstico e o tratamento médico, com técnicas como a tomografia computadorizada, a ressonância magnética e a terapia fotodinâmica. As tecnologias fotônicas estão permitindo a obtenção de imagens mais precisas do corpo humano, a detecção precoce de doenças e o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes.
Indústria: A Fotônica está sendo utilizada em diversos processos industriais, como a fabricação de chips de computador, a produção de materiais avançados e a automação de processos. As tecnologias fotônicas estão aumentando a precisão, a eficiência e a produtividade nas indústrias.
Energia: A Fotônica está sendo utilizada para o desenvolvimento de tecnologias de energia solar mais eficientes, como as células solares de alta eficiência. As tecnologias fotônicas também estão sendo exploradas para o armazenamento de energia solar e a conversão de energia solar em combustíveis.
Potencial de crescimento da fotônica:
O mercado global de tecnologias fotônicas está crescendo rapidamente, impulsionado pela demanda por comunicações de alta velocidade, diagnósticos médicos mais precisos e soluções energéticas mais sustentáveis. Espera-se que o mercado continue a crescer nos próximos anos, impulsionado por investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e pela adoção de tecnologias fotônicas em diversos setores.
A Fotônica é uma tecnologia chave para o crescimento econômico, impulsionando a inovação em diversos setores e criando novas oportunidades de negócios. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias fotônicas são essenciais para impulsionar o avanço da economia global e construir um futuro mais conectado e sustentável.
0 notes